Agostinho e a Literatura Portuguesa - Instituto de Filosofia
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ao ser também proibido <strong>de</strong> leccionar no ensino privado, mas necessitando <strong>de</strong><br />
trabalhar para viver e alimentar a família já constituída, recebe apoio do seu<br />
condiscípulo Eduardo Salgueiro, que lhe abre as portas da “Editorial Inquérito”.<br />
A partir daí, escreve febrilmente para jornais e revistas, toma partido,<br />
critica, <strong>de</strong>safia, envolve-se em polémicas na imprensa diária, suscita amores e<br />
ódios tanto na Aca<strong>de</strong>mia, 17 como no seio do po<strong>de</strong>r político e até no religioso.<br />
Inflamado pelo projecto <strong>de</strong> reconstrução nacional proposto pela Seara<br />
Nova, ao qual a<strong>de</strong>rira, <strong>de</strong>staca-se no âmbito da divulgação cultural 18 que<br />
empreen<strong>de</strong>, ao publicar, na forma <strong>de</strong> edição <strong>de</strong> autor, uma obra enciclopédica<br />
<strong>de</strong> divulgação cultural <strong>de</strong>stinada ao gran<strong>de</strong> público. Esta obra, que ficou conhecida<br />
pelo nome <strong>de</strong> «Ca<strong>de</strong>rnos», foi por <strong>Agostinho</strong> da Silva <strong>de</strong>senvolvida<br />
em quatro “frentes” simultâneas: a edição dos Ca<strong>de</strong>rnos para “a mocida<strong>de</strong>” e<br />
“a juventu<strong>de</strong>” intitulados À Volta do Mundo (1938-1943?); os Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Informação<br />
Cultural Iniciação (entre 1940 e 1947); os Ca<strong>de</strong>rnos Antologia, Introdução<br />
aos Gran<strong>de</strong>s Autores 19 (1941-1947) e as Biografias 20 (<strong>de</strong>senvolvidas entre<br />
1938 e 1946).<br />
Toda esta campanha <strong>de</strong> divulgação cultural foi acompanhada por ciclos<br />
<strong>de</strong> palestras e conferências proferidas por todo o país <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1939, ano<br />
em que <strong>Agostinho</strong> funda o Núcleo Pedagógico <strong>de</strong> Antero <strong>de</strong> Quental. 21 Através<br />
<strong>de</strong>ssas conferências e <strong>de</strong> cursos, e basicamente da edição <strong>de</strong> bibliografia barata<br />
e <strong>de</strong> fácil acesso, tenta <strong>Agostinho</strong> da Silva dar resposta às dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> divulgação<br />
e expansão cultural existentes.<br />
1.1. Educação para a Cidadania<br />
Em «<strong>Literatura</strong> Infantil», 22 texto publicado aos vinte e um anos, <strong>Agostinho</strong><br />
<strong>de</strong>clara, peremptório, que lhe parece fundamental substituir “o maravilhoso<br />
dos contos infantis” pelos “maravilhosos factos da vida”. Para que possa<br />
crescer como pessoa alicerçada em valores, é preciso que a criança aprenda,<br />
por si, “«a voar com as próprias asas», a não esperar auxílio <strong>de</strong> outrem que não<br />
<strong>de</strong> si, a não aguardar que a «sorte», ou o «<strong>de</strong>stino» lhe venham coroar <strong>de</strong> êxito<br />
os seus projectos” (p. 169). Se, nos nossos dias, a teoria do <strong>de</strong>senvolvimento<br />
psicopedagógico da criança, <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa da autonomia, é da maior actualida<strong>de</strong>,<br />
não o era, seguramente, na primeira meta<strong>de</strong> do século passado.<br />
Mais importante que encher a cabeça das crianças e jovens com prodígios<br />
realizados por fadas, bruxas ou outros seres sobrenaturais omnipotentes,<br />
propõe <strong>Agostinho</strong>, como educador, que as crianças sejam iniciadas na cultura<br />
literária. Será, então, não só fundamental, como a<strong>de</strong>quado, que contactem<br />
Revista Convergência Lusíada, 23 – 2007 ISSN 1414-0381