Agostinho e a Literatura Portuguesa - Instituto de Filosofia
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absurdo, toda a economia que não for <strong>de</strong> colher será absurda, toda a teologia<br />
que não for <strong>de</strong> contemplar será absurda”. 74 Dito por outras palavras, cabe-nos<br />
a nós – a todos e a cada um – “oferecer ao mundo” um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> vida em que<br />
se entrelacem, em perfeita harmonia, os fundamentais impulsos da humanida<strong>de</strong>:<br />
produzir beleza, amar os homens e louvar a Deus, ou seja, os impulsos<br />
<strong>de</strong> “criar, <strong>de</strong> servir, <strong>de</strong> rezar”. 75<br />
E tendo Portugal lutado pelo seu “direito <strong>de</strong> ser irmão dos outros povos<br />
do mundo” que com ele comungam da mesma língua e dos mesmos valores,<br />
levando às últimas consequências a constituição <strong>de</strong> uma Comunida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Nações <strong>de</strong> Língua <strong>Portuguesa</strong> (p. 40) – proposta por <strong>Agostinho</strong>, que com o<br />
seu entusiasmo e veemência contagiou pessoas que foram a alavanca da hoje<br />
<strong>de</strong>nominada CPLP –, po<strong>de</strong>remos, então, ter alguma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conseguir,<br />
para as nossas socieda<strong>de</strong>s, uma reforma radical. Seremos então capazes<br />
<strong>de</strong> “varrer, <strong>de</strong> vez, da face do Universo, a miséria material da Humanida<strong>de</strong>”. 76<br />
7. Novelista e poeta “à solta”<br />
Na senda do que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> enquanto ensaísta literário ou novelista,<br />
<strong>Agostinho</strong> persegue, coerentemente, os mesmos princípios nas obras <strong>de</strong> cariz<br />
filosófico, pedagógico ou especulativo. Reforça as mesmas crenças pela pena<br />
do narrador, pelas falas das personagens ou pela explanação do pensamento e<br />
das crenças <strong>de</strong> seus múltiplos e assumidos heterónimos. 77<br />
Nas novelas Herta, Teresinha e Joan, 78 bem como em Macaco Prego, 79<br />
nas novelas Dona Rolinha e Ada Carlo, 80 on<strong>de</strong> as marcas autobiográficas são<br />
explícitas e em que o autor se <strong>de</strong>snuda nas suas apetências, gostos, tendências,<br />
i<strong>de</strong>ias, pressupostos, sonhos e <strong>de</strong>silusões, o elemento comum é, para além da<br />
narração <strong>de</strong> histórias <strong>de</strong> mulheres (<strong>de</strong> mulheres-tipo ou <strong>de</strong> tipos <strong>de</strong> mulheres),<br />
o claro intuito <strong>de</strong> apresentar em Portugal (<strong>de</strong> on<strong>de</strong> Mateus-Maria escreve a<br />
«Nota Prévia» <strong>de</strong> apresentação das Novelas) a variante escrita brasileira do português<br />
aprendido enquanto menino. Tal é patente ao nível lexical e da sintaxe,<br />
bem como da estilística, com recurso à rica imagética brasileira, sendo inegável<br />
o recurso à coloquialida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>scobre, na fala <strong>de</strong> cada uma das personagens,<br />
o interlocutor das «Conversas Vadias» 81 da televisão. De entre as múltiplas<br />
hipóteses <strong>de</strong> escolha, para citação, selecciono apenas alguns exemplos:<br />
“o que o mundo afinal precisa é <strong>de</strong> um homem que seja, a um só<br />
tempo, a um só impulso e a uma só obra, artista, sábio e santo”; 82<br />
“no íntimo dos íntimos consi<strong>de</strong>ro a Universida<strong>de</strong> como uma insti-<br />
Revista Convergência Lusíada, 23 – 2007 ISSN 1414-0381