02.11.2014 Views

Agostinho e a Literatura Portuguesa - Instituto de Filosofia

Agostinho e a Literatura Portuguesa - Instituto de Filosofia

Agostinho e a Literatura Portuguesa - Instituto de Filosofia

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

130<br />

absurdo, toda a economia que não for <strong>de</strong> colher será absurda, toda a teologia<br />

que não for <strong>de</strong> contemplar será absurda”. 74 Dito por outras palavras, cabe-nos<br />

a nós – a todos e a cada um – “oferecer ao mundo” um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> vida em que<br />

se entrelacem, em perfeita harmonia, os fundamentais impulsos da humanida<strong>de</strong>:<br />

produzir beleza, amar os homens e louvar a Deus, ou seja, os impulsos<br />

<strong>de</strong> “criar, <strong>de</strong> servir, <strong>de</strong> rezar”. 75<br />

E tendo Portugal lutado pelo seu “direito <strong>de</strong> ser irmão dos outros povos<br />

do mundo” que com ele comungam da mesma língua e dos mesmos valores,<br />

levando às últimas consequências a constituição <strong>de</strong> uma Comunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Nações <strong>de</strong> Língua <strong>Portuguesa</strong> (p. 40) – proposta por <strong>Agostinho</strong>, que com o<br />

seu entusiasmo e veemência contagiou pessoas que foram a alavanca da hoje<br />

<strong>de</strong>nominada CPLP –, po<strong>de</strong>remos, então, ter alguma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conseguir,<br />

para as nossas socieda<strong>de</strong>s, uma reforma radical. Seremos então capazes<br />

<strong>de</strong> “varrer, <strong>de</strong> vez, da face do Universo, a miséria material da Humanida<strong>de</strong>”. 76<br />

7. Novelista e poeta “à solta”<br />

Na senda do que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> enquanto ensaísta literário ou novelista,<br />

<strong>Agostinho</strong> persegue, coerentemente, os mesmos princípios nas obras <strong>de</strong> cariz<br />

filosófico, pedagógico ou especulativo. Reforça as mesmas crenças pela pena<br />

do narrador, pelas falas das personagens ou pela explanação do pensamento e<br />

das crenças <strong>de</strong> seus múltiplos e assumidos heterónimos. 77<br />

Nas novelas Herta, Teresinha e Joan, 78 bem como em Macaco Prego, 79<br />

nas novelas Dona Rolinha e Ada Carlo, 80 on<strong>de</strong> as marcas autobiográficas são<br />

explícitas e em que o autor se <strong>de</strong>snuda nas suas apetências, gostos, tendências,<br />

i<strong>de</strong>ias, pressupostos, sonhos e <strong>de</strong>silusões, o elemento comum é, para além da<br />

narração <strong>de</strong> histórias <strong>de</strong> mulheres (<strong>de</strong> mulheres-tipo ou <strong>de</strong> tipos <strong>de</strong> mulheres),<br />

o claro intuito <strong>de</strong> apresentar em Portugal (<strong>de</strong> on<strong>de</strong> Mateus-Maria escreve a<br />

«Nota Prévia» <strong>de</strong> apresentação das Novelas) a variante escrita brasileira do português<br />

aprendido enquanto menino. Tal é patente ao nível lexical e da sintaxe,<br />

bem como da estilística, com recurso à rica imagética brasileira, sendo inegável<br />

o recurso à coloquialida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>scobre, na fala <strong>de</strong> cada uma das personagens,<br />

o interlocutor das «Conversas Vadias» 81 da televisão. De entre as múltiplas<br />

hipóteses <strong>de</strong> escolha, para citação, selecciono apenas alguns exemplos:<br />

“o que o mundo afinal precisa é <strong>de</strong> um homem que seja, a um só<br />

tempo, a um só impulso e a uma só obra, artista, sábio e santo”; 82<br />

“no íntimo dos íntimos consi<strong>de</strong>ro a Universida<strong>de</strong> como uma insti-<br />

Revista Convergência Lusíada, 23 – 2007 ISSN 1414-0381

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!