Agostinho e a Literatura Portuguesa - Instituto de Filosofia
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<strong>de</strong>uses enten<strong>de</strong>m que quem tem uma carreira “essencial aos <strong>de</strong>stinos do mundo”<br />
não po<strong>de</strong> ter caminhos fáceis. Embora em plena liberda<strong>de</strong> os percorram.<br />
Porque a liberda<strong>de</strong> é (tão) essencial para Pessoa (como para <strong>Agostinho</strong>),<br />
escolhe (um e outro) nascer em Portugal, “porque tem a convicção <strong>de</strong> que Deus<br />
não po<strong>de</strong>rá abandonar o seu outro povo eleito” e <strong>de</strong> que o dia, «a Hora», há-<strong>de</strong><br />
surgir em que “Portugal virá, <strong>de</strong> novo, a construir o seu mundo <strong>de</strong> paz”. “(...)<br />
Paz que se realiza antes <strong>de</strong> tudo nas almas”, por forma a que o “Reino <strong>de</strong> Deus<br />
surja pela transformação interior do homem”(p. 91). O que mais fascina <strong>Agostinho</strong>,<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> se ter distanciado da escrita <strong>de</strong> Um Fernando Pessoa, é a consciência<br />
<strong>de</strong> que, afinal, há ainda tudo para <strong>de</strong>scobrir acerca daquela dimensão<br />
sobre a qual nada po<strong>de</strong> dizer: 64 a dimensão <strong>de</strong> Pessoa, ele próprio.<br />
Ao longo <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> duas <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> anos vai Pessoa escrevendo Mensagem,<br />
que <strong>Agostinho</strong> coloca a par <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za com as crónicas <strong>de</strong> Fernão<br />
Lopes ou <strong>de</strong> D. João <strong>de</strong> Castro, com Os Lusíadas ou a História do Futuro. 65 Se<br />
“a espantosa e eloquente vitalida<strong>de</strong>” <strong>de</strong> Camões é inultrapassável, conseguiu<br />
contudo, assim o <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> <strong>Agostinho</strong>, pôr Pessoa mais claro do que Camões no<br />
episódio da Ilha dos Amores “a concepção <strong>de</strong> um verda<strong>de</strong>iro Império Português<br />
ou Quinto Império”, na sua “previsão do Futuro”. 66<br />
Em «Mensagem Um» <strong>Agostinho</strong> introduz Pessoa no quadro sociopolítico<br />
literário português. Em «Mensagem Dois», quando interpreta a Mensagem<br />
– e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter reflectido e analisado o carácter, a obra e os sonhos expressos<br />
em vida por Pessoa e seus três heterónimos –, <strong>Agostinho</strong> apresenta, em<br />
súmula, e “por amor do Futuro”, 67 os elementos constituintes do seu i<strong>de</strong>alizado<br />
“Portugal-I<strong>de</strong>ia”. 68 Surge claramente o seu Quinto Império pessoanamente<br />
inspirado, assente na crença <strong>de</strong> que a Humanida<strong>de</strong> se po<strong>de</strong>rá regenerar, um<br />
dia, quando for possível <strong>de</strong>ixar Ser a criança que existe em cada um <strong>de</strong> nós.<br />
<strong>Agostinho</strong> acredita que a Mensagem pessoana não está apenas <strong>de</strong>signada<br />
para Portugal e para os portugueses: é, mais que isso, uma mensagem para<br />
o mundo. Portugal, pela sua acção, nos bons e menos bons exemplos, po<strong>de</strong>rá<br />
ser o mo<strong>de</strong>lo, para os outros, daquilo que ele próprio não conseguiu:<br />
• Povo <strong>de</strong> força criativa que, no acto puro <strong>de</strong> criar, ganha consciência<br />
<strong>de</strong> que é possível ultrapassar as adversida<strong>de</strong>s através da força da sua<br />
vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> se cumprir, quaisquer que sejam as condições e os impedimentos<br />
ao cumprimento <strong>de</strong> um projecto (do seu projecto).<br />
• Povo sempre disponível, caracterizado pelo gosto <strong>de</strong> agir e que na<br />
acção se diverte.<br />
Revista Convergência Lusíada, 23 – 2007 ISSN 1414-0381