Agostinho e a Literatura Portuguesa - Instituto de Filosofia
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sem o apre(e)ndido em nível dos ensinos primário e secundário, pu<strong>de</strong>ssem<br />
investir em escolas <strong>de</strong> “continuação” e contribuíssem para a disseminação da<br />
educação, com missões pedagógicas, universida<strong>de</strong>s populares e publicações. E<br />
contribuiriam, <strong>de</strong>sta forma, para “restituir ao país a mentalida<strong>de</strong> que há tanto<br />
tempo se conservava <strong>de</strong>sprezada”. 57<br />
Todas as vias apontadas pelo movimento, sem excepção, foram por<br />
<strong>Agostinho</strong> percorridas. Faltaram, contudo, condições para que se consumassem<br />
os <strong>de</strong>sígnios traçados, <strong>de</strong> instaurar, na terra (em Portugal e no mundo<br />
lusófono), os princípios medievais da católica e universal fraternida<strong>de</strong> (p.<br />
58) em nível da ciência, da economia e da religião, através do comunitarismo<br />
agrário e da <strong>de</strong>scentralização da autorida<strong>de</strong>.<br />
No que parece estar na sequência das Glossas, 58 inicialmente publicadas<br />
na Seara Nova, disserta <strong>Agostinho</strong>, em Consi<strong>de</strong>rações, 59 basicamente sobre questões<br />
éticas. Mais do que dialogar com o leitor, <strong>de</strong> novo se assume <strong>Agostinho</strong> como<br />
o mestre socrático que tenta levar o leitor /interlocutor à <strong>de</strong>scoberta das questões<br />
can<strong>de</strong>ntes que o preocupam e nos preocupam, e po<strong>de</strong>rão ser vistas como os pressupostos<br />
agostinianos para uma socieda<strong>de</strong> assente em princípios e valores.<br />
Com qualida<strong>de</strong> literária que se equipara à riqueza do seu pensamento,<br />
<strong>Agostinho</strong> da Silva reflecte, nas obras que redige, sobre as ligações entre as culturas<br />
portuguesa e brasileira. As temáticas abordadas são no âmbito da ética, da<br />
educação e sobretudo sobre o sentido da história.<br />
6. Ser criança no Quinto Império<br />
“Sobre Fernando Pessoa<br />
direi a coisa correcta<br />
quem é mesmo criador<br />
cria poema e poeta.” 60<br />
É só em 1959, em plena maturida<strong>de</strong> e já no Brasil, que <strong>Agostinho</strong> escreve<br />
Um Fernando Pessoa. 61<br />
De Fernando Pessoa (1888-1935), atrai-o a personalida<strong>de</strong>, o não ter<br />
renunciado a ser os vários que era, sujeitando-se a uma vida <strong>de</strong> sacrifícios para<br />
o provar. Fascina-o a coragem <strong>de</strong> gozar a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser «outro» e <strong>de</strong> revelar<br />
a dimensão do Quinto Império. Ao usar os diferentes heterónimos atingiu a<br />
pluralida<strong>de</strong>, permanecendo ele próprio, Fernando Pessoa, imperscrutável. 62<br />
No retrato que traça <strong>de</strong> Pessoa 63 sobressai alguém que, por ser “amado<br />
dos <strong>de</strong>uses”, em vez <strong>de</strong> ter a missão aplainada, enfrenta escolhos. Porque os<br />
<strong>Agostinho</strong> e a <strong>Literatura</strong> <strong>Portuguesa</strong><br />
Helena Maria Briosa e Mota