02.11.2014 Views

Agostinho e a Literatura Portuguesa - Instituto de Filosofia

Agostinho e a Literatura Portuguesa - Instituto de Filosofia

Agostinho e a Literatura Portuguesa - Instituto de Filosofia

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

126<br />

“o missionário da largueza do Reino <strong>de</strong> Deus”– fundamento provável, por um<br />

lado, para o seu anticlericarismo e, por outro, para o seu gosto pela mestiçagem<br />

–, tentando o seu povo, no périplo pelo mundo, “espalhar pelo universo<br />

um catolicismo tão católico que até o infiel nele coubesse” (p. 35). Desta forma<br />

assume o intuito ecuménico das navegações e da disseminação cultural lusa.<br />

A literatura portuguesa, tal como a vida portuguesa, “abrem-se”, neste enquadramento,<br />

“sob o signo do <strong>de</strong>ver da acção e sob o signo da sauda<strong>de</strong>” (p. 36). O<br />

«<strong>de</strong>ver da acção» aparece subordinado ao «signo da sauda<strong>de</strong>». Já todos sabemos que<br />

a História roda sobre si e que os ciclos se repetem. E se «acção», ao lado da «sauda<strong>de</strong>»,<br />

são apontadas como os motes orientadores vividos pelos portugueses, que outro<br />

remédio não tiveram senão o <strong>de</strong> “embarcar nas barcas que mandou lavrar el-rei”<br />

(p. 33), veremos como tornam a ser, séculos mais tar<strong>de</strong>, <strong>de</strong> novo, os mesmos dois<br />

pressupostos a presidir os dois movimentos culturais <strong>de</strong> reestruturação nacional<br />

que emergem no início do século XX, logo após a instauração da República.<br />

Tanto a Renascença <strong>Portuguesa</strong> como a Seara Nova – <strong>de</strong> que <strong>Agostinho</strong> fez parte e<br />

com os quais colabora – congregavam membros que “<strong>de</strong>ram apoio <strong>de</strong> estrutura<br />

aos que verda<strong>de</strong>iramente se interessavam, num esforço colectivo, pela resolução<br />

do caso português” (p. 78).<br />

Com o impulso da Renascença, fundada e <strong>de</strong>senvolvida sob o signo da<br />

Sauda<strong>de</strong>, aliada à força da Seara que tomou como mote e ban<strong>de</strong>ira o <strong>de</strong>sígnio<br />

da Acção, viu Portugal, ombro a ombro, trabalhar e batalhar a “melhor gente”,<br />

gente “com capacida<strong>de</strong> literária”, que se não eximiu à pesquisa das necessida<strong>de</strong>s<br />

do país, por forma a para ele traçarem um plano articulado <strong>de</strong> reforma.<br />

Se a Renascença se <strong>de</strong>bruçou sobre os aspectos poéticos, literários, histórico-intuitivos<br />

da Nação, vem a Seara a propor e <strong>de</strong>senvolver o necessário<br />

plano <strong>de</strong> reforma nacional, que <strong>Agostinho</strong> <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>r por sua conta<br />

e risco, e não abandona, mesmo quando entra em ruptura e se distancia do<br />

movimento e a situação sociopolítica se lhe revela particularmente adversa.<br />

Para a Seara, havia que fazer, <strong>de</strong> imediato, uma reforma <strong>de</strong> Portugal,<br />

reforma que se via assente em dois pilares: o da economia e o da educação.<br />

Se quanto ao primeiro existiam poucas dúvidas <strong>de</strong> que o país seria capaz <strong>de</strong><br />

renascer, 55 quanto ao segundo, o da educação, via-se como fundamental a<br />

preparação <strong>de</strong> novas gerações <strong>de</strong> portugueses para o entendimento científico,<br />

humano e filosófico dos problemas práticos, políticos e espirituais. 56 Era, por<br />

conseguinte, imperioso proce<strong>de</strong>r à “reeducação” do povo português.<br />

Neste plano alargado <strong>de</strong> regeneração e investimento no futuro, cabia o<br />

envio <strong>de</strong> jovens universitários para o estrangeiro, por forma a que entrassem<br />

em contacto com “os gran<strong>de</strong>s centros culturais” e, no regresso, <strong>de</strong>smultiplicas-<br />

Revista Convergência Lusíada, 23 – 2007 ISSN 1414-0381

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!