Agostinho e a Literatura Portuguesa - Instituto de Filosofia
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“o missionário da largueza do Reino <strong>de</strong> Deus”– fundamento provável, por um<br />
lado, para o seu anticlericarismo e, por outro, para o seu gosto pela mestiçagem<br />
–, tentando o seu povo, no périplo pelo mundo, “espalhar pelo universo<br />
um catolicismo tão católico que até o infiel nele coubesse” (p. 35). Desta forma<br />
assume o intuito ecuménico das navegações e da disseminação cultural lusa.<br />
A literatura portuguesa, tal como a vida portuguesa, “abrem-se”, neste enquadramento,<br />
“sob o signo do <strong>de</strong>ver da acção e sob o signo da sauda<strong>de</strong>” (p. 36). O<br />
«<strong>de</strong>ver da acção» aparece subordinado ao «signo da sauda<strong>de</strong>». Já todos sabemos que<br />
a História roda sobre si e que os ciclos se repetem. E se «acção», ao lado da «sauda<strong>de</strong>»,<br />
são apontadas como os motes orientadores vividos pelos portugueses, que outro<br />
remédio não tiveram senão o <strong>de</strong> “embarcar nas barcas que mandou lavrar el-rei”<br />
(p. 33), veremos como tornam a ser, séculos mais tar<strong>de</strong>, <strong>de</strong> novo, os mesmos dois<br />
pressupostos a presidir os dois movimentos culturais <strong>de</strong> reestruturação nacional<br />
que emergem no início do século XX, logo após a instauração da República.<br />
Tanto a Renascença <strong>Portuguesa</strong> como a Seara Nova – <strong>de</strong> que <strong>Agostinho</strong> fez parte e<br />
com os quais colabora – congregavam membros que “<strong>de</strong>ram apoio <strong>de</strong> estrutura<br />
aos que verda<strong>de</strong>iramente se interessavam, num esforço colectivo, pela resolução<br />
do caso português” (p. 78).<br />
Com o impulso da Renascença, fundada e <strong>de</strong>senvolvida sob o signo da<br />
Sauda<strong>de</strong>, aliada à força da Seara que tomou como mote e ban<strong>de</strong>ira o <strong>de</strong>sígnio<br />
da Acção, viu Portugal, ombro a ombro, trabalhar e batalhar a “melhor gente”,<br />
gente “com capacida<strong>de</strong> literária”, que se não eximiu à pesquisa das necessida<strong>de</strong>s<br />
do país, por forma a para ele traçarem um plano articulado <strong>de</strong> reforma.<br />
Se a Renascença se <strong>de</strong>bruçou sobre os aspectos poéticos, literários, histórico-intuitivos<br />
da Nação, vem a Seara a propor e <strong>de</strong>senvolver o necessário<br />
plano <strong>de</strong> reforma nacional, que <strong>Agostinho</strong> <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>r por sua conta<br />
e risco, e não abandona, mesmo quando entra em ruptura e se distancia do<br />
movimento e a situação sociopolítica se lhe revela particularmente adversa.<br />
Para a Seara, havia que fazer, <strong>de</strong> imediato, uma reforma <strong>de</strong> Portugal,<br />
reforma que se via assente em dois pilares: o da economia e o da educação.<br />
Se quanto ao primeiro existiam poucas dúvidas <strong>de</strong> que o país seria capaz <strong>de</strong><br />
renascer, 55 quanto ao segundo, o da educação, via-se como fundamental a<br />
preparação <strong>de</strong> novas gerações <strong>de</strong> portugueses para o entendimento científico,<br />
humano e filosófico dos problemas práticos, políticos e espirituais. 56 Era, por<br />
conseguinte, imperioso proce<strong>de</strong>r à “reeducação” do povo português.<br />
Neste plano alargado <strong>de</strong> regeneração e investimento no futuro, cabia o<br />
envio <strong>de</strong> jovens universitários para o estrangeiro, por forma a que entrassem<br />
em contacto com “os gran<strong>de</strong>s centros culturais” e, no regresso, <strong>de</strong>smultiplicas-<br />
Revista Convergência Lusíada, 23 – 2007 ISSN 1414-0381