Agostinho e a Literatura Portuguesa - Instituto de Filosofia
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cupou em promover o saber, a reflexão e, fundamentalmente, a cultura, com<br />
o projecto das Biografias, verifica-se estar preocupado com o processo <strong>de</strong> tomada<br />
<strong>de</strong> consciência e <strong>de</strong> reflexão sobre os valores. Valores que impregnam a<br />
totalida<strong>de</strong> das suas obras.<br />
3.1. Mundo Novo<br />
Se alguma marca existe na obra literária <strong>de</strong> <strong>Agostinho</strong> da Silva, po<strong>de</strong>,<br />
sem dúvida, ser i<strong>de</strong>ntificada com o <strong>de</strong>sejo da construção <strong>de</strong> um Mundo Novo.<br />
Mundo que resulta do labor do homem novo que já ascen<strong>de</strong>u ao patamar dos<br />
que <strong>de</strong>têm “vonta<strong>de</strong> que não verga, (...) amor que nada extingue”, que será capaz<br />
<strong>de</strong> conduzir qualquer “população miserável e triste a toda a beleza <strong>de</strong> uma<br />
vida verda<strong>de</strong>iramente humana”. 43<br />
O Mundo Novo baseia-se no progresso económico. É um mundo on<strong>de</strong><br />
a doença foi <strong>de</strong>belada pelo progresso da ciência e “a cooperação garante a<br />
assistência”; on<strong>de</strong> o progresso da cultura resi<strong>de</strong> nas “escolas em que apren<strong>de</strong>r<br />
não é uma fonte <strong>de</strong> terrores”, “os mestres não são carrascos, mas companheiros”<br />
e as bibliotecas se abrem para que as pessoas a elas acedam, livremente,<br />
para “adquirir a instrução que lhes falta”, para lhes “elevar a mentalida<strong>de</strong> e os<br />
fazer sentir plenamente o júbilo da vida renovada”. A solidarieda<strong>de</strong> reina, naturalmente,<br />
entre os habitantes, e “a cooperação leva-os à tolerância e, mais do<br />
que à tolerância, ao amor do semelhante, à pronta cedência, às cautelas para<br />
que nada possa vir a faltar-lhes”. 44<br />
Solidamente fundado em alicerces <strong>de</strong> tolerância, <strong>de</strong> cooperação e solidarieda<strong>de</strong>,<br />
com pare<strong>de</strong>s erguidas sobre “o apagamento das humilhações e da<br />
miséria”, em que o amálgama utilizado na sua construção é o do Amor por<br />
cada um e pelo Outro, cada país assim fundado é retratado pela pena <strong>de</strong> <strong>Agostinho</strong><br />
como o “país messiânico”. E po<strong>de</strong>mos acreditar que, finalmente, <strong>de</strong>sta<br />
forma, “... para sempre a paz estará assegurada sobre a Terra.” 45<br />
Eis <strong>de</strong>scritas as bases daquele que, anos mais tar<strong>de</strong>, pessoanamente, <strong>Agostinho</strong><br />
virá a <strong>de</strong>nominar <strong>de</strong> Quinto Império. Afinal, a “utopia” ou “quimera utópica”<br />
agostiniana não é mais do que um sonho imaginado e com paixão alimentado<br />
pelos seus biografados Zola, Pasteur, Lincoln ou Washington; um projecto levado<br />
a cabo por Washington, Robert Owen, Franklin, Lamenais ou Leopardi; o sonho<br />
<strong>de</strong>senhado <strong>de</strong> um mundo melhor magistralmente mo<strong>de</strong>lado por Miguel Ângelo<br />
e Leonardo da Vinci e partilhado por Moisés e Francisco <strong>de</strong> Assis.<br />
Sonho <strong>de</strong> um mundo melhor que <strong>Agostinho</strong> da Silva não se cansou<br />
<strong>de</strong> propagan<strong>de</strong>ar... se bem que nem sempre tenha sido nem bem ouvido, nem<br />
Revista Convergência Lusíada, 23 – 2007 ISSN 1414-0381