Dental Press

Onoda HK, Yoshinari GH, Pereira KFS, Delben AAST, Zárate P, Guerisoli DMZ
preenchidos com o auxílio de uma espiral lentulo (Maillefer,
Ballaigues, Suíça). As radiografias das raízes foram
obtidas tanto no perfil vestibulolingual como proximal,
para garantir que a medicação encontrava-se homogênea
e não foram produzidas lacunas durante a sua introdução.
As embocaduras dos canais foram seladas com
Coltosol ® (Coltène, Whaledent, Suíça).
Após armazenamento por sete dias a 37°C e 100%
de umidade relativa, as amostras foram irrigadas 1mm
aquém do comprimento de trabalho com 5ml de hipoclorito
de sódio a 2,5% alternado com 5ml de EDTA a
15%, usando a lima de memória para atingir o comprimento
de trabalho. A irrigação final foi realizada com
soro fisiológico e as amostras foram processadas para
observação ao microscópio eletrônico de varredura.
Três fotomicrografias representativas do terço apical
de cada amostra foram obtidas e analisadas quantitativamente
para detritos, com o auxílio de uma grade de
10x10 células. Os resultados foram registrados em porcentagem
de detritos que cobriam as paredes do canal
radicular, e a análise estatística foi realizada (análise de
variância e teste de Tukey post hoc, α = 0,05).
Resultados
A Tabela 1 apresenta a média de debris encontrados
nos grupos experimentais, de acordo com observações
em MEV.
A análise estatística mostrou diferenças estatisticamente
significativas entre os grupos (p0,05).
Discussão
Medicações intracanal à base de hidróxido de cálcio
são usadas rotineiramente em Endodontia para erradicar
microrganismos no sistema de canal radicular, que devido
à sua complexa anatomia pode alojar tais patógenos mesmo
após cuidadosa instrumentação e irrigação, levando
ao insucesso do tratamento 1-4 . Vários veículos associados
ao Ca(OH) 2
têm sido propostos, e um consenso ainda parece
longe de ser alcançado 5 .
A maioria dos autores concorda que tais medicamentos
devem ser removidos do canal radicular antes da obturação,
uma vez que podem interferir com a qualidade
da mesma, especialmente na vedação apical 13-23 , enquanto
outros estudos indicam que a persistência de Ca(OH) 2
não
promove uma maior infiltração apical 24,25 . No entanto, Kim
e Kim 20 apontam que esses estudos também observaram
que, quando o curativo de hidróxido de cálcio foi mantido
no canal, a infiltração apical aumentou com o tempo.
O fato do corante azul de metileno sofrer descoloração
quando em contato com o Ca(OH) 2
também pode levar a
resultados falso-positivos, o que pode invalidar alguns dos
resultados obtidos em experimentos anteriores 26,27 .
A remoção completa do Ca(OH) 2
antes da obturação
é impossível de ser verificada pelo clínico, uma vez
que esse material tem o mesmo aspecto radiográfico
que o da dentina 23 . De acordo com estudos anteriores,
mesmo pequenas concentrações de Ca(OH) 2
sobre a
parede do canal radicular podem interferir na presa de
cimentos à base de óxido de zinco-eugenol 13,20 . Cimentos
à base de resina também podem sofrer efeitos adversos
da medicação intracanal 21 .
O presente estudo avaliou a persistência da medicação
de Ca(OH) 2
nas paredes do canal radicular a nível microscópico.
A escolha de usar incisivos bovinos foi devida
à largura de seu canal radicular, o que proporcionou um
espaço padronizado e generoso para irrigação, criando assim
as condições mais favoráveis possíveis para a retirada
dos medicamentos. Complexidades anatômicas poderiam
reter mecanicamente mais medicação intracanal 19 , o que
levaria a resultados tendenciosos. A opção do uso de Na-
OCl e EDTA como irrigantes e da lima de memória no
comprimento de trabalho também constitui uma tentativa
de retirar o máximo possível de medicação das paredes
do canal radicular.
Os resultados indicam que, apesar dessas condições
favoráveis, o Ca(OH) 2
ainda persiste no interior do canal
após tentativas de remoção. Isso está de acordo com
© 2011 Dental Press Endodontics 79
Dental Press Endod. 2011 apr-june;1(1):77-81