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Endodontics<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong><br />

v. 1, n. 1 - april / may / june 2011<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> International<br />

versão em português


Endodontics<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong><br />

v. 1, n. 1 - Apr-June 2011<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 Apr-June; 1(1):1-96 ISSN 2178-3713


DESENVOLVENDO A SAÚDE ORAL GLOBALMENTE<br />

DESENVOLVENDO A SAÚDE ORAL GLOBALMENTE<br />

Endodontics<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong><br />

Editores-chefes<br />

Carlos Estrela<br />

Sistema Endo-Eze ® Universidade Federal de Goiás - UFG - GO AET<br />

SISTEMA OSCILATÓRIO DE PREPARO ENDODÔNTICO<br />

Gilson Blitzkow Sydney<br />

Universidade Federal do Paraná - UFPR - PR<br />

José Antonio Poli de Figueiredo<br />

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS - RS<br />

Consultores internacionais<br />

Alvaro Gonzalez<br />

Universidade de Guadalaraja - Jalisco - México<br />

Frederick Barnett<br />

Centro Médico Albert Einstein - Filadélfia - EUA<br />

Gianpiero Rossi Fedele<br />

Hospital Dentário Eastman - Londres<br />

Gilberto Debelian<br />

Universidade de Oslo - Noruega<br />

Martin Trope<br />

REMOÇÃO DE INTERFERÊNCIAS<br />

Universidade da Filadélfia - EUA<br />

Paul Dummer<br />

Universidade do País de Gales - Reino Unido<br />

Contra-Ângulo Endo-Eze ®<br />

• Movimento oscilatório de 30º que traz segurança contra desvios<br />

• Desenvolvido para ser usado em conjunto com o micromotor da<br />

cadeira odontológica<br />

• Aço inoxidável<br />

• Desenho inovador que permite resistência e fl exibilidade<br />

• Disponível em 4 comprimentos: 17mm, 21mm, 24mm e 27mm<br />

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Diâmetro da<br />

Cor<br />

Conicidade<br />

Ponta<br />

Amarela #10 0.025<br />

Vermelha #13 0.035<br />

Azul #13 0.045<br />

Verde #13 0.060<br />

Endo-Eze ® AET atua no achatamento presente no terço médio dos<br />

dentes, liberando as interferências para o livre acesso ao terço apical.<br />

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tipos de anatomia interna com<br />

segurança<br />

Evita desgaste excessivo<br />

dentinário em áreas de risco<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics v. 1, n. 1 - april / may / june 2011 versão em português<br />

Endodontics<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong><br />

v. 1, n. 1 - april / may / june 2011<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> International<br />

versão em português<br />

Consultores nacionais<br />

Alberto Consolaro<br />

Faculdade de Odontologia de Bauru - USP - Bauru - SP<br />

Ana Helena Alencar<br />

Universidade Federal de Goiás - UFG - GO<br />

Carlos Alberto Souza Costa<br />

Faculdade de Odontologia de Araraquara - UNESP - Araraquara - SP<br />

Erick Souza<br />

Centro Universitário do Maranhão - UNICEUMA - São Luiz do Maranhão - MA<br />

Giulio Gavini<br />

Faculdade de Odontologia - FOUSP - São Paulo - SP<br />

Gustavo de Deus<br />

Universidade Federal Fluminense - UFF - Niterói - RJ<br />

Helio Pereira Lopes<br />

Associação Brasileira de Odontologia - ABO - Rio de Janeiro - RJ<br />

Jesus Djalma Pécora<br />

Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto - FORP-USP - Ribeirão Preto - SP<br />

João Eduardo Gomes<br />

Faculdade de Odontologia de Araçatuba - UNESP - Araçatuba - SP<br />

Manoel Damião Souza Neto<br />

Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto - FORP-USP - Ribeirão Preto - SP<br />

Marcelo dos Santos<br />

Faculdade de Odontologia - FOUSP - São Paulo - SP<br />

Marco Antonio Hungaro Duarte<br />

Faculdade de Odontologia de Bauru - FOB-USP - Bauru - SP<br />

Maria Ilma Souza Cortes<br />

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUCMG - MG<br />

Pedro Felicio Estrada Bernabé<br />

Faculdade de Odontologia de Araçatuba - UNESP - Araçatuba - SP<br />

Rielson Cardoso<br />

Faculdade de Odontologia São Leopoldo Mandic - SLMANDIC - Campinas - SP<br />

Wilson Felippe<br />

Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC - SC<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics<br />

(ISSN 2178-3713) é uma publicação trimestral da <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> International<br />

Av. Euclides da Cunha, 1.718 - Zona 5 - CEP: 87.015-180<br />

Maringá / PR, Brasil - Fone: (044) 3031-9818<br />

www.dentalpress.com.br - artigos@dentalpress.com.br<br />

DiretorA: Teresa R. D’Aurea Furquim - Diretor Editorial: Bruno D’Aurea Furquim<br />

- Diretor de marketing: Fernando Marson - Analista da informação: Carlos<br />

Alexandre Venancio - PRODUTOR EDITORIAL: Júnior Bianco - Diagramação:<br />

Fernando Truculo Evangelista - Gildásio Oliveira Reis Júnior - Tatiane Comochena -<br />

Revisão/ COPYDESK: Ronis Furquim Siqueira - TRATAMENTO DE IMAGENS: Andrés<br />

Sebastián - Biblioteca/ NORMALIZAÇÃO: Simone Lima Lopes Rafael - Banco de<br />

Dados: Adriana Azevedo Vasconcelos - Francielle Nascimento da Silva - submissão<br />

de artigos: Roberta Baltazar de Oliveira - Cursos e Eventos: Ana Claudia da Silva<br />

- Rachel Furquim Scattolin - INTERNET: Edmar Baladeli - Financeiro: Roseli Martins<br />

- Comercial: Roseneide Martins Garcia - EXPEDIÇÃO: Diego Moraes - Secretaria:<br />

Rosane Aparecida Albino.<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics<br />

v.1, n.1 (apr.-june 2011) - . - - Maringá : <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong><br />

International, 2011 -<br />

Trimestral<br />

ISSN 2178-3713<br />

1. Endodontia - Periódicos. I. <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> International.<br />

CDD 617.643005


editorial<br />

A humanidade experimenta mudanças constantes, o<br />

que provoca repercussões diretas em sua essência. A<br />

revolução industrial foi um acontecimento marcante.<br />

A sociedade presencia, no presente momento, a revolução<br />

de informações em diferentes segmentos. A<br />

velocidade e a forma com que têm sido divulgadas<br />

essas informações é algo fantástico. A globalização<br />

científica estimula os diferentes níveis de uma estrutura<br />

acadêmica.<br />

O desafio do momento requer uma seleção criteriosa<br />

em seu armazenamento e uma adequada interpretação.<br />

O Brasil vive um momento muito favorável na<br />

ciência, dentro do qual podem ser destacadas sua qualidade<br />

e sua aceitação pela comunidade internacional.<br />

Outrossim, o estímulo ao desenvolvimento de um projeto<br />

importante, a toda uma comunidade que congrega<br />

a Endodontia como especialidade magna, nasce a<br />

partir de uma programação cuidadosa e bem estruturada.<br />

A concretização desse projeto surgiu a partir da<br />

oportunidade concedida pelo Dr. Laurindo Furquim,<br />

publisher da <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong>.<br />

Por conseguinte, o desafio de divulgar a ciência endodôntica<br />

está lançado com a criação do <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong><br />

Endodontics, o qual é composto por uma equipe de<br />

renomados professores, pesquisadores e especialistas<br />

da Endodontia brasileira e internacional. As informações<br />

científicas endodônticas certamente terão um<br />

novo veículo facilitador e divulgador, capaz de favorecer<br />

tomadas de decisões clínicas apoiadas em evidências<br />

científicas. O <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics permitirá<br />

ao leitor renovar conceitos e vivenciar a verdadeira<br />

revolução nas informações científicas.<br />

Carlos Estrela<br />

Editor-chefe<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 3 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):3


sumário<br />

Endo in Endo<br />

14. Tratamento ortodôntico não promove<br />

necrose pulpar<br />

Orthodontic treatment does not cause pulpal necrosis<br />

Alberto Consolaro<br />

Artigos originais<br />

21. Um instrumento NiTi fabricado por torção:<br />

morfologia e propriedades mecânicas<br />

A NiTi rotary instrument manufactured by twisting:<br />

morphology and mechanical properties<br />

Victor Talarico Leal Vieira<br />

Carlos Nelson Elias<br />

Hélio Pereira Lopes<br />

Edson Jorge Lima Moreira<br />

Letícia Chaves de Souza<br />

28. Efeito de retentores intrarradiculares na<br />

dimensão das imagens da tomografia<br />

computadorizada de feixe cônico<br />

Effect of intracanal posts on dimensions of cone beam<br />

computed tomography images of endodontically treated teeth<br />

Carlos Estrela<br />

Mike Reis Bueno<br />

Julio Almeida Silva<br />

Olavo César Lyra Porto<br />

Claudio Rodrigues Leles<br />

Bruno Correa Azevedo<br />

37. Efeito antimicrobiano de diferentes substâncias<br />

químicas associadas ao preparo mecânico e<br />

da medicação intracanal em dentes de cães<br />

portadores de lesões periapicais induzidas<br />

Efficacy of chemo-mechanical preparation with different<br />

substances and the use of a root canal medication in dog’s<br />

teeth with induced periapical lesion<br />

Frederico C. Martinho<br />

Luciano T. A. Cintra<br />

Alexandre A. Zaia<br />

Caio C. R. Ferraz<br />

José F. A. Almeida<br />

Brenda P. F. A. Gomes<br />

46. Determinação in vitro do efeito antimicrobiano<br />

direto do hidróxido de cálcio associado a<br />

diferentes substâncias frente a cepas de<br />

Enterococcus faecalis<br />

In vitro determination of direct antimicrobial effect of<br />

calcium hydroxide associated with different substances against<br />

Enterococcus faecalis strains<br />

Paulo Henrique Weckwerth<br />

Natália Bernecoli Siquinelli<br />

Ana Carolina Villas Bôas Weckwerth<br />

Rodrigo Ricci Vivan<br />

Marco Antonio Hungaro Duarte<br />

52. Análise das forças desenvolvidas durante a<br />

obturação do canal radicular por diferentes<br />

operadores<br />

Analysis of forces developed during root canal filling by<br />

different operators<br />

Maria Rosa Felix de Sousa G. Guimarães<br />

Henner Alberto Gomide<br />

Maria Antonieta Veloso C. de Oliveira<br />

João Carlos Gabrielli Biffi


58. Preenchimento de canais radiculares com pasta<br />

de hidróxido de cálcio, utilizando-se propulsor<br />

de Lentulo, em diferentes velocidades<br />

Root canal filling with calcium hydroxide paste using Lentullo<br />

spiral at different speeds<br />

Marili Doro Deonízio<br />

Gilson Blitzkow Sydney<br />

Antonio Batista<br />

Carlos Estrela<br />

64. Posição do forame apical e sua relação com o<br />

calibre do instrumento foraminal<br />

Location of the apical foramen and its relationship with<br />

foraminal file size<br />

Ronaldo Araújo Souza<br />

José Antônio Poli de Figueiredo<br />

Suely Colombo<br />

João da Costa Pinto Dantas<br />

Maurício Lago<br />

Jesus Djalma Pécora<br />

69. Avaliação in vitro das alterações verificadas em<br />

canais radiculares artificiais curvos preparados<br />

por dois sistemas rotatórios<br />

In vitro evaluation of shape changes in curved artificial root<br />

canals prepared with two rotary systems<br />

Benito André Silveira Miranzi<br />

Almir José Silveira Miranzi<br />

Luis Henrique Borges<br />

Mário Alfredo Silveira Miranzi<br />

Fernando Carlos Hueb Menezes<br />

Rinaldo Mattar<br />

Thiago Assunção Valentino<br />

Carlos Eduardo Silveira Bueno<br />

77. A persistência de diferentes pastas<br />

medicamentosas à base de hidróxido de cálcio<br />

em canais radiculares: estudo por MEV<br />

The persistence of different calcium hydroxide paste<br />

medications in root canals: an SEM study<br />

Hélio Katsuya Onoda<br />

Gerson Hiroshi Yoshinari<br />

Key Fabiano Souza Pereira<br />

Ângela Antonia Sanches Tardivo Delben<br />

Paulo Zárate<br />

Danilo Mathias Zanello Guerisoli<br />

82. Análise do nível de sujidade e sua interferência<br />

no processo de esterilização de limas<br />

endodônticas através da microscopia eletrônica<br />

de varredura e teste microbiológico<br />

SEM and microbiological analysis of dirt of endodontic files<br />

after clinical use and its influence on sterilization process<br />

Matheus Albino Souza<br />

Márcio Luiz Fonseca Menin<br />

Francisco Montagner<br />

Doglas Cecchin<br />

Ana Paula Farina<br />

Caso Clínico<br />

87. Influência da tomografia computadorizada de<br />

feixe cônico no plano de tratamento do dens<br />

invaginatus<br />

Influence of cone beam computed tomography on dens<br />

invaginatus treatment planning<br />

Daniel de Almeida Decurcio<br />

Julio Almeida Silva<br />

Rafael de Almeida Decurcio<br />

Ricardo Gariba Silva<br />

Jesus Djalma Pécora


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Endo in Endo<br />

Tratamento ortodôntico não promove<br />

necrose pulpar<br />

Alberto consolaro<br />

Professor Titular da FOB-USP (Bauru) e da Pós-Graduação da FORP-USP (Ribeirão Preto).<br />

Consolaro A. Orthodontic treatment does not cause pulpal necrosis. <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong><br />

Endod. 2011 apr-june;1(1):14-20.<br />

Introdução<br />

A polpa dentária tem uma vascularização arboriforme<br />

e sua única fonte sanguínea está representada<br />

por uma delicada artéria que se adentra pelo forame<br />

apical. Muito eventualmente existe a comunicação<br />

vascular da polpa com o ligamento periodontal através<br />

de canais laterais e acessórios a partir de foraminas<br />

laterais e apicais.<br />

O tecido conjuntivo tem várias funções, como o<br />

preenchimento de espaços entre os órgãos, ductos e<br />

demais estruturas. Outra função importante do tecido<br />

conjuntivo é a sustentação de células especializadas,<br />

em órgãos como fígado, rim, pâncreas e glândulas.<br />

Nesses órgãos o tecido conjuntivo de sustentação recebe<br />

o nome de estroma e as células especializadas<br />

no conjunto, de parênquima. O tecido conjuntivo,<br />

além de preencher e sustentar, pode assumir funções<br />

muito especializadas como na polpa dentária, onde<br />

propicia sensibilidade e forma à dentina.<br />

Os tecidos conjuntivos podem ser do tipo fibroso,<br />

ósseo, cartilaginoso ou adiposo, entre outros. São os<br />

únicos tecidos vascularizados e recebem o sangue<br />

para nutrir e manter as células vivas e funcionais 3 .<br />

Da mesma forma que os vasos, existe uma trama<br />

conjuntiva de filetes neurais.<br />

Durante as compressões e massagens dos tecidos<br />

moles do corpo, podem ocorrer grandes deslocamentos<br />

em centímetros, sem que isso promova ruptura das<br />

estruturas do tecido conjuntivo, especialmente dos<br />

vasos e nervos. Essa elasticidade do tecido conjuntivo<br />

fibroso decorre da presença de fibras colágenas<br />

e elásticas em sua matriz extracelular, especialmente<br />

quando submetido a forças aplicadas progressiva<br />

e lentamente. Quando houver movimentação súbita<br />

das estruturas conjuntivas, podem ocorrer rompimentos<br />

de vasos e nervos. Quando isso ocorre formam-<br />

-se os hematomas caracterizados clinicamente pelas<br />

manchas arroxeadas ou vinhosas. Esses hematomas<br />

podem ocorrer depois de beliscões, mordidas e pancadas,<br />

ou seja, ações traumáticas súbitas e intensas<br />

sobre os tecidos conjuntivos fibrosos.<br />

Traumatismo dentário, trauma oclusal e<br />

movimento ortodôntico: são diferentes em<br />

seus efeitos teciduais periodontais<br />

Muito embora os termos traumatismo e trauma<br />

representem a ação deletéria de agentes físicos,<br />

como forças sobre os tecidos, nem sempre suas características<br />

são iguais em intensidade e frequência.<br />

O traumatismo dentário pode romper vasos e promover<br />

rupturas, por ter como característica a aplicação<br />

de forças súbitas e intensas sobre os dentes.<br />

Ao contrário ocorre com o trauma oclusal, no qual<br />

as forças são intensas, de pequena extensão, curta<br />

duração, mas constantemente repetitivas. Por outro<br />

lado, as forças da movimentação dentária são muito<br />

leves, mesmo as mais intensas, aplicadas lenta e prolongadamente<br />

sobre os dentes, de tal forma que se<br />

dissipam gradativamente em algumas horas ou dias.<br />

Em suma: embora sejam provocados por forças, o<br />

traumatismo dentário, o trauma oclusal e o movimento<br />

ortodôntico não guardam semelhanças entre<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 14<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):14-20


Consolaro A<br />

si quanto às características das forças aplicadas e<br />

quanto aos seus efeitos sobre os tecidos conjuntivos.<br />

No traumatismo dentário suas forças atuam<br />

abruptamente, com ruptura de estruturas conjuntivas,<br />

inclusive vasos e nervos. Quando uma força<br />

aparentemente leve atua sobre o dente, dependendo<br />

de seu ângulo de incidência e do local em que<br />

agiu, pode ocorrer uma resultante de forças no terço<br />

apical da raiz dentária, com ruptura do feixe vascular<br />

e nervoso que adentra na polpa. Um exemplo<br />

de traumatismo dentário é a concussão: não haverá<br />

mobilidade clinicamente detectada e a dor, se houver,<br />

será facilmente controlada com analgésicos comuns,<br />

durando algumas horas ou até 2 a 3 dias 2,3 .<br />

Aparentemente o dente volta ao normal, mas com o<br />

tempo a polpa pode denunciar seus danos sofridos,<br />

com a ocorrência da metamorfose cálcica da polpa<br />

ou da necrose pulpar asséptica, ambas clinicamente<br />

reveladas pelo escurecimento coronário em um dente<br />

aparentemente hígido.<br />

No trauma oclusal a morte celular e as rupturas<br />

estruturais são minimizadas pela rápida duração<br />

e repetitividade do processo, embora seja por um<br />

longo tempo. Nesse caso não haverá lesão estrutural<br />

no feixe vascular e nervoso da polpa, nem mesmo<br />

envelhecimento pulpar acelerado 3 . As lesões periodontais<br />

provocadas são leves e discretas. A estrutura<br />

periodontal deve ser reconhecida como um exemplo<br />

de organização para receber forças intensas da<br />

mastigação. As fibras periodontais se organizam em<br />

um espaço com espessura média de 0,25mm, mas<br />

mesmo assim, durante a mastigação, os dentes não<br />

encostam fisicamente no osso.<br />

No movimento ortodôntico as forças aplicadas<br />

sobre a estrutura dentária, mesmo as mais intensas,<br />

se dissipam gradativamente nos tecidos adjacentes.<br />

A plasticidade do tecido conjuntivo do ligamento<br />

periodontal, mais a capacidade de deflexão da crista<br />

óssea e a rotação que o dente sofre no alvéolo promovem<br />

uma lenta e gradativa adaptação dos tecidos<br />

circunvizinhos. O movimento ortodôntico se limita<br />

a no máximo 0,9mm na coroa durante as primeiras<br />

horas 1 , sem oferecer condições para ocorrência de<br />

rupturas estruturais de vasos e nervos.<br />

Não se deve comparar efeitos teciduais induzidos<br />

pelo traumatismo dentário, trauma oclusal e movimento<br />

ortodôntico: são situações distintas. No terço<br />

apical da raiz, a movimentação dentária ortodonticamente<br />

induzida se limita praticamente à decorrente<br />

compressão do ligamento periodontal, pois a<br />

deflexão óssea no osso periapical é bem menor e o<br />

eixo de rotação do dente está próximo do ápice. As<br />

forças são absorvidas e dissipadas lentamente, sem<br />

ruptura de vasos. Os pequenos movimentos são naturalmente<br />

absorvidos pelo tecido conjuntivo fibroso<br />

e elástico.<br />

Outra informação importante diz respeito ao<br />

tempo de duração em que as forças ortodônticas<br />

ficam ativas: 2 a 4 dias. Depois desse período, essas<br />

forças são dissipadas e começa a reorganização<br />

das estruturas periodontais com reabsorção da superfície<br />

óssea periodontal, migração de células para<br />

reorganização, com produção de novas fibras colágenas<br />

1 . Após 15 a 21 dias, o ligamento periodontal e<br />

demais estruturas estão prontos para um novo ciclo<br />

de eventos, pela reativação do aparelho ortodôntico.<br />

Em outras palavras: a movimentação dentária<br />

induzida é obtida em ciclos de 15 a 21 dias; o dente<br />

não fica movimentando-se o tempo todo. Na movimentação<br />

ortodôntica as forças são atenuadas pelas<br />

fibras colágenas e elásticas, sem comprometimento<br />

das estruturas que levam a irrigação sanguínea e<br />

sensibilidade da polpa.<br />

A cada período de ativação dos aparelhos ortodônticos<br />

– entre 15 e 21 dias – os tecidos periodontais<br />

se reorganizam e voltam ao normal. Os efeitos finais<br />

do tratamento ortodôntico sobre as estruturas e<br />

posição dos dentes é o somatório de todos os ciclos<br />

de 15 a 21 dias. As forças e os efeitos não foram contínuos<br />

e incessantes. Por vezes questiona-se: quando<br />

há rotação do dente em torno do seu longo eixo,<br />

como na giroversão, os feixes vasculares e nervosos<br />

ficam enrolados ou retorcidos em torno de si mesmos,<br />

e isso não compromete a irrigação sanguínea<br />

da polpa? Não, eles não ficam enrolados ou retorcidos,<br />

pois os tecidos, a cada período de 15 a 21 dias,<br />

se reorganizam, voltam à sua posição e relação de<br />

normalidade. Quando o novo ciclo de movimentação<br />

se estabelece, por uma nova ativação, os vasos e nervos<br />

estão em relação de normalidade, sem qualquer<br />

alteração em sua forma. Os tecidos constantemente<br />

renovam suas estruturas, remodelam-se e assim se<br />

adaptam a novas posições e relações estruturais.<br />

Consolaro 4 , em 2005, em sua investigação de<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 15<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):14-20


[ endo in endo ]<br />

Tratamento ortodôntico não promove necrose pulpar<br />

G<br />

D<br />

P<br />

LP<br />

OA<br />

P D C<br />

LP OA<br />

P C OA<br />

Figura 1. Molar de rato, 7 dias após ser movimentado. P=polpa;<br />

D=dentina; C=cemento; LP=ligamento periodontal; OA=osso alveolar;<br />

G=gengiva. (HE; 4X).<br />

Figura 2. Área de compressão do ligamento periodontal (LP) de molar<br />

de rato, 7 dias após ser movimentado. A seta indica a direção da força<br />

aplicada e o estreitamento do espaço periodontal. Apesar da compressão<br />

do ligamento periodontal, as células e fibras estão presentes na<br />

área, assim como os cementoblastos, osteoblatos e, ainda, os clastos<br />

(círculos). Destaca-se o padrão morfológico de normalidade da polpa<br />

dentária (P). D=dentina; C=cemento; OA=osso alveolar. (HE; 25X).<br />

mestrado, e Massaro et al. 9 , em 2009, analisaram<br />

microscopicamente a polpa de 49 primeiros molares<br />

superiores de ratos submetidos à movimentação<br />

dentária induzida após 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7 dias. Nas<br />

superfícies externas das raízes foram detectadas reabsorções<br />

indicando a eficiência das forças aplicadas,<br />

mas nos tecidos pulpares não se observou nenhuma<br />

alteração morfológica (Fig. 1-6).<br />

Sinopse, para endodontistas, da<br />

movimentação dentária induzida ou<br />

Força intensa aumenta a chance de necrose<br />

pulpar por movimento ortodôntico?<br />

As forças ortodônticas comprimem um determinado<br />

segmento do ligamento periodontal, pois os<br />

dentes são inclinados sobre a crista óssea alveolar<br />

ou no terço apical no lado oposto (Fig. 1, 2).<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 16<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):14-20


Consolaro A<br />

P D C LP OA<br />

Figura 3. Área de compressão do ligamento periodontal (LP) de molar<br />

de rato, 7 dias após ser movimentado. A seta maior indica a direção da<br />

força aplicada. As setas menores indicam os cementoblastos, ausentes<br />

na área de pressão, indicando eficiência da força aplicada. Apesar da<br />

compressão do ligamento periodontal, as células e fibras estão presentes<br />

na área, assim como os cementoblastos, osteoblatos e, ainda, os<br />

clastos (círculos). Destaca-se o padrão morfológico de normalidade da<br />

polpa dentária (P). D=dentina; C=cemento; OA=osso alveolar. (HE; 25X).<br />

P<br />

Os vasos sanguíneos comprimidos reduzem a<br />

quantidade de sangue para as células do local: elas<br />

param momentaneamente a produção e renovação da<br />

matriz extracelular, inclusive colágeno, e se desorganizam<br />

(Fig. 3, 4, 5). Em alguns casos as células migram<br />

para as áreas vizinhas ainda vascularizadas. No local<br />

permanece apenas a matriz extracelular em algumas<br />

áreas que foram mais intensamente afetadas pela hipóxia.<br />

Essas áreas assumem um aspecto vítreo ao microscópio<br />

óptico e por isso são denominadas de áreas<br />

hialinas (Fig. 6).<br />

Neste segmento do ligamento periodontal comprimido<br />

e com redução do suporte sanguíneo, haverá um<br />

aumento da produção local de mediadores celulares,<br />

pelo estresse metabólico produzido e pela discreta<br />

inflamação induzida. O ligamento periodontal está<br />

vivo, viável metabolicamente, com irrigação sanguínea<br />

e ainda com clastos suficientemente ativados para<br />

CT<br />

C<br />

C<br />

P<br />

D<br />

CT<br />

CT<br />

P<br />

D<br />

LP<br />

OA<br />

A<br />

C<br />

B<br />

Figura 4. A) Área de compressão do ligamento periodontal (LP) de molar de rato, 7 dias após ser movimentado. A seta indica a direção da força aplicada.<br />

Os clastos (CT) presentes na superfície radicular indicam eficiência da força aplicada. Em B, destaca-se o padrão morfológico de normalidade<br />

da polpa dentária (P) com camada odontoblástica (setas menores). D=dentina; C=cemento; OA=osso alveolar. (HE; 40X).<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 17<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):14-20


[ endo in endo ]<br />

Tratamento ortodôntico não promove necrose pulpar<br />

reabsorver a superfície óssea periodontal do alvéolo<br />

(Fig. 5). A reabsorção óssea periodontal ocorre em<br />

frente ao ligamento periodontal comprimido e por isso<br />

é denominada de reabsorção óssea frontal (Fig. 5). Gradativamente<br />

ao longo de alguns dias, o dente vai se<br />

deslocando para um dos lados no alvéolo, reocupando<br />

seu novo lugar, e as células do ligamento restabelecem<br />

a espessura média de 0,25mm. Nesse processo,<br />

especialmente na região apical não ocorre ruptura<br />

vascular nos tecidos que adentram para o interior do<br />

canal radicular. A partir desta relação de normalidade<br />

restabelecida, o ligamento periodontal e tecidos<br />

vizinhos irão se reorganizar em alguns dias. Após 15<br />

a 21 dias estaremos prontos para reativar o aparelho,<br />

pois os tecidos voltarão à normalidade.<br />

O deslocamento do ápice radicular é muito pequeno<br />

e lento, o tecido conjuntivo tem elasticidade suficiente<br />

para resistir a deslocamentos muito maiores. Além de<br />

possuir fibras elásticas, a matriz extracelular do tecido<br />

conjuntivo representa um gel entre as células e fibras,<br />

amortecendo as forças e deslocamentos aplicados, sem<br />

que ocorra morte celular e ruptura vascular (Fig. 1, 2).<br />

Quando uma força muito intensa, como aquela aplicada<br />

sobre os dentes-suporte de aparelhos expansores<br />

LP<br />

C<br />

H<br />

H<br />

D C LP OA<br />

P<br />

D<br />

H<br />

OA<br />

LP<br />

Figura 5. Área de compressão do ligamento periodontal (LP) de molar<br />

de rato, 6 dias após ser movimentado, com típica reabsorção óssea<br />

frontal. A seta maior indica a direção da força aplicada. As setas menores<br />

indicam os cementoblastos. Apesar da compressão do ligamento<br />

periodontal, as células e fibras estão presentes na área, assim como<br />

os cementoblastos, osteoblastos e os clastos (círculos). D=dentina;<br />

C=cemento; OA=osso alveolar. (HE; 25X).<br />

Figura 6. Reabsorção óssea à distância clássica na área de compressão<br />

do ligamento periodontal (LP) de molar de rato, 3 dias após ser<br />

movimentado. A seta indica a direção da força intensa aplicada e o estreitamento<br />

do espaço periodontal. A área de compressão do ligamento<br />

periodontal ficou hialinizada (H), sem cementoblastos e osteoblatos. Os<br />

clastos (círculos) atuam à distância da área de compressão do ligamento<br />

periodontal (LP). Destaca-se o padrão morfológico de normalidade da<br />

polpa dentária (P). D=dentina; C=cemento; OA=osso alveolar. (HE; 25X).<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 18<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):14-20


Consolaro A<br />

da maxila, atuar sobre o dente, não teremos uma efetiva<br />

movimentação do dente no alvéolo. A força muito<br />

intensa colaba os vasos, interrompe a vascularização<br />

normal naquele segmento periodontal. As células no<br />

local morrem ou, mais frequentemente, fogem para as<br />

áreas vizinhas, inclusive as células inflamatórias e os<br />

clastos (Fig. 6). Sem irrigação sanguínea não haverá<br />

atividade celular na superfície periodontal do osso alveolar.<br />

Ou seja, o segmento periodontal comprimido<br />

nessas condições fica todo hialinizado e sem atividade<br />

celular (Fig. 6).<br />

Quando a vascularização for restabelecida em<br />

função da dissipação gradativa da forca excessiva<br />

aplicada, as células vizinhas irão do centro para a<br />

periferia, reabsorvendo e remodelando a área hialinizada<br />

do ligamento periodontal. O dente, portanto,<br />

não se movimentará, pois os clastos não encontram<br />

condições metabólicas de nutrição e metabolismo<br />

para atuar na superfície periodontal do osso alveolar.<br />

Os processos de remodelação da área hialina e<br />

do osso serão feitos da periferia para o centro, inclusive<br />

na parte subjacente da tábua óssea alveolar<br />

(Fig. 6). O processo de reabsorção óssea e reorganização<br />

que deveria ocorrer em frente à compressão<br />

do ligamento periodontal, agora ocorrerá à<br />

distância: reabsorção óssea à distância, mas não é<br />

desejável (Fig. 6). Nesse caso o dente não se movimentou<br />

e nem se deslocou minimamente, logo não<br />

tem como ter rompido o feixe vascular e nervoso.<br />

Essa explicação ajuda a compreender por que os<br />

dentes que atuam como ancoragem de aparelhos<br />

disjuntores ou expansores da maxila, a maior força possível<br />

de ser aplicada sobre um dente, não sofrem necrose<br />

e nem envelhecimento pulpar. Em suma: quanto mais<br />

intensa for a força ortodôntica aplicada, menor a chance<br />

do dente se movimentar no alvéolo e, em consequência, não<br />

se tem como induzir necrose pulpar associada. Valadares<br />

Neto 13 , em 2000, em seu trabalho de investigação de<br />

mestrado com nossa orientação, analisou os efeitos da<br />

expansão rápida da maxila no complexo dentinopulpar<br />

em 12 adolescentes. Utilizando-se de aparelhos do tipo<br />

Hass, analisou microscopicamente toda a extensão da<br />

polpa e dentina de 12 pré-molares logo após a remoção<br />

dos aparelhos, com a expansão da maxila estabelecida;<br />

e de outros 12 pré-molares após 120 dias de<br />

contenção, depois da remoção dos aparelhos. Outros<br />

6 pré-molares de adolescentes foram utilizados como<br />

grupo controle e não foram submetidos a qualquer procedimento<br />

ortodôntico e/ou ortopédico. Em todos os<br />

dentes analisados o complexo dentinopulpar apresentou-se<br />

completamente normal, sem qualquer alteração<br />

microscopicamente detectável.<br />

E quando a necrose pulpar for diagnosticada<br />

em dentes hígidos durante o<br />

tratamento ortodôntico?<br />

Com base nas explicações anteriores, pode-se perfeitamente<br />

compreender porque o tratamento ortodôntico<br />

não induz necrose pulpar ou seu envelhecimento<br />

acelerado. Em todos os casos em que a necrose pulpar<br />

for detectada durante o tratamento ortodôntico, deve-<br />

-se resgatar uma história de traumatismo dentário. Os<br />

pacientes não lembram-se das concussões e de traumatismos<br />

dentários menores, mas eles ocorrem diariamente.<br />

Pequenas pancadas, resvaladas e acidentes<br />

domésticos podem aparentemente ser inocentes, mas,<br />

ao concentrar forças no ápice, podem provocar súbitos<br />

e pequenos deslocamentos, com ruptura do feixe<br />

vascular pulpar. Em muitos casos de traumatismo<br />

dentário não ocorrem danos gengivais e coronários,<br />

nem sangramentos, mas pode-se ter necrose pulpar<br />

asséptica. Em alguns traumatismos dentários, pode-se<br />

ter severos danos gengivais e sangramento abundante,<br />

mas sem ruptura do feixe vascular pulpar.<br />

As concussões dentárias podem ocorrer, ainda, frente<br />

às seguintes situações: dentes que atuam como suporte<br />

de alavancas em extrações de dentes vizinhos, pequenas<br />

batidas de fórceps nas extrações de terceiros molares, luxações<br />

de caninos não irrompidos e tracionados, batidas<br />

transcirúrgicas de laringoscópios durante a anestesia geral<br />

ou, ainda, mordidas acidentais de talheres, sementes<br />

ou corpos estranhos durante a alimentação.<br />

Não há evidências clínicas, laboratoriais e experimentais<br />

para atribuir, ainda que teoricamente, a necrose<br />

pulpar como resultante da movimentação ortodôntica<br />

5-8,10,11,12 . Quando situações clínicas simularem<br />

uma situação como essa, procure resgatar a história de<br />

traumatismo dentário e não atribua a necrose pulpar ao<br />

movimento ortodôntico.<br />

Considerações finais<br />

1. A necrose pulpar asséptica não tem como ser<br />

atribuída clínica e experimentalmente ao movimento<br />

ortodôntico.<br />

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[ endo in endo ]<br />

Tratamento ortodôntico não promove necrose pulpar<br />

2. Nos casos de necrose pulpar durante o tratamento<br />

ortodôntico, deve-se pesquisar o histórico<br />

de traumatismos dentários, especialmente<br />

os mais leves, do tipo concussão.<br />

3. Em casos de forças muito intensas utilizadas<br />

em tratamentos ortodônticos e ortopédicos, a<br />

movimentação dentária não ocorre e o deslocamento<br />

com ruptura do feixe vascular pulpar<br />

tem menor chance ainda de acontecer.<br />

4. Traumatismo dentário, trauma oclusal e movimentação<br />

ortodôntica são situações totalmente<br />

distintas umas das outras, embora sejam eventos<br />

físicos sobre os tecidos. Os efeitos biológicos<br />

em cada uma dessas três situações são<br />

diferentes e específicos, não sendo, portanto,<br />

comparáveis entre si.<br />

Referências<br />

1. Consolaro A. Reabsorções dentárias nas especialidades<br />

clínicas. 2ª ed. Maringá: <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong>; 2005.<br />

2. Consolaro A. Inflamação e reparo. Maringá: <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong>;<br />

2010.<br />

3. Consolaro A, Consolaro MFM-O. Controvérsias na Ortodontia<br />

e atlas de Biologia da movimentação dentária. Maringá: <strong>Dental</strong><br />

<strong>Press</strong>; 2008.<br />

4. Consolaro RB. Análise do complexo dentinopulpar em dentes<br />

submetidos à movimentação dentária induzida em ratos<br />

[dissertação]. Bauru: Universidade de São Paulo; 2005.<br />

5. Derringer KA, Jaggers DC, Linden RW. Angiogenesis in human<br />

dental pulp following orthodontic tooth movement. J Dent Res.<br />

1996;75(10):1761-6.<br />

6. Derringer KA, Linden RW. Epidermal growth factor released in<br />

human dental pulp following orthodontic force. Eur J Orthod.<br />

2007;29(1):67-71.<br />

7. Grünheid T, Morbach BA, Zentner A. Pulpal cellular reactions to<br />

experimental tooth movement in rats. Oral Surg Oral Med Oral<br />

Pathol Oral Radiol Endod. 2007;104(3):434-41.<br />

8. Junqueira LC, Carneiro J. Histologia básica. 11 a ed. Rio de<br />

Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. 524 p.<br />

9. Massaro CS, Consolaro RB, Santamaria M Jr, Consolaro MF,<br />

Consolaro A. Analysis of the dentin-pulp complex in teeth<br />

submitted to orthodontic movement in rats. J Appl Oral Sci.<br />

2009;17(sp. issue):35-42.<br />

10. Osborn JW, Ten Cate AR. Histologia dental avançada. 4 a ed.<br />

São Paulo: Quintessence; 1988.<br />

11. Pissiotis A, Vanderas AP, Papagiannoulis L. Longitudinal study<br />

on types of injury, complications and treatment in permanent<br />

traumatized teeth with single and multiple dental trauma<br />

episodes. Dent Traumatol. 2001;23(4):222-5.<br />

12. Santamaria M Jr, Milagres D, Stuani AS, Stuani MBS, Ruellas<br />

ACO. Pulpal vasculature changes in tooth movement. Eur J<br />

Orthod. 2006;28(3):217-20.<br />

13. Valladares J Neto. Análise microscópica do complexo<br />

dentinopulpar e da superfície radicular externa após a<br />

expansão rápida da maxila em adolescentes [dissertação].<br />

Goiânia: Universidade Federal de Goiás; 2000.<br />

Endereço para correspondência:<br />

Alberto Consolaro - E-mail: consolaro@uol.com.br<br />

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<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):14-20


artigo original<br />

Um instrumento NiTi fabricado por torção: morfologia<br />

e propriedades mecânicas<br />

Victor Talarico Leal Vieira, DDS, MSc 1<br />

Carlos Nelson Elias, DDS, MSc, PhD 1<br />

Hélio Pereira Lopes, DDS, PhD 2<br />

Edson Jorge Lima Moreira, DDS, MSc, PhD 3<br />

Letícia Chaves de Souza, DDS, MSc 1<br />

Resumo<br />

A morfologia da superfície dos instrumentos TF ® foi estudada<br />

utilizando estereomicroscopia e microscopia eletrônica<br />

de varredura (MEV). Ensaios mecânicos foram<br />

feitos para aferir a flexibilidade e a microdureza. Quatro<br />

conicidades de instrumentos TF ® foram utilizadas (0,04;<br />

0,06; 0,08 e 0,10mm/mm). A estereomicroscopia associada<br />

com o programa AxioVision ® foi utilizada para medir o<br />

ângulo da ponta, a conicidade e o diâmetro da ponta dos<br />

instrumentos. A MEV foi utilizada para identificar defeitos<br />

na superfície provenientes da fabricação e do acabamento.<br />

A flexibilidade e a microdureza foram aferidas com os<br />

ensaios de flexão e microdureza Vickers, respectivamente.<br />

A análise mostrou que o fabricante atendeu aos valores recomendados<br />

pela norma nº 28 ANSI/ADA. Os resultados<br />

da microscopia eletrônica de varredura mostraram muitos<br />

defeitos de superfície e distorção da aresta lateral dos instrumentos.<br />

Foi observado que a flexibilidade do instrumento<br />

muda com a conicidade. As forças para induzir a transformação<br />

de fase por tensão nos instrumentos com conicidade<br />

0,04; 0,06 e 0,08mm/mm foram de 100gf, 150gf e 250gf,<br />

respectivamente. Os valores da microdureza Vickers dos<br />

instrumentos são compatíveis com os encontrados nos instrumentos<br />

fabricados pelo processo de usinagem.<br />

Palavras-chave: Instrumentos endodônticos. Liga de NiTi.<br />

Fase R. Caracterização de materiais. Ensaios mecânicos.<br />

Vieira VTL, Elias CN, Lopes HP, Moreira EJL, Souza LC. A NiTi rotary instrument manufactured by twisting: morphology and mechanical properties. <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod.<br />

2011 apr-june;1(1):21-7.<br />

1<br />

Departamento de Engenharia Mecânica e de Materiais, Instituto Militar de Engenharia, Rio de<br />

Janeiro, RJ, Brasil.<br />

2<br />

Departamento de Endodontia, Faculdade de Odontologia, Universidade Estácio de Sá, Rio de<br />

Janeiro, RJ, Brasil.<br />

3<br />

Departamento de Endodontia, Faculdade de Odontologia, UNIGRANRIO, Universidade do<br />

Grande Rio.<br />

Recebido: janeiro de 2011 / Aceito: fevereiro de 2011.<br />

Endereço para correspondência: Victor Talarico Leal Vieira<br />

Rua Engenheiro Coelho Cintra 25/101, Ilha do Governador, CEP: 21.920-420<br />

Rio de Janeiro, RJ, Brasil -<br />

Email: victortalarico@yahoo.com.br.<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 21<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):21-7


[ artigo original ] Um instrumento NiTi fabricado por torção: morfologia e propriedades mecânicas<br />

Introdução<br />

Em 1988, Walia et al. 1 utilizaram uma nova liga metálica<br />

para fabricar instrumentos endodônticos, a liga<br />

de NiTi. Os instrumentos produzidos com essa liga<br />

possuem um módulo de Young mais baixo do que os<br />

instrumentos fabricados em aço inoxidável, permitindo<br />

o tratamento endodôntico de casos com grandes curvaturas<br />

radiculares. A utilização de instrumentos fabricados<br />

com aço inoxidável pode dificultar o tratamento.<br />

Os primeiros instrumentos endodônticos de NiTi comercializados<br />

eram fabricados a partir da usinagem de<br />

barras. Com o desenvolvimento da liga de NiTi, o estudo<br />

dos mecanismos nas transformações de fase e o melhor<br />

controle da microestrutura, foi possível desenvolver<br />

um novo método de fabricação baseado na torção.<br />

Os instrumentos TF ® (Twisted Files, Califórnia, EUA)<br />

são fabricados por torção. Essa nova geração de instrumentos<br />

parece possuir melhor desempenho clínico.<br />

No presente trabalho, a morfologia da superfície dos<br />

instrumentos fabricados por torção foi investigada e a<br />

microdureza Vickers e flexibilidade foram aferidas. Essas<br />

propriedades são importantes para entender o comportamento<br />

clínico e para o desenvolvimento de novos<br />

instrumentos.<br />

Material e métodos<br />

Morfologia<br />

Os instrumentos endodônticos TF ® (Twisted Files,<br />

Califórnia) utilizados nesse estudo possuíam comprimento<br />

de 27mm e diâmetro da ponta (D 0<br />

) de 25mm.<br />

Foram utilizadas três conicidades diferentes (0,04; 0,06<br />

e 0,08mm/mm).<br />

O ângulo da ponta, o diâmetro da ponta e a conicidade<br />

foram determinados com um microscópio óptico<br />

Zeiss ® com uma câmera pixeLINK modelo PL- a662<br />

e uma fonte luminosa Zeiss ® 1500 LCD. A conicidade<br />

foi determinada com uma ampliação de 1.6X. As outras<br />

dimensões foram quantificadas com uma ampliação de<br />

5X. Todas as dimensões dos instrumentos foram determinadas<br />

com o programa AxioVison 4.4 ® . Cinco instrumentos<br />

de cada conicidade foram investigados.<br />

Ensaio de flexão (em 45º)<br />

Os ensaios de flexão foram executados com um<br />

dispositivo afixado ao sistema da máquina de ensaio<br />

universal EMIC DL1000 (EMIC Equipamentos, Brasil).<br />

Uma célula de carga de 20N foi utilizada para aferir a<br />

força necessária para flexionar a ponta dos instrumentos<br />

em 10 o , 20 o , 30 o e 45 o . Os ensaios foram feitos de<br />

acordo com a norma nº 28 da ADA, com a força aplicada<br />

a 3mm da ponta do instrumento.<br />

Microdureza Vickers<br />

Para o ensaio de microdureza Vickers, os instrumentos<br />

foram embutidos em resina epóxi. A haste de fixação<br />

foi mantida paralela à base do recipiente, com o<br />

propósito de expor o núcleo do instrumento de maneira<br />

correta após o polimento. Os instrumentos foram preparados<br />

com lixas 200, 300, 400, 600 e 1200, e polidos<br />

com partículas de alumina de 0,5µm.<br />

As endentações para o ensaio Vickers foram feitas<br />

com 100gf durante 15s utilizando um microdurômetro<br />

modelo Bhueler 1600-5300. Foram feitas cinco endentações<br />

na parte de trabalho e cinco no intermediário de<br />

cada espécime.<br />

Microscopia eletrônica de varredura (MEV)<br />

Dois instrumentos de cada conicidade foram submetidos<br />

à MEV (JEOL, LSM 5800LV) para avaliar a<br />

morfologia da aresta lateral de corte, da ponta e da junção<br />

entre o intermediário e a haste de fixação.<br />

Análise estatística<br />

Os dados dos ensaios de flexão e de microdureza<br />

Vickers foram analisados estatisticamente pelo teste de<br />

Kruskal-Wallis e complementados com o teste de comparações<br />

múltiplas Student-Newman-Keuls para comparar<br />

as conicidades. A microdureza no intermediário<br />

foi comparada aplicando-se o teste de Mann-Whitney.<br />

O nível de significância de todas as análises foi de 5%.<br />

Resultados<br />

Os resultados da análise estatística são mostrados<br />

nas Tabelas 1 e 2. Os resultados dos testes de flexão<br />

estão mostrados na Tabela 3. A Figura 1 mostra a curva<br />

média obtida de dez instrumentos de conicidade<br />

0,06mm/mm flexionados. Os ensaios para as outras<br />

conicidades mostraram curvas similares.<br />

As curvas mostram uma mudança de inclinação que<br />

é atribuída à transformação de fase. Os valores das forças<br />

para flexionar os instrumentos em 10 o , 20 o , 30 o e<br />

45 o estão mostrados na Tabela 2 e as forças necessárias<br />

para induzir a transformação de fase por tensão estão<br />

mostradas na Tabela 3.<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 22<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):21-7


Vieira VTL, Elias CN, Lopes HP, Moreira EJL, Souza LC<br />

A análise estatística pelo teste de Krukal-Wallis<br />

mostrou que há uma diferença significativa entre<br />

os instrumentos com conicidades diferentes<br />

(P


[ artigo original ] Um instrumento NiTi fabricado por torção: morfologia e propriedades mecânicas<br />

provou ser mais flexível do que os instrumentos de conicidade<br />

0,08mm/mm.<br />

Os valores médios da microdureza Vickers na região<br />

do intermediário e na parte ativa estão mostrados na<br />

Tabela 4.<br />

Os resultados da microdureza Vickers para cada conicidade<br />

foram submetidos ao teste de Mann-Whitney<br />

e não houve diferença estatística significativa entre os<br />

valores no intermediário e na parte ativa para todos os<br />

instrumentos (p>0,05).<br />

100 µm<br />

100 µm<br />

100 µm<br />

50 µm<br />

Figura 2. Imagens de um Instrumento TF ® de conicidade 0,04mm/mm.<br />

A) Aresta lateral de corte mostrando rebarbas (magnificação de 60×).<br />

B) Curvatura na aresta proveniente do processo de fabricação (magnificação<br />

de 100×). C) Poros presentes no instrumento (magnificação de<br />

500×). D) Presença de farpas (magnificação de 300×). E) Junção entre<br />

o cabo e o intermediário (magnificação de 27×).<br />

500 µm<br />

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<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):21-7


Vieira VTL, Elias CN, Lopes HP, Moreira EJL, Souza LC<br />

Os valores de microdureza observados também foram<br />

analisados pelo teste de Kruskal-Wallis. A análise<br />

estatística confirmou que não houve diferença significativa<br />

entre os grupos (p=0,658). É possível concluir que<br />

a microdureza Vickers é independente da conicidade e<br />

da região do instrumento testado.<br />

A análise da superfície mostrou defeitos de fabricação<br />

em todos os instrumentos testados (Fig. 2).<br />

A Figura 2 mostra cavidades produzidas no processo<br />

de fabricação. É possível ver as marcas de ferramentas<br />

ao longo da direção longitudinal. Todas as amostras<br />

possuíam microcavidades.<br />

Discussão<br />

É importante que a ponta do instrumento tenha um<br />

bom acabamento e um ângulo de transição que permita<br />

a introdução no canal radicular. Pequenos ângulos<br />

(menos do que 33º) podem gerar degraus ou desvios.<br />

Os instrumentos TF ® possuem um ângulo da ponta<br />

progressivo que permite a introdução, em regiões com<br />

curvaturas importantes, sem a deformação do canal,<br />

promovendo, assim, um alargamento seguro. O ângulo<br />

da ponta arredondado pode ser classificado como<br />

suave 2 . Devido a essa configuração, é provável que o<br />

instrumento não cause danos à raiz.<br />

A dimensão D o<br />

do instrumento é determinada pelo<br />

diâmetro da base da ponta, a qual serve como referência<br />

durante a instrumentação do canal. O valor de D o<br />

e a conicidade nominal do instrumento permitem determinar<br />

o diâmetro que irá se trabalhar em um dado<br />

segmento do canal. Uma conta simples pode ser feita<br />

para determinar quais instrumentos serão utilizados<br />

em sequência para se ter um trabalho efetivo. Os valores<br />

do diâmetro das bases das pontas (D o<br />

) encontrados<br />

nesse estudo seguem a recomendação da norma nº<br />

28 da ANSI/ADA. Foi observado que os ângulos das<br />

pontas também seguem as recomendações da norma.<br />

De acordo com Thompson 3 , a transformação de<br />

fase das ligas de NiTi não mostra mudanças macroscópicas<br />

quando cargas externas causam alterações na<br />

microestrutura. O teste de flexão mostrou uma mudança<br />

na inclinação da curva depois de um aumento linear<br />

que seguiu a lei de Hooke. Essa mudança é atribuída a<br />

uma transformação de fase de austenita para martensita.<br />

Essa inclinação está de acordo com os resultados de<br />

Thompson 3 . No início, o material está na zona elástica;<br />

no final, ele se encontra na região superelástica e, entre<br />

esses dois momentos o material se encontra na região<br />

de transformação de fase.<br />

Nesse estudo, foi feito o gráfico mostrando a relação<br />

entre a força e a deformação. Thompson 3 provavelmente<br />

utilizou um fio no seu experimento, então se<br />

tornou fácil calcular a tensão (σ), utilizando a área do<br />

espécime. No caso desse estudo, devido à complexidade<br />

da forma, é impossível calcular a tensão com uma<br />

boa precisão. Entretanto, como a tensão é proporcional<br />

à força (σ = F/A), a forma da curva é a mesma.<br />

Thompson 3 mencionou que o preparo dos canais<br />

radiculares promove a transformação martensítica por<br />

tensão nos instrumentos de liga de NiTi. O nível de<br />

tensão no qual a transformação de fase ocorre não foi<br />

mencionado por autores, e foi encontrado nesse estudo<br />

sendo diferente para cada instrumento. Isso é uma<br />

informação importante para estudos futuros e para a<br />

prática clínica.<br />

De acordo com Schäfer et al. 4 , a secção transversal<br />

é o principal fator que afeta o ensaio de flexão. Isso é<br />

razoável, pois a maior área implica um maior volume<br />

de metal no núcleo do instrumento. Nesse trabalho,<br />

um fator que influenciou a força máxima para a flexão<br />

dos instrumentos a 45º foi a conicidade. A conicidade<br />

possui a mesma influência da secção transversal, pela<br />

mesma razão. Se o diâmetro da ponta é mantido constante,<br />

uma maior conicidade irá promover uma menor<br />

flexibilidade, como observado nos ensaios.<br />

De acordo com Miyai et al. 5 e Hayashi et al. 6 , a flexibilidade<br />

do instrumento é influenciada pela transformação<br />

de fase. A fase R, ou romboédrica, possui uma grande<br />

efeito memória de forma e seu o módulo de Young<br />

é menor que o da austenita, então um instrumento que<br />

passe por essa transformação será mais flexível. Estudos<br />

futuros utilizando DSC (Calorimetria Diferencial de<br />

Varredura) serão necessários para quantificar a influência<br />

da fase R na flexibilidade.<br />

Yahata et al. 7 utilizaram o mesmo modelo proposto<br />

por Miyai et al. 5 para estudar amostras recozidas. Entretanto,<br />

diferentemente desse estudo, os autores não<br />

mencionaram a força média para a transformação de<br />

fase quando o instrumento é submetido à tensão.<br />

Outros valores encontrados nesse estudo estão<br />

compatíveis com ligas de NiTi. Lopes et al. 8 encontraram<br />

valores médios de 345HV em instrumentos de NiTi<br />

(Files NiTi-flex). Serene et al. 9 encontraram valores entre<br />

303 e 362HV para a microdureza de ligas de NiTi<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 25<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):21-7


[ artigo original ] Um instrumento NiTi fabricado por torção: morfologia e propriedades mecânicas<br />

utilizadas na fabricação de instrumentos endodônticos.<br />

O valor médio encontrado nesse estudo foi 289HV.<br />

Esse valor é similar a outros da literatura.<br />

Nesse trabalho foi observado que o processo de fabricação<br />

não muda a microdureza Vickers, provavelmente<br />

devido ao tratamento térmico, que pode ter sido<br />

abaixo da temperatura de recristalização proposta por<br />

Kuhn e Jordan 10 .<br />

De acordo com o fabricante 11 , a ausência de outro<br />

metal no cabo de fixação evita corrosão galvânica. O<br />

instrumento é realmente formado por uma única peça.<br />

Entretanto, a corrosão galvânica não é um problema<br />

importante, por causa da vida útil curta do material na<br />

clínica. Ela seria importante somente se o instrumento<br />

permanecer em estoque por um longo período de tempo<br />

em condições adversas.<br />

De acordo com Kim et al. 12 , os instrumentos TF ®<br />

apresentam uma resistência significativa à fratura por<br />

flexão rotativa, quando comparados a outros instrumentos<br />

fabricados pelo processo de usinagem, corroborando<br />

com os resultados obtidos por Gambarini et<br />

al. 13 e Larsen et al. 14 Isso pode ser explicado pelo fato da<br />

usinagem produzir defeitos perpendiculares que favorecem<br />

a nucleação e propagação de trincas.<br />

Mesmo apresentando bons resultados no ensaio de<br />

flexão rotativa, os instrumentos TF ® deveriam apresentar<br />

um melhor acabamento superficial, que poderia melhorar<br />

o desempenho, conferindo resistência à fratura.<br />

A morfologia da superfície encontrada nesse trabalho é<br />

muito parecida com a encontrada por Kim et al. 12 Apesar<br />

do eletropolimento, a superfície não é completamente<br />

lisa e possui marcas do processo de fabricação.<br />

Essa observação corrobora os resultados desse estudo.<br />

Conclusões<br />

Baseado nos resultados, conclui-se que:<br />

a) as dimensões dos instrumentos TF ® seguem as<br />

recomendações da norma nº 28 da ANSI/ADA;<br />

b) os instrumentos apresentam muitos defeitos do<br />

processo de fabricação;<br />

c) a flexibilidade do instrumento diminui com o aumento<br />

da conicidade;<br />

d) a transformação de fase induzida por tensão nos<br />

instrumentos TF ® de conicidade 0,04; 0,06 e 0,08<br />

mm/mm foi com 100gf, 150gf e 250gf, respectivamente;<br />

e) a microdureza Vickers foi similar à de outros instrumentos<br />

de NiTi fabricados por usinagem.<br />

A NiTi rotary instrument manufactured by twisting: morphology and<br />

mechanical properties<br />

abstract<br />

Objectives: The surface morphology of TF ® endodontic<br />

instruments was studied using stereomicroscopy and scanning<br />

electron microscopy (SEM). Mechanical tests were<br />

done for flexibility and microhardness. Methods: Four tapers<br />

of TF ® files was used (0.04; 0.06; 0.08 e 0.10 mm/mm).<br />

The stereomicroscopy associated with the AxioVision ® program<br />

was used to measure the tip angle, the helical angle,<br />

the taper and the tip diameter of the instruments. SEM was<br />

used to identify surface defects due to machining and finishing.<br />

The flexibility and the microhardness were measured<br />

with bending and microhardness Vickers tests, respectively.<br />

The analysis showed that the manufacturer complied with the<br />

values recommended by the ANSI/ADA standard number 28.<br />

Results and Conclusions: The SEM results showed many<br />

surface defects and a distortion of the instrument helicity. It<br />

was observed that the instrument flexibility changes with its taper.<br />

The forces to induce the phase transformation by stress on<br />

instruments with taper 0.04; 0.06 e 0.08 mm/mm were 100 gf,<br />

150 gf and 250 gf, respectively. The values of microhardness<br />

Vickers of the instruments are compatible with rotary instruments<br />

manufactured by the machining process.<br />

Keywords: Endodontic instruments. NiTi alloy. R-phase. Materials<br />

characterization. Mechanical tests. NiTi manufacturing methods.<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 26<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):21-7


Vieira VTL, Elias CN, Lopes HP, Moreira EJL, Souza LC<br />

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titanium endodontic instruments. J Endod. 2002;28(10):716-20.<br />

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© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 27<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):21-7


artigo original<br />

Carlos ESTRELA, DDS, MSc, PhD 1<br />

Mike Reis BUENO, DDS, MSc 2<br />

Julio Almeida SILVA, DDS, MSc 3<br />

Olavo César Lyra PORTO, DDS 3<br />

Claudio Rodrigues LELES, DDS, MSc, PhD 4<br />

Bruno Correa Azevedo, DDS, MSc 5<br />

resumo<br />

Objetivo: este estudo avaliou o efeito causado pelos constituintes<br />

dos retentores intrarradiculares sobre as dimensões<br />

das imagens de tomografia computadorizada de feixe<br />

cônico (TCFC) em dentes tratados endodonticamente. Métodos:<br />

quarenta e cinco dentes humanos anteriores superiores<br />

foram divididos em 5 grupos, de acordo com os tipos<br />

de pinos: fibra de vidro, fibra de carbono, metálicos pré-fabricados,<br />

liga de prata e pinos de liga de ouro. Os canais radiculares<br />

foram preparados, obturados, desobturados parcialmente<br />

e preparados para os retentores intrarradiculares.<br />

O material de cimentação utilizado foi um cimento resinoso<br />

(RelyX Unicem ® ). Exames tomográficos foram obtidos, e os<br />

espécimes seccionados nos planos axial, sagital e coronal.<br />

As medidas das dimensões dos retentores intrarradiculares<br />

foram adquiridas em diferentes planos para a determinação<br />

das diferenças entre as medidas originais dos retentores intrarradiculares<br />

e as medidas das imagens da TCFC. Análise<br />

de variância “one-way”, testes de Tukey e Kruskall-Wallis<br />

foram utilizados para análises estatísticas. O nível de significância<br />

foi estabelecido em α = 5%. Resultados: as medidas<br />

das imagens na TCFC foram maiores que nos espécimes<br />

de 7,7% a 100%. Os retentores intrarradiculares de liga<br />

de ouro e prata mostraram maiores variações (p>0,05) em<br />

relação aos de fibra de vidro, fibra de carbono e pré-fabricados<br />

(p


Estrela C, Bueno MR, Silva JA, Porto OCL, Leles CR, Azevedo BC<br />

Introdução<br />

A obturação do canal radicular representa um importante<br />

passo no tratamento endodôntico, o qual é completado<br />

pela restauração dentária. Em algumas situações,<br />

dentes tratados endodonticamente oferecem uma perda<br />

substancial de estrutura dentária e requerem a instalação<br />

de retentores intrarradiculares 11 .<br />

Diferentes tipos de retentores intrarradiculares têm<br />

sido recomendados para reconstruções dentárias de<br />

acordo com a análise de alguns aspectos restauradores:<br />

perda de retenção do dente; risco de reinfecção devido<br />

à microinfiltração microbiana; efeito do comprimento<br />

do retentor na periodontite apical, efeitos retentivos dos<br />

sistemas adesivos aos diferentes tipos de retentores intrarradiculares;<br />

possibilidade de concentração de estresse;<br />

diferença do módulo de elasticidade da dentina e dos<br />

retentores intrarradiculares 6,25 .<br />

Achados clínicos e patológicos, suportados por exames<br />

radiográficos, oferecem a base da terapia endodôntica.<br />

As imagens são necessárias em todas as fases do<br />

tratamento endodôntico 11 .<br />

Desde a descoberta dos raios X por Roentgen, em<br />

1895, a radiologia tem buscado constantemente o desenvolvimento<br />

de novas tecnologias. A variação de ângulos<br />

proposta por Clark e o desenvolvimento das radiografias<br />

panorâmicas proporcionam novos padrões de aplicação<br />

em Endodontia. A tomografia computadorizada de feixe<br />

cônico (TCFC) recentemente permitiu a terceira dimensão<br />

na Odontologia 2,24 , o que proporcionou inúmeros benefícios<br />

às especialidades que não utilizavam a tomografia<br />

médica (TC), devido à falta de especificidade. A tomografia<br />

computadorizada é um importante método não destrutivo<br />

e não invasivo de diagnóstico por imagem 2,5,24,29 .<br />

A TCFC produz imagens em três dimensões, permitindo<br />

um novo plano: a profundidade. A aplicação clínica<br />

garante acurácia e é útil em todas as áreas da Odontologia<br />

2,5,8,9,10,24,29 . Entretanto, erros de diagnóstico podem resultar<br />

de artefatos de imagens. Estruturas sólidas ou metálicas<br />

(materiais de alta densidade) podem resultar em<br />

artefatos e afetar o contraste das imagens. Vários autores<br />

têm estudado alternativas para correção desses artefatos<br />

durante a aquisição da imagem, sua reconstrução ou outras<br />

condições 3,4,7,12,13,14,16-21,26,27,28 .<br />

Jian e Hongnian 16 reportaram que o beam hardening<br />

é causado pelo espectro policromático do raio X e que<br />

os artefatos diminuem a qualidade da imagem. Katsumata<br />

et al. 18,19 salientaram que os artefatos causados pela<br />

saturação dos sensores diminuem os valores da TC em<br />

região vestibular de mandíbulas. Na imagem de dentes,<br />

artefatos podem alterar os valores da TC dos tecidos moles<br />

adjacentes aos lados lingual e vestibular dos maxilares.<br />

Os valores da TC de estruturas de tecidos duros também<br />

podem ser afetados de forma semelhante.<br />

A TCFC em dentes com retentores intrarradiculares<br />

pode projetar imagens fantasmas sobre áreas próximas<br />

a eles e mascarar a real estrutura do canal radicular,<br />

o que aumenta o risco de erro de diagnóstico clínico.<br />

Poucos estudos investigaram a associação de erros de<br />

diagnóstico com imagens de retentores intrarradiculares.<br />

O presente estudo avaliou o efeito causado pelos<br />

retentores intrarradiculares sobre as dimensões das<br />

imagens da tomografia computadorizada de feixe cônico<br />

em dentes tratados endodonticamente.<br />

Material e Métodos<br />

Preparo dos dentes<br />

A amostra foi composta por 45 dentes anteriores superiores<br />

extraídos por diferentes razões no Serviço de Urgência<br />

Odontológica da Universidade Federal de Goiás,<br />

Faculdade de Odontologia, Goiânia, Brasil. Esse estudo<br />

foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal<br />

de Goiás, Brasil. Radiografias pré-operatórias de cada<br />

dente foram obtidas para confirmar a ausência de canais<br />

radiculares calcificados e reabsorção interna ou externa,<br />

e a presença de rizogênese completa.<br />

Os dentes foram removidos do armazenamento em<br />

solução de timol 0,2% e imersos em solução de hipoclorito<br />

de sódio a 5% (Fitofarma, Goiânia, GO, Brasil) por 30<br />

minutos para remoção de tecidos orgânicos. As coroas<br />

foram seccionadas a fim de se padronizar o tamanho dos<br />

remanescentes dentários a um comprimento de 13mm a<br />

partir do ápice. Após as radiografias iniciais, realizou-se<br />

abertura coronária e os terços cervicais de cada canal radicular<br />

foram alargados com brocas de Gates-Glidden #1<br />

a #3 (Dentsply / Maillefer, Ballaigues, Suíça). Os dentes<br />

foram preparados até o instrumento K-File #50 (Dentsply<br />

/ Maillefer) 1mm aquém do forame apical. Durante a instrumentação,<br />

os canais radiculares foram irrigados com<br />

3ml de NaOCl 1% (Fitofarma) a cada troca de instrumento.<br />

Os canais radiculares foram secos e preenchidos com<br />

EDTA 17% (pH 7,2) (Biodinâmica, Ibiporã, PR, Brasil) durante<br />

3 minutos para remoção da smear layer.<br />

Os espécimes foram divididos aleatoriamente em<br />

5 grupos experimentais, de acordo com o retentor<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 29<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):28-36


[ artigo original ] Efeito de retentores intrarradiculares na dimensão das imagens da tomografia computadorizada de feixe cônico<br />

intrarradicular utilizado: Grupo 1 (n = 9) – pinos de fibra<br />

de vidro (White post DC ® , FGM, Joinville, SC, Brasil);<br />

Grupo 2 (n = 9) – pinos de fibra de carbono (Reforpost<br />

Carbon Fiber RX, Angelus, Londrina, PR, Brasil); Grupo<br />

3 (n = 9) – pinos metálicos pré-fabricados (Obturation<br />

Screws ® , FKG, Dentaire, La Chaux-de-Founds, Suíça);<br />

Grupo 4 (n = 9) – pinos de liga de prata (Silver Alloy la<br />

Croix ® , Rio de Janeiro, RJ, Brasil); Grupo 5 (n = 9) – pinos<br />

de liga de ouro (Gold Alloy Stabilor G ® , Au-58.0, Pd-5.5,<br />

Ag-23.3, Cu-12.0, Zn trace, Ir trace; DeguDent Benelux<br />

BV, Hoorn, Holanda).<br />

Posteriormente ao preparo do canal radicular, todos<br />

os dentes foram obturados com AH Plus (Dentsply /<br />

Maillefer) e guta-percha, preparado de acordo com as<br />

instruções do fabricante, utilizando-se a técnica de condensação<br />

lateral. Os diâmetros dos pinos pré-fabricados<br />

utilizados nos grupos de 1 a 3 eram compatíveis com o diâmetro<br />

dos canais radiculares preparados. Para os grupos<br />

4 e 5, os retentores de prata e ouro foram confeccionados<br />

depois da moldagem dos canais radiculares.<br />

A guta-percha dos terços cervical e médio foi removida<br />

com brocas Gates-Glidden #2 e #3 (Dentsply / Maillefer)<br />

e broca de Largo #1 (Dentsply / Maillefer) para desobturação<br />

de 8mm e pelo menos 4mm de material obturador<br />

no terço apical (Fig. 1). O material utilizado foi o cimento<br />

resinoso (RelyX Unicem, 3M ESPE, Seefeld, Alemanha)<br />

manipulado de acordo com instruções do fabricante.<br />

Análise das imagens<br />

Exames tomográficos foram adquiridos para obtenção<br />

de imagens 3D. Os dentes foram colocados em uma<br />

plataforma de plástico posicionada no centro de um recipiente<br />

contendo água para simular tecido mole, segundo<br />

modelo descrito em estudos anteriores 18,26,28 . As imagens<br />

da TCFC foram adquiridas com um tomógrafo de primeira<br />

geração i-CAT Cone Beam 3D (Imaging Sciences<br />

International, Hatfield, PA, EUA). Os volumes foram reconstruídos<br />

com voxels isométricos de 0,2mm. A tensão<br />

de tubo foi de 120kVp e da corrente do tubo, 3,8mA. O<br />

tempo de exposição foi de 40 segundos. As imagens foram<br />

analisadas com o software do fabricante do tomógrafo<br />

(Xoran versão 3.1.62; Xoran Technologies, Ann Arbor,<br />

Michigan, EUA) em uma estação de trabalho PC executando<br />

o Microsoft Windows XP Professional SP-2 (Microsoft<br />

Corp, Redmond, WA, EUA) com um processador<br />

Intel ® Core 2 Duo 6300 1,86 GHz (Intel Corporation,<br />

EUA), placa de vídeo NVIDIA GeForce 6200 turbo cache<br />

(NVIDIA Corporation, EUA) e um monitor EIZO - S2000<br />

Flexscan em 1600x1200 pixels de resolução (Eizo Nanao<br />

Corporation Hakusan, Japão).<br />

Secção das raízes<br />

Após a obtenção dos exames tomográficos, cada<br />

amostra foi cuidadosamente seccionada nos planos axial,<br />

sagital ou coronal, usando uma broca Endo Z (Dentsply/<br />

Maillefer) em alta rotação sob refrigeração. Os cortes<br />

transversais para o plano axial foram obtidos a 8mm do<br />

ápice, e para os planos sagital e coronal, as raízes foram<br />

seccionadas longitudinalmente ao longo do centro do canal<br />

radicular (Fig. 1).<br />

Medição dos espécimes<br />

As imagens da TCFC dos retentores intrarradiculares<br />

foram medidas nos planos axial, sagital ou coronal. Todas<br />

as medições foram feitas a 8mm do ápice radicular (Fig.<br />

1). As medidas dos retentores intrarradiculares nos cortes<br />

axiais foram feitas no sentido vestibulolingual; nos cortes<br />

sagitais, no sentido mesiodistal; e nos cortes coronais, no<br />

sentido vestibulolingual. Todos os dentes foram avaliados<br />

por dois especialistas em Endodontia, utilizando um paquímetro<br />

com 0,01mm de resolução digital (Fowler/Sylvac<br />

Ultra-cal Mark IV Eletronic Caliper, Crissier, Suíça).<br />

Para determinar a diferença entre as medidas dos espécimes<br />

e das imagens da TCFC, todas as medições foram<br />

realizadas no mesmo ponto nos planos axial, sagital<br />

e coronal. Todas as medidas da TCFC foram adquiridas<br />

por dois especialistas em radiologia usando a ferramenta<br />

de medição do software do tomógrafo (Xoran versão<br />

3.1.62; Xoran Technologies, Ann Arbor, Michigan, EUA).<br />

As dimensões das imagens da TCFC foram reformatados<br />

com espessuras de corte de 0,2mm, 0,6mm, 1,0mm,<br />

3,0mm e 5,0mm.<br />

Examinadores calibrados mediram todos os espécimes<br />

e imagens da TCFC e avaliaram as dimensões dos<br />

retentores intrarradiculares nos sentidos anteriormente<br />

descritos. Quando o consenso não foi alcançado, um terceiro<br />

observador emitia a decisão final.<br />

Análise de variância one-way (ANOVA), testes de<br />

Tukey e Kruskall-Wallis foram utilizados para análise estatística.<br />

O nível de significância foi estabelecido em α = 5%.<br />

Resultados<br />

O aumento das dimensões dos retentores nas imagens<br />

da TCFC variou entre 7,7% e 100% (Tab. 1).<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 30<br />

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Estrela C, Bueno MR, Silva JA, Porto OCL, Leles CR, Azevedo BC<br />

Vista Sagital Vista Axial Vista Coronal<br />

1mm<br />

1mm<br />

4mm<br />

4mm<br />

13mm<br />

8mm<br />

13mm<br />

8mm<br />

8mm<br />

8mm<br />

Figura 1. Representação esquemática do método de secção das raízes e comprimento dos retentores, nos planos sagital, axial e coronal.<br />

Tabela 1. Percentual (%) de aumento de dimensão do espécime em relação à imagem da TCFC de acordo com a espessura de corte e os planos<br />

para cada tipo de material endodôntico (α=5%).<br />

Espessura/Plano Fibra de vidro Fibra de carbono Metálico pré-fabricado Prata Ouro<br />

0,2mm / Axial 16,70 7,70 50,00 100,00 73,30<br />

0,2mm / Coronal 16,70 38,50 66,70 85,70 100,00<br />

0,2mm / Sagital 0,00 33,30 53,80 57,10 57,10<br />

0,6mm / Axial 16,70 7,70 50,00 100,00 73,30<br />

0,6mm / Coronal 16,70 38,50 66,70 85,70 100,00<br />

0,6mm / Sagital 0,00 33,30 53,80 57,10 57,10<br />

1mm / Axial 16,70 -7,70 50,00 100,00 73,30<br />

1mm / Coronal 16,70 38,50 66,70 85,70 100,00<br />

1mm / Sagital 0,00 33,30 53,80 57,10 57,10<br />

3mm / Axial 16,70 -7,70 50,00 100,00 73,30<br />

3mm / Coronal 16,70 38,50 50,00 85,70 84,60<br />

3mm / Sagital 0,00 16,70 38,50 57,10 42,90<br />

5mm / Axial 16,70 -7,70 50,00 100,00 73,30<br />

5mm / Coronal 16,70 38,50 50,00 71,40 84,60<br />

5mm / Sagital 0,00 16,70 23,10 57,10 42,90<br />

P value 0,001* 0,001* 0,001* 0,001* 0,001*<br />

*interação entre o tipo e espessura de corte e o tipo de retentor com diferenças significativas pelo teste de Kruskall Wallis.<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 31<br />

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[ artigo original ] Efeito de retentores intrarradiculares na dimensão das imagens da tomografia computadorizada de feixe cônico<br />

As diferenças foram significativas entre os pinos<br />

de fibra de vidro, fibra de carbono e metálicos (Tab.<br />

2). Figuras 2 a 7 mostram as imagens de TCFC nos<br />

planos sagital, axial e coronal. Não foram encontradas<br />

diferenças significativas quando diferentes espessuras<br />

foram utilizadas.<br />

Tabela 2. Percentual (%) de aumento da dimensão do espécime em relação à imagem da TCFC em cada grupo de acordo com o estudo das<br />

variáveis (pino, espessura de corte e plano) e análise estatística (α = 5%).<br />

Fator<br />

Pino*<br />

Espessura**<br />

Plano***<br />

Grupos<br />

Fibra de vidro Fibra de carbono Metálico pré-fabricado Ouro Prata<br />

11,13 D 21,20 C 51,54 B 72,85 A 79,98 A<br />

0,2mm 0,6mm 1mm 3mm 5mm<br />

50,44 A 50,44 A 49,41 A 44,20 A 42,22 A<br />

Axial Coronal Sagital<br />

47,69 A 58,38 A 35,95 B<br />

Letras diferentes na horizontal demonstram diferença estatisticamente significativa com p


Estrela C, Bueno MR, Silva JA, Porto OCL, Leles CR, Azevedo BC<br />

Retentores Metálicos Pré-fabricados<br />

Retentores de Liga de Prata<br />

Sagital<br />

Sagital<br />

0,2mm<br />

Axial<br />

0,6mm<br />

1mm<br />

3mm<br />

5mm<br />

0,2mm<br />

Axial<br />

0,6mm<br />

1mm<br />

3mm<br />

5mm<br />

0,2mm<br />

0,6mm<br />

1mm<br />

3mm<br />

5mm<br />

0,2mm<br />

0,6mm<br />

1mm<br />

3mm<br />

5mm<br />

Coronal<br />

Coronal<br />

0,2mm<br />

0,6mm<br />

1mm<br />

3mm<br />

5mm<br />

0,2mm<br />

0,6mm<br />

1mm<br />

3mm<br />

5mm<br />

Figura 4. Imagens da TCFC de dentes com retentores metálicos pré-<br />

-fabricados em diferentes espessuras de corte (0,2mm, 0,6mm, 1mm,<br />

3mm e 5mm) e planos (sagital, axial e coronal).<br />

Figura 5. Imagens da TCFC de dentes com retentores de liga de prata<br />

em diferentes espessuras de corte (0,2mm, 0,6mm, 1mm, 3mm e<br />

5mm) e planos (sagital, axial e coronal).<br />

Sagital<br />

Retentores de Liga de Ouro<br />

Figura 6. Imagens da TCFC de dentes com retentores de liga de ouro<br />

em diferentes espessuras de corte (0,2mm, 0,6mm, 1mm, 3mm e<br />

5mm) e planos (sagital, axial e coronal).<br />

0,2mm<br />

0,6mm<br />

1mm<br />

3mm<br />

5mm<br />

Axial<br />

0,2mm<br />

0,6mm<br />

1mm<br />

3mm<br />

5mm<br />

Coronal<br />

0,2mm<br />

0,6mm<br />

1mm<br />

3mm<br />

5mm<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 33<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):28-36


[ artigo original ] Efeito de retentores intrarradiculares na dimensão das imagens da tomografia computadorizada de feixe cônico<br />

0,2mm 0,6mm 1mm 3mm 5mm<br />

Figura 7. Imagens da TCFC de dentes com retentores de liga de ouro em diferentes espessuras de corte (0,2mm, 0,6mm, 1mm, 3mm e 5mm) no<br />

plano coronal, mostrando artefatos de imagem em alguns cortes.<br />

Discussão<br />

A visualização em três dimensões do dente e estruturas<br />

bucais utilizando imagens de TCFC representa<br />

um importante avanço na Odontologia. No passado,<br />

as estruturas tridimensionais eram sobrepostas em radiografias<br />

periapicais; hoje, elas podem perfeitamente<br />

ser avaliadas por meio de exames de TCFC 2,5,8,9,10,24,29 .<br />

A radiografia periapical representa o método padrão<br />

para avaliar a obturação do canal radicular e retentores<br />

intrarradiculares. Vários estudos discutiram suas limitações<br />

8,9,10 . Ao mesmo tempo, materiais de alta densidade<br />

podem produzir artefatos de imagem, que podem<br />

limitar a interpretação, reduzir a qualidade da imagem,<br />

e induzir a erros de diagnóstico 3,4,7,12,13,14,16-21,26,27,28 .<br />

Poucos estudos avaliaram os artefatos de imagem<br />

associado à retentores intrarradiculares. Nossos<br />

resultados mostraram que os valores dimensionais<br />

medidos em exames tomográficos de retentores de<br />

ouro e de prata são maiores do que as medidas dos<br />

espécimes (Tab. 1, 2). Efeitos de endurecimento do<br />

raio podem ser vistos, dependendo do tipo de retentores<br />

intrarradiculares. Esses resultados têm implicações<br />

clínicas importantes, especialmente quando<br />

os artefatos sobrepõem partes da raiz e simulam ou<br />

mascaram patologias. A interpretação das imagens<br />

da TCFC de dentes reconstruídos com retentores<br />

intrarradiculares deve ser feita com cautela, o que<br />

justifica o uso de radiografias periapicais como uma<br />

referência para o diagnóstico endodôntico. O exame<br />

clínico deve ser sempre utilizado como apoio ao<br />

diagnóstico por imagem.<br />

As ferramentas de medição da TCFC fornecem informações<br />

satisfatórias sobre distâncias lineares dentro<br />

de medidas volumétricas 1,8,9,10,15,23,30 . No entanto, o metal<br />

dos retentores intrarradiculares pode induzir artefatos<br />

na reconstrução da imagem, e pode afetar as mensurações<br />

na TCFC. Nossos resultados não mostraram diferenças<br />

significativas entre liga de ouro e liga de prata<br />

(p>0,05), porém, as diferenças entre os pinos metálicos<br />

pré-fabricados, fibra de vidro e de carbono foram significativas<br />

(p


Estrela C, Bueno MR, Silva JA, Porto OCL, Leles CR, Azevedo BC<br />

estrias, faixas escuras, e estão associados com a absorção<br />

de fótons de baixa energia 4,7,16-21,26,27,28 . Um estudo<br />

recente 3 sugeriu que o uso de maior energia no<br />

feixe durante a aquisição da imagem pode resultar em<br />

menor formação de artefato. Os efeitos do endurecimento<br />

do raio também podem ser reduzidos por meio<br />

da filtração do feixe 22 .<br />

Estudos futuros deverão avaliar as implicações clínicas<br />

de artefatos metálicos e as estratégias para minimizá-los.<br />

Os resultados, considerando-se as limitações<br />

inerentes ao método, demonstraram que as dimensões<br />

nas imagens de TCFC de retentores intrarradiculares<br />

de liga de ouro e liga de prata foram maiores em relação<br />

ao espécime original.<br />

Agradecimentos<br />

Este estudo contou com apoio parcial de concessões<br />

do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e<br />

Tecnológico (CNPq) (concessão CNPq #302875/2008-<br />

5 e concessão CNPq #474642/2009 to C.E.).<br />

Effect of intracanal posts on dimensions of cone beam computed tomography images of<br />

endodontically treated teeth<br />

abstract<br />

Objectives: This study evaluated the effect caused by intracanal<br />

posts (ICP) on the dimensions of cone beam computed tomography<br />

(CBCT) images of endodontically treated teeth. Methods:<br />

Fourty-five human maxillary anterior teeth were divided into 5<br />

groups: Glass-Fibre Post ® , Carbon Fibre Root Canal ® , Pre-fabricated<br />

Post – Metal Screws ® , Silver Alloy Post ® and Gold Alloy Post ® .<br />

The root canals were prepared and filled; after that, the gutta-percha<br />

filling was removed, and the ICP space was prepared. The<br />

post cementation material was resin cement. CBCT scans were<br />

acquired, and the specimens were sectioned in axial, sagittal and<br />

coronal planes. The measures of ICP were obtained using different<br />

3D planes and thicknesses to determine the discrepancy between<br />

the original ICP measurements and the CBCT scan measurements.<br />

Results: One-way analysis of variance, Tukey and Kruskall-Wallis<br />

tests were used for statistical analysis. The significance level was<br />

set at α = 5%. CBCT scan ICP measurements were from 7.7%<br />

to 100% different from corresponding actual dimensions. Conclusion:<br />

Gold alloy and silver alloy posts had greater variations<br />

(p>0.05) than glass fiber, carbon fiber and metal posts (p


[ artigo original ] Efeito de retentores intrarradiculares na dimensão das imagens da tomografia computadorizada de feixe cônico<br />

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© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 36<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):28-36


artigo original<br />

Efeito antimicrobiano de diferentes substâncias<br />

químicas associadas ao preparo mecânico e da<br />

medicação intracanal em dentes de cães portadores<br />

de lesões periapicais induzidas<br />

Frederico C. Martinho, DDS, MSc 1<br />

Luciano T. A. Cintra, DDS, MSc, PhD 2<br />

Alexandre A. Zaia, DDS, MSc, PhD 3<br />

Caio C. R. Ferraz, DDS, MSc, PhD 3<br />

José F. A. Almeida, DDS, MSc, PhD 4<br />

Brenda P. F. A. Gomes, DDS, MSc, PhD 3<br />

Resumo<br />

Objetivo: avaliar o efeito antimicrobiano de diferentes<br />

substâncias químicas auxiliares durante o preparo mecânico<br />

de canais radiculares e de uma medicação intracanal.<br />

Métodos: foram utilizadas 55 raízes de dentes de cães<br />

portadores de lesões periapicais, divididas em cinco grupos<br />

experimentais de acordo com a substância química empregada<br />

durante o preparo mecânico: GI – solução salina; GII<br />

– natrosol gel; GIII – NaOCl 2,5%; GIV – CHX 2% gel; GV<br />

– CHX 2% solução. Foram realizadas coletas microbiológicas<br />

antes (s1) e após (s2) o preparo químico-mecânico e<br />

após o emprego de uma medicação à base de hidróxido de<br />

cálcio por 14 dias (s3). Após cada coleta, as amostras foram<br />

processadas e realizadas as contagens das unidades formadoras<br />

de colônias (UFC). Resultados: em s1, a contagem<br />

de UFCs variou de 5,5 x10 5 a 1,5 x 10 6 . Esses valores diminuíram<br />

significativamente (p0,05).<br />

Conclusões: dentre as substâncias testadas, NaOCl 2,5%<br />

e CHX gel 2% demonstraram maior potencial antimicrobiano<br />

contra patógenos endodônticos in vivo.<br />

Palavras-chave: Hipoclorito de sódio. Clorexidina. Hidróxido<br />

de cálcio. Infecção endodôntica.<br />

Martinho FC, Cintra LTA, Zaia AA, Ferraz CCR, Almeida JFA, Gomes, BPFA. Efficacy of chemo-mechanical preparation with different substances and the use of a root<br />

canal medication in dog’s teeth with induced periapical lesion. <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):37-45.<br />

1<br />

Pós-graduando- Departamento de Odontologia Restauradora, Área de Endodontia, Faculdade<br />

de Odontologia de Piracicaba – Universidade Estadual de Campinas –UNICAMP, Piracicaba,<br />

SP, Brasil.<br />

2<br />

Professor Assistente, Departamento de Odontologia Restauradora, Área de Endodontia,<br />

Faculdade de Odontologia de Araçatuba, Universidade Estadual Paulista –UNESP, Araçatuba,<br />

SP, Brasil.<br />

3<br />

Professor Associado, Departamento de Odontologia Restauradora, Área de Endodontia,<br />

Faculdade de Odontologia de Piracicaba – Universidade Estadual de Campinas –UNICAMP,<br />

Piracicaba, SP, Brasil.<br />

4<br />

Professor Assistente, Departamento de Odontologia Restauradora, Área de Endodontia,<br />

Faculdade de Odontologia de Piracicaba – Universidade Estadual de Campinas –UNICAMP,<br />

Piracicaba, SP, Brasil.<br />

Recebido: janeiro de 2011 / Aceito: fevereiro 2011.<br />

Endereço para correspondência: Brenda P. F. A. Gomes<br />

Área de Endodontia – Faculdade de Odontologia de Piracicaba, UNICAMP<br />

Avenida Limeira, 901 – Piracicaba, São Paulo, Brasil – CEP: 13.414-018<br />

E-mail: bpgomes@fop.unicamp.br<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 37<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):37-45


[ artigo original ] Efeito antimicrobiano de diferentes substâncias químicas associadas ao preparo mecânico e da medicação intracanal em dentes de cães portadores de lesões periapicais induzidas<br />

Introdução<br />

A periodontite apical é uma doença infecciosa causada<br />

por microrganismos que colonizam o sistema de<br />

canais radiculares 1 . O sucesso do tratamento endodôntico<br />

depende da eliminação ou da redução significativa<br />

da população bacteriana presente no sistema<br />

de canais radiculares para que o processo de reparo<br />

periapical possa se estabelecer 2 . A atividade antimicrobiana<br />

oriunda dos procedimentos endodônticos<br />

pode ser avaliada por meio de cultura 3,4,5,6,7 e de técnicas<br />

moleculares 8,9 .<br />

O preparo do canal radicular consiste de uma fase<br />

mecânica e uma fase química. Isso porque, devido à<br />

complexidade anatômica do sistema de canais radiculares<br />

3,4,10 e a ação restrita de instrumentos dentro do canal<br />

radicular principal, a fase mecânica não elimina as<br />

bactérias de todo o sistema de canais radiculares 3,11,12 ,<br />

requerendo um fase química proporcionada pelo uso de<br />

potentes agentes antimicrobianos, a fim de agir profundamente<br />

nos túbulos dentinários 3,4 .<br />

Várias substâncias químicas auxiliares foram propostas<br />

ao longo dos anos para o preparo químico-mecânico,<br />

mas o hipoclorito de sódio (NaOCl) continua<br />

sendo a mais amplamente utilizada. Recentemente, a<br />

clorexidina (CHX) tem sido testada como uma substância<br />

alternativa ao NaOCl 5,9,13,14 . Comparações frente à<br />

atividade antimicrobiana das duas substâncias químicas<br />

auxiliares foram feitas in vitro 13,14,16-19 sobre microrganismos<br />

selecionados. Entretanto, modelos in vitro não<br />

reproduzem o quadro real de uma infecção polimicrobiana,<br />

como a existente nos canais radiculares. Estudos<br />

in vivo apresentaram resultados inconsistentes quando<br />

compararam NaOCl e CHX, com o hipoclorito de sódio<br />

sendo mais efetivo 9,20 ou sem diferença significativa<br />

existente entre eles 14,15 .<br />

Apesar do efeito das substâncias químicas auxiliares,<br />

uma medicação intracanal à base de hidróxido de cálcio<br />

(Ca (OH) 2<br />

) tem sido recomendada com o propósito<br />

de se potencializar ainda mais o processo de desinfecção,<br />

atuando em regiões estratégicas onde as bactérias<br />

possam estar presentes 4,10,21,22,23 . Essa medicação é indicada<br />

principalmente em casos de ápice aberto, sintomatologia<br />

periapical e exsudato persistente. Em alguns<br />

estudos 4,11,12,24 pode-se observar uma maior redução da<br />

quantidade bacteriana após a colocação de Ca(OH) 2<br />

,<br />

já em outros 10,21,22 , ficou demonstrado um aumento de<br />

unidades formadoras de colônias (UFCs).<br />

Desta forma, fica evidente a necessidade de maiores<br />

estudos relativos ao tema, a fim de prestar maiores<br />

esclarecimentos à literatura científica 11,21,23,25 . Além disso,<br />

a maioria dos estudos in vivo 7,9,13,23 que investigaram<br />

os efeitos antibacterianos do tratamento endodôntico<br />

forneceram apenas dados quantitativos, não caracterizando<br />

o tipo de microbiota envolvida, que é fundamental<br />

para o estabelecimento de estratégias terapêuticas.<br />

Assim, o presente estudo foi conduzido para avaliar o<br />

efeito da ação da instrumentação endodôntica, do emprego<br />

de soluções químicas irrigadoras e do uso do hidróxido<br />

de cálcio sobre a microbiota presente em dentes<br />

de cães com necrose pulpar e lesão periapical.<br />

Material e métodos<br />

Seleção dos canais radiculares<br />

Foram empregadas 55 raízes de dentes de cães com<br />

lesões periapicais induzidas contendo um único canal<br />

principal. Dentes menores que 12mm e com rizogênese<br />

incompleta foram descartados.<br />

Fase de indução das lesões periapicais<br />

Todas as etapas operatórias e de coletas microbiológicas<br />

foram feitas com o uso de um microscópio clínico<br />

operatório (DF Vasconcelos, Modelo M 900, São<br />

Paulo, SP).<br />

Os animais foram anestesiados com uma injeção<br />

intravenosa de Xilazina (Rompum, Bayer S. A. Saúde<br />

Animal, São Paulo, SP - 1mg/Kg de peso corporal) e<br />

Ketamina (Francotar, Virbac do Brasil Ind. e Com. Ltda,<br />

São Paulo, SP - 15mg/Kg de peso corporal). Após anestesia,<br />

foi realizado acesso coronário com broca esférica<br />

diamantada em alta rotação sob refrigeração, as polpas<br />

dentárias foram extirpadas e limas tipo K #20 estéreis<br />

foram empregadas para arrombar o platô apical<br />

e padronizar o diâmetro do forame apical principal. Em<br />

seguida, os canais radiculares permaneceram abertos<br />

e expostos ao meio bucal por 6 meses, para permitir<br />

a contaminação microbiana. Os procedimentos experimentais<br />

foram previamente submetidos e aprovados<br />

pelo Comitê de Ética da Faculdade de Odontologia de<br />

Piracicaba – UNICAMP.<br />

Fase de tratamento e divisão em grupos<br />

Decorrido o período de indução das lesões, tomadas<br />

radiográficas foram realizadas para se confirmar sua presença<br />

e dar continuidade ao estudo. Os animais foram<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 38<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):37-45


Martinho FC, Cintra LTA, Zaia AA, Ferraz CCR, Almeida JFA, Gomes BPFA<br />

novamente anestesiados, os dentes em estudo foram<br />

isolados com lençol de borracha e o campo de trabalho<br />

foi desinfectado com peróxido de hidrogênio (H 2<br />

O 2<br />

) a 30<br />

vol. por 30 segundos, seguido do uso do NaOCl 2,5% por<br />

mais 30 segundos. As soluções desinfetantes foram neutralizadas<br />

com tiossulfato de sódio a 5% a fim de se evitar<br />

interferência dessas com a coleta microbiológica 9 . Em<br />

seguida, foram coletas amostras microbiológicas com cones<br />

de papel absorventes para confirmação da condição<br />

estéril do campo de trabalho (amostras controle).<br />

Após esses procedimentos iniciais, foi realizada a cavidade<br />

de acesso com brocas diamantadas estéreis em<br />

alta rotação e sob irrigação com solução salina estéril.<br />

Antes de adentrar a câmara pulpar, a cavidade de acesso<br />

foi desinfetada pelo mesmo protocolo descrito acima<br />

e novas amostras controle foram coletadas a partir<br />

da superfície da cavidade e semeadas em placas de<br />

ágar sangue. Como critérios de inclusão, as amostras<br />

controle deviam ser negativas. Todos os procedimentos<br />

subsequentes foram realizados assepticamente. A<br />

câmara pulpar foi acessada com brocas e irrigada com<br />

solução salina estéril, que foi aspirada com cânula aspiradora.<br />

Foram realizadas 3 coletas em momentos diferentes<br />

do tratamento. A primeira delas (s1) foi obtida<br />

da seguinte forma: cinco pontas de papel estéreis foram<br />

colocadas no interior do conduto radicular, atingindo<br />

o comprimento de trabalho previamente determinado<br />

pela radiografia pré-operatória, permanecendo em posição<br />

por 1 minuto cada e, em seguida, levadas para um<br />

tubo tipo Eppendorf estéril contendo 1ml de Viability<br />

Medium Göteborg Agar (VMGA III). Em seguida, esses<br />

tubos contendo as amostras iniciais (s1) foram levados<br />

ao laboratório para o seu processamento.<br />

Após a coleta s1, os dentes foram divididos aleatoriamente<br />

de acordo com as substâncias químicas empregadas<br />

durante o preparo de canais, conforme segue:<br />

I) solução salina (SSL) (n = 11); II) natrosol gel (n = 11);<br />

III) NaOCl 2,5% (n = 11); IV) CHX gel 2% (Endogel, Itapetininga,<br />

SP, Brasil) (n = 11) e V) solução de CHX 2% (n<br />

= 11). Inicialmente, a câmara pulpar dos dentes de cada<br />

grupo foi cuidadosamente irrigada com a substância química<br />

auxiliar correspondente, os canais foram irrigados<br />

e explorados com uma lima tipo K #10 (Dentsply Maillefer,<br />

Ballaigues, Suíça). Em seguida, foram preparados<br />

os 2/3 cervicais dos canais com instrumentos rotatórios<br />

GT ® Rotary #20 de conicidade 0,06 a 350rpm (Dentsply<br />

Maillefer, Ballaigues, Suíça). Na sequência, uma lima<br />

tipo K #15 foi levada até o platô apical e, por meio de<br />

um localizador apical (Novapex, Fórum Technologies,<br />

Rishon Le-Zion, Israel), determinou-se o comprimento<br />

real de trabalho (comprimento do dente menos 1mm). O<br />

preparo apical foi realizado utilizando-se limas tipo K sequencialmente<br />

até o instrumento de número 40, seguido<br />

por uma instrumentação “step-back”, que terminou após<br />

o uso de três instrumentos maiores (45, 50 e 55) do que<br />

o último utilizado no preparo apical. O tempo de trabalho<br />

gasto com o preparo químico-mecânico foi em torno<br />

de 20 minutos para cada canal radicular.<br />

Nos grupos em que se empregou uma substância na<br />

forma gel, foi utilizada alternadamente a solução salina,<br />

para remoção da mesma. Na sequência, os canais eram<br />

novamente preenchidos pelo gel antes do emprego de<br />

cada instrumento.<br />

Os volumes foram padronizados em 5ml para cada<br />

substância, previamente a todos os instrumentos empregados.<br />

Nos grupos onde foram usadas substâncias<br />

à base de gel, foi empregado 1ml da mesma para preenchimento<br />

do canal e 4ml de solução salina para<br />

remoção.<br />

Após o término do preparo, tanto o hipoclorito de<br />

sódio como a clorexidina foram inativados. Para o grupo<br />

do hipoclorito de sódio, foi empregada a solução de<br />

tiosulfato de sódio a 5% por um período de 1min para<br />

inativação do mesmo. Para inativação da clorexidina, foram<br />

empregadas as soluções Tween 80 e 0,07% (w/v)<br />

de lecitina de soja. Em seguida, uma nova coleta foi<br />

realizada (s2) da mesma forma que a anterior.<br />

Após a segunda coleta (s2), os canais foram totalmente<br />

secos com cones de papel estéreis e os dentes<br />

receberam uma medicação intracanal composta de hidróxido<br />

de cálcio (Merck, Darmstad, Alemanha) e solução<br />

salina estéril inserida com auxílio de uma espiral<br />

lentulo. Em seguida, tomadas radiográficas foram realizadas<br />

para verificar o completo preenchimento dos canais.<br />

Ao final, as cavidades de acesso foram restauradas<br />

com cimento temporário Cavit (3M <strong>Dental</strong> Products,<br />

St. Paul, MN, EUA) e resina Filtek Z250 (3M <strong>Dental</strong><br />

Products), a fim de evitar a microinfiltração coronária.<br />

Após 14 dias, os dentes foram acessados novamente de<br />

forma asséptica e a pasta de hidróxido de cálcio removida<br />

empregando-se a lima de referência (#40) e irrigação<br />

abundante com solução salina. Após a remoção da<br />

medicação, confirmada pelo microscópio clínico, uma<br />

nova coleta microbiológica foi realizada (s3).<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 39<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):37-45


[ artigo original ] Efeito antimicrobiano de diferentes substâncias químicas associadas ao preparo mecânico e da medicação intracanal em dentes de cães portadores de lesões periapicais induzidas<br />

Processamento laboratorial<br />

Os tubos tipo Eppendorf contendo as amostras foram<br />

imediatamente transferidos ao Laboratório de<br />

Microbiologia Endodôntica para o processamento microbiológico.<br />

No interior da câmara de anaerobiose<br />

(Don Whitley Scientific, Bradford, UK), os tubos foram<br />

agitados utilizando o vortex (MA 162, Marconi, São<br />

Paulo, SP) por 60 segundos para facilitar a dispersão<br />

dos microrganismos. Em seguida, foram realizadas diluições<br />

seriadas a 1/10, 1/100, 1/1.000 e 1/10.000, utilizando<br />

Fastidious Anaerobe Broth (FAB, Lab M, Bury,<br />

UK). Foram inoculados 50µL da amostra armazenada<br />

em VMGA III, sem diluição e das diluições 1/100 e<br />

1/10.000 em placas pré-reduzidas contendo Fastidious<br />

Anaerobe Ágar (FAA, Lab M, Bury, UK) + 5% de sangue<br />

de carneiro desfibrinado + 600μL de Menadiona 1mg/l<br />

(Vitamin K3; 2-Methyl-1,4-naphthoquinone – SIGMA<br />

M5625) + 600μl de Hemina 1mg/l (Hemin Bovine Minimum<br />

80% – SIGMA H5533) as quais foram incubadas<br />

na câmara de anaerobiose a 37ºC, numa atmosfera de<br />

10% H 2<br />

, 10% CO 2<br />

e 80% N 2<br />

até 14 dias, para permitir<br />

a detecção de microrganismos anaeróbios estritos de<br />

crescimento lento.<br />

Foram também inoculados 50μl da amostra original<br />

em uma placa de Brain Heart Infusion (BHI, Oxoid, Basingstoke,<br />

UK) + 5% de sangue de carneiro desfibrinado,<br />

a qual foi incubada aerobicamente em estufa a 37°C por<br />

2 dias, para permitir o crescimento de microrganismos<br />

aeróbios ou facultativos.<br />

Após a incubação, o valor total de UFC foi contado<br />

utilizando-se uma lupa com ampliação de 16x (Zeiss,<br />

Oberkoren, Alemanha).<br />

Caracterização microbiológica<br />

A caracterização preliminar das espécies microbianas<br />

foi baseada nas características das colônias (ou seja,<br />

tamanho, cor, forma, altura, borda, superfície, textura,<br />

consistência, brilho e hemólise) visualizadas sob lupa<br />

estereoscópica (Lambda Let 2, instruments Co., Hong<br />

Kong). As bactérias isoladas foram purificadas através<br />

de subcultura. A coloração de Gram e os requerimentos<br />

gasosos foram estabelecidos após verificação do crescimento<br />

microbiano em aerobiose e anaerobiose.<br />

Baseados nas características de colônias microbianas,<br />

na coloração de Gram e nos requerimentos gasosos,<br />

foi possível determinar o perfil da microbiota dos<br />

canais radiculares em momentos diferentes (s1, s2, s3).<br />

Forma de análise dos resultados<br />

Foram realizadas comparações estatísticas de<br />

todos os grupos (I a V) nos mesmos momentos de<br />

amostragem (s1, s2, s3) e entre s1, s2 e s3 em cada<br />

% Redução bacteriana<br />

100%<br />

99,5%<br />

d<br />

d<br />

c c c c c<br />

d<br />

s2<br />

s3<br />

99%<br />

98,5%<br />

98%<br />

97,5%<br />

97%<br />

96,5%<br />

96%<br />

95,5%<br />

a*<br />

b<br />

95%<br />

Solução Salina Gel Natrosol 2,5% NaOCI CHX-gel 2% CHX-solução 2%<br />

Figura 1. Valores percentuais médios de redução bacteriana (UFC) das amostras do canal radicular obtida após instrumentação (s2) e após a medicação<br />

(s3). *Letras diferentes representam diferenças do ponto de vista estatístico (P


Martinho FC, Cintra LTA, Zaia AA, Ferraz CCR, Almeida JFA, Gomes BPFA<br />

grupo, utilizando o teste Kruskall-Wallis para dados<br />

não-paramétricos. Quando foram encontradas diferenças<br />

significativas no teste de Kruskall-Wallis,<br />

realizou-se com o teste de Mann-Whitney as comparações<br />

a cada dois grupos, para demonstrar onde as<br />

diferenças foram localizadas. O nível de significância<br />

considerado foi de 5% (P


[ artigo original ] Efeito antimicrobiano de diferentes substâncias químicas associadas ao preparo mecânico e da medicação intracanal em dentes de cães portadores de lesões periapicais induzidas<br />

Em s1, não houve diferença estatisticamente significativa<br />

entre a quantidade de UFCs presente nos<br />

diferentes grupos: GI) 9,3 x 10 5 ; GII) 5,5 x 10 5 ; GIII)<br />

6,7 x 10 5 , GIV) 6,4 x 10 5 e GV) 1,5 x 10 6 (todos p>0,05)<br />

(Tab. 1). Esses valores diminuíram significativamente<br />

com a instrumentação químico-mecânica do canal<br />

radicular (s2): GI) 1,6 x 10 4 , GII) 1,4 x 10 4 , GIII) 7,6 x<br />

10 2 , GIV) 3,2 x 10 2 e GV) 2,6 x 10 3 (Tab. 1). A análise<br />

comparativa entre todos os valores médios de UFC<br />

nos diferentes grupos obtida em s2 demonstrou diferenças<br />

do ponto de vista estatístico entre todos os<br />

grupos (p0,05) (Tab. 1), sendo que em ambas<br />

as substâncias a carga bacteriana foi reduzida a<br />

quase 100% (Fig. 1).<br />

Após a aplicação de Ca(OH) 2<br />

durante duas semanas,<br />

foi realizada a terceira coleta (s3). Os valores<br />

médios de UFC em s3 foram menores do que aqueles<br />

no final da primeira visita (s2): GI) 6,7 x 10 3 , GII) 5,3<br />

x 10 3 , GIII) 1,4 x 10 2 , GIV) 1,8 x 10 2 e GV) 1,2 x 10 3<br />

(Tab. 1). Após análise comparativa entre os grupos<br />

em s2 e s3, observaram-se apenas diferenças estatisticamente<br />

significativas entre os Grupos I (SSL),<br />

II (natrosol-gel) e V (CHX-solução) (p0,05) (Tab. 1). Os valores percentuais médios<br />

de redução da carga bacteriana após instrumentação<br />

do canal radicular (s2) e medicação intracanal (s3)<br />

apresentam-se expostos na Figura 1.<br />

Em s1 observou-se microbiota mista composta<br />

predominantemente por bactérias anaeróbias estritas<br />

(Tab. 2). Em s1, houve predominância de cocos<br />

gram-positivos em todos os grupos (GI, GII, GIII,<br />

GIV e GV).<br />

Após o preparo químico-mecânico (s2), uma alta<br />

frequência de cocos gram-positivos e bastonetes<br />

gram-negativos foi encontrada.<br />

Em s3, independentemente da substância química<br />

auxiliar aplicada durante o preparo químico-mecânico,<br />

houve predominância de cocos gram-positivos<br />

em todas as amostras do canal radicular (Tab. 2).<br />

O perfil da microbiota nos diferentes tempos de<br />

amostragem (s1, s2 e s3), de acordo com os grupos<br />

testados (GI, GII, GIII, GIV e GV), está apresentado<br />

na Tabela 2.<br />

Discussão<br />

No presente estudo optou-se pelo procedimento<br />

de cultura, em vez de técnicas contemporâneas (métodos<br />

moleculares) 8,9 para avaliar a efetividade antimicrobiana<br />

durante os procedimentos endodônticos,<br />

devido à sua capacidade de detectar bactérias viáveis.<br />

Além disso, ao longo dos anos 22,25,26 procurou-se<br />

estabelecer uma correlação entre as bactérias viáveis<br />

e o sucesso do tratamento endodôntico. A maior<br />

parte da quantidade de bactérias (mais de 97%) foi<br />

removida apenas pela instrumentação mecânica e<br />

uso de solução irrigante (solução salina). Entretanto,<br />

foram observadas as maiores médias de redução<br />

(quase 100%) quando se empregou NaOCl a 2,5% ou<br />

CHX 2% gel, demonstrando a sua potente atividade<br />

antimicrobiana contra microrganismos envolvidos<br />

nas infecções primárias do canal radicular.<br />

A carga bacteriana em canais radiculares infectados<br />

foi reduzida de 10 5 a 10 2 UFC/ml após o preparo<br />

químico-mecânico usando tanto com NaOCl 2,5%<br />

quanto com CHX gel 2%. Resultados semelhantes<br />

foram observados por Vianna et al. 9 , que detectaram<br />

reduções de 10 5 a 10 1 UFC/ml no grupo do NaOCl<br />

a 2,5%; e de 10 5 a 10 2 UFC/ml no grupo da CHX gel<br />

2%. De forma semelhante, Siqueira et al. 15 relataram<br />

reduções 10 5 a 10 3 UFC/ml no grupo NaOCl 2,5% e<br />

10 5 a 10 2 UFC/ml no grupo de CHX a 0,12%.<br />

Quanto à atividade antimicrobiana, o presente<br />

estudo não encontrou nenhuma diferença significativa<br />

entre NaOCl e CHX gel como substância química<br />

auxiliar, o que está de acordo com trabalhos in<br />

vivo 14,15 e in vitro 13,16,19 . Em contraste, Vianna et al. 9<br />

compararam a eficácia antibacteriana in vivo dessas<br />

duas substâncias através da técnica molecular<br />

(RTQ-PCR), observando que o hipoclorito de sódio<br />

a 2,5% foi mais eficaz do que a clorexidina gel a 2%.<br />

No entanto, o significado clínico na redução de DNA<br />

bacteriano de canais radiculares infectados após os<br />

procedimentos de preparo químico-mecânico permanece<br />

incerto, uma vez que as células mortas detectadas<br />

por DNA não podem implicar no insucesso<br />

do tratamento endodôntico.<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 42<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):37-45


Martinho FC, Cintra LTA, Zaia AA, Ferraz CCR, Almeida JFA, Gomes BPFA<br />

Parece razoável supor que o NaOCl 2,5% e a CHX<br />

gel 2% têm uma potente atividade antimicrobiana na<br />

prática clínica, e a escolha entre eles deve considerar<br />

suas propriedades particulares e individuais. A<br />

clorexidina gel possui uma atividade antimicrobiana<br />

residual que ajuda a prevenir a reinfecção do canal<br />

radicular 27,28 . Além disso, sua biocompatibilidade faz<br />

com com que seja a melhor escolha para dentes com<br />

ápices abertos 13 e para os pacientes que são alérgicos<br />

às soluções de hipoclorito de sódio 27 . Por outro<br />

lado, não possui a capacidade de dissolver os tecidos<br />

orgânicos, o que é uma importante vantagem do hipoclorito<br />

de sódio 29 .<br />

A atividade antimicrobiana da medicação de<br />

Ca(OH) 2<br />

por 14 dias foi notável em dentes irrigados<br />

com uma substância inerte (SSL e natrosol). A redução<br />

bacteriana foi significativamente maior após<br />

a instrumentação, de 1,6 x 10 4 a 6,7 x 10 3 UFC/ml<br />

no grupo com SSL e 1,4 x 10 4 a 5,3 x 10 3 UFC/ml<br />

no grupo natrosol. No entanto, a eficácia do preparo<br />

químico-mecânico foi semelhante, mas não estatisticamente<br />

significativa, nos dentes irrigados com<br />

substância química auxiliar, ou seja, reduziu-se de<br />

7,6 x 10 2 a 1,4 x 10 2 UFC/ml no grupo do NaOCl a<br />

2,5%; e de 3,2 x 10 2 a 1,8 x 10 2 UFC/ml no grupo da<br />

CHX gel 2%.<br />

Apesar de diferentes períodos de aplicação de<br />

Ca(OH) 2<br />

terem sidos encontrados na literatura 4,6,23,25 ,<br />

a maioria dos resultados sobre a redução média da<br />

quantidade bacteriana é semelhante aos do presente<br />

estudo em 14 dias, especialmente em dentes irrigados<br />

com NaOCl 2,5% e CHX gel 2%. Assim, o intervalo<br />

de valores dos percentuais de redução da carga<br />

bacteriana, que ocorre após a colocação de uma<br />

medicação de Ca(OH) 2<br />

, é de 97,42% para 99,90%,<br />

corroborando com outros relatos (91,0 a 99,9%) 3,11,12 .<br />

Após a colocação da medicação de Ca(OH) 2<br />

por<br />

14 dias, o número de canais radiculares com cultura<br />

negativa aumentou, enquanto em 4 amostras houve<br />

aumento no número de UFCs em comparação com<br />

os valores de s2.<br />

Alguns estudos 21,22,23,30 têm demonstrado valores<br />

elevados nas contagens de bactérias após o uso do<br />

Ca(OH) 2<br />

como medicação intracanal. Essa ocorrência<br />

pode ser explicada pela presença de bactérias<br />

remanescentes nos túbulos dentinários, que poderia<br />

ficar livre da ação direta de Ca(OH) 2<br />

10<br />

, além do efeito<br />

tampão da dentina, fatores que prejudicariam a ação<br />

do Ca(OH) 2<br />

e ocasionariam a reinfecção no espaço<br />

do canal principal.<br />

É razoável supor que a medicação de Ca(OH) 2<br />

tem pouca habilidade para promover a redução significativa<br />

da carga bacteriana na prática clínica, principalmente<br />

em dentes irrigados com NaOCl a 2,5%<br />

ou CHX gel 2%, e para ajudar a eliminar as bactérias,<br />

na maioria dos canais radiculares infectados, principalmente<br />

no canal principal. Entretanto, sua aplicação<br />

clínica não deve ser apenas com base na sua atividade<br />

antimicrobiana, mas também em suas outras<br />

propriedades, como a capacidade de alterar o pH da<br />

dentina e cemento, a capacidade de despolimerizar<br />

LPS de bactérias gram-negativas e sua ação higroscópica<br />

para eliminar exsudatos.<br />

Vale ressaltar que a eficácia dos procedimentos<br />

endodônticos não é devida apenas às propriedades<br />

antimicrobianas das substâncias químicas, mas também<br />

à suscetibilidade da microbiota presente nos<br />

canais radiculares envolvidos. Portanto, o conhecimento<br />

dessa e da sua suscetibilidade, associado a<br />

uma terapia endodôntica efetiva, é importante para<br />

alcançar a desinfecção dos canais radiculares.<br />

Independentemente da substância química auxiliar<br />

aplicada (inerte ou não) durante a instrumentação,<br />

a predominância de cocos gram-positivos e<br />

bastonetes gram-negativos foi encontrada em canais<br />

radiculares, sugerindo um potencial não-seletivo<br />

exercido pelas substâncias químicas testadas<br />

(NaOCl ou CHX). Em contrapartida, após o uso do<br />

Ca(OH) 2<br />

, a predominância de cocos gram-positivos<br />

foi observada em todas as amostras positivas do canal<br />

radicular. Esses achados devem ser considerados<br />

na prática clínica, pois os cocos gram-positivos,<br />

particularmente E. faecalis, estão frequentemente<br />

presentes em infecções persistentes do canal radicular<br />

devido ao seu alto nível de resistência ao hidróxido<br />

de cálcio.<br />

Conclusão<br />

Considerando a metodologia empregada, pode-<br />

-se concluir que, independentemente da utilização<br />

do hidróxido de cálcio como medicação intracanal, o<br />

hipoclorito de sódio a 2,5% e a clorexidina gel a 2%<br />

demonstraram uma potente atividade antimicrobiana<br />

contra patógenos endodônticos in vivo.<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 43<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):37-45


[ artigo original ] Efeito antimicrobiano de diferentes substâncias químicas associadas ao preparo mecânico e da medicação intracanal em dentes de cães portadores de lesões periapicais induzidas<br />

Agradecimentos<br />

Agradecemos a Fernanda Barrichello Tosello, Thais<br />

Mageste Duque e Geovania Caldas Almeida pela contribuição<br />

no estudo. Este trabalho foi financiado pelas<br />

agências brasileiras FAPESP (07/58518-4, 08/58299-<br />

3, 08/57551-0, 08/57954-8, 10/51113-1) e CNPq<br />

(3470820/2006-3; 471631/2008-6; 302575/2009-0).<br />

Abstract<br />

Objective: To evaluate the effect of instrumentation, irrigation<br />

with different substances and the use of calcium hydroxide<br />

on bacterial load and microbiota profile in dog’s teeth<br />

with pulp necrosis and periapical lesion. Methods: Fifty five<br />

root canals were divided into groups: I) Saline (SSL) (n=11);<br />

II) natrosol gel (n=11); III) 2.5% NaOCl (n=11); IV) 2%<br />

CHX-gel (n= 11); V) 2% CHX-solution (n=11). Endodontic<br />

samples were cultured, microorganisms counted and the microbiota<br />

analyzed at different sampling times, s1, s2 and s3.<br />

Results: At s1, the mean CFU counts ranged from 5.5 x10 5 to<br />

1.5 x 10 6 . These values dropped significantly at s2 (p


Martinho FC, Cintra LTA, Zaia AA, Ferraz CCR, Almeida JFA, Gomes BPFA<br />

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Endod 1981;7(10):466-9.<br />

30. Ørstavik D. Radiographic evaluation of apical periodontitis and<br />

endodontic treatment results: a computer approach. Int Dent J.<br />

1991;41(2):89-98.<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 45<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):37-45


artigo original<br />

Determinação in vitro do efeito antimicrobiano<br />

direto do hidróxido de cálcio associado a diferentes<br />

substâncias frente a cepas de Enterococcus faecalis<br />

Paulo Henrique Weckwerth, DDS, MS, PhD 1<br />

Natália Bernecoli Siquinelli, PharmD 2<br />

Ana Carolina Villas Bôas Weckwerth, DDS 3<br />

Rodrigo Ricci Vivan, DDS, MS 4<br />

Marco Antonio Hungaro Duarte, DDS, MS, PhD 5<br />

Resumo<br />

Objetivo: determinar o efeito antimicrobiano em contato<br />

direto de Casearia sylvestris Swart (guaçatonga), propilenoglicol,<br />

e da clorexidina associada ao hidróxido de cálcio<br />

contra 40 cepas de Enterococcus faecalis isoladas da cavidade<br />

bucal. Métodos: após a ativação, as cepas bacterianas<br />

foram suspensas em solução salina estéril até a escala 1,0<br />

de MacFarland. A suspensão foi colocada em contato direto<br />

com hidróxido de cálcio [Ca(OH) 2<br />

] + propilenoglicol<br />

puro, Ca(OH) 2<br />

+ clorexidina a 1% em propilenoglicol, e<br />

Ca(OH) 2<br />

+ extrato de guaçatonga em propilenoglicol, cobrindo<br />

pontas de papel, previamente contaminadas com a<br />

solução por 3 minutos, com as diferentes pastas. A atividade<br />

antimicrobiana foi avaliada em 6, 24, 48, 72 horas, e<br />

aos 7 dias. Após o período de incubação, os cones foram<br />

retirados das pastas e incubados em caldo Letheen a 37ºC<br />

por 48 horas. Em seguida, 0,1ml do caldo Letheen foi transferido<br />

para tubos contendo infusão de cérebro e coração<br />

(BHI) e incubados em caldo novamente a 37ºC por 48 horas.<br />

A turbidez foi observada no meio. Depois disso, placas<br />

de ágar M-Enterococcus foram semeadas com caldo BHI<br />

de cada tubo e o crescimento colonial foi avaliado. Resultados:<br />

todas as cepas bacterianas foram inibidas por todas<br />

as pastas, nos períodos avaliados. Conclusões: concluiu-<br />

-se que a adição dessas substâncias ao hidróxido de cálcio<br />

não interferiu no seu efeito antimicrobiano direto.<br />

Palavras-chave: Microbiologia. Enterococcus faecalis. Hidróxido<br />

de cálcio. Produtos com ação antimicrobiana.<br />

Weckwerth PH, Siquinelli NB, Weckwerth ACVB, Vivan RR, Duarte MAH. In vitro determination of direct antimicrobial effect of calcium hydroxide associated with different<br />

substances against Enterococcus faecalis strains. <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):46-51.<br />

1<br />

Professor de Microbiologia da Universidade Sagrado Coração de Bauru - SP.<br />

2<br />

Graduação em Farmácia pela Universidade Sagrado Coração de Bauru - SP.<br />

Recebido: janeiro de 2011 / Aceito: fevereiro de 2011.<br />

3<br />

Microbiologista no Instituto Lauro de Souza Lima em Bauru - SP.<br />

4<br />

Professor de Endodontia na Universidade Sagrado Coração de Bauru - SP.<br />

5<br />

Professor de Endodontia na Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São<br />

Paulo - Bauru - SP.<br />

Endereço para correspondência: Marco Antonio Hungaro Duarte<br />

Rua Anna Pietro Forte, 3-18 (lote A12), Residencial Villagio 1 - CEP: 17.018-820<br />

Bauru/SP, Brasil - E-mail: mhungaro@fob.usp.br<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 46<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):46-51


Weckwerth PH, Siquinelli NB, Weckwerth ACVB, Vivan RR, Duarte MAH<br />

Introdução<br />

O gênero Enterococcus inclui membros anteriormente<br />

classificados como estreptococos do grupo D, devido<br />

à presença do antígeno da parede celular do Grupo<br />

D, um ácido teicoico glicerol associado à membrana<br />

citoplasmática. Os enterococos são habitantes normais<br />

do trato gastrintestinal e são encontrados em menor<br />

quantidade na vagina e na uretra masculina 1 .<br />

Esses tornaram-se importantes microrganismos patogênicos<br />

em humanos, principalmente devido à sua<br />

resistência aos agentes antimicrobianos e dos fatores<br />

de virulência estudados recentemente 2 .<br />

Esses cocos gram-positivos são dispostos em pares<br />

ou em pequenas cadeias, e são muito difíceis de se<br />

diferenciar de estreptococos. São anaeróbios facultativos<br />

que prosperam a 35ºC, geralmente crescem na<br />

superfície de placas de ágar sangue como colônias<br />

gama-hemolítico, e M-Enterococcus ágar como colônias<br />

vermelho escuro ou púrpura. Os enterococos são<br />

tolerantes à bile em 40% e podem hidrolisar esculina.<br />

Além disso, eles são capazes de crescer na presença<br />

de cloreto de sódio 6,5%, e podem ser distinguidos de<br />

bactérias no gênero Staphylococcus por sua incapacidade<br />

de produzir catalase 3 .<br />

Enterococcus faecalis são frequentemente encontrados<br />

em canais radiculares após falha no tratamento endodôntico<br />

4,5,6 .<br />

Sendo altamente resistentes a vários medicamentos,<br />

eles também estão entre os poucos microrganismos que<br />

apresentam resistência in vitro à medicação com hidróxido<br />

de cálcio. Essa resistência está relacionada com uma<br />

bomba de próton 7 ou formação de biofilme 8 . Na tentativa<br />

de superar essa resistência, a adição de diferentes substâncias<br />

ao hidróxido de cálcio tem sido proposta.<br />

Um dos aditivos sugeridos é a clorexidina, um bisbiguanídeo.<br />

A pasta de hidróxido de cálcio com clorexidina<br />

mostrou melhor ação antimicrobiana in vitro,<br />

em comparação com a pasta de hidróxido de cálcio<br />

com água 9 . Apesar do seu efeito antimicrobiano positivo,<br />

essa associação mostrou maior liberação de<br />

íons peróxido de hidrogênio, o que pode resultar em<br />

maior irritação 10 .<br />

Novas alternativas têm sido propostas em Endodontia,<br />

incluindo substâncias naturais, como própolis e fitoterápicos.<br />

Um desses agentes fitoterápicos é a infusão<br />

de Casearia sylvestris Sw ou extrato alcoólico.<br />

Essa planta é nativa da América Latina, do México<br />

à Argentina. É encontrada em todo o Brasil, sendo particularmente<br />

comum no estado de São Paulo. É popularmente<br />

conhecida como guaçatonga, erva de lagarto,<br />

vassitonga, bugre branco, entre outros nomes. A palavra<br />

“guaçatonga” originou-se do tupi-guarani (língua indígena),<br />

mostrando que essa espécie era conhecida pelas populações<br />

nativas do Brasil 11 .<br />

O extrato da guaçatonga mostrou ação anti-inflamatoria<br />

13 e antimicrobiana 14 . No entanto, não há estudos<br />

na literatura científica mostrando se a adição de agentes<br />

fitoterápicos com hidróxido de cálcio interfere em<br />

sua ação antimicrobiana.<br />

Diante desse fato, o objetivo do presente estudo foi<br />

avaliar a sensibilidade de várias cepas de Enterococcus<br />

faecalis isoladas da cavidade bucal em contato direto<br />

com pastas de hidróxido de cálcio associada à Casearia<br />

sylvestris Sw (guaçatonga) em propilenoglicol, ao propilenoglicol<br />

puro, ou à clorexidina a 1% em propilenoglicol.<br />

Metodologia<br />

Preparação do extrato<br />

As folhas de Casearia sylvestris Sw utilizadas neste estudo<br />

foram coletadas na fazenda Lageado, da Faculdade<br />

de Ciências Agronômicas - Unesp, em Botucatu, estado<br />

de São Paulo, e identificadas no herbário da Universidade<br />

Sagrado Coração (USC) - Bauru, São Paulo, Brasil.<br />

Após a colheita e secagem, o material foi novamente<br />

desidratado em estufa de ar circulante sob temperatura<br />

controlada, até se obter peso constante. Depois<br />

disso, as folhas foram trituradas em um moinho de<br />

faca e usadas para preparar o extrato. O material desidratado<br />

foi macerado em propilenoglicol (extração<br />

de solução) numa relação de 25 gramas de pó para<br />

200ml de solução de extração. O pó da planta permaneceu<br />

na solução de extração durante oito dias, com<br />

agitação esporádica durante esse período. O produto<br />

da extração foi armazenado em um recipiente de cor<br />

âmbar (para evitar possível interferência de luz) e à<br />

temperatura ambiente (25ºC).<br />

Cepas de Enterococccus<br />

Quarenta cepas microbianas de E. faecalis isoladas a<br />

partir da bacterioteca do laboratório de Microbiologia da<br />

USC foram usadas no presente trabalho. As cepas foram<br />

cultivadas a partir de amostras obtidas da cavidade bucal<br />

de pacientes atendidos na clínica de Endodontia do curso<br />

de Odontologia da USC em Bauru, Brasil.<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 47<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):46-51


[ artigo original ] Determinação in vitro do efeito antimicrobiano direto do hidróxido de cálcio associado a diferentes substâncias frente a cepas de Enterococcus faecalis<br />

Todas as amostras foram congeladas a -20ºC e foram<br />

isoladas em M-Enterococcus ágar (Difco ® ). As cepas foram,<br />

então, identificadas na sequência de uma rotina de<br />

identificação padrão descrita por Koneman et al. 1<br />

A ativação das amostras foi realizada em placas de<br />

ágar M-Entorococcus (Difco ® ) em uma estufa com temperatura<br />

em 36 o C por 18-24 horas. Posteriormente, as<br />

colônias foram suspensas em caldo BHI (Oxoid ® ), até<br />

que a turbidez completa do meio fosse observada.<br />

Testes antimicrobianos das substâncias<br />

Todas as substâncias bacterianas testadas neste estudo<br />

foram baseadas em pasta de hidróxido de cálcio<br />

PA (Tab. 1).<br />

Tabela 1. Pastas empregadas no experimento.<br />

Ca(OH) 2<br />

+ extrato de guaçatonga em propilenoglicol<br />

Ca(OH) 2<br />

+ clorexidina a 1% em propilenoglicol<br />

Ca(OH) 2<br />

+ propilenoglicol puro<br />

As pastas foram preparadas por meio da mistura de<br />

2 gramas de pó para 70 gotas de cada veículo correspondente,<br />

resultando em uma mistura com consistência<br />

de creme dental após espatulação. Para cada material<br />

testado, 12 gramas de pasta de hidróxido de cálcio foram<br />

manipuladas.<br />

Avaliação da atividade antimicrobiana<br />

As suspensões do inóculo em caldo BHI (Oxoid ® ),<br />

foram diluídas em 5ml de solução salina estéril para<br />

chegar à turbidez correspondente a um padrão de<br />

McFarland (escala 1,0 = 3 x 10 8 células/ml).<br />

Para o teste da ação antimicrobiana, 1.200 pontas<br />

de papel (Tanari ® , Tanariman Ltda), previamente esterilizadas<br />

em autoclave, foram imersas nas suspensões<br />

experimentais bacterianas por 3 minutos para alcançar<br />

a contaminação. Depois disso, as pontas de papel<br />

foram removidas assepticamente da suspensão bacteriana<br />

e distribuídas na superfície de placas de Petri<br />

estéreis. As pontas contaminadas, em seguida, foram<br />

cobertas pelas pastas preparadas. As placas de Petri<br />

foram fechadas e mantidas em estufa a 37 o C.<br />

Aos períodos de 6, 24, 48 e 72 horas, e aos 7 dias,<br />

as pontas de papel foram removidas do contato direto<br />

com as pastas e colocadas em tubos de ensaio contendo<br />

4ml de caldo Letheen (Difco ® ) estéreis. Os caldos<br />

foram incubados a 37 o C por 48 horas e avaliados visualmente<br />

quanto à turbidez macroscópica.<br />

Um inóculo contendo 0,1ml de caldo Letheen foi<br />

transferido para tubos de ensaio com 4ml de caldo<br />

BHI, que foram incubados sob as mesmas condições.<br />

Os tubos de caldo BHI teste sem evidência de turbidez<br />

foram considerados como negativos, e os que<br />

apresentassem turvação do caldo foram semeados em<br />

ágar M-Enterococcus, a fim de determinar se as bactérias<br />

permaneceram viáveis.<br />

Todos os procedimentos experimentais foram realizados<br />

sob condições assépticas, com o auxílio de uma<br />

capela de fluxo laminar, e os ensaios foram realizados<br />

em duplicata. Um experimento foi realizado com Enterococcus<br />

faecalis padrão ATCC 29212.<br />

O pH de cada pasta foi mensurado após a manipulação<br />

em água deionizada, com o auxílio de um medidor<br />

de pH.<br />

Resultados<br />

Os valores de pH para as pastas foram: 12,67 para<br />

o hidróxido de cálcio + clorexidina 1%; 12,62 para o<br />

hidróxido de cálcio + propilenoglicol; e 12,60 para o<br />

hidróxido de cálcio + extrato de Casearia sylvestris Sw.<br />

A avaliação da atividade antimicrobiana para as três<br />

pastas diferentes em 6, 24, 48, 72 horas, e aos 7 dias de<br />

pós-incubação mostrou que todas as cepas foram inibidas<br />

em todos os períodos de avaliação (Tab. 2).<br />

Discussão<br />

A eficácia de pasta de hidróxido de cálcio contra E.<br />

faecalis e outros microrganismos tem sido amplamente<br />

discutida na literatura científica 15-19 .<br />

A adição de clorexidina conferiu maior eficácia antimicrobiana<br />

à pasta de hidróxido de cálcio na desinfecção<br />

de túbulos de dentina 7 . No entanto, Schäfer et al. 17<br />

observaram que não houve aumento de eficácia contra<br />

o E. faecalis associando o hidróxido de cálcio à clorexidina.<br />

Entretanto, Ercan et al. 18 , em um experimento<br />

in vitro envolvendo dentes extraídos, verificaram que a<br />

clorexidina gel 2% foi mais eficiente contra E. faecalis e<br />

Candida albicans em comparação à pasta de hidróxido<br />

de cálcio associada ou não à clorexidina a 2%.<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 48<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):46-51


Weckwerth PH, Siquinelli NB, Weckwerth ACVB, Vivan RR, Duarte MAH<br />

Tabela 2. Ação antimicrobiana das pastas de hidróxido de cálcio contra as cepas bacterianas.<br />

Ca(OH) 2<br />

+ Propilenoglicol Ca(OH) 2<br />

+ Clorexidina a 1% Ca(OH) 2<br />

+ Extrato de guaçatonga<br />

6h 24h 48h 72h 7d 6h 24h 48h 72h 7d 6h 24h 48h 72h 7d<br />

1 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

2 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

3 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

4 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

5 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

6 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

7 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

8 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

9 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

10 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

11 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

12 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

13 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

14 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

15 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

16 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

17 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

18 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

19 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

20 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

21 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

22 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

23 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

24 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

25 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

26 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

27 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

28 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

29 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

30 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

31 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

32 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

33 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

34 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

35 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

36 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

37 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

38 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

39 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

40 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />

O Enterococcus faecalis necessita ser mantido em contato<br />

direto com hidróxido de cálcio para ser morto 20,21 . No<br />

presente trabalho, o menor tempo de contato direto da<br />

pasta e o Enterococcus faecalis foi de 6 horas, e nenhuma<br />

das cepas sobreviveu. Os resultados apresentados neste<br />

estudo para a pasta de hidróxido de cálcio com clorexidina<br />

estão de acordo com os de Estrela et al. 21 , que utilizaram<br />

metodologia semelhante.<br />

A ação antimicrobiana do hidróxido de cálcio decorre<br />

da liberação de íons hidroxila, com consequente aumento<br />

do pH, atingindo 11-12,5 22 . De acordo com Siqueira-<br />

-Júnior et al. 23 , o efeito letal de íons hidroxila contra células<br />

bacterianas é principalmente devido ao dano causado<br />

em sua membrana citoplasmática, desnaturação de proteínas,<br />

e os danos diretos ao DNA, mas agora está claro<br />

que um dos fatores cruciais para a sobrevivência do E.<br />

faecalis em pH alto é a presença de uma bomba de prótons<br />

que permite a homeostase citoplasmática, mesmo<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 49<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):46-51


[ artigo original ] Determinação in vitro do efeito antimicrobiano direto do hidróxido de cálcio associado a diferentes substâncias frente a cepas de Enterococcus faecalis<br />

em ambientes extremamente alcalinos 7 . Já foi constatada<br />

a sobrevivência de cepas de Enterococcus faecalis em<br />

ambientes com pH acima de 10,5-11,0; sendo que os valores<br />

de pH têm que ser superiores a 11,5 para se conseguir<br />

matar esse microrganismo 24 . No presente trabalho,<br />

todas as pastas apresentaram pH superior a 12,5 e foram<br />

capazes de matar todas as cepas analisadas.<br />

É importante ressaltar que o pH das pastas de hidróxido<br />

de cálcio é geralmente superior a 11, e que a adição<br />

de várias substâncias não altera esses valores 25,26 . No<br />

entanto, dentro dos túbulos dentinários, o pH pode não<br />

chegar em níveis tão altos 27,28 , daí a associação sugerida<br />

de diferentes substâncias para as pastas, com o objetivo<br />

de reforçar a ação antimicrobiana, com a qual têm sido<br />

verificados resultados positivos 9 .<br />

No presente trabalho, pastas de hidróxido de cálcio<br />

em três veículos diferentes demonstraram grande eficácia<br />

contra todas as cepas de E. faecalis após contato direto<br />

in vitro com o microrganismo. A adição de guaçatonga<br />

não interferiu com a ação antimicrobiana do hidróxido<br />

de cálcio, confirmando que a presença dessa substância<br />

não altera o pH da pasta. Outros experimentos devem ser<br />

realizados a fim de demonstrar, in vivo e in vitro (utilizando<br />

dentes extraídos), se efeito similar é observado. É importante<br />

levar em consideração que, para o hidróxido de<br />

cálcio manter a sua capacidade de elevar o pH dentro dos<br />

túbulos dentinários, os íons hidroxila devem se difundir por<br />

toda a dentina em concentrações elevadas e provocar um<br />

aumento drástico nos valores de pH local.<br />

O óleo essencial da guaçatonga tem demonstrado<br />

ação contra bactérias gram-positivas tais como Enterococcus,<br />

Micrococcus, Staphylococcus aureus, S. epidermidis e<br />

linhagens de Bacillus cereus.<br />

Métodos em que as pastas são difundidas na superfície<br />

do ágar, conforme descrito por Gomes et al. 15 , ou aqueles<br />

que envolvam contato direto com a pasta, como o<br />

utilizado no presente trabalho e outros 21 , são suscetíveis<br />

à interferência de diversas variáveis, ou seja, diferenças<br />

de solubilidade e difusão da pasta no meio, o inóculo, pH<br />

dos componentes do ágar, viscosidade do ágar, tempo e<br />

temperatura, e da atividade metabólica dos microrganismos<br />

no meio de cultura. Todos esses fatores dificultam a<br />

extrapolação dos resultados para um cenário clínico, onde<br />

outros fatores podem interferir com a ação antimicrobiana<br />

da pasta contra microrganismos nos túbulos dentinários.<br />

Portanto, é imprescindível que futuros estudos sejam<br />

realizados para determinar se o extrato de guaçatonga em<br />

propileno glicol é capaz de aumentar a eficácia de pastas<br />

de hidróxido de cálcio contra Enterococcus faecalis em<br />

dentes extraídos in vitro ou in vivo, em reais condições clínicas.<br />

A descoberta de biocomponentes antimicrobianos<br />

derivados dessa planta, com atividade contra bactérias<br />

encontradas na microbiota bucal, pode conduzir a novas<br />

alternativas terapêuticas em Odontologia.<br />

In vitro determination of direct antimicrobial effect of calcium hydroxide<br />

associated with different substances against Enterococcus faecalis strains<br />

Abstract<br />

Objective: To determinate the direct antimicrobial effects of<br />

Casearia sylvestris Swart (guaçatonga), propylene glycol, and of<br />

chlorhexidine associated to calcium hydroxide paste against 40<br />

Enterococcus faecalis strains isolated from the oral cavity when<br />

direct contact. Methods: After activation, the bacterial strains<br />

were suspended in sterile saline to 1.0 McFarland standard. The<br />

suspension was placed in direct contact with calcium hydroxide<br />

paste [Ca(OH) 2<br />

] + pure propylene glycol, Ca(OH) 2<br />

+ chlorhexidine<br />

1% in propylene glycol, and Ca(OH) 2<br />

+ guaçatonga extract<br />

in propylene glycol by covering paper points, previously contaminated<br />

for 3 minutes, with the different pastes. Antimicrobial<br />

activity was evaluated at 6, 24, 48, 72 hours, and at 7 days. After<br />

the incubation period, the points were removed from the pastes<br />

and incubated in Letheen broth at 37 o C for 48 hours. Following<br />

that, 0.1ml of the Letheen broth was transferred to tubes<br />

containing brain heart infusion (BHI) broth and incubated again<br />

at 37 o C for 48 hours. Turbidity was observed in the medium. After<br />

that, M-Enterococcus agar plates were seeded with BHI broth<br />

from each tube and colony growth was assessed. Results: All<br />

the bacterial strains were inhibited by all pastes at the evaluated<br />

periods. Conclusions: It was concluded that the addition<br />

of these substances to calcium hydroxide did not interfere with<br />

its direct antimicrobial effect.<br />

Keywords: Environmental microbiology. Enterococcus faecalis.<br />

Calcium hydroxide. Products with antimicrobial action.<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 50<br />

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© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 51<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):46-51


artigo original<br />

Análise das forças desenvolvidas<br />

durante a obturação do canal radicular<br />

por diferentes operadores<br />

Maria Rosa Felix de Sousa G. GUIMARÃES, DDS, MSc 1<br />

Henner Alberto GOMIDE, DDS, MSc, PhD 2<br />

Maria Antonieta Veloso C. de OLIVEIRA, DDS, MSc 3<br />

João Carlos Gabrielli BIFFI, DDS, MSc, PhD 4<br />

Resumo<br />

Introdução: procedimentos endodônticos podem contribuir<br />

tanto para o desenvolvimento da fratura radicular<br />

vertical como para outros defeitos localizados, como<br />

linhas de fissura ou rachaduras incompletas na dentina<br />

radicular. O objetivo deste estudo foi avaliar a resistência<br />

máxima de fratura radicular e a força produzida por cinco<br />

diferentes operadores nas condensações lateral e vertical<br />

durante a obturação do canal radicular. Métodos:<br />

foram selecionados 74 dentes humanos, caninos superiores<br />

(CS) e pré-molares inferiores (PMI). Para determinar<br />

a resistência máxima de fratura durante a condensação,<br />

foram utilizados 24 dentes, submetidos a carregamento<br />

axial de compressão até a ocorrência da fratura radicular<br />

em uma máquina de ensaios mecânicos. Cinquenta<br />

dentes foram utilizados para mensuração da força axial<br />

de condensação, por meio de dispositivo desenvolvido<br />

para simular condições clínicas de trabalho. Resultados:<br />

os valores médios de resistência à fratura em Kg<br />

foram: CS=14,96±2,65 e PMI=7,56±1,05. Os valores<br />

médios, em Kg, das forças exercidas pelos cinco operadores<br />

foram respectivamente 2,49; 3,75; 2,24; 2,08 e<br />

1,18. Nenhum operador atingiu, durante os procedimentos,<br />

a força máxima de fratura radicular. Conclusões:<br />

diferentes comportamentos entre os cinco profissionais<br />

monitorados foram observados para a mesma técnica de<br />

obturação. O aumento da força durante a condensação<br />

não gerou melhora radiográfica da obturação do canal<br />

radicular. Durante a obturação, as condensações lateral<br />

e, principalmente, a vertical devem ser realizadas com<br />

força e pressão apical reduzidas, evitando tensões excessivas<br />

e desnecessárias à dentina radicular.<br />

Palavras-chave: Técnica de condensação lateral. Obturação<br />

do canal radicular. Força de condensação.<br />

Guimarães MRFSG, Gomide HA, Oliveira MAVC, Biffi JCG. Analysis of forces developed during root canal filling by different operators. <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):52-7.<br />

1<br />

Departamento de Endodontia, Faculdade de Odontologia São Lucas, Porto Velho/RO, Brasil.<br />

Recebido: janeiro de 2011 / Aceito: fevereiro de 2011.<br />

2<br />

Faculdade de Engenharia Mecânica, Universidade Federal de Uberlândia/MG, Brasil.<br />

3<br />

Mestre em Clínica Integrada Odontológica, Faculdade de Odontologia, Universidade Federal<br />

de Uberlândia/MG, Brasil.<br />

4<br />

Professor Titular do Departamento de Endodontia, Faculdade de Odontologia, Universidade<br />

Federal de Uberlândia/MG, Brasil.<br />

Endereço para correspondência: Maria Rosa Felix de Sousa Gomide Guimarães<br />

Av. Pará, 1720, bloco 2B s/25, bairro Umuarama, CEP: 38.403-036<br />

Uberlândia, MG – Brasil<br />

E-mail: antocassia@hotmail.com<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 52 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):52-7


Guimarães MRFSG, Gomide HA, Oliveira MAVC, Biffi JCG<br />

Introdução<br />

Procedimentos endodônticos podem contribuir tanto<br />

para o desenvolvimento da fratura radicular vertical<br />

como para outros defeitos localizados, como linhas de<br />

fissura ou rachaduras incompletas na dentina radicular<br />

1 . Esses defeitos localizados podem ter potencial em<br />

desenvolver fraturas 2 e, portanto, deveriam ser prevenidos.<br />

A fratura radicular vertical do dente é uma implicação<br />

clínica e, por ser no sentido longitudinal, estende-se<br />

através de toda a espessura da dentina do canal<br />

radicular até o periodonto 4 . Apresenta um prognóstico<br />

desfavorável, resultando em exodontia do dente ou ressecção<br />

da raiz afetada 3,4 .<br />

Vários fatores podem ser responsáveis pelo aumento<br />

do potencial do risco de fraturas dentárias radiculares,<br />

e alguns não podem ser controlados pelo<br />

cirurgião-dentista, como a redução das propriedades<br />

mecânicas da estrutura dentária, causada por processos<br />

fisiológicos e patológicos 5 . Mas há muitos outros<br />

fatores que podem ser controlados durante e após o<br />

tratamento endodôntico. Dentre eles, podemos citar<br />

a cavidade de acesso, o preparo do canal radicular, a<br />

irrigação, a obturação, o preparo do canal para o pino<br />

intrarradicular 1,5 e a restauração coronária 5 .<br />

Estudos in vitro examinaram o efeito de várias técnicas<br />

de obturação na resistência à fratura de dentes<br />

tratados endodonticamente 1,2,6-11 . Em comparação<br />

com a condensação termoplastificada, maiores forças<br />

ocorrem durante as técnicas de obturação com condensação<br />

lateral, com compactação vertical aquecida<br />

ou com compactação termomecânica 6,7 . Na condensação<br />

lateral, o uso de espaçadores maiores que o de<br />

tamanho nº 25 causa uma diminuição significativa na<br />

resistência à fratura das raízes dentárias 11 . Isso porque<br />

a inserção do espaçador durante a obturação pode<br />

causar forças excessivas, gerando estresse dentro do<br />

canal radicular 12 . Entretanto, mesmo usando um espaçador<br />

fino durante a condensação lateral, linhas de fissura<br />

ocorrem nas raízes 2 . A pressão aplicada durante<br />

a condensação lateral é insuficiente para causar fratura<br />

radicular vertical 10 , porém pode causar maiores<br />

defeitos na dentina radicular 12 do que em técnicas de<br />

obturação sem compactação ativa 1 .<br />

Sendo assim, o presente estudo avaliou a resistência<br />

máxima de fratura radicular e a força produzida por<br />

cinco diferentes operadores na condensação lateral e<br />

vertical durante a obturação do canal radicular.<br />

Material e Métodos<br />

Foram selecionados setenta e quatro dentes humanos<br />

unirradiculares recém-extraídos, caninos superiores<br />

e pré-molares inferiores, armazenados em solução de<br />

formol a 10%. Os dentes foram seccionados horizontalmente<br />

próximo à junção cemento-esmalte, com auxílio<br />

de disco diamantado (KG Sorensen, Barueri, SP, Brasil)<br />

sob refrigeração. Em seguida, as raízes mensuradas foram<br />

armazenadas em recipientes individuais, com gaze<br />

umedecida em solução de soro fisiológico, para manter<br />

a umidade relativa dos elementos dentários.<br />

As raízes foram incluídas em Resina Epóxi Adesivo<br />

B flexível (Polipox Ind. e Com. Ltda), paralelamente às<br />

paredes de tubos de PVC de 25mm de altura, com diâmetro<br />

externo de 25mm e diâmetro interno de 21mm,<br />

com auxílio de silicone para o posicionamento e fixação<br />

da raiz no interior do tubo.<br />

Após 48 horas da inclusão dos dentes, período<br />

de presa final da resina, as amostras foram divididas<br />

aleatoriamente. Cinquenta amostras foram utilizadas<br />

para mensuração da força axial de condensação<br />

lateral e vertical, tendo cinco endodontistas participado<br />

do presente estudo. Os profissionais foram<br />

classificados em A, B, C, D e E. Cada profissional recebeu<br />

dez corpos de prova, sendo os dois primeiros<br />

utilizados para a calibração do equipamento durante<br />

o monitoramento do procedimento de condensação<br />

lateral e vertical, de acordo com cada profissional.<br />

Os oito corpos de prova restantes foram obturados<br />

pela técnica da condensação lateral e, no final, com<br />

condensação vertical. Com o objetivo de reproduzir<br />

as condições de trabalho do cirurgião-dentista no<br />

consultório, foi desenvolvido um dispositivo especificamente<br />

para esse estudo: uma haste metálica<br />

de 60cm adaptada à máquina de ensaios mecânicos<br />

(EMIC DL-2000, São José dos Pinhais, PR, Brasil)<br />

com célula de carga de 20kg, de forma que o<br />

corpo de prova ficasse em uma posição próxima<br />

àquela ocupada na cavidade bucal (Fig. 1A). Além<br />

disso, sobre essa barra um apoio metálico foi utilizado<br />

para que os profissionais pudessem apoiar as<br />

mãos durante os procedimentos clínicos (Fig. 1B).<br />

Durante o procedimento, as forças geradas foram<br />

registradas pelo software M-Test da máquina de ensaios<br />

mecânicos, e transformadas em gráficos (Fig.<br />

2) para posterior análise das forças exercidas (Kg).<br />

A instrumentação do canal radicular foi realizada<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 53 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):52-7


[ artigo original ] Análise das forças desenvolvidas durante a obturação do canal radicular por diferentes operadores<br />

preocupando-se com a padronização da dilatação<br />

dos canais radiculares, utilizando-se a técnica preconizada<br />

por Goerig, Michelich e Schultz 13 . Após os<br />

canais serem secos, foi selecionado o cone de guta-<br />

-percha principal de forma que o mesmo apresentasse<br />

travamento 1mm aquém do ápice radicular,<br />

coincidindo com o comprimento de trabalho. Um<br />

cimento à base de óxido de zinco e eugenol (Endofill,<br />

Dentsply, Petrópolis/RJ, Brasil) foi inserido no<br />

interior do canal, utilizando o cone principal para<br />

aplicação em todas as paredes do canal. Após o<br />

cone principal ser posicionado, espaços eram gerados,<br />

utilizando espaçador digital (Maillefer, Ballaigues,<br />

Suíça), compatível com os cones secundários<br />

utilizados. Durante a condensação lateral, todos os<br />

cones secundários foram envolvidos pelo cimento<br />

e inseridos a cada abertura de um novo espaço, seguido<br />

por nova condensação, sucessivamente, até o<br />

término da obturação do canal. O excesso de material<br />

obturador foi removido com calcadores de Paiva<br />

(Golgran, São Paulo, Brasil) aquecidos e a condensação<br />

vertical realizada.<br />

Durante os testes experimentais da condensação lateral<br />

e vertical, os esforços realizados pelos cinco operadores<br />

foram captados pela célula de carga, transferidos<br />

e armazenados (Fig. 1B). Para cada procedimento<br />

de condensação, obteve-se um gráfico demonstrando o<br />

valor e o comportamento da carga realizada pelo profissional<br />

e a carga máxima aplicada. Todos os ensaios<br />

foram calibrados com velocidade de deslocamento de<br />

2mm por minuto, com tempo de trabalho de aproximadamente<br />

4 minutos. Os resultados registrados foram<br />

avaliados e permitiram analisar também o perfil de trabalho<br />

de cada operador.<br />

Os dentes obturados foram avaliados radiograficamente<br />

(Agfa Dentus M2 Comfort <strong>Dental</strong> Film - Speed<br />

Group D - Agfa Gevaert N.V., Bélgica). Para a realização<br />

do exame radiográfico, todos os dentes foram removidos<br />

dos respectivos tubos de PVC e resina epóxi,<br />

e radiografados — nos planos vestibulolingual e mesiodistal<br />

— com aparelho de raios X calibrado em tempo<br />

de exposição de 0,3s, a uma distância focal de 8cm das<br />

raízes dos elementos dentários.<br />

As 24 amostras restantes foram utilizadas para determinar<br />

a resistência máxima de fratura das raízes<br />

durante a condensação lateral. As amostras foram submetidas<br />

a ensaio mecânico de resistência à fratura, utilizando<br />

espaçador digital, compatível com o diâmetro<br />

do canal, como ponta aplicadora de carga compressiva,<br />

acoplado à máquina de ensaios mecânicos (EMIC DL-<br />

2000) em velocidade de deslocamento de 2mm/minuto<br />

até a ocorrência da fratura radicular.<br />

A<br />

B<br />

Figura 1. A) Corpo de prova adaptado ao dispositivo cilíndrico apoiado<br />

na célula de carga da máquina de ensaios universal e B) monitoramento<br />

da força axial durante a obturação.<br />

Resultados<br />

As forças exercidas durante os testes mecânicos<br />

foram monitoradas durante a execução da técnica de<br />

condensação lateral e vertical, gerando gráficos que<br />

representaram o comportamento e a intensidade da<br />

força máxima aplicada durante os testes. Os valores<br />

médios de resistência à fratura foram: 14,96±2,65Kg<br />

para os caninos superiores; e 7,56±1,05Kg para pré-<br />

-molares inferiores. Os valores médios das forças<br />

exercidas pelos operadores A, B, C, D e E foram,<br />

respectivamente, 2,49Kg; 3,75Kg; 2,24Kg; 2,08Kg e<br />

1,18Kg (Tab. 1).<br />

Verificou-se que os gráficos dos cinco operadores<br />

diferiram entre si, demonstrando as características individuais<br />

de cada profissional (Fig. 2).<br />

A análise da imagem radiográfica demonstrou que<br />

a qualidade das obturações realizadas pelos cinco profissionais<br />

podia ser classificada como satisfatória, por<br />

apresentarem massa obturadora compacta, sem espaços<br />

vazios no interior dos canais.<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 54 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):52-7


Guimarães MRFSG, Gomide HA, Oliveira MAVC, Biffi JCG<br />

Tabela 1. Valores de força máxima aplicada pelos profissionais nas condensações lateral e vertical (Kg) e as médias desses valores (Kg).<br />

Profissional Valores de força máxima registrados Médias<br />

A 2,31 2,62 2,43 2,64 2,91 2,95 2,22 1,83 2,49<br />

B 4,09 4,20 3,98 4,10 3,95 4,10 2,75 2,85 3,75<br />

C 2,44 1,84 2,36 1,91 2,22 2,22 2,25 2,69 2,24<br />

D 1,60 1,68 1,85 2,88 2,19 1,95 2,36 2,17 2,08<br />

E 1,28 1,34 1,10 1,12 1,10 1,07 1,26 1,20 1,18<br />

Força (N)<br />

40,00<br />

A<br />

40,00<br />

Força (N)<br />

B<br />

CV<br />

32,00<br />

CL<br />

CV<br />

32,00<br />

CL<br />

24,00<br />

24,00<br />

16,00<br />

16,00<br />

8,00<br />

8,00<br />

.000<br />

.000<br />

1.600<br />

3.200<br />

4.800<br />

.000<br />

.000<br />

1.600<br />

3.200<br />

4.800<br />

C D E<br />

Força (N) Força (N) Força (N)<br />

40,00 40,00 40,00<br />

32,00 32,00 32,00<br />

CV<br />

CL<br />

CL<br />

CV<br />

24,00 24,00 24,00<br />

CV<br />

16,00 16,00 16,00<br />

CL<br />

8,00 8,00 8,00<br />

.000 .000 .000<br />

.000 1.600 3.200 4.800 .000 1.600 3.200 4.800<br />

.000 1.600 3.200 1.600<br />

Figura 2. Comportamento e da carga máxima aplicada pelos profissionais, durante a condensação lateral (CL) e a condensação vertical (CV).<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 55 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):52-7


[ artigo original ] Análise das forças desenvolvidas durante a obturação do canal radicular por diferentes operadores<br />

Discussão<br />

A avaliação comparativa da força axial empregada<br />

nas condensações lateral e vertical da presente pesquisa<br />

objetivou conhecer e determinar o comportamento e<br />

a força realizada por cinco especialistas em Endodontia,<br />

para a mesma técnica de obturação do canal radicular.<br />

Ensaios mecânicos padronizados semelhantes às condições<br />

clínicas, e com corpos de prova acoplados à célula<br />

de carga, foram utilizados para registrar o comportamento<br />

de cada profissional, como em estudos prévios 6,7,8 .<br />

O uso de um aparelho de monitoramento com dispositivo<br />

adaptado à máquina de ensaio mecânico — como<br />

o desenvolvido na presente pesquisa, no qual as forças<br />

geradas durante as etapas da obturação são registradas<br />

em tempo real e transformadas em gráficos — é de grande<br />

valor para o ensino e aprimoramento da Endodontia.<br />

Pois, com esse aparelho, foi possível verificar a pressão<br />

exercida no momento da obturação do canal radicular,<br />

durante a inserção do espaçador na condensação lateral,<br />

e do calcador na condensação vertical. Os alunos<br />

de graduação e pós-graduação aprenderiam, com o uso<br />

dele, a força adequada de condensação nas diversas técnicas<br />

de obturação do canal radicular, sem gerar tensões<br />

excessivas e desnecessárias à dentina radicular.<br />

Os resultados do presente estudo demonstraram<br />

que houve uma variação na intensidade e na constância<br />

da força aplicada por cada um dos cinco endodontistas.<br />

As cargas médias registradas pelos profissionais A, C,<br />

D e E estão de acordo com as cargas encontradas em<br />

estudos anteriores 6,7,8 .<br />

Os comportamentos registrados pelos profissionais A<br />

e E, conforme os resultados dos gráficos apresentados,<br />

foram semelhantes entre si. Foi mantida força praticamente<br />

constante desde o início da obturação, da etapa<br />

de inserção dos primeiros cones até o final, com a<br />

condensação vertical da guta-percha, tendo os gráficos<br />

apresentado curva constante do início ao fim. Os profissionais<br />

diferenciaram-se entre si em relação à intensidade<br />

da força aplicada durante todo o procedimento. A<br />

média das forças aplicadas pelo profissional A (2,49Kg)<br />

diferenciou-se do valor médio aplicado pelo profissional<br />

E (1,18Kg). Em relação à utilização dos espaçadores, verificou-se<br />

que ambos os profissionais exerceram, durante<br />

a condensação lateral, pressão para apical e penetração<br />

de 1 a 2mm aquém do comprimento de trabalho.<br />

Os profissionais B e C demonstraram semelhança de<br />

comportamento no que se refere à distribuição do esforço<br />

aplicado, porém com diferença na intensidade da carga<br />

aplicada. Os gráficos gerados apresentaram curvas crescentes,<br />

o que caracteriza que esses profissionais iniciaram<br />

a obturação dos canais radiculares com pequena força, que<br />

foi aumentando até o completo preenchimento dos canais<br />

radiculares. Quanto à intensidade da força aplicada, a média<br />

do profissional B foi de 3,75Kg, enquanto do profissional C<br />

foi de 2,24Kg, ambas distribuídas de forma crescente.<br />

O gráfico gerado pelo comportamento do profissional<br />

D durante a condensação lateral foi semelhante aos gráficos<br />

dos profissionais A e E, com aplicação de carga constante.<br />

No momento da condensação vertical, verificou-se<br />

aumento do esforço aplicado, registrando pico na curva<br />

em relação à força anteriormente aplicada. Dessa forma, o<br />

operador D variou de uma força baixa constante para uma<br />

carga mais elevada durante a condensação vertical. Esse<br />

comportamento de força elevada durante a condensação<br />

vertical pôde ser verificado também nos ensaios do operador<br />

B, diferenciando somente quanto aos valores dos<br />

esforços: 2,88Kg para o profissional D e 4,2Kg para o B.<br />

Investigando a carga máxima aplicada pelos espaçadores<br />

capaz de provocar fratura radicular, Holcomb, Pitts<br />

e Nicholls 9 verificaram a presença de fratura vertical nos<br />

dentes testados com forças de 1,5 a 3,5Kg, valores próximos<br />

aos encontrados para o profissional B. Entretanto,<br />

os grupos de dentes avaliados nesse estudo prévio 9<br />

possuíam pequenas dimensões, em relação aos dentes<br />

utilizados na presente pesquisa, o que justifica a presença<br />

dessas fraturas radiculares com cargas menores.<br />

Nenhum dos cinco endodontistas testados atingiu,<br />

durante os procedimentos, a força máxima de fratura<br />

radicular, pois a pressão aplicada durante as condensações<br />

lateral e vertical foi insuficiente. Entretanto, estudos<br />

demonstram que essa técnica de obturação pode causar<br />

maiores defeitos na dentina radicular 12 do que em técnicas<br />

sem compactação ativa 1 . Os defeitos mais comuns são as<br />

linhas de fissura e rachaduras na dentina radicular, que podem<br />

resultar, após a conclusão do tratamento endodôntico,<br />

em fratura vertical radicular 6,7,11 , devido ao recebimento<br />

constante de força pela mastigação 1 e aos tratamentos<br />

adicionais, como o preparo para pino intrarradicular 2 .<br />

Cada um dos cinco endodontistas analisados demonstrou<br />

um perfil de trabalho diferente para a mesma técnica<br />

de obturação. Entretanto, pela análise radiográfica, todos<br />

os espécimes apresentaram imagem sugestiva de massa<br />

obturadora satisfatória e homogênea. Diante desses resultados,<br />

recomendamos que, durante o procedimento de<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 56 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):52-7


Guimarães MRFSG, Gomide HA, Oliveira MAVC, Biffi JCG<br />

condensação lateral, os profissionais exerçam carga constante<br />

e com reduzida pressão em direção apical, obedecendo<br />

sempre o limite de trabalho e de penetração do espaçador.<br />

Na condensação vertical, etapa na qual encontramos<br />

— em três dos endodontistas (B, C e D) — os maiores valores<br />

de força aplicada durante a obturação, recomendamos o<br />

uso do calcador com reduzida força em direção apical. Isso<br />

porque o aumento da força não gerou, radiograficamente,<br />

melhora no resultado final da obturação e pode causar,<br />

especialmente em raízes fragilizadas ou com menor estrutura<br />

dentinária, o aparecimento de defeitos como linhas de<br />

fissura e/ou rachaduras incompletas 1 . Seguindo essas recomendações,<br />

o profissional irá conseguir uma obturação<br />

adequada, gerando pouca tensão às estruturas dentinárias.<br />

O que é um fator importante, pois a fratura vertical radicular<br />

não é um fenômeno que ocorre instantaneamente, mas é<br />

resultado de uma gradual diminuição de estrutura dentária<br />

somada ao emprego de força e pressão à dentina radicular 12 .<br />

Abstract<br />

Objective: Endodontic procedures might contribute to the<br />

development of vertical root fracture as well as other localized<br />

defects such as craze lines or incomplete cracks in root<br />

dentine. The objective of this study was to evaluate the maximum<br />

fracture resistance and the force produced by five different<br />

operators in lateral and vertical condensation during root<br />

canal filling. Methods: 74 human teeth, superior canines (SC)<br />

and inferior premolars (IPM) were selected. In order to determine<br />

the maximum fracture resistance during condensation,<br />

24 teeth were submitted until failure to an axial compression<br />

load in a universal testing machine. Fifty teeth were used in<br />

order to measure the axial condensation force by means of<br />

a device developed to simulate clinical working conditions.<br />

Results: Fracture resistance mean values in kg were:<br />

SC=14.96±2.65 and IPM=7.56±1.05. Mean values of force<br />

applied by each of the five operator in Kg were, respectively:<br />

2.49, 3.75, 2.24, 2.08 and 1.18. None of the operators achieved<br />

teeth’s maximum fracture resistance during procedures. Conclusions:<br />

Different behaviors among five professionals monitored<br />

were observed for the same technique of root canal<br />

filling. The increase in strength during condensation had no<br />

radiographic improvement of root canal filling. During the<br />

root canal filling, lateral and especially vertical condensation,<br />

must be performed with reduced apical strength and pressure,<br />

avoiding excessive and unnecessary stress to root dentin.<br />

Keywords: Lateral condensation technique. Root canal filling.<br />

Condensation force.<br />

Referências<br />

1. Tamse A. Iatrogenic vertical root fractures in endodontically treated<br />

teeth. Endod Dent Traumatol. 1988;4(5):190-6.<br />

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during obturations. Wedging effect: Part II. J Endod.<br />

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12. Soros C, Zinelis S, Lambrianidis T, Palaghias G. Spreader load<br />

required for vertical root fracture during lateral compaction<br />

ex vivo: evaluation of periodontal simulation and fracture load<br />

information. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod.<br />

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canals in molar using the step-down technique. J Endod.<br />

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© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 57 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):52-7


artigo original<br />

Preenchimento de canais radiculares com pasta<br />

de hidróxido de cálcio, utilizando-se propulsor de<br />

Lentulo, em diferentes velocidades<br />

Marili Doro Deonízio, DDS, PhD 1<br />

Gilson Blitzkow Sydney, DDS, PhD 2<br />

Antonio Batista, DDS 3<br />

Carlos Estrela, DDS, PhD 4<br />

Resumo<br />

Objetivo: este estudo analisou a efetividade do preenchimento<br />

do canal radicular com pasta de hidróxido empregando<br />

o propulsor de Lentulo, acionado em diferentes velocidades.<br />

Métodos: trinta pré-molares inferiores tiveram<br />

seus canais radiculares preparados até o instrumento #50 e<br />

divididos aleatoriamente em três grupos. Pasta de hidróxido<br />

de cálcio preparada com solução fisiológica foi inserida nos<br />

canais radiculares empregando-se um propulsor de Lentulo,<br />

acionado com velocidades de 5.000rpm (G1), 10.080rpm<br />

(G2) e 15.000rpm (G3). A densidade óptica foi determinada<br />

utilizando-se o sistema de radiografia digital (Kodak <strong>Dental</strong><br />

RGV-5000). Resultados: a maior densidade óptica obtida<br />

no terço apical foi no G3, e nos terços médio e cervical no<br />

G1. Por meio do teste Kruskal-Wallis-Anova, observou-<br />

-se diferença estatística (p0,05).<br />

Conclusão: velocidades diferentes são necessárias para o<br />

correto preenchimento de canais radiculares com pasta de<br />

hidróxido de cálcio. A velocidade de 15.000rpm foi mais<br />

efetiva no preenchimento do terço apical e a velocidade de<br />

5.000rpm foi mais efetiva no preenchimento dos terços médio<br />

e cervical.<br />

Palavras-chave: Tratamento endodôntico. Hidróxido<br />

de cálcio. Medicação intracanal.<br />

Deonízio MD, Sydney GB, Batista A, Estrela C. Root canal filling with calcium hydroxide paste using Lentullo spiral at different speeds. <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):58-63.<br />

1<br />

Professora Adjunta da Disciplina de Endodontia – UFPR. Professora do curso de<br />

Especialização em Endodontia – UFPR. Doutora em Endodontia – FOUSP.<br />

2<br />

Professor Titular de Endodontia – UFPR. Mestre e Doutor em Endodontia – FOUSP.<br />

3<br />

Professor Assistente da Disciplina de Endodontia – UFPR. Professor do Curso de<br />

Especialização em Endodontia – UFPR. Doutorando em Endodontia – Unicamp.<br />

4<br />

Professor Titular de Endodontia – UFGO. Coordenador do Curso de Especialização em<br />

Endodontia da ABO-Goiás. Doutor em Endodontia – FOUSP.<br />

Recebido: janeiro de 2011 / Aceito: fevereiro de 2011.<br />

Endereço para correspondência: Gilson Blitzkow Sydney<br />

Universidade Federal do Paraná - Departamento de Endodontia<br />

Rua da Glória 314, sala 23 – CEP 80030060 - Curitiba, Paraná, Brasil<br />

E-mail: gsydney@bbs2.sul.com<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 58<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):58-63


Deonízio MD, Sydney GB, Batista A, Estrela C<br />

Introdução<br />

O sucesso do tratamento endodôntico está relacionado<br />

com vários fatores, principalmente com a correta<br />

limpeza, modelagem e sanificação do canal radicular 1 . O<br />

preparo do canal empregando-se instrumentos e soluções<br />

irrigadoras oferece combate relativo à microbiota endodôntica.<br />

Assim, a medicação intracanal tem por objetivo<br />

ampliar o processo de sanificação do sistema de canais<br />

radiculares 2,3 .<br />

Dos medicamentos existentes, o hidróxido de cálcio é<br />

o mais utilizado devido às suas propriedades físico-químicas.<br />

Tem alto pH, grande atividade antimicrobiana, atua<br />

na degradação dos lipopolissacarídeos bacterianos e induz<br />

o processo de reparo pela formação de tecido duro 3-6 .<br />

À medida que ocorre a dissociação iônica do hidróxido<br />

de cálcio, a quantidade de pasta a ser colocada no<br />

interior do canal radicular deve ser suficiente para fornecer<br />

quantidade de íons cálcio e hidroxila pelo período<br />

de tempo necessário para a sanificação do sistema de<br />

canais radiculares 4,7,8,9 . Essa efetividade está na dependência<br />

da ação direta entre a pasta e os microrganismos<br />

remanescentes nos túbulos dentinários 7,11 . Para alcançar<br />

esse objetivo, o canal radicular deve estar homogênea<br />

e completamente preenchido com a pasta de hidróxido<br />

de cálcio, mostrando uma imagem radiográfica densa<br />

tridimensionalmente 6,8 . Muitas vezes, a inefetividade do<br />

hidróxido de cálcio pode ser explicada pela maneira pela<br />

qual é inserido, sem o preenchimento completo do terço<br />

médio e principalmente do apical 9 .<br />

A medicação de hidróxido de cálcio pode ser inserida<br />

no canal radicular utilizando-se instrumentos e materiais<br />

endodônticos como limas endodônticas tipo K, calcadores<br />

endodônticos, pontas de papel, cones de guta-percha,<br />

porta-amálgama, compactador de McSpadden, propulsor<br />

de Lentulo, limas ultrassônicas e sônicas, ou com a seringa<br />

ML (SS White) e agulha 27G longa 3,4,5 .<br />

Cvek et al. 12 sugerem o uso de uma seringa de injeção<br />

ou espiral de Lentulo seguida de condensação vertical<br />

para a inserção. Webber et al. 13 propuseram um transportador<br />

plástico para levar a pasta no interior do canal<br />

radicular seguido de uma efetiva condensação vertical.<br />

Para Antony e Senia 14 , a técnica ideal é com o propulsor<br />

de Lentulo. Leonardo 15 recomendou o uso de uma seringa<br />

especial com agulha longa G-27 no sistema denominado<br />

Calen. Sigurdsson et al. 16 compararam o propulsor de Lentulo,<br />

a lima endodôntica e a seringa e apontaram melhores<br />

resultados para o primeiro, estando de acordo com outros<br />

autores 12,14 . No entanto, esse resultado não tem sido unânime<br />

e espaços vazios têm sido identificados em alguns<br />

estudos 3,17,18 . Estrela et al. 3 , estudando o preenchimento<br />

de canais radiculares em dentes de cães com a pasta de<br />

hidróxido, observaram o menor índice de espaços vazios<br />

quando a pasta foi inserida, em ordem crescente, com lima<br />

tipo K, pontas de papel absorvente, calcadores e propulsor<br />

de Lentulo. Por outro lado, Torres et al. 19 concluíram que<br />

a radiodensidade da pasta em canais radiculares curvos<br />

simulados foi significativamente maior quando apenas o<br />

propulsor de Lentulo foi empregado.<br />

Percebe-se, então, que existem dois pontos críticos no<br />

preenchimento do canal radicular empregando-se o propulsor<br />

de Lentulo: a velocidade e a quantidade de pasta<br />

inserida a cada tempo. Há poucos dados na literatura referentes<br />

à velocidade. Na metodologia utilizada por Deveaux<br />

et al. 18 , a velocidade foi determinada em 500rpm, sem<br />

maiores explicações; e Rahde et al. 20 e Caliskan et al. 21 referem-se<br />

apenas a velocidade moderada, sem especificá-la.<br />

Assim, o objetivo do presente estudo foi verificar a eficácia<br />

do propulsor de Lentulo, quando utilizado em diferentes<br />

velocidades, no preenchimento de canais radiculares<br />

com pasta de hidróxido de cálcio.<br />

Material e Métodos<br />

Trinta pré-molares inferiores provindos do Banco de<br />

Dentes do Curso de Odontologia da Universidade Federal<br />

do Paraná, sob autorização do Comitê de Ética em Pesquisa<br />

do Setor de Ciências da Saúde (Registro CEP/SD:<br />

584.121.08.07; CAAE: 2407.0.000.091-08), foram selecionados<br />

para este estudo. Os dentes foram classificados pelo<br />

comprimento (20mm) e presença de canal único, confirmado<br />

por meio de imagem radiográfica nos sentidos mesiodistal<br />

e vestibulolingual. A coroa dentária foi mantida<br />

para reproduzir as condições clínicas.<br />

Os dentes tiveram suas cavidades de acesso realizadas<br />

utilizando-se ponta esférica diamantada de alta rotação<br />

número 1014 (KG Sorensen) para a obtenção da forma<br />

de conveniência, e completadas com 3205 (KG Sorensen)<br />

para a forma de conveniência. O comprimento de trabalho<br />

foi determinado pela visualização da ponta da lima K<br />

#10 (Dentsply/ Maillefer) no forame apical, recuando-se<br />

um milímetro.<br />

Os canais radiculares foram preparados empregando-<br />

-se a técnica de ampliação reversa com auxílio de contraângulo<br />

de rotação alternada TEP 4R-NSK, ampliados até<br />

o instrumento #50, e a medida de trabalho estabelecida<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 59<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):58-63


[ artigo original ] Preenchimento de canais radiculares com pasta de hidróxido de cálcio, utilizando-se propulsor de Lentulo, em diferentes velocidades<br />

em 1mm aquém do forame apical. A solução irrigadora<br />

empregada foi o hipoclorito de sódio 1%, sendo que, ao<br />

término do preparo, 5ml de solução de EDTA-T foram utilizados<br />

para a remoção do magma dentinário, mantida por<br />

3 minutos preenchendo o canal radicular, seguindo-se de<br />

irrigação final de hipoclorito de sódio a 1%. O forame apical<br />

foi coberto com cera utilidade para prevenir a extrusão<br />

da pasta de hidróxido de cálcio.<br />

Os espécimes foram divididos aleatoriamente em três<br />

grupos de dez espécimes. A pasta foi preparada misturando-se<br />

1g de hidróxido de cálcio PA (Merck Kgaa) lote<br />

1020471000 e 0,015g de sulfato de bário PA (Alphatec<br />

Química Fina: reagente analítico) lote 15559, misturado<br />

à água destilada, formando uma pasta com consistência<br />

de creme dental.<br />

A pasta de hidróxido de cálcio foi inserida no canal<br />

radicular empregando-se um propulsor de Lentulo #40<br />

acoplado a um contra-ângulo redutor 1/1 em motor elétrico<br />

Endo Plus (VK Driller Equipamentos Elétricos Ltda,<br />

Jaguaré, SP), em diferentes velocidades: GI – 5.000rpm;<br />

GII – 10.000rpm e GIII – 15.000rpm. Um projeto piloto<br />

definiu as velocidades estabelecidas.<br />

Para preenchimento dos terços apical, médio e cervical,<br />

pequena quantidade de pasta de hidróxido de cálcio<br />

foi depositada na extremidade do propulsor de Lentulo e<br />

esse acionado com a velocidade predeterminada, repetida<br />

por três vezes. No terço apical, o propulsor de Lentulo<br />

chegou ao comprimento de trabalho; nos terços médio e<br />

cervical, recuou-se 5mm. Condensador tipo Paiva foi utilizado<br />

para condensação da pasta em sentido apical, visando<br />

o completo preenchimento do canal radicular 5 . A<br />

extrusão da pasta na cavidade de acesso determinou o<br />

completo preenchimento do canal radicular.<br />

Para analisar a qualidade do preenchimento do canal<br />

radicular, empregou-se o sistema de radiografia digital<br />

Kodak <strong>Dental</strong> Systems (RVG 5000- Eastman Kodak<br />

Company, Rochester, NY, EUA), o qual possui um<br />

sensor com sistema elétrico e óptico de três lâminas<br />

justapostas: cristal cintilador, fibra óptica e CCD (charge<br />

coupled device), produzindo um sinal elétrico que gera<br />

uma imagem com resolução real de 14 pl/mm e resolução<br />

de 27,03 pl/mm.<br />

Uma tela milimetrada ® (Plexus odonto-tecnologia)<br />

foi adaptada a um anteparo confeccionado com papel<br />

cartolina (2,0cm por 1,5cm) e fixada no sensor do sistema<br />

digital. Essa permaneceu adaptada ao aparelho de<br />

raios X por meio de posicionador da região de molares<br />

do sistema digital (Rinn XCP ® - DS).<br />

A coroa de cada dente foi fixada a um tubo de Ependorf<br />

com auxílio de cianocrilato de etila ® . O tubo teve a sua<br />

porção inferior removida com um disco de carborundum,<br />

deixando-o com 20mm de comprimento. Sulcos transversos<br />

foram realizados para se obter passo de inserção no<br />

molde de material de impressão à base de silicone Speedex<br />

putty ® (Coltène Swiss AG), que serviu de conexão<br />

entre o posicionador e o tubo de raios X.<br />

O aparelho radiográfico (Spectro 70 X da Dabi-Atlante<br />

foi utilizado com um estabilizador elétrico Gnatus T-1.<br />

200S 110V), 70kVp e 7mA. O cilindro foi posicionado perpendicularmente<br />

a uma distância de 5,0cm e com tempo<br />

de exposição de 0,32 segundos. A partir da captura da<br />

imagem digital, valores da densidade óptica em pixels foram<br />

obtidos utilizando-se as ferramentas filtro de nitidez<br />

e análise densiométrica, seguindo as linhas da régua milimetrada<br />

de apical para cervical, subdividindo-se em três<br />

terços em pontos equidistantes tanto à direita e à esquerda<br />

quanto de apical para cervical, os quais foram registrados<br />

em protocolo padrão. As médias foram obtidas nas imagens<br />

de cada espécime, antes e depois do preenchimento<br />

com a pasta de hidróxido de cálcio. A diferença das médias<br />

entre a quantidade de pixels antes e depois do preenchimento<br />

foi submetida à análise estatística por meio do<br />

teste de Kruskal-Wallis (p


Deonízio MD, Sydney GB, Batista A, Estrela C<br />

Discussão<br />

A efetividade da medicação intracanal com hidróxido<br />

de cálcio tem sido observada por vários autores<br />

4,6,11,12,22,23,24 . Entretanto, a sua inserção necessita<br />

de atenção especial para o completo preenchimento<br />

do espaço do canal radicular. Contato direto da<br />

pasta com as paredes dentinárias é fundamental para<br />

sua atuação ocorrer de forma direta e indireta 4,5,7,9,18 .<br />

Holland et al. 25 afirmam que, se o canal radicular não<br />

estiver bem instrumentado e irrigado, a medicação<br />

não será efetiva. Assim, o canal deve ser ampliado<br />

a diâmetros compatíveis com a sua condição anatômica.<br />

Simcock e Hicks 23 demonstraram que, independentemente<br />

da técnica utilizada, em canais pouco<br />

ampliados, o preenchimento com a medicação se<br />

mostrou ineficaz. Em função desse aspecto, no presente<br />

estudo os canais radiculares foram ampliados<br />

até uma lima # 50 K.<br />

A pasta foi preparada com água destilada, a qual,<br />

por ser um veículo hidrossolúvel, aumenta a efetividade<br />

do hidróxido de cálcio 3,24,25 . Sulfato de bário foi<br />

adicionado como substância radiopacificante para diferenciar<br />

a densidade óptica entre a pasta de hidróxido<br />

de cálcio e a dentina. A proporção do sulfato de<br />

bário em relação ao hidróxido de cálcio foi de 1:2 13,17 .<br />

A inserção da pasta foi realizada utilizando-se pequenas<br />

quantidades de cada vez. Quando ativado, o<br />

propulsor de Lentulo lança a pasta contra as paredes<br />

e o auxílio de um calcador permite a sua condensação<br />

em todos os terços.<br />

As velocidades utilizadas foram determinadas<br />

em estudo piloto, baseado na velocidade máxima<br />

possível nos equipamentos odontológicos (cerca de<br />

20.000rpm). Quanto maiores a velocidade e a quantidade<br />

de pasta no Lentulo, maior quantidade de ar<br />

permanece retida no interior do canal radicular, gerando<br />

bolhas de ar que não permitem o preenchimento<br />

completo e, consequentemente, a ação desejada<br />

da medicação. Assim, as velocidades utilizadas neste<br />

estudo foram de 15.000rpm, 10.000rpm e 5.000rpm,<br />

que foram mantidas constantes através de um motor<br />

elétrico (Driller - São Paulo, Brasil).<br />

100<br />

80<br />

DENSIDADE ÓPTICA<br />

60<br />

40<br />

20<br />

0<br />

-20<br />

-40<br />

5.000 rpm - cervical<br />

5.000 rpm - médio<br />

5.000 rpm - apical<br />

1.080 rpm - cervical<br />

1.080 rpm - médio<br />

1.080 rpm - apical<br />

15.000 rpm - cervical<br />

15000rpm - médio<br />

15000rpm - apical<br />

± 1,96* d.p.<br />

± 1,00* d.p.<br />

Média<br />

Figura 1. Resultados para diferentes velocidades nos três terços.<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 61<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):58-63


[ artigo original ] Preenchimento de canais radiculares com pasta de hidróxido de cálcio, utilizando-se propulsor de Lentulo, em diferentes velocidades<br />

A radiografia digital representa, hoje, um dos grandes<br />

avanços em imagem, permitindo rapidez e simplicidade<br />

na captura de imagens, com uma redução significativa<br />

no tempo de exposição, permitindo padronização, análise<br />

de alta qualidade, além de se tornar uma alternativa<br />

viável e segura para a interpretação dos resultados,<br />

conferindo maior precisão diagnóstica. O uso da tecnologia<br />

digital, além de ser reprodutível, é um sistema<br />

que permite imagens quase instantâneas das estruturas<br />

a serem observadas, sem a necessidade de processamento<br />

químico e com tempo de exposição reduzido 26 .<br />

A avaliação das áreas preenchidas nos terços cervical,<br />

médio e apical foi realizada com base no número<br />

de pixels (densidade óptica) na imagem digital capturada.<br />

A tela milimetrada utilizada teve o objetivo de servir<br />

como um parâmetro de medição antes e após os espécimes<br />

terem sido preenchidos com a pasta, em pontos<br />

equidistantes, tanto na dentina quanto no canal 4 .<br />

Quanto maior a densidade óptica, melhor o preenchimento<br />

do canal radicular. Os resultados obtidos<br />

demonstram que o terço médio do G1 foi melhor preenchido<br />

do que nos G2 e G3, de forma estatisticamente<br />

significativa (p


Deonízio MD, Sydney GB, Batista A, Estrela C<br />

Referências<br />

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© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 63<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):58-63


artigo original<br />

Posição do forame apical e sua relação com o calibre<br />

do instrumento foraminal<br />

Ronaldo Araújo Souza, DDS, MsC, PhD 1<br />

José Antônio Poli de Figueiredo, DDS, MsC, PhD 2<br />

Suely Colombo, DDS 1<br />

João da Costa Pinto Dantas, DDS, MsC 1<br />

Maurício Lago, DDS 1<br />

Jesus Djalma Pécora, DDS, MsC, PhD 3<br />

resumo<br />

Introdução: o objetivo deste trabalho foi analisar a posição<br />

do forame apical e sua relação com o calibre do<br />

instrumento foraminal nos incisivos centrais superiores.<br />

Métodos: oitenta e quatro incisivos centrais superiores<br />

foram usados neste estudo. Limas K foram introduzidas<br />

com aumento sequencial de calibres no canal radicular<br />

até a ponta ficar visível no forame e oferecer a sensação<br />

tátil de ajuste no canal cementário. Foram retiradas,<br />

os dentes foram seccionados transversalmente a 10mm<br />

aquém do ápice radicular e as limas reintroduzidas até o<br />

forame, quando foram fixadas com cianoacrilato de metila.<br />

Após a polimerização do cianoacrilato de metila, as<br />

limas foram seccionadas no mesmo nível do corte da raiz.<br />

Os ápices foram examinados por meio de microscópio<br />

eletrônico de varredura sob aumento de 140x, as imagens<br />

foram capturadas digitalmente e os resultados submetidos<br />

ao teste do qui-quadrado com nível de significância<br />

de 5%. Resultados: observou-se que 63 (75%) forames<br />

apresentaram saída lateral em relação ao ápice radicular<br />

e 21 (25%) coincidiram com ele. Os resultados demonstraram<br />

haver significância estatística 2 ג)‏ =22,1; p=0,00).<br />

Para testar a diferença de proporção, foi utilizado o teste<br />

do qui-quadrado com nível de significância de 5%,<br />

=22,1; 2 ג)‏ que demonstrou haver significância estatística<br />

p=0,00). Conclusão: a saída lateral do forame apical é<br />

mais frequente do que a saída no ápice radicular nos incisivos<br />

centrais superiores, e essa característica anatômica<br />

pode interferir no calibre do instrumento foraminal.<br />

Palavras-chave: Anatomia apical. Instrumentos endodônticos.<br />

Patência apical. Limpeza do canal cementário.<br />

Souza RA, Figueiredo JAP, Colombo S, Dantas JCP, Lago M, Pécora JD. Location of the apical foramen and its relationship with foraminal file size. <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod.<br />

2011 apr-june;1(1):64-8.<br />

1<br />

Curso de Odontologia da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP).<br />

2<br />

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).<br />

3<br />

Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FORP-USP).<br />

Recebido: janeiro de 2011 / Aceito: fevereiro de 2011.<br />

Endereço para correspondência: Ronaldo Araújo Souza<br />

Av. Paulo VI, 2038/504, Ed. Villa Marta, CEP: 41.810-001 - Itaigara<br />

Salvador, Bahia, Brasil. E-mail: ronaldoasouza@lognet.com.br<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 64<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):64-8


Souza RA, Figueiredo JAP, Colombo S, Dantas JCP, Lago M, Pécora JD<br />

Introdução<br />

A participação de microrganismos sediados no<br />

canal cementário no desenvolvimento das lesões periapicais<br />

2,7,10,13,14 parece apontar para a necessidade da<br />

instrumentação também desse segmento do canal 16 .<br />

Define-se patência apical como o emprego de uma<br />

lima K flexível, de pequeno calibre, movida passivamente<br />

através da constricção apical, sem alargá-la 3 .<br />

De acordo com Souza 16 , Hülsmann e Schäfer 5 , não<br />

parece provável que a limpeza do canal cementário<br />

seja promovida por meio desse procedimento, como<br />

sugerido por alguns autores 4,6,19 . Talvez seja necessário<br />

que os instrumentos apresentem calibres mais<br />

compatíveis com o tamanho do canal cementário e<br />

assim possam exercer ação sobre as suas paredes 16 .<br />

Considerando que a saída lateral do forame apical<br />

em relação ao ápice radicular é uma ocorrência<br />

comum 1,8,9,11,12,17,18 , é possível que a pouca flexibilidade<br />

dos instrumentos endodônticos venha a interferir<br />

com a determinação do calibre do instrumento<br />

foraminal.<br />

Foi objetivo deste trabalho analisar a posição do<br />

forame apical e sua relação com o calibre do instrumento<br />

foraminal nos incisivos centrais superiores.<br />

Material e Métodos<br />

Foram utilizados 84 incisivos centrais superiores<br />

humanos com formação completa das raízes, obtidos<br />

do banco de dentes do Curso de Odontologia<br />

da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. Os<br />

critérios adotados para inclusão no estudo foram<br />

ausência de anatomia externa complexa, curvaturas<br />

acentuadas, rizogênese incompleta e reabsorção apical,<br />

observados por meio de exame clínico e radiografias<br />

periapicais.<br />

Após o acesso e preparo da câmara pulpar com<br />

broca esférica carbide # 3 (KG Sorensen, Cotia, Brasil)<br />

e broca Endo-Z (Maillefer, Ballaigues, Suíça), os<br />

canais foram irrigados com 1ml de hipoclorito de<br />

sódio a 2,5% e explorados com a lima 15 K (FKG<br />

Dentaire, La-Chaux-de-Fonds, Suíça), inserida com<br />

movimentos manuais de rotação alternada até o<br />

forame apical ser alcançado e a ponta da lima ficar<br />

visível. Em seguida, com suaves movimentos manuais<br />

de rotação alternada, limas K (FKG Dentaire,<br />

La-Chaux-de-Fonds, Suíça) de diâmetros maiores foram<br />

sequencialmente introduzidas no mesmo limite<br />

apical, até se obter a sensação tátil de ajuste. Foram<br />

retiradas e os canais foram irrigados com 4ml de solução<br />

fisiológica.<br />

Os dentes foram, então, seccionados transversalmente<br />

a 10mm aquém do ápice radicular com disco<br />

diamantado dupla-face (KG Sorensen, Cotia, Brasil) e<br />

as limas reintroduzidas até o forame, quando foram<br />

fixadas com cianoacrilato de metila. Após a polimerização<br />

do cianoacrilato de metila, as limas foram seccionadas<br />

no mesmo nível do corte da raiz.<br />

As raízes foram examinadas por meio do microscópio<br />

eletrônico de varredura Philips XL-30 (Philips,<br />

Eindhoven, Holanda) sob aumento de 140x. As imagens<br />

foram capturadas digitalmente, analisadas com<br />

o intuito de se observar a posição de saída do forame<br />

em relação ao ápice radicular e os resultados foram<br />

submetidos ao teste do qui-quadrado com nível de<br />

significância de 5%.<br />

Resultados<br />

Observou-se que 63 (75%) forames apresentaram<br />

saída lateral em relação ao ápice radicular e 21 (25%)<br />

coincidiram com ele (Fig. 1, 2), demonstrando haver<br />

significância estatística 2 ג)‏ =22,1; p=0,00). A Tabela 1<br />

mostra o diâmetro e a frequência das limas que ajustaram<br />

no canal cementário.<br />

Tabela 1. Distribuição, frequência, média e mediana das limas que ajustaram<br />

o canal cementário.<br />

Lima Número de canais X ± d.p. Mediana<br />

25 5 37±7,74 35<br />

30 21<br />

35 21<br />

40 17<br />

45 10<br />

50 7<br />

55 2<br />

60 1<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 65<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):64-8


[ artigo original ] Posição do forame apical e sua relação com o calibre do instrumento foraminal<br />

A<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Abertura foraminal<br />

Lateral<br />

No ápice<br />

Figura 1. Saída do forame apical em relação ao ápice radicular.<br />

B<br />

Figura 2. Posição do forame apical em relação ao ápice radicular.<br />

A) Saída lateral do forame apical. B) Coincidência do forame apical com<br />

o ápice radicular.<br />

Discussão<br />

A literatura endodôntica tem demonstrado a importância<br />

do controle de infecção para que o sucesso seja<br />

alcançado com maior previsibilidade 10 . Nesse sentido,<br />

a ação mecânica dos instrumentos sobre as paredes<br />

do canal radicular é de fundamental importância.<br />

Diante da pouca adequação dos instrumentos à<br />

anatomia do canal radicular, surgiu a necessidade de<br />

usá-los em aumento sequencial de calibres. Partindo<br />

do princípio de que a ação mecânica sobre as paredes<br />

do canal dentinário é importante para a sua limpeza, a<br />

instrumentação do canal cementário deve merecer as<br />

mesmas considerações. Em outras palavras, o instrumento<br />

deve exercer ação sobre as suas paredes para<br />

que se alcance o objetivo de limpá-lo.<br />

Assim, para efetiva limpeza desse segmento do canal,<br />

o uso de pelo menos um instrumento que se ajuste<br />

às suas paredes, e não um de pequeno calibre, seria<br />

necessário. É possível ainda que o uso sequencial de<br />

instrumentos de maior calibre alcance esse objetivo<br />

com maior previsibilidade 15,16 .<br />

Para que se tenha uma relação adequada de contato<br />

dos instrumentos endodônticos com a abertura<br />

foraminal, é possível que sejam necessários de 3 a 4<br />

instrumentos além do instrumento foraminal inicial,<br />

aquele que ofereceu a sensação tátil de ajuste no forame.<br />

No presente trabalho, 63 (75%) forames apicais<br />

apresentaram saída lateral em relação ao ápice radicular<br />

e 21 (25%) coincidiram com ele (Fig. 1, 2). Ao<br />

analisar os dados pelo teste qui-quadrado, evidenciou-<br />

-se diferença estatística significativa 2 ג)‏ =22,1; p=0,00).<br />

Deve-se ter em mente que, para penetrar nos forames<br />

que apresentam saída lateral, as limas devem ser<br />

pré-curvadas. Observou-se neste trabalho que a lima K<br />

15 (FKG Dentaire, La-Chaux-de-Fonds, Suíça), utilizada<br />

para explorar e confirmar a acessibilidade ao forame<br />

apical, não ofereceu dificuldade na sua penetração.<br />

Entretanto, à medida que aumentavam os calibres das<br />

limas, na busca daquela que melhor se ajustasse ao forame,<br />

percebeu-se uma dificuldade crescente.<br />

Como se pode observar na Tabela 1, o valor médio das<br />

limas que ofereceram a sensação tátil de ajuste no forame,<br />

instrumento foraminal, foi de 37±7, o que corresponderia<br />

aproximadamente a uma lima K#35. Instrumentar o canal<br />

cementário de alguns dentes com 3 a 4 instrumentos além<br />

desse calibre pode acarretar algumas dificuldades.<br />

Pela infecção existente no canal cementário de<br />

dentes com necrose pulpar, particularmente aqueles<br />

com lesão periapical, a sua instrumentação parece lógica.<br />

Se assim é, está subordinada às regras da instrumentação,<br />

entre elas a de que a ação mecânica dos<br />

instrumentos deve se dar da maneira mais plena possível,<br />

o que significa tocar nas paredes.<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 66<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):64-8


Souza RA, Figueiredo JAP, Colombo S, Dantas JCP, Lago M, Pécora JD<br />

Entretanto, é importante entender que os números<br />

utilizados em Endodontia são referenciais, não obrigatórios.<br />

Da mesma forma que a anatomia do canal<br />

radicular e as características dos instrumentos regem<br />

os princípios da instrumentação do canal dentinário,<br />

devem também ser consideradas na instrumentação<br />

do canal cementário. Em outras palavras, ela não deve<br />

ser preconizada sob princípios rígidos preestabelecidos.<br />

Cada caso deve merecer uma análise individual.<br />

Conclusão<br />

Conclui-se que a saída lateral do forame apical é<br />

mais frequente do que a saída no ápice radicular nos<br />

incisivos centrais superiores, e essa característica<br />

anatômica pode interferir no calibre do instrumento<br />

foraminal. Sugerem-se mais estudos sobre a posição<br />

do forame apical e sua relação com o calibre do instrumento<br />

foraminal nos incisivos centrais superiores e<br />

em outros grupos de dentes.<br />

Abstract<br />

Aim: This article analyzed the location of the apical foramen and<br />

its relationship with foraminal file size in maxillary central incisors.<br />

Methods: Eighty four human maxillary central incisors were<br />

used in this study. K-files of progressively increasing diameters<br />

were inserted into the root canal until it got snugly fit and the tip<br />

was visible at the apical foramen. The files were removed and<br />

teeth were cross-sectioned 10 mm from the root apex. The files<br />

were then reinserted, fixed with a cyanoacrylate-based adhesive,<br />

and sectioned at the same level as the root. The root apices were<br />

examined using a scanning electron microscope set at 140x magnification,<br />

the images were captured digitally and the results were<br />

subjected to Chi-square test. Results: It was observed that 63<br />

(75%) of the apical foramen emerged laterally to the root apex<br />

and 21 (25%) coincided with the apex. The results presented statistically<br />

significant differences 2 ג)‏ =22.1; p=0.00). Conclusions:<br />

Lateral emergence of the apical foramen is more common than<br />

coincidence of the foramen with the apex in maxillary central incisors.<br />

This anatomical characteristic may have influence on determination<br />

of the foraminal file size.<br />

Keywords: Apical patency. Apical foramen. Endodontic instruments.<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 67<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):64-8


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© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 68<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):64-8


artigo original<br />

Benito André Silveira Miranzi, MSc, PhD 1<br />

Almir José Silveira Miranzi, DDS 2<br />

Luis Henrique Borges, MSc, PhD 2<br />

Mário Alfredo Silveira Miranzi, DDS, MSc, PhD 3<br />

Fernando Carlos Hueb Menezes, DDS, MSc, PhD 4<br />

Rinaldo Mattar, DDS 1<br />

Thiago Assunção Valentino, MSc, PhD 5<br />

Carlos Eduardo Silveira Bueno, MSc, PhD 6<br />

resumo<br />

O objetivo desta pesquisa experimental in vitro foi analisar<br />

comparativamente as deformações no canal radicular após<br />

o uso do sistema rotatório de NiTi ProTaper Universal,<br />

ProDesign e técnicas híbridas utilizando os dois sistemas.<br />

Foram utilizados e instrumentados, setenta e cinco blocos<br />

com canais radiculares artificiais, divididos em cinco grupos<br />

(n=15). Para o grupo 1, os preparos foram realizados pelo<br />

sistema ProTaper Universal, utilizando a lima F3 no preparo<br />

apical. Para o grupo 2, utilizou-se o sistema ProDesign<br />

com preparo apical usando a lima 30/0,2. Para o grupo 3,<br />

os preparos foram realizados pelo sistema ProTaper Universal,<br />

utilizando a lima F2 no preparo apical. Para o grupo<br />

4, os sistemas ProDesign e ProTaper foram utilizados<br />

em conjunto com preparo realizado com a lima F2. Para<br />

o grupo 5, os sistemas ProDesign e ProTaper foram utilizados<br />

em conjunto com preparo apical realizado com as<br />

limas F1 e F2. As brocas de Gates-Glidden #5, #4, #3, #2 e<br />

#1 realizaram o preparo da porção reta de todos os canais,<br />

caracterizando o preparo cervicoapical. Foram analisados<br />

a diferença e o quociente da quantidade de resina removida<br />

nos seis milímetros de curvatura, aferidos tanto na parte<br />

interna quanto na parte externa. Zip e elbow foram quantificados<br />

pela forma final, após instrumentação em cada<br />

grupo testado. Para análise dos dados utilizou-se os testes<br />

paramétricos (ANOVA p


[ artigo original ] Avaliação in vitro das alterações verificadas em canais radiculares artificiais curvos preparados por dois sistemas rotatórios<br />

Introdução<br />

O principal objetivo do preparo do canal radicular<br />

é proporcionar limpeza e forma, gerando um canal cirúrgico<br />

com forma afunilada, procurando respeitar a<br />

anatomia original 1 . Essa tarefa torna-se particularmente<br />

difícil de ser alcançada em canais curvos e estreitos,<br />

sendo que as limas de aço inoxidável tendem a retificar<br />

a curvatura do canal, produzindo algumas deformações<br />

que foram descritas por Weine et al. 2 , como zip, elbow<br />

e danger zones.<br />

Os sistemas rotatórios de níquel-titânio (NiTi) foram<br />

idealizados para preparo de canais radiculares com curvaturas<br />

acentuadas. O sistema ProDesign (Easy ® Belo<br />

Horizonte, Brasil) é composto por limas de pré-alargamento,<br />

rígidas e com corte agressivo, para trabalhar na<br />

parte reta do canal (#20 conicidade 0,7 e #35 conicidade<br />

0,10). As limas da parte apical têm hélice tripla e<br />

boa flexibilidade (#20 conicidade 0,3; #15 conicidade<br />

0,5; #22 conicidade 0,4; #25 conicidade 0,4; e #20 conicidade<br />

0,6).<br />

Os instrumentos ProTaper (Dentsply-Maillefer ® ,<br />

Ballaigues, Suíça) têm característica inovadora das<br />

suas limas na variação de conicidade (multitaper) de<br />

3,5% a 19%. A técnica utilizada para o sistema é cervicoapical,<br />

sendo que o sistema vem com três limas<br />

de preparo do corpo do canal (shaping SX, S1 e S2),<br />

de maior conicidade, e três limas de preparo apical<br />

(finishing) com diâmetros diferentes: #20 (F1), #25<br />

(F2) e #30 (F3) 3 . Recentemente, a Dentsply-Maillefer ®<br />

(Ballaigues, Suíça) realizou modificações no sistema<br />

denominando-o de ProTaper Universal 4 . Portanto, foi<br />

objetivo deste trabalho avaliar as alterações de forma,<br />

dos canais simulados curvos, após uso dos sistemas<br />

rotatórios ProTaper Universal, ProDesign e hibridização<br />

dos mesmos.<br />

Material e Métodos<br />

Para o presente trabalho, foram utilizados setenta e<br />

cinco (75) blocos transparentes (Endo-Training Dentsply-Maillefer<br />

® , Ballaigues, Suíça) com curvaturas graduais<br />

de aproximadamente 40 graus, de acordo com o<br />

método de Schneider 5 .<br />

Comprimento de trabalho<br />

Para se estabelecer o comprimento de trabalho<br />

(CT), um instrumento tipo K #10 (Dentsply-Maillefer<br />

® , Ballaigues, Suíça) foi posicionado coincidindo<br />

com o final apical de cada canal radicular simulado,<br />

comprimento de patência (CP), sendo estabelecido<br />

utilizando-se da transparência dos blocos de resina,<br />

de tal forma que, para realização da instrumentação<br />

seriada, foi diminuído 1mm dessa medida para estabelecimento<br />

do CT.<br />

Foram confeccionadas duas referências nos blocos<br />

de acrílico, para sobreposição das imagens antes e após<br />

os preparos dos canais radiculares simulados. Foi injetada<br />

tinta nankin (Acrilex ® ) nos canais radiculares artificiais,<br />

para as fotos antes e após os preparos. Os blocos<br />

foram posicionados sempre no mesmo sentido e fotografados<br />

por uma câmara Nikon D7OS com lente macro<br />

de 60mm, distância focal de 0,23m, sob luz fluorescente<br />

e presa a uma estativa LPL, obedecendo à mesma distância<br />

objeto/filme. Para quantificar as distorções produzidas<br />

pelas instrumentações, foi colocada uma secção<br />

medida junto aos blocos de resina. Após os preparos,<br />

os blocos foram novamente fotografados, respeitando<br />

o sentido da posição inicial, e as distâncias objeto/filme<br />

anteriormente estabelecidas. As fotografias foram digitalizadas<br />

e trabalhadas no programa PhotoShop 6.0 (Adobe,<br />

San Jose, CA, EUA) onde foram sobrepostas para<br />

análise dos possíveis alterações provocadas.<br />

Preparo dos canais radiculares simulados<br />

Os setenta e cinco blocos foram aleatoriamente<br />

divididos em cinco grupos com quinze amostras em<br />

cada, e instrumentados por apenas um operador, com<br />

experiência nos dois sistemas utilizados. Para todos os<br />

grupos, na parte reta dos canais simulados, foram utilizadas<br />

brocas de Gates-Glidden (Dentsply-Maillefer ® ,<br />

Ballaigues, Suíça) com avanço progressivo #5, #4, #3,<br />

#2 e #1. O motor elétrico Endo Easy SI (Easy ® , Belo<br />

Horizonte, Brasil) acionou as limas para os dois sistemas.<br />

Para os instrumentos Sx, S1, S2 e F3 ProTaper<br />

Universal foi utilizada velocidade constante de 300rpm<br />

e torque de 3Ncm. Os instrumentos F1 e F2 ProTaper<br />

Universal requereram velocidade de 300rpm e torque<br />

de 2Ncm. Para as limas do sistema ProDesign um chip<br />

dentro do aparelho foi responsável pela programação<br />

da sequência das limas, bem como a velocidade<br />

e o torque. A cada troca dos instrumentos, os canais<br />

foram irrigados copiosamente com 2ml de água destilada<br />

(Pharmakon ® , Uberaba, Brasil), juntamente com<br />

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glicerina bidestilada (Farmax ® , Brasil), 0,25ml, para lubrificar<br />

os condutos e facilitar a instrumentação em todos<br />

os blocos. Um instrumento #10 foi levado até o CP<br />

para evitar acúmulo de raspas de resina. Os blocos com<br />

canais radiculares artificiais foram fixados em um minitorno<br />

(Western ® ), para realização da instrumentação,<br />

facilitando a atuação do operador. Tira de fita adesiva,<br />

de cor escura, foi colocada para mascarar o preparo,<br />

simulando condição clínica.<br />

Grupo 1 (n=15) — preparo com o sistema ProTaper<br />

Universal de (NiTi):<br />

» Lima SX, trabalhando aquém da curvatura;<br />

» Gates-Glidden: 5, 4, 3, 2 e 1;<br />

» Limas S1, S2, F1, F2 e F3 até o CT.<br />

Grupo 2 (n=15) — preparo com o sistema ProDesign<br />

de (NiTi):<br />

» Limas de cor preta (20/07) e verde (35/10) antes<br />

da curvatura;<br />

» Gates-Glidden: 5, 4, 3, 2 e 1;<br />

» Limas #1 20/0,3 (branca); #2 15/0,5 (amarela);<br />

#3 22/04 (vermelha); #4 25/0,4 (azul); #5 20/0,6<br />

(verde) e #6 20/0,7 (preta) no CT;<br />

» Preparo apical #30/02 (azul).<br />

» Limas #1 20/0,3 (branca); #2 15/0,5 (amarela);<br />

#3 22/04 (vermelha); #4 25/0,4 (azul); #5 20/0,6<br />

(verde) ProDesign (Easy ® ) no CT;<br />

» F1 e F2 ProTaper Universal no CT.<br />

Métodos de avaliação<br />

As imagens sobrepostas foram ampliadas e avaliadas<br />

através do programa Image Tool 3.0, que mede<br />

distâncias, ângulos e áreas das figuras. Inicialmente<br />

foi calibrado em milímetros, como unidade de medida,<br />

tendo como referência para calibração as seções<br />

medidas colocadas ao lado dos blocos. No ícone que<br />

mede distâncias, foi marcado milímetro por milímetro<br />

6mm<br />

5mm<br />

4mm<br />

Grupo 3 (n=15) — preparo com o sistema ProTaper<br />

Universal de (NiTi):<br />

» Lima SX, trabalhando aquém da curvatura;<br />

» Gates-Glidden: 5, 4, 3, 2, 1;<br />

» Limas S1, S2, F1 e F2 até o CT.<br />

3mm<br />

2mm<br />

1mm<br />

Grupo 4 (n=15) — preparo com o sistema ProDesign<br />

e ProTaper Universal de (NiTi) técnica híbrida 1:<br />

» Limas de cor preta (20/07) e verde (35/10) ProDesign<br />

antes da curvatura;<br />

» Gates-Glidden: 5, 4, 3, 2 e 1;<br />

» Limas #1 20/0,3 (branca); #2 15/0,5 (amarela);<br />

#3 22/04 (vermelha); #4 25/0,4 (azul); #5 20/0,6<br />

(verde) ProDesign no CT;<br />

» F2 ProTaper Universal no CT.<br />

Figura 1. Níveis avaliados no presente estudo.<br />

0mm<br />

Lado interno<br />

Grupo 5 (n=15) — preparo com o sistema ProDesign<br />

e ProTaper Universal de (NiTi) técnica híbrida 2:<br />

» Limas de cor preta (20/07) e verde (35/10) ProDesign<br />

antes da curvatura;<br />

» Gates-Glidden: 5, 4, 3, 2 e 1.<br />

Figura 2. Mensuração do material removido, lados interno e externo,<br />

em cada nível.<br />

Lado externo<br />

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[ artigo original ] Avaliação in vitro das alterações verificadas em canais radiculares artificiais curvos preparados por dois sistemas rotatórios<br />

até 6mm aquém do final apical do canal simulado,<br />

coincidindo com o final da curvatura (Fig. 1). Foi mensurada<br />

a quantidade de material removido em cada<br />

milímetro da parte curva (6mm) tanto do lado interno<br />

quanto no externo, de acordo com Uzun et al. 6 (Fig. 2).<br />

Para o cálculo da diferença, foi definido como:<br />

D (diferença) = De (material removido parte externa)<br />

– Di (material removido parte interna)<br />

O resultado positivo significou prevalência de desgaste<br />

externo; e resultado negativo, prevalência de desgaste<br />

interno. Quanto mais próximo de zero (0), mais<br />

equilibrado foi o preparo; quanto mais distante desse<br />

valor, positivo ou negativo, maior transporte 7 .<br />

Foram calculados os quocientes entre os desgastes<br />

externo e interno, o maior valor foi colocado no numerador<br />

e o menor no denominador, sendo o preparo mais<br />

equilibrado considerado com valor igual ou próximo de<br />

um 1 . Aydin et al. 8 indicam essa sistemática de avaliação,<br />

no entanto colocam o menor valor no numerador<br />

e o maior no denominador. As sobreposições foram<br />

analisadas por dois avaliadores calibrados, mestres em<br />

Endodontia, não conhecendo a qual grupo pertencia o<br />

preparo a ser avaliado (mascaramento), para verificar a<br />

ocorrência de deformação apical zip e elbow. As figuras<br />

de referência foram as preconizadas por Thompson e<br />

Dummer 9 . As médias de material removido foram utilizadas<br />

para confecção de forma média final dos preparos<br />

em cada grupo.<br />

Resultados<br />

Foram executados os testes de normalidade, para o<br />

quesito diferenças, sendo permitida a adoção de teste<br />

não paramétrico de Kruskal-Wallis para os níveis de 1,<br />

2, 4, 5 e 6mm; e, para o nível de 3mm, o teste paramétrico<br />

ANOVA com auxiliar de Tukey (Tab. 1).<br />

Observa-se, pelos valores médios, que prevaleceu<br />

desgaste externo, para todos os grupos, até o terceiro<br />

milímetro. Os milímetros restantes tiveram maior desgaste<br />

para o lado interno.<br />

Diferenças significativas foram observadas para o<br />

grupo 1 nos níveis 3, 4 e 5. Nos níveis 5 e 6, desgaste<br />

interno significativo foi denotado para os grupos 1 e 5.<br />

Tabela 1. Inferência estatística, para a diferença, comparada dentro de cada nível.<br />

Níveis/Grupos 1mm 2mm 3mm 4mm 5mm 6mm<br />

Grupo 1 0,0880 A 0,1887 A 0,1053 A,b -0,1213 A -0,2813 A -0,2540 Ab<br />

Grupo 2 0,0853 A 0,0840 B 0,0020 C -0,1393 A -0,1913 B -0,1347 Cb<br />

Grupo 3 0,0120 B 0,0713 Cb 0,0687 B -0,0387 B -0,1887 B -0,1933 B<br />

Grupo 4 0,0007 B 0,1313 Ab 0,1220 A -0,0200 B -0,2080 B -0,2640 A<br />

Grupo 5 0,0767 A 0,1253 Ab 0,0760 B -0,0760 A -0,2433 A -0,3127 A<br />

Letras maiúsculas diferentes indicam diferenças significativas; e iguais, não significativas.<br />

Tabela 2. Inferência estatística, para o quociente, comparada dentro de cada nível.<br />

Níveis/Grupos 1mm 2mm 3mm 4mm 5mm 6mm<br />

Grupo 1 5,5647 A 4,1117 A 2,1205 Ab 5,3540 A 5,3539 A 4,0819 Bc<br />

Grupo 2 2,5853 B 2,4453 B 1,3703 C 2,7449 Ab 3,7659 B 2,4744 C<br />

Grupo 3 1,9021 B 2,4570 B 1,9229 Ac 1,5195 Cd 3,8589 B 3,3282 C<br />

Grupo 4 1,9317 B 2,9786 Ba 2,4726 A 1,2185 Dc 4,7617 Ab 7,2291 A<br />

Grupo 5 2,0114 B 2,3212 B 1,6606 Bc 1,6145 Bd 4,8421 Ab 8,5153 A<br />

Letras maiúsculas diferentes indicam diferenças significativas; e iguais, não significativas.<br />

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Miranzi BAS, Miranzi AJS, Borges LH, Miranzi MAS, Menezes FCH, Mattar R, Valentino TA, Bueno CES<br />

I<br />

II<br />

III<br />

Figura 3. Representação esquemática dos desgastes<br />

médios (interno e externo) nos 6 níveis<br />

analisados para os 5 grupos. Observa-se maior<br />

transporte interno e externo para os grupos I e<br />

V, transporte interno para o grupo IV e desgaste<br />

mais equilibrado para os grupos II e III.<br />

IV<br />

V<br />

Foram executados os testes de normalidade para os<br />

quocientes, sendo que foi permitida a adoção de teste<br />

não paramétrico de Kruskal-Wallis para os níveis de 1,<br />

2, 4, 5 e 6mm; e, para o nível de 3mm, o teste paramétrico<br />

ANOVA com auxiliar de Tukey (Tab. 2). As comparações<br />

foram realizadas dentro de cada nível.<br />

Denota-se valores mais distantes de 1 para o grupo<br />

1 nos três milímetros apicais, com exceção do terceiro<br />

milímetro. Nos três milímetros restantes, observam-se<br />

valores mais discrepantes para os grupos 1, 4 e 5.<br />

Pelos desgastes médios, interno e externo, em todos<br />

os níveis, foi realizado um traçado para forma média<br />

final, juntamente com um exemplo das transferências<br />

das médias para o programa Image Tool (Fig. 3).<br />

Para determinação do índice de concordância entre<br />

os avaliadores, foi aplicado o teste Kappa com resultado<br />

valor = 1, verificando-se boa concordância.<br />

Verificou-se também a ocorrência de deformação<br />

apical, zip e elbow, expressa na Tabela 3.<br />

Foi observado que, quando da formação de zip, na<br />

maioria para o grupo 1, os valores para diferença entre<br />

desgaste interno e externo, no nível de 2mm, eram 0,25<br />

e o quociente 4 (Fig. 3). Para o grupo 2, diferença de 0,15<br />

e o quociente 4. Para o grupo 3, diferença de 0,21 e quociente<br />

6. Para o grupo 4, diferença de 0,23 e o quociente<br />

5 e 6. Para o grupo 5, diferença de 0,16 e o quociente 3.<br />

Aplicou-se o teste do qui-quadrado para verificar a<br />

significância entre as comparações. Não se observou<br />

diferenças significativas, mas a quantidade de deformações<br />

no grupo ProTaper Universal (Dentsply-Maillefer ® ),<br />

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[ artigo original ] Avaliação in vitro das alterações verificadas em canais radiculares artificiais curvos preparados por dois sistemas rotatórios<br />

Tabela 3. Formação de zip e elbow.<br />

Deformação ProTaper F3 ProDesign ProTaper F2 ProDesign+F2 ProDesign F1+F2<br />

“Zip” 5 1 1 1 1<br />

“Elbow” 5 1 1 1 1<br />

Observa-se mais deformações para o grupo 1.<br />

grupo 1, foi muito superior à dos demais grupos.<br />

Para fratura e deformações dos instrumentos, foi<br />

confeccionada a Tabela 3.<br />

Observou-se pouca fratura e deformações, demonstrando<br />

a segurança na atuação dos sistemas.<br />

Discussão<br />

A metodologia de canais radiculares artificiais foi<br />

introduzida por Weine et al. 2 para analisar os procedimentos<br />

de preparo do canal. Como observado em<br />

estudos prévios, a utilização de canais radiculares simulados<br />

curvos oferece uma condição padronizada do<br />

comprimento e ângulo de curvatura, bem como a análise<br />

da forma prévia e final dos preparos 2-10 .<br />

Observa-se nessa pesquisa in vitro, pelos valores<br />

das médias de desgaste e das diferenças entre o material<br />

removido das partes externa e interna, um direcionamento<br />

na remoção de material — ou seja, nos 3mm<br />

apicais da curvatura —, e denota-se desgaste mais<br />

externo e nos 3mm cervicais da curvatura, e desgaste<br />

interno para todos os grupos (Tab. 1). Esses resultados<br />

encontram apoio em outras pesquisas 11,12,13 . Para o<br />

nível de 2mm, observam-se maiores transportes para<br />

os grupos 1, 4 e 5 de forma significativa em relação<br />

aos outros grupos testados. Nesse nível, denotou-se<br />

que os maiores desgastes da parte externa e valores<br />

mais distantes de zero induziram à produção de zip<br />

e, consequentemente, elbow. Para o nível de 5mm as<br />

maiores remoções de material foram para os grupos 1<br />

e 5 de forma significativa em relação aos outros grupos<br />

testados, denotando forte tendência de formação<br />

de perfuração para região interna da curvatura. Para<br />

o nível de 6mm, os grupos 1, 4 e 5 tiveram remoção<br />

de material significativa em relação aos outros grupos,<br />

confirmando a tendência de formação de perfuração<br />

para a região interna da curvatura. Pode-se observar<br />

melhores preparos para os grupos 2 e 3 na prevenção<br />

de zip e perfuração interna da curvatura. Os preparos<br />

com maior potencial de formação de deformações<br />

ocorreram nos grupos 1, 4 e 5 (Fig. 3).<br />

A capacidade de manter o canal centrado foi quantificada<br />

através do quociente entre o maior e o menor valor.<br />

O resultado que mais se aproxima de 1 significa que<br />

o sistema tem mais capacidade de equilibrar o desgaste<br />

interno com o externo. Com exceção do nível de 6mm,<br />

observa-se maior distância de 1 para o sistema ProTaper<br />

até a lima apical F3 (grupo 1). Neste nível prevaleceu<br />

maior distanciamento para os grupos 4 e 5. Para o nível<br />

de 1mm houve diferença significativa para os grupos 1<br />

e 2. Observa-se que o valor para o grupo 1 é mais que<br />

o dobro do grupo 2, denotando menor equilíbrio. Para o<br />

nível de 2mm observa-se significância do grupo 1 em relação<br />

aos demais. No nível de 3mm os preparos mais distantes<br />

de 1 significativos foram para os grupos 1 e 4. Para<br />

o nível de 4mm o grupo de desgaste menos centrado<br />

foi o grupo 1. Para o nível de 5mm também prevaleceu<br />

desgaste desequilibrado significativo para o grupo 1. No<br />

nível de 6mm observa-se maior desequilíbrio significativo<br />

para os grupos 4 e 5. Portanto, o sistema ProTaper até<br />

o instrumento F3 foi o que proporcionou preparos mais<br />

irregulares e menos centrados. Observam-se valores<br />

próximos de 1 para os outros grupos, menos nos níveis<br />

de 5 e 6mm para os grupos 4 e 5, que vinham mantendo<br />

regularidade de preparo (Tab. 2). Os sistemas ProTaper<br />

até o instrumento F2 e ProDesign denotaram em todos<br />

os níveis preparos mais centrados.<br />

Peters et al. 14 (através de dentes extraídos e tomografia<br />

computadorizada); Iqbal et al. 15 e Veltri et al. 16<br />

(através do método radiográfico) e Guelzow et al. 17<br />

(através da metodologia de Bramante et al. 18 ) evidenciaram<br />

preparos com pouco transporte apical para o<br />

sistema ProTaper até o instrumento F3. Semelhante resultado<br />

foi obtido por Yun e Kim 19 em canais simulados;<br />

e Ankrun et al. 20 denotaram, inclusive, desgaste interno,<br />

para o lado da furca, em molares extraídos. Shäfer,<br />

Vlassis 11 ; Yoshimine et al. 12 e Uzun et al. 21 realizaram<br />

pesquisa em canais simulados, denotando que o sistema<br />

ProTaper promove grande quantidade de zips quando<br />

levado até a lima F3. Schäfer e Vlassis 22 , em pesquisa<br />

semelhante, só que em dentes extraídos e metodologia<br />

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Miranzi BAS, Miranzi AJS, Borges LH, Miranzi MAS, Menezes FCH, Mattar R, Valentino TA, Bueno CES<br />

de radiografias antes e após os preparos, verificaram<br />

resultados parecidos para o sistema ProTaper.<br />

Loizides et al. 23 e Zhang et al. 10 recomendam o hibridismo<br />

do sistema ProTaper com o sistema Hero (Micro-Mega<br />

® ) e evidenciaram melhores resultados em canais<br />

simulados em forma de “S”. Observaram também<br />

melhor conicidade dos preparos, devido ao taper dos<br />

instrumentos F1 (#20 diâmetro da ponta e inicialmente<br />

taper 0,07) e F2 (#25 diâmetro da ponta e inicialmente<br />

taper 0,08) ProTaper. Setzer et al. 24 não observaram<br />

diferenças na combinação de diferentes sistemas no aumento<br />

do nível do transporte apical. Evidenciou-se que<br />

o grupo 4, com técnica híbrida, obteve formas regulares<br />

na porção apical e maior conicidade que o grupo 2<br />

ProDesign utilizando preparo apical #30/0,2. Essa condição<br />

favorece uma melhor limpeza e melhora a qualidade<br />

da obturação. Atenção especial deve ser dada<br />

ao deslocamento, nos níveis de 5 e 6mm, lado interno,<br />

para os grupos 1, 4 e 5, sendo evidenciada tendência à<br />

formação perfuração interna da curvatura.<br />

Quanto à formação de zip e elbow, o aspecto visual forneceu<br />

maior quantidade de deformações para o sistema<br />

ProTaper quando da atuação do instrumento F3 (grupo 1).<br />

Esse resultado é semelhante ao observado por outros<br />

autores 8,11,12,17,22,25,26 . Contrariamente Guelsow et al. 17<br />

evidenciaram menor quantidade de irregularidades<br />

para o sistema ProTaper.<br />

É preciso cuidado ao transpor estes resultados para<br />

o preparo em pacientes, apesar das inúmeras vantagens<br />

dos canais radiculares artificiais, eles não simulam<br />

a complicada anatomia interna, principalmente o achatamento<br />

das raízes em canais curvos. Fatores como<br />

limpeza devem ser considerados, o que não se pode<br />

evidenciar em canais radiculares artificiais, porque os<br />

mesmos são confeccionados de forma cilíndrica, enquanto<br />

os canais radiculares dos dentes humanos apresentam<br />

uma complexa anatomia.<br />

Conclusão<br />

Em conclusão, com base na metodologia empregada e<br />

nos resultados obtidos, pode-se concluir que: pelos resultados<br />

da diferença e quociente, verificou-se maior distanciamento<br />

dos valores de referência (0 e 1) para o grupos<br />

1, 4 e 5. Maior quantidade de zip e elbow foi evidenciada<br />

para o grupo 1. As médias de desgaste mostraram configurações<br />

médias mais regulares para os grupos 2 e 3.<br />

Abstract<br />

The aim of this in vitro experimental analysis was to compare the<br />

changes in canal shape after the use of ProTaper Universal NiTi<br />

rotary system, ProDesign system, and a hybrid technique using<br />

both systems. A total of seventy-five simulated root canals were<br />

prepared and divided into five groups (n = 15). For Group 1, the<br />

ProTaper Universal System with apical preparation file F3 was<br />

used. For Group 2, ProDesign System with apical preparation using<br />

file 30/0.2 was used. For Group 3, ProTaper Universal System<br />

with apical preparation with file F2 was applied. For Group<br />

4, ProDesign System and ProTaper Universal System with apical<br />

preparation with file F2 were applied. For Group 5, ProDesign System<br />

and ProTaper Universal System with apical preparation F1<br />

and F2 were used. All instrumentation was performed with the help<br />

of Gates-Glidden drills #5, #4, #3, #2 and #1 according to crowdown<br />

preparation. The difference and the quotient the amount of<br />

removed resin were analyzed within six millimeters of the canal<br />

curvature, measured for both inner and outer walls. The amount of<br />

zip and elbow apical formation and mean final shape for each type<br />

tested were analyzed. Data were analyzed using parametric tests<br />

(ANOVA p


[ artigo original ] Avaliação in vitro das alterações verificadas em canais radiculares artificiais curvos preparados por dois sistemas rotatórios<br />

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© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 76<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):69-76


artigo original<br />

A persistência de diferentes pastas medicamentosas<br />

à base de hidróxido de cálcio em canais radiculares:<br />

estudo por MEV<br />

Hélio Katsuya Onoda, DDS 1<br />

Gerson Hiroshi Yoshinari, DDS, MsC, PhD 2<br />

Key Fabiano Souza Pereira, MSc 2<br />

Ângela Antonia Sanches Tardivo Delben, MSc, PhD 3<br />

Paulo Zárate, DDS, MSc, PhD 4<br />

Danilo Mathias Zanello Guerisoli, DDS, MSc, PhD 2<br />

Resumo<br />

Introdução: existe a possibilidade da medicação intracanal<br />

à base de hidróxido de cálcio persistir no interior dos<br />

canais radiculares mesmo após a tentativa de remoção no<br />

momento da obturação. Objetivos: avaliar, por microscopia<br />

eletrônica de varredura, a persistência de resíduos no<br />

interior do canal radicular oriundos de medicações intracanal<br />

à base de Ca(OH) 2<br />

associado a diferentes veículos.<br />

Métodos: 36 incisivos bovinos tiveram suas coroas seccionadas,<br />

os canais radiculares preparados e separados<br />

aleatoriamente em seis grupos distintos, de acordo com o<br />

tipo de pasta medicamentosa a ser utilizada. No Grupo I<br />

(controle), os canais não receberam qualquer tipo de medicação<br />

intracanal. No Grupo II, os canais foram totalmente<br />

preenchidos com pó de hidróxido de cálcio P.A. O Grupo<br />

III recebeu uma mistura de Ca(OH) 2<br />

com soro fisiológico,<br />

enquanto os canais do Grupo IV foram preenchidos com<br />

Ca(OH) 2<br />

misturado com glicerina. Hidróxido de cálcio associado<br />

a propilenoglicol 400 ou polietilenoglicol 400 foi<br />

utilizado nos Grupos V e VI, respectivamente. Após uma<br />

semana, a medicação intracanal foi removida, as raízes<br />

cisalhadas e preparadas para observação em microscópio<br />

eletrônico de varredura. Fotomicrografias representativas<br />

do terço apical de cada grupo experimental foram obtidas<br />

e analisadas quantitativamente por meio de grade de integração,<br />

com resultados expressos em porcentagem de<br />

debris recobrindo as paredes dentinárias. Resultados: a<br />

análise estatística (análise de variância complementada<br />

por teste de Tukey, α=0,05) evidenciou diferenças significativas<br />

entre os grupos testados, indicando que o hidróxido<br />

de cálcio associado ao propilenoglicol ou polietilenoglicol<br />

apresentou maior persistência de resíduos no canal. As paredes<br />

dentinárias de canais que receberam medicação à<br />

base de hidróxido de cálcio puro ou associado à glicerina<br />

apresentaram quantidades de debris semelhantes ao grupo<br />

controle. Conclusões: medicamentos à base de Ca(OH) 2<br />

puro ou sua associação com glicerina apresentam maior<br />

facilidade de remoção do interior dos canais radiculares.<br />

Palavras-chave: Hidróxido de cálcio. Medicação intracanal.<br />

Veículos.<br />

Onoda HK, Yoshinari GH, Pereira KFS, Delben AAST, Zárate P, Guerisoli DMZ. The persistence of different calcium hydroxide paste medications in root canals: an SEM<br />

study. <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):77-81.<br />

1<br />

Aluno de Pós-Graduação, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Programa de Saúde<br />

e Desenvolvimento na Região Centro-Oeste.<br />

2<br />

Disciplina de Endodontia, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.<br />

3<br />

Departamento de Física, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.<br />

4<br />

Disciplina de Cariologia, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.<br />

Recebido: janeiro de 2011 / Aceito: fevereiro de 2011.<br />

Endereço para correspondência: Danilo M. Zanello Guerisoli<br />

Av. Senador Filinto Müller, s/n, Campo Grande / MS - CEP: 79.076-000<br />

E-mail: danilo.zanello@uol.com.br<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 77<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):77-81


[ artigo original ] A persistência de diferentes pastas medicamentosas à base de hidróxido de cálcio em canais radiculares: estudo por MEV<br />

Introdução<br />

A eliminação de microrganismos no ambiente do<br />

canal radicular antes da obturação é de fundamental<br />

importância para o tratamento da periodontite apical, e<br />

a literatura demonstra a necessidade de usar um curativo<br />

de demora para atingir tal meta 1-5 .<br />

O hidróxido de cálcio (Ca[OH] 2<br />

) tem sido usado<br />

com sucesso em Endodontia como agente microbicida,<br />

devido ao seu efeito causado pela dissociação iônica<br />

em íons cálcio e hidroxila. Essa última inibe as enzimas<br />

bacterianas, agindo sobre a membrana citoplasmática<br />

das bactérias e gerando efeitos irreversíveis, enquanto<br />

o cálcio ativa enzimas teciduais, tais como fosfatase alcalina,<br />

levando a um efeito mineralizador 2,4 .<br />

O uso de Ca(OH) 2<br />

, no entanto, não se limita à sua<br />

ação microbicida. Outros usos dessa substância incluem<br />

a inibição da reabsorção dentária 4,6,7 e a indução<br />

de reparo por formação de tecido mineralizado 4,8,9 , o<br />

que torna seu uso recomendado em diversas situações<br />

clínicas 4 . Atualmente, é considerado o melhor medicamento<br />

para induzir a deposição de tecido mineralizado<br />

e no tratamento de tecidos pulpares e periapicais 5 .<br />

O veículo usado em associação ao Ca(OH) 2<br />

para<br />

criar uma pasta garante características químicas que<br />

irão influenciar o seu manejo clínico durante a aplicação,<br />

bem como sua taxa de dissociação iônica e difusão.<br />

Alguns autores acreditam que os veículos hidrossolúveis<br />

têm melhor comportamento biológico (qualidades<br />

antimicrobianas e indução de reparo tecidual) devido a<br />

uma maior dissociação iônica, enquanto outros defendem<br />

o uso de veículos viscosos ou oleosos, uma vez<br />

que as propriedades alcalinas de pastas só serão esgotadas<br />

após um longo período 5,10,11,12 .<br />

Antes da obturação do sistema de canais radiculares,<br />

no entanto, o hidróxido de cálcio deve ser completamente<br />

removido, a fim de evitar o fracasso do<br />

tratamento 13 . A literatura mostra que essa é uma tarefa<br />

difícil, senão impossível. Margelos et al. 14 demonstraram<br />

que é necessário combinar o hipoclorito de sódio<br />

(NaOCl) e ácido etilenodiamino tetra-acético (EDTA)<br />

como irrigantes à instrumentação manual para melhorar<br />

a eficiência de remoção de Ca(OH) 2<br />

do canal radicular,<br />

mas a sua completa eliminação não pode ser<br />

alcançada. Lambrianidis et al. 15 relataram que, mesmo<br />

após irrigação com hipoclorito de sódio, EDTA e reinstrumentação<br />

com uma lima #25, uma quantidade considerável<br />

de hidróxido de cálcio (25 a 45%) proveniente<br />

da medicação intracanal permaneceu ligada às paredes<br />

do canal. As tentativas de remoção desse medicamento<br />

com instrumentos rotatórios em níquel-titânio, irrigação<br />

sônica ou ultrassônica ou ácido cítrico em substituição<br />

ao EDTA mostraram-se infrutíferas, dado que o<br />

Ca(OH) 2<br />

ainda permanecia no canal radicular 16-19 .<br />

A persistência de Ca(OH) 2<br />

no canal radicular antes<br />

da obturação pode levar ao fracasso do tratamento<br />

endodôntico, pela criação de espaços vazios no<br />

canal radicular que não serão devidamente preenchidos,<br />

afetando o selamento apical 13,15,20,21 . Mesmo<br />

pequenas quantidades de Ca(OH) 2<br />

remanescentes no<br />

canal radicular podem obliterar túbulos dentinários,<br />

afetando a adesão do cimento 20,22,23 ou causar reações<br />

químicas adversas ao cimento, o que pode levar<br />

a um prognóstico imprevisível 14,20 .<br />

Considerando que o veículo utilizado durante a preparação<br />

do curativo intracanal de hidróxido de cálcio<br />

pode interferir com a sua capacidade de remoção, o<br />

objetivo deste estudo é avaliar, sob microscopia eletrônica<br />

de varredura, a persistência no canal radicular<br />

de resíduos de medicamentos à base de hidróxido de<br />

cálcio preparados com soro fisiológico, glicerina, propilenoglicol<br />

400 ou polietileneglicol 400.<br />

Material e Métodos<br />

Trinta e seis incisivos bovinos com ápices radiculares<br />

fechados tiveram suas coroas removidas e os canais<br />

instrumentados de acordo com a técnica step-back<br />

até a lima de memória #50. A irrigação foi realizada<br />

utilizando-se 1ml de hipoclorito de sódio a 2,5% entre<br />

os instrumentos, com uma irrigação final de 1ml de<br />

EDTA a 15% por 1 minuto, seguido de 10ml de água<br />

destilada. Os espécimes foram, então, divididos aleatoriamente<br />

em seis grupos experimentais, de acordo com<br />

a medicação intracanal a ser usada: GI = nenhum medicamento<br />

(controle); GII = pó de Ca(OH) 2<br />

(Synth, Diadema,<br />

SP, Brasil); GIII = Ca(OH) 2<br />

misturado com soro<br />

fisiológico; GIV = Ca(OH) 2<br />

misturado com glicerina<br />

(Synth, Diadema, SP, Brasil); GV = Ca(OH) 2<br />

misturado<br />

com propilenoglicol 400 (Synth, Diadema, SP, Brasil);<br />

GVI = Ca(OH) 2<br />

misturado com polietilenoglicol 400<br />

(Synth, Diadema, SP, Brasil). Um porta-amálgama pediátrico<br />

foi utilizado no GII para colocar o Ca(OH) 2<br />

em<br />

pó no interior do canal radicular, sendo então compactado<br />

com um condensador endodôntico de Paiva número<br />

2. Os outros grupos tiveram os canais radiculares<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 78<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):77-81


Onoda HK, Yoshinari GH, Pereira KFS, Delben AAST, Zárate P, Guerisoli DMZ<br />

preenchidos com o auxílio de uma espiral lentulo (Maillefer,<br />

Ballaigues, Suíça). As radiografias das raízes foram<br />

obtidas tanto no perfil vestibulolingual como proximal,<br />

para garantir que a medicação encontrava-se homogênea<br />

e não foram produzidas lacunas durante a sua introdução.<br />

As embocaduras dos canais foram seladas com<br />

Coltosol ® (Coltène, Whaledent, Suíça).<br />

Após armazenamento por sete dias a 37°C e 100%<br />

de umidade relativa, as amostras foram irrigadas 1mm<br />

aquém do comprimento de trabalho com 5ml de hipoclorito<br />

de sódio a 2,5% alternado com 5ml de EDTA a<br />

15%, usando a lima de memória para atingir o comprimento<br />

de trabalho. A irrigação final foi realizada com<br />

soro fisiológico e as amostras foram processadas para<br />

observação ao microscópio eletrônico de varredura.<br />

Três fotomicrografias representativas do terço apical<br />

de cada amostra foram obtidas e analisadas quantitativamente<br />

para detritos, com o auxílio de uma grade de<br />

10x10 células. Os resultados foram registrados em porcentagem<br />

de detritos que cobriam as paredes do canal<br />

radicular, e a análise estatística foi realizada (análise de<br />

variância e teste de Tukey post hoc, α = 0,05).<br />

Resultados<br />

A Tabela 1 apresenta a média de debris encontrados<br />

nos grupos experimentais, de acordo com observações<br />

em MEV.<br />

A análise estatística mostrou diferenças estatisticamente<br />

significativas entre os grupos (p0,05).<br />

Discussão<br />

Medicações intracanal à base de hidróxido de cálcio<br />

são usadas rotineiramente em Endodontia para erradicar<br />

microrganismos no sistema de canal radicular, que devido<br />

à sua complexa anatomia pode alojar tais patógenos mesmo<br />

após cuidadosa instrumentação e irrigação, levando<br />

ao insucesso do tratamento 1-4 . Vários veículos associados<br />

ao Ca(OH) 2<br />

têm sido propostos, e um consenso ainda parece<br />

longe de ser alcançado 5 .<br />

A maioria dos autores concorda que tais medicamentos<br />

devem ser removidos do canal radicular antes da obturação,<br />

uma vez que podem interferir com a qualidade<br />

da mesma, especialmente na vedação apical 13-23 , enquanto<br />

outros estudos indicam que a persistência de Ca(OH) 2<br />

não<br />

promove uma maior infiltração apical 24,25 . No entanto, Kim<br />

e Kim 20 apontam que esses estudos também observaram<br />

que, quando o curativo de hidróxido de cálcio foi mantido<br />

no canal, a infiltração apical aumentou com o tempo.<br />

O fato do corante azul de metileno sofrer descoloração<br />

quando em contato com o Ca(OH) 2<br />

também pode levar a<br />

resultados falso-positivos, o que pode invalidar alguns dos<br />

resultados obtidos em experimentos anteriores 26,27 .<br />

A remoção completa do Ca(OH) 2<br />

antes da obturação<br />

é impossível de ser verificada pelo clínico, uma vez<br />

que esse material tem o mesmo aspecto radiográfico<br />

que o da dentina 23 . De acordo com estudos anteriores,<br />

mesmo pequenas concentrações de Ca(OH) 2<br />

sobre a<br />

parede do canal radicular podem interferir na presa de<br />

cimentos à base de óxido de zinco-eugenol 13,20 . Cimentos<br />

à base de resina também podem sofrer efeitos adversos<br />

da medicação intracanal 21 .<br />

O presente estudo avaliou a persistência da medicação<br />

de Ca(OH) 2<br />

nas paredes do canal radicular a nível microscópico.<br />

A escolha de usar incisivos bovinos foi devida<br />

à largura de seu canal radicular, o que proporcionou um<br />

espaço padronizado e generoso para irrigação, criando assim<br />

as condições mais favoráveis possíveis para a retirada<br />

dos medicamentos. Complexidades anatômicas poderiam<br />

reter mecanicamente mais medicação intracanal 19 , o que<br />

levaria a resultados tendenciosos. A opção do uso de Na-<br />

OCl e EDTA como irrigantes e da lima de memória no<br />

comprimento de trabalho também constitui uma tentativa<br />

de retirar o máximo possível de medicação das paredes<br />

do canal radicular.<br />

Os resultados indicam que, apesar dessas condições<br />

favoráveis, o Ca(OH) 2<br />

ainda persiste no interior do canal<br />

após tentativas de remoção. Isso está de acordo com<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 79<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):77-81


[ artigo original ] A persistência de diferentes pastas medicamentosas à base de hidróxido de cálcio em canais radiculares: estudo por MEV<br />

estudos anteriores que relataram que a remoção de medicações<br />

à base de hidróxido de cálcio é extremamente<br />

difícil ou mesmo impossível 13-21,23 .<br />

O uso de Ca(OH) 2<br />

puro como curativo de demora, embora<br />

relatado em alguns estudos 18,28 , parece ser tanto impraticável<br />

clinicamente em canais estreitos e pouco desejável,<br />

já que a difusão iônica seria mínima. No presente estudo, foi<br />

utilizado apenas como um controle, para permitir a comparação<br />

com outras formulações. Embora tenha apresentado<br />

menor persistência no sistema de canais radiculares nos<br />

resultados, o uso de tal medicamento sem um veículo não<br />

parece ser adequado ou clinicamente desejável.<br />

O propilenoglicol e o polietilenoglicol usados como<br />

veículo oferecem uma consistência viscosa à pasta, o que<br />

facilita a sua inserção no canal radicular, levando alguns<br />

autores a preferirem essa formulação. A liberação lenta de<br />

íons e a reabsorção pelos tecidos circunvizinhos também<br />

estão entre as qualidades advogadas 5,11,12 . No entanto, os<br />

resultados sugerem que a remoção da pasta viscosa pode<br />

ser mais difícil do que outras formulações, causando a<br />

persistência de um excesso de medicação ao nível apical<br />

do canal radicular. Resultados semelhantes foram encontrados<br />

por Lambrianidis et al. 15 e Nandini et al. 18 , mas<br />

utilizando pastas à base em metilcelulose ou óleo de silicone,<br />

comercialmente disponíveis. Outros autores não encontraram<br />

diferenças em relação à persistência de medicamentos<br />

de Ca(OH) 2<br />

associados a diferentes veículos 23,28 .<br />

A associação de Ca(OH) 2<br />

com soro fisiológico mostrou-se<br />

mais fácil de remover dos canais radiculares do<br />

que o propilenoglicol ou polietilenoglicol, mas, ainda assim,<br />

persistiu em maior quantidade quando comparado à<br />

glicerina usada como veículo. Outros estudos podem ser<br />

necessários para compreender as razões da menor quantidade<br />

de Ca(OH) 2<br />

encontrada no grupo Ca(OH) 2<br />

+ glicerina<br />

(GIV).<br />

Conclusões<br />

1. Medicamentos à base de hidróxido de cálcio puro<br />

ou sua associação com glicerina permitem uma remoção<br />

mais fácil do canal radicular.<br />

2. A associação de Ca(OH) 2<br />

com polietilenoglicol<br />

ou propilenoglicol 400 determina uma maior persistência<br />

da medicação dentro do canal antes da<br />

obturação.<br />

3. Nenhuma das medicações intracanal testadas pode<br />

ser totalmente removida do canal radicular.<br />

The persistence of different calcium hydroxide paste medications in root<br />

canals: an SEM study<br />

Abstract<br />

Introduction: There is a possibility of intracanal medication remain<br />

in the root canal even after its removal prior to obturation.<br />

Objectives: The present study aims to evaluate under scanning<br />

electron microscopy the persistence of residues in the root canal<br />

from calcium hydroxide medications prepared with different<br />

vehicles. Methods: Thirty-six bovine incisors had their crowns<br />

removed, the root canals prepared and were assigned randomly<br />

to six different experimental groups, according to the intracanal<br />

medication used. Group I (control) received no intracanal medication,<br />

whereas root canals of Group II were filled with P.A. calcium<br />

hydroxide. Group III received a mixture of Ca(OH) 2<br />

and saline<br />

solution, in Group IV glycerin was used as vehicle, and Groups<br />

V and VI received Ca(OH) 2<br />

mixed with propylene glycol or polyethylene<br />

glycol 400, respectively. After one week, medication<br />

was removed, roots were split and the canals observed under the<br />

scanning electron microscope. Representative photomicrographs<br />

of the apical third of each experimental group were observed and<br />

analyzed quantitatively by means of a grid, with results expressed<br />

in percentage of canal walls covered by debris. Results: Statistical<br />

analysis (one-way ANOVA and Tukey’s post hoc test, α=0.05)<br />

revealed significant differences between groups, indicating higher<br />

amounts of Ca(OH) 2<br />

residues in the canals where propylene glycol<br />

or polyethylene glycol were used as vehicles. The dentinal<br />

walls of the canals that received pure P.A. calcium hydroxide or<br />

its association to glycerin presented amounts of debris similar to<br />

the control group. Conclusions: Ca(OH) 2<br />

P.A. based medications<br />

or its association to glycerin allows an easier removal from<br />

the root canal.<br />

Keywords: Calcium hydroxide. Intracanal medication. Vehicles.<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 80<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):77-81


Onoda HK, Yoshinari GH, Pereira KFS, Delben AAST, Zárate P, Guerisoli DMZ<br />

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© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 81<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):77-81


artigo original<br />

Análise do nível de sujidade e sua interferência no<br />

processo de esterilização de limas endodônticas<br />

através da microscopia eletrônica de varredura e<br />

teste microbiológico<br />

Matheus Albino Souza, DDS 1<br />

Márcio Luiz Fonseca Menin, MSc, PhD 1<br />

Francisco Montagner, DDS, MSc, PhD 2<br />

Doglas Cecchin, DDS, MSc, PhD 3<br />

Ana Paula Farina, MSc, PhD 3<br />

resumo<br />

Objetivo: verificar o nível de limpeza de limas endodônticas<br />

após seu uso no preparo de canais radiculares e sua<br />

influência no processo de esterilização. Métodos: 50 limas<br />

endodônticas foram divididas em duas amostras: a primeira<br />

amostra de 25 limas para análise em microscopia eletrônica<br />

de varredura (MEV) para verificação da limpeza; e<br />

outra de 25, para análise microbiológica nos meios Tioglicolato<br />

e BHI, após a esterilização. Resultados: as limas<br />

endodônticas apresentaram diferentes graus de sujidade<br />

em sua parte ativa na avaliação através da microscopia eletrônica<br />

de varredura; e, através dos testes microbiológicos,<br />

foi possível verificar que não houve crescimento bacteriano<br />

após a esterilização. Conclusão: apesar da presença significativa<br />

de sujidade nas limas endodônticas em sua parte ativa,<br />

essa sujidade não interferiu no processo de esterilização.<br />

Palavras-chave: Sujidade. Limas endodônticas. Teste<br />

bacteriológico. Microscopia eletrônica de varredura.<br />

Souza MA, Menin MLF, Montagner F, Cecchin D, Farina AP. SEM and microbiological analysis of dirt of endodontic files after clinical use and its influence on sterilization<br />

process. <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):82-6.<br />

1<br />

Faculdade de Odontologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto<br />

Alegre, RS, Brasil.<br />

2<br />

Faculdade de Odontologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS,<br />

Brasil.<br />

3<br />

Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Universidade Estadual de Campinas, Piracicaba,<br />

SP, Brasil.<br />

Recebido: janeiro de 2011 / Aceito: fevereiro de 2011.<br />

Endereço para correspondência: Matheus Albino Souza<br />

Av. Ipiranga 6681, Prédio 6, sala 507<br />

CEP: 90.619-900 - Porto Alegre / RS<br />

E-mail: matheus292@yahoo.com.br<br />

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<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):82-6


Souza MA, Menin MLF, Montagner F, Cecchin D, Farina AP<br />

Introdução<br />

O sucesso da terapia endodôntica está embasado<br />

não somente no correto diagnóstico, mas também no<br />

adequado planejamento e execução técnica e, principalmente,<br />

nos cuidados com a manutenção da cadeia<br />

asséptica durante o atendimento do paciente.<br />

Os instrumentos endodônticos são utilizados para<br />

remover os remanescentes de tecido pulpar durante os<br />

procedimentos de limpeza e modelagem do sistema de<br />

canais radiculares. Esses instrumentos podem ser reciclados<br />

para reutilização após o seu primeiro uso. Em<br />

um amplo estudo, foi registrado que 88% dos dentistas<br />

clínicos gerais no Reino Unido reprocessam as limas<br />

endodônticas após o seu uso 1 .<br />

Como conduta obrigatória de biossegurança, os instrumentos<br />

endodônticos, para serem reutilizados, terão<br />

que passar por um processo de limpeza antes da esterilização<br />

2 , uma vez que a presença de matéria orgânica<br />

e/ou resíduos nos instrumentos pode interferir no processo<br />

de esterilização, pois cria barreiras de proteção<br />

para os microrganismos, podendo impedir a penetração<br />

do agente esterilizante 3 .<br />

Os procedimentos de pré-lavagem e autoclave podem<br />

ser utilizados para esterilizar os instrumentos endodônticos<br />

4,5 . No entanto, a complexa arquitetura das<br />

limas endodônticas pode dificultar tais procedimentos<br />

5 . Estruturas dentárias e debris orgânico têm sido<br />

observados na superfície de instrumentos rotatórios,<br />

especialmente na região de trincas 6 . Segundo estudo<br />

prévio, 66% das limas endodônticas recuperadas por<br />

dentistas clínicos gerais se mantiveram visivelmente<br />

contaminadas 7 . Dessa forma, existe a possibilidade de<br />

contaminação cruzada associada com a incapacidade<br />

de limpar e esterilizar adequadamente as mesmas,<br />

sendo sugerido que esses instrumentos devam ser dispositivos<br />

de uso único.<br />

Portanto, o objetivo do presente estudo foi determinar<br />

a presença de debris remanescentes na superfície<br />

das limas endodônticas após a realização de um processo<br />

de limpeza e analisar a sua influência sobre o processo<br />

de esterilização.<br />

Metodologia<br />

Foram selecionadas para a realização do presente<br />

estudo 50 limas endodônticas tipo K #25, independentemente<br />

de sua marca comercial. As amostras foram<br />

divididas em dois grupos (n=25) de acordo com<br />

Tabela 1. Distribuição das amostras nos grupos.<br />

Grupo Método N Utilização Limpeza Esterilização<br />

prévia<br />

G1 MEV 25 Sim Sim Sim<br />

G2 Cultura 25 Sim Sim Sim<br />

o método de análise, utilização prévia e realização de<br />

protocolo de desinfecção, conforme a Tabela 1.<br />

Os instrumentos endodônticos foram obtidos diretamente<br />

de alunos da Faculdade de Odontologia da<br />

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul<br />

(PUC-RS, Porto Alegre, RS, Brasil). O protocolo de limpeza<br />

utilizado consistiu em escovação com gluconato<br />

de clorexidina 2% (Globomed, Sacomã, SP, Brasil), lavagem<br />

em água corrente e secagem. Previamente às<br />

análises, as amostras foram acondicionadas em tubos<br />

plásticos tipo Eppendorf (Eppendorf AG, São Paulo, SP,<br />

Brasil) e esterilizadas em autoclave (Dabi Atlante, Ribeirão<br />

Preto, SP, Brasil).<br />

Análise em Microscopia Eletrônica de Varredura<br />

As limas endodônticas do Grupo 1 foram removidas<br />

dos tubos plásticos de Eppendorf com uma pinça clínica<br />

e manipuladas apenas pelo cabo, evitando qualquer<br />

contato na parte ativa do instrumento. Os instrumentos<br />

tiveram seus cabos removidos através de um alicate de<br />

corte e suas hastes metálicas, compostas pela lâmina<br />

de corte e porção intermediária, foram fixadas em stubs<br />

para posterior observação.<br />

Após esse processo, as amostras foram levadas ao<br />

microscópio eletrônico de varredura. A porção inicial<br />

da lâmina ativa de cada instrumento foi avaliada sob<br />

magnificação de 150 vezes e com 15kV, sendo obtidas<br />

as imagens para cada instrumento.<br />

As imagens foram avaliadas por 4 examinadores<br />

previamente calibrados através de teste Kappa para<br />

concordância interexaminadores. Foi atribuído um<br />

escore numérico para cada imagem, representando<br />

o respectivo grau de sujidade para cada instrumento:<br />

1 = ausência de resíduos na superfície da lima; 2 = superfície<br />

da lima praticamente limpa, ou seja, apresentando<br />

pequena quantidade de resíduos; 3 = superfície da lima<br />

apresentando média quantidade de resíduos; 4= superfície<br />

da lima com grande quantidade de resíduos.<br />

Os dados obtidos foram submetidos ao teste de<br />

Kruskal-Wallis, utilizado a moda da avaliação qualitativa,<br />

em um nível de significância de 5%.<br />

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[ artigo original ] Análise do nível de sujidade e sua interferência no processo de esterilização de limas endodônticas através da microscopia eletrônica de varredura e teste microbiológico<br />

Análise microbiológica da<br />

contaminação das limas<br />

Todos os procedimentos foram realizados sob condições<br />

rigorosas de assepsia, no interior de uma cabine<br />

de fluxo laminar. Cada lima endodôntica foi removida do<br />

tubo plástico de Eppendorf com uma pinça clínica esterilizada<br />

e, então, introduzida num tubo de vidro contendo<br />

meio de cultura líquido BHI (Brain Heart Infusion, Himedia,<br />

Curitiba, PR, Brasil). Em seguida, a mesma foi removida<br />

e inserida em um tubo de ensaio contendo meio<br />

líquido Tioglicolato (Himedia, Curitiba, PR, Brasil). Como<br />

controle negativo, foram utilizados dois tubos de meio<br />

de cultura líquido BHI e Tioglicolato, que não receberam<br />

nenhuma amostra. O controle positivo foi realizado<br />

através da inoculação de cepas de periodontopatógenos<br />

provenientes de amostras clínicas e isolados de Enterococcus<br />

spp. Os tubos foram encubados em estufa microbiológica,<br />

na presença de oxigênio, em temperatura de<br />

37°C por 72 horas. A presença de microrganismos foi<br />

confirmada pela observação de turvação do meio de cultura<br />

líquido após 24, 28 ou 72 horas, sendo que as amostras<br />

negativas seriam aquelas que não provocassem alteração<br />

no meio de cultura, enquanto as amostras positivas<br />

seriam aquelas que provocassem turvação do mesmo.<br />

Para comprovar a esterilidade das limas, após a<br />

observação da presença ou ausência de turbidez nos<br />

meios líquidos, foi feita a inoculação em meio de cultura<br />

sólido. Uma alíquota de 10µl de BHI foi inoculada sobre<br />

a superfície do meio de cultura (ágar simples), deixada<br />

secar e incubada em aerobiose a 37ºC. O mesmo procedimento<br />

foi executado com o Tioglicolato de Sódio,<br />

porém as placas foram incubadas em microaerofilia<br />

pelo método da chama da vela.<br />

Resultados<br />

Os resultados mostraram que no Grupo 1 as limas<br />

endodônticas apresentaram diferentes graus de sujidade<br />

após a realização do protocolo de limpeza das mesmas<br />

(Fig. 1), apresentando, na maioria das vezes, uma<br />

superfície com grande quantidade de resíduos (Gráf. 1).<br />

Além disso, os resultados mostraram que não houve<br />

presença de crescimento bacteriano na superfície das limas<br />

endodônticas nos períodos de 24, 48 e 72 horas após<br />

a incubação, tanto em meio BHI como no meio Tioglicolato,<br />

exceto o controle positivo, onde houve a presença de<br />

crescimento bacteriano em todos os períodos de observação<br />

e em ambos os meios de cultura (Gráf. 2, 3).<br />

A<br />

C<br />

D<br />

Figura 1. Escores para a determinação da quantidade de sujidades na<br />

superfície de limas endodônticas: A) Escore 1 - ausência de resíduos<br />

na superfície da lima; B) Escore 2 - superfície da lima praticamente limpa,<br />

ou seja, apresentando pequena quantidade de resíduos; C) Escore<br />

3 - superfície da lima apresentando média quantidade de resíduos; e<br />

D) Escore 4 - superfície da lima com grande quantidade de resíduos.<br />

8<br />

7<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

Gráfico 1. Avaliação do grau de contaminação das limas endodônticas.<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

Grau 1<br />

24 horas<br />

BHI (-)<br />

24 horas<br />

TGC (-)<br />

B<br />

Grau 2 Grau 3 Grau 4<br />

BHI (+)<br />

TGC (+)<br />

48 horas<br />

48 horas<br />

72 horas<br />

Gráfico 2. Presença/ausência de crescimento bacteriano na superfície<br />

de limas endodônticas em meio de cultura BHI.<br />

72 horas<br />

Gráfico 3. Presença/ausência de crescimento bacteriano na superfície<br />

de limas endodônticas em meio de cultura Tioglicolato.<br />

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Souza MA, Menin MLF, Montagner F, Cecchin D, Farina AP<br />

DISCUSSÃO<br />

Os instrumentos endodônticos são utilizados para<br />

remover os remanescentes de tecido pulpar durante os<br />

procedimentos de limpeza e modelagem do sistema de<br />

canais radiculares. Para serem reutilizados, os mesmos<br />

terão que passar por um processo de limpeza antes da<br />

esterilização, para que haja a remoção de matéria orgânica<br />

e resíduos teciduais nos instrumentos.<br />

São vários os estudos que abordam as técnicas de<br />

limpeza de limas endodônticas, entre elas a escovação,<br />

detergentes enzimáticos e o auxílio ultrassônico. Entretanto,<br />

não existe, até o momento, nenhum método capaz<br />

de deixar o instrumento livre de qualquer resíduo,<br />

muito embora os melhores resultados tenham sido obtidos<br />

através da associação dos recursos de escovação e<br />

ultrassom 2,8,9,10 .<br />

A limpeza ultrassônica apresenta algumas vantagens<br />

sobre a manual, tais como: maior eficiência de limpeza;<br />

redução na aerossolização de partículas infecciosas liberadas<br />

durante a escovação; incidência reduzida com<br />

instrumentos; maior limpeza, inclusive remoção de oxidações;<br />

aproveitamento melhor de tempo e redução do<br />

trabalho manual 3,11,12,13 .<br />

As limas coletadas para o presente estudo foram<br />

submetidas à limpeza por intermédio de escovação realizada<br />

pelos alunos da Faculdade de Odontologia da<br />

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.<br />

A partir das análises obtidas por MEV, observou-se que<br />

20% das limas incluíam-se no escore 1; 28% no escore<br />

2; 20% no escore 3; e 32% no escore 4. Isso pode estar<br />

relacionado ao fato de que não foi utilizado o recurso<br />

ultrassônico para realização da limpeza das limas endodônticas,<br />

apresentando as mesmas um significativo grau<br />

de sujidade em suas superfícies.<br />

Um estudo prévio afirma que foi detectado que a presença<br />

de matéria orgânica e/ou resíduos nos instrumentos<br />

pode interferir no processo de esterilização, pois cria<br />

barreiras de proteção para os microrganismos, podendo<br />

impedir a penetração do agente esterilizante 3 . Entretanto,<br />

tais achados não vão ao encontro dos resultados encontrados<br />

em nosso estudo, onde foi demonstrado que,<br />

apesar da presença de sujidade e matéria orgânica na<br />

superfície das limas endodônticas, não houve crescimento<br />

bacteriano após o processo de esterilização das<br />

mesmas. Isso pode ser explicado pelo eficiente processo<br />

de esterilização, que é capaz de reduzir e eliminar toda<br />

e qualquer forma de conteúdo microbiano presente nas<br />

superfícies dos instrumentos endodônticos em questão.<br />

Resultados semelhantes ao nosso estudo foram encontrados<br />

por estudo prévio que comparou as condições<br />

microbiológicas das limas utilizadas pelos alunos de graduação<br />

de 6 faculdades de Odontologia do Rio Grande<br />

do Sul. Os resultados demonstraram que, do total das 60<br />

amostras examinadas, 53 encontravam-se estéreis, enquanto<br />

7 apresentaram-se contaminadas, sendo que em<br />

apenas duas Faculdades as limas endodônticas recolhidas<br />

apresentaram 100% de culturas negativas 14 .<br />

Diante das limitações deste estudo, pode-se concluir<br />

que, apesar de haver uma presença significativa<br />

de sujidade na superfície das limas endodônticas<br />

após limpeza, este fator não influencia no processo<br />

de esterilização das mesmas.<br />

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[ artigo original ] Análise do nível de sujidade e sua interferência no processo de esterilização de limas endodônticas através da microscopia eletrônica de varredura e teste microbiológico<br />

Abstract<br />

Aim: The aim of this study was to assess the level of cleaning of<br />

endodontic files after their use in root canals preparation and its<br />

influence on the sterilization process. Methods: Fifty files were<br />

divided into two groups — one group of 25 files for analysis in<br />

scanning electron microscopy (SEM) for verification of cleaning;<br />

and another group of 25 files for microbiological analysis in thioglycolate<br />

and BHI after sterilization. Results: The results showed<br />

that endodontic files had different degrees of dirt on his active<br />

part through evaluation by scanning electron microscopy. The<br />

bacterial growth wasn’t detected through microbiological test after<br />

sterilization. Conclusion: It was concluded that despite the<br />

significant presence of dirt on endodontic files in their active part,<br />

this dirt doesn’t interfere in the sterilization process.<br />

Keywords: Dirt. Endodontic files. Microbiological test. Scanning<br />

electron microscopy.<br />

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© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 86<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):82-6


caso clínico<br />

Daniel de Almeida DECURCIO, DDS, MSc, PhD 1<br />

Julio Almeida SILVA, DDS 1<br />

Rafael de Almeida DECURCIO, DDS 1<br />

Ricardo Gariba Silva, MSc, PhD 2<br />

Jesus Djalma PÉCORA, PhD 2<br />

resumo<br />

A obtenção do sucesso em Endodontia está associada à<br />

precisão no diagnóstico. O estabelecimento da hipótese<br />

de diagnóstico baseado unicamente na radiografia periapical<br />

é um grande desafio em todas as especialidades<br />

da Odontologia. A visualização de estruturas tridimensionais,<br />

identificadas por tomografia computadorizada<br />

de feixe cônico (TCFC) favorece uma melhor precisão<br />

do problema e planejamento para o tratamento. O objetivo<br />

deste artigo é apresentar um caso clínico que envolve<br />

o planejamento para tratamento de dens invaginatus,<br />

que foi alterado a partir de visualização tridimensional<br />

por TCFC. A análise dinâmica das estruturas endodônticas<br />

e periodontais sugeriu um diagnóstico de dens invaginatus<br />

tipo 2, associado a área radiolucente periapical<br />

e comprometimento periodontal. A adequada avaliação<br />

empregando moderno método de exame por imagem<br />

deve ser sempre feita em conjunto com a avaliação clínica.<br />

O adequado manejo de imagens de TCFC pode revelar<br />

anormalidades que as radiografias periapicais são<br />

incapazes de identificar. A escolha da terapêutica clínica<br />

para esta anormalidade foi influenciada pela TCFC, em<br />

cujas imagens foi detectada grande destruição óssea<br />

não visível previamente pela radiografia periapical inicial.<br />

Com base na necessidade de extenso tratamento<br />

restaurador, a opção terapêutica foi a extração do dente<br />

e a reabilitação bucal.<br />

Palavras-chave: Dens invaginatus. Anomalia dentária.<br />

Tomografia computadorizada de feixe cônico. Diagnóstico<br />

endodôntico.<br />

Decurcio DA, Silva JA, Decurcio RA, Silva RG, Pécora JD. Influence of cone beam computed tomography on dens invaginatus treatment planning. <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod.<br />

2011 apr-june;1(1):87-93.<br />

1<br />

Faculdade de Odontologia, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO, Brasil.<br />

Recebido: janeiro de 2011 / Aceito: fevereiro de 2011.<br />

2<br />

Faculdade de Odontologia, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP, Brasil.<br />

Endereço para correspondência: Daniel de Almeida Decurcio<br />

Universidade Federal de Goiás, Departmento de Estomatologia<br />

Praça Universitária s/n, Setor Universitário - CEP: 74.605-220, Goiânia, GO, Brasil<br />

E-mail: danieldecurcio@gmail.com<br />

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[ caso clínico ] Influência da tomografia computadorizada de feixe cônico no plano de tratamento do dens invaginatus<br />

Introdução<br />

Dens invaginatus é uma anomalia de desenvolvimento<br />

(malformação) de dentes resultante de uma invaginação<br />

da papila dentária durante o desenvolvimento<br />

do dente. O dente afetado mostra uma profunda<br />

invaginação de esmalte e dentina a partir do forame<br />

ou mesmo a partir das pontas de cúspides, e pode se<br />

estender em profundidade pela raiz 1 .<br />

Todos os dentes podem ser afetados, mas a prevalência<br />

no incisivo lateral superior é maior e a ocorrência<br />

bilateral é comum. O tratamento endodôntico pode<br />

apresentar sérias dificuldades e problemas devido à<br />

complexa anatomia desses dentes 2-6 . Desde a segunda<br />

metade do século 19, a literatura odontológica tem relatado<br />

essa malformação com os seguintes sinônimos:<br />

dens in dens, odontoma invaginado, odontoma dilatado<br />

composto, inclusão dentária, dentoide in dens 1-7 .<br />

Hülsmann 1 , com base em vários estudos, apresenta<br />

sete possibilidades sobre a etiologia da malformação<br />

dens invaginatus, que são controversas e ainda hoje permanecem<br />

obscuras. Essas teorias sobre a etiologia do<br />

dens invaginatus têm sido propostas para explicar essas<br />

malformações: a pressão de crescimento da arcada<br />

dentária resulta na deformação do órgão do esmalte; a<br />

invaginação resulta de uma falha focal do crescimento<br />

do epitélio interno do esmalte, enquanto o epitélio normal<br />

circundante continua a proliferar e circunda a área<br />

estática; a invaginação é resultado de uma proliferação<br />

rápida e agressiva de uma parte do epitélio interno do<br />

esmalte invadindo a papila dentária. Oehlers 8 considerou<br />

que a distorção do órgão do esmalte durante o desenvolvimento<br />

dentário e subsequente protrusão de uma parte<br />

do órgão do esmalte vai levar à formação de um canal<br />

revestido de esmalte terminando no cíngulo ou ocasionalmente<br />

na borda incisal; a última pode estar associada<br />

à forma irregular da coroa, uma fusão de dois germes de<br />

dentes, infecção, lesão dentária traumática; fatores genéticos.<br />

Alani e Bishop 7 relataram recentemente que a etiologia<br />

exata do dens invaginatus é desconhecida, embora<br />

uma causa genética seja o fator mais provável.<br />

Em muitos casos, um dens invaginatus é detectado<br />

pelo exame radiográfico de rotina, e pode ser facilmente<br />

negligenciado por causa da ausência de qualquer<br />

sinal clínico significativo da anomalia. Isso é lamentável,<br />

já que a presença de uma invaginação pode<br />

aumentar o risco de cárie, patologia pulpar e inflamação<br />

periodontal 2-6 .<br />

A tomografia computadorizada de feixe cônico<br />

(TCFC) permitiu recentemente a inclusão da terceira<br />

dimensão na Odontologia, sendo um benefício para<br />

todas as áreas, já que até este momento não havia utilizado<br />

as vantagens da TC médica devido à falta de<br />

especificidade. A TCFC é uma ferramenta importante<br />

no diagnóstico, com características não-destrutivas<br />

e não-invasivas 9,10 , e essa ferramenta de diagnóstico<br />

permite a visualização de uma imagem tridimensional<br />

em que um novo plano foi acrescentado: profundidade.<br />

Sua aplicação clínica permite alta precisão e está<br />

relativamente acessível 11-15 .<br />

Este artigo discute um relato de caso em que a radiografia<br />

de 2-D mostra um aspecto padrão do tipo<br />

2 de dens invaginatus em um incisivo lateral conoide,<br />

que em um primeiro momento parece ser possível o<br />

tratamento endodôntico. As imagens 3-D resultaram<br />

em informações adicionais que não haviam sido vistas<br />

com a radiografia periapical comumente utilizada.<br />

Relato do Caso<br />

Um homem de 20 anos foi encaminhado ao serviço<br />

de clínica da Faculdade de Odontologia da Universidade<br />

Federal de Goiás, a fim de avaliar e esclarecer<br />

um problema de saúde bucal, e desconforto esporádico<br />

durante a mastigação. A história médica foi negativa<br />

para a doença concomitante, sem nenhuma<br />

contribuição. O exame clínico revelou a presença de<br />

inflamação periodontal. Não havia sintoma espontâneo<br />

ou edema nos dentes, mas foi detectada uma<br />

grande mobilidade no incisivo lateral superior esquerdo.<br />

O teste de vitalidade pulpar foi negativo. A radiografia<br />

periapical revelou um dens invaginatus tipo 2, associado<br />

à radioluscência periapical. Considerando-se<br />

o desconforto do paciente, problemas periodontais,<br />

ortodônticos e endodônticos, sugeriu-se a realização<br />

de imagem TCFC com i-CAT Cone Beam System<br />

de imagens 3D (Imaging Sciences International,<br />

Hatfield, PA, EUA). Os volumes foram reconstruídos<br />

com voxels isotrópicos-isométricos medindo 0,20mm<br />

x 0,20mm x 0,20mm. A voltagem foi de 120kVp, corrente<br />

de 3,8mA e tempo de exposição de 40 segundos.<br />

As imagens foram examinadas com o software próprio<br />

do scanner (Xoran versão 3.1.62; Xoran Technologies,<br />

Ann Arbor, Michigan, EUA) em um computador de<br />

mesa executando o Microsoft Windows XP Professional<br />

SP2 (Microsoft Corp, Redmond, WA, EUA), com<br />

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Decurcio DA, Silva JA, Decurcio RA, Silva RG, Pécora JD<br />

processador Intel ® CoreTM 2 Duo de 1.86 GHz 6300<br />

(Intel Corporation, EUA), placa de vídeo NVIDIA Ge-<br />

Force 6200 turbo cache (NVIDIA Corporation, EUA)<br />

e monitor EIZO - Flexscan S2000, a resolução de<br />

1600x1200 pixels (Eizo Nanao Corporation Hakusan,<br />

Japan). O incisivo lateral superior esquerdo foi focado<br />

e exames foram obtidos em diferentes planos (sagital,<br />

coronal e axial) de 0,2mm de espessura.<br />

Em imagens da TCFC sagitais e axiais, pode-se observar<br />

a presença de dens invaginatus tipo 2 de Oehlers,<br />

sugerindo claramente invaginação do esmalte e da dentina.<br />

Radioluscência periapical com a presença de destruição<br />

óssea cortical foi detectada na superfície palatina,<br />

e a perda de osso cortical palatino até o terço apical<br />

também foi visível (Fig. 1). As imagens axiais da TCFC<br />

nos terços apical, médio e cervical do dens invaginatus<br />

Figura 1. Na TCFC em vistas sagital e axial, observa-se a presença de dens invaginatus tipo 2 de Oehlers. Radioluscência periapical com a presença de<br />

destruição óssea cortical na região periapical foi detectada na superfície palatina, e a perda de osso cortical vestibular até o terço apical é também visível.<br />

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[ caso clínico ] Influência da tomografia computadorizada de feixe cônico no plano de tratamento do dens invaginatus<br />

Figura 2. Imagens de reconstruções em TCFC. Nota-se destruição de osso cortical nas faces apical, palatina e vestibular.<br />

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Decurcio DA, Silva JA, Decurcio RA, Silva RG, Pécora JD<br />

mostraram uma posição central no dente (Fig. 1). Note<br />

destruição apical, palatina e vestibular da cortical do<br />

osso nas reconstruções das imagens da TCFC (Fig. 2).<br />

Discussão<br />

Em muitos casos, um dens invaginatus é detectado<br />

pelo exame radiográfico. Clinicamente, uma morfologia<br />

da coroa original (em forma conoide) ou um forame<br />

com fundo cego pode ser importante para indicar<br />

a probabilidade de um dens invaginatus 2 . Como os<br />

incisivos superiores são os dentes mais suscetíveis a<br />

apresentar dens invaginatus, esses dentes devem ser investigados<br />

por exames clínicos e radiográficos. Se um<br />

dente é afetado em um paciente, o dente contra-lateral<br />

deve ser investigado. É necessária a aquisição de<br />

radiografias para os incisivos laterais conoides, uma<br />

vez que Siqueira et al. 5 constataram que 10% desses<br />

dentes podem estar associados a dens invaginatus.<br />

A classificação mais usada foi proposta por Oehlers<br />

8 : Dens invaginatus tipo I - uma forma revestida de<br />

esmalte menor que ocorre dentro dos limites da coroa,<br />

não se estendendo além da junção amelocementária;<br />

dens invaginatus tipo II - uma forma revestida de esmalte,<br />

que invade a raiz, mas permanece confinado<br />

como um saco cego. Pode ou não se comunicar com<br />

a polpa dentária; dens invaginatus tipo III - uma forma<br />

que penetra através da raiz, perfurando a região apical<br />

e mostrando um “segundo forame” na região apical ou<br />

periodontal. Não há comunicação imediata com a polpa.<br />

A invaginação pode ser completamente revestida<br />

por cemento e esmalte e, frequentemente, podem ser<br />

encontrados revestindo a invaginação.<br />

Como o envolvimento pulpar de dentes com invaginações<br />

coronárias, pode ocorrer em um curto espaço<br />

de tempo após a erupção do dente, o diagnóstico<br />

precoce é muito importante para o tratamento preventivo.<br />

A Tabela 1 apresenta o resumo do tratamento de<br />

diferentes tipos de dens invaginatus observados na literatura<br />

odontológica 4,6 . Ridell et al. 16 avaliaram o prognóstico<br />

para a sobrevivência da polpa nos dentes com<br />

dens invaginatus submetidos a tratamento profilático<br />

da invaginação. Os prontuários de todos os pacientes<br />

encaminhados para o Eastman <strong>Dental</strong> Institute, Estocolmo,<br />

Suécia, com diagnóstico de dens invaginatus<br />

entre os anos 1969-1997 foram revistos. Cinco dentes<br />

em 66 pacientes haviam sido submetidos a tratamento<br />

profilático da invaginação. A avaliação retrospectiva<br />

foi baseada no exame das radiografias disponíveis a<br />

partir do acompanhamento. Eles encontraram: a) pacientes<br />

com 1 dente afetado (64,8%), com dois dentes<br />

(29,7%), com três dentes (2,2%) e com quatro dentes<br />

(3,3%), b) os dentes com dens invaginatus - incisivos<br />

Tabela 1. Resumo do tratamento de diferentes tipos de dens invaginatus.<br />

Dens Invaginatus Características Tratamento observado na literatura<br />

Tipo I<br />

(Oehler 8 , 1957)<br />

A invaginação de esmalte é limitada à coroa,<br />

antes da junção amelocementária<br />

Prevenção e controle clinico e radiográfico;<br />

Aplicação de selante na invaginação;<br />

Restauração do dente<br />

Tipo II<br />

(Oehler 8 , 1957)<br />

A invaginação se estende à junção<br />

amelocementária, e pode ou não apresentar<br />

comunicação com a polpa dentária<br />

Restauração da invaginação se a polpa dentária estiver normal;<br />

Terapia endodôntica;<br />

Tratamento combinado endodôntico-cirúrgico<br />

Tipo III<br />

(Oehler 8 , 1957)<br />

A invaginação revestida de esmalte penetra por<br />

toda a raiz, normalmente sem comunicação<br />

com a polpa dentária<br />

Restauração da invaginação se a polpa dentária estiver normal;<br />

Terapia endodôntica;<br />

Tratamento combinado endodôntico-cirúrgico<br />

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<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):87-93


[ caso clínico ] Influência da tomografia computadorizada de feixe cônico no plano de tratamento do dens invaginatus<br />

centrais superiores 13%, incisivos laterais superiores<br />

85,5%, pré-molares superiores 0,8% e molares superiores<br />

0,8%; c) dens invaginatus encontrados de acordo<br />

com a classificação de Oehlers 8 : Tipo I (15,35%); Tipo<br />

II (79,4%) e Tipo III (5,3%). Após o tratamento profilático<br />

da invaginação, observaram 71% de sucesso e<br />

9% de insucesso em um período de observação de 6<br />

a 128 meses.<br />

Hamasha e Alomari 17 , na Jordânia, coletaram 3.024<br />

radiografias de uma amostra aleatória de 1.660 pacientes<br />

que apresentaram 9.377 dentes. Um dente foi considerado<br />

como tendo dens invaginatus se uma invaginação de<br />

uma estrutura radiopaca como fita, igual em densidade<br />

ao esmalte, foi vista se estendendo do cíngulo ao canal<br />

radicular. Os dentes com dens invaginatus foram encontrados<br />

em 49 indivíduos de 1.660 indivíduos examinados.<br />

A prevalência foi de 2,95%. Dens invaginatus bilateral foi<br />

observado em 12 pacientes, enquanto dens invaginatus<br />

unilateral foi demonstrado em 37 pacientes. Incisivo lateral<br />

superior foi o dente mais afetado com essa condição,<br />

o que representou 90% dos casos.<br />

A introdução da TCFC traz a revolução da informação<br />

na área da saúde, tendo contribuído no planejamento,<br />

diagnóstico, terapêutica e prognóstico em várias<br />

áreas da Odontologia 9-15 . A imagem radiográfica<br />

corresponde a um aspecto bidimensional de uma estrutura<br />

tridimensional, com potencial para conduzir a<br />

erros de interpretação 18 . O planejamento, diagnóstico<br />

e prognóstico da terapia endodôntica envolve a interpretação<br />

de imagens. Novos métodos usando exames<br />

tomográficos para investigar periodontite apical e reabsorção<br />

radicular e uma nova ferramenta para uso em<br />

diversas áreas de pesquisa são sugeridos 12-16 . Em dois<br />

artigos publicados recentemente, os autores descrevem<br />

o uso da TC 7 e TCFC 17 na investigação do dens<br />

invaginatus. Patel 19 relatou um caso interessante com<br />

periodontite perirradicular crônica associada a uma<br />

invaginação infectada em um incisivo lateral inferior<br />

com rizogênese incompleta. Imagens de TCFC mostraram<br />

ausência de comunicação entre a invaginação<br />

e o canal principal. O tratamento endodôntico foi realizado<br />

na invaginação e o canal radicular com polpa<br />

vital foi mantido sem tratamento, permitindo, assim,<br />

ao dente continuar seu desenvolvimento.<br />

A TCFC permite a visualização de uma imagem<br />

tridimensional, em que um novo plano foi adicionado:<br />

a profundidade. Sua aplicação clínica permite alta<br />

precisão e é direcionada a quase todas as áreas da<br />

Odontologia (Cirurgia, Implantodontia, Odontopediatria,<br />

Ortodontia, Endodontia, Periodontia, Disfunção<br />

Temporomandibular, Diagnóstico por Imagem, etc).<br />

A visão real da associação desses indicadores com os<br />

aspectos clínicos projeta uma quarta dimensão, marcada<br />

pela exigência de tempo e espaço 20 .<br />

No presente relato de caso, a real destruição do<br />

osso cortical periapical foi detectada na superfície<br />

palatina, e a perda de osso cortical vestibular até o<br />

terço apical também pôde ser visível (Fig. 1, 2, 3). Esses<br />

aspectos não foram visualizados na radiografia periapical<br />

inicial. Em função das condições periodontais<br />

apresentadas (alta mobilidade, grande perda óssea nas<br />

faces vestibular, distal e palatina), e a necessidade de<br />

tratamento restaurador extenso, a opção de tratamento<br />

foi a extração desse dente e reabilitação bucal.<br />

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<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):87-93


Decurcio DA, Silva JA, Decurcio RA, Silva RG, Pécora JD<br />

Abstract<br />

The achievement of endodontic success is associated with<br />

the accurate diagnosis. To establish the diagnostic hypothesis<br />

based on periapical radiograph is a challenge for all different<br />

dentistry specialties. The visualization of three dimensional<br />

structures, available with cone beam computed tomography<br />

(CBCT), favors precise definition of the problem and treatment<br />

planning. The aim of this manuscript is to present a case report<br />

of dens invaginatus treatment planning changed by 3-D<br />

CBCT images. The complete and dynamic visualization regarded<br />

the correct endodontic-periodontal structures, suggesting<br />

type 2 dens invaginatus associated with radiolucent areas, and<br />

periodontal compromising. The adequate examination using<br />

imaging exams should be always made in conjunction with the<br />

clinical findings. The accurate management of CBCT images<br />

may reveal abnormality which is unable to be detected in periapical<br />

radiographs. The choice of clinical therapeutics for these<br />

dental anomalies was influenced by CBCT views which showed<br />

bone destruction not previously visible in initial periapical radiograph.<br />

Based on the necessity of extensive restorative treatment,<br />

the option of treatment was the extraction of this tooth<br />

and oral rehabilitation.<br />

Keywords: Dens invaginatus. <strong>Dental</strong> anomaly. Cone beam<br />

computed tomography. Endodontic diagnosis.<br />

Referências<br />

1. Hülsmann M. Dens invaginatus: aetiology, classification,<br />

prevalence, diagnosis, and treatment considerations. Int Endod J.<br />

1997;30:79-90.<br />

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dens. A case report. Braz Dent J. 1990;1:45-9.<br />

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Normas de apresentação de originais<br />

— O <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics publica artigos de investigação<br />

científica, revisões significativas, relatos<br />

de casos clínicos e de técnicas, comunicações breves<br />

e outros materiais relacionados à Endodontia.<br />

— O <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics utiliza o Sistema de Gestão<br />

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outra revista. Os manuscritos serão analisados pelo<br />

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Os autores devem seguir as orientações descritas<br />

adiante.<br />

ORIENTAÇÕES PARA SUBMISSÃO<br />

Dos MANUSCRITOS<br />

— Os trabalhos devem, preferencialmente, ser escritos<br />

em língua inglesa.<br />

— Apesar de ser oficialmente publicado em inglês, o<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics conta ainda com sua versão<br />

em língua portuguesa. Por isso serão aceitas,<br />

também, submissões de artigos em português.<br />

— Nesse caso, após terem sido avaliados e aprovados,<br />

os autores deverão enviar a versão em inglês de<br />

seus trabalhos.<br />

— Essa versão será submetida à aprovação do Conselho<br />

Editorial e deverá apresentar adequada qualidade<br />

vernacular.<br />

formatação Dos MANUSCRITOS<br />

1. Página de título<br />

— deve conter título em português e inglês, resumo e<br />

abstract, palavras-chave e keywords.<br />

— não inclua informações relativas aos autores, por<br />

exemplo: nomes completos dos autores, títulos<br />

acadêmicos, afiliações institucionais e/ou cargos<br />

administrativos. Elas deverão ser incluídas apenas<br />

nos campos específicos no site de submissão de artigos.<br />

Assim, essas informações não estarão disponíveis<br />

para os revisores.<br />

2. Resumo/Abstract<br />

— os resumos estruturados, em português e inglês, de<br />

250 palavras ou menos são os preferidos.<br />

— os resumos estruturados devem conter as seções:<br />

INTRODUÇÃO, com a proposição do estudo; MÉ-<br />

TODOS, descrevendo como o mesmo foi realizado;<br />

RESULTADOS, descrevendo os resultados primários;<br />

e CONCLUSÕES, relatando o que os autores<br />

concluíram dos resultados, além das implicações<br />

clínicas.<br />

— os resumos devem ser acompanhados de 3 a 5 palavras-chave,<br />

ou descritores, também em português<br />

e em inglês, as quais devem ser adequadas conforme<br />

o MeSH/DeCS.<br />

3. Texto<br />

— o texto deve ser organizado nas seguintes seções:<br />

Introdução, Material e Métodos, Resultados, Discussão,<br />

Conclusões, Referências, e Legendas das<br />

figuras.<br />

— os textos devem ter o número máximo de 4.000 palavras,<br />

incluindo legendas das figuras, resumo, abstract<br />

e referências.<br />

— envie as figuras em arquivos separados (ver logo<br />

abaixo).<br />

— também insira as legendas das figuras no corpo do<br />

texto, para orientar a montagem final do artigo.<br />

4. Figuras<br />

— as imagens digitais devem ser no formato JPG ou<br />

TIF, em CMYK ou tons de cinza, com pelo menos 7<br />

cm de largura e 300 dpis de resolução.<br />

— as imagens devem ser enviadas em arquivos independentes.<br />

— se uma figura já foi publicada anteriormente, sua<br />

legenda deve dar todo o crédito à fonte original.<br />

— todas as figuras devem ser citadas no texto.<br />

5. Gráficos<br />

— devem ser enviados os arquivos contendo as versões<br />

originais dos gráficos e traçados, nos programas<br />

que foram utilizados para sua confecção.<br />

— não é recomendado o envio dos mesmos apenas<br />

em formato de imagem bitmap (não editável).<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 94<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):94-6


Normas de apresentação de originais<br />

Souza RA, Figueiredo JAP, Colombo S, Dantas JCP, Lago M, Pécora JD<br />

— os desenhos enviados podem ser melhorados ou<br />

redesenhados pela produção da revista, a critério<br />

do Corpo Editorial.<br />

6. Tabelas<br />

— as tabelas devem ser autoexplicativas e devem<br />

complementar, e não duplicar o texto.<br />

— devem ser numeradas com algarismos arábicos, na<br />

ordem em que são mencionadas no texto.<br />

— forneça um breve título para cada uma.<br />

— se uma tabela tiver sido publicada anteriormente,<br />

inclua uma nota de rodapé dando crédito à fonte<br />

original.<br />

— apresente as tabelas como arquivo de texto (Word<br />

ou Excel, por exemplo), e não como elemento gráfico<br />

(imagem não editável).<br />

7. Copyright Assignment<br />

— Todos os manuscritos devem ser acompanhados<br />

da seguinte declaração escrita e assinada pelo autor<br />

principal: “Uma vez que o artigo seja publicado,<br />

o autor abaixo-assinado atribui todos os direitos autorais<br />

do manuscrito [insira aqui o título do artigo]<br />

para a <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> International O autor garante<br />

que este é um artigo original e que não viola qualquer<br />

direito autoral ou outros direitos de terceirosproprietários,<br />

que não está sob consideração para<br />

publicação por outra revista e não foi publicado<br />

previamente, seja em formato impresso ou eletrônico.<br />

Tenho a honra de assinar esta declaração e<br />

aceitar a plena responsabilidade pela publicação do<br />

artigo acima referido”.<br />

_ Este documento de cessão de direitos autorais deve<br />

ser escaneado ou digitalizado e enviado juntamente<br />

com o artigo.<br />

8. Comitês de Ética<br />

— Os artigos devem, se aplicável, fazer referência a<br />

pareceres de Comitês de Ética.<br />

9. Referências<br />

— todos os artigos citados no texto devem constar na<br />

lista de referências.<br />

— todas as referências listadas devem ser citadas no<br />

texto.<br />

— com o objetivo de facilitar a leitura do texto, as referências<br />

serão citadas no texto apenas indicando a<br />

sua numeração.<br />

— as referências devem ser identificadas no texto por<br />

números arábicos sobrescritos e numeradas na ordem<br />

em que são citadas no texto.<br />

— as abreviações dos títulos dos periódicos devem ser<br />

normalizadas de acordo com as publicações “Index<br />

Medicus” e “Index to <strong>Dental</strong> Literature”.<br />

— a exatidão das referências é de responsabilidade<br />

dos autores; as mesmas devem conter todos os dados<br />

necessários à sua identificação.<br />

— as referências devem ser apresentadas no final do<br />

texto obedecendo às Normas Vancouver (http://<br />

www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.<br />

html).<br />

— utilize os exemplos a seguir:<br />

Artigos com até seis autores<br />

Vier FV, Figueiredo JAP. Prevalence of different<br />

periapical lesions associated with human teeth<br />

and their correlation with the presence and extension<br />

of apical external root resorption. Int Endod J<br />

2002;35:710-9.<br />

Artigos com mais de seis autores<br />

De Munck J, Van Landuyt K, Peumans M, Poitevin<br />

A, Lambrechts P, Braem M, et al. A critical review<br />

of the durability of adhesion to tooth tissue: methods<br />

and results. J Dent Res. 2005 Feb;84(2):118-32.<br />

Capítulo de livro<br />

Nair PNR. Biology and pathology of apical periodontitis.<br />

In: Estrela C. Endodontic Science. São<br />

Paulo: Artes Médicas; 2009. v. 1. p. 285-348.<br />

Capítulo de livro com editor<br />

Breedlove GK, Schorfheide AM. Adolescent pregnancy.<br />

2 nd ed. Wieczorek RR, editor. White Plains<br />

(NY): March of Dimes Education Services; 2001.<br />

Dissertação, tese e trabalho de conclusão de curso<br />

Debelian GJ. Bacteremia and Fungemia in patients<br />

undergoing endodontic therapy. [Thesis]. Oslo -<br />

Norway: University of Oslo, 1997.<br />

Formato eletrônico<br />

Câmara CALP. Estética em Ortodontia: Diagramas<br />

de Referências Estéticas Dentárias (DRED) e Faciais<br />

(DREF). Rev <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Ortod Ortop Facial.<br />

2006 nov-dez;11(6):130-56. [Acesso 12 jun 2008].<br />

Disponível em: www.scielo.br/pdf/dpress/v11n6/<br />

a15v11n6.pdf.<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 95<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):94-6


Normas de apresentação de originais<br />

[ artigo original ] Posição do forame apical e sua relação com o calibre do instrumento foraminal<br />

1. O registro de ensaios clínicos<br />

Os ensaios clínicos se encontram entre as melhores evidências<br />

para tomada de decisões clínicas. Considera-se ensaio<br />

clínico todo projeto de pesquisa com pacientes que seja prospectivo,<br />

nos quais exista intervenção clínica ou medicamentosa<br />

com objetivo de comparação de causa/efeito entre os grupos<br />

estudados e que, potencialmente, possa ter interferência sobre a<br />

saúde dos envolvidos.<br />

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os ensaios<br />

clínicos controlados aleatórios e os ensaios clínicos devem ser notificados<br />

e registrados antes de serem iniciados.<br />

O registro desses ensaios tem sido proposto com o intuito<br />

de identificar todos os ensaios clínicos em execução e seus respectivos<br />

resultados, uma vez que nem todos são publicados em<br />

revistas científicas; preservar a saúde dos indivíduos que aderem<br />

ao estudo como pacientes; bem como impulsionar a comunicação<br />

e a cooperação de instituições de pesquisa entre si e com as<br />

parcelas da sociedade com interesse em um assunto específico.<br />

Adicionalmente, o registro permite reconhecer as lacunas no conhecimento<br />

existentes em diferentes áreas, observar tendências<br />

no campo dos estudos e identificar os especialistas nos assuntos.<br />

Reconhecendo a importância dessas iniciativas e para que<br />

as revistas da América Latina e Caribe sigam recomendações<br />

e padrões internacionais de qualidade, a BIREME recomendou<br />

aos editores de revistas científicas da área da saúde indexadas<br />

na Scientific Library Electronic Online (SciELO) e na LI-<br />

LACS (Literatura Latino-americana e do Caribe de Informação<br />

em Ciências da Saúde) que tornem públicas estas exigências e<br />

seu contexto. Assim como na base MEDLINE, foram incluídos<br />

campos específicos na LILACS e SciELO para o número de<br />

registro de ensaios clínicos dos artigos publicados nas revistas<br />

da área da saúde.<br />

Ao mesmo tempo, o International Committee of Medical<br />

Journal Editors (ICMJE) sugeriu aos editores de revistas científicas<br />

que exijam dos autores o número de registro no momento<br />

da submissão de trabalhos. O registro dos ensaios clínicos pode<br />

ser feito em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados<br />

pela OMS e ICMJE, cujos endereços estão disponíveis no site<br />

do ICMJE. Para que sejam validados, os Registros de Ensaios<br />

Clínicos devem seguir um conjunto de critérios estabelecidos<br />

pela OMS.<br />

2. Portal para divulgação e registro dos ensaios<br />

A OMS, com objetivo de fornecer maior visibilidade aos Registros<br />

de Ensaios Clínicos validados, lançou o portal WHO Clinical<br />

Trial Search Portal (http://www.who.int/ictrp/network/en/<br />

index.html), com interface que permite busca simultânea em diversas<br />

bases. A pesquisa, nesse portal, pode ser feita por palavras,<br />

pelo título dos ensaios clínicos ou pelo número de identificação. O<br />

resultado mostra todos os ensaios existentes, em diferentes fases<br />

de execução, com enlaces para a descrição completa no Registro<br />

Primário de Ensaios Clínicos correspondente.<br />

A qualidade da informação disponível nesse portal é garantida<br />

pelos produtores dos Registros de Ensaios Clínicos que<br />

integram a rede recém-criada pela OMS: WHO Network of<br />

Collaborating Clinical Trial Registers. Essa rede permitirá o intercâmbio<br />

entre os produtores dos Registros de Ensaios Clínicos<br />

para a definição de boas práticas e controles de qualidade. Os<br />

sites para que possam ser feitos os registros primários de ensaios<br />

clínicos são: www.actr.org.au (Australian Clinical Trials Registry),<br />

www.clinicaltrials.gov e http://isrctn.org (International<br />

Standard Randomised Controlled Trial Number Register (ISRC-<br />

TN). Os registros nacionais estão sendo criados e, na medida<br />

do possível, os ensaios clínicos registrados nos mesmos serão<br />

direcionados para os recomendados pela OMS.<br />

A OMS propõe um conjunto mínimo de informações que<br />

devem ser registradas sobre cada ensaio, como: número único<br />

de identificação, data de registro do ensaio, identidades secundárias,<br />

fontes de financiamento e suporte material, principal patrocinador,<br />

outros patrocinadores, contato para dúvidas do público,<br />

contato para dúvidas científicas, título público do estudo, título<br />

científico, países de recrutamento, problemas de saúde estudados,<br />

intervenções, critérios de inclusão e exclusão, tipo de estudo, data<br />

de recrutamento do primeiro voluntário, tamanho pretendido da<br />

amostra, status do recrutamento e medidas de resultados primárias<br />

e secundárias.<br />

Atualmente, a Rede de Colaboradores está organizada em<br />

três categorias:<br />

- Registros Primários: cumprem com os requisitos mínimos e<br />

contribuem para o Portal;<br />

- Registros Parceiros: cumprem com os requisitos mínimos,<br />

mas enviam os dados para o Portal somente através de parceria<br />

com um dos Registros Primários;<br />

- Registros Potenciais: em processo de validação pela Secretaria<br />

do Portal, ainda não contribuem para o Portal.<br />

3. Posicionamento do <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics<br />

O DENTAL PRESS ENDODONTICS apoia as políticas<br />

para registro de ensaios clínicos da Organização Mundial<br />

da Saúde - OMS (http://www.who.int/ictrp/en/) e do International<br />

Committee of Medical Journal Editors – ICMJE<br />

(http://www.wame.org/wamestmt.htm#trialreg e http://<br />

www.icmje.org/clin_trialup.htm), reconhecendo a importância<br />

dessas iniciativas para o registro e divulgação internacional<br />

de informação sobre estudos clínicos, em acesso<br />

aberto. Sendo assim, seguindo as orientações da BIREME/<br />

OPAS/OMS para a indexação de periódicos na LILACS<br />

e SciELO, somente serão aceitos para publicação os artigos<br />

de pesquisas clínicas que tenham recebido um número<br />

de identificação em um dos Registros de Ensaios Clínicos,<br />

validados pelos critérios estabelecidos pela OMS e ICMJE,<br />

cujos endereços estão disponíveis no site do ICMJE: http://<br />

www.icmje.org/faq.pdf. O número de identificação deverá<br />

ser registrado ao final do resumo.<br />

Consequentemente, recomendamos aos autores que procedam<br />

o registro dos ensaios clínicos antes do início de<br />

sua execução.<br />

Atenciosamente,<br />

Carlos Estrela<br />

Editor do <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics - ISSN 2178-3713<br />

E-mail: estrela3@terra.com.br<br />

© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 96<br />

<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):94-6


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