Dental Press
Dental Press
Dental Press
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Endodontics<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong><br />
v. 1, n. 1 - april / may / june 2011<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> International<br />
versão em português
Endodontics<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong><br />
v. 1, n. 1 - Apr-June 2011<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 Apr-June; 1(1):1-96 ISSN 2178-3713
DESENVOLVENDO A SAÚDE ORAL GLOBALMENTE<br />
DESENVOLVENDO A SAÚDE ORAL GLOBALMENTE<br />
Endodontics<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong><br />
Editores-chefes<br />
Carlos Estrela<br />
Sistema Endo-Eze ® Universidade Federal de Goiás - UFG - GO AET<br />
SISTEMA OSCILATÓRIO DE PREPARO ENDODÔNTICO<br />
Gilson Blitzkow Sydney<br />
Universidade Federal do Paraná - UFPR - PR<br />
José Antonio Poli de Figueiredo<br />
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS - RS<br />
Consultores internacionais<br />
Alvaro Gonzalez<br />
Universidade de Guadalaraja - Jalisco - México<br />
Frederick Barnett<br />
Centro Médico Albert Einstein - Filadélfia - EUA<br />
Gianpiero Rossi Fedele<br />
Hospital Dentário Eastman - Londres<br />
Gilberto Debelian<br />
Universidade de Oslo - Noruega<br />
Martin Trope<br />
REMOÇÃO DE INTERFERÊNCIAS<br />
Universidade da Filadélfia - EUA<br />
Paul Dummer<br />
Universidade do País de Gales - Reino Unido<br />
Contra-Ângulo Endo-Eze ®<br />
• Movimento oscilatório de 30º que traz segurança contra desvios<br />
• Desenvolvido para ser usado em conjunto com o micromotor da<br />
cadeira odontológica<br />
• Aço inoxidável<br />
• Desenho inovador que permite resistência e fl exibilidade<br />
• Disponível em 4 comprimentos: 17mm, 21mm, 24mm e 27mm<br />
»<br />
Diâmetro da<br />
Cor<br />
Conicidade<br />
Ponta<br />
Amarela #10 0.025<br />
Vermelha #13 0.035<br />
Azul #13 0.045<br />
Verde #13 0.060<br />
Endo-Eze ® AET atua no achatamento presente no terço médio dos<br />
dentes, liberando as interferências para o livre acesso ao terço apical.<br />
www.ultradent.com.br<br />
Limpeza e preparo de todos os<br />
tipos de anatomia interna com<br />
segurança<br />
Evita desgaste excessivo<br />
dentinário em áreas de risco<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics v. 1, n. 1 - april / may / june 2011 versão em português<br />
Endodontics<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong><br />
v. 1, n. 1 - april / may / june 2011<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> International<br />
versão em português<br />
Consultores nacionais<br />
Alberto Consolaro<br />
Faculdade de Odontologia de Bauru - USP - Bauru - SP<br />
Ana Helena Alencar<br />
Universidade Federal de Goiás - UFG - GO<br />
Carlos Alberto Souza Costa<br />
Faculdade de Odontologia de Araraquara - UNESP - Araraquara - SP<br />
Erick Souza<br />
Centro Universitário do Maranhão - UNICEUMA - São Luiz do Maranhão - MA<br />
Giulio Gavini<br />
Faculdade de Odontologia - FOUSP - São Paulo - SP<br />
Gustavo de Deus<br />
Universidade Federal Fluminense - UFF - Niterói - RJ<br />
Helio Pereira Lopes<br />
Associação Brasileira de Odontologia - ABO - Rio de Janeiro - RJ<br />
Jesus Djalma Pécora<br />
Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto - FORP-USP - Ribeirão Preto - SP<br />
João Eduardo Gomes<br />
Faculdade de Odontologia de Araçatuba - UNESP - Araçatuba - SP<br />
Manoel Damião Souza Neto<br />
Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto - FORP-USP - Ribeirão Preto - SP<br />
Marcelo dos Santos<br />
Faculdade de Odontologia - FOUSP - São Paulo - SP<br />
Marco Antonio Hungaro Duarte<br />
Faculdade de Odontologia de Bauru - FOB-USP - Bauru - SP<br />
Maria Ilma Souza Cortes<br />
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUCMG - MG<br />
Pedro Felicio Estrada Bernabé<br />
Faculdade de Odontologia de Araçatuba - UNESP - Araçatuba - SP<br />
Rielson Cardoso<br />
Faculdade de Odontologia São Leopoldo Mandic - SLMANDIC - Campinas - SP<br />
Wilson Felippe<br />
Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC - SC<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics<br />
(ISSN 2178-3713) é uma publicação trimestral da <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> International<br />
Av. Euclides da Cunha, 1.718 - Zona 5 - CEP: 87.015-180<br />
Maringá / PR, Brasil - Fone: (044) 3031-9818<br />
www.dentalpress.com.br - artigos@dentalpress.com.br<br />
DiretorA: Teresa R. D’Aurea Furquim - Diretor Editorial: Bruno D’Aurea Furquim<br />
- Diretor de marketing: Fernando Marson - Analista da informação: Carlos<br />
Alexandre Venancio - PRODUTOR EDITORIAL: Júnior Bianco - Diagramação:<br />
Fernando Truculo Evangelista - Gildásio Oliveira Reis Júnior - Tatiane Comochena -<br />
Revisão/ COPYDESK: Ronis Furquim Siqueira - TRATAMENTO DE IMAGENS: Andrés<br />
Sebastián - Biblioteca/ NORMALIZAÇÃO: Simone Lima Lopes Rafael - Banco de<br />
Dados: Adriana Azevedo Vasconcelos - Francielle Nascimento da Silva - submissão<br />
de artigos: Roberta Baltazar de Oliveira - Cursos e Eventos: Ana Claudia da Silva<br />
- Rachel Furquim Scattolin - INTERNET: Edmar Baladeli - Financeiro: Roseli Martins<br />
- Comercial: Roseneide Martins Garcia - EXPEDIÇÃO: Diego Moraes - Secretaria:<br />
Rosane Aparecida Albino.<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics<br />
v.1, n.1 (apr.-june 2011) - . - - Maringá : <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong><br />
International, 2011 -<br />
Trimestral<br />
ISSN 2178-3713<br />
1. Endodontia - Periódicos. I. <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> International.<br />
CDD 617.643005
editorial<br />
A humanidade experimenta mudanças constantes, o<br />
que provoca repercussões diretas em sua essência. A<br />
revolução industrial foi um acontecimento marcante.<br />
A sociedade presencia, no presente momento, a revolução<br />
de informações em diferentes segmentos. A<br />
velocidade e a forma com que têm sido divulgadas<br />
essas informações é algo fantástico. A globalização<br />
científica estimula os diferentes níveis de uma estrutura<br />
acadêmica.<br />
O desafio do momento requer uma seleção criteriosa<br />
em seu armazenamento e uma adequada interpretação.<br />
O Brasil vive um momento muito favorável na<br />
ciência, dentro do qual podem ser destacadas sua qualidade<br />
e sua aceitação pela comunidade internacional.<br />
Outrossim, o estímulo ao desenvolvimento de um projeto<br />
importante, a toda uma comunidade que congrega<br />
a Endodontia como especialidade magna, nasce a<br />
partir de uma programação cuidadosa e bem estruturada.<br />
A concretização desse projeto surgiu a partir da<br />
oportunidade concedida pelo Dr. Laurindo Furquim,<br />
publisher da <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong>.<br />
Por conseguinte, o desafio de divulgar a ciência endodôntica<br />
está lançado com a criação do <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong><br />
Endodontics, o qual é composto por uma equipe de<br />
renomados professores, pesquisadores e especialistas<br />
da Endodontia brasileira e internacional. As informações<br />
científicas endodônticas certamente terão um<br />
novo veículo facilitador e divulgador, capaz de favorecer<br />
tomadas de decisões clínicas apoiadas em evidências<br />
científicas. O <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics permitirá<br />
ao leitor renovar conceitos e vivenciar a verdadeira<br />
revolução nas informações científicas.<br />
Carlos Estrela<br />
Editor-chefe<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 3 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):3
sumário<br />
Endo in Endo<br />
14. Tratamento ortodôntico não promove<br />
necrose pulpar<br />
Orthodontic treatment does not cause pulpal necrosis<br />
Alberto Consolaro<br />
Artigos originais<br />
21. Um instrumento NiTi fabricado por torção:<br />
morfologia e propriedades mecânicas<br />
A NiTi rotary instrument manufactured by twisting:<br />
morphology and mechanical properties<br />
Victor Talarico Leal Vieira<br />
Carlos Nelson Elias<br />
Hélio Pereira Lopes<br />
Edson Jorge Lima Moreira<br />
Letícia Chaves de Souza<br />
28. Efeito de retentores intrarradiculares na<br />
dimensão das imagens da tomografia<br />
computadorizada de feixe cônico<br />
Effect of intracanal posts on dimensions of cone beam<br />
computed tomography images of endodontically treated teeth<br />
Carlos Estrela<br />
Mike Reis Bueno<br />
Julio Almeida Silva<br />
Olavo César Lyra Porto<br />
Claudio Rodrigues Leles<br />
Bruno Correa Azevedo<br />
37. Efeito antimicrobiano de diferentes substâncias<br />
químicas associadas ao preparo mecânico e<br />
da medicação intracanal em dentes de cães<br />
portadores de lesões periapicais induzidas<br />
Efficacy of chemo-mechanical preparation with different<br />
substances and the use of a root canal medication in dog’s<br />
teeth with induced periapical lesion<br />
Frederico C. Martinho<br />
Luciano T. A. Cintra<br />
Alexandre A. Zaia<br />
Caio C. R. Ferraz<br />
José F. A. Almeida<br />
Brenda P. F. A. Gomes<br />
46. Determinação in vitro do efeito antimicrobiano<br />
direto do hidróxido de cálcio associado a<br />
diferentes substâncias frente a cepas de<br />
Enterococcus faecalis<br />
In vitro determination of direct antimicrobial effect of<br />
calcium hydroxide associated with different substances against<br />
Enterococcus faecalis strains<br />
Paulo Henrique Weckwerth<br />
Natália Bernecoli Siquinelli<br />
Ana Carolina Villas Bôas Weckwerth<br />
Rodrigo Ricci Vivan<br />
Marco Antonio Hungaro Duarte<br />
52. Análise das forças desenvolvidas durante a<br />
obturação do canal radicular por diferentes<br />
operadores<br />
Analysis of forces developed during root canal filling by<br />
different operators<br />
Maria Rosa Felix de Sousa G. Guimarães<br />
Henner Alberto Gomide<br />
Maria Antonieta Veloso C. de Oliveira<br />
João Carlos Gabrielli Biffi
58. Preenchimento de canais radiculares com pasta<br />
de hidróxido de cálcio, utilizando-se propulsor<br />
de Lentulo, em diferentes velocidades<br />
Root canal filling with calcium hydroxide paste using Lentullo<br />
spiral at different speeds<br />
Marili Doro Deonízio<br />
Gilson Blitzkow Sydney<br />
Antonio Batista<br />
Carlos Estrela<br />
64. Posição do forame apical e sua relação com o<br />
calibre do instrumento foraminal<br />
Location of the apical foramen and its relationship with<br />
foraminal file size<br />
Ronaldo Araújo Souza<br />
José Antônio Poli de Figueiredo<br />
Suely Colombo<br />
João da Costa Pinto Dantas<br />
Maurício Lago<br />
Jesus Djalma Pécora<br />
69. Avaliação in vitro das alterações verificadas em<br />
canais radiculares artificiais curvos preparados<br />
por dois sistemas rotatórios<br />
In vitro evaluation of shape changes in curved artificial root<br />
canals prepared with two rotary systems<br />
Benito André Silveira Miranzi<br />
Almir José Silveira Miranzi<br />
Luis Henrique Borges<br />
Mário Alfredo Silveira Miranzi<br />
Fernando Carlos Hueb Menezes<br />
Rinaldo Mattar<br />
Thiago Assunção Valentino<br />
Carlos Eduardo Silveira Bueno<br />
77. A persistência de diferentes pastas<br />
medicamentosas à base de hidróxido de cálcio<br />
em canais radiculares: estudo por MEV<br />
The persistence of different calcium hydroxide paste<br />
medications in root canals: an SEM study<br />
Hélio Katsuya Onoda<br />
Gerson Hiroshi Yoshinari<br />
Key Fabiano Souza Pereira<br />
Ângela Antonia Sanches Tardivo Delben<br />
Paulo Zárate<br />
Danilo Mathias Zanello Guerisoli<br />
82. Análise do nível de sujidade e sua interferência<br />
no processo de esterilização de limas<br />
endodônticas através da microscopia eletrônica<br />
de varredura e teste microbiológico<br />
SEM and microbiological analysis of dirt of endodontic files<br />
after clinical use and its influence on sterilization process<br />
Matheus Albino Souza<br />
Márcio Luiz Fonseca Menin<br />
Francisco Montagner<br />
Doglas Cecchin<br />
Ana Paula Farina<br />
Caso Clínico<br />
87. Influência da tomografia computadorizada de<br />
feixe cônico no plano de tratamento do dens<br />
invaginatus<br />
Influence of cone beam computed tomography on dens<br />
invaginatus treatment planning<br />
Daniel de Almeida Decurcio<br />
Julio Almeida Silva<br />
Rafael de Almeida Decurcio<br />
Ricardo Gariba Silva<br />
Jesus Djalma Pécora
Aquarium TM<br />
Case presentation software<br />
Descubra Aquarium.<br />
Interface Intuitiva • Incríveis filmes 3D • Conteúdo Amplo • Imagens<br />
Personalizadas • Compartilhável em Rede<br />
Aquarium consiste no mais novo programa interativo de educação e apresentação<br />
de casos para pacientes da Dolphin Imaging. Aquarium faz uso da qualidade<br />
profissional em ilustração e animação gráfica 3D para apresentação de tópicos<br />
comuns a complexos. Use Aquarium para explicar achados de diagnóstico,<br />
procedimentos, disfunções de ATM, instruções de higiene oral e outros. Os filmes<br />
e imagens do Aquarium podem ser exportados e compartilhados em rede dentro<br />
de sua clínica, através dos diversos monitores e resoluções, com alta definição e<br />
estética. Para saber mais, acesse: www.dolphinimaging.com/aquarium ou contate:<br />
comercial@renovatio3.com.br / fone: +11 3286.0300<br />
Years<br />
of Excellence<br />
© 2009 Dolphin Imaging & Management Solutions
Endo in Endo<br />
Tratamento ortodôntico não promove<br />
necrose pulpar<br />
Alberto consolaro<br />
Professor Titular da FOB-USP (Bauru) e da Pós-Graduação da FORP-USP (Ribeirão Preto).<br />
Consolaro A. Orthodontic treatment does not cause pulpal necrosis. <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong><br />
Endod. 2011 apr-june;1(1):14-20.<br />
Introdução<br />
A polpa dentária tem uma vascularização arboriforme<br />
e sua única fonte sanguínea está representada<br />
por uma delicada artéria que se adentra pelo forame<br />
apical. Muito eventualmente existe a comunicação<br />
vascular da polpa com o ligamento periodontal através<br />
de canais laterais e acessórios a partir de foraminas<br />
laterais e apicais.<br />
O tecido conjuntivo tem várias funções, como o<br />
preenchimento de espaços entre os órgãos, ductos e<br />
demais estruturas. Outra função importante do tecido<br />
conjuntivo é a sustentação de células especializadas,<br />
em órgãos como fígado, rim, pâncreas e glândulas.<br />
Nesses órgãos o tecido conjuntivo de sustentação recebe<br />
o nome de estroma e as células especializadas<br />
no conjunto, de parênquima. O tecido conjuntivo,<br />
além de preencher e sustentar, pode assumir funções<br />
muito especializadas como na polpa dentária, onde<br />
propicia sensibilidade e forma à dentina.<br />
Os tecidos conjuntivos podem ser do tipo fibroso,<br />
ósseo, cartilaginoso ou adiposo, entre outros. São os<br />
únicos tecidos vascularizados e recebem o sangue<br />
para nutrir e manter as células vivas e funcionais 3 .<br />
Da mesma forma que os vasos, existe uma trama<br />
conjuntiva de filetes neurais.<br />
Durante as compressões e massagens dos tecidos<br />
moles do corpo, podem ocorrer grandes deslocamentos<br />
em centímetros, sem que isso promova ruptura das<br />
estruturas do tecido conjuntivo, especialmente dos<br />
vasos e nervos. Essa elasticidade do tecido conjuntivo<br />
fibroso decorre da presença de fibras colágenas<br />
e elásticas em sua matriz extracelular, especialmente<br />
quando submetido a forças aplicadas progressiva<br />
e lentamente. Quando houver movimentação súbita<br />
das estruturas conjuntivas, podem ocorrer rompimentos<br />
de vasos e nervos. Quando isso ocorre formam-<br />
-se os hematomas caracterizados clinicamente pelas<br />
manchas arroxeadas ou vinhosas. Esses hematomas<br />
podem ocorrer depois de beliscões, mordidas e pancadas,<br />
ou seja, ações traumáticas súbitas e intensas<br />
sobre os tecidos conjuntivos fibrosos.<br />
Traumatismo dentário, trauma oclusal e<br />
movimento ortodôntico: são diferentes em<br />
seus efeitos teciduais periodontais<br />
Muito embora os termos traumatismo e trauma<br />
representem a ação deletéria de agentes físicos,<br />
como forças sobre os tecidos, nem sempre suas características<br />
são iguais em intensidade e frequência.<br />
O traumatismo dentário pode romper vasos e promover<br />
rupturas, por ter como característica a aplicação<br />
de forças súbitas e intensas sobre os dentes.<br />
Ao contrário ocorre com o trauma oclusal, no qual<br />
as forças são intensas, de pequena extensão, curta<br />
duração, mas constantemente repetitivas. Por outro<br />
lado, as forças da movimentação dentária são muito<br />
leves, mesmo as mais intensas, aplicadas lenta e prolongadamente<br />
sobre os dentes, de tal forma que se<br />
dissipam gradativamente em algumas horas ou dias.<br />
Em suma: embora sejam provocados por forças, o<br />
traumatismo dentário, o trauma oclusal e o movimento<br />
ortodôntico não guardam semelhanças entre<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 14<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):14-20
Consolaro A<br />
si quanto às características das forças aplicadas e<br />
quanto aos seus efeitos sobre os tecidos conjuntivos.<br />
No traumatismo dentário suas forças atuam<br />
abruptamente, com ruptura de estruturas conjuntivas,<br />
inclusive vasos e nervos. Quando uma força<br />
aparentemente leve atua sobre o dente, dependendo<br />
de seu ângulo de incidência e do local em que<br />
agiu, pode ocorrer uma resultante de forças no terço<br />
apical da raiz dentária, com ruptura do feixe vascular<br />
e nervoso que adentra na polpa. Um exemplo<br />
de traumatismo dentário é a concussão: não haverá<br />
mobilidade clinicamente detectada e a dor, se houver,<br />
será facilmente controlada com analgésicos comuns,<br />
durando algumas horas ou até 2 a 3 dias 2,3 .<br />
Aparentemente o dente volta ao normal, mas com o<br />
tempo a polpa pode denunciar seus danos sofridos,<br />
com a ocorrência da metamorfose cálcica da polpa<br />
ou da necrose pulpar asséptica, ambas clinicamente<br />
reveladas pelo escurecimento coronário em um dente<br />
aparentemente hígido.<br />
No trauma oclusal a morte celular e as rupturas<br />
estruturais são minimizadas pela rápida duração<br />
e repetitividade do processo, embora seja por um<br />
longo tempo. Nesse caso não haverá lesão estrutural<br />
no feixe vascular e nervoso da polpa, nem mesmo<br />
envelhecimento pulpar acelerado 3 . As lesões periodontais<br />
provocadas são leves e discretas. A estrutura<br />
periodontal deve ser reconhecida como um exemplo<br />
de organização para receber forças intensas da<br />
mastigação. As fibras periodontais se organizam em<br />
um espaço com espessura média de 0,25mm, mas<br />
mesmo assim, durante a mastigação, os dentes não<br />
encostam fisicamente no osso.<br />
No movimento ortodôntico as forças aplicadas<br />
sobre a estrutura dentária, mesmo as mais intensas,<br />
se dissipam gradativamente nos tecidos adjacentes.<br />
A plasticidade do tecido conjuntivo do ligamento<br />
periodontal, mais a capacidade de deflexão da crista<br />
óssea e a rotação que o dente sofre no alvéolo promovem<br />
uma lenta e gradativa adaptação dos tecidos<br />
circunvizinhos. O movimento ortodôntico se limita<br />
a no máximo 0,9mm na coroa durante as primeiras<br />
horas 1 , sem oferecer condições para ocorrência de<br />
rupturas estruturais de vasos e nervos.<br />
Não se deve comparar efeitos teciduais induzidos<br />
pelo traumatismo dentário, trauma oclusal e movimento<br />
ortodôntico: são situações distintas. No terço<br />
apical da raiz, a movimentação dentária ortodonticamente<br />
induzida se limita praticamente à decorrente<br />
compressão do ligamento periodontal, pois a<br />
deflexão óssea no osso periapical é bem menor e o<br />
eixo de rotação do dente está próximo do ápice. As<br />
forças são absorvidas e dissipadas lentamente, sem<br />
ruptura de vasos. Os pequenos movimentos são naturalmente<br />
absorvidos pelo tecido conjuntivo fibroso<br />
e elástico.<br />
Outra informação importante diz respeito ao<br />
tempo de duração em que as forças ortodônticas<br />
ficam ativas: 2 a 4 dias. Depois desse período, essas<br />
forças são dissipadas e começa a reorganização<br />
das estruturas periodontais com reabsorção da superfície<br />
óssea periodontal, migração de células para<br />
reorganização, com produção de novas fibras colágenas<br />
1 . Após 15 a 21 dias, o ligamento periodontal e<br />
demais estruturas estão prontos para um novo ciclo<br />
de eventos, pela reativação do aparelho ortodôntico.<br />
Em outras palavras: a movimentação dentária<br />
induzida é obtida em ciclos de 15 a 21 dias; o dente<br />
não fica movimentando-se o tempo todo. Na movimentação<br />
ortodôntica as forças são atenuadas pelas<br />
fibras colágenas e elásticas, sem comprometimento<br />
das estruturas que levam a irrigação sanguínea e<br />
sensibilidade da polpa.<br />
A cada período de ativação dos aparelhos ortodônticos<br />
– entre 15 e 21 dias – os tecidos periodontais<br />
se reorganizam e voltam ao normal. Os efeitos finais<br />
do tratamento ortodôntico sobre as estruturas e<br />
posição dos dentes é o somatório de todos os ciclos<br />
de 15 a 21 dias. As forças e os efeitos não foram contínuos<br />
e incessantes. Por vezes questiona-se: quando<br />
há rotação do dente em torno do seu longo eixo,<br />
como na giroversão, os feixes vasculares e nervosos<br />
ficam enrolados ou retorcidos em torno de si mesmos,<br />
e isso não compromete a irrigação sanguínea<br />
da polpa? Não, eles não ficam enrolados ou retorcidos,<br />
pois os tecidos, a cada período de 15 a 21 dias,<br />
se reorganizam, voltam à sua posição e relação de<br />
normalidade. Quando o novo ciclo de movimentação<br />
se estabelece, por uma nova ativação, os vasos e nervos<br />
estão em relação de normalidade, sem qualquer<br />
alteração em sua forma. Os tecidos constantemente<br />
renovam suas estruturas, remodelam-se e assim se<br />
adaptam a novas posições e relações estruturais.<br />
Consolaro 4 , em 2005, em sua investigação de<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 15<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):14-20
[ endo in endo ]<br />
Tratamento ortodôntico não promove necrose pulpar<br />
G<br />
D<br />
P<br />
LP<br />
OA<br />
P D C<br />
LP OA<br />
P C OA<br />
Figura 1. Molar de rato, 7 dias após ser movimentado. P=polpa;<br />
D=dentina; C=cemento; LP=ligamento periodontal; OA=osso alveolar;<br />
G=gengiva. (HE; 4X).<br />
Figura 2. Área de compressão do ligamento periodontal (LP) de molar<br />
de rato, 7 dias após ser movimentado. A seta indica a direção da força<br />
aplicada e o estreitamento do espaço periodontal. Apesar da compressão<br />
do ligamento periodontal, as células e fibras estão presentes na<br />
área, assim como os cementoblastos, osteoblatos e, ainda, os clastos<br />
(círculos). Destaca-se o padrão morfológico de normalidade da polpa<br />
dentária (P). D=dentina; C=cemento; OA=osso alveolar. (HE; 25X).<br />
mestrado, e Massaro et al. 9 , em 2009, analisaram<br />
microscopicamente a polpa de 49 primeiros molares<br />
superiores de ratos submetidos à movimentação<br />
dentária induzida após 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7 dias. Nas<br />
superfícies externas das raízes foram detectadas reabsorções<br />
indicando a eficiência das forças aplicadas,<br />
mas nos tecidos pulpares não se observou nenhuma<br />
alteração morfológica (Fig. 1-6).<br />
Sinopse, para endodontistas, da<br />
movimentação dentária induzida ou<br />
Força intensa aumenta a chance de necrose<br />
pulpar por movimento ortodôntico?<br />
As forças ortodônticas comprimem um determinado<br />
segmento do ligamento periodontal, pois os<br />
dentes são inclinados sobre a crista óssea alveolar<br />
ou no terço apical no lado oposto (Fig. 1, 2).<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 16<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):14-20
Consolaro A<br />
P D C LP OA<br />
Figura 3. Área de compressão do ligamento periodontal (LP) de molar<br />
de rato, 7 dias após ser movimentado. A seta maior indica a direção da<br />
força aplicada. As setas menores indicam os cementoblastos, ausentes<br />
na área de pressão, indicando eficiência da força aplicada. Apesar da<br />
compressão do ligamento periodontal, as células e fibras estão presentes<br />
na área, assim como os cementoblastos, osteoblatos e, ainda, os<br />
clastos (círculos). Destaca-se o padrão morfológico de normalidade da<br />
polpa dentária (P). D=dentina; C=cemento; OA=osso alveolar. (HE; 25X).<br />
P<br />
Os vasos sanguíneos comprimidos reduzem a<br />
quantidade de sangue para as células do local: elas<br />
param momentaneamente a produção e renovação da<br />
matriz extracelular, inclusive colágeno, e se desorganizam<br />
(Fig. 3, 4, 5). Em alguns casos as células migram<br />
para as áreas vizinhas ainda vascularizadas. No local<br />
permanece apenas a matriz extracelular em algumas<br />
áreas que foram mais intensamente afetadas pela hipóxia.<br />
Essas áreas assumem um aspecto vítreo ao microscópio<br />
óptico e por isso são denominadas de áreas<br />
hialinas (Fig. 6).<br />
Neste segmento do ligamento periodontal comprimido<br />
e com redução do suporte sanguíneo, haverá um<br />
aumento da produção local de mediadores celulares,<br />
pelo estresse metabólico produzido e pela discreta<br />
inflamação induzida. O ligamento periodontal está<br />
vivo, viável metabolicamente, com irrigação sanguínea<br />
e ainda com clastos suficientemente ativados para<br />
CT<br />
C<br />
C<br />
P<br />
D<br />
CT<br />
CT<br />
P<br />
D<br />
LP<br />
OA<br />
A<br />
C<br />
B<br />
Figura 4. A) Área de compressão do ligamento periodontal (LP) de molar de rato, 7 dias após ser movimentado. A seta indica a direção da força aplicada.<br />
Os clastos (CT) presentes na superfície radicular indicam eficiência da força aplicada. Em B, destaca-se o padrão morfológico de normalidade<br />
da polpa dentária (P) com camada odontoblástica (setas menores). D=dentina; C=cemento; OA=osso alveolar. (HE; 40X).<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 17<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):14-20
[ endo in endo ]<br />
Tratamento ortodôntico não promove necrose pulpar<br />
reabsorver a superfície óssea periodontal do alvéolo<br />
(Fig. 5). A reabsorção óssea periodontal ocorre em<br />
frente ao ligamento periodontal comprimido e por isso<br />
é denominada de reabsorção óssea frontal (Fig. 5). Gradativamente<br />
ao longo de alguns dias, o dente vai se<br />
deslocando para um dos lados no alvéolo, reocupando<br />
seu novo lugar, e as células do ligamento restabelecem<br />
a espessura média de 0,25mm. Nesse processo,<br />
especialmente na região apical não ocorre ruptura<br />
vascular nos tecidos que adentram para o interior do<br />
canal radicular. A partir desta relação de normalidade<br />
restabelecida, o ligamento periodontal e tecidos<br />
vizinhos irão se reorganizar em alguns dias. Após 15<br />
a 21 dias estaremos prontos para reativar o aparelho,<br />
pois os tecidos voltarão à normalidade.<br />
O deslocamento do ápice radicular é muito pequeno<br />
e lento, o tecido conjuntivo tem elasticidade suficiente<br />
para resistir a deslocamentos muito maiores. Além de<br />
possuir fibras elásticas, a matriz extracelular do tecido<br />
conjuntivo representa um gel entre as células e fibras,<br />
amortecendo as forças e deslocamentos aplicados, sem<br />
que ocorra morte celular e ruptura vascular (Fig. 1, 2).<br />
Quando uma força muito intensa, como aquela aplicada<br />
sobre os dentes-suporte de aparelhos expansores<br />
LP<br />
C<br />
H<br />
H<br />
D C LP OA<br />
P<br />
D<br />
H<br />
OA<br />
LP<br />
Figura 5. Área de compressão do ligamento periodontal (LP) de molar<br />
de rato, 6 dias após ser movimentado, com típica reabsorção óssea<br />
frontal. A seta maior indica a direção da força aplicada. As setas menores<br />
indicam os cementoblastos. Apesar da compressão do ligamento<br />
periodontal, as células e fibras estão presentes na área, assim como<br />
os cementoblastos, osteoblastos e os clastos (círculos). D=dentina;<br />
C=cemento; OA=osso alveolar. (HE; 25X).<br />
Figura 6. Reabsorção óssea à distância clássica na área de compressão<br />
do ligamento periodontal (LP) de molar de rato, 3 dias após ser<br />
movimentado. A seta indica a direção da força intensa aplicada e o estreitamento<br />
do espaço periodontal. A área de compressão do ligamento<br />
periodontal ficou hialinizada (H), sem cementoblastos e osteoblatos. Os<br />
clastos (círculos) atuam à distância da área de compressão do ligamento<br />
periodontal (LP). Destaca-se o padrão morfológico de normalidade da<br />
polpa dentária (P). D=dentina; C=cemento; OA=osso alveolar. (HE; 25X).<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 18<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):14-20
Consolaro A<br />
da maxila, atuar sobre o dente, não teremos uma efetiva<br />
movimentação do dente no alvéolo. A força muito<br />
intensa colaba os vasos, interrompe a vascularização<br />
normal naquele segmento periodontal. As células no<br />
local morrem ou, mais frequentemente, fogem para as<br />
áreas vizinhas, inclusive as células inflamatórias e os<br />
clastos (Fig. 6). Sem irrigação sanguínea não haverá<br />
atividade celular na superfície periodontal do osso alveolar.<br />
Ou seja, o segmento periodontal comprimido<br />
nessas condições fica todo hialinizado e sem atividade<br />
celular (Fig. 6).<br />
Quando a vascularização for restabelecida em<br />
função da dissipação gradativa da forca excessiva<br />
aplicada, as células vizinhas irão do centro para a<br />
periferia, reabsorvendo e remodelando a área hialinizada<br />
do ligamento periodontal. O dente, portanto,<br />
não se movimentará, pois os clastos não encontram<br />
condições metabólicas de nutrição e metabolismo<br />
para atuar na superfície periodontal do osso alveolar.<br />
Os processos de remodelação da área hialina e<br />
do osso serão feitos da periferia para o centro, inclusive<br />
na parte subjacente da tábua óssea alveolar<br />
(Fig. 6). O processo de reabsorção óssea e reorganização<br />
que deveria ocorrer em frente à compressão<br />
do ligamento periodontal, agora ocorrerá à<br />
distância: reabsorção óssea à distância, mas não é<br />
desejável (Fig. 6). Nesse caso o dente não se movimentou<br />
e nem se deslocou minimamente, logo não<br />
tem como ter rompido o feixe vascular e nervoso.<br />
Essa explicação ajuda a compreender por que os<br />
dentes que atuam como ancoragem de aparelhos<br />
disjuntores ou expansores da maxila, a maior força possível<br />
de ser aplicada sobre um dente, não sofrem necrose<br />
e nem envelhecimento pulpar. Em suma: quanto mais<br />
intensa for a força ortodôntica aplicada, menor a chance<br />
do dente se movimentar no alvéolo e, em consequência, não<br />
se tem como induzir necrose pulpar associada. Valadares<br />
Neto 13 , em 2000, em seu trabalho de investigação de<br />
mestrado com nossa orientação, analisou os efeitos da<br />
expansão rápida da maxila no complexo dentinopulpar<br />
em 12 adolescentes. Utilizando-se de aparelhos do tipo<br />
Hass, analisou microscopicamente toda a extensão da<br />
polpa e dentina de 12 pré-molares logo após a remoção<br />
dos aparelhos, com a expansão da maxila estabelecida;<br />
e de outros 12 pré-molares após 120 dias de<br />
contenção, depois da remoção dos aparelhos. Outros<br />
6 pré-molares de adolescentes foram utilizados como<br />
grupo controle e não foram submetidos a qualquer procedimento<br />
ortodôntico e/ou ortopédico. Em todos os<br />
dentes analisados o complexo dentinopulpar apresentou-se<br />
completamente normal, sem qualquer alteração<br />
microscopicamente detectável.<br />
E quando a necrose pulpar for diagnosticada<br />
em dentes hígidos durante o<br />
tratamento ortodôntico?<br />
Com base nas explicações anteriores, pode-se perfeitamente<br />
compreender porque o tratamento ortodôntico<br />
não induz necrose pulpar ou seu envelhecimento<br />
acelerado. Em todos os casos em que a necrose pulpar<br />
for detectada durante o tratamento ortodôntico, deve-<br />
-se resgatar uma história de traumatismo dentário. Os<br />
pacientes não lembram-se das concussões e de traumatismos<br />
dentários menores, mas eles ocorrem diariamente.<br />
Pequenas pancadas, resvaladas e acidentes<br />
domésticos podem aparentemente ser inocentes, mas,<br />
ao concentrar forças no ápice, podem provocar súbitos<br />
e pequenos deslocamentos, com ruptura do feixe<br />
vascular pulpar. Em muitos casos de traumatismo<br />
dentário não ocorrem danos gengivais e coronários,<br />
nem sangramentos, mas pode-se ter necrose pulpar<br />
asséptica. Em alguns traumatismos dentários, pode-se<br />
ter severos danos gengivais e sangramento abundante,<br />
mas sem ruptura do feixe vascular pulpar.<br />
As concussões dentárias podem ocorrer, ainda, frente<br />
às seguintes situações: dentes que atuam como suporte<br />
de alavancas em extrações de dentes vizinhos, pequenas<br />
batidas de fórceps nas extrações de terceiros molares, luxações<br />
de caninos não irrompidos e tracionados, batidas<br />
transcirúrgicas de laringoscópios durante a anestesia geral<br />
ou, ainda, mordidas acidentais de talheres, sementes<br />
ou corpos estranhos durante a alimentação.<br />
Não há evidências clínicas, laboratoriais e experimentais<br />
para atribuir, ainda que teoricamente, a necrose<br />
pulpar como resultante da movimentação ortodôntica<br />
5-8,10,11,12 . Quando situações clínicas simularem<br />
uma situação como essa, procure resgatar a história de<br />
traumatismo dentário e não atribua a necrose pulpar ao<br />
movimento ortodôntico.<br />
Considerações finais<br />
1. A necrose pulpar asséptica não tem como ser<br />
atribuída clínica e experimentalmente ao movimento<br />
ortodôntico.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 19<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):14-20
[ endo in endo ]<br />
Tratamento ortodôntico não promove necrose pulpar<br />
2. Nos casos de necrose pulpar durante o tratamento<br />
ortodôntico, deve-se pesquisar o histórico<br />
de traumatismos dentários, especialmente<br />
os mais leves, do tipo concussão.<br />
3. Em casos de forças muito intensas utilizadas<br />
em tratamentos ortodônticos e ortopédicos, a<br />
movimentação dentária não ocorre e o deslocamento<br />
com ruptura do feixe vascular pulpar<br />
tem menor chance ainda de acontecer.<br />
4. Traumatismo dentário, trauma oclusal e movimentação<br />
ortodôntica são situações totalmente<br />
distintas umas das outras, embora sejam eventos<br />
físicos sobre os tecidos. Os efeitos biológicos<br />
em cada uma dessas três situações são<br />
diferentes e específicos, não sendo, portanto,<br />
comparáveis entre si.<br />
Referências<br />
1. Consolaro A. Reabsorções dentárias nas especialidades<br />
clínicas. 2ª ed. Maringá: <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong>; 2005.<br />
2. Consolaro A. Inflamação e reparo. Maringá: <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong>;<br />
2010.<br />
3. Consolaro A, Consolaro MFM-O. Controvérsias na Ortodontia<br />
e atlas de Biologia da movimentação dentária. Maringá: <strong>Dental</strong><br />
<strong>Press</strong>; 2008.<br />
4. Consolaro RB. Análise do complexo dentinopulpar em dentes<br />
submetidos à movimentação dentária induzida em ratos<br />
[dissertação]. Bauru: Universidade de São Paulo; 2005.<br />
5. Derringer KA, Jaggers DC, Linden RW. Angiogenesis in human<br />
dental pulp following orthodontic tooth movement. J Dent Res.<br />
1996;75(10):1761-6.<br />
6. Derringer KA, Linden RW. Epidermal growth factor released in<br />
human dental pulp following orthodontic force. Eur J Orthod.<br />
2007;29(1):67-71.<br />
7. Grünheid T, Morbach BA, Zentner A. Pulpal cellular reactions to<br />
experimental tooth movement in rats. Oral Surg Oral Med Oral<br />
Pathol Oral Radiol Endod. 2007;104(3):434-41.<br />
8. Junqueira LC, Carneiro J. Histologia básica. 11 a ed. Rio de<br />
Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. 524 p.<br />
9. Massaro CS, Consolaro RB, Santamaria M Jr, Consolaro MF,<br />
Consolaro A. Analysis of the dentin-pulp complex in teeth<br />
submitted to orthodontic movement in rats. J Appl Oral Sci.<br />
2009;17(sp. issue):35-42.<br />
10. Osborn JW, Ten Cate AR. Histologia dental avançada. 4 a ed.<br />
São Paulo: Quintessence; 1988.<br />
11. Pissiotis A, Vanderas AP, Papagiannoulis L. Longitudinal study<br />
on types of injury, complications and treatment in permanent<br />
traumatized teeth with single and multiple dental trauma<br />
episodes. Dent Traumatol. 2001;23(4):222-5.<br />
12. Santamaria M Jr, Milagres D, Stuani AS, Stuani MBS, Ruellas<br />
ACO. Pulpal vasculature changes in tooth movement. Eur J<br />
Orthod. 2006;28(3):217-20.<br />
13. Valladares J Neto. Análise microscópica do complexo<br />
dentinopulpar e da superfície radicular externa após a<br />
expansão rápida da maxila em adolescentes [dissertação].<br />
Goiânia: Universidade Federal de Goiás; 2000.<br />
Endereço para correspondência:<br />
Alberto Consolaro - E-mail: consolaro@uol.com.br<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 20<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):14-20
artigo original<br />
Um instrumento NiTi fabricado por torção: morfologia<br />
e propriedades mecânicas<br />
Victor Talarico Leal Vieira, DDS, MSc 1<br />
Carlos Nelson Elias, DDS, MSc, PhD 1<br />
Hélio Pereira Lopes, DDS, PhD 2<br />
Edson Jorge Lima Moreira, DDS, MSc, PhD 3<br />
Letícia Chaves de Souza, DDS, MSc 1<br />
Resumo<br />
A morfologia da superfície dos instrumentos TF ® foi estudada<br />
utilizando estereomicroscopia e microscopia eletrônica<br />
de varredura (MEV). Ensaios mecânicos foram<br />
feitos para aferir a flexibilidade e a microdureza. Quatro<br />
conicidades de instrumentos TF ® foram utilizadas (0,04;<br />
0,06; 0,08 e 0,10mm/mm). A estereomicroscopia associada<br />
com o programa AxioVision ® foi utilizada para medir o<br />
ângulo da ponta, a conicidade e o diâmetro da ponta dos<br />
instrumentos. A MEV foi utilizada para identificar defeitos<br />
na superfície provenientes da fabricação e do acabamento.<br />
A flexibilidade e a microdureza foram aferidas com os<br />
ensaios de flexão e microdureza Vickers, respectivamente.<br />
A análise mostrou que o fabricante atendeu aos valores recomendados<br />
pela norma nº 28 ANSI/ADA. Os resultados<br />
da microscopia eletrônica de varredura mostraram muitos<br />
defeitos de superfície e distorção da aresta lateral dos instrumentos.<br />
Foi observado que a flexibilidade do instrumento<br />
muda com a conicidade. As forças para induzir a transformação<br />
de fase por tensão nos instrumentos com conicidade<br />
0,04; 0,06 e 0,08mm/mm foram de 100gf, 150gf e 250gf,<br />
respectivamente. Os valores da microdureza Vickers dos<br />
instrumentos são compatíveis com os encontrados nos instrumentos<br />
fabricados pelo processo de usinagem.<br />
Palavras-chave: Instrumentos endodônticos. Liga de NiTi.<br />
Fase R. Caracterização de materiais. Ensaios mecânicos.<br />
Vieira VTL, Elias CN, Lopes HP, Moreira EJL, Souza LC. A NiTi rotary instrument manufactured by twisting: morphology and mechanical properties. <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod.<br />
2011 apr-june;1(1):21-7.<br />
1<br />
Departamento de Engenharia Mecânica e de Materiais, Instituto Militar de Engenharia, Rio de<br />
Janeiro, RJ, Brasil.<br />
2<br />
Departamento de Endodontia, Faculdade de Odontologia, Universidade Estácio de Sá, Rio de<br />
Janeiro, RJ, Brasil.<br />
3<br />
Departamento de Endodontia, Faculdade de Odontologia, UNIGRANRIO, Universidade do<br />
Grande Rio.<br />
Recebido: janeiro de 2011 / Aceito: fevereiro de 2011.<br />
Endereço para correspondência: Victor Talarico Leal Vieira<br />
Rua Engenheiro Coelho Cintra 25/101, Ilha do Governador, CEP: 21.920-420<br />
Rio de Janeiro, RJ, Brasil -<br />
Email: victortalarico@yahoo.com.br.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 21<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):21-7
[ artigo original ] Um instrumento NiTi fabricado por torção: morfologia e propriedades mecânicas<br />
Introdução<br />
Em 1988, Walia et al. 1 utilizaram uma nova liga metálica<br />
para fabricar instrumentos endodônticos, a liga<br />
de NiTi. Os instrumentos produzidos com essa liga<br />
possuem um módulo de Young mais baixo do que os<br />
instrumentos fabricados em aço inoxidável, permitindo<br />
o tratamento endodôntico de casos com grandes curvaturas<br />
radiculares. A utilização de instrumentos fabricados<br />
com aço inoxidável pode dificultar o tratamento.<br />
Os primeiros instrumentos endodônticos de NiTi comercializados<br />
eram fabricados a partir da usinagem de<br />
barras. Com o desenvolvimento da liga de NiTi, o estudo<br />
dos mecanismos nas transformações de fase e o melhor<br />
controle da microestrutura, foi possível desenvolver<br />
um novo método de fabricação baseado na torção.<br />
Os instrumentos TF ® (Twisted Files, Califórnia, EUA)<br />
são fabricados por torção. Essa nova geração de instrumentos<br />
parece possuir melhor desempenho clínico.<br />
No presente trabalho, a morfologia da superfície dos<br />
instrumentos fabricados por torção foi investigada e a<br />
microdureza Vickers e flexibilidade foram aferidas. Essas<br />
propriedades são importantes para entender o comportamento<br />
clínico e para o desenvolvimento de novos<br />
instrumentos.<br />
Material e métodos<br />
Morfologia<br />
Os instrumentos endodônticos TF ® (Twisted Files,<br />
Califórnia) utilizados nesse estudo possuíam comprimento<br />
de 27mm e diâmetro da ponta (D 0<br />
) de 25mm.<br />
Foram utilizadas três conicidades diferentes (0,04; 0,06<br />
e 0,08mm/mm).<br />
O ângulo da ponta, o diâmetro da ponta e a conicidade<br />
foram determinados com um microscópio óptico<br />
Zeiss ® com uma câmera pixeLINK modelo PL- a662<br />
e uma fonte luminosa Zeiss ® 1500 LCD. A conicidade<br />
foi determinada com uma ampliação de 1.6X. As outras<br />
dimensões foram quantificadas com uma ampliação de<br />
5X. Todas as dimensões dos instrumentos foram determinadas<br />
com o programa AxioVison 4.4 ® . Cinco instrumentos<br />
de cada conicidade foram investigados.<br />
Ensaio de flexão (em 45º)<br />
Os ensaios de flexão foram executados com um<br />
dispositivo afixado ao sistema da máquina de ensaio<br />
universal EMIC DL1000 (EMIC Equipamentos, Brasil).<br />
Uma célula de carga de 20N foi utilizada para aferir a<br />
força necessária para flexionar a ponta dos instrumentos<br />
em 10 o , 20 o , 30 o e 45 o . Os ensaios foram feitos de<br />
acordo com a norma nº 28 da ADA, com a força aplicada<br />
a 3mm da ponta do instrumento.<br />
Microdureza Vickers<br />
Para o ensaio de microdureza Vickers, os instrumentos<br />
foram embutidos em resina epóxi. A haste de fixação<br />
foi mantida paralela à base do recipiente, com o<br />
propósito de expor o núcleo do instrumento de maneira<br />
correta após o polimento. Os instrumentos foram preparados<br />
com lixas 200, 300, 400, 600 e 1200, e polidos<br />
com partículas de alumina de 0,5µm.<br />
As endentações para o ensaio Vickers foram feitas<br />
com 100gf durante 15s utilizando um microdurômetro<br />
modelo Bhueler 1600-5300. Foram feitas cinco endentações<br />
na parte de trabalho e cinco no intermediário de<br />
cada espécime.<br />
Microscopia eletrônica de varredura (MEV)<br />
Dois instrumentos de cada conicidade foram submetidos<br />
à MEV (JEOL, LSM 5800LV) para avaliar a<br />
morfologia da aresta lateral de corte, da ponta e da junção<br />
entre o intermediário e a haste de fixação.<br />
Análise estatística<br />
Os dados dos ensaios de flexão e de microdureza<br />
Vickers foram analisados estatisticamente pelo teste de<br />
Kruskal-Wallis e complementados com o teste de comparações<br />
múltiplas Student-Newman-Keuls para comparar<br />
as conicidades. A microdureza no intermediário<br />
foi comparada aplicando-se o teste de Mann-Whitney.<br />
O nível de significância de todas as análises foi de 5%.<br />
Resultados<br />
Os resultados da análise estatística são mostrados<br />
nas Tabelas 1 e 2. Os resultados dos testes de flexão<br />
estão mostrados na Tabela 3. A Figura 1 mostra a curva<br />
média obtida de dez instrumentos de conicidade<br />
0,06mm/mm flexionados. Os ensaios para as outras<br />
conicidades mostraram curvas similares.<br />
As curvas mostram uma mudança de inclinação que<br />
é atribuída à transformação de fase. Os valores das forças<br />
para flexionar os instrumentos em 10 o , 20 o , 30 o e<br />
45 o estão mostrados na Tabela 2 e as forças necessárias<br />
para induzir a transformação de fase por tensão estão<br />
mostradas na Tabela 3.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 22<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):21-7
Vieira VTL, Elias CN, Lopes HP, Moreira EJL, Souza LC<br />
A análise estatística pelo teste de Krukal-Wallis<br />
mostrou que há uma diferença significativa entre<br />
os instrumentos com conicidades diferentes<br />
(P
[ artigo original ] Um instrumento NiTi fabricado por torção: morfologia e propriedades mecânicas<br />
provou ser mais flexível do que os instrumentos de conicidade<br />
0,08mm/mm.<br />
Os valores médios da microdureza Vickers na região<br />
do intermediário e na parte ativa estão mostrados na<br />
Tabela 4.<br />
Os resultados da microdureza Vickers para cada conicidade<br />
foram submetidos ao teste de Mann-Whitney<br />
e não houve diferença estatística significativa entre os<br />
valores no intermediário e na parte ativa para todos os<br />
instrumentos (p>0,05).<br />
100 µm<br />
100 µm<br />
100 µm<br />
50 µm<br />
Figura 2. Imagens de um Instrumento TF ® de conicidade 0,04mm/mm.<br />
A) Aresta lateral de corte mostrando rebarbas (magnificação de 60×).<br />
B) Curvatura na aresta proveniente do processo de fabricação (magnificação<br />
de 100×). C) Poros presentes no instrumento (magnificação de<br />
500×). D) Presença de farpas (magnificação de 300×). E) Junção entre<br />
o cabo e o intermediário (magnificação de 27×).<br />
500 µm<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 24<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):21-7
Vieira VTL, Elias CN, Lopes HP, Moreira EJL, Souza LC<br />
Os valores de microdureza observados também foram<br />
analisados pelo teste de Kruskal-Wallis. A análise<br />
estatística confirmou que não houve diferença significativa<br />
entre os grupos (p=0,658). É possível concluir que<br />
a microdureza Vickers é independente da conicidade e<br />
da região do instrumento testado.<br />
A análise da superfície mostrou defeitos de fabricação<br />
em todos os instrumentos testados (Fig. 2).<br />
A Figura 2 mostra cavidades produzidas no processo<br />
de fabricação. É possível ver as marcas de ferramentas<br />
ao longo da direção longitudinal. Todas as amostras<br />
possuíam microcavidades.<br />
Discussão<br />
É importante que a ponta do instrumento tenha um<br />
bom acabamento e um ângulo de transição que permita<br />
a introdução no canal radicular. Pequenos ângulos<br />
(menos do que 33º) podem gerar degraus ou desvios.<br />
Os instrumentos TF ® possuem um ângulo da ponta<br />
progressivo que permite a introdução, em regiões com<br />
curvaturas importantes, sem a deformação do canal,<br />
promovendo, assim, um alargamento seguro. O ângulo<br />
da ponta arredondado pode ser classificado como<br />
suave 2 . Devido a essa configuração, é provável que o<br />
instrumento não cause danos à raiz.<br />
A dimensão D o<br />
do instrumento é determinada pelo<br />
diâmetro da base da ponta, a qual serve como referência<br />
durante a instrumentação do canal. O valor de D o<br />
e a conicidade nominal do instrumento permitem determinar<br />
o diâmetro que irá se trabalhar em um dado<br />
segmento do canal. Uma conta simples pode ser feita<br />
para determinar quais instrumentos serão utilizados<br />
em sequência para se ter um trabalho efetivo. Os valores<br />
do diâmetro das bases das pontas (D o<br />
) encontrados<br />
nesse estudo seguem a recomendação da norma nº<br />
28 da ANSI/ADA. Foi observado que os ângulos das<br />
pontas também seguem as recomendações da norma.<br />
De acordo com Thompson 3 , a transformação de<br />
fase das ligas de NiTi não mostra mudanças macroscópicas<br />
quando cargas externas causam alterações na<br />
microestrutura. O teste de flexão mostrou uma mudança<br />
na inclinação da curva depois de um aumento linear<br />
que seguiu a lei de Hooke. Essa mudança é atribuída a<br />
uma transformação de fase de austenita para martensita.<br />
Essa inclinação está de acordo com os resultados de<br />
Thompson 3 . No início, o material está na zona elástica;<br />
no final, ele se encontra na região superelástica e, entre<br />
esses dois momentos o material se encontra na região<br />
de transformação de fase.<br />
Nesse estudo, foi feito o gráfico mostrando a relação<br />
entre a força e a deformação. Thompson 3 provavelmente<br />
utilizou um fio no seu experimento, então se<br />
tornou fácil calcular a tensão (σ), utilizando a área do<br />
espécime. No caso desse estudo, devido à complexidade<br />
da forma, é impossível calcular a tensão com uma<br />
boa precisão. Entretanto, como a tensão é proporcional<br />
à força (σ = F/A), a forma da curva é a mesma.<br />
Thompson 3 mencionou que o preparo dos canais<br />
radiculares promove a transformação martensítica por<br />
tensão nos instrumentos de liga de NiTi. O nível de<br />
tensão no qual a transformação de fase ocorre não foi<br />
mencionado por autores, e foi encontrado nesse estudo<br />
sendo diferente para cada instrumento. Isso é uma<br />
informação importante para estudos futuros e para a<br />
prática clínica.<br />
De acordo com Schäfer et al. 4 , a secção transversal<br />
é o principal fator que afeta o ensaio de flexão. Isso é<br />
razoável, pois a maior área implica um maior volume<br />
de metal no núcleo do instrumento. Nesse trabalho,<br />
um fator que influenciou a força máxima para a flexão<br />
dos instrumentos a 45º foi a conicidade. A conicidade<br />
possui a mesma influência da secção transversal, pela<br />
mesma razão. Se o diâmetro da ponta é mantido constante,<br />
uma maior conicidade irá promover uma menor<br />
flexibilidade, como observado nos ensaios.<br />
De acordo com Miyai et al. 5 e Hayashi et al. 6 , a flexibilidade<br />
do instrumento é influenciada pela transformação<br />
de fase. A fase R, ou romboédrica, possui uma grande<br />
efeito memória de forma e seu o módulo de Young<br />
é menor que o da austenita, então um instrumento que<br />
passe por essa transformação será mais flexível. Estudos<br />
futuros utilizando DSC (Calorimetria Diferencial de<br />
Varredura) serão necessários para quantificar a influência<br />
da fase R na flexibilidade.<br />
Yahata et al. 7 utilizaram o mesmo modelo proposto<br />
por Miyai et al. 5 para estudar amostras recozidas. Entretanto,<br />
diferentemente desse estudo, os autores não<br />
mencionaram a força média para a transformação de<br />
fase quando o instrumento é submetido à tensão.<br />
Outros valores encontrados nesse estudo estão<br />
compatíveis com ligas de NiTi. Lopes et al. 8 encontraram<br />
valores médios de 345HV em instrumentos de NiTi<br />
(Files NiTi-flex). Serene et al. 9 encontraram valores entre<br />
303 e 362HV para a microdureza de ligas de NiTi<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 25<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):21-7
[ artigo original ] Um instrumento NiTi fabricado por torção: morfologia e propriedades mecânicas<br />
utilizadas na fabricação de instrumentos endodônticos.<br />
O valor médio encontrado nesse estudo foi 289HV.<br />
Esse valor é similar a outros da literatura.<br />
Nesse trabalho foi observado que o processo de fabricação<br />
não muda a microdureza Vickers, provavelmente<br />
devido ao tratamento térmico, que pode ter sido<br />
abaixo da temperatura de recristalização proposta por<br />
Kuhn e Jordan 10 .<br />
De acordo com o fabricante 11 , a ausência de outro<br />
metal no cabo de fixação evita corrosão galvânica. O<br />
instrumento é realmente formado por uma única peça.<br />
Entretanto, a corrosão galvânica não é um problema<br />
importante, por causa da vida útil curta do material na<br />
clínica. Ela seria importante somente se o instrumento<br />
permanecer em estoque por um longo período de tempo<br />
em condições adversas.<br />
De acordo com Kim et al. 12 , os instrumentos TF ®<br />
apresentam uma resistência significativa à fratura por<br />
flexão rotativa, quando comparados a outros instrumentos<br />
fabricados pelo processo de usinagem, corroborando<br />
com os resultados obtidos por Gambarini et<br />
al. 13 e Larsen et al. 14 Isso pode ser explicado pelo fato da<br />
usinagem produzir defeitos perpendiculares que favorecem<br />
a nucleação e propagação de trincas.<br />
Mesmo apresentando bons resultados no ensaio de<br />
flexão rotativa, os instrumentos TF ® deveriam apresentar<br />
um melhor acabamento superficial, que poderia melhorar<br />
o desempenho, conferindo resistência à fratura.<br />
A morfologia da superfície encontrada nesse trabalho é<br />
muito parecida com a encontrada por Kim et al. 12 Apesar<br />
do eletropolimento, a superfície não é completamente<br />
lisa e possui marcas do processo de fabricação.<br />
Essa observação corrobora os resultados desse estudo.<br />
Conclusões<br />
Baseado nos resultados, conclui-se que:<br />
a) as dimensões dos instrumentos TF ® seguem as<br />
recomendações da norma nº 28 da ANSI/ADA;<br />
b) os instrumentos apresentam muitos defeitos do<br />
processo de fabricação;<br />
c) a flexibilidade do instrumento diminui com o aumento<br />
da conicidade;<br />
d) a transformação de fase induzida por tensão nos<br />
instrumentos TF ® de conicidade 0,04; 0,06 e 0,08<br />
mm/mm foi com 100gf, 150gf e 250gf, respectivamente;<br />
e) a microdureza Vickers foi similar à de outros instrumentos<br />
de NiTi fabricados por usinagem.<br />
A NiTi rotary instrument manufactured by twisting: morphology and<br />
mechanical properties<br />
abstract<br />
Objectives: The surface morphology of TF ® endodontic<br />
instruments was studied using stereomicroscopy and scanning<br />
electron microscopy (SEM). Mechanical tests were<br />
done for flexibility and microhardness. Methods: Four tapers<br />
of TF ® files was used (0.04; 0.06; 0.08 e 0.10 mm/mm).<br />
The stereomicroscopy associated with the AxioVision ® program<br />
was used to measure the tip angle, the helical angle,<br />
the taper and the tip diameter of the instruments. SEM was<br />
used to identify surface defects due to machining and finishing.<br />
The flexibility and the microhardness were measured<br />
with bending and microhardness Vickers tests, respectively.<br />
The analysis showed that the manufacturer complied with the<br />
values recommended by the ANSI/ADA standard number 28.<br />
Results and Conclusions: The SEM results showed many<br />
surface defects and a distortion of the instrument helicity. It<br />
was observed that the instrument flexibility changes with its taper.<br />
The forces to induce the phase transformation by stress on<br />
instruments with taper 0.04; 0.06 e 0.08 mm/mm were 100 gf,<br />
150 gf and 250 gf, respectively. The values of microhardness<br />
Vickers of the instruments are compatible with rotary instruments<br />
manufactured by the machining process.<br />
Keywords: Endodontic instruments. NiTi alloy. R-phase. Materials<br />
characterization. Mechanical tests. NiTi manufacturing methods.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 26<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):21-7
Vieira VTL, Elias CN, Lopes HP, Moreira EJL, Souza LC<br />
Referências<br />
1. Walia H, Brantley WA, Gerstein H. An initial investigation of the<br />
bending and torsional properties of nitinol root canal files. J Endod.<br />
1988;14(7):346-51.<br />
2. Lopes HP, Siqueira JF Jr. Endodontia: biologia e técnica. 2ª ed. Rio<br />
de Janeiro: Guanabara Koogan; 2007.<br />
3. Thompson SA. An overview of nickel–titanium alloys used in<br />
dentistry. Int Endod J. 2000;33:297-310.<br />
4. Schäfer E, Dzepina A, Danesh G, Münster B. Bending properties of<br />
rotary nickel-titanium instruments. Oral Surg Oral Med Oral Pathol<br />
Oral Radiol Endod. 2003;96:757-63.<br />
5. Miyai K, Ebihara A, Hayashi Y, Doi H, Suda H, Yoneyama T.<br />
Influence of phase transformation on the torsional and bending<br />
properties of nickel–titanium rotary endodontic instruments Int<br />
Endod J. 2006;39:119-26.<br />
6. Hayashi Y, Yoneyama T, Yahata Y, Miyai K, Doi H, Hanawa T,<br />
et al. Phase transformation behavior and bending properties of<br />
hybrid nickel-titanium rotary endodontic instruments. Int Endod J<br />
2007;40(4):247-53.<br />
7. Yahata Y, Yoneyama T, Hayashi Y, Ebihara A, Doi H, Hanawa T, et<br />
al. Effect of heat treatment on transformation temperatures and<br />
bending properties of nickel–titanium endodontic instruments. Int<br />
Endod J. 2009;42:621-6.<br />
8. Lopes HP, Elias CN, Campos LC, Moreira EJL. Efeito da frequência<br />
da rotação alternada na fratura de instrumentos tipo K de NiTi. Rev<br />
Bras Odontol. 2004;61(3-4):210-2.<br />
9. Serene TP, Adams JD, Saxena A. A nickel-titanium instruments:<br />
applications in endodontics. St. Louis: Ishyaku EuroAmerica; 1995.<br />
10. Kuhn G, Jordan L. Fatigue and mechanical properties of nickel–<br />
titanium endodontic instruments. J Endod. 2002;28(10):716-20.<br />
11. TF Technical Bulletin - Part No. 077-3140 Rev. A - 2008.<br />
12. Kim HC, Yum J, Hur B, Cheung GSP. Cyclic fatigue and fracture<br />
characteristics of ground and twisted nickel-titanium rotary files.<br />
J Endod. 2010;36(1):147-52.<br />
13. Gambarini G, Grande NM, Plotino G, Somma F, Garala M, De Luca<br />
M, et al. Fatigue resistance of engine-driven rotary nickel-titanium<br />
instruments produced by new manufacturing methods. J Endod.<br />
2008;34:1003-5.<br />
14. Larsen CM, Watanabe I, Glickman GN, He J. Cyclic fatigue analysis<br />
of a new generation of nickel titanium rotary instruments. J Endod.<br />
2009;35(3):401-3.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 27<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):21-7
artigo original<br />
Carlos ESTRELA, DDS, MSc, PhD 1<br />
Mike Reis BUENO, DDS, MSc 2<br />
Julio Almeida SILVA, DDS, MSc 3<br />
Olavo César Lyra PORTO, DDS 3<br />
Claudio Rodrigues LELES, DDS, MSc, PhD 4<br />
Bruno Correa Azevedo, DDS, MSc 5<br />
resumo<br />
Objetivo: este estudo avaliou o efeito causado pelos constituintes<br />
dos retentores intrarradiculares sobre as dimensões<br />
das imagens de tomografia computadorizada de feixe<br />
cônico (TCFC) em dentes tratados endodonticamente. Métodos:<br />
quarenta e cinco dentes humanos anteriores superiores<br />
foram divididos em 5 grupos, de acordo com os tipos<br />
de pinos: fibra de vidro, fibra de carbono, metálicos pré-fabricados,<br />
liga de prata e pinos de liga de ouro. Os canais radiculares<br />
foram preparados, obturados, desobturados parcialmente<br />
e preparados para os retentores intrarradiculares.<br />
O material de cimentação utilizado foi um cimento resinoso<br />
(RelyX Unicem ® ). Exames tomográficos foram obtidos, e os<br />
espécimes seccionados nos planos axial, sagital e coronal.<br />
As medidas das dimensões dos retentores intrarradiculares<br />
foram adquiridas em diferentes planos para a determinação<br />
das diferenças entre as medidas originais dos retentores intrarradiculares<br />
e as medidas das imagens da TCFC. Análise<br />
de variância “one-way”, testes de Tukey e Kruskall-Wallis<br />
foram utilizados para análises estatísticas. O nível de significância<br />
foi estabelecido em α = 5%. Resultados: as medidas<br />
das imagens na TCFC foram maiores que nos espécimes<br />
de 7,7% a 100%. Os retentores intrarradiculares de liga<br />
de ouro e prata mostraram maiores variações (p>0,05) em<br />
relação aos de fibra de vidro, fibra de carbono e pré-fabricados<br />
(p
Estrela C, Bueno MR, Silva JA, Porto OCL, Leles CR, Azevedo BC<br />
Introdução<br />
A obturação do canal radicular representa um importante<br />
passo no tratamento endodôntico, o qual é completado<br />
pela restauração dentária. Em algumas situações,<br />
dentes tratados endodonticamente oferecem uma perda<br />
substancial de estrutura dentária e requerem a instalação<br />
de retentores intrarradiculares 11 .<br />
Diferentes tipos de retentores intrarradiculares têm<br />
sido recomendados para reconstruções dentárias de<br />
acordo com a análise de alguns aspectos restauradores:<br />
perda de retenção do dente; risco de reinfecção devido<br />
à microinfiltração microbiana; efeito do comprimento<br />
do retentor na periodontite apical, efeitos retentivos dos<br />
sistemas adesivos aos diferentes tipos de retentores intrarradiculares;<br />
possibilidade de concentração de estresse;<br />
diferença do módulo de elasticidade da dentina e dos<br />
retentores intrarradiculares 6,25 .<br />
Achados clínicos e patológicos, suportados por exames<br />
radiográficos, oferecem a base da terapia endodôntica.<br />
As imagens são necessárias em todas as fases do<br />
tratamento endodôntico 11 .<br />
Desde a descoberta dos raios X por Roentgen, em<br />
1895, a radiologia tem buscado constantemente o desenvolvimento<br />
de novas tecnologias. A variação de ângulos<br />
proposta por Clark e o desenvolvimento das radiografias<br />
panorâmicas proporcionam novos padrões de aplicação<br />
em Endodontia. A tomografia computadorizada de feixe<br />
cônico (TCFC) recentemente permitiu a terceira dimensão<br />
na Odontologia 2,24 , o que proporcionou inúmeros benefícios<br />
às especialidades que não utilizavam a tomografia<br />
médica (TC), devido à falta de especificidade. A tomografia<br />
computadorizada é um importante método não destrutivo<br />
e não invasivo de diagnóstico por imagem 2,5,24,29 .<br />
A TCFC produz imagens em três dimensões, permitindo<br />
um novo plano: a profundidade. A aplicação clínica<br />
garante acurácia e é útil em todas as áreas da Odontologia<br />
2,5,8,9,10,24,29 . Entretanto, erros de diagnóstico podem resultar<br />
de artefatos de imagens. Estruturas sólidas ou metálicas<br />
(materiais de alta densidade) podem resultar em<br />
artefatos e afetar o contraste das imagens. Vários autores<br />
têm estudado alternativas para correção desses artefatos<br />
durante a aquisição da imagem, sua reconstrução ou outras<br />
condições 3,4,7,12,13,14,16-21,26,27,28 .<br />
Jian e Hongnian 16 reportaram que o beam hardening<br />
é causado pelo espectro policromático do raio X e que<br />
os artefatos diminuem a qualidade da imagem. Katsumata<br />
et al. 18,19 salientaram que os artefatos causados pela<br />
saturação dos sensores diminuem os valores da TC em<br />
região vestibular de mandíbulas. Na imagem de dentes,<br />
artefatos podem alterar os valores da TC dos tecidos moles<br />
adjacentes aos lados lingual e vestibular dos maxilares.<br />
Os valores da TC de estruturas de tecidos duros também<br />
podem ser afetados de forma semelhante.<br />
A TCFC em dentes com retentores intrarradiculares<br />
pode projetar imagens fantasmas sobre áreas próximas<br />
a eles e mascarar a real estrutura do canal radicular,<br />
o que aumenta o risco de erro de diagnóstico clínico.<br />
Poucos estudos investigaram a associação de erros de<br />
diagnóstico com imagens de retentores intrarradiculares.<br />
O presente estudo avaliou o efeito causado pelos<br />
retentores intrarradiculares sobre as dimensões das<br />
imagens da tomografia computadorizada de feixe cônico<br />
em dentes tratados endodonticamente.<br />
Material e Métodos<br />
Preparo dos dentes<br />
A amostra foi composta por 45 dentes anteriores superiores<br />
extraídos por diferentes razões no Serviço de Urgência<br />
Odontológica da Universidade Federal de Goiás,<br />
Faculdade de Odontologia, Goiânia, Brasil. Esse estudo<br />
foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal<br />
de Goiás, Brasil. Radiografias pré-operatórias de cada<br />
dente foram obtidas para confirmar a ausência de canais<br />
radiculares calcificados e reabsorção interna ou externa,<br />
e a presença de rizogênese completa.<br />
Os dentes foram removidos do armazenamento em<br />
solução de timol 0,2% e imersos em solução de hipoclorito<br />
de sódio a 5% (Fitofarma, Goiânia, GO, Brasil) por 30<br />
minutos para remoção de tecidos orgânicos. As coroas<br />
foram seccionadas a fim de se padronizar o tamanho dos<br />
remanescentes dentários a um comprimento de 13mm a<br />
partir do ápice. Após as radiografias iniciais, realizou-se<br />
abertura coronária e os terços cervicais de cada canal radicular<br />
foram alargados com brocas de Gates-Glidden #1<br />
a #3 (Dentsply / Maillefer, Ballaigues, Suíça). Os dentes<br />
foram preparados até o instrumento K-File #50 (Dentsply<br />
/ Maillefer) 1mm aquém do forame apical. Durante a instrumentação,<br />
os canais radiculares foram irrigados com<br />
3ml de NaOCl 1% (Fitofarma) a cada troca de instrumento.<br />
Os canais radiculares foram secos e preenchidos com<br />
EDTA 17% (pH 7,2) (Biodinâmica, Ibiporã, PR, Brasil) durante<br />
3 minutos para remoção da smear layer.<br />
Os espécimes foram divididos aleatoriamente em<br />
5 grupos experimentais, de acordo com o retentor<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 29<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):28-36
[ artigo original ] Efeito de retentores intrarradiculares na dimensão das imagens da tomografia computadorizada de feixe cônico<br />
intrarradicular utilizado: Grupo 1 (n = 9) – pinos de fibra<br />
de vidro (White post DC ® , FGM, Joinville, SC, Brasil);<br />
Grupo 2 (n = 9) – pinos de fibra de carbono (Reforpost<br />
Carbon Fiber RX, Angelus, Londrina, PR, Brasil); Grupo<br />
3 (n = 9) – pinos metálicos pré-fabricados (Obturation<br />
Screws ® , FKG, Dentaire, La Chaux-de-Founds, Suíça);<br />
Grupo 4 (n = 9) – pinos de liga de prata (Silver Alloy la<br />
Croix ® , Rio de Janeiro, RJ, Brasil); Grupo 5 (n = 9) – pinos<br />
de liga de ouro (Gold Alloy Stabilor G ® , Au-58.0, Pd-5.5,<br />
Ag-23.3, Cu-12.0, Zn trace, Ir trace; DeguDent Benelux<br />
BV, Hoorn, Holanda).<br />
Posteriormente ao preparo do canal radicular, todos<br />
os dentes foram obturados com AH Plus (Dentsply /<br />
Maillefer) e guta-percha, preparado de acordo com as<br />
instruções do fabricante, utilizando-se a técnica de condensação<br />
lateral. Os diâmetros dos pinos pré-fabricados<br />
utilizados nos grupos de 1 a 3 eram compatíveis com o diâmetro<br />
dos canais radiculares preparados. Para os grupos<br />
4 e 5, os retentores de prata e ouro foram confeccionados<br />
depois da moldagem dos canais radiculares.<br />
A guta-percha dos terços cervical e médio foi removida<br />
com brocas Gates-Glidden #2 e #3 (Dentsply / Maillefer)<br />
e broca de Largo #1 (Dentsply / Maillefer) para desobturação<br />
de 8mm e pelo menos 4mm de material obturador<br />
no terço apical (Fig. 1). O material utilizado foi o cimento<br />
resinoso (RelyX Unicem, 3M ESPE, Seefeld, Alemanha)<br />
manipulado de acordo com instruções do fabricante.<br />
Análise das imagens<br />
Exames tomográficos foram adquiridos para obtenção<br />
de imagens 3D. Os dentes foram colocados em uma<br />
plataforma de plástico posicionada no centro de um recipiente<br />
contendo água para simular tecido mole, segundo<br />
modelo descrito em estudos anteriores 18,26,28 . As imagens<br />
da TCFC foram adquiridas com um tomógrafo de primeira<br />
geração i-CAT Cone Beam 3D (Imaging Sciences<br />
International, Hatfield, PA, EUA). Os volumes foram reconstruídos<br />
com voxels isométricos de 0,2mm. A tensão<br />
de tubo foi de 120kVp e da corrente do tubo, 3,8mA. O<br />
tempo de exposição foi de 40 segundos. As imagens foram<br />
analisadas com o software do fabricante do tomógrafo<br />
(Xoran versão 3.1.62; Xoran Technologies, Ann Arbor,<br />
Michigan, EUA) em uma estação de trabalho PC executando<br />
o Microsoft Windows XP Professional SP-2 (Microsoft<br />
Corp, Redmond, WA, EUA) com um processador<br />
Intel ® Core 2 Duo 6300 1,86 GHz (Intel Corporation,<br />
EUA), placa de vídeo NVIDIA GeForce 6200 turbo cache<br />
(NVIDIA Corporation, EUA) e um monitor EIZO - S2000<br />
Flexscan em 1600x1200 pixels de resolução (Eizo Nanao<br />
Corporation Hakusan, Japão).<br />
Secção das raízes<br />
Após a obtenção dos exames tomográficos, cada<br />
amostra foi cuidadosamente seccionada nos planos axial,<br />
sagital ou coronal, usando uma broca Endo Z (Dentsply/<br />
Maillefer) em alta rotação sob refrigeração. Os cortes<br />
transversais para o plano axial foram obtidos a 8mm do<br />
ápice, e para os planos sagital e coronal, as raízes foram<br />
seccionadas longitudinalmente ao longo do centro do canal<br />
radicular (Fig. 1).<br />
Medição dos espécimes<br />
As imagens da TCFC dos retentores intrarradiculares<br />
foram medidas nos planos axial, sagital ou coronal. Todas<br />
as medições foram feitas a 8mm do ápice radicular (Fig.<br />
1). As medidas dos retentores intrarradiculares nos cortes<br />
axiais foram feitas no sentido vestibulolingual; nos cortes<br />
sagitais, no sentido mesiodistal; e nos cortes coronais, no<br />
sentido vestibulolingual. Todos os dentes foram avaliados<br />
por dois especialistas em Endodontia, utilizando um paquímetro<br />
com 0,01mm de resolução digital (Fowler/Sylvac<br />
Ultra-cal Mark IV Eletronic Caliper, Crissier, Suíça).<br />
Para determinar a diferença entre as medidas dos espécimes<br />
e das imagens da TCFC, todas as medições foram<br />
realizadas no mesmo ponto nos planos axial, sagital<br />
e coronal. Todas as medidas da TCFC foram adquiridas<br />
por dois especialistas em radiologia usando a ferramenta<br />
de medição do software do tomógrafo (Xoran versão<br />
3.1.62; Xoran Technologies, Ann Arbor, Michigan, EUA).<br />
As dimensões das imagens da TCFC foram reformatados<br />
com espessuras de corte de 0,2mm, 0,6mm, 1,0mm,<br />
3,0mm e 5,0mm.<br />
Examinadores calibrados mediram todos os espécimes<br />
e imagens da TCFC e avaliaram as dimensões dos<br />
retentores intrarradiculares nos sentidos anteriormente<br />
descritos. Quando o consenso não foi alcançado, um terceiro<br />
observador emitia a decisão final.<br />
Análise de variância one-way (ANOVA), testes de<br />
Tukey e Kruskall-Wallis foram utilizados para análise estatística.<br />
O nível de significância foi estabelecido em α = 5%.<br />
Resultados<br />
O aumento das dimensões dos retentores nas imagens<br />
da TCFC variou entre 7,7% e 100% (Tab. 1).<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 30<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):28-36
Estrela C, Bueno MR, Silva JA, Porto OCL, Leles CR, Azevedo BC<br />
Vista Sagital Vista Axial Vista Coronal<br />
1mm<br />
1mm<br />
4mm<br />
4mm<br />
13mm<br />
8mm<br />
13mm<br />
8mm<br />
8mm<br />
8mm<br />
Figura 1. Representação esquemática do método de secção das raízes e comprimento dos retentores, nos planos sagital, axial e coronal.<br />
Tabela 1. Percentual (%) de aumento de dimensão do espécime em relação à imagem da TCFC de acordo com a espessura de corte e os planos<br />
para cada tipo de material endodôntico (α=5%).<br />
Espessura/Plano Fibra de vidro Fibra de carbono Metálico pré-fabricado Prata Ouro<br />
0,2mm / Axial 16,70 7,70 50,00 100,00 73,30<br />
0,2mm / Coronal 16,70 38,50 66,70 85,70 100,00<br />
0,2mm / Sagital 0,00 33,30 53,80 57,10 57,10<br />
0,6mm / Axial 16,70 7,70 50,00 100,00 73,30<br />
0,6mm / Coronal 16,70 38,50 66,70 85,70 100,00<br />
0,6mm / Sagital 0,00 33,30 53,80 57,10 57,10<br />
1mm / Axial 16,70 -7,70 50,00 100,00 73,30<br />
1mm / Coronal 16,70 38,50 66,70 85,70 100,00<br />
1mm / Sagital 0,00 33,30 53,80 57,10 57,10<br />
3mm / Axial 16,70 -7,70 50,00 100,00 73,30<br />
3mm / Coronal 16,70 38,50 50,00 85,70 84,60<br />
3mm / Sagital 0,00 16,70 38,50 57,10 42,90<br />
5mm / Axial 16,70 -7,70 50,00 100,00 73,30<br />
5mm / Coronal 16,70 38,50 50,00 71,40 84,60<br />
5mm / Sagital 0,00 16,70 23,10 57,10 42,90<br />
P value 0,001* 0,001* 0,001* 0,001* 0,001*<br />
*interação entre o tipo e espessura de corte e o tipo de retentor com diferenças significativas pelo teste de Kruskall Wallis.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 31<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):28-36
[ artigo original ] Efeito de retentores intrarradiculares na dimensão das imagens da tomografia computadorizada de feixe cônico<br />
As diferenças foram significativas entre os pinos<br />
de fibra de vidro, fibra de carbono e metálicos (Tab.<br />
2). Figuras 2 a 7 mostram as imagens de TCFC nos<br />
planos sagital, axial e coronal. Não foram encontradas<br />
diferenças significativas quando diferentes espessuras<br />
foram utilizadas.<br />
Tabela 2. Percentual (%) de aumento da dimensão do espécime em relação à imagem da TCFC em cada grupo de acordo com o estudo das<br />
variáveis (pino, espessura de corte e plano) e análise estatística (α = 5%).<br />
Fator<br />
Pino*<br />
Espessura**<br />
Plano***<br />
Grupos<br />
Fibra de vidro Fibra de carbono Metálico pré-fabricado Ouro Prata<br />
11,13 D 21,20 C 51,54 B 72,85 A 79,98 A<br />
0,2mm 0,6mm 1mm 3mm 5mm<br />
50,44 A 50,44 A 49,41 A 44,20 A 42,22 A<br />
Axial Coronal Sagital<br />
47,69 A 58,38 A 35,95 B<br />
Letras diferentes na horizontal demonstram diferença estatisticamente significativa com p
Estrela C, Bueno MR, Silva JA, Porto OCL, Leles CR, Azevedo BC<br />
Retentores Metálicos Pré-fabricados<br />
Retentores de Liga de Prata<br />
Sagital<br />
Sagital<br />
0,2mm<br />
Axial<br />
0,6mm<br />
1mm<br />
3mm<br />
5mm<br />
0,2mm<br />
Axial<br />
0,6mm<br />
1mm<br />
3mm<br />
5mm<br />
0,2mm<br />
0,6mm<br />
1mm<br />
3mm<br />
5mm<br />
0,2mm<br />
0,6mm<br />
1mm<br />
3mm<br />
5mm<br />
Coronal<br />
Coronal<br />
0,2mm<br />
0,6mm<br />
1mm<br />
3mm<br />
5mm<br />
0,2mm<br />
0,6mm<br />
1mm<br />
3mm<br />
5mm<br />
Figura 4. Imagens da TCFC de dentes com retentores metálicos pré-<br />
-fabricados em diferentes espessuras de corte (0,2mm, 0,6mm, 1mm,<br />
3mm e 5mm) e planos (sagital, axial e coronal).<br />
Figura 5. Imagens da TCFC de dentes com retentores de liga de prata<br />
em diferentes espessuras de corte (0,2mm, 0,6mm, 1mm, 3mm e<br />
5mm) e planos (sagital, axial e coronal).<br />
Sagital<br />
Retentores de Liga de Ouro<br />
Figura 6. Imagens da TCFC de dentes com retentores de liga de ouro<br />
em diferentes espessuras de corte (0,2mm, 0,6mm, 1mm, 3mm e<br />
5mm) e planos (sagital, axial e coronal).<br />
0,2mm<br />
0,6mm<br />
1mm<br />
3mm<br />
5mm<br />
Axial<br />
0,2mm<br />
0,6mm<br />
1mm<br />
3mm<br />
5mm<br />
Coronal<br />
0,2mm<br />
0,6mm<br />
1mm<br />
3mm<br />
5mm<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 33<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):28-36
[ artigo original ] Efeito de retentores intrarradiculares na dimensão das imagens da tomografia computadorizada de feixe cônico<br />
0,2mm 0,6mm 1mm 3mm 5mm<br />
Figura 7. Imagens da TCFC de dentes com retentores de liga de ouro em diferentes espessuras de corte (0,2mm, 0,6mm, 1mm, 3mm e 5mm) no<br />
plano coronal, mostrando artefatos de imagem em alguns cortes.<br />
Discussão<br />
A visualização em três dimensões do dente e estruturas<br />
bucais utilizando imagens de TCFC representa<br />
um importante avanço na Odontologia. No passado,<br />
as estruturas tridimensionais eram sobrepostas em radiografias<br />
periapicais; hoje, elas podem perfeitamente<br />
ser avaliadas por meio de exames de TCFC 2,5,8,9,10,24,29 .<br />
A radiografia periapical representa o método padrão<br />
para avaliar a obturação do canal radicular e retentores<br />
intrarradiculares. Vários estudos discutiram suas limitações<br />
8,9,10 . Ao mesmo tempo, materiais de alta densidade<br />
podem produzir artefatos de imagem, que podem<br />
limitar a interpretação, reduzir a qualidade da imagem,<br />
e induzir a erros de diagnóstico 3,4,7,12,13,14,16-21,26,27,28 .<br />
Poucos estudos avaliaram os artefatos de imagem<br />
associado à retentores intrarradiculares. Nossos<br />
resultados mostraram que os valores dimensionais<br />
medidos em exames tomográficos de retentores de<br />
ouro e de prata são maiores do que as medidas dos<br />
espécimes (Tab. 1, 2). Efeitos de endurecimento do<br />
raio podem ser vistos, dependendo do tipo de retentores<br />
intrarradiculares. Esses resultados têm implicações<br />
clínicas importantes, especialmente quando<br />
os artefatos sobrepõem partes da raiz e simulam ou<br />
mascaram patologias. A interpretação das imagens<br />
da TCFC de dentes reconstruídos com retentores<br />
intrarradiculares deve ser feita com cautela, o que<br />
justifica o uso de radiografias periapicais como uma<br />
referência para o diagnóstico endodôntico. O exame<br />
clínico deve ser sempre utilizado como apoio ao<br />
diagnóstico por imagem.<br />
As ferramentas de medição da TCFC fornecem informações<br />
satisfatórias sobre distâncias lineares dentro<br />
de medidas volumétricas 1,8,9,10,15,23,30 . No entanto, o metal<br />
dos retentores intrarradiculares pode induzir artefatos<br />
na reconstrução da imagem, e pode afetar as mensurações<br />
na TCFC. Nossos resultados não mostraram diferenças<br />
significativas entre liga de ouro e liga de prata<br />
(p>0,05), porém, as diferenças entre os pinos metálicos<br />
pré-fabricados, fibra de vidro e de carbono foram significativas<br />
(p
Estrela C, Bueno MR, Silva JA, Porto OCL, Leles CR, Azevedo BC<br />
estrias, faixas escuras, e estão associados com a absorção<br />
de fótons de baixa energia 4,7,16-21,26,27,28 . Um estudo<br />
recente 3 sugeriu que o uso de maior energia no<br />
feixe durante a aquisição da imagem pode resultar em<br />
menor formação de artefato. Os efeitos do endurecimento<br />
do raio também podem ser reduzidos por meio<br />
da filtração do feixe 22 .<br />
Estudos futuros deverão avaliar as implicações clínicas<br />
de artefatos metálicos e as estratégias para minimizá-los.<br />
Os resultados, considerando-se as limitações<br />
inerentes ao método, demonstraram que as dimensões<br />
nas imagens de TCFC de retentores intrarradiculares<br />
de liga de ouro e liga de prata foram maiores em relação<br />
ao espécime original.<br />
Agradecimentos<br />
Este estudo contou com apoio parcial de concessões<br />
do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e<br />
Tecnológico (CNPq) (concessão CNPq #302875/2008-<br />
5 e concessão CNPq #474642/2009 to C.E.).<br />
Effect of intracanal posts on dimensions of cone beam computed tomography images of<br />
endodontically treated teeth<br />
abstract<br />
Objectives: This study evaluated the effect caused by intracanal<br />
posts (ICP) on the dimensions of cone beam computed tomography<br />
(CBCT) images of endodontically treated teeth. Methods:<br />
Fourty-five human maxillary anterior teeth were divided into 5<br />
groups: Glass-Fibre Post ® , Carbon Fibre Root Canal ® , Pre-fabricated<br />
Post – Metal Screws ® , Silver Alloy Post ® and Gold Alloy Post ® .<br />
The root canals were prepared and filled; after that, the gutta-percha<br />
filling was removed, and the ICP space was prepared. The<br />
post cementation material was resin cement. CBCT scans were<br />
acquired, and the specimens were sectioned in axial, sagittal and<br />
coronal planes. The measures of ICP were obtained using different<br />
3D planes and thicknesses to determine the discrepancy between<br />
the original ICP measurements and the CBCT scan measurements.<br />
Results: One-way analysis of variance, Tukey and Kruskall-Wallis<br />
tests were used for statistical analysis. The significance level was<br />
set at α = 5%. CBCT scan ICP measurements were from 7.7%<br />
to 100% different from corresponding actual dimensions. Conclusion:<br />
Gold alloy and silver alloy posts had greater variations<br />
(p>0.05) than glass fiber, carbon fiber and metal posts (p
[ artigo original ] Efeito de retentores intrarradiculares na dimensão das imagens da tomografia computadorizada de feixe cônico<br />
Referências<br />
1. Anbu R, Nandini S, Velmurugan N. Volumetric analysis of root fillings<br />
using spiral computed tomography: an in vitro study. Int Endod J.<br />
2010;43:64-8.<br />
2. Arai Y, Tammisalo E, Iwai K, Hashimoto K, Shinoda K. Development<br />
of a compact computed tomographic apparatus for dental use.<br />
Dentomaxillofac Radiol. 1999;28(4):245-8.<br />
3. Azevedo B, Lee R, Shintaku W, Noujeim M, Nummikoski P. Influence<br />
of the beam hardness on artifacts in cone-beam CT. Oral Surg Oral<br />
Med Oral Pathol Oral Radiol Endod. 2008;105(4):e48.<br />
4. Barrett JF, Keat N. Artifacts in CT: recognition and avoidance.<br />
Radiographics. 2004;24(6):1679-91.<br />
5. Cotton TP, Geisler TM, Holden DT, Schwartz SA, Schindler WG.<br />
Endodontic applications of cone-beam volumetric tomography. J<br />
Endod. 2007;33:1121-32.<br />
6. Demarchi MG, Sato EF. Leakage of interim post and cores<br />
used during laboratory fabrication of custom posts. J Endod.<br />
2002;28:328-9.<br />
7. Duerinckx AJ, Macovski A. Polychromatic streak artifacts in<br />
computed tomography images. J Comput Assist Tomogr.<br />
1978;2(4):481-7.<br />
8. Estrela C, Bueno MR, Alencar AH, Mattar R, Valladares J<br />
Neto, Azevedo BC, et al. Method to evaluate inflammatory root<br />
resorption by using Cone Beam Computed Tomography. J Endod.<br />
2009;35(11):1491-7.<br />
9. Estrela C, Bueno MR, Azevedo BC, Azevedo JR, Pécora JD. A new<br />
periapical index based on cone beam computed tomography. J<br />
Endod. 2008; 34:1325-33.<br />
10. Estrela C, Bueno MR, Leles CR, Azevedo B, Azevedo JR. Accuracy<br />
of cone beam computed tomography and panoramic and<br />
periapical radiography for detection of apical periodontitis. J Endod.<br />
2008;34:273-9.<br />
11. Estrela C, Bueno MR, Porto OCL, Rodrigues CD, Pécora JD.<br />
Influence of intracanal post on apical periodontitis identified by cone<br />
beam computed tomography. Braz Dent J. 2009;20:370-5.<br />
12. Haristoy RA, Valiyaparambil JV, Mallya SM. Correlation of CBCT gray<br />
scale values with bone densities. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral<br />
Radiol Endod. 2009;107(4):e28.<br />
13. Herman GT. Image reconstruction from projections: the fundamentals<br />
of computerized tomography. New York: Academic Publishers; 1980.<br />
14. Hunter A, McDavid D. Analyzing the Beam Hardening Artifact in<br />
the Planmeca ProMax. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol<br />
Endod. 2009;107(4):e28-e29.<br />
15. Huybrechts B, Bud M, Bergmans L, Lambrechts P, Jacobs R. Void<br />
detection in root fillings using intraoral analogue, intraoral digital and<br />
cone beam CT images. Int Endod J. 2009;42:675-85.<br />
16. Jian F, Hongnian L. Beam-hardening correction method based on<br />
original sinogram for X-CT. Nucl Instrum Methods Phys Res Sect A<br />
Accel Spectrom Detect Assoc Equip. 2006; 556(1):379-85.<br />
17. Joseph PM, Spital RD. Method for correcting bone induced artifacts<br />
in computed tomography scanners. J Comput Assist Tomogr.<br />
1978;2(1):100–8.<br />
18. Katsumata A, Hirukawa A, Noujeim M, Okumura S, Naitoh M,<br />
Fujishita M, et al. Image artifact in dental cone-beam CT. Oral Surg<br />
Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod. 2006;101:652-7.<br />
19. Katsumata A, Hirukawa A, Okumura S, Naitoh M, Fujishita M, Ariji<br />
E, et al. Effects of image artifacts on gray-value density in limitedvolume<br />
cone-beam computerized tomography. Oral Surg Oral Med<br />
Oral Pathol Oral Radiol Endod. 2007;104:829-36.<br />
20. Katsumata A, Hirukawa A, Okumura S, Naitoh M, Fujishita M, Ariji<br />
E, et al. Relationship between density variability and imaging volume<br />
size in cone-beam computerized tomography scanning of the<br />
maxillofacial region: an in vitro study. Oral Surg Oral Med Oral Pathol<br />
Oral Radiol Endod. 2009;107:420-5.<br />
21. Ketcham A, Carlson WD. Acquisition, optimization and interpretation<br />
of X-ray computed tomography imagery: applications to the<br />
geosciences. Comput Geosci. 2001;27(4):381-400.<br />
22. Meganck JA, Kozloff KM, Thornton MM, Broski SM, Goldstein SA.<br />
Beam hardening artifacts in micro-computed tomography scanning<br />
can be reduced by X-ray beam filtration and the resulting images can<br />
be used to accurately measure BMD. Bone. 2009;45(6):1104-16.<br />
23. Mischkowski RA, Pulsfort R, Ritter L, Neugebauer J, Brochhagen<br />
HG, Keeve E, et al. Geometric accuracy of a newly developed<br />
cone-beam device for maxillofacial imaging. Oral Surg Oral Med Oral<br />
Pathol Oral Radiol Endod. 2007 Oct;104(4):551-9<br />
24. Mozzo P, Procacci C, Taccoci A, Martini PT, Andreis IA. A new<br />
volumetric CT machine for dental imaging based on the cone-beam<br />
technique: preliminary results. Eur Radiol. 1998;8(9):1558-64.<br />
25. Naumann M, Sterzenbach G, Rosentritt M, Beuer F, Frankenberger<br />
R. Is Adhesive cementation of endodontic posts necessary? J<br />
Endod. 2008;34:1006 -10.<br />
26. Noujeim M, Prihoda TJ, Langlais R, Nummikoski P. Evaluation of<br />
high-resolution cone beam computed tomography in the detection of<br />
simulated interradicular bone lesions. Dentomaxillofac Radiol. 2009<br />
Mar;38(3):156-62.<br />
27. Ramakrishna K, Muralidhar K, Munshi P. Beam-hardening in<br />
simulated X-ray tomography. NDT&E International. 2006;39:449-57.<br />
28. Rao SP, Alfidi RJ. The environmental density artifact: a<br />
beam-hardening effect in computed tomography. Radiology.<br />
1981;141(1):223-7.<br />
29. Scarfe WC, Farman AG, Sukovic P. Clinical applications of conebeam<br />
computed tomograghy in dental practice. J Can Dent Assoc.<br />
2007;72(1):75-80.<br />
30. Sogur E, Baksi BG, Gröndahl HG. Imaging of root canal fillings:<br />
a comparison of subjective image quality between limited conebeam<br />
CT, storage phosphor and film radiography. Int Endod J.<br />
2007;40:179-85.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 36<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):28-36
artigo original<br />
Efeito antimicrobiano de diferentes substâncias<br />
químicas associadas ao preparo mecânico e da<br />
medicação intracanal em dentes de cães portadores<br />
de lesões periapicais induzidas<br />
Frederico C. Martinho, DDS, MSc 1<br />
Luciano T. A. Cintra, DDS, MSc, PhD 2<br />
Alexandre A. Zaia, DDS, MSc, PhD 3<br />
Caio C. R. Ferraz, DDS, MSc, PhD 3<br />
José F. A. Almeida, DDS, MSc, PhD 4<br />
Brenda P. F. A. Gomes, DDS, MSc, PhD 3<br />
Resumo<br />
Objetivo: avaliar o efeito antimicrobiano de diferentes<br />
substâncias químicas auxiliares durante o preparo mecânico<br />
de canais radiculares e de uma medicação intracanal.<br />
Métodos: foram utilizadas 55 raízes de dentes de cães<br />
portadores de lesões periapicais, divididas em cinco grupos<br />
experimentais de acordo com a substância química empregada<br />
durante o preparo mecânico: GI – solução salina; GII<br />
– natrosol gel; GIII – NaOCl 2,5%; GIV – CHX 2% gel; GV<br />
– CHX 2% solução. Foram realizadas coletas microbiológicas<br />
antes (s1) e após (s2) o preparo químico-mecânico e<br />
após o emprego de uma medicação à base de hidróxido de<br />
cálcio por 14 dias (s3). Após cada coleta, as amostras foram<br />
processadas e realizadas as contagens das unidades formadoras<br />
de colônias (UFC). Resultados: em s1, a contagem<br />
de UFCs variou de 5,5 x10 5 a 1,5 x 10 6 . Esses valores diminuíram<br />
significativamente (p0,05).<br />
Conclusões: dentre as substâncias testadas, NaOCl 2,5%<br />
e CHX gel 2% demonstraram maior potencial antimicrobiano<br />
contra patógenos endodônticos in vivo.<br />
Palavras-chave: Hipoclorito de sódio. Clorexidina. Hidróxido<br />
de cálcio. Infecção endodôntica.<br />
Martinho FC, Cintra LTA, Zaia AA, Ferraz CCR, Almeida JFA, Gomes, BPFA. Efficacy of chemo-mechanical preparation with different substances and the use of a root<br />
canal medication in dog’s teeth with induced periapical lesion. <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):37-45.<br />
1<br />
Pós-graduando- Departamento de Odontologia Restauradora, Área de Endodontia, Faculdade<br />
de Odontologia de Piracicaba – Universidade Estadual de Campinas –UNICAMP, Piracicaba,<br />
SP, Brasil.<br />
2<br />
Professor Assistente, Departamento de Odontologia Restauradora, Área de Endodontia,<br />
Faculdade de Odontologia de Araçatuba, Universidade Estadual Paulista –UNESP, Araçatuba,<br />
SP, Brasil.<br />
3<br />
Professor Associado, Departamento de Odontologia Restauradora, Área de Endodontia,<br />
Faculdade de Odontologia de Piracicaba – Universidade Estadual de Campinas –UNICAMP,<br />
Piracicaba, SP, Brasil.<br />
4<br />
Professor Assistente, Departamento de Odontologia Restauradora, Área de Endodontia,<br />
Faculdade de Odontologia de Piracicaba – Universidade Estadual de Campinas –UNICAMP,<br />
Piracicaba, SP, Brasil.<br />
Recebido: janeiro de 2011 / Aceito: fevereiro 2011.<br />
Endereço para correspondência: Brenda P. F. A. Gomes<br />
Área de Endodontia – Faculdade de Odontologia de Piracicaba, UNICAMP<br />
Avenida Limeira, 901 – Piracicaba, São Paulo, Brasil – CEP: 13.414-018<br />
E-mail: bpgomes@fop.unicamp.br<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 37<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):37-45
[ artigo original ] Efeito antimicrobiano de diferentes substâncias químicas associadas ao preparo mecânico e da medicação intracanal em dentes de cães portadores de lesões periapicais induzidas<br />
Introdução<br />
A periodontite apical é uma doença infecciosa causada<br />
por microrganismos que colonizam o sistema de<br />
canais radiculares 1 . O sucesso do tratamento endodôntico<br />
depende da eliminação ou da redução significativa<br />
da população bacteriana presente no sistema<br />
de canais radiculares para que o processo de reparo<br />
periapical possa se estabelecer 2 . A atividade antimicrobiana<br />
oriunda dos procedimentos endodônticos<br />
pode ser avaliada por meio de cultura 3,4,5,6,7 e de técnicas<br />
moleculares 8,9 .<br />
O preparo do canal radicular consiste de uma fase<br />
mecânica e uma fase química. Isso porque, devido à<br />
complexidade anatômica do sistema de canais radiculares<br />
3,4,10 e a ação restrita de instrumentos dentro do canal<br />
radicular principal, a fase mecânica não elimina as<br />
bactérias de todo o sistema de canais radiculares 3,11,12 ,<br />
requerendo um fase química proporcionada pelo uso de<br />
potentes agentes antimicrobianos, a fim de agir profundamente<br />
nos túbulos dentinários 3,4 .<br />
Várias substâncias químicas auxiliares foram propostas<br />
ao longo dos anos para o preparo químico-mecânico,<br />
mas o hipoclorito de sódio (NaOCl) continua<br />
sendo a mais amplamente utilizada. Recentemente, a<br />
clorexidina (CHX) tem sido testada como uma substância<br />
alternativa ao NaOCl 5,9,13,14 . Comparações frente à<br />
atividade antimicrobiana das duas substâncias químicas<br />
auxiliares foram feitas in vitro 13,14,16-19 sobre microrganismos<br />
selecionados. Entretanto, modelos in vitro não<br />
reproduzem o quadro real de uma infecção polimicrobiana,<br />
como a existente nos canais radiculares. Estudos<br />
in vivo apresentaram resultados inconsistentes quando<br />
compararam NaOCl e CHX, com o hipoclorito de sódio<br />
sendo mais efetivo 9,20 ou sem diferença significativa<br />
existente entre eles 14,15 .<br />
Apesar do efeito das substâncias químicas auxiliares,<br />
uma medicação intracanal à base de hidróxido de cálcio<br />
(Ca (OH) 2<br />
) tem sido recomendada com o propósito<br />
de se potencializar ainda mais o processo de desinfecção,<br />
atuando em regiões estratégicas onde as bactérias<br />
possam estar presentes 4,10,21,22,23 . Essa medicação é indicada<br />
principalmente em casos de ápice aberto, sintomatologia<br />
periapical e exsudato persistente. Em alguns<br />
estudos 4,11,12,24 pode-se observar uma maior redução da<br />
quantidade bacteriana após a colocação de Ca(OH) 2<br />
,<br />
já em outros 10,21,22 , ficou demonstrado um aumento de<br />
unidades formadoras de colônias (UFCs).<br />
Desta forma, fica evidente a necessidade de maiores<br />
estudos relativos ao tema, a fim de prestar maiores<br />
esclarecimentos à literatura científica 11,21,23,25 . Além disso,<br />
a maioria dos estudos in vivo 7,9,13,23 que investigaram<br />
os efeitos antibacterianos do tratamento endodôntico<br />
forneceram apenas dados quantitativos, não caracterizando<br />
o tipo de microbiota envolvida, que é fundamental<br />
para o estabelecimento de estratégias terapêuticas.<br />
Assim, o presente estudo foi conduzido para avaliar o<br />
efeito da ação da instrumentação endodôntica, do emprego<br />
de soluções químicas irrigadoras e do uso do hidróxido<br />
de cálcio sobre a microbiota presente em dentes<br />
de cães com necrose pulpar e lesão periapical.<br />
Material e métodos<br />
Seleção dos canais radiculares<br />
Foram empregadas 55 raízes de dentes de cães com<br />
lesões periapicais induzidas contendo um único canal<br />
principal. Dentes menores que 12mm e com rizogênese<br />
incompleta foram descartados.<br />
Fase de indução das lesões periapicais<br />
Todas as etapas operatórias e de coletas microbiológicas<br />
foram feitas com o uso de um microscópio clínico<br />
operatório (DF Vasconcelos, Modelo M 900, São<br />
Paulo, SP).<br />
Os animais foram anestesiados com uma injeção<br />
intravenosa de Xilazina (Rompum, Bayer S. A. Saúde<br />
Animal, São Paulo, SP - 1mg/Kg de peso corporal) e<br />
Ketamina (Francotar, Virbac do Brasil Ind. e Com. Ltda,<br />
São Paulo, SP - 15mg/Kg de peso corporal). Após anestesia,<br />
foi realizado acesso coronário com broca esférica<br />
diamantada em alta rotação sob refrigeração, as polpas<br />
dentárias foram extirpadas e limas tipo K #20 estéreis<br />
foram empregadas para arrombar o platô apical<br />
e padronizar o diâmetro do forame apical principal. Em<br />
seguida, os canais radiculares permaneceram abertos<br />
e expostos ao meio bucal por 6 meses, para permitir<br />
a contaminação microbiana. Os procedimentos experimentais<br />
foram previamente submetidos e aprovados<br />
pelo Comitê de Ética da Faculdade de Odontologia de<br />
Piracicaba – UNICAMP.<br />
Fase de tratamento e divisão em grupos<br />
Decorrido o período de indução das lesões, tomadas<br />
radiográficas foram realizadas para se confirmar sua presença<br />
e dar continuidade ao estudo. Os animais foram<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 38<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):37-45
Martinho FC, Cintra LTA, Zaia AA, Ferraz CCR, Almeida JFA, Gomes BPFA<br />
novamente anestesiados, os dentes em estudo foram<br />
isolados com lençol de borracha e o campo de trabalho<br />
foi desinfectado com peróxido de hidrogênio (H 2<br />
O 2<br />
) a 30<br />
vol. por 30 segundos, seguido do uso do NaOCl 2,5% por<br />
mais 30 segundos. As soluções desinfetantes foram neutralizadas<br />
com tiossulfato de sódio a 5% a fim de se evitar<br />
interferência dessas com a coleta microbiológica 9 . Em<br />
seguida, foram coletas amostras microbiológicas com cones<br />
de papel absorventes para confirmação da condição<br />
estéril do campo de trabalho (amostras controle).<br />
Após esses procedimentos iniciais, foi realizada a cavidade<br />
de acesso com brocas diamantadas estéreis em<br />
alta rotação e sob irrigação com solução salina estéril.<br />
Antes de adentrar a câmara pulpar, a cavidade de acesso<br />
foi desinfetada pelo mesmo protocolo descrito acima<br />
e novas amostras controle foram coletadas a partir<br />
da superfície da cavidade e semeadas em placas de<br />
ágar sangue. Como critérios de inclusão, as amostras<br />
controle deviam ser negativas. Todos os procedimentos<br />
subsequentes foram realizados assepticamente. A<br />
câmara pulpar foi acessada com brocas e irrigada com<br />
solução salina estéril, que foi aspirada com cânula aspiradora.<br />
Foram realizadas 3 coletas em momentos diferentes<br />
do tratamento. A primeira delas (s1) foi obtida<br />
da seguinte forma: cinco pontas de papel estéreis foram<br />
colocadas no interior do conduto radicular, atingindo<br />
o comprimento de trabalho previamente determinado<br />
pela radiografia pré-operatória, permanecendo em posição<br />
por 1 minuto cada e, em seguida, levadas para um<br />
tubo tipo Eppendorf estéril contendo 1ml de Viability<br />
Medium Göteborg Agar (VMGA III). Em seguida, esses<br />
tubos contendo as amostras iniciais (s1) foram levados<br />
ao laboratório para o seu processamento.<br />
Após a coleta s1, os dentes foram divididos aleatoriamente<br />
de acordo com as substâncias químicas empregadas<br />
durante o preparo de canais, conforme segue:<br />
I) solução salina (SSL) (n = 11); II) natrosol gel (n = 11);<br />
III) NaOCl 2,5% (n = 11); IV) CHX gel 2% (Endogel, Itapetininga,<br />
SP, Brasil) (n = 11) e V) solução de CHX 2% (n<br />
= 11). Inicialmente, a câmara pulpar dos dentes de cada<br />
grupo foi cuidadosamente irrigada com a substância química<br />
auxiliar correspondente, os canais foram irrigados<br />
e explorados com uma lima tipo K #10 (Dentsply Maillefer,<br />
Ballaigues, Suíça). Em seguida, foram preparados<br />
os 2/3 cervicais dos canais com instrumentos rotatórios<br />
GT ® Rotary #20 de conicidade 0,06 a 350rpm (Dentsply<br />
Maillefer, Ballaigues, Suíça). Na sequência, uma lima<br />
tipo K #15 foi levada até o platô apical e, por meio de<br />
um localizador apical (Novapex, Fórum Technologies,<br />
Rishon Le-Zion, Israel), determinou-se o comprimento<br />
real de trabalho (comprimento do dente menos 1mm). O<br />
preparo apical foi realizado utilizando-se limas tipo K sequencialmente<br />
até o instrumento de número 40, seguido<br />
por uma instrumentação “step-back”, que terminou após<br />
o uso de três instrumentos maiores (45, 50 e 55) do que<br />
o último utilizado no preparo apical. O tempo de trabalho<br />
gasto com o preparo químico-mecânico foi em torno<br />
de 20 minutos para cada canal radicular.<br />
Nos grupos em que se empregou uma substância na<br />
forma gel, foi utilizada alternadamente a solução salina,<br />
para remoção da mesma. Na sequência, os canais eram<br />
novamente preenchidos pelo gel antes do emprego de<br />
cada instrumento.<br />
Os volumes foram padronizados em 5ml para cada<br />
substância, previamente a todos os instrumentos empregados.<br />
Nos grupos onde foram usadas substâncias<br />
à base de gel, foi empregado 1ml da mesma para preenchimento<br />
do canal e 4ml de solução salina para<br />
remoção.<br />
Após o término do preparo, tanto o hipoclorito de<br />
sódio como a clorexidina foram inativados. Para o grupo<br />
do hipoclorito de sódio, foi empregada a solução de<br />
tiosulfato de sódio a 5% por um período de 1min para<br />
inativação do mesmo. Para inativação da clorexidina, foram<br />
empregadas as soluções Tween 80 e 0,07% (w/v)<br />
de lecitina de soja. Em seguida, uma nova coleta foi<br />
realizada (s2) da mesma forma que a anterior.<br />
Após a segunda coleta (s2), os canais foram totalmente<br />
secos com cones de papel estéreis e os dentes<br />
receberam uma medicação intracanal composta de hidróxido<br />
de cálcio (Merck, Darmstad, Alemanha) e solução<br />
salina estéril inserida com auxílio de uma espiral<br />
lentulo. Em seguida, tomadas radiográficas foram realizadas<br />
para verificar o completo preenchimento dos canais.<br />
Ao final, as cavidades de acesso foram restauradas<br />
com cimento temporário Cavit (3M <strong>Dental</strong> Products,<br />
St. Paul, MN, EUA) e resina Filtek Z250 (3M <strong>Dental</strong><br />
Products), a fim de evitar a microinfiltração coronária.<br />
Após 14 dias, os dentes foram acessados novamente de<br />
forma asséptica e a pasta de hidróxido de cálcio removida<br />
empregando-se a lima de referência (#40) e irrigação<br />
abundante com solução salina. Após a remoção da<br />
medicação, confirmada pelo microscópio clínico, uma<br />
nova coleta microbiológica foi realizada (s3).<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 39<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):37-45
[ artigo original ] Efeito antimicrobiano de diferentes substâncias químicas associadas ao preparo mecânico e da medicação intracanal em dentes de cães portadores de lesões periapicais induzidas<br />
Processamento laboratorial<br />
Os tubos tipo Eppendorf contendo as amostras foram<br />
imediatamente transferidos ao Laboratório de<br />
Microbiologia Endodôntica para o processamento microbiológico.<br />
No interior da câmara de anaerobiose<br />
(Don Whitley Scientific, Bradford, UK), os tubos foram<br />
agitados utilizando o vortex (MA 162, Marconi, São<br />
Paulo, SP) por 60 segundos para facilitar a dispersão<br />
dos microrganismos. Em seguida, foram realizadas diluições<br />
seriadas a 1/10, 1/100, 1/1.000 e 1/10.000, utilizando<br />
Fastidious Anaerobe Broth (FAB, Lab M, Bury,<br />
UK). Foram inoculados 50µL da amostra armazenada<br />
em VMGA III, sem diluição e das diluições 1/100 e<br />
1/10.000 em placas pré-reduzidas contendo Fastidious<br />
Anaerobe Ágar (FAA, Lab M, Bury, UK) + 5% de sangue<br />
de carneiro desfibrinado + 600μL de Menadiona 1mg/l<br />
(Vitamin K3; 2-Methyl-1,4-naphthoquinone – SIGMA<br />
M5625) + 600μl de Hemina 1mg/l (Hemin Bovine Minimum<br />
80% – SIGMA H5533) as quais foram incubadas<br />
na câmara de anaerobiose a 37ºC, numa atmosfera de<br />
10% H 2<br />
, 10% CO 2<br />
e 80% N 2<br />
até 14 dias, para permitir<br />
a detecção de microrganismos anaeróbios estritos de<br />
crescimento lento.<br />
Foram também inoculados 50μl da amostra original<br />
em uma placa de Brain Heart Infusion (BHI, Oxoid, Basingstoke,<br />
UK) + 5% de sangue de carneiro desfibrinado,<br />
a qual foi incubada aerobicamente em estufa a 37°C por<br />
2 dias, para permitir o crescimento de microrganismos<br />
aeróbios ou facultativos.<br />
Após a incubação, o valor total de UFC foi contado<br />
utilizando-se uma lupa com ampliação de 16x (Zeiss,<br />
Oberkoren, Alemanha).<br />
Caracterização microbiológica<br />
A caracterização preliminar das espécies microbianas<br />
foi baseada nas características das colônias (ou seja,<br />
tamanho, cor, forma, altura, borda, superfície, textura,<br />
consistência, brilho e hemólise) visualizadas sob lupa<br />
estereoscópica (Lambda Let 2, instruments Co., Hong<br />
Kong). As bactérias isoladas foram purificadas através<br />
de subcultura. A coloração de Gram e os requerimentos<br />
gasosos foram estabelecidos após verificação do crescimento<br />
microbiano em aerobiose e anaerobiose.<br />
Baseados nas características de colônias microbianas,<br />
na coloração de Gram e nos requerimentos gasosos,<br />
foi possível determinar o perfil da microbiota dos<br />
canais radiculares em momentos diferentes (s1, s2, s3).<br />
Forma de análise dos resultados<br />
Foram realizadas comparações estatísticas de<br />
todos os grupos (I a V) nos mesmos momentos de<br />
amostragem (s1, s2, s3) e entre s1, s2 e s3 em cada<br />
% Redução bacteriana<br />
100%<br />
99,5%<br />
d<br />
d<br />
c c c c c<br />
d<br />
s2<br />
s3<br />
99%<br />
98,5%<br />
98%<br />
97,5%<br />
97%<br />
96,5%<br />
96%<br />
95,5%<br />
a*<br />
b<br />
95%<br />
Solução Salina Gel Natrosol 2,5% NaOCI CHX-gel 2% CHX-solução 2%<br />
Figura 1. Valores percentuais médios de redução bacteriana (UFC) das amostras do canal radicular obtida após instrumentação (s2) e após a medicação<br />
(s3). *Letras diferentes representam diferenças do ponto de vista estatístico (P
Martinho FC, Cintra LTA, Zaia AA, Ferraz CCR, Almeida JFA, Gomes BPFA<br />
grupo, utilizando o teste Kruskall-Wallis para dados<br />
não-paramétricos. Quando foram encontradas diferenças<br />
significativas no teste de Kruskall-Wallis,<br />
realizou-se com o teste de Mann-Whitney as comparações<br />
a cada dois grupos, para demonstrar onde as<br />
diferenças foram localizadas. O nível de significância<br />
considerado foi de 5% (P
[ artigo original ] Efeito antimicrobiano de diferentes substâncias químicas associadas ao preparo mecânico e da medicação intracanal em dentes de cães portadores de lesões periapicais induzidas<br />
Em s1, não houve diferença estatisticamente significativa<br />
entre a quantidade de UFCs presente nos<br />
diferentes grupos: GI) 9,3 x 10 5 ; GII) 5,5 x 10 5 ; GIII)<br />
6,7 x 10 5 , GIV) 6,4 x 10 5 e GV) 1,5 x 10 6 (todos p>0,05)<br />
(Tab. 1). Esses valores diminuíram significativamente<br />
com a instrumentação químico-mecânica do canal<br />
radicular (s2): GI) 1,6 x 10 4 , GII) 1,4 x 10 4 , GIII) 7,6 x<br />
10 2 , GIV) 3,2 x 10 2 e GV) 2,6 x 10 3 (Tab. 1). A análise<br />
comparativa entre todos os valores médios de UFC<br />
nos diferentes grupos obtida em s2 demonstrou diferenças<br />
do ponto de vista estatístico entre todos os<br />
grupos (p0,05) (Tab. 1), sendo que em ambas<br />
as substâncias a carga bacteriana foi reduzida a<br />
quase 100% (Fig. 1).<br />
Após a aplicação de Ca(OH) 2<br />
durante duas semanas,<br />
foi realizada a terceira coleta (s3). Os valores<br />
médios de UFC em s3 foram menores do que aqueles<br />
no final da primeira visita (s2): GI) 6,7 x 10 3 , GII) 5,3<br />
x 10 3 , GIII) 1,4 x 10 2 , GIV) 1,8 x 10 2 e GV) 1,2 x 10 3<br />
(Tab. 1). Após análise comparativa entre os grupos<br />
em s2 e s3, observaram-se apenas diferenças estatisticamente<br />
significativas entre os Grupos I (SSL),<br />
II (natrosol-gel) e V (CHX-solução) (p0,05) (Tab. 1). Os valores percentuais médios<br />
de redução da carga bacteriana após instrumentação<br />
do canal radicular (s2) e medicação intracanal (s3)<br />
apresentam-se expostos na Figura 1.<br />
Em s1 observou-se microbiota mista composta<br />
predominantemente por bactérias anaeróbias estritas<br />
(Tab. 2). Em s1, houve predominância de cocos<br />
gram-positivos em todos os grupos (GI, GII, GIII,<br />
GIV e GV).<br />
Após o preparo químico-mecânico (s2), uma alta<br />
frequência de cocos gram-positivos e bastonetes<br />
gram-negativos foi encontrada.<br />
Em s3, independentemente da substância química<br />
auxiliar aplicada durante o preparo químico-mecânico,<br />
houve predominância de cocos gram-positivos<br />
em todas as amostras do canal radicular (Tab. 2).<br />
O perfil da microbiota nos diferentes tempos de<br />
amostragem (s1, s2 e s3), de acordo com os grupos<br />
testados (GI, GII, GIII, GIV e GV), está apresentado<br />
na Tabela 2.<br />
Discussão<br />
No presente estudo optou-se pelo procedimento<br />
de cultura, em vez de técnicas contemporâneas (métodos<br />
moleculares) 8,9 para avaliar a efetividade antimicrobiana<br />
durante os procedimentos endodônticos,<br />
devido à sua capacidade de detectar bactérias viáveis.<br />
Além disso, ao longo dos anos 22,25,26 procurou-se<br />
estabelecer uma correlação entre as bactérias viáveis<br />
e o sucesso do tratamento endodôntico. A maior<br />
parte da quantidade de bactérias (mais de 97%) foi<br />
removida apenas pela instrumentação mecânica e<br />
uso de solução irrigante (solução salina). Entretanto,<br />
foram observadas as maiores médias de redução<br />
(quase 100%) quando se empregou NaOCl a 2,5% ou<br />
CHX 2% gel, demonstrando a sua potente atividade<br />
antimicrobiana contra microrganismos envolvidos<br />
nas infecções primárias do canal radicular.<br />
A carga bacteriana em canais radiculares infectados<br />
foi reduzida de 10 5 a 10 2 UFC/ml após o preparo<br />
químico-mecânico usando tanto com NaOCl 2,5%<br />
quanto com CHX gel 2%. Resultados semelhantes<br />
foram observados por Vianna et al. 9 , que detectaram<br />
reduções de 10 5 a 10 1 UFC/ml no grupo do NaOCl<br />
a 2,5%; e de 10 5 a 10 2 UFC/ml no grupo da CHX gel<br />
2%. De forma semelhante, Siqueira et al. 15 relataram<br />
reduções 10 5 a 10 3 UFC/ml no grupo NaOCl 2,5% e<br />
10 5 a 10 2 UFC/ml no grupo de CHX a 0,12%.<br />
Quanto à atividade antimicrobiana, o presente<br />
estudo não encontrou nenhuma diferença significativa<br />
entre NaOCl e CHX gel como substância química<br />
auxiliar, o que está de acordo com trabalhos in<br />
vivo 14,15 e in vitro 13,16,19 . Em contraste, Vianna et al. 9<br />
compararam a eficácia antibacteriana in vivo dessas<br />
duas substâncias através da técnica molecular<br />
(RTQ-PCR), observando que o hipoclorito de sódio<br />
a 2,5% foi mais eficaz do que a clorexidina gel a 2%.<br />
No entanto, o significado clínico na redução de DNA<br />
bacteriano de canais radiculares infectados após os<br />
procedimentos de preparo químico-mecânico permanece<br />
incerto, uma vez que as células mortas detectadas<br />
por DNA não podem implicar no insucesso<br />
do tratamento endodôntico.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 42<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):37-45
Martinho FC, Cintra LTA, Zaia AA, Ferraz CCR, Almeida JFA, Gomes BPFA<br />
Parece razoável supor que o NaOCl 2,5% e a CHX<br />
gel 2% têm uma potente atividade antimicrobiana na<br />
prática clínica, e a escolha entre eles deve considerar<br />
suas propriedades particulares e individuais. A<br />
clorexidina gel possui uma atividade antimicrobiana<br />
residual que ajuda a prevenir a reinfecção do canal<br />
radicular 27,28 . Além disso, sua biocompatibilidade faz<br />
com com que seja a melhor escolha para dentes com<br />
ápices abertos 13 e para os pacientes que são alérgicos<br />
às soluções de hipoclorito de sódio 27 . Por outro<br />
lado, não possui a capacidade de dissolver os tecidos<br />
orgânicos, o que é uma importante vantagem do hipoclorito<br />
de sódio 29 .<br />
A atividade antimicrobiana da medicação de<br />
Ca(OH) 2<br />
por 14 dias foi notável em dentes irrigados<br />
com uma substância inerte (SSL e natrosol). A redução<br />
bacteriana foi significativamente maior após<br />
a instrumentação, de 1,6 x 10 4 a 6,7 x 10 3 UFC/ml<br />
no grupo com SSL e 1,4 x 10 4 a 5,3 x 10 3 UFC/ml<br />
no grupo natrosol. No entanto, a eficácia do preparo<br />
químico-mecânico foi semelhante, mas não estatisticamente<br />
significativa, nos dentes irrigados com<br />
substância química auxiliar, ou seja, reduziu-se de<br />
7,6 x 10 2 a 1,4 x 10 2 UFC/ml no grupo do NaOCl a<br />
2,5%; e de 3,2 x 10 2 a 1,8 x 10 2 UFC/ml no grupo da<br />
CHX gel 2%.<br />
Apesar de diferentes períodos de aplicação de<br />
Ca(OH) 2<br />
terem sidos encontrados na literatura 4,6,23,25 ,<br />
a maioria dos resultados sobre a redução média da<br />
quantidade bacteriana é semelhante aos do presente<br />
estudo em 14 dias, especialmente em dentes irrigados<br />
com NaOCl 2,5% e CHX gel 2%. Assim, o intervalo<br />
de valores dos percentuais de redução da carga<br />
bacteriana, que ocorre após a colocação de uma<br />
medicação de Ca(OH) 2<br />
, é de 97,42% para 99,90%,<br />
corroborando com outros relatos (91,0 a 99,9%) 3,11,12 .<br />
Após a colocação da medicação de Ca(OH) 2<br />
por<br />
14 dias, o número de canais radiculares com cultura<br />
negativa aumentou, enquanto em 4 amostras houve<br />
aumento no número de UFCs em comparação com<br />
os valores de s2.<br />
Alguns estudos 21,22,23,30 têm demonstrado valores<br />
elevados nas contagens de bactérias após o uso do<br />
Ca(OH) 2<br />
como medicação intracanal. Essa ocorrência<br />
pode ser explicada pela presença de bactérias<br />
remanescentes nos túbulos dentinários, que poderia<br />
ficar livre da ação direta de Ca(OH) 2<br />
10<br />
, além do efeito<br />
tampão da dentina, fatores que prejudicariam a ação<br />
do Ca(OH) 2<br />
e ocasionariam a reinfecção no espaço<br />
do canal principal.<br />
É razoável supor que a medicação de Ca(OH) 2<br />
tem pouca habilidade para promover a redução significativa<br />
da carga bacteriana na prática clínica, principalmente<br />
em dentes irrigados com NaOCl a 2,5%<br />
ou CHX gel 2%, e para ajudar a eliminar as bactérias,<br />
na maioria dos canais radiculares infectados, principalmente<br />
no canal principal. Entretanto, sua aplicação<br />
clínica não deve ser apenas com base na sua atividade<br />
antimicrobiana, mas também em suas outras<br />
propriedades, como a capacidade de alterar o pH da<br />
dentina e cemento, a capacidade de despolimerizar<br />
LPS de bactérias gram-negativas e sua ação higroscópica<br />
para eliminar exsudatos.<br />
Vale ressaltar que a eficácia dos procedimentos<br />
endodônticos não é devida apenas às propriedades<br />
antimicrobianas das substâncias químicas, mas também<br />
à suscetibilidade da microbiota presente nos<br />
canais radiculares envolvidos. Portanto, o conhecimento<br />
dessa e da sua suscetibilidade, associado a<br />
uma terapia endodôntica efetiva, é importante para<br />
alcançar a desinfecção dos canais radiculares.<br />
Independentemente da substância química auxiliar<br />
aplicada (inerte ou não) durante a instrumentação,<br />
a predominância de cocos gram-positivos e<br />
bastonetes gram-negativos foi encontrada em canais<br />
radiculares, sugerindo um potencial não-seletivo<br />
exercido pelas substâncias químicas testadas<br />
(NaOCl ou CHX). Em contrapartida, após o uso do<br />
Ca(OH) 2<br />
, a predominância de cocos gram-positivos<br />
foi observada em todas as amostras positivas do canal<br />
radicular. Esses achados devem ser considerados<br />
na prática clínica, pois os cocos gram-positivos,<br />
particularmente E. faecalis, estão frequentemente<br />
presentes em infecções persistentes do canal radicular<br />
devido ao seu alto nível de resistência ao hidróxido<br />
de cálcio.<br />
Conclusão<br />
Considerando a metodologia empregada, pode-<br />
-se concluir que, independentemente da utilização<br />
do hidróxido de cálcio como medicação intracanal, o<br />
hipoclorito de sódio a 2,5% e a clorexidina gel a 2%<br />
demonstraram uma potente atividade antimicrobiana<br />
contra patógenos endodônticos in vivo.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 43<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):37-45
[ artigo original ] Efeito antimicrobiano de diferentes substâncias químicas associadas ao preparo mecânico e da medicação intracanal em dentes de cães portadores de lesões periapicais induzidas<br />
Agradecimentos<br />
Agradecemos a Fernanda Barrichello Tosello, Thais<br />
Mageste Duque e Geovania Caldas Almeida pela contribuição<br />
no estudo. Este trabalho foi financiado pelas<br />
agências brasileiras FAPESP (07/58518-4, 08/58299-<br />
3, 08/57551-0, 08/57954-8, 10/51113-1) e CNPq<br />
(3470820/2006-3; 471631/2008-6; 302575/2009-0).<br />
Abstract<br />
Objective: To evaluate the effect of instrumentation, irrigation<br />
with different substances and the use of calcium hydroxide<br />
on bacterial load and microbiota profile in dog’s teeth<br />
with pulp necrosis and periapical lesion. Methods: Fifty five<br />
root canals were divided into groups: I) Saline (SSL) (n=11);<br />
II) natrosol gel (n=11); III) 2.5% NaOCl (n=11); IV) 2%<br />
CHX-gel (n= 11); V) 2% CHX-solution (n=11). Endodontic<br />
samples were cultured, microorganisms counted and the microbiota<br />
analyzed at different sampling times, s1, s2 and s3.<br />
Results: At s1, the mean CFU counts ranged from 5.5 x10 5 to<br />
1.5 x 10 6 . These values dropped significantly at s2 (p
Martinho FC, Cintra LTA, Zaia AA, Ferraz CCR, Almeida JFA, Gomes BPFA<br />
10. Ørstavik D, Haapasalo M. Disinfection by endodontic irrigants and<br />
dressings of experimentally infected dentinal tubules. Endod Dent<br />
Traumatol. 1990;6(4):142-9.<br />
11. Shuping GB, Orstavik D, Sigurdsson A, Trope M. Reduction of<br />
intracanal bacteria using nickel-titanium rotary instrumentation and<br />
various medications. J Endod. 2000;26(12):751-5.<br />
12. McGurkin-Smith R, Trope M, Caplan D, Sigurdsson A. Reduction of<br />
intracanal bacteria using GT rotary instrumentation, 5.25% NaOCl,<br />
EDTA, and Ca(OH) 2<br />
. J Endod. 2005;31:359-63.<br />
13. Jeansonne MJ, White RR. A comparison of 2.0% chlorhexidine<br />
gluconate and 5.25% sodium hypochlorite as antimicrobial<br />
endodontic irrigants. J Endod. 1994;20(6):276-8.<br />
14. Ercan E, Ozekinci T, Atakul F, Gul K. Antibacterial activity of 2%<br />
chlorhexidine gluconate and 5.25% sodium hypochlorite in infected<br />
root canal: in vivo study. J Endod. 2004;30:84-7.<br />
15. Siqueira JF, Rôças IN, Paiva SSM, Guimarães-Pinto T, Magalhães<br />
KM, Lima KC. Bacteriologic investigation of the effects of sodium<br />
hypochlorite and chlorhexidine during the endodontic treatment of<br />
teeth with apical periodontitis. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral<br />
Radiol Endod. 2007;104(1):122-30.<br />
16. Heling I, Chandler NP. Antimicrobial effect of irrigant combinations<br />
within dentinal tubules. Int Endod J. 1998;31(1):8-14.<br />
17. Vianna ME, Gomes BPFA, Berber VB, Zaia AA, Ferraz CCR, Souza-<br />
Filho FJ. In vitro evaluation of the antimicrobial activity of chlorhexidine<br />
and sodium hypochlorite. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol<br />
Endod. 2004;97:79-84.<br />
18. Gomes BPFA, Ferraz CCR, Vianna ME, Berber VB, Teixeira FB,<br />
Souza-Filho FJ. In vitro antimicrobial activity of several concentrations<br />
of sodium hypoclorite and chlorhexidine gluconate in the elimination<br />
of Enterococcus faecalis. Int Endod J. 2001;34(6):424-8.<br />
19. Ruff ML, McClanahan SB, Babel BS. In vitro antifungal efficacy of four<br />
irrigants as a final rinse. J Endod. 2006;32(4):331-3.<br />
20. Ringle AM, Patterson SS, Newton CW, Miller CH, Mulherm JM. In vivo<br />
evaluation of chlorhexidine gluconate solution and sodium hypochlorite<br />
solution as root canal irrigants. J Endod. 1982;8(5):200-4.<br />
21. Peters LB, Winkelhoff AJ Van, Buijs JF, Wesselink PR. Effects of<br />
instrumentation, irrigation and dressing with calcium hydroxide on<br />
infection in pulpless teeth with periapical bone lesions. Int Endod J.<br />
2002;35:13-21.<br />
22. Waltimo T, Trope M, Haapasalo M, Ørstavik D. Clinical efficacy of<br />
treatment procedures in endodontic infection control and one year<br />
follow-up of periapical healing. J Endod. 2005;31:863-6.<br />
23. Siqueira JF Jr. Guimarães-Pinto T, Rôças IN. Effects of<br />
chemomechanical preparation with 2.5% sodium hypochlorite and<br />
intracanal medication with calcium hydroxide on cultivale bacteria in<br />
infected root canals. J Endod. 2007;33(7);800-5.<br />
24. Sjögren U, Fidgor D, Spandberg L, Sundqvist G. The antimicrobial<br />
effect of calcium hydroxide as a short-term intracanal dressing. Int<br />
Endod J. 1991;24:119-25.<br />
25. Sjögren U, Figdor D, Persson S, Sundqvist G. Influence of infection<br />
at the time of root filling on the outcome of endodontic treatment<br />
of teeth with apical periodontitis. Int Endod J. 1997 Sep;30(5):297-<br />
306.<br />
26. Siqueira JF Jr, Rôças IN, Riche FN, Provenzano JC. Clinical<br />
outcome of the endodontic treatment of teeth with apical<br />
periodontitis using an antimicrobial protocol. Oral Surg Oral Med<br />
Oral Pathol Oral Radiol Endod. 2008;106(5):757-62.<br />
27. Tanomaru M Filho, Leonardo MR, Silva LAB, Aníbal FF, Faccioli LH.<br />
Inflamatory response to different endodontic irrigants solutions. Int<br />
Endod J. 2002;35(9):735-9.<br />
28. Kuruvilla JR, Kamath MP. Antimicrobial activity of 2.5% sodium<br />
hypoclorite and 0.2% chlorhexidine gluconate separately and<br />
combined, as endodontic irrigants. J Endod. 1998;24(7):472-6.<br />
29. Gordon TM, Dammato D, Christner P. Solvent effect of various<br />
dilutions of sodium hypochlorite on vital and necrotic pulp tissue. J<br />
Endod 1981;7(10):466-9.<br />
30. Ørstavik D. Radiographic evaluation of apical periodontitis and<br />
endodontic treatment results: a computer approach. Int Dent J.<br />
1991;41(2):89-98.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 45<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):37-45
artigo original<br />
Determinação in vitro do efeito antimicrobiano<br />
direto do hidróxido de cálcio associado a diferentes<br />
substâncias frente a cepas de Enterococcus faecalis<br />
Paulo Henrique Weckwerth, DDS, MS, PhD 1<br />
Natália Bernecoli Siquinelli, PharmD 2<br />
Ana Carolina Villas Bôas Weckwerth, DDS 3<br />
Rodrigo Ricci Vivan, DDS, MS 4<br />
Marco Antonio Hungaro Duarte, DDS, MS, PhD 5<br />
Resumo<br />
Objetivo: determinar o efeito antimicrobiano em contato<br />
direto de Casearia sylvestris Swart (guaçatonga), propilenoglicol,<br />
e da clorexidina associada ao hidróxido de cálcio<br />
contra 40 cepas de Enterococcus faecalis isoladas da cavidade<br />
bucal. Métodos: após a ativação, as cepas bacterianas<br />
foram suspensas em solução salina estéril até a escala 1,0<br />
de MacFarland. A suspensão foi colocada em contato direto<br />
com hidróxido de cálcio [Ca(OH) 2<br />
] + propilenoglicol<br />
puro, Ca(OH) 2<br />
+ clorexidina a 1% em propilenoglicol, e<br />
Ca(OH) 2<br />
+ extrato de guaçatonga em propilenoglicol, cobrindo<br />
pontas de papel, previamente contaminadas com a<br />
solução por 3 minutos, com as diferentes pastas. A atividade<br />
antimicrobiana foi avaliada em 6, 24, 48, 72 horas, e<br />
aos 7 dias. Após o período de incubação, os cones foram<br />
retirados das pastas e incubados em caldo Letheen a 37ºC<br />
por 48 horas. Em seguida, 0,1ml do caldo Letheen foi transferido<br />
para tubos contendo infusão de cérebro e coração<br />
(BHI) e incubados em caldo novamente a 37ºC por 48 horas.<br />
A turbidez foi observada no meio. Depois disso, placas<br />
de ágar M-Enterococcus foram semeadas com caldo BHI<br />
de cada tubo e o crescimento colonial foi avaliado. Resultados:<br />
todas as cepas bacterianas foram inibidas por todas<br />
as pastas, nos períodos avaliados. Conclusões: concluiu-<br />
-se que a adição dessas substâncias ao hidróxido de cálcio<br />
não interferiu no seu efeito antimicrobiano direto.<br />
Palavras-chave: Microbiologia. Enterococcus faecalis. Hidróxido<br />
de cálcio. Produtos com ação antimicrobiana.<br />
Weckwerth PH, Siquinelli NB, Weckwerth ACVB, Vivan RR, Duarte MAH. In vitro determination of direct antimicrobial effect of calcium hydroxide associated with different<br />
substances against Enterococcus faecalis strains. <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):46-51.<br />
1<br />
Professor de Microbiologia da Universidade Sagrado Coração de Bauru - SP.<br />
2<br />
Graduação em Farmácia pela Universidade Sagrado Coração de Bauru - SP.<br />
Recebido: janeiro de 2011 / Aceito: fevereiro de 2011.<br />
3<br />
Microbiologista no Instituto Lauro de Souza Lima em Bauru - SP.<br />
4<br />
Professor de Endodontia na Universidade Sagrado Coração de Bauru - SP.<br />
5<br />
Professor de Endodontia na Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São<br />
Paulo - Bauru - SP.<br />
Endereço para correspondência: Marco Antonio Hungaro Duarte<br />
Rua Anna Pietro Forte, 3-18 (lote A12), Residencial Villagio 1 - CEP: 17.018-820<br />
Bauru/SP, Brasil - E-mail: mhungaro@fob.usp.br<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 46<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):46-51
Weckwerth PH, Siquinelli NB, Weckwerth ACVB, Vivan RR, Duarte MAH<br />
Introdução<br />
O gênero Enterococcus inclui membros anteriormente<br />
classificados como estreptococos do grupo D, devido<br />
à presença do antígeno da parede celular do Grupo<br />
D, um ácido teicoico glicerol associado à membrana<br />
citoplasmática. Os enterococos são habitantes normais<br />
do trato gastrintestinal e são encontrados em menor<br />
quantidade na vagina e na uretra masculina 1 .<br />
Esses tornaram-se importantes microrganismos patogênicos<br />
em humanos, principalmente devido à sua<br />
resistência aos agentes antimicrobianos e dos fatores<br />
de virulência estudados recentemente 2 .<br />
Esses cocos gram-positivos são dispostos em pares<br />
ou em pequenas cadeias, e são muito difíceis de se<br />
diferenciar de estreptococos. São anaeróbios facultativos<br />
que prosperam a 35ºC, geralmente crescem na<br />
superfície de placas de ágar sangue como colônias<br />
gama-hemolítico, e M-Enterococcus ágar como colônias<br />
vermelho escuro ou púrpura. Os enterococos são<br />
tolerantes à bile em 40% e podem hidrolisar esculina.<br />
Além disso, eles são capazes de crescer na presença<br />
de cloreto de sódio 6,5%, e podem ser distinguidos de<br />
bactérias no gênero Staphylococcus por sua incapacidade<br />
de produzir catalase 3 .<br />
Enterococcus faecalis são frequentemente encontrados<br />
em canais radiculares após falha no tratamento endodôntico<br />
4,5,6 .<br />
Sendo altamente resistentes a vários medicamentos,<br />
eles também estão entre os poucos microrganismos que<br />
apresentam resistência in vitro à medicação com hidróxido<br />
de cálcio. Essa resistência está relacionada com uma<br />
bomba de próton 7 ou formação de biofilme 8 . Na tentativa<br />
de superar essa resistência, a adição de diferentes substâncias<br />
ao hidróxido de cálcio tem sido proposta.<br />
Um dos aditivos sugeridos é a clorexidina, um bisbiguanídeo.<br />
A pasta de hidróxido de cálcio com clorexidina<br />
mostrou melhor ação antimicrobiana in vitro,<br />
em comparação com a pasta de hidróxido de cálcio<br />
com água 9 . Apesar do seu efeito antimicrobiano positivo,<br />
essa associação mostrou maior liberação de<br />
íons peróxido de hidrogênio, o que pode resultar em<br />
maior irritação 10 .<br />
Novas alternativas têm sido propostas em Endodontia,<br />
incluindo substâncias naturais, como própolis e fitoterápicos.<br />
Um desses agentes fitoterápicos é a infusão<br />
de Casearia sylvestris Sw ou extrato alcoólico.<br />
Essa planta é nativa da América Latina, do México<br />
à Argentina. É encontrada em todo o Brasil, sendo particularmente<br />
comum no estado de São Paulo. É popularmente<br />
conhecida como guaçatonga, erva de lagarto,<br />
vassitonga, bugre branco, entre outros nomes. A palavra<br />
“guaçatonga” originou-se do tupi-guarani (língua indígena),<br />
mostrando que essa espécie era conhecida pelas populações<br />
nativas do Brasil 11 .<br />
O extrato da guaçatonga mostrou ação anti-inflamatoria<br />
13 e antimicrobiana 14 . No entanto, não há estudos<br />
na literatura científica mostrando se a adição de agentes<br />
fitoterápicos com hidróxido de cálcio interfere em<br />
sua ação antimicrobiana.<br />
Diante desse fato, o objetivo do presente estudo foi<br />
avaliar a sensibilidade de várias cepas de Enterococcus<br />
faecalis isoladas da cavidade bucal em contato direto<br />
com pastas de hidróxido de cálcio associada à Casearia<br />
sylvestris Sw (guaçatonga) em propilenoglicol, ao propilenoglicol<br />
puro, ou à clorexidina a 1% em propilenoglicol.<br />
Metodologia<br />
Preparação do extrato<br />
As folhas de Casearia sylvestris Sw utilizadas neste estudo<br />
foram coletadas na fazenda Lageado, da Faculdade<br />
de Ciências Agronômicas - Unesp, em Botucatu, estado<br />
de São Paulo, e identificadas no herbário da Universidade<br />
Sagrado Coração (USC) - Bauru, São Paulo, Brasil.<br />
Após a colheita e secagem, o material foi novamente<br />
desidratado em estufa de ar circulante sob temperatura<br />
controlada, até se obter peso constante. Depois<br />
disso, as folhas foram trituradas em um moinho de<br />
faca e usadas para preparar o extrato. O material desidratado<br />
foi macerado em propilenoglicol (extração<br />
de solução) numa relação de 25 gramas de pó para<br />
200ml de solução de extração. O pó da planta permaneceu<br />
na solução de extração durante oito dias, com<br />
agitação esporádica durante esse período. O produto<br />
da extração foi armazenado em um recipiente de cor<br />
âmbar (para evitar possível interferência de luz) e à<br />
temperatura ambiente (25ºC).<br />
Cepas de Enterococccus<br />
Quarenta cepas microbianas de E. faecalis isoladas a<br />
partir da bacterioteca do laboratório de Microbiologia da<br />
USC foram usadas no presente trabalho. As cepas foram<br />
cultivadas a partir de amostras obtidas da cavidade bucal<br />
de pacientes atendidos na clínica de Endodontia do curso<br />
de Odontologia da USC em Bauru, Brasil.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 47<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):46-51
[ artigo original ] Determinação in vitro do efeito antimicrobiano direto do hidróxido de cálcio associado a diferentes substâncias frente a cepas de Enterococcus faecalis<br />
Todas as amostras foram congeladas a -20ºC e foram<br />
isoladas em M-Enterococcus ágar (Difco ® ). As cepas foram,<br />
então, identificadas na sequência de uma rotina de<br />
identificação padrão descrita por Koneman et al. 1<br />
A ativação das amostras foi realizada em placas de<br />
ágar M-Entorococcus (Difco ® ) em uma estufa com temperatura<br />
em 36 o C por 18-24 horas. Posteriormente, as<br />
colônias foram suspensas em caldo BHI (Oxoid ® ), até<br />
que a turbidez completa do meio fosse observada.<br />
Testes antimicrobianos das substâncias<br />
Todas as substâncias bacterianas testadas neste estudo<br />
foram baseadas em pasta de hidróxido de cálcio<br />
PA (Tab. 1).<br />
Tabela 1. Pastas empregadas no experimento.<br />
Ca(OH) 2<br />
+ extrato de guaçatonga em propilenoglicol<br />
Ca(OH) 2<br />
+ clorexidina a 1% em propilenoglicol<br />
Ca(OH) 2<br />
+ propilenoglicol puro<br />
As pastas foram preparadas por meio da mistura de<br />
2 gramas de pó para 70 gotas de cada veículo correspondente,<br />
resultando em uma mistura com consistência<br />
de creme dental após espatulação. Para cada material<br />
testado, 12 gramas de pasta de hidróxido de cálcio foram<br />
manipuladas.<br />
Avaliação da atividade antimicrobiana<br />
As suspensões do inóculo em caldo BHI (Oxoid ® ),<br />
foram diluídas em 5ml de solução salina estéril para<br />
chegar à turbidez correspondente a um padrão de<br />
McFarland (escala 1,0 = 3 x 10 8 células/ml).<br />
Para o teste da ação antimicrobiana, 1.200 pontas<br />
de papel (Tanari ® , Tanariman Ltda), previamente esterilizadas<br />
em autoclave, foram imersas nas suspensões<br />
experimentais bacterianas por 3 minutos para alcançar<br />
a contaminação. Depois disso, as pontas de papel<br />
foram removidas assepticamente da suspensão bacteriana<br />
e distribuídas na superfície de placas de Petri<br />
estéreis. As pontas contaminadas, em seguida, foram<br />
cobertas pelas pastas preparadas. As placas de Petri<br />
foram fechadas e mantidas em estufa a 37 o C.<br />
Aos períodos de 6, 24, 48 e 72 horas, e aos 7 dias,<br />
as pontas de papel foram removidas do contato direto<br />
com as pastas e colocadas em tubos de ensaio contendo<br />
4ml de caldo Letheen (Difco ® ) estéreis. Os caldos<br />
foram incubados a 37 o C por 48 horas e avaliados visualmente<br />
quanto à turbidez macroscópica.<br />
Um inóculo contendo 0,1ml de caldo Letheen foi<br />
transferido para tubos de ensaio com 4ml de caldo<br />
BHI, que foram incubados sob as mesmas condições.<br />
Os tubos de caldo BHI teste sem evidência de turbidez<br />
foram considerados como negativos, e os que<br />
apresentassem turvação do caldo foram semeados em<br />
ágar M-Enterococcus, a fim de determinar se as bactérias<br />
permaneceram viáveis.<br />
Todos os procedimentos experimentais foram realizados<br />
sob condições assépticas, com o auxílio de uma<br />
capela de fluxo laminar, e os ensaios foram realizados<br />
em duplicata. Um experimento foi realizado com Enterococcus<br />
faecalis padrão ATCC 29212.<br />
O pH de cada pasta foi mensurado após a manipulação<br />
em água deionizada, com o auxílio de um medidor<br />
de pH.<br />
Resultados<br />
Os valores de pH para as pastas foram: 12,67 para<br />
o hidróxido de cálcio + clorexidina 1%; 12,62 para o<br />
hidróxido de cálcio + propilenoglicol; e 12,60 para o<br />
hidróxido de cálcio + extrato de Casearia sylvestris Sw.<br />
A avaliação da atividade antimicrobiana para as três<br />
pastas diferentes em 6, 24, 48, 72 horas, e aos 7 dias de<br />
pós-incubação mostrou que todas as cepas foram inibidas<br />
em todos os períodos de avaliação (Tab. 2).<br />
Discussão<br />
A eficácia de pasta de hidróxido de cálcio contra E.<br />
faecalis e outros microrganismos tem sido amplamente<br />
discutida na literatura científica 15-19 .<br />
A adição de clorexidina conferiu maior eficácia antimicrobiana<br />
à pasta de hidróxido de cálcio na desinfecção<br />
de túbulos de dentina 7 . No entanto, Schäfer et al. 17<br />
observaram que não houve aumento de eficácia contra<br />
o E. faecalis associando o hidróxido de cálcio à clorexidina.<br />
Entretanto, Ercan et al. 18 , em um experimento<br />
in vitro envolvendo dentes extraídos, verificaram que a<br />
clorexidina gel 2% foi mais eficiente contra E. faecalis e<br />
Candida albicans em comparação à pasta de hidróxido<br />
de cálcio associada ou não à clorexidina a 2%.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 48<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):46-51
Weckwerth PH, Siquinelli NB, Weckwerth ACVB, Vivan RR, Duarte MAH<br />
Tabela 2. Ação antimicrobiana das pastas de hidróxido de cálcio contra as cepas bacterianas.<br />
Ca(OH) 2<br />
+ Propilenoglicol Ca(OH) 2<br />
+ Clorexidina a 1% Ca(OH) 2<br />
+ Extrato de guaçatonga<br />
6h 24h 48h 72h 7d 6h 24h 48h 72h 7d 6h 24h 48h 72h 7d<br />
1 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
2 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
3 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
4 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
5 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
6 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
7 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
8 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
9 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
10 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
11 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
12 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
13 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
14 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
15 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
16 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
17 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
18 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
19 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
20 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
21 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
22 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
23 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
24 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
25 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
26 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
27 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
28 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
29 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
30 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
31 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
32 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
33 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
34 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
35 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
36 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
37 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
38 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
39 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
40 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -<br />
O Enterococcus faecalis necessita ser mantido em contato<br />
direto com hidróxido de cálcio para ser morto 20,21 . No<br />
presente trabalho, o menor tempo de contato direto da<br />
pasta e o Enterococcus faecalis foi de 6 horas, e nenhuma<br />
das cepas sobreviveu. Os resultados apresentados neste<br />
estudo para a pasta de hidróxido de cálcio com clorexidina<br />
estão de acordo com os de Estrela et al. 21 , que utilizaram<br />
metodologia semelhante.<br />
A ação antimicrobiana do hidróxido de cálcio decorre<br />
da liberação de íons hidroxila, com consequente aumento<br />
do pH, atingindo 11-12,5 22 . De acordo com Siqueira-<br />
-Júnior et al. 23 , o efeito letal de íons hidroxila contra células<br />
bacterianas é principalmente devido ao dano causado<br />
em sua membrana citoplasmática, desnaturação de proteínas,<br />
e os danos diretos ao DNA, mas agora está claro<br />
que um dos fatores cruciais para a sobrevivência do E.<br />
faecalis em pH alto é a presença de uma bomba de prótons<br />
que permite a homeostase citoplasmática, mesmo<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 49<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):46-51
[ artigo original ] Determinação in vitro do efeito antimicrobiano direto do hidróxido de cálcio associado a diferentes substâncias frente a cepas de Enterococcus faecalis<br />
em ambientes extremamente alcalinos 7 . Já foi constatada<br />
a sobrevivência de cepas de Enterococcus faecalis em<br />
ambientes com pH acima de 10,5-11,0; sendo que os valores<br />
de pH têm que ser superiores a 11,5 para se conseguir<br />
matar esse microrganismo 24 . No presente trabalho,<br />
todas as pastas apresentaram pH superior a 12,5 e foram<br />
capazes de matar todas as cepas analisadas.<br />
É importante ressaltar que o pH das pastas de hidróxido<br />
de cálcio é geralmente superior a 11, e que a adição<br />
de várias substâncias não altera esses valores 25,26 . No<br />
entanto, dentro dos túbulos dentinários, o pH pode não<br />
chegar em níveis tão altos 27,28 , daí a associação sugerida<br />
de diferentes substâncias para as pastas, com o objetivo<br />
de reforçar a ação antimicrobiana, com a qual têm sido<br />
verificados resultados positivos 9 .<br />
No presente trabalho, pastas de hidróxido de cálcio<br />
em três veículos diferentes demonstraram grande eficácia<br />
contra todas as cepas de E. faecalis após contato direto<br />
in vitro com o microrganismo. A adição de guaçatonga<br />
não interferiu com a ação antimicrobiana do hidróxido<br />
de cálcio, confirmando que a presença dessa substância<br />
não altera o pH da pasta. Outros experimentos devem ser<br />
realizados a fim de demonstrar, in vivo e in vitro (utilizando<br />
dentes extraídos), se efeito similar é observado. É importante<br />
levar em consideração que, para o hidróxido de<br />
cálcio manter a sua capacidade de elevar o pH dentro dos<br />
túbulos dentinários, os íons hidroxila devem se difundir por<br />
toda a dentina em concentrações elevadas e provocar um<br />
aumento drástico nos valores de pH local.<br />
O óleo essencial da guaçatonga tem demonstrado<br />
ação contra bactérias gram-positivas tais como Enterococcus,<br />
Micrococcus, Staphylococcus aureus, S. epidermidis e<br />
linhagens de Bacillus cereus.<br />
Métodos em que as pastas são difundidas na superfície<br />
do ágar, conforme descrito por Gomes et al. 15 , ou aqueles<br />
que envolvam contato direto com a pasta, como o<br />
utilizado no presente trabalho e outros 21 , são suscetíveis<br />
à interferência de diversas variáveis, ou seja, diferenças<br />
de solubilidade e difusão da pasta no meio, o inóculo, pH<br />
dos componentes do ágar, viscosidade do ágar, tempo e<br />
temperatura, e da atividade metabólica dos microrganismos<br />
no meio de cultura. Todos esses fatores dificultam a<br />
extrapolação dos resultados para um cenário clínico, onde<br />
outros fatores podem interferir com a ação antimicrobiana<br />
da pasta contra microrganismos nos túbulos dentinários.<br />
Portanto, é imprescindível que futuros estudos sejam<br />
realizados para determinar se o extrato de guaçatonga em<br />
propileno glicol é capaz de aumentar a eficácia de pastas<br />
de hidróxido de cálcio contra Enterococcus faecalis em<br />
dentes extraídos in vitro ou in vivo, em reais condições clínicas.<br />
A descoberta de biocomponentes antimicrobianos<br />
derivados dessa planta, com atividade contra bactérias<br />
encontradas na microbiota bucal, pode conduzir a novas<br />
alternativas terapêuticas em Odontologia.<br />
In vitro determination of direct antimicrobial effect of calcium hydroxide<br />
associated with different substances against Enterococcus faecalis strains<br />
Abstract<br />
Objective: To determinate the direct antimicrobial effects of<br />
Casearia sylvestris Swart (guaçatonga), propylene glycol, and of<br />
chlorhexidine associated to calcium hydroxide paste against 40<br />
Enterococcus faecalis strains isolated from the oral cavity when<br />
direct contact. Methods: After activation, the bacterial strains<br />
were suspended in sterile saline to 1.0 McFarland standard. The<br />
suspension was placed in direct contact with calcium hydroxide<br />
paste [Ca(OH) 2<br />
] + pure propylene glycol, Ca(OH) 2<br />
+ chlorhexidine<br />
1% in propylene glycol, and Ca(OH) 2<br />
+ guaçatonga extract<br />
in propylene glycol by covering paper points, previously contaminated<br />
for 3 minutes, with the different pastes. Antimicrobial<br />
activity was evaluated at 6, 24, 48, 72 hours, and at 7 days. After<br />
the incubation period, the points were removed from the pastes<br />
and incubated in Letheen broth at 37 o C for 48 hours. Following<br />
that, 0.1ml of the Letheen broth was transferred to tubes<br />
containing brain heart infusion (BHI) broth and incubated again<br />
at 37 o C for 48 hours. Turbidity was observed in the medium. After<br />
that, M-Enterococcus agar plates were seeded with BHI broth<br />
from each tube and colony growth was assessed. Results: All<br />
the bacterial strains were inhibited by all pastes at the evaluated<br />
periods. Conclusions: It was concluded that the addition<br />
of these substances to calcium hydroxide did not interfere with<br />
its direct antimicrobial effect.<br />
Keywords: Environmental microbiology. Enterococcus faecalis.<br />
Calcium hydroxide. Products with antimicrobial action.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 50<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):46-51
Weckwerth PH, Siquinelli NB, Weckwerth ACVB, Vivan RR, Duarte MAH<br />
Referências<br />
1. Koneman EW, Allen SD, Janda WM, Schreckenberger PC, Winn-<br />
Júnior WC. Diagnóstico microbiológico: texto e atlas colorido. 6ª ed.<br />
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2008.<br />
2. Kayaoglu G, Ørstavik D. Virulence factors of Enterococcus faecalis:<br />
relationship to endodontic disease. Crit Rev Oral Biol Med.<br />
2004;15:308-20.<br />
3. Murray PR, Rosenthal KS, Pfaller MA. Microbiologia médica. 5ª ed.<br />
Rio de Janeiro: Elsevier; 2006.<br />
4. Sundqvist G, Figdor D, Persson S, Sjögren U. Microbiologic analysis<br />
of teeth with failed endodontic treatment and the outcome of<br />
conservative retreatment. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol<br />
Endod. 1998;85(1):85-93.<br />
5. Pinheiro ET, Gomes BPFA, Ferraz CCR, Sousa ELR, Teixeira FB,<br />
Souza FJ Filho. Microorganisms from canals of root-filled teeth with<br />
periapical lesions. Int Endod J. 2003;36(1):1-11.<br />
6. Röças IN, Siqueira JF Jr, Santos KRN. Association of Enterococcus<br />
faecalis with different forms of periradicular diseases. J Endod.<br />
2004;30(5):315-20.<br />
7. Evans M, Davies JK, Sundqvist G, Figdor D. Mechanism involved<br />
in the resistance of Enterococcus faecalis to calcium hydroxide. Int<br />
Endod J. 2002;35(3):221-8.<br />
8. Cháves de Paz LE, Bergenholtz G, Dáhlen G, Svensäter G.<br />
Response to alkaline stress by root canal bacteria in biofilms. Int<br />
Endod J. 2007;4(5):344-55.<br />
9. Evans MD, Baumgartner JC, Khemaleelakul S, Xia T. Efficacy of<br />
calcium hydroxide: chlorhexidine paste as an intracanal medication in<br />
bovine dentin. J Endod. 2003;29(5):338-9.<br />
10. Barbin LE, Saquy PC, Guedes DFC, Sousa-Neto MD, Estrela C,<br />
Pecora JD. Determination of para-chloroaniline and reactive oxygen<br />
species in chlorhexidine and chlorhexidine associated with calcium<br />
hydroxide. J Endod. 2008;34(12):1508-14.<br />
11. Teske M, Tentini AMM. Compêndio de fitoterapia. 4ª ed. Curitiba:<br />
Herbarium; 2001.<br />
12. Lorenzi H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de<br />
plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa: Plantarum; 1992.<br />
13. Esteves I, Souza IR, Rodrigues M, Cardoso LG, Santos LS, Sertie<br />
JA, et al. Gastric antiulcer and anti-inflammatory activities of the<br />
essential oil from Casearia sylvestris Sw. J Ethnopharmacol.<br />
2005;101(1-3):191-6.<br />
14. Schneider NFZ, Moura NF, Colpo T, Flach A. Composição química e<br />
atividade antimicrobiana do óleo volátil de Casearia sylvestris Swart.<br />
Rev Bras Farm. 2006;87:112-14.<br />
15. Gomes BPFA, Ferraz CCR, Garrido FD, Rosalen PL, Zaia AA,<br />
Teixeira FB, et al. Microbial susceptibility to calcium hydroxide pastes<br />
and their vehicles. J Endod. 2002;28(11) 758-61.<br />
16. Cwikla SJ, Bélanger M, Guiguére S, Progulske-Fox A, Vertucci<br />
FJ. Dentinal tubule disinfection using three calcium hydroxide<br />
formulations. J Endod. 2005;31:50-2.<br />
17. Schäfer E, Bössmann K. Antimicrobial efficacy of chlorhexidine and<br />
two calcium hydroxide formulations against Enterococcus faecalis.<br />
J Endod. 2005;31:53-6.<br />
18. Ercan E, Dalli M, Dülgergil T. In vitro assessment of the effectiveness<br />
of chlorhexidine gel and calcium hydroxide paste with chlorhexidine<br />
against Enterococcus faecalis and Candida albicans. Oral Surg Oral<br />
Med Oral Pathol Oral Radiol Endod. 2006;102(2):e27-e31.<br />
19. Tanomaru JMG, Pappen FG, Tanomaru M Filho, Spolidório DMP, Ito<br />
IY. In vitro antimicrobial activity of different gutta-percha points and<br />
calcium hydroxide pastes. Braz Oral Res. 2007;2(1):35-9.<br />
20. Byströn A, Claesson R, Sundqvist G. The antibacterial effect of<br />
camphorated paramonochlorophenol, camphorated phenol and<br />
calcium hydroxide in the treatment of infected root canals. Endod<br />
Dent Traumatol. 1985;1(5):170-5.<br />
21. Estrela C, Bammann LL, Pimenta FC, Pécora JD. Control of<br />
microorganisms in vitro by calcium hydroxide pastes. Int Endod J.<br />
2001;34(5):341-5.<br />
22. Estrela C, Pimenta FC, Ito IY, Bammann LL. In vitro determination<br />
of direct antimicrobial effect of calcium hydroxide. J Endod.<br />
1998;2(1):15-7.<br />
23. Siqueira-Júnior JF, Lopes HP. Mechanisms of antimicrobial activity of<br />
calcium hydroxide: a critical review. Int Endod J. 1999;32(5):361-9.<br />
24. McHugh PC, Zhang P, Michelek S, Eleazer PD. pH required to kill<br />
Enterococcus faecalis in vitro. J Endod. 2004;30(4): 218-9.<br />
25. Pacios MG, de la Casa ML, de Bulacio MA, Lopez ME. Influence of<br />
different vehicles on the pH of calcium hydroxide pastes. J Oral Sci.<br />
2004;46(2):107-11.<br />
26. Yücel AÇ, Aksoy A, Ertas E, Güvenç D. The pH changes of calcium<br />
hydroxide mixed with six different vehicles. Oral Surg Oral Med Oral<br />
Pathol Oral Radiol Endod. 2007;103(5):712-7.<br />
27. Nerwich A, Figdor D, Messer HH. pH changes in root dentin over a<br />
4 week period following root canal dressing with calcium hydroxide.<br />
J Endod. 1993;19:302-6.<br />
28. Estrela C, Sydney GB, Pesce HF, Felippe O Júnior. Dentinal diffusion<br />
of hydroxyl ions of various calcium hydroxide pastes. Braz Dent J.<br />
1995;6(1):5-9.<br />
29. Alves TMA, Silva AF, Brandão M, Grandi TSM, Smânia EFA, Smânia-<br />
Júnior A, et al. Biological screening of brazilian medicinal plants. Mem<br />
Inst Oswaldo Cruz. 2000;95(3):367-73.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 51<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):46-51
artigo original<br />
Análise das forças desenvolvidas<br />
durante a obturação do canal radicular<br />
por diferentes operadores<br />
Maria Rosa Felix de Sousa G. GUIMARÃES, DDS, MSc 1<br />
Henner Alberto GOMIDE, DDS, MSc, PhD 2<br />
Maria Antonieta Veloso C. de OLIVEIRA, DDS, MSc 3<br />
João Carlos Gabrielli BIFFI, DDS, MSc, PhD 4<br />
Resumo<br />
Introdução: procedimentos endodônticos podem contribuir<br />
tanto para o desenvolvimento da fratura radicular<br />
vertical como para outros defeitos localizados, como<br />
linhas de fissura ou rachaduras incompletas na dentina<br />
radicular. O objetivo deste estudo foi avaliar a resistência<br />
máxima de fratura radicular e a força produzida por cinco<br />
diferentes operadores nas condensações lateral e vertical<br />
durante a obturação do canal radicular. Métodos:<br />
foram selecionados 74 dentes humanos, caninos superiores<br />
(CS) e pré-molares inferiores (PMI). Para determinar<br />
a resistência máxima de fratura durante a condensação,<br />
foram utilizados 24 dentes, submetidos a carregamento<br />
axial de compressão até a ocorrência da fratura radicular<br />
em uma máquina de ensaios mecânicos. Cinquenta<br />
dentes foram utilizados para mensuração da força axial<br />
de condensação, por meio de dispositivo desenvolvido<br />
para simular condições clínicas de trabalho. Resultados:<br />
os valores médios de resistência à fratura em Kg<br />
foram: CS=14,96±2,65 e PMI=7,56±1,05. Os valores<br />
médios, em Kg, das forças exercidas pelos cinco operadores<br />
foram respectivamente 2,49; 3,75; 2,24; 2,08 e<br />
1,18. Nenhum operador atingiu, durante os procedimentos,<br />
a força máxima de fratura radicular. Conclusões:<br />
diferentes comportamentos entre os cinco profissionais<br />
monitorados foram observados para a mesma técnica de<br />
obturação. O aumento da força durante a condensação<br />
não gerou melhora radiográfica da obturação do canal<br />
radicular. Durante a obturação, as condensações lateral<br />
e, principalmente, a vertical devem ser realizadas com<br />
força e pressão apical reduzidas, evitando tensões excessivas<br />
e desnecessárias à dentina radicular.<br />
Palavras-chave: Técnica de condensação lateral. Obturação<br />
do canal radicular. Força de condensação.<br />
Guimarães MRFSG, Gomide HA, Oliveira MAVC, Biffi JCG. Analysis of forces developed during root canal filling by different operators. <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):52-7.<br />
1<br />
Departamento de Endodontia, Faculdade de Odontologia São Lucas, Porto Velho/RO, Brasil.<br />
Recebido: janeiro de 2011 / Aceito: fevereiro de 2011.<br />
2<br />
Faculdade de Engenharia Mecânica, Universidade Federal de Uberlândia/MG, Brasil.<br />
3<br />
Mestre em Clínica Integrada Odontológica, Faculdade de Odontologia, Universidade Federal<br />
de Uberlândia/MG, Brasil.<br />
4<br />
Professor Titular do Departamento de Endodontia, Faculdade de Odontologia, Universidade<br />
Federal de Uberlândia/MG, Brasil.<br />
Endereço para correspondência: Maria Rosa Felix de Sousa Gomide Guimarães<br />
Av. Pará, 1720, bloco 2B s/25, bairro Umuarama, CEP: 38.403-036<br />
Uberlândia, MG – Brasil<br />
E-mail: antocassia@hotmail.com<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 52 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):52-7
Guimarães MRFSG, Gomide HA, Oliveira MAVC, Biffi JCG<br />
Introdução<br />
Procedimentos endodônticos podem contribuir tanto<br />
para o desenvolvimento da fratura radicular vertical<br />
como para outros defeitos localizados, como linhas de<br />
fissura ou rachaduras incompletas na dentina radicular<br />
1 . Esses defeitos localizados podem ter potencial em<br />
desenvolver fraturas 2 e, portanto, deveriam ser prevenidos.<br />
A fratura radicular vertical do dente é uma implicação<br />
clínica e, por ser no sentido longitudinal, estende-se<br />
através de toda a espessura da dentina do canal<br />
radicular até o periodonto 4 . Apresenta um prognóstico<br />
desfavorável, resultando em exodontia do dente ou ressecção<br />
da raiz afetada 3,4 .<br />
Vários fatores podem ser responsáveis pelo aumento<br />
do potencial do risco de fraturas dentárias radiculares,<br />
e alguns não podem ser controlados pelo<br />
cirurgião-dentista, como a redução das propriedades<br />
mecânicas da estrutura dentária, causada por processos<br />
fisiológicos e patológicos 5 . Mas há muitos outros<br />
fatores que podem ser controlados durante e após o<br />
tratamento endodôntico. Dentre eles, podemos citar<br />
a cavidade de acesso, o preparo do canal radicular, a<br />
irrigação, a obturação, o preparo do canal para o pino<br />
intrarradicular 1,5 e a restauração coronária 5 .<br />
Estudos in vitro examinaram o efeito de várias técnicas<br />
de obturação na resistência à fratura de dentes<br />
tratados endodonticamente 1,2,6-11 . Em comparação<br />
com a condensação termoplastificada, maiores forças<br />
ocorrem durante as técnicas de obturação com condensação<br />
lateral, com compactação vertical aquecida<br />
ou com compactação termomecânica 6,7 . Na condensação<br />
lateral, o uso de espaçadores maiores que o de<br />
tamanho nº 25 causa uma diminuição significativa na<br />
resistência à fratura das raízes dentárias 11 . Isso porque<br />
a inserção do espaçador durante a obturação pode<br />
causar forças excessivas, gerando estresse dentro do<br />
canal radicular 12 . Entretanto, mesmo usando um espaçador<br />
fino durante a condensação lateral, linhas de fissura<br />
ocorrem nas raízes 2 . A pressão aplicada durante<br />
a condensação lateral é insuficiente para causar fratura<br />
radicular vertical 10 , porém pode causar maiores<br />
defeitos na dentina radicular 12 do que em técnicas de<br />
obturação sem compactação ativa 1 .<br />
Sendo assim, o presente estudo avaliou a resistência<br />
máxima de fratura radicular e a força produzida por<br />
cinco diferentes operadores na condensação lateral e<br />
vertical durante a obturação do canal radicular.<br />
Material e Métodos<br />
Foram selecionados setenta e quatro dentes humanos<br />
unirradiculares recém-extraídos, caninos superiores<br />
e pré-molares inferiores, armazenados em solução de<br />
formol a 10%. Os dentes foram seccionados horizontalmente<br />
próximo à junção cemento-esmalte, com auxílio<br />
de disco diamantado (KG Sorensen, Barueri, SP, Brasil)<br />
sob refrigeração. Em seguida, as raízes mensuradas foram<br />
armazenadas em recipientes individuais, com gaze<br />
umedecida em solução de soro fisiológico, para manter<br />
a umidade relativa dos elementos dentários.<br />
As raízes foram incluídas em Resina Epóxi Adesivo<br />
B flexível (Polipox Ind. e Com. Ltda), paralelamente às<br />
paredes de tubos de PVC de 25mm de altura, com diâmetro<br />
externo de 25mm e diâmetro interno de 21mm,<br />
com auxílio de silicone para o posicionamento e fixação<br />
da raiz no interior do tubo.<br />
Após 48 horas da inclusão dos dentes, período<br />
de presa final da resina, as amostras foram divididas<br />
aleatoriamente. Cinquenta amostras foram utilizadas<br />
para mensuração da força axial de condensação<br />
lateral e vertical, tendo cinco endodontistas participado<br />
do presente estudo. Os profissionais foram<br />
classificados em A, B, C, D e E. Cada profissional recebeu<br />
dez corpos de prova, sendo os dois primeiros<br />
utilizados para a calibração do equipamento durante<br />
o monitoramento do procedimento de condensação<br />
lateral e vertical, de acordo com cada profissional.<br />
Os oito corpos de prova restantes foram obturados<br />
pela técnica da condensação lateral e, no final, com<br />
condensação vertical. Com o objetivo de reproduzir<br />
as condições de trabalho do cirurgião-dentista no<br />
consultório, foi desenvolvido um dispositivo especificamente<br />
para esse estudo: uma haste metálica<br />
de 60cm adaptada à máquina de ensaios mecânicos<br />
(EMIC DL-2000, São José dos Pinhais, PR, Brasil)<br />
com célula de carga de 20kg, de forma que o<br />
corpo de prova ficasse em uma posição próxima<br />
àquela ocupada na cavidade bucal (Fig. 1A). Além<br />
disso, sobre essa barra um apoio metálico foi utilizado<br />
para que os profissionais pudessem apoiar as<br />
mãos durante os procedimentos clínicos (Fig. 1B).<br />
Durante o procedimento, as forças geradas foram<br />
registradas pelo software M-Test da máquina de ensaios<br />
mecânicos, e transformadas em gráficos (Fig.<br />
2) para posterior análise das forças exercidas (Kg).<br />
A instrumentação do canal radicular foi realizada<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 53 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):52-7
[ artigo original ] Análise das forças desenvolvidas durante a obturação do canal radicular por diferentes operadores<br />
preocupando-se com a padronização da dilatação<br />
dos canais radiculares, utilizando-se a técnica preconizada<br />
por Goerig, Michelich e Schultz 13 . Após os<br />
canais serem secos, foi selecionado o cone de guta-<br />
-percha principal de forma que o mesmo apresentasse<br />
travamento 1mm aquém do ápice radicular,<br />
coincidindo com o comprimento de trabalho. Um<br />
cimento à base de óxido de zinco e eugenol (Endofill,<br />
Dentsply, Petrópolis/RJ, Brasil) foi inserido no<br />
interior do canal, utilizando o cone principal para<br />
aplicação em todas as paredes do canal. Após o<br />
cone principal ser posicionado, espaços eram gerados,<br />
utilizando espaçador digital (Maillefer, Ballaigues,<br />
Suíça), compatível com os cones secundários<br />
utilizados. Durante a condensação lateral, todos os<br />
cones secundários foram envolvidos pelo cimento<br />
e inseridos a cada abertura de um novo espaço, seguido<br />
por nova condensação, sucessivamente, até o<br />
término da obturação do canal. O excesso de material<br />
obturador foi removido com calcadores de Paiva<br />
(Golgran, São Paulo, Brasil) aquecidos e a condensação<br />
vertical realizada.<br />
Durante os testes experimentais da condensação lateral<br />
e vertical, os esforços realizados pelos cinco operadores<br />
foram captados pela célula de carga, transferidos<br />
e armazenados (Fig. 1B). Para cada procedimento<br />
de condensação, obteve-se um gráfico demonstrando o<br />
valor e o comportamento da carga realizada pelo profissional<br />
e a carga máxima aplicada. Todos os ensaios<br />
foram calibrados com velocidade de deslocamento de<br />
2mm por minuto, com tempo de trabalho de aproximadamente<br />
4 minutos. Os resultados registrados foram<br />
avaliados e permitiram analisar também o perfil de trabalho<br />
de cada operador.<br />
Os dentes obturados foram avaliados radiograficamente<br />
(Agfa Dentus M2 Comfort <strong>Dental</strong> Film - Speed<br />
Group D - Agfa Gevaert N.V., Bélgica). Para a realização<br />
do exame radiográfico, todos os dentes foram removidos<br />
dos respectivos tubos de PVC e resina epóxi,<br />
e radiografados — nos planos vestibulolingual e mesiodistal<br />
— com aparelho de raios X calibrado em tempo<br />
de exposição de 0,3s, a uma distância focal de 8cm das<br />
raízes dos elementos dentários.<br />
As 24 amostras restantes foram utilizadas para determinar<br />
a resistência máxima de fratura das raízes<br />
durante a condensação lateral. As amostras foram submetidas<br />
a ensaio mecânico de resistência à fratura, utilizando<br />
espaçador digital, compatível com o diâmetro<br />
do canal, como ponta aplicadora de carga compressiva,<br />
acoplado à máquina de ensaios mecânicos (EMIC DL-<br />
2000) em velocidade de deslocamento de 2mm/minuto<br />
até a ocorrência da fratura radicular.<br />
A<br />
B<br />
Figura 1. A) Corpo de prova adaptado ao dispositivo cilíndrico apoiado<br />
na célula de carga da máquina de ensaios universal e B) monitoramento<br />
da força axial durante a obturação.<br />
Resultados<br />
As forças exercidas durante os testes mecânicos<br />
foram monitoradas durante a execução da técnica de<br />
condensação lateral e vertical, gerando gráficos que<br />
representaram o comportamento e a intensidade da<br />
força máxima aplicada durante os testes. Os valores<br />
médios de resistência à fratura foram: 14,96±2,65Kg<br />
para os caninos superiores; e 7,56±1,05Kg para pré-<br />
-molares inferiores. Os valores médios das forças<br />
exercidas pelos operadores A, B, C, D e E foram,<br />
respectivamente, 2,49Kg; 3,75Kg; 2,24Kg; 2,08Kg e<br />
1,18Kg (Tab. 1).<br />
Verificou-se que os gráficos dos cinco operadores<br />
diferiram entre si, demonstrando as características individuais<br />
de cada profissional (Fig. 2).<br />
A análise da imagem radiográfica demonstrou que<br />
a qualidade das obturações realizadas pelos cinco profissionais<br />
podia ser classificada como satisfatória, por<br />
apresentarem massa obturadora compacta, sem espaços<br />
vazios no interior dos canais.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 54 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):52-7
Guimarães MRFSG, Gomide HA, Oliveira MAVC, Biffi JCG<br />
Tabela 1. Valores de força máxima aplicada pelos profissionais nas condensações lateral e vertical (Kg) e as médias desses valores (Kg).<br />
Profissional Valores de força máxima registrados Médias<br />
A 2,31 2,62 2,43 2,64 2,91 2,95 2,22 1,83 2,49<br />
B 4,09 4,20 3,98 4,10 3,95 4,10 2,75 2,85 3,75<br />
C 2,44 1,84 2,36 1,91 2,22 2,22 2,25 2,69 2,24<br />
D 1,60 1,68 1,85 2,88 2,19 1,95 2,36 2,17 2,08<br />
E 1,28 1,34 1,10 1,12 1,10 1,07 1,26 1,20 1,18<br />
Força (N)<br />
40,00<br />
A<br />
40,00<br />
Força (N)<br />
B<br />
CV<br />
32,00<br />
CL<br />
CV<br />
32,00<br />
CL<br />
24,00<br />
24,00<br />
16,00<br />
16,00<br />
8,00<br />
8,00<br />
.000<br />
.000<br />
1.600<br />
3.200<br />
4.800<br />
.000<br />
.000<br />
1.600<br />
3.200<br />
4.800<br />
C D E<br />
Força (N) Força (N) Força (N)<br />
40,00 40,00 40,00<br />
32,00 32,00 32,00<br />
CV<br />
CL<br />
CL<br />
CV<br />
24,00 24,00 24,00<br />
CV<br />
16,00 16,00 16,00<br />
CL<br />
8,00 8,00 8,00<br />
.000 .000 .000<br />
.000 1.600 3.200 4.800 .000 1.600 3.200 4.800<br />
.000 1.600 3.200 1.600<br />
Figura 2. Comportamento e da carga máxima aplicada pelos profissionais, durante a condensação lateral (CL) e a condensação vertical (CV).<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 55 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):52-7
[ artigo original ] Análise das forças desenvolvidas durante a obturação do canal radicular por diferentes operadores<br />
Discussão<br />
A avaliação comparativa da força axial empregada<br />
nas condensações lateral e vertical da presente pesquisa<br />
objetivou conhecer e determinar o comportamento e<br />
a força realizada por cinco especialistas em Endodontia,<br />
para a mesma técnica de obturação do canal radicular.<br />
Ensaios mecânicos padronizados semelhantes às condições<br />
clínicas, e com corpos de prova acoplados à célula<br />
de carga, foram utilizados para registrar o comportamento<br />
de cada profissional, como em estudos prévios 6,7,8 .<br />
O uso de um aparelho de monitoramento com dispositivo<br />
adaptado à máquina de ensaio mecânico — como<br />
o desenvolvido na presente pesquisa, no qual as forças<br />
geradas durante as etapas da obturação são registradas<br />
em tempo real e transformadas em gráficos — é de grande<br />
valor para o ensino e aprimoramento da Endodontia.<br />
Pois, com esse aparelho, foi possível verificar a pressão<br />
exercida no momento da obturação do canal radicular,<br />
durante a inserção do espaçador na condensação lateral,<br />
e do calcador na condensação vertical. Os alunos<br />
de graduação e pós-graduação aprenderiam, com o uso<br />
dele, a força adequada de condensação nas diversas técnicas<br />
de obturação do canal radicular, sem gerar tensões<br />
excessivas e desnecessárias à dentina radicular.<br />
Os resultados do presente estudo demonstraram<br />
que houve uma variação na intensidade e na constância<br />
da força aplicada por cada um dos cinco endodontistas.<br />
As cargas médias registradas pelos profissionais A, C,<br />
D e E estão de acordo com as cargas encontradas em<br />
estudos anteriores 6,7,8 .<br />
Os comportamentos registrados pelos profissionais A<br />
e E, conforme os resultados dos gráficos apresentados,<br />
foram semelhantes entre si. Foi mantida força praticamente<br />
constante desde o início da obturação, da etapa<br />
de inserção dos primeiros cones até o final, com a<br />
condensação vertical da guta-percha, tendo os gráficos<br />
apresentado curva constante do início ao fim. Os profissionais<br />
diferenciaram-se entre si em relação à intensidade<br />
da força aplicada durante todo o procedimento. A<br />
média das forças aplicadas pelo profissional A (2,49Kg)<br />
diferenciou-se do valor médio aplicado pelo profissional<br />
E (1,18Kg). Em relação à utilização dos espaçadores, verificou-se<br />
que ambos os profissionais exerceram, durante<br />
a condensação lateral, pressão para apical e penetração<br />
de 1 a 2mm aquém do comprimento de trabalho.<br />
Os profissionais B e C demonstraram semelhança de<br />
comportamento no que se refere à distribuição do esforço<br />
aplicado, porém com diferença na intensidade da carga<br />
aplicada. Os gráficos gerados apresentaram curvas crescentes,<br />
o que caracteriza que esses profissionais iniciaram<br />
a obturação dos canais radiculares com pequena força, que<br />
foi aumentando até o completo preenchimento dos canais<br />
radiculares. Quanto à intensidade da força aplicada, a média<br />
do profissional B foi de 3,75Kg, enquanto do profissional C<br />
foi de 2,24Kg, ambas distribuídas de forma crescente.<br />
O gráfico gerado pelo comportamento do profissional<br />
D durante a condensação lateral foi semelhante aos gráficos<br />
dos profissionais A e E, com aplicação de carga constante.<br />
No momento da condensação vertical, verificou-se<br />
aumento do esforço aplicado, registrando pico na curva<br />
em relação à força anteriormente aplicada. Dessa forma, o<br />
operador D variou de uma força baixa constante para uma<br />
carga mais elevada durante a condensação vertical. Esse<br />
comportamento de força elevada durante a condensação<br />
vertical pôde ser verificado também nos ensaios do operador<br />
B, diferenciando somente quanto aos valores dos<br />
esforços: 2,88Kg para o profissional D e 4,2Kg para o B.<br />
Investigando a carga máxima aplicada pelos espaçadores<br />
capaz de provocar fratura radicular, Holcomb, Pitts<br />
e Nicholls 9 verificaram a presença de fratura vertical nos<br />
dentes testados com forças de 1,5 a 3,5Kg, valores próximos<br />
aos encontrados para o profissional B. Entretanto,<br />
os grupos de dentes avaliados nesse estudo prévio 9<br />
possuíam pequenas dimensões, em relação aos dentes<br />
utilizados na presente pesquisa, o que justifica a presença<br />
dessas fraturas radiculares com cargas menores.<br />
Nenhum dos cinco endodontistas testados atingiu,<br />
durante os procedimentos, a força máxima de fratura<br />
radicular, pois a pressão aplicada durante as condensações<br />
lateral e vertical foi insuficiente. Entretanto, estudos<br />
demonstram que essa técnica de obturação pode causar<br />
maiores defeitos na dentina radicular 12 do que em técnicas<br />
sem compactação ativa 1 . Os defeitos mais comuns são as<br />
linhas de fissura e rachaduras na dentina radicular, que podem<br />
resultar, após a conclusão do tratamento endodôntico,<br />
em fratura vertical radicular 6,7,11 , devido ao recebimento<br />
constante de força pela mastigação 1 e aos tratamentos<br />
adicionais, como o preparo para pino intrarradicular 2 .<br />
Cada um dos cinco endodontistas analisados demonstrou<br />
um perfil de trabalho diferente para a mesma técnica<br />
de obturação. Entretanto, pela análise radiográfica, todos<br />
os espécimes apresentaram imagem sugestiva de massa<br />
obturadora satisfatória e homogênea. Diante desses resultados,<br />
recomendamos que, durante o procedimento de<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 56 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):52-7
Guimarães MRFSG, Gomide HA, Oliveira MAVC, Biffi JCG<br />
condensação lateral, os profissionais exerçam carga constante<br />
e com reduzida pressão em direção apical, obedecendo<br />
sempre o limite de trabalho e de penetração do espaçador.<br />
Na condensação vertical, etapa na qual encontramos<br />
— em três dos endodontistas (B, C e D) — os maiores valores<br />
de força aplicada durante a obturação, recomendamos o<br />
uso do calcador com reduzida força em direção apical. Isso<br />
porque o aumento da força não gerou, radiograficamente,<br />
melhora no resultado final da obturação e pode causar,<br />
especialmente em raízes fragilizadas ou com menor estrutura<br />
dentinária, o aparecimento de defeitos como linhas de<br />
fissura e/ou rachaduras incompletas 1 . Seguindo essas recomendações,<br />
o profissional irá conseguir uma obturação<br />
adequada, gerando pouca tensão às estruturas dentinárias.<br />
O que é um fator importante, pois a fratura vertical radicular<br />
não é um fenômeno que ocorre instantaneamente, mas é<br />
resultado de uma gradual diminuição de estrutura dentária<br />
somada ao emprego de força e pressão à dentina radicular 12 .<br />
Abstract<br />
Objective: Endodontic procedures might contribute to the<br />
development of vertical root fracture as well as other localized<br />
defects such as craze lines or incomplete cracks in root<br />
dentine. The objective of this study was to evaluate the maximum<br />
fracture resistance and the force produced by five different<br />
operators in lateral and vertical condensation during root<br />
canal filling. Methods: 74 human teeth, superior canines (SC)<br />
and inferior premolars (IPM) were selected. In order to determine<br />
the maximum fracture resistance during condensation,<br />
24 teeth were submitted until failure to an axial compression<br />
load in a universal testing machine. Fifty teeth were used in<br />
order to measure the axial condensation force by means of<br />
a device developed to simulate clinical working conditions.<br />
Results: Fracture resistance mean values in kg were:<br />
SC=14.96±2.65 and IPM=7.56±1.05. Mean values of force<br />
applied by each of the five operator in Kg were, respectively:<br />
2.49, 3.75, 2.24, 2.08 and 1.18. None of the operators achieved<br />
teeth’s maximum fracture resistance during procedures. Conclusions:<br />
Different behaviors among five professionals monitored<br />
were observed for the same technique of root canal<br />
filling. The increase in strength during condensation had no<br />
radiographic improvement of root canal filling. During the<br />
root canal filling, lateral and especially vertical condensation,<br />
must be performed with reduced apical strength and pressure,<br />
avoiding excessive and unnecessary stress to root dentin.<br />
Keywords: Lateral condensation technique. Root canal filling.<br />
Condensation force.<br />
Referências<br />
1. Tamse A. Iatrogenic vertical root fractures in endodontically treated<br />
teeth. Endod Dent Traumatol. 1988;4(5):190-6.<br />
2. Hammad M, Qualtrough A, Silikas N. Effect of new obturating<br />
materials on vertical root fracture resistance of endodontically<br />
treated teeth. J Endod. 2007;33(6):732-6.<br />
3. Shemesh H, Bier CAS, Wu M-K, Tanomaru-Filho M, Wesselink<br />
PR. The effects of canal preparation and filling on the incidence of<br />
dentinal defects. Int Endod J. 2009;42(3):208-13.<br />
4. Wilcox LR, Roskelley C, Sutton T. The relationship of root<br />
canal enlargement to finger-spreader induced vertical root<br />
fracture. J Endod 1997;23(8):533-4.<br />
5. Tang W, Wu Y, Smales RJ. Identifying and reducing risks for<br />
potential fractures in endodontically treated teeth. J Endod.<br />
2010;36(4):609-17.<br />
6. Blum JY, Esber S, Micallef JP. Analysis of forces developed<br />
during obturations. Comparison of three gutta-percha<br />
techniques. J Endod. 1997;23(5):340-5.<br />
7. Blum JY, Machtou P, Micallef JP. Analysis of forces developed<br />
during obturations. Wedging effect: Part II. J Endod.<br />
1998;24(4):223-8.<br />
8. Harvey TE, White JT, Leeb IJ. Lateral condensation stress in root<br />
canals. J Endod. 1981;7(4):151-5.<br />
9. Holcomb JQ, Pitts DL, Nicholls JI. Further investigation of spreader<br />
loads required to cause vertical root fracture during lateral<br />
condensation. J Endod. 1987;13(6):277-84.<br />
10. Lertchirakarn V, Palamara JE, Messe HH. Load and strain<br />
during lateral condensation and vertical root fracture. J Endod.<br />
1999;25(2):99-104.<br />
11. Piskin B, Aydın B, Sarikanat M. The effect of spreader size<br />
on fracture resistance of maxillary incisor roots. Int Endod J.<br />
2008;41(1):54-9.<br />
12. Soros C, Zinelis S, Lambrianidis T, Palaghias G. Spreader load<br />
required for vertical root fracture during lateral compaction<br />
ex vivo: evaluation of periodontal simulation and fracture load<br />
information. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod.<br />
2008;106(2):e64-e70.<br />
13. Goerig AC, Michelich RJ, Schultz HH. Instrumentation of root<br />
canals in molar using the step-down technique. J Endod.<br />
1982;8(12):550-4.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 57 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):52-7
artigo original<br />
Preenchimento de canais radiculares com pasta<br />
de hidróxido de cálcio, utilizando-se propulsor de<br />
Lentulo, em diferentes velocidades<br />
Marili Doro Deonízio, DDS, PhD 1<br />
Gilson Blitzkow Sydney, DDS, PhD 2<br />
Antonio Batista, DDS 3<br />
Carlos Estrela, DDS, PhD 4<br />
Resumo<br />
Objetivo: este estudo analisou a efetividade do preenchimento<br />
do canal radicular com pasta de hidróxido empregando<br />
o propulsor de Lentulo, acionado em diferentes velocidades.<br />
Métodos: trinta pré-molares inferiores tiveram<br />
seus canais radiculares preparados até o instrumento #50 e<br />
divididos aleatoriamente em três grupos. Pasta de hidróxido<br />
de cálcio preparada com solução fisiológica foi inserida nos<br />
canais radiculares empregando-se um propulsor de Lentulo,<br />
acionado com velocidades de 5.000rpm (G1), 10.080rpm<br />
(G2) e 15.000rpm (G3). A densidade óptica foi determinada<br />
utilizando-se o sistema de radiografia digital (Kodak <strong>Dental</strong><br />
RGV-5000). Resultados: a maior densidade óptica obtida<br />
no terço apical foi no G3, e nos terços médio e cervical no<br />
G1. Por meio do teste Kruskal-Wallis-Anova, observou-<br />
-se diferença estatística (p0,05).<br />
Conclusão: velocidades diferentes são necessárias para o<br />
correto preenchimento de canais radiculares com pasta de<br />
hidróxido de cálcio. A velocidade de 15.000rpm foi mais<br />
efetiva no preenchimento do terço apical e a velocidade de<br />
5.000rpm foi mais efetiva no preenchimento dos terços médio<br />
e cervical.<br />
Palavras-chave: Tratamento endodôntico. Hidróxido<br />
de cálcio. Medicação intracanal.<br />
Deonízio MD, Sydney GB, Batista A, Estrela C. Root canal filling with calcium hydroxide paste using Lentullo spiral at different speeds. <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):58-63.<br />
1<br />
Professora Adjunta da Disciplina de Endodontia – UFPR. Professora do curso de<br />
Especialização em Endodontia – UFPR. Doutora em Endodontia – FOUSP.<br />
2<br />
Professor Titular de Endodontia – UFPR. Mestre e Doutor em Endodontia – FOUSP.<br />
3<br />
Professor Assistente da Disciplina de Endodontia – UFPR. Professor do Curso de<br />
Especialização em Endodontia – UFPR. Doutorando em Endodontia – Unicamp.<br />
4<br />
Professor Titular de Endodontia – UFGO. Coordenador do Curso de Especialização em<br />
Endodontia da ABO-Goiás. Doutor em Endodontia – FOUSP.<br />
Recebido: janeiro de 2011 / Aceito: fevereiro de 2011.<br />
Endereço para correspondência: Gilson Blitzkow Sydney<br />
Universidade Federal do Paraná - Departamento de Endodontia<br />
Rua da Glória 314, sala 23 – CEP 80030060 - Curitiba, Paraná, Brasil<br />
E-mail: gsydney@bbs2.sul.com<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 58<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):58-63
Deonízio MD, Sydney GB, Batista A, Estrela C<br />
Introdução<br />
O sucesso do tratamento endodôntico está relacionado<br />
com vários fatores, principalmente com a correta<br />
limpeza, modelagem e sanificação do canal radicular 1 . O<br />
preparo do canal empregando-se instrumentos e soluções<br />
irrigadoras oferece combate relativo à microbiota endodôntica.<br />
Assim, a medicação intracanal tem por objetivo<br />
ampliar o processo de sanificação do sistema de canais<br />
radiculares 2,3 .<br />
Dos medicamentos existentes, o hidróxido de cálcio é<br />
o mais utilizado devido às suas propriedades físico-químicas.<br />
Tem alto pH, grande atividade antimicrobiana, atua<br />
na degradação dos lipopolissacarídeos bacterianos e induz<br />
o processo de reparo pela formação de tecido duro 3-6 .<br />
À medida que ocorre a dissociação iônica do hidróxido<br />
de cálcio, a quantidade de pasta a ser colocada no<br />
interior do canal radicular deve ser suficiente para fornecer<br />
quantidade de íons cálcio e hidroxila pelo período<br />
de tempo necessário para a sanificação do sistema de<br />
canais radiculares 4,7,8,9 . Essa efetividade está na dependência<br />
da ação direta entre a pasta e os microrganismos<br />
remanescentes nos túbulos dentinários 7,11 . Para alcançar<br />
esse objetivo, o canal radicular deve estar homogênea<br />
e completamente preenchido com a pasta de hidróxido<br />
de cálcio, mostrando uma imagem radiográfica densa<br />
tridimensionalmente 6,8 . Muitas vezes, a inefetividade do<br />
hidróxido de cálcio pode ser explicada pela maneira pela<br />
qual é inserido, sem o preenchimento completo do terço<br />
médio e principalmente do apical 9 .<br />
A medicação de hidróxido de cálcio pode ser inserida<br />
no canal radicular utilizando-se instrumentos e materiais<br />
endodônticos como limas endodônticas tipo K, calcadores<br />
endodônticos, pontas de papel, cones de guta-percha,<br />
porta-amálgama, compactador de McSpadden, propulsor<br />
de Lentulo, limas ultrassônicas e sônicas, ou com a seringa<br />
ML (SS White) e agulha 27G longa 3,4,5 .<br />
Cvek et al. 12 sugerem o uso de uma seringa de injeção<br />
ou espiral de Lentulo seguida de condensação vertical<br />
para a inserção. Webber et al. 13 propuseram um transportador<br />
plástico para levar a pasta no interior do canal<br />
radicular seguido de uma efetiva condensação vertical.<br />
Para Antony e Senia 14 , a técnica ideal é com o propulsor<br />
de Lentulo. Leonardo 15 recomendou o uso de uma seringa<br />
especial com agulha longa G-27 no sistema denominado<br />
Calen. Sigurdsson et al. 16 compararam o propulsor de Lentulo,<br />
a lima endodôntica e a seringa e apontaram melhores<br />
resultados para o primeiro, estando de acordo com outros<br />
autores 12,14 . No entanto, esse resultado não tem sido unânime<br />
e espaços vazios têm sido identificados em alguns<br />
estudos 3,17,18 . Estrela et al. 3 , estudando o preenchimento<br />
de canais radiculares em dentes de cães com a pasta de<br />
hidróxido, observaram o menor índice de espaços vazios<br />
quando a pasta foi inserida, em ordem crescente, com lima<br />
tipo K, pontas de papel absorvente, calcadores e propulsor<br />
de Lentulo. Por outro lado, Torres et al. 19 concluíram que<br />
a radiodensidade da pasta em canais radiculares curvos<br />
simulados foi significativamente maior quando apenas o<br />
propulsor de Lentulo foi empregado.<br />
Percebe-se, então, que existem dois pontos críticos no<br />
preenchimento do canal radicular empregando-se o propulsor<br />
de Lentulo: a velocidade e a quantidade de pasta<br />
inserida a cada tempo. Há poucos dados na literatura referentes<br />
à velocidade. Na metodologia utilizada por Deveaux<br />
et al. 18 , a velocidade foi determinada em 500rpm, sem<br />
maiores explicações; e Rahde et al. 20 e Caliskan et al. 21 referem-se<br />
apenas a velocidade moderada, sem especificá-la.<br />
Assim, o objetivo do presente estudo foi verificar a eficácia<br />
do propulsor de Lentulo, quando utilizado em diferentes<br />
velocidades, no preenchimento de canais radiculares<br />
com pasta de hidróxido de cálcio.<br />
Material e Métodos<br />
Trinta pré-molares inferiores provindos do Banco de<br />
Dentes do Curso de Odontologia da Universidade Federal<br />
do Paraná, sob autorização do Comitê de Ética em Pesquisa<br />
do Setor de Ciências da Saúde (Registro CEP/SD:<br />
584.121.08.07; CAAE: 2407.0.000.091-08), foram selecionados<br />
para este estudo. Os dentes foram classificados pelo<br />
comprimento (20mm) e presença de canal único, confirmado<br />
por meio de imagem radiográfica nos sentidos mesiodistal<br />
e vestibulolingual. A coroa dentária foi mantida<br />
para reproduzir as condições clínicas.<br />
Os dentes tiveram suas cavidades de acesso realizadas<br />
utilizando-se ponta esférica diamantada de alta rotação<br />
número 1014 (KG Sorensen) para a obtenção da forma<br />
de conveniência, e completadas com 3205 (KG Sorensen)<br />
para a forma de conveniência. O comprimento de trabalho<br />
foi determinado pela visualização da ponta da lima K<br />
#10 (Dentsply/ Maillefer) no forame apical, recuando-se<br />
um milímetro.<br />
Os canais radiculares foram preparados empregando-<br />
-se a técnica de ampliação reversa com auxílio de contraângulo<br />
de rotação alternada TEP 4R-NSK, ampliados até<br />
o instrumento #50, e a medida de trabalho estabelecida<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 59<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):58-63
[ artigo original ] Preenchimento de canais radiculares com pasta de hidróxido de cálcio, utilizando-se propulsor de Lentulo, em diferentes velocidades<br />
em 1mm aquém do forame apical. A solução irrigadora<br />
empregada foi o hipoclorito de sódio 1%, sendo que, ao<br />
término do preparo, 5ml de solução de EDTA-T foram utilizados<br />
para a remoção do magma dentinário, mantida por<br />
3 minutos preenchendo o canal radicular, seguindo-se de<br />
irrigação final de hipoclorito de sódio a 1%. O forame apical<br />
foi coberto com cera utilidade para prevenir a extrusão<br />
da pasta de hidróxido de cálcio.<br />
Os espécimes foram divididos aleatoriamente em três<br />
grupos de dez espécimes. A pasta foi preparada misturando-se<br />
1g de hidróxido de cálcio PA (Merck Kgaa) lote<br />
1020471000 e 0,015g de sulfato de bário PA (Alphatec<br />
Química Fina: reagente analítico) lote 15559, misturado<br />
à água destilada, formando uma pasta com consistência<br />
de creme dental.<br />
A pasta de hidróxido de cálcio foi inserida no canal<br />
radicular empregando-se um propulsor de Lentulo #40<br />
acoplado a um contra-ângulo redutor 1/1 em motor elétrico<br />
Endo Plus (VK Driller Equipamentos Elétricos Ltda,<br />
Jaguaré, SP), em diferentes velocidades: GI – 5.000rpm;<br />
GII – 10.000rpm e GIII – 15.000rpm. Um projeto piloto<br />
definiu as velocidades estabelecidas.<br />
Para preenchimento dos terços apical, médio e cervical,<br />
pequena quantidade de pasta de hidróxido de cálcio<br />
foi depositada na extremidade do propulsor de Lentulo e<br />
esse acionado com a velocidade predeterminada, repetida<br />
por três vezes. No terço apical, o propulsor de Lentulo<br />
chegou ao comprimento de trabalho; nos terços médio e<br />
cervical, recuou-se 5mm. Condensador tipo Paiva foi utilizado<br />
para condensação da pasta em sentido apical, visando<br />
o completo preenchimento do canal radicular 5 . A<br />
extrusão da pasta na cavidade de acesso determinou o<br />
completo preenchimento do canal radicular.<br />
Para analisar a qualidade do preenchimento do canal<br />
radicular, empregou-se o sistema de radiografia digital<br />
Kodak <strong>Dental</strong> Systems (RVG 5000- Eastman Kodak<br />
Company, Rochester, NY, EUA), o qual possui um<br />
sensor com sistema elétrico e óptico de três lâminas<br />
justapostas: cristal cintilador, fibra óptica e CCD (charge<br />
coupled device), produzindo um sinal elétrico que gera<br />
uma imagem com resolução real de 14 pl/mm e resolução<br />
de 27,03 pl/mm.<br />
Uma tela milimetrada ® (Plexus odonto-tecnologia)<br />
foi adaptada a um anteparo confeccionado com papel<br />
cartolina (2,0cm por 1,5cm) e fixada no sensor do sistema<br />
digital. Essa permaneceu adaptada ao aparelho de<br />
raios X por meio de posicionador da região de molares<br />
do sistema digital (Rinn XCP ® - DS).<br />
A coroa de cada dente foi fixada a um tubo de Ependorf<br />
com auxílio de cianocrilato de etila ® . O tubo teve a sua<br />
porção inferior removida com um disco de carborundum,<br />
deixando-o com 20mm de comprimento. Sulcos transversos<br />
foram realizados para se obter passo de inserção no<br />
molde de material de impressão à base de silicone Speedex<br />
putty ® (Coltène Swiss AG), que serviu de conexão<br />
entre o posicionador e o tubo de raios X.<br />
O aparelho radiográfico (Spectro 70 X da Dabi-Atlante<br />
foi utilizado com um estabilizador elétrico Gnatus T-1.<br />
200S 110V), 70kVp e 7mA. O cilindro foi posicionado perpendicularmente<br />
a uma distância de 5,0cm e com tempo<br />
de exposição de 0,32 segundos. A partir da captura da<br />
imagem digital, valores da densidade óptica em pixels foram<br />
obtidos utilizando-se as ferramentas filtro de nitidez<br />
e análise densiométrica, seguindo as linhas da régua milimetrada<br />
de apical para cervical, subdividindo-se em três<br />
terços em pontos equidistantes tanto à direita e à esquerda<br />
quanto de apical para cervical, os quais foram registrados<br />
em protocolo padrão. As médias foram obtidas nas imagens<br />
de cada espécime, antes e depois do preenchimento<br />
com a pasta de hidróxido de cálcio. A diferença das médias<br />
entre a quantidade de pixels antes e depois do preenchimento<br />
foi submetida à análise estatística por meio do<br />
teste de Kruskal-Wallis (p
Deonízio MD, Sydney GB, Batista A, Estrela C<br />
Discussão<br />
A efetividade da medicação intracanal com hidróxido<br />
de cálcio tem sido observada por vários autores<br />
4,6,11,12,22,23,24 . Entretanto, a sua inserção necessita<br />
de atenção especial para o completo preenchimento<br />
do espaço do canal radicular. Contato direto da<br />
pasta com as paredes dentinárias é fundamental para<br />
sua atuação ocorrer de forma direta e indireta 4,5,7,9,18 .<br />
Holland et al. 25 afirmam que, se o canal radicular não<br />
estiver bem instrumentado e irrigado, a medicação<br />
não será efetiva. Assim, o canal deve ser ampliado<br />
a diâmetros compatíveis com a sua condição anatômica.<br />
Simcock e Hicks 23 demonstraram que, independentemente<br />
da técnica utilizada, em canais pouco<br />
ampliados, o preenchimento com a medicação se<br />
mostrou ineficaz. Em função desse aspecto, no presente<br />
estudo os canais radiculares foram ampliados<br />
até uma lima # 50 K.<br />
A pasta foi preparada com água destilada, a qual,<br />
por ser um veículo hidrossolúvel, aumenta a efetividade<br />
do hidróxido de cálcio 3,24,25 . Sulfato de bário foi<br />
adicionado como substância radiopacificante para diferenciar<br />
a densidade óptica entre a pasta de hidróxido<br />
de cálcio e a dentina. A proporção do sulfato de<br />
bário em relação ao hidróxido de cálcio foi de 1:2 13,17 .<br />
A inserção da pasta foi realizada utilizando-se pequenas<br />
quantidades de cada vez. Quando ativado, o<br />
propulsor de Lentulo lança a pasta contra as paredes<br />
e o auxílio de um calcador permite a sua condensação<br />
em todos os terços.<br />
As velocidades utilizadas foram determinadas<br />
em estudo piloto, baseado na velocidade máxima<br />
possível nos equipamentos odontológicos (cerca de<br />
20.000rpm). Quanto maiores a velocidade e a quantidade<br />
de pasta no Lentulo, maior quantidade de ar<br />
permanece retida no interior do canal radicular, gerando<br />
bolhas de ar que não permitem o preenchimento<br />
completo e, consequentemente, a ação desejada<br />
da medicação. Assim, as velocidades utilizadas neste<br />
estudo foram de 15.000rpm, 10.000rpm e 5.000rpm,<br />
que foram mantidas constantes através de um motor<br />
elétrico (Driller - São Paulo, Brasil).<br />
100<br />
80<br />
DENSIDADE ÓPTICA<br />
60<br />
40<br />
20<br />
0<br />
-20<br />
-40<br />
5.000 rpm - cervical<br />
5.000 rpm - médio<br />
5.000 rpm - apical<br />
1.080 rpm - cervical<br />
1.080 rpm - médio<br />
1.080 rpm - apical<br />
15.000 rpm - cervical<br />
15000rpm - médio<br />
15000rpm - apical<br />
± 1,96* d.p.<br />
± 1,00* d.p.<br />
Média<br />
Figura 1. Resultados para diferentes velocidades nos três terços.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 61<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):58-63
[ artigo original ] Preenchimento de canais radiculares com pasta de hidróxido de cálcio, utilizando-se propulsor de Lentulo, em diferentes velocidades<br />
A radiografia digital representa, hoje, um dos grandes<br />
avanços em imagem, permitindo rapidez e simplicidade<br />
na captura de imagens, com uma redução significativa<br />
no tempo de exposição, permitindo padronização, análise<br />
de alta qualidade, além de se tornar uma alternativa<br />
viável e segura para a interpretação dos resultados,<br />
conferindo maior precisão diagnóstica. O uso da tecnologia<br />
digital, além de ser reprodutível, é um sistema<br />
que permite imagens quase instantâneas das estruturas<br />
a serem observadas, sem a necessidade de processamento<br />
químico e com tempo de exposição reduzido 26 .<br />
A avaliação das áreas preenchidas nos terços cervical,<br />
médio e apical foi realizada com base no número<br />
de pixels (densidade óptica) na imagem digital capturada.<br />
A tela milimetrada utilizada teve o objetivo de servir<br />
como um parâmetro de medição antes e após os espécimes<br />
terem sido preenchidos com a pasta, em pontos<br />
equidistantes, tanto na dentina quanto no canal 4 .<br />
Quanto maior a densidade óptica, melhor o preenchimento<br />
do canal radicular. Os resultados obtidos<br />
demonstram que o terço médio do G1 foi melhor preenchido<br />
do que nos G2 e G3, de forma estatisticamente<br />
significativa (p
Deonízio MD, Sydney GB, Batista A, Estrela C<br />
Referências<br />
1. Schilder H. Cleaning and shaping the root canal. Dent Clin North<br />
Am. 1974;18(2):269-96.<br />
2. Bystron A, Sundquist G. Bacteriologic evaluation of the efficacy<br />
of mechanical root canal instrumentation in endodontic therapy.<br />
Scand J Dent Res. 1981;89(4):321-8.<br />
3. Estrela C, Mamede I Neto, Lopes H, Estrela CR, Pécora J. Root<br />
canal filling with calcium hydroxide using different techniques. Braz<br />
Dent J. 2002;13(1):53-6.<br />
4. Estrela C. Endodontic science. São Paulo: Artes Médicas; 2009.<br />
v. 1.<br />
5. Sydney G. Medicação intra-canal: estágio atual. In: Bottino MA.<br />
Livro do ano: clínica odontológica brasileira. São Paulo: Artes<br />
Médicas; 2004. p. 131-61.<br />
6. Siqueira JF Jr, Uzeda M. Influence of different vehicles on<br />
the antibacterial effects of calcium hydroxide. J Endod.<br />
1998;24(10):663-5.<br />
7. Dumsha TC, Gutmann JL. Clinical techniques for the placement of<br />
calcium hydroxide. Compend Contin Educ Dent 1985;6(7):482-9.<br />
8. Safavi KE, Nichols FC. Effect of calcium hydroxide on bacterial<br />
lipopolysaccharide. J Endod. 1993;19:76-8.<br />
9. Teixeira FB, Levin LG, Trope M. Investigation of pH at different<br />
dentinal sites after placement of calcium hydroxide dressing by<br />
two methods. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod.<br />
2005;99:511-6.<br />
10. Estrela C, Pimenta FC, Ito IY, Mammann LL. In vitro determination<br />
of direct antimicrobial effect of calcium hydroxide. J Endod.<br />
1998;24:15-7.<br />
11. Estrela C, Pimenta FC, Ito IY, Bammann LL. Antimicrobial evaluation<br />
of calcium hydroxide in infected dentinal tubules. J Endod.<br />
1999;25:416-8.<br />
12. Cvek M, Hollender L, Nord CE. Treatment of non-vital permanent<br />
incisor with calcium hydroxide. A clinical microbiological and<br />
radiological evaluation of treatment in one sitting of teeth with<br />
mature or immature root. Odontol Revy. 1976;27(2):93-108.<br />
13. Webber RT, Schwiebert KA, Cathey GM. A technique for placement<br />
of calcium hydroxide in the root canal system. J Am Dent Assoc.<br />
1981;103:417-21.<br />
14. Anthony DR, Senia S. The use of calcium hydroxide as temporary<br />
paste fill. Tex <strong>Dental</strong> J. 1981;99(10):6-10.<br />
15. Leonardo MR. Endodoncia: Tratamiento de conductos radiculares.<br />
São Paulo: Artes Médicas; 2005. vol. 2 .<br />
16. Sigurdsson A, Stancill R, Madison S. Intracanal placement<br />
of calcium hydroxide: a comparison of techniques. J Endod.<br />
1992;18:367-70.<br />
17. Staehle HJ, Thomä C, Muller HP. Comparative in vitro investigation<br />
of different methods for temporary root canal filling with aqueous<br />
suspension of calcium hydroxide. Endod Dent Traumatol.<br />
1997;13:106-12.<br />
18. Deveaux E, Dufour D, Boniface B. Five methods of calcium<br />
hydroxide intracanal placement: an in vitro evaluation. Oral Surg<br />
Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod. 2000;89:349-55.<br />
19. Torres CP, Apicella MJ, Yancich PP, Parker H. Intracanal placement<br />
of calcium hydroxide: a comparison of techniques, revisited. Int<br />
Endod J. 2004;30:225-7.<br />
20. Rahde N, Figueiredo JA, Oliveira EP. Influence of calcium hydroxide<br />
points on the quality of intracanal dressing filling. J Appl Oral Sci.<br />
2006;14(3):219-23.<br />
21. Caliskan M, Turkun M, Turkun L. Effect of calcium hydroxide as an<br />
intracanal dressing on apical leakage. Int Endod J. 1998; 31:173-7.<br />
22. Holland R, Otoboni A Filho, Souza V, Nery MJ, Bernabé PFE,<br />
Dezan E. A comparison o fone versus two appointment endodontic<br />
therapy in dog’s teeth with apical periodontitis. J Endod.<br />
2003;29;121-4.<br />
23. Simcock RM, Hicks ML. Delivery of calcium hydroxide: comparison<br />
of four filling techniques. J Endod. 2006;32:680-2.<br />
24. Safavi KE, Nakayama TA. Influence of mixing vehicle on dissociation<br />
of calcium hydroxide in solution. J Endod. 2000;11:649-51.<br />
25. Holland R, Valle GF, Taintor JF, Ingle JI. Influence of bony resorption<br />
on endodontic treatment. Oral Surg Oral Med Oral Pathol.<br />
1983;55:191-203.<br />
26. Kawauchi N, Bullen IRFR, Chinell LEM. Evaluation of the linear<br />
measurements by conventional radiographs indirect digital images<br />
in the endodontic treatment. J Appl Oral Sci. 2004;12:330-6.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 63<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):58-63
artigo original<br />
Posição do forame apical e sua relação com o calibre<br />
do instrumento foraminal<br />
Ronaldo Araújo Souza, DDS, MsC, PhD 1<br />
José Antônio Poli de Figueiredo, DDS, MsC, PhD 2<br />
Suely Colombo, DDS 1<br />
João da Costa Pinto Dantas, DDS, MsC 1<br />
Maurício Lago, DDS 1<br />
Jesus Djalma Pécora, DDS, MsC, PhD 3<br />
resumo<br />
Introdução: o objetivo deste trabalho foi analisar a posição<br />
do forame apical e sua relação com o calibre do<br />
instrumento foraminal nos incisivos centrais superiores.<br />
Métodos: oitenta e quatro incisivos centrais superiores<br />
foram usados neste estudo. Limas K foram introduzidas<br />
com aumento sequencial de calibres no canal radicular<br />
até a ponta ficar visível no forame e oferecer a sensação<br />
tátil de ajuste no canal cementário. Foram retiradas,<br />
os dentes foram seccionados transversalmente a 10mm<br />
aquém do ápice radicular e as limas reintroduzidas até o<br />
forame, quando foram fixadas com cianoacrilato de metila.<br />
Após a polimerização do cianoacrilato de metila, as<br />
limas foram seccionadas no mesmo nível do corte da raiz.<br />
Os ápices foram examinados por meio de microscópio<br />
eletrônico de varredura sob aumento de 140x, as imagens<br />
foram capturadas digitalmente e os resultados submetidos<br />
ao teste do qui-quadrado com nível de significância<br />
de 5%. Resultados: observou-se que 63 (75%) forames<br />
apresentaram saída lateral em relação ao ápice radicular<br />
e 21 (25%) coincidiram com ele. Os resultados demonstraram<br />
haver significância estatística 2 ג) =22,1; p=0,00).<br />
Para testar a diferença de proporção, foi utilizado o teste<br />
do qui-quadrado com nível de significância de 5%,<br />
=22,1; 2 ג) que demonstrou haver significância estatística<br />
p=0,00). Conclusão: a saída lateral do forame apical é<br />
mais frequente do que a saída no ápice radicular nos incisivos<br />
centrais superiores, e essa característica anatômica<br />
pode interferir no calibre do instrumento foraminal.<br />
Palavras-chave: Anatomia apical. Instrumentos endodônticos.<br />
Patência apical. Limpeza do canal cementário.<br />
Souza RA, Figueiredo JAP, Colombo S, Dantas JCP, Lago M, Pécora JD. Location of the apical foramen and its relationship with foraminal file size. <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod.<br />
2011 apr-june;1(1):64-8.<br />
1<br />
Curso de Odontologia da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP).<br />
2<br />
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).<br />
3<br />
Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FORP-USP).<br />
Recebido: janeiro de 2011 / Aceito: fevereiro de 2011.<br />
Endereço para correspondência: Ronaldo Araújo Souza<br />
Av. Paulo VI, 2038/504, Ed. Villa Marta, CEP: 41.810-001 - Itaigara<br />
Salvador, Bahia, Brasil. E-mail: ronaldoasouza@lognet.com.br<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 64<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):64-8
Souza RA, Figueiredo JAP, Colombo S, Dantas JCP, Lago M, Pécora JD<br />
Introdução<br />
A participação de microrganismos sediados no<br />
canal cementário no desenvolvimento das lesões periapicais<br />
2,7,10,13,14 parece apontar para a necessidade da<br />
instrumentação também desse segmento do canal 16 .<br />
Define-se patência apical como o emprego de uma<br />
lima K flexível, de pequeno calibre, movida passivamente<br />
através da constricção apical, sem alargá-la 3 .<br />
De acordo com Souza 16 , Hülsmann e Schäfer 5 , não<br />
parece provável que a limpeza do canal cementário<br />
seja promovida por meio desse procedimento, como<br />
sugerido por alguns autores 4,6,19 . Talvez seja necessário<br />
que os instrumentos apresentem calibres mais<br />
compatíveis com o tamanho do canal cementário e<br />
assim possam exercer ação sobre as suas paredes 16 .<br />
Considerando que a saída lateral do forame apical<br />
em relação ao ápice radicular é uma ocorrência<br />
comum 1,8,9,11,12,17,18 , é possível que a pouca flexibilidade<br />
dos instrumentos endodônticos venha a interferir<br />
com a determinação do calibre do instrumento<br />
foraminal.<br />
Foi objetivo deste trabalho analisar a posição do<br />
forame apical e sua relação com o calibre do instrumento<br />
foraminal nos incisivos centrais superiores.<br />
Material e Métodos<br />
Foram utilizados 84 incisivos centrais superiores<br />
humanos com formação completa das raízes, obtidos<br />
do banco de dentes do Curso de Odontologia<br />
da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. Os<br />
critérios adotados para inclusão no estudo foram<br />
ausência de anatomia externa complexa, curvaturas<br />
acentuadas, rizogênese incompleta e reabsorção apical,<br />
observados por meio de exame clínico e radiografias<br />
periapicais.<br />
Após o acesso e preparo da câmara pulpar com<br />
broca esférica carbide # 3 (KG Sorensen, Cotia, Brasil)<br />
e broca Endo-Z (Maillefer, Ballaigues, Suíça), os<br />
canais foram irrigados com 1ml de hipoclorito de<br />
sódio a 2,5% e explorados com a lima 15 K (FKG<br />
Dentaire, La-Chaux-de-Fonds, Suíça), inserida com<br />
movimentos manuais de rotação alternada até o<br />
forame apical ser alcançado e a ponta da lima ficar<br />
visível. Em seguida, com suaves movimentos manuais<br />
de rotação alternada, limas K (FKG Dentaire,<br />
La-Chaux-de-Fonds, Suíça) de diâmetros maiores foram<br />
sequencialmente introduzidas no mesmo limite<br />
apical, até se obter a sensação tátil de ajuste. Foram<br />
retiradas e os canais foram irrigados com 4ml de solução<br />
fisiológica.<br />
Os dentes foram, então, seccionados transversalmente<br />
a 10mm aquém do ápice radicular com disco<br />
diamantado dupla-face (KG Sorensen, Cotia, Brasil) e<br />
as limas reintroduzidas até o forame, quando foram<br />
fixadas com cianoacrilato de metila. Após a polimerização<br />
do cianoacrilato de metila, as limas foram seccionadas<br />
no mesmo nível do corte da raiz.<br />
As raízes foram examinadas por meio do microscópio<br />
eletrônico de varredura Philips XL-30 (Philips,<br />
Eindhoven, Holanda) sob aumento de 140x. As imagens<br />
foram capturadas digitalmente, analisadas com<br />
o intuito de se observar a posição de saída do forame<br />
em relação ao ápice radicular e os resultados foram<br />
submetidos ao teste do qui-quadrado com nível de<br />
significância de 5%.<br />
Resultados<br />
Observou-se que 63 (75%) forames apresentaram<br />
saída lateral em relação ao ápice radicular e 21 (25%)<br />
coincidiram com ele (Fig. 1, 2), demonstrando haver<br />
significância estatística 2 ג) =22,1; p=0,00). A Tabela 1<br />
mostra o diâmetro e a frequência das limas que ajustaram<br />
no canal cementário.<br />
Tabela 1. Distribuição, frequência, média e mediana das limas que ajustaram<br />
o canal cementário.<br />
Lima Número de canais X ± d.p. Mediana<br />
25 5 37±7,74 35<br />
30 21<br />
35 21<br />
40 17<br />
45 10<br />
50 7<br />
55 2<br />
60 1<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 65<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):64-8
[ artigo original ] Posição do forame apical e sua relação com o calibre do instrumento foraminal<br />
A<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Abertura foraminal<br />
Lateral<br />
No ápice<br />
Figura 1. Saída do forame apical em relação ao ápice radicular.<br />
B<br />
Figura 2. Posição do forame apical em relação ao ápice radicular.<br />
A) Saída lateral do forame apical. B) Coincidência do forame apical com<br />
o ápice radicular.<br />
Discussão<br />
A literatura endodôntica tem demonstrado a importância<br />
do controle de infecção para que o sucesso seja<br />
alcançado com maior previsibilidade 10 . Nesse sentido,<br />
a ação mecânica dos instrumentos sobre as paredes<br />
do canal radicular é de fundamental importância.<br />
Diante da pouca adequação dos instrumentos à<br />
anatomia do canal radicular, surgiu a necessidade de<br />
usá-los em aumento sequencial de calibres. Partindo<br />
do princípio de que a ação mecânica sobre as paredes<br />
do canal dentinário é importante para a sua limpeza, a<br />
instrumentação do canal cementário deve merecer as<br />
mesmas considerações. Em outras palavras, o instrumento<br />
deve exercer ação sobre as suas paredes para<br />
que se alcance o objetivo de limpá-lo.<br />
Assim, para efetiva limpeza desse segmento do canal,<br />
o uso de pelo menos um instrumento que se ajuste<br />
às suas paredes, e não um de pequeno calibre, seria<br />
necessário. É possível ainda que o uso sequencial de<br />
instrumentos de maior calibre alcance esse objetivo<br />
com maior previsibilidade 15,16 .<br />
Para que se tenha uma relação adequada de contato<br />
dos instrumentos endodônticos com a abertura<br />
foraminal, é possível que sejam necessários de 3 a 4<br />
instrumentos além do instrumento foraminal inicial,<br />
aquele que ofereceu a sensação tátil de ajuste no forame.<br />
No presente trabalho, 63 (75%) forames apicais<br />
apresentaram saída lateral em relação ao ápice radicular<br />
e 21 (25%) coincidiram com ele (Fig. 1, 2). Ao<br />
analisar os dados pelo teste qui-quadrado, evidenciou-<br />
-se diferença estatística significativa 2 ג) =22,1; p=0,00).<br />
Deve-se ter em mente que, para penetrar nos forames<br />
que apresentam saída lateral, as limas devem ser<br />
pré-curvadas. Observou-se neste trabalho que a lima K<br />
15 (FKG Dentaire, La-Chaux-de-Fonds, Suíça), utilizada<br />
para explorar e confirmar a acessibilidade ao forame<br />
apical, não ofereceu dificuldade na sua penetração.<br />
Entretanto, à medida que aumentavam os calibres das<br />
limas, na busca daquela que melhor se ajustasse ao forame,<br />
percebeu-se uma dificuldade crescente.<br />
Como se pode observar na Tabela 1, o valor médio das<br />
limas que ofereceram a sensação tátil de ajuste no forame,<br />
instrumento foraminal, foi de 37±7, o que corresponderia<br />
aproximadamente a uma lima K#35. Instrumentar o canal<br />
cementário de alguns dentes com 3 a 4 instrumentos além<br />
desse calibre pode acarretar algumas dificuldades.<br />
Pela infecção existente no canal cementário de<br />
dentes com necrose pulpar, particularmente aqueles<br />
com lesão periapical, a sua instrumentação parece lógica.<br />
Se assim é, está subordinada às regras da instrumentação,<br />
entre elas a de que a ação mecânica dos<br />
instrumentos deve se dar da maneira mais plena possível,<br />
o que significa tocar nas paredes.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 66<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):64-8
Souza RA, Figueiredo JAP, Colombo S, Dantas JCP, Lago M, Pécora JD<br />
Entretanto, é importante entender que os números<br />
utilizados em Endodontia são referenciais, não obrigatórios.<br />
Da mesma forma que a anatomia do canal<br />
radicular e as características dos instrumentos regem<br />
os princípios da instrumentação do canal dentinário,<br />
devem também ser consideradas na instrumentação<br />
do canal cementário. Em outras palavras, ela não deve<br />
ser preconizada sob princípios rígidos preestabelecidos.<br />
Cada caso deve merecer uma análise individual.<br />
Conclusão<br />
Conclui-se que a saída lateral do forame apical é<br />
mais frequente do que a saída no ápice radicular nos<br />
incisivos centrais superiores, e essa característica<br />
anatômica pode interferir no calibre do instrumento<br />
foraminal. Sugerem-se mais estudos sobre a posição<br />
do forame apical e sua relação com o calibre do instrumento<br />
foraminal nos incisivos centrais superiores e<br />
em outros grupos de dentes.<br />
Abstract<br />
Aim: This article analyzed the location of the apical foramen and<br />
its relationship with foraminal file size in maxillary central incisors.<br />
Methods: Eighty four human maxillary central incisors were<br />
used in this study. K-files of progressively increasing diameters<br />
were inserted into the root canal until it got snugly fit and the tip<br />
was visible at the apical foramen. The files were removed and<br />
teeth were cross-sectioned 10 mm from the root apex. The files<br />
were then reinserted, fixed with a cyanoacrylate-based adhesive,<br />
and sectioned at the same level as the root. The root apices were<br />
examined using a scanning electron microscope set at 140x magnification,<br />
the images were captured digitally and the results were<br />
subjected to Chi-square test. Results: It was observed that 63<br />
(75%) of the apical foramen emerged laterally to the root apex<br />
and 21 (25%) coincided with the apex. The results presented statistically<br />
significant differences 2 ג) =22.1; p=0.00). Conclusions:<br />
Lateral emergence of the apical foramen is more common than<br />
coincidence of the foramen with the apex in maxillary central incisors.<br />
This anatomical characteristic may have influence on determination<br />
of the foraminal file size.<br />
Keywords: Apical patency. Apical foramen. Endodontic instruments.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 67<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):64-8
[ artigo original ] Posição do forame apical e sua relação com o calibre do instrumento foraminal<br />
Referências<br />
1. Arora S, Tewari S. The morphology of the apical foramen in<br />
posterior teeth in a North Indian population. Int Endod J. 2009<br />
Oct;42(10):930-9.<br />
2. Bergenholtz G, Spangberg L. Controversies in endodontics. Crit<br />
Rev Oral Biol Méd. 2004 Mar;15(2):99-114.<br />
3. Buchanan LS. Management of the curved root canal. J Calif Dent<br />
Assoc. 1989 Apr;17(4):18-27.<br />
4. Flanders DH. Endodontic patency. How to get it. How to keep it.<br />
Why it is so important. NY State Dent J. 2002 68(3):30-2.<br />
5. Hülsmann M, Schäfer E. Apical patency: fact and fiction — a<br />
myth or a must? A contribution to the discussion. Endo (Lond<br />
Engl) 2009;3(4):285-307.<br />
6. Lambrianidis T, Tosounidou E, Tzoanopoulou M. The effect of<br />
maintaining apical patency on periapical extrusion. J Endod.<br />
2001 Nov;27(11):696-8.<br />
7. Lin LM, Rosenberg PA, Lin J. Do procedural errors<br />
cause endodontic treatment failure? J Am Dent Assoc.<br />
2005;136(2):187-93.<br />
8. Marroquín BB, El-Sayed MAA, Willershausen-Zonnchen B.<br />
Morphology of the physiological foramen: I. Maxillary and<br />
mandibular molars. J Endod. 2004 May;30(5):321-8.<br />
9. Martos J, Ferrer-Luque CM, González-Rodríguez MP, Castro<br />
LAS. Topographical evaluation of the major apical foramen in<br />
permanent human teeth. Int Endod J. 2009 Apr;42(4):329-34.<br />
10. Nair PNR. On the causes of persistent apical periodontitis: a<br />
review. Int Endod J. 2006 Apr;39(4):249-81.<br />
11. Ponce EH, Vilar Fernández JA. The cemento-dentino-canal<br />
junction, the apical foramen, and the apical constriction: evaluation<br />
by optical microscopy. J Endod. 2003 Mar;29(3):214-9.<br />
12. Rahimi S, Shahi S, Yavari HR, Reyhani MF, Ebrahimi ME, Rajabi E.<br />
A stereomicroscopy study of root apices of human maxillary central<br />
incisors and mandibular second premolars in an Iranian population.<br />
J Oral Sci. 2009;51(3):411-5.<br />
13. Ricucci D, Bergenholtz G. Histologic features of apical periodontitis<br />
in human biopsies. Endod Topics. 2004;8(1):68-87.<br />
14. Ricucci D, Siqueira JF Jr, Bate AL, Pitt Ford TR. Histologic<br />
investigation of root canal-treated teeth with apical periodontitis:<br />
a retrospective study from twenty-four patients. J Endod. 2009<br />
Apr;35(4):493-502.<br />
15. Souza RA. Clinical and radiographic evaluation of the relation<br />
between the apical limit of root canal filling and success in<br />
endodontics. Part 1. Braz Endod J. 1998 3(1 Pt 1):43-8.<br />
16. Souza RA. The importance of apical patency and cleaning of the apical<br />
foramen on root canal preparation. Braz Dent J. 2006 17(1):6-9.<br />
17. Vertucci FJ. Root canal morphology and its relationship to<br />
endodontic procedures. Endod Topics. 2005;10(1):3-29.<br />
18. Williams CB, Joyce AP, Roberts S. A comparison between in vivo<br />
radiographic working length determination and measurement after<br />
extraction. J Endod. 2006 Jul;32(7):624-7.<br />
19. Wu M-K, Dummer PMH, Wesselink PR. Consequences of and<br />
strategies to deal with residual post-treatment root canal infection.<br />
Int Endod J. 2006;39(5):343-56.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 68<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):64-8
artigo original<br />
Benito André Silveira Miranzi, MSc, PhD 1<br />
Almir José Silveira Miranzi, DDS 2<br />
Luis Henrique Borges, MSc, PhD 2<br />
Mário Alfredo Silveira Miranzi, DDS, MSc, PhD 3<br />
Fernando Carlos Hueb Menezes, DDS, MSc, PhD 4<br />
Rinaldo Mattar, DDS 1<br />
Thiago Assunção Valentino, MSc, PhD 5<br />
Carlos Eduardo Silveira Bueno, MSc, PhD 6<br />
resumo<br />
O objetivo desta pesquisa experimental in vitro foi analisar<br />
comparativamente as deformações no canal radicular após<br />
o uso do sistema rotatório de NiTi ProTaper Universal,<br />
ProDesign e técnicas híbridas utilizando os dois sistemas.<br />
Foram utilizados e instrumentados, setenta e cinco blocos<br />
com canais radiculares artificiais, divididos em cinco grupos<br />
(n=15). Para o grupo 1, os preparos foram realizados pelo<br />
sistema ProTaper Universal, utilizando a lima F3 no preparo<br />
apical. Para o grupo 2, utilizou-se o sistema ProDesign<br />
com preparo apical usando a lima 30/0,2. Para o grupo 3,<br />
os preparos foram realizados pelo sistema ProTaper Universal,<br />
utilizando a lima F2 no preparo apical. Para o grupo<br />
4, os sistemas ProDesign e ProTaper foram utilizados<br />
em conjunto com preparo realizado com a lima F2. Para<br />
o grupo 5, os sistemas ProDesign e ProTaper foram utilizados<br />
em conjunto com preparo apical realizado com as<br />
limas F1 e F2. As brocas de Gates-Glidden #5, #4, #3, #2 e<br />
#1 realizaram o preparo da porção reta de todos os canais,<br />
caracterizando o preparo cervicoapical. Foram analisados<br />
a diferença e o quociente da quantidade de resina removida<br />
nos seis milímetros de curvatura, aferidos tanto na parte<br />
interna quanto na parte externa. Zip e elbow foram quantificados<br />
pela forma final, após instrumentação em cada<br />
grupo testado. Para análise dos dados utilizou-se os testes<br />
paramétricos (ANOVA p
[ artigo original ] Avaliação in vitro das alterações verificadas em canais radiculares artificiais curvos preparados por dois sistemas rotatórios<br />
Introdução<br />
O principal objetivo do preparo do canal radicular<br />
é proporcionar limpeza e forma, gerando um canal cirúrgico<br />
com forma afunilada, procurando respeitar a<br />
anatomia original 1 . Essa tarefa torna-se particularmente<br />
difícil de ser alcançada em canais curvos e estreitos,<br />
sendo que as limas de aço inoxidável tendem a retificar<br />
a curvatura do canal, produzindo algumas deformações<br />
que foram descritas por Weine et al. 2 , como zip, elbow<br />
e danger zones.<br />
Os sistemas rotatórios de níquel-titânio (NiTi) foram<br />
idealizados para preparo de canais radiculares com curvaturas<br />
acentuadas. O sistema ProDesign (Easy ® Belo<br />
Horizonte, Brasil) é composto por limas de pré-alargamento,<br />
rígidas e com corte agressivo, para trabalhar na<br />
parte reta do canal (#20 conicidade 0,7 e #35 conicidade<br />
0,10). As limas da parte apical têm hélice tripla e<br />
boa flexibilidade (#20 conicidade 0,3; #15 conicidade<br />
0,5; #22 conicidade 0,4; #25 conicidade 0,4; e #20 conicidade<br />
0,6).<br />
Os instrumentos ProTaper (Dentsply-Maillefer ® ,<br />
Ballaigues, Suíça) têm característica inovadora das<br />
suas limas na variação de conicidade (multitaper) de<br />
3,5% a 19%. A técnica utilizada para o sistema é cervicoapical,<br />
sendo que o sistema vem com três limas<br />
de preparo do corpo do canal (shaping SX, S1 e S2),<br />
de maior conicidade, e três limas de preparo apical<br />
(finishing) com diâmetros diferentes: #20 (F1), #25<br />
(F2) e #30 (F3) 3 . Recentemente, a Dentsply-Maillefer ®<br />
(Ballaigues, Suíça) realizou modificações no sistema<br />
denominando-o de ProTaper Universal 4 . Portanto, foi<br />
objetivo deste trabalho avaliar as alterações de forma,<br />
dos canais simulados curvos, após uso dos sistemas<br />
rotatórios ProTaper Universal, ProDesign e hibridização<br />
dos mesmos.<br />
Material e Métodos<br />
Para o presente trabalho, foram utilizados setenta e<br />
cinco (75) blocos transparentes (Endo-Training Dentsply-Maillefer<br />
® , Ballaigues, Suíça) com curvaturas graduais<br />
de aproximadamente 40 graus, de acordo com o<br />
método de Schneider 5 .<br />
Comprimento de trabalho<br />
Para se estabelecer o comprimento de trabalho<br />
(CT), um instrumento tipo K #10 (Dentsply-Maillefer<br />
® , Ballaigues, Suíça) foi posicionado coincidindo<br />
com o final apical de cada canal radicular simulado,<br />
comprimento de patência (CP), sendo estabelecido<br />
utilizando-se da transparência dos blocos de resina,<br />
de tal forma que, para realização da instrumentação<br />
seriada, foi diminuído 1mm dessa medida para estabelecimento<br />
do CT.<br />
Foram confeccionadas duas referências nos blocos<br />
de acrílico, para sobreposição das imagens antes e após<br />
os preparos dos canais radiculares simulados. Foi injetada<br />
tinta nankin (Acrilex ® ) nos canais radiculares artificiais,<br />
para as fotos antes e após os preparos. Os blocos<br />
foram posicionados sempre no mesmo sentido e fotografados<br />
por uma câmara Nikon D7OS com lente macro<br />
de 60mm, distância focal de 0,23m, sob luz fluorescente<br />
e presa a uma estativa LPL, obedecendo à mesma distância<br />
objeto/filme. Para quantificar as distorções produzidas<br />
pelas instrumentações, foi colocada uma secção<br />
medida junto aos blocos de resina. Após os preparos,<br />
os blocos foram novamente fotografados, respeitando<br />
o sentido da posição inicial, e as distâncias objeto/filme<br />
anteriormente estabelecidas. As fotografias foram digitalizadas<br />
e trabalhadas no programa PhotoShop 6.0 (Adobe,<br />
San Jose, CA, EUA) onde foram sobrepostas para<br />
análise dos possíveis alterações provocadas.<br />
Preparo dos canais radiculares simulados<br />
Os setenta e cinco blocos foram aleatoriamente<br />
divididos em cinco grupos com quinze amostras em<br />
cada, e instrumentados por apenas um operador, com<br />
experiência nos dois sistemas utilizados. Para todos os<br />
grupos, na parte reta dos canais simulados, foram utilizadas<br />
brocas de Gates-Glidden (Dentsply-Maillefer ® ,<br />
Ballaigues, Suíça) com avanço progressivo #5, #4, #3,<br />
#2 e #1. O motor elétrico Endo Easy SI (Easy ® , Belo<br />
Horizonte, Brasil) acionou as limas para os dois sistemas.<br />
Para os instrumentos Sx, S1, S2 e F3 ProTaper<br />
Universal foi utilizada velocidade constante de 300rpm<br />
e torque de 3Ncm. Os instrumentos F1 e F2 ProTaper<br />
Universal requereram velocidade de 300rpm e torque<br />
de 2Ncm. Para as limas do sistema ProDesign um chip<br />
dentro do aparelho foi responsável pela programação<br />
da sequência das limas, bem como a velocidade<br />
e o torque. A cada troca dos instrumentos, os canais<br />
foram irrigados copiosamente com 2ml de água destilada<br />
(Pharmakon ® , Uberaba, Brasil), juntamente com<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 70<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):69-76
Miranzi BAS, Miranzi AJS, Borges LH, Miranzi MAS, Menezes FCH, Mattar R, Valentino TA, Bueno CES<br />
glicerina bidestilada (Farmax ® , Brasil), 0,25ml, para lubrificar<br />
os condutos e facilitar a instrumentação em todos<br />
os blocos. Um instrumento #10 foi levado até o CP<br />
para evitar acúmulo de raspas de resina. Os blocos com<br />
canais radiculares artificiais foram fixados em um minitorno<br />
(Western ® ), para realização da instrumentação,<br />
facilitando a atuação do operador. Tira de fita adesiva,<br />
de cor escura, foi colocada para mascarar o preparo,<br />
simulando condição clínica.<br />
Grupo 1 (n=15) — preparo com o sistema ProTaper<br />
Universal de (NiTi):<br />
» Lima SX, trabalhando aquém da curvatura;<br />
» Gates-Glidden: 5, 4, 3, 2 e 1;<br />
» Limas S1, S2, F1, F2 e F3 até o CT.<br />
Grupo 2 (n=15) — preparo com o sistema ProDesign<br />
de (NiTi):<br />
» Limas de cor preta (20/07) e verde (35/10) antes<br />
da curvatura;<br />
» Gates-Glidden: 5, 4, 3, 2 e 1;<br />
» Limas #1 20/0,3 (branca); #2 15/0,5 (amarela);<br />
#3 22/04 (vermelha); #4 25/0,4 (azul); #5 20/0,6<br />
(verde) e #6 20/0,7 (preta) no CT;<br />
» Preparo apical #30/02 (azul).<br />
» Limas #1 20/0,3 (branca); #2 15/0,5 (amarela);<br />
#3 22/04 (vermelha); #4 25/0,4 (azul); #5 20/0,6<br />
(verde) ProDesign (Easy ® ) no CT;<br />
» F1 e F2 ProTaper Universal no CT.<br />
Métodos de avaliação<br />
As imagens sobrepostas foram ampliadas e avaliadas<br />
através do programa Image Tool 3.0, que mede<br />
distâncias, ângulos e áreas das figuras. Inicialmente<br />
foi calibrado em milímetros, como unidade de medida,<br />
tendo como referência para calibração as seções<br />
medidas colocadas ao lado dos blocos. No ícone que<br />
mede distâncias, foi marcado milímetro por milímetro<br />
6mm<br />
5mm<br />
4mm<br />
Grupo 3 (n=15) — preparo com o sistema ProTaper<br />
Universal de (NiTi):<br />
» Lima SX, trabalhando aquém da curvatura;<br />
» Gates-Glidden: 5, 4, 3, 2, 1;<br />
» Limas S1, S2, F1 e F2 até o CT.<br />
3mm<br />
2mm<br />
1mm<br />
Grupo 4 (n=15) — preparo com o sistema ProDesign<br />
e ProTaper Universal de (NiTi) técnica híbrida 1:<br />
» Limas de cor preta (20/07) e verde (35/10) ProDesign<br />
antes da curvatura;<br />
» Gates-Glidden: 5, 4, 3, 2 e 1;<br />
» Limas #1 20/0,3 (branca); #2 15/0,5 (amarela);<br />
#3 22/04 (vermelha); #4 25/0,4 (azul); #5 20/0,6<br />
(verde) ProDesign no CT;<br />
» F2 ProTaper Universal no CT.<br />
Figura 1. Níveis avaliados no presente estudo.<br />
0mm<br />
Lado interno<br />
Grupo 5 (n=15) — preparo com o sistema ProDesign<br />
e ProTaper Universal de (NiTi) técnica híbrida 2:<br />
» Limas de cor preta (20/07) e verde (35/10) ProDesign<br />
antes da curvatura;<br />
» Gates-Glidden: 5, 4, 3, 2 e 1.<br />
Figura 2. Mensuração do material removido, lados interno e externo,<br />
em cada nível.<br />
Lado externo<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 71<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):69-76
[ artigo original ] Avaliação in vitro das alterações verificadas em canais radiculares artificiais curvos preparados por dois sistemas rotatórios<br />
até 6mm aquém do final apical do canal simulado,<br />
coincidindo com o final da curvatura (Fig. 1). Foi mensurada<br />
a quantidade de material removido em cada<br />
milímetro da parte curva (6mm) tanto do lado interno<br />
quanto no externo, de acordo com Uzun et al. 6 (Fig. 2).<br />
Para o cálculo da diferença, foi definido como:<br />
D (diferença) = De (material removido parte externa)<br />
– Di (material removido parte interna)<br />
O resultado positivo significou prevalência de desgaste<br />
externo; e resultado negativo, prevalência de desgaste<br />
interno. Quanto mais próximo de zero (0), mais<br />
equilibrado foi o preparo; quanto mais distante desse<br />
valor, positivo ou negativo, maior transporte 7 .<br />
Foram calculados os quocientes entre os desgastes<br />
externo e interno, o maior valor foi colocado no numerador<br />
e o menor no denominador, sendo o preparo mais<br />
equilibrado considerado com valor igual ou próximo de<br />
um 1 . Aydin et al. 8 indicam essa sistemática de avaliação,<br />
no entanto colocam o menor valor no numerador<br />
e o maior no denominador. As sobreposições foram<br />
analisadas por dois avaliadores calibrados, mestres em<br />
Endodontia, não conhecendo a qual grupo pertencia o<br />
preparo a ser avaliado (mascaramento), para verificar a<br />
ocorrência de deformação apical zip e elbow. As figuras<br />
de referência foram as preconizadas por Thompson e<br />
Dummer 9 . As médias de material removido foram utilizadas<br />
para confecção de forma média final dos preparos<br />
em cada grupo.<br />
Resultados<br />
Foram executados os testes de normalidade, para o<br />
quesito diferenças, sendo permitida a adoção de teste<br />
não paramétrico de Kruskal-Wallis para os níveis de 1,<br />
2, 4, 5 e 6mm; e, para o nível de 3mm, o teste paramétrico<br />
ANOVA com auxiliar de Tukey (Tab. 1).<br />
Observa-se, pelos valores médios, que prevaleceu<br />
desgaste externo, para todos os grupos, até o terceiro<br />
milímetro. Os milímetros restantes tiveram maior desgaste<br />
para o lado interno.<br />
Diferenças significativas foram observadas para o<br />
grupo 1 nos níveis 3, 4 e 5. Nos níveis 5 e 6, desgaste<br />
interno significativo foi denotado para os grupos 1 e 5.<br />
Tabela 1. Inferência estatística, para a diferença, comparada dentro de cada nível.<br />
Níveis/Grupos 1mm 2mm 3mm 4mm 5mm 6mm<br />
Grupo 1 0,0880 A 0,1887 A 0,1053 A,b -0,1213 A -0,2813 A -0,2540 Ab<br />
Grupo 2 0,0853 A 0,0840 B 0,0020 C -0,1393 A -0,1913 B -0,1347 Cb<br />
Grupo 3 0,0120 B 0,0713 Cb 0,0687 B -0,0387 B -0,1887 B -0,1933 B<br />
Grupo 4 0,0007 B 0,1313 Ab 0,1220 A -0,0200 B -0,2080 B -0,2640 A<br />
Grupo 5 0,0767 A 0,1253 Ab 0,0760 B -0,0760 A -0,2433 A -0,3127 A<br />
Letras maiúsculas diferentes indicam diferenças significativas; e iguais, não significativas.<br />
Tabela 2. Inferência estatística, para o quociente, comparada dentro de cada nível.<br />
Níveis/Grupos 1mm 2mm 3mm 4mm 5mm 6mm<br />
Grupo 1 5,5647 A 4,1117 A 2,1205 Ab 5,3540 A 5,3539 A 4,0819 Bc<br />
Grupo 2 2,5853 B 2,4453 B 1,3703 C 2,7449 Ab 3,7659 B 2,4744 C<br />
Grupo 3 1,9021 B 2,4570 B 1,9229 Ac 1,5195 Cd 3,8589 B 3,3282 C<br />
Grupo 4 1,9317 B 2,9786 Ba 2,4726 A 1,2185 Dc 4,7617 Ab 7,2291 A<br />
Grupo 5 2,0114 B 2,3212 B 1,6606 Bc 1,6145 Bd 4,8421 Ab 8,5153 A<br />
Letras maiúsculas diferentes indicam diferenças significativas; e iguais, não significativas.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 72<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):69-76
Miranzi BAS, Miranzi AJS, Borges LH, Miranzi MAS, Menezes FCH, Mattar R, Valentino TA, Bueno CES<br />
I<br />
II<br />
III<br />
Figura 3. Representação esquemática dos desgastes<br />
médios (interno e externo) nos 6 níveis<br />
analisados para os 5 grupos. Observa-se maior<br />
transporte interno e externo para os grupos I e<br />
V, transporte interno para o grupo IV e desgaste<br />
mais equilibrado para os grupos II e III.<br />
IV<br />
V<br />
Foram executados os testes de normalidade para os<br />
quocientes, sendo que foi permitida a adoção de teste<br />
não paramétrico de Kruskal-Wallis para os níveis de 1,<br />
2, 4, 5 e 6mm; e, para o nível de 3mm, o teste paramétrico<br />
ANOVA com auxiliar de Tukey (Tab. 2). As comparações<br />
foram realizadas dentro de cada nível.<br />
Denota-se valores mais distantes de 1 para o grupo<br />
1 nos três milímetros apicais, com exceção do terceiro<br />
milímetro. Nos três milímetros restantes, observam-se<br />
valores mais discrepantes para os grupos 1, 4 e 5.<br />
Pelos desgastes médios, interno e externo, em todos<br />
os níveis, foi realizado um traçado para forma média<br />
final, juntamente com um exemplo das transferências<br />
das médias para o programa Image Tool (Fig. 3).<br />
Para determinação do índice de concordância entre<br />
os avaliadores, foi aplicado o teste Kappa com resultado<br />
valor = 1, verificando-se boa concordância.<br />
Verificou-se também a ocorrência de deformação<br />
apical, zip e elbow, expressa na Tabela 3.<br />
Foi observado que, quando da formação de zip, na<br />
maioria para o grupo 1, os valores para diferença entre<br />
desgaste interno e externo, no nível de 2mm, eram 0,25<br />
e o quociente 4 (Fig. 3). Para o grupo 2, diferença de 0,15<br />
e o quociente 4. Para o grupo 3, diferença de 0,21 e quociente<br />
6. Para o grupo 4, diferença de 0,23 e o quociente<br />
5 e 6. Para o grupo 5, diferença de 0,16 e o quociente 3.<br />
Aplicou-se o teste do qui-quadrado para verificar a<br />
significância entre as comparações. Não se observou<br />
diferenças significativas, mas a quantidade de deformações<br />
no grupo ProTaper Universal (Dentsply-Maillefer ® ),<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 73<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):69-76
[ artigo original ] Avaliação in vitro das alterações verificadas em canais radiculares artificiais curvos preparados por dois sistemas rotatórios<br />
Tabela 3. Formação de zip e elbow.<br />
Deformação ProTaper F3 ProDesign ProTaper F2 ProDesign+F2 ProDesign F1+F2<br />
“Zip” 5 1 1 1 1<br />
“Elbow” 5 1 1 1 1<br />
Observa-se mais deformações para o grupo 1.<br />
grupo 1, foi muito superior à dos demais grupos.<br />
Para fratura e deformações dos instrumentos, foi<br />
confeccionada a Tabela 3.<br />
Observou-se pouca fratura e deformações, demonstrando<br />
a segurança na atuação dos sistemas.<br />
Discussão<br />
A metodologia de canais radiculares artificiais foi<br />
introduzida por Weine et al. 2 para analisar os procedimentos<br />
de preparo do canal. Como observado em<br />
estudos prévios, a utilização de canais radiculares simulados<br />
curvos oferece uma condição padronizada do<br />
comprimento e ângulo de curvatura, bem como a análise<br />
da forma prévia e final dos preparos 2-10 .<br />
Observa-se nessa pesquisa in vitro, pelos valores<br />
das médias de desgaste e das diferenças entre o material<br />
removido das partes externa e interna, um direcionamento<br />
na remoção de material — ou seja, nos 3mm<br />
apicais da curvatura —, e denota-se desgaste mais<br />
externo e nos 3mm cervicais da curvatura, e desgaste<br />
interno para todos os grupos (Tab. 1). Esses resultados<br />
encontram apoio em outras pesquisas 11,12,13 . Para o<br />
nível de 2mm, observam-se maiores transportes para<br />
os grupos 1, 4 e 5 de forma significativa em relação<br />
aos outros grupos testados. Nesse nível, denotou-se<br />
que os maiores desgastes da parte externa e valores<br />
mais distantes de zero induziram à produção de zip<br />
e, consequentemente, elbow. Para o nível de 5mm as<br />
maiores remoções de material foram para os grupos 1<br />
e 5 de forma significativa em relação aos outros grupos<br />
testados, denotando forte tendência de formação<br />
de perfuração para região interna da curvatura. Para<br />
o nível de 6mm, os grupos 1, 4 e 5 tiveram remoção<br />
de material significativa em relação aos outros grupos,<br />
confirmando a tendência de formação de perfuração<br />
para a região interna da curvatura. Pode-se observar<br />
melhores preparos para os grupos 2 e 3 na prevenção<br />
de zip e perfuração interna da curvatura. Os preparos<br />
com maior potencial de formação de deformações<br />
ocorreram nos grupos 1, 4 e 5 (Fig. 3).<br />
A capacidade de manter o canal centrado foi quantificada<br />
através do quociente entre o maior e o menor valor.<br />
O resultado que mais se aproxima de 1 significa que<br />
o sistema tem mais capacidade de equilibrar o desgaste<br />
interno com o externo. Com exceção do nível de 6mm,<br />
observa-se maior distância de 1 para o sistema ProTaper<br />
até a lima apical F3 (grupo 1). Neste nível prevaleceu<br />
maior distanciamento para os grupos 4 e 5. Para o nível<br />
de 1mm houve diferença significativa para os grupos 1<br />
e 2. Observa-se que o valor para o grupo 1 é mais que<br />
o dobro do grupo 2, denotando menor equilíbrio. Para o<br />
nível de 2mm observa-se significância do grupo 1 em relação<br />
aos demais. No nível de 3mm os preparos mais distantes<br />
de 1 significativos foram para os grupos 1 e 4. Para<br />
o nível de 4mm o grupo de desgaste menos centrado<br />
foi o grupo 1. Para o nível de 5mm também prevaleceu<br />
desgaste desequilibrado significativo para o grupo 1. No<br />
nível de 6mm observa-se maior desequilíbrio significativo<br />
para os grupos 4 e 5. Portanto, o sistema ProTaper até<br />
o instrumento F3 foi o que proporcionou preparos mais<br />
irregulares e menos centrados. Observam-se valores<br />
próximos de 1 para os outros grupos, menos nos níveis<br />
de 5 e 6mm para os grupos 4 e 5, que vinham mantendo<br />
regularidade de preparo (Tab. 2). Os sistemas ProTaper<br />
até o instrumento F2 e ProDesign denotaram em todos<br />
os níveis preparos mais centrados.<br />
Peters et al. 14 (através de dentes extraídos e tomografia<br />
computadorizada); Iqbal et al. 15 e Veltri et al. 16<br />
(através do método radiográfico) e Guelzow et al. 17<br />
(através da metodologia de Bramante et al. 18 ) evidenciaram<br />
preparos com pouco transporte apical para o<br />
sistema ProTaper até o instrumento F3. Semelhante resultado<br />
foi obtido por Yun e Kim 19 em canais simulados;<br />
e Ankrun et al. 20 denotaram, inclusive, desgaste interno,<br />
para o lado da furca, em molares extraídos. Shäfer,<br />
Vlassis 11 ; Yoshimine et al. 12 e Uzun et al. 21 realizaram<br />
pesquisa em canais simulados, denotando que o sistema<br />
ProTaper promove grande quantidade de zips quando<br />
levado até a lima F3. Schäfer e Vlassis 22 , em pesquisa<br />
semelhante, só que em dentes extraídos e metodologia<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 74<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):69-76
Miranzi BAS, Miranzi AJS, Borges LH, Miranzi MAS, Menezes FCH, Mattar R, Valentino TA, Bueno CES<br />
de radiografias antes e após os preparos, verificaram<br />
resultados parecidos para o sistema ProTaper.<br />
Loizides et al. 23 e Zhang et al. 10 recomendam o hibridismo<br />
do sistema ProTaper com o sistema Hero (Micro-Mega<br />
® ) e evidenciaram melhores resultados em canais<br />
simulados em forma de “S”. Observaram também<br />
melhor conicidade dos preparos, devido ao taper dos<br />
instrumentos F1 (#20 diâmetro da ponta e inicialmente<br />
taper 0,07) e F2 (#25 diâmetro da ponta e inicialmente<br />
taper 0,08) ProTaper. Setzer et al. 24 não observaram<br />
diferenças na combinação de diferentes sistemas no aumento<br />
do nível do transporte apical. Evidenciou-se que<br />
o grupo 4, com técnica híbrida, obteve formas regulares<br />
na porção apical e maior conicidade que o grupo 2<br />
ProDesign utilizando preparo apical #30/0,2. Essa condição<br />
favorece uma melhor limpeza e melhora a qualidade<br />
da obturação. Atenção especial deve ser dada<br />
ao deslocamento, nos níveis de 5 e 6mm, lado interno,<br />
para os grupos 1, 4 e 5, sendo evidenciada tendência à<br />
formação perfuração interna da curvatura.<br />
Quanto à formação de zip e elbow, o aspecto visual forneceu<br />
maior quantidade de deformações para o sistema<br />
ProTaper quando da atuação do instrumento F3 (grupo 1).<br />
Esse resultado é semelhante ao observado por outros<br />
autores 8,11,12,17,22,25,26 . Contrariamente Guelsow et al. 17<br />
evidenciaram menor quantidade de irregularidades<br />
para o sistema ProTaper.<br />
É preciso cuidado ao transpor estes resultados para<br />
o preparo em pacientes, apesar das inúmeras vantagens<br />
dos canais radiculares artificiais, eles não simulam<br />
a complicada anatomia interna, principalmente o achatamento<br />
das raízes em canais curvos. Fatores como<br />
limpeza devem ser considerados, o que não se pode<br />
evidenciar em canais radiculares artificiais, porque os<br />
mesmos são confeccionados de forma cilíndrica, enquanto<br />
os canais radiculares dos dentes humanos apresentam<br />
uma complexa anatomia.<br />
Conclusão<br />
Em conclusão, com base na metodologia empregada e<br />
nos resultados obtidos, pode-se concluir que: pelos resultados<br />
da diferença e quociente, verificou-se maior distanciamento<br />
dos valores de referência (0 e 1) para o grupos<br />
1, 4 e 5. Maior quantidade de zip e elbow foi evidenciada<br />
para o grupo 1. As médias de desgaste mostraram configurações<br />
médias mais regulares para os grupos 2 e 3.<br />
Abstract<br />
The aim of this in vitro experimental analysis was to compare the<br />
changes in canal shape after the use of ProTaper Universal NiTi<br />
rotary system, ProDesign system, and a hybrid technique using<br />
both systems. A total of seventy-five simulated root canals were<br />
prepared and divided into five groups (n = 15). For Group 1, the<br />
ProTaper Universal System with apical preparation file F3 was<br />
used. For Group 2, ProDesign System with apical preparation using<br />
file 30/0.2 was used. For Group 3, ProTaper Universal System<br />
with apical preparation with file F2 was applied. For Group<br />
4, ProDesign System and ProTaper Universal System with apical<br />
preparation with file F2 were applied. For Group 5, ProDesign System<br />
and ProTaper Universal System with apical preparation F1<br />
and F2 were used. All instrumentation was performed with the help<br />
of Gates-Glidden drills #5, #4, #3, #2 and #1 according to crowdown<br />
preparation. The difference and the quotient the amount of<br />
removed resin were analyzed within six millimeters of the canal<br />
curvature, measured for both inner and outer walls. The amount of<br />
zip and elbow apical formation and mean final shape for each type<br />
tested were analyzed. Data were analyzed using parametric tests<br />
(ANOVA p
[ artigo original ] Avaliação in vitro das alterações verificadas em canais radiculares artificiais curvos preparados por dois sistemas rotatórios<br />
Referências<br />
1. Schilder H. Cleaning and shaping the root canal. Dent Clin North<br />
Am. 1974;18:269-96.<br />
2. Weine FS, Kelly RF, Lio PJ. The effect of preparation procedures<br />
on original canal shape and on apical foramen shape. J Endod.<br />
1975;1:255-63.<br />
3. Baumann MA. Nickel-titanium: options and challenges. Dent Clin<br />
Am. 2004;48(1):55-67.<br />
4. Unal GC, Maden M, Savgat A, Onur Orhan E. Comparative<br />
investigation of 2 rotary nickel-titanium instruments: ProTaper<br />
universal versus ProTaper. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral<br />
Radiol Endod. 2009;107(6):886-92.<br />
5. Schneider SW. A Comparation of canal preparations in straight<br />
and curved root canals. Oral Surg Oral Med Oral Pathol.<br />
1971;32(2):271-5.<br />
6. Uzun Ö, Topuz Ö, Aydyn C, Alaçam T, Aslan B. Enlarging<br />
characteristics of four nickel-titanium rotary instruments<br />
systems under standardized conditions of operator-related<br />
variables. J Endod. 2007;33(9):1117-20.<br />
7. Hata G-I, Uemura M, Kato AS, Imura N, Novo NF, Toda T.<br />
A comparison of shaping ability using ProFile, GT file, and<br />
Flex-R endodontics instruments in simulated canals. J Endod.<br />
2002;28(4):316-21.<br />
8. Aydin C, Inan U, Yasar S, Bulucu B, Tunca YM. Comparison of<br />
shaping ability of RaCe and Hero Shaper instruments in simulated<br />
curved canals. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod.<br />
2008;105(3):e92-7.<br />
9. Thompson SA, Dummer PMH. Shaping ability of ProFile. 04 Taper<br />
series 29 rotary nickel-titanium instruments in simulated root<br />
canals. Part 1. Int Endod J. 1997;30(1Pt 1):1-7.<br />
10. Zhang L, Luo H, Zhou X, Tan H, Huang D. The shaping effect<br />
of the combination of two rotary Nickel-Titanium instruments in<br />
simulated S-Shaped canals. J Endod. 2008;34(4):456-8.<br />
11. Schäfer E, Vlassis M. Comparative investigation of two rotary<br />
nickel-titanium instruments: ProTaper versus RaCe. Part<br />
1. Shaping ability in simulated curved canals. Int Endod J.<br />
2004;37(4):229-38.<br />
12. Yoshimine Y, Ono M, Akamine A. The shaping effects of three<br />
nickel-titanium rotary instruments in simulated S-shaped canals.<br />
J Endod. 2005;31(5):373-5.<br />
13. Ding-ming H, Hong-xia L, Cheung GSP, Lan Z, Hong T, Xuedong<br />
Z. Study of the progressive changes in canal shape after<br />
using different instruments by hand in simulated S-shaped<br />
canals. J Endod. 2007;33(8):986-9.<br />
14. Peters OA, Peters CI, Schönenberger K, Barbakow F. ProTaper<br />
rotary root canal preparation: effects of canal anatomy on final<br />
shape analysed by micro CT. Int Endod J. 2003;36(2):86-92.<br />
15. Iqbal MK, Firic S, Tulcan J, Karabucak S, Kim S. Comparison of<br />
apical transportation between Profile and ProTaper NiTi rotary<br />
instruments. Int Endod J. 2004;37:359-64.<br />
16. Veltri M, Mollo A, Pini PP, Ghelli LF, Balleri P. In vitro comparison<br />
of shaping abilities of ProTaper and GT rotary files. J Endod.<br />
2004;30(3):163-6.<br />
17. Guelsow A, Stamm O, Martus P, Kielbassa AM. Comparative<br />
study of six rotary nickel-titanium systems and hand<br />
instrumentation for root canal preparation. Int Endod J.<br />
2005;38(10):743-52.<br />
18. Bramante CM, Berbert A, Borges RP. A methodology<br />
for evaluation of root canal instrumentation. J Endod.<br />
1987;13(5):243-5.<br />
19. Yun HH, Kim SK. A comparison of the shaping abilities of 4 nckeltitanium<br />
rotary instruments in simulated root canals. Oral Surg<br />
Oral Med Oral Pathol Oral Radiol. 2003;95(2):228-33.<br />
20. Ankrum MT, Hartwell GR, Truitt JE. K3 Endo, ProTaper, and<br />
ProFile systems: breakage and distortion in severely curved roots<br />
of molars. J Endod. 2004;30(4):234-7.<br />
21. Uzun Ö, Topuz Ö, Aydyn C, Alaçam T, Aslan B. Enlarging<br />
characteristics of four nickel-titanium rotary instruments systems<br />
under standardized conditions of operator-related variables. J Endod.<br />
2007;33(9):1117-20.<br />
22. Schäfer E, Vlassis M. Study comparative two instruments of<br />
nickel-titanium: ProTaper versus RaCe. Part 2. Efficiency shaping<br />
and cleaning in molars curved. Int Endod J. 2004;37:239-48.<br />
23. Loizides AI, Kakavetsos VD, Tzanetakis GN, Kontakiotis EG,<br />
Eliades G. A comparative study of the effects of two nickeltitanium<br />
preparation techniques on root canal geometry assessed<br />
by microcomputed tomography. J Endod. 2007;33(12):1455-9.<br />
24. Setzer FC, Kwon TK, Karabucak B. Comparison of apical<br />
transportation between two rotary file systems and two hybrid<br />
rotary instrumentation sequence. J Endod. 2010;36(7):1226-9.<br />
25. Calberson CA, Deroose CAJG, Hommez GMG, Moor RJG.<br />
Shaping ability of ProTaper nickel-titanium files in simulated resin<br />
root canals. Int Endod J. 2004;37(9):613-23.<br />
26. Sonntag D, Ott M, Kook K, Stachniss V. Root canal preparation<br />
with the NiTi systems K3, Mtwo and ProTaper. Aust Endod J.<br />
2007;33(2):73-81.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 76<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):69-76
artigo original<br />
A persistência de diferentes pastas medicamentosas<br />
à base de hidróxido de cálcio em canais radiculares:<br />
estudo por MEV<br />
Hélio Katsuya Onoda, DDS 1<br />
Gerson Hiroshi Yoshinari, DDS, MsC, PhD 2<br />
Key Fabiano Souza Pereira, MSc 2<br />
Ângela Antonia Sanches Tardivo Delben, MSc, PhD 3<br />
Paulo Zárate, DDS, MSc, PhD 4<br />
Danilo Mathias Zanello Guerisoli, DDS, MSc, PhD 2<br />
Resumo<br />
Introdução: existe a possibilidade da medicação intracanal<br />
à base de hidróxido de cálcio persistir no interior dos<br />
canais radiculares mesmo após a tentativa de remoção no<br />
momento da obturação. Objetivos: avaliar, por microscopia<br />
eletrônica de varredura, a persistência de resíduos no<br />
interior do canal radicular oriundos de medicações intracanal<br />
à base de Ca(OH) 2<br />
associado a diferentes veículos.<br />
Métodos: 36 incisivos bovinos tiveram suas coroas seccionadas,<br />
os canais radiculares preparados e separados<br />
aleatoriamente em seis grupos distintos, de acordo com o<br />
tipo de pasta medicamentosa a ser utilizada. No Grupo I<br />
(controle), os canais não receberam qualquer tipo de medicação<br />
intracanal. No Grupo II, os canais foram totalmente<br />
preenchidos com pó de hidróxido de cálcio P.A. O Grupo<br />
III recebeu uma mistura de Ca(OH) 2<br />
com soro fisiológico,<br />
enquanto os canais do Grupo IV foram preenchidos com<br />
Ca(OH) 2<br />
misturado com glicerina. Hidróxido de cálcio associado<br />
a propilenoglicol 400 ou polietilenoglicol 400 foi<br />
utilizado nos Grupos V e VI, respectivamente. Após uma<br />
semana, a medicação intracanal foi removida, as raízes<br />
cisalhadas e preparadas para observação em microscópio<br />
eletrônico de varredura. Fotomicrografias representativas<br />
do terço apical de cada grupo experimental foram obtidas<br />
e analisadas quantitativamente por meio de grade de integração,<br />
com resultados expressos em porcentagem de<br />
debris recobrindo as paredes dentinárias. Resultados: a<br />
análise estatística (análise de variância complementada<br />
por teste de Tukey, α=0,05) evidenciou diferenças significativas<br />
entre os grupos testados, indicando que o hidróxido<br />
de cálcio associado ao propilenoglicol ou polietilenoglicol<br />
apresentou maior persistência de resíduos no canal. As paredes<br />
dentinárias de canais que receberam medicação à<br />
base de hidróxido de cálcio puro ou associado à glicerina<br />
apresentaram quantidades de debris semelhantes ao grupo<br />
controle. Conclusões: medicamentos à base de Ca(OH) 2<br />
puro ou sua associação com glicerina apresentam maior<br />
facilidade de remoção do interior dos canais radiculares.<br />
Palavras-chave: Hidróxido de cálcio. Medicação intracanal.<br />
Veículos.<br />
Onoda HK, Yoshinari GH, Pereira KFS, Delben AAST, Zárate P, Guerisoli DMZ. The persistence of different calcium hydroxide paste medications in root canals: an SEM<br />
study. <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):77-81.<br />
1<br />
Aluno de Pós-Graduação, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Programa de Saúde<br />
e Desenvolvimento na Região Centro-Oeste.<br />
2<br />
Disciplina de Endodontia, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.<br />
3<br />
Departamento de Física, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.<br />
4<br />
Disciplina de Cariologia, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.<br />
Recebido: janeiro de 2011 / Aceito: fevereiro de 2011.<br />
Endereço para correspondência: Danilo M. Zanello Guerisoli<br />
Av. Senador Filinto Müller, s/n, Campo Grande / MS - CEP: 79.076-000<br />
E-mail: danilo.zanello@uol.com.br<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 77<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):77-81
[ artigo original ] A persistência de diferentes pastas medicamentosas à base de hidróxido de cálcio em canais radiculares: estudo por MEV<br />
Introdução<br />
A eliminação de microrganismos no ambiente do<br />
canal radicular antes da obturação é de fundamental<br />
importância para o tratamento da periodontite apical, e<br />
a literatura demonstra a necessidade de usar um curativo<br />
de demora para atingir tal meta 1-5 .<br />
O hidróxido de cálcio (Ca[OH] 2<br />
) tem sido usado<br />
com sucesso em Endodontia como agente microbicida,<br />
devido ao seu efeito causado pela dissociação iônica<br />
em íons cálcio e hidroxila. Essa última inibe as enzimas<br />
bacterianas, agindo sobre a membrana citoplasmática<br />
das bactérias e gerando efeitos irreversíveis, enquanto<br />
o cálcio ativa enzimas teciduais, tais como fosfatase alcalina,<br />
levando a um efeito mineralizador 2,4 .<br />
O uso de Ca(OH) 2<br />
, no entanto, não se limita à sua<br />
ação microbicida. Outros usos dessa substância incluem<br />
a inibição da reabsorção dentária 4,6,7 e a indução<br />
de reparo por formação de tecido mineralizado 4,8,9 , o<br />
que torna seu uso recomendado em diversas situações<br />
clínicas 4 . Atualmente, é considerado o melhor medicamento<br />
para induzir a deposição de tecido mineralizado<br />
e no tratamento de tecidos pulpares e periapicais 5 .<br />
O veículo usado em associação ao Ca(OH) 2<br />
para<br />
criar uma pasta garante características químicas que<br />
irão influenciar o seu manejo clínico durante a aplicação,<br />
bem como sua taxa de dissociação iônica e difusão.<br />
Alguns autores acreditam que os veículos hidrossolúveis<br />
têm melhor comportamento biológico (qualidades<br />
antimicrobianas e indução de reparo tecidual) devido a<br />
uma maior dissociação iônica, enquanto outros defendem<br />
o uso de veículos viscosos ou oleosos, uma vez<br />
que as propriedades alcalinas de pastas só serão esgotadas<br />
após um longo período 5,10,11,12 .<br />
Antes da obturação do sistema de canais radiculares,<br />
no entanto, o hidróxido de cálcio deve ser completamente<br />
removido, a fim de evitar o fracasso do<br />
tratamento 13 . A literatura mostra que essa é uma tarefa<br />
difícil, senão impossível. Margelos et al. 14 demonstraram<br />
que é necessário combinar o hipoclorito de sódio<br />
(NaOCl) e ácido etilenodiamino tetra-acético (EDTA)<br />
como irrigantes à instrumentação manual para melhorar<br />
a eficiência de remoção de Ca(OH) 2<br />
do canal radicular,<br />
mas a sua completa eliminação não pode ser<br />
alcançada. Lambrianidis et al. 15 relataram que, mesmo<br />
após irrigação com hipoclorito de sódio, EDTA e reinstrumentação<br />
com uma lima #25, uma quantidade considerável<br />
de hidróxido de cálcio (25 a 45%) proveniente<br />
da medicação intracanal permaneceu ligada às paredes<br />
do canal. As tentativas de remoção desse medicamento<br />
com instrumentos rotatórios em níquel-titânio, irrigação<br />
sônica ou ultrassônica ou ácido cítrico em substituição<br />
ao EDTA mostraram-se infrutíferas, dado que o<br />
Ca(OH) 2<br />
ainda permanecia no canal radicular 16-19 .<br />
A persistência de Ca(OH) 2<br />
no canal radicular antes<br />
da obturação pode levar ao fracasso do tratamento<br />
endodôntico, pela criação de espaços vazios no<br />
canal radicular que não serão devidamente preenchidos,<br />
afetando o selamento apical 13,15,20,21 . Mesmo<br />
pequenas quantidades de Ca(OH) 2<br />
remanescentes no<br />
canal radicular podem obliterar túbulos dentinários,<br />
afetando a adesão do cimento 20,22,23 ou causar reações<br />
químicas adversas ao cimento, o que pode levar<br />
a um prognóstico imprevisível 14,20 .<br />
Considerando que o veículo utilizado durante a preparação<br />
do curativo intracanal de hidróxido de cálcio<br />
pode interferir com a sua capacidade de remoção, o<br />
objetivo deste estudo é avaliar, sob microscopia eletrônica<br />
de varredura, a persistência no canal radicular<br />
de resíduos de medicamentos à base de hidróxido de<br />
cálcio preparados com soro fisiológico, glicerina, propilenoglicol<br />
400 ou polietileneglicol 400.<br />
Material e Métodos<br />
Trinta e seis incisivos bovinos com ápices radiculares<br />
fechados tiveram suas coroas removidas e os canais<br />
instrumentados de acordo com a técnica step-back<br />
até a lima de memória #50. A irrigação foi realizada<br />
utilizando-se 1ml de hipoclorito de sódio a 2,5% entre<br />
os instrumentos, com uma irrigação final de 1ml de<br />
EDTA a 15% por 1 minuto, seguido de 10ml de água<br />
destilada. Os espécimes foram, então, divididos aleatoriamente<br />
em seis grupos experimentais, de acordo com<br />
a medicação intracanal a ser usada: GI = nenhum medicamento<br />
(controle); GII = pó de Ca(OH) 2<br />
(Synth, Diadema,<br />
SP, Brasil); GIII = Ca(OH) 2<br />
misturado com soro<br />
fisiológico; GIV = Ca(OH) 2<br />
misturado com glicerina<br />
(Synth, Diadema, SP, Brasil); GV = Ca(OH) 2<br />
misturado<br />
com propilenoglicol 400 (Synth, Diadema, SP, Brasil);<br />
GVI = Ca(OH) 2<br />
misturado com polietilenoglicol 400<br />
(Synth, Diadema, SP, Brasil). Um porta-amálgama pediátrico<br />
foi utilizado no GII para colocar o Ca(OH) 2<br />
em<br />
pó no interior do canal radicular, sendo então compactado<br />
com um condensador endodôntico de Paiva número<br />
2. Os outros grupos tiveram os canais radiculares<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 78<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):77-81
Onoda HK, Yoshinari GH, Pereira KFS, Delben AAST, Zárate P, Guerisoli DMZ<br />
preenchidos com o auxílio de uma espiral lentulo (Maillefer,<br />
Ballaigues, Suíça). As radiografias das raízes foram<br />
obtidas tanto no perfil vestibulolingual como proximal,<br />
para garantir que a medicação encontrava-se homogênea<br />
e não foram produzidas lacunas durante a sua introdução.<br />
As embocaduras dos canais foram seladas com<br />
Coltosol ® (Coltène, Whaledent, Suíça).<br />
Após armazenamento por sete dias a 37°C e 100%<br />
de umidade relativa, as amostras foram irrigadas 1mm<br />
aquém do comprimento de trabalho com 5ml de hipoclorito<br />
de sódio a 2,5% alternado com 5ml de EDTA a<br />
15%, usando a lima de memória para atingir o comprimento<br />
de trabalho. A irrigação final foi realizada com<br />
soro fisiológico e as amostras foram processadas para<br />
observação ao microscópio eletrônico de varredura.<br />
Três fotomicrografias representativas do terço apical<br />
de cada amostra foram obtidas e analisadas quantitativamente<br />
para detritos, com o auxílio de uma grade de<br />
10x10 células. Os resultados foram registrados em porcentagem<br />
de detritos que cobriam as paredes do canal<br />
radicular, e a análise estatística foi realizada (análise de<br />
variância e teste de Tukey post hoc, α = 0,05).<br />
Resultados<br />
A Tabela 1 apresenta a média de debris encontrados<br />
nos grupos experimentais, de acordo com observações<br />
em MEV.<br />
A análise estatística mostrou diferenças estatisticamente<br />
significativas entre os grupos (p0,05).<br />
Discussão<br />
Medicações intracanal à base de hidróxido de cálcio<br />
são usadas rotineiramente em Endodontia para erradicar<br />
microrganismos no sistema de canal radicular, que devido<br />
à sua complexa anatomia pode alojar tais patógenos mesmo<br />
após cuidadosa instrumentação e irrigação, levando<br />
ao insucesso do tratamento 1-4 . Vários veículos associados<br />
ao Ca(OH) 2<br />
têm sido propostos, e um consenso ainda parece<br />
longe de ser alcançado 5 .<br />
A maioria dos autores concorda que tais medicamentos<br />
devem ser removidos do canal radicular antes da obturação,<br />
uma vez que podem interferir com a qualidade<br />
da mesma, especialmente na vedação apical 13-23 , enquanto<br />
outros estudos indicam que a persistência de Ca(OH) 2<br />
não<br />
promove uma maior infiltração apical 24,25 . No entanto, Kim<br />
e Kim 20 apontam que esses estudos também observaram<br />
que, quando o curativo de hidróxido de cálcio foi mantido<br />
no canal, a infiltração apical aumentou com o tempo.<br />
O fato do corante azul de metileno sofrer descoloração<br />
quando em contato com o Ca(OH) 2<br />
também pode levar a<br />
resultados falso-positivos, o que pode invalidar alguns dos<br />
resultados obtidos em experimentos anteriores 26,27 .<br />
A remoção completa do Ca(OH) 2<br />
antes da obturação<br />
é impossível de ser verificada pelo clínico, uma vez<br />
que esse material tem o mesmo aspecto radiográfico<br />
que o da dentina 23 . De acordo com estudos anteriores,<br />
mesmo pequenas concentrações de Ca(OH) 2<br />
sobre a<br />
parede do canal radicular podem interferir na presa de<br />
cimentos à base de óxido de zinco-eugenol 13,20 . Cimentos<br />
à base de resina também podem sofrer efeitos adversos<br />
da medicação intracanal 21 .<br />
O presente estudo avaliou a persistência da medicação<br />
de Ca(OH) 2<br />
nas paredes do canal radicular a nível microscópico.<br />
A escolha de usar incisivos bovinos foi devida<br />
à largura de seu canal radicular, o que proporcionou um<br />
espaço padronizado e generoso para irrigação, criando assim<br />
as condições mais favoráveis possíveis para a retirada<br />
dos medicamentos. Complexidades anatômicas poderiam<br />
reter mecanicamente mais medicação intracanal 19 , o que<br />
levaria a resultados tendenciosos. A opção do uso de Na-<br />
OCl e EDTA como irrigantes e da lima de memória no<br />
comprimento de trabalho também constitui uma tentativa<br />
de retirar o máximo possível de medicação das paredes<br />
do canal radicular.<br />
Os resultados indicam que, apesar dessas condições<br />
favoráveis, o Ca(OH) 2<br />
ainda persiste no interior do canal<br />
após tentativas de remoção. Isso está de acordo com<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 79<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):77-81
[ artigo original ] A persistência de diferentes pastas medicamentosas à base de hidróxido de cálcio em canais radiculares: estudo por MEV<br />
estudos anteriores que relataram que a remoção de medicações<br />
à base de hidróxido de cálcio é extremamente<br />
difícil ou mesmo impossível 13-21,23 .<br />
O uso de Ca(OH) 2<br />
puro como curativo de demora, embora<br />
relatado em alguns estudos 18,28 , parece ser tanto impraticável<br />
clinicamente em canais estreitos e pouco desejável,<br />
já que a difusão iônica seria mínima. No presente estudo, foi<br />
utilizado apenas como um controle, para permitir a comparação<br />
com outras formulações. Embora tenha apresentado<br />
menor persistência no sistema de canais radiculares nos<br />
resultados, o uso de tal medicamento sem um veículo não<br />
parece ser adequado ou clinicamente desejável.<br />
O propilenoglicol e o polietilenoglicol usados como<br />
veículo oferecem uma consistência viscosa à pasta, o que<br />
facilita a sua inserção no canal radicular, levando alguns<br />
autores a preferirem essa formulação. A liberação lenta de<br />
íons e a reabsorção pelos tecidos circunvizinhos também<br />
estão entre as qualidades advogadas 5,11,12 . No entanto, os<br />
resultados sugerem que a remoção da pasta viscosa pode<br />
ser mais difícil do que outras formulações, causando a<br />
persistência de um excesso de medicação ao nível apical<br />
do canal radicular. Resultados semelhantes foram encontrados<br />
por Lambrianidis et al. 15 e Nandini et al. 18 , mas<br />
utilizando pastas à base em metilcelulose ou óleo de silicone,<br />
comercialmente disponíveis. Outros autores não encontraram<br />
diferenças em relação à persistência de medicamentos<br />
de Ca(OH) 2<br />
associados a diferentes veículos 23,28 .<br />
A associação de Ca(OH) 2<br />
com soro fisiológico mostrou-se<br />
mais fácil de remover dos canais radiculares do<br />
que o propilenoglicol ou polietilenoglicol, mas, ainda assim,<br />
persistiu em maior quantidade quando comparado à<br />
glicerina usada como veículo. Outros estudos podem ser<br />
necessários para compreender as razões da menor quantidade<br />
de Ca(OH) 2<br />
encontrada no grupo Ca(OH) 2<br />
+ glicerina<br />
(GIV).<br />
Conclusões<br />
1. Medicamentos à base de hidróxido de cálcio puro<br />
ou sua associação com glicerina permitem uma remoção<br />
mais fácil do canal radicular.<br />
2. A associação de Ca(OH) 2<br />
com polietilenoglicol<br />
ou propilenoglicol 400 determina uma maior persistência<br />
da medicação dentro do canal antes da<br />
obturação.<br />
3. Nenhuma das medicações intracanal testadas pode<br />
ser totalmente removida do canal radicular.<br />
The persistence of different calcium hydroxide paste medications in root<br />
canals: an SEM study<br />
Abstract<br />
Introduction: There is a possibility of intracanal medication remain<br />
in the root canal even after its removal prior to obturation.<br />
Objectives: The present study aims to evaluate under scanning<br />
electron microscopy the persistence of residues in the root canal<br />
from calcium hydroxide medications prepared with different<br />
vehicles. Methods: Thirty-six bovine incisors had their crowns<br />
removed, the root canals prepared and were assigned randomly<br />
to six different experimental groups, according to the intracanal<br />
medication used. Group I (control) received no intracanal medication,<br />
whereas root canals of Group II were filled with P.A. calcium<br />
hydroxide. Group III received a mixture of Ca(OH) 2<br />
and saline<br />
solution, in Group IV glycerin was used as vehicle, and Groups<br />
V and VI received Ca(OH) 2<br />
mixed with propylene glycol or polyethylene<br />
glycol 400, respectively. After one week, medication<br />
was removed, roots were split and the canals observed under the<br />
scanning electron microscope. Representative photomicrographs<br />
of the apical third of each experimental group were observed and<br />
analyzed quantitatively by means of a grid, with results expressed<br />
in percentage of canal walls covered by debris. Results: Statistical<br />
analysis (one-way ANOVA and Tukey’s post hoc test, α=0.05)<br />
revealed significant differences between groups, indicating higher<br />
amounts of Ca(OH) 2<br />
residues in the canals where propylene glycol<br />
or polyethylene glycol were used as vehicles. The dentinal<br />
walls of the canals that received pure P.A. calcium hydroxide or<br />
its association to glycerin presented amounts of debris similar to<br />
the control group. Conclusions: Ca(OH) 2<br />
P.A. based medications<br />
or its association to glycerin allows an easier removal from<br />
the root canal.<br />
Keywords: Calcium hydroxide. Intracanal medication. Vehicles.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 80<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):77-81
Onoda HK, Yoshinari GH, Pereira KFS, Delben AAST, Zárate P, Guerisoli DMZ<br />
Referências<br />
1. Byström A, Sundqvist G. Bacteriologic evaluation of the efficacy of<br />
mechanical root canal instrumentation in endodontic therapy. Scand<br />
J Dent Res. 1981 Aug;89(4):321-8.<br />
2. Estrela C, Sydney GB, Bammann LL, Felippe O Junior. Mechanism<br />
of action of calcium and hydroxyl ions of calcium hydroxide on tissue<br />
and bacteria. Braz Dent J. 1995;6(2):85-90.<br />
3. Estrela C, Pimenta FC, Ito IY, Bammann LL. Antimicrobial evaluation<br />
of calcium hydroxide in infected dentinal tubules. J Endod. 1999<br />
Jun;25(6):416-8.<br />
4. Siqueira JF, Lopes HP. Mechanisms of antimicrobial activity<br />
of calcium hydroxide: a critical review. Int Endod J. 1999<br />
May;32(5):361-9.<br />
5. Fava LRG, Saunders WP. Calcium hydroxide pastes: classification<br />
and clinical indications. Int Endod J. 1999 Apr;32(4):257-82.<br />
6. Trope M, Moshonov J, Nissan R, Buxt P, Yesilsoy C. Short vs long<br />
term calcium hydroxide treatment of established inflammatory root<br />
resorption in replanted dog teeth. Endod Dent Traumatol. 1995<br />
Jun;11(3):124-8.<br />
7. Tronstad L, Andreasen JO, Hasselgren G, Kristerson L, Riis I.<br />
pH changes in dental tissues after root canal filling with calcium<br />
hydroxide. J Endod. 1981 Jan;7(1):17-21.<br />
8. Krakow AA, Berk H, Gron P. Therapeutic induction of root formation<br />
in the exposed incompletely formed tooth with vital pulp. Oral Surg<br />
Oral Med Oral Pathol. 1977 May;43(5):755-65.<br />
9. Walia T, Chawla HS, Gauba K. Management of wide open apices in<br />
non-vital permanent teeth with Ca(OH) 2<br />
paste. J Clin Pediatr Dent.<br />
2000 Fall;25(1):51-6.<br />
10. Estrela C, Pécora JD, Sousa-Neto MD, Estrela CR, Bammann LL.<br />
Effect of vehicle on antimicrobial properties of calcium hydroxide<br />
pastes. Braz Dent J. 1999;10(2):63-72.<br />
11. Leonardo MR, Silva LAB, Utrilla LS, Leonardo RT, Consolaro A.<br />
Effect of intracanal dressings on repair and apical bridging of teeth<br />
with incomplete root formation. Endod Dent Traumatol. 1993<br />
Feb;9(1):25-30.<br />
12. Simon ST, Bhat KS, Francis R. Effect of four vehicles on the pH of<br />
calcium hydroxide and the release of calcium ion. Oral Surg Oral Med<br />
Oral Pathol. 1995 Apr;80(4):459-64.<br />
13. Ricucci D, Langeland K. Incomplete calcium hydroxide removal from<br />
the root canal: a case report. Int Endod J. 1997 Nov;30(6):418-21.<br />
14. Margelos J, Eliades G, Verdalis C, Palaghias G. Interaction of calcium<br />
hydroxide with zinc oxide eugenol type sealers: a potential clinical<br />
problem. J Endod. 1997 Jan;23(1):43-8.<br />
15. Lambrianidis T, Margelos J, Beltes P. Removal efficiency of<br />
calcium hydroxide dressing from the root canal. J Endod.1999<br />
Feb;25(2):85-8.<br />
16. Kuga MC, Tanomaru-Filho M, Faria G, Só MVR, Galletti T, Bavello<br />
JRS. Calcium hydroxide intracanal dressing removal with different<br />
rotary instruments and irrigating solutions: a scanning electron<br />
microscopy study. Braz Dent J. 2010;21(4):310-4.<br />
17. Wiseman A, Cox TC, Paranjpe A, Flake NM, Cohenca N, Johnson<br />
JD. Efficacy of sonic and ultrasonic activation for removal of<br />
calcium hydroxide from mesial canals of mandibular molars: a<br />
microtomographic study. J Endod. 2011 Fev;37(2):235-8.<br />
18. Nandini S, Velmurugan N, Kandaswamy D. Removal efficiency of<br />
calcium hydroxide intracanal medicament with two calcium chelators:<br />
volumetric analysis using spiral CT, an in vitro study. J Endod. 2006<br />
Dec;32(12):1097-101.<br />
19. van der Sluis LWM, Wu MK, Wesselink PR. The evaluation of removal<br />
of calcium hydroxide paste from an artificial standardized groove<br />
in the apical root canal using different irrigation methodologies. Int<br />
Endod J. 2007 Jan;40(1):52-7.<br />
20. Kim SK, Kim YO. Influence of calcium hydroxide intracanal<br />
medication on apical seal. Int Endod J. 2002 Jul;35(7):623-8.<br />
21. Böttcher DE, Hirai VH, Silva UX Neto, Grecca FS. Effect of calcium<br />
hydroxide dressing on the long-term sealing ability of two different<br />
endodontic sealers: an in vitro study. Oral Surg Oral Med Oral Pathol<br />
Oral Radiol Endod. 2010 Sep;110(3):386-9.<br />
22. Çalt S, Serper A. Dentinal tubule penetration of root canal sealers<br />
after root canal dressing with calcium hydroxide. J Endod. 1999<br />
Jun;25(6):431-3.<br />
23. da Silva JM, Andrade CV Junior, Zaia AA, Pessoa OF. Microscopic<br />
cleanliness evaluation of the apical root canal after using calcium<br />
hydroxide mixed with chlorhexidine, propylene glycol, or antibiotic<br />
paste. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod. 2011<br />
Feb;111(2):260-4.<br />
24. Porkaew P, Retief DH, Barfield RD, Lacefield WR, Soong S. Effects of<br />
calcium hydroxide paste as an intracanal medicament on apical seal.<br />
J Endod. 1990 Aug;16(8):369-74.<br />
25. Holland R, Alexandre AC, Murata SS, Dos Santos CA, Dezan E<br />
Júnior. Apical leakage following root canal dressing with calcium<br />
hydroxide. Endod Dent Traumatol. 1995 Dec;11(6):261-3.<br />
26. Kontakiotis EG, Wu MK, Wesselink PR. Effect of calcium hydroxide<br />
dressing on seal of permanent root filling. Endod Dent Traumatol.<br />
1997 Dec;13(6):281-4.<br />
27. Wu MK, Kontakiotis EG, Wesselink PR. Decoloration of 1%<br />
methylene blue solution in contact with dental filling materials. J Dent.<br />
1998 Sep;26(7):585-9.<br />
28. Balvedi RPA, Versiani MA, Manna FF, Biffi JCG. A comparison of two<br />
techniques for the removal of calcium hydroxide from root canals. Int<br />
Endod J. 2010 Sep;43(9):763-8.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 81<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):77-81
artigo original<br />
Análise do nível de sujidade e sua interferência no<br />
processo de esterilização de limas endodônticas<br />
através da microscopia eletrônica de varredura e<br />
teste microbiológico<br />
Matheus Albino Souza, DDS 1<br />
Márcio Luiz Fonseca Menin, MSc, PhD 1<br />
Francisco Montagner, DDS, MSc, PhD 2<br />
Doglas Cecchin, DDS, MSc, PhD 3<br />
Ana Paula Farina, MSc, PhD 3<br />
resumo<br />
Objetivo: verificar o nível de limpeza de limas endodônticas<br />
após seu uso no preparo de canais radiculares e sua<br />
influência no processo de esterilização. Métodos: 50 limas<br />
endodônticas foram divididas em duas amostras: a primeira<br />
amostra de 25 limas para análise em microscopia eletrônica<br />
de varredura (MEV) para verificação da limpeza; e<br />
outra de 25, para análise microbiológica nos meios Tioglicolato<br />
e BHI, após a esterilização. Resultados: as limas<br />
endodônticas apresentaram diferentes graus de sujidade<br />
em sua parte ativa na avaliação através da microscopia eletrônica<br />
de varredura; e, através dos testes microbiológicos,<br />
foi possível verificar que não houve crescimento bacteriano<br />
após a esterilização. Conclusão: apesar da presença significativa<br />
de sujidade nas limas endodônticas em sua parte ativa,<br />
essa sujidade não interferiu no processo de esterilização.<br />
Palavras-chave: Sujidade. Limas endodônticas. Teste<br />
bacteriológico. Microscopia eletrônica de varredura.<br />
Souza MA, Menin MLF, Montagner F, Cecchin D, Farina AP. SEM and microbiological analysis of dirt of endodontic files after clinical use and its influence on sterilization<br />
process. <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):82-6.<br />
1<br />
Faculdade de Odontologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto<br />
Alegre, RS, Brasil.<br />
2<br />
Faculdade de Odontologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS,<br />
Brasil.<br />
3<br />
Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Universidade Estadual de Campinas, Piracicaba,<br />
SP, Brasil.<br />
Recebido: janeiro de 2011 / Aceito: fevereiro de 2011.<br />
Endereço para correspondência: Matheus Albino Souza<br />
Av. Ipiranga 6681, Prédio 6, sala 507<br />
CEP: 90.619-900 - Porto Alegre / RS<br />
E-mail: matheus292@yahoo.com.br<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 82<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):82-6
Souza MA, Menin MLF, Montagner F, Cecchin D, Farina AP<br />
Introdução<br />
O sucesso da terapia endodôntica está embasado<br />
não somente no correto diagnóstico, mas também no<br />
adequado planejamento e execução técnica e, principalmente,<br />
nos cuidados com a manutenção da cadeia<br />
asséptica durante o atendimento do paciente.<br />
Os instrumentos endodônticos são utilizados para<br />
remover os remanescentes de tecido pulpar durante os<br />
procedimentos de limpeza e modelagem do sistema de<br />
canais radiculares. Esses instrumentos podem ser reciclados<br />
para reutilização após o seu primeiro uso. Em<br />
um amplo estudo, foi registrado que 88% dos dentistas<br />
clínicos gerais no Reino Unido reprocessam as limas<br />
endodônticas após o seu uso 1 .<br />
Como conduta obrigatória de biossegurança, os instrumentos<br />
endodônticos, para serem reutilizados, terão<br />
que passar por um processo de limpeza antes da esterilização<br />
2 , uma vez que a presença de matéria orgânica<br />
e/ou resíduos nos instrumentos pode interferir no processo<br />
de esterilização, pois cria barreiras de proteção<br />
para os microrganismos, podendo impedir a penetração<br />
do agente esterilizante 3 .<br />
Os procedimentos de pré-lavagem e autoclave podem<br />
ser utilizados para esterilizar os instrumentos endodônticos<br />
4,5 . No entanto, a complexa arquitetura das<br />
limas endodônticas pode dificultar tais procedimentos<br />
5 . Estruturas dentárias e debris orgânico têm sido<br />
observados na superfície de instrumentos rotatórios,<br />
especialmente na região de trincas 6 . Segundo estudo<br />
prévio, 66% das limas endodônticas recuperadas por<br />
dentistas clínicos gerais se mantiveram visivelmente<br />
contaminadas 7 . Dessa forma, existe a possibilidade de<br />
contaminação cruzada associada com a incapacidade<br />
de limpar e esterilizar adequadamente as mesmas,<br />
sendo sugerido que esses instrumentos devam ser dispositivos<br />
de uso único.<br />
Portanto, o objetivo do presente estudo foi determinar<br />
a presença de debris remanescentes na superfície<br />
das limas endodônticas após a realização de um processo<br />
de limpeza e analisar a sua influência sobre o processo<br />
de esterilização.<br />
Metodologia<br />
Foram selecionadas para a realização do presente<br />
estudo 50 limas endodônticas tipo K #25, independentemente<br />
de sua marca comercial. As amostras foram<br />
divididas em dois grupos (n=25) de acordo com<br />
Tabela 1. Distribuição das amostras nos grupos.<br />
Grupo Método N Utilização Limpeza Esterilização<br />
prévia<br />
G1 MEV 25 Sim Sim Sim<br />
G2 Cultura 25 Sim Sim Sim<br />
o método de análise, utilização prévia e realização de<br />
protocolo de desinfecção, conforme a Tabela 1.<br />
Os instrumentos endodônticos foram obtidos diretamente<br />
de alunos da Faculdade de Odontologia da<br />
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul<br />
(PUC-RS, Porto Alegre, RS, Brasil). O protocolo de limpeza<br />
utilizado consistiu em escovação com gluconato<br />
de clorexidina 2% (Globomed, Sacomã, SP, Brasil), lavagem<br />
em água corrente e secagem. Previamente às<br />
análises, as amostras foram acondicionadas em tubos<br />
plásticos tipo Eppendorf (Eppendorf AG, São Paulo, SP,<br />
Brasil) e esterilizadas em autoclave (Dabi Atlante, Ribeirão<br />
Preto, SP, Brasil).<br />
Análise em Microscopia Eletrônica de Varredura<br />
As limas endodônticas do Grupo 1 foram removidas<br />
dos tubos plásticos de Eppendorf com uma pinça clínica<br />
e manipuladas apenas pelo cabo, evitando qualquer<br />
contato na parte ativa do instrumento. Os instrumentos<br />
tiveram seus cabos removidos através de um alicate de<br />
corte e suas hastes metálicas, compostas pela lâmina<br />
de corte e porção intermediária, foram fixadas em stubs<br />
para posterior observação.<br />
Após esse processo, as amostras foram levadas ao<br />
microscópio eletrônico de varredura. A porção inicial<br />
da lâmina ativa de cada instrumento foi avaliada sob<br />
magnificação de 150 vezes e com 15kV, sendo obtidas<br />
as imagens para cada instrumento.<br />
As imagens foram avaliadas por 4 examinadores<br />
previamente calibrados através de teste Kappa para<br />
concordância interexaminadores. Foi atribuído um<br />
escore numérico para cada imagem, representando<br />
o respectivo grau de sujidade para cada instrumento:<br />
1 = ausência de resíduos na superfície da lima; 2 = superfície<br />
da lima praticamente limpa, ou seja, apresentando<br />
pequena quantidade de resíduos; 3 = superfície da lima<br />
apresentando média quantidade de resíduos; 4= superfície<br />
da lima com grande quantidade de resíduos.<br />
Os dados obtidos foram submetidos ao teste de<br />
Kruskal-Wallis, utilizado a moda da avaliação qualitativa,<br />
em um nível de significância de 5%.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 83<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):82-6
[ artigo original ] Análise do nível de sujidade e sua interferência no processo de esterilização de limas endodônticas através da microscopia eletrônica de varredura e teste microbiológico<br />
Análise microbiológica da<br />
contaminação das limas<br />
Todos os procedimentos foram realizados sob condições<br />
rigorosas de assepsia, no interior de uma cabine<br />
de fluxo laminar. Cada lima endodôntica foi removida do<br />
tubo plástico de Eppendorf com uma pinça clínica esterilizada<br />
e, então, introduzida num tubo de vidro contendo<br />
meio de cultura líquido BHI (Brain Heart Infusion, Himedia,<br />
Curitiba, PR, Brasil). Em seguida, a mesma foi removida<br />
e inserida em um tubo de ensaio contendo meio<br />
líquido Tioglicolato (Himedia, Curitiba, PR, Brasil). Como<br />
controle negativo, foram utilizados dois tubos de meio<br />
de cultura líquido BHI e Tioglicolato, que não receberam<br />
nenhuma amostra. O controle positivo foi realizado<br />
através da inoculação de cepas de periodontopatógenos<br />
provenientes de amostras clínicas e isolados de Enterococcus<br />
spp. Os tubos foram encubados em estufa microbiológica,<br />
na presença de oxigênio, em temperatura de<br />
37°C por 72 horas. A presença de microrganismos foi<br />
confirmada pela observação de turvação do meio de cultura<br />
líquido após 24, 28 ou 72 horas, sendo que as amostras<br />
negativas seriam aquelas que não provocassem alteração<br />
no meio de cultura, enquanto as amostras positivas<br />
seriam aquelas que provocassem turvação do mesmo.<br />
Para comprovar a esterilidade das limas, após a<br />
observação da presença ou ausência de turbidez nos<br />
meios líquidos, foi feita a inoculação em meio de cultura<br />
sólido. Uma alíquota de 10µl de BHI foi inoculada sobre<br />
a superfície do meio de cultura (ágar simples), deixada<br />
secar e incubada em aerobiose a 37ºC. O mesmo procedimento<br />
foi executado com o Tioglicolato de Sódio,<br />
porém as placas foram incubadas em microaerofilia<br />
pelo método da chama da vela.<br />
Resultados<br />
Os resultados mostraram que no Grupo 1 as limas<br />
endodônticas apresentaram diferentes graus de sujidade<br />
após a realização do protocolo de limpeza das mesmas<br />
(Fig. 1), apresentando, na maioria das vezes, uma<br />
superfície com grande quantidade de resíduos (Gráf. 1).<br />
Além disso, os resultados mostraram que não houve<br />
presença de crescimento bacteriano na superfície das limas<br />
endodônticas nos períodos de 24, 48 e 72 horas após<br />
a incubação, tanto em meio BHI como no meio Tioglicolato,<br />
exceto o controle positivo, onde houve a presença de<br />
crescimento bacteriano em todos os períodos de observação<br />
e em ambos os meios de cultura (Gráf. 2, 3).<br />
A<br />
C<br />
D<br />
Figura 1. Escores para a determinação da quantidade de sujidades na<br />
superfície de limas endodônticas: A) Escore 1 - ausência de resíduos<br />
na superfície da lima; B) Escore 2 - superfície da lima praticamente limpa,<br />
ou seja, apresentando pequena quantidade de resíduos; C) Escore<br />
3 - superfície da lima apresentando média quantidade de resíduos; e<br />
D) Escore 4 - superfície da lima com grande quantidade de resíduos.<br />
8<br />
7<br />
6<br />
5<br />
4<br />
3<br />
2<br />
1<br />
0<br />
Gráfico 1. Avaliação do grau de contaminação das limas endodônticas.<br />
25<br />
20<br />
15<br />
10<br />
5<br />
0<br />
25<br />
20<br />
15<br />
10<br />
5<br />
0<br />
Grau 1<br />
24 horas<br />
BHI (-)<br />
24 horas<br />
TGC (-)<br />
B<br />
Grau 2 Grau 3 Grau 4<br />
BHI (+)<br />
TGC (+)<br />
48 horas<br />
48 horas<br />
72 horas<br />
Gráfico 2. Presença/ausência de crescimento bacteriano na superfície<br />
de limas endodônticas em meio de cultura BHI.<br />
72 horas<br />
Gráfico 3. Presença/ausência de crescimento bacteriano na superfície<br />
de limas endodônticas em meio de cultura Tioglicolato.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 84<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):82-6
Souza MA, Menin MLF, Montagner F, Cecchin D, Farina AP<br />
DISCUSSÃO<br />
Os instrumentos endodônticos são utilizados para<br />
remover os remanescentes de tecido pulpar durante os<br />
procedimentos de limpeza e modelagem do sistema de<br />
canais radiculares. Para serem reutilizados, os mesmos<br />
terão que passar por um processo de limpeza antes da<br />
esterilização, para que haja a remoção de matéria orgânica<br />
e resíduos teciduais nos instrumentos.<br />
São vários os estudos que abordam as técnicas de<br />
limpeza de limas endodônticas, entre elas a escovação,<br />
detergentes enzimáticos e o auxílio ultrassônico. Entretanto,<br />
não existe, até o momento, nenhum método capaz<br />
de deixar o instrumento livre de qualquer resíduo,<br />
muito embora os melhores resultados tenham sido obtidos<br />
através da associação dos recursos de escovação e<br />
ultrassom 2,8,9,10 .<br />
A limpeza ultrassônica apresenta algumas vantagens<br />
sobre a manual, tais como: maior eficiência de limpeza;<br />
redução na aerossolização de partículas infecciosas liberadas<br />
durante a escovação; incidência reduzida com<br />
instrumentos; maior limpeza, inclusive remoção de oxidações;<br />
aproveitamento melhor de tempo e redução do<br />
trabalho manual 3,11,12,13 .<br />
As limas coletadas para o presente estudo foram<br />
submetidas à limpeza por intermédio de escovação realizada<br />
pelos alunos da Faculdade de Odontologia da<br />
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.<br />
A partir das análises obtidas por MEV, observou-se que<br />
20% das limas incluíam-se no escore 1; 28% no escore<br />
2; 20% no escore 3; e 32% no escore 4. Isso pode estar<br />
relacionado ao fato de que não foi utilizado o recurso<br />
ultrassônico para realização da limpeza das limas endodônticas,<br />
apresentando as mesmas um significativo grau<br />
de sujidade em suas superfícies.<br />
Um estudo prévio afirma que foi detectado que a presença<br />
de matéria orgânica e/ou resíduos nos instrumentos<br />
pode interferir no processo de esterilização, pois cria<br />
barreiras de proteção para os microrganismos, podendo<br />
impedir a penetração do agente esterilizante 3 . Entretanto,<br />
tais achados não vão ao encontro dos resultados encontrados<br />
em nosso estudo, onde foi demonstrado que,<br />
apesar da presença de sujidade e matéria orgânica na<br />
superfície das limas endodônticas, não houve crescimento<br />
bacteriano após o processo de esterilização das<br />
mesmas. Isso pode ser explicado pelo eficiente processo<br />
de esterilização, que é capaz de reduzir e eliminar toda<br />
e qualquer forma de conteúdo microbiano presente nas<br />
superfícies dos instrumentos endodônticos em questão.<br />
Resultados semelhantes ao nosso estudo foram encontrados<br />
por estudo prévio que comparou as condições<br />
microbiológicas das limas utilizadas pelos alunos de graduação<br />
de 6 faculdades de Odontologia do Rio Grande<br />
do Sul. Os resultados demonstraram que, do total das 60<br />
amostras examinadas, 53 encontravam-se estéreis, enquanto<br />
7 apresentaram-se contaminadas, sendo que em<br />
apenas duas Faculdades as limas endodônticas recolhidas<br />
apresentaram 100% de culturas negativas 14 .<br />
Diante das limitações deste estudo, pode-se concluir<br />
que, apesar de haver uma presença significativa<br />
de sujidade na superfície das limas endodônticas<br />
após limpeza, este fator não influencia no processo<br />
de esterilização das mesmas.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 85<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):82-6
[ artigo original ] Análise do nível de sujidade e sua interferência no processo de esterilização de limas endodônticas através da microscopia eletrônica de varredura e teste microbiológico<br />
Abstract<br />
Aim: The aim of this study was to assess the level of cleaning of<br />
endodontic files after their use in root canals preparation and its<br />
influence on the sterilization process. Methods: Fifty files were<br />
divided into two groups — one group of 25 files for analysis in<br />
scanning electron microscopy (SEM) for verification of cleaning;<br />
and another group of 25 files for microbiological analysis in thioglycolate<br />
and BHI after sterilization. Results: The results showed<br />
that endodontic files had different degrees of dirt on his active<br />
part through evaluation by scanning electron microscopy. The<br />
bacterial growth wasn’t detected through microbiological test after<br />
sterilization. Conclusion: It was concluded that despite the<br />
significant presence of dirt on endodontic files in their active part,<br />
this dirt doesn’t interfere in the sterilization process.<br />
Keywords: Dirt. Endodontic files. Microbiological test. Scanning<br />
electron microscopy.<br />
Referências<br />
1. Bagg J, Sweeney CP, Roy KM, Sharp T, Smith AJ. Cross<br />
infection control measures and the treatment of patients at risk of<br />
Creutzfeldt Jakob Disease in UK general dental practice. Br Dent J.<br />
2001;191(2):87-90.<br />
2. Queiroz MLP. Avaliação comparativa da eficácia de diferentes<br />
técnicas empregadas na limpeza das limas endodônticas<br />
[dissertation]. Canoas: Universidade Luterana do Brasil; 2001.<br />
3. Miller CH. Sterilization: disciplined microbial control. Dent Clin North<br />
Am. 1991;35(2):339-55.<br />
4. Filippini EF. Avaliação microbiológica e das condições de limpeza<br />
de limas endodônticas novas, tipo K, de diferentes marcas<br />
comerciais [dissertation]. Canoas: Universidade Luterana do Brasil;<br />
2003.<br />
5. Morrison A, Conrod S. <strong>Dental</strong> burs and endodontic files: are routine<br />
sterilization procedures effective? J Can Dent Assoc. 2009;7(1):39.<br />
6. Alapati SB, Brantley WA, Svec TA, Powers JM, Nusstein JM,<br />
Daehn GS. Scanning electron microscope observations of new and<br />
used nickel-titanium rotary files. J Endod. 2003;29(10):667-9.<br />
7. Smith A, Dickson M, Aitken J, Bagg J. Contaminated dental<br />
instruments. J Hosp Infect. 2002;5(3):233-5.<br />
8. Sousa SMG. Análise comparativa de quatro métodos de limpeza<br />
de limas endodônticas durante o trans-operatório: estudo<br />
pela microscopia eletrônica de varredura [dissertation]. Bauru:<br />
Universidade de São Paulo; 1994.<br />
9. Carmo AMR. Estudo comparativo de diferentes métodos de<br />
limpeza de limas endodônticas sobre microscopia eletrônica de<br />
varredura [dissertation]. Rio de Janeiro: Universidade Federal do<br />
Rio de Janeiro; 1996.<br />
10. Figueiredo JAP. Eficácia das técnicas de limpeza de instrumentos<br />
endodônticos retentivos. Rev Paraense Odontol 1997;2:1-12.<br />
11. Spolyar JL, Johnson CG, Head R, Porath L. Ultrasonic cold<br />
disinfection. J Clin Orthod. 1986;20(12):852-3.<br />
12. Zelante F, Alvares S. Esterilização e desinfecção do instrumental<br />
e materiais utilizados na clínica endodôntica. In: Alvares S.<br />
Endodontia Clínica. 2ª ed. São Paulo: Santos; 1991.<br />
13. Schant ME. Biosecurity in endodontics. Rev Asoc Odontol Argen.<br />
1991;7(4):243-6.<br />
14. Mazzocato G. Avaliação microbiológica das limas endodônticas<br />
dos alunos de graduação de 6 faculdades de Odontologia do RS.<br />
Pesq Odontol Bras. 2002;16:94.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 86<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):82-6
caso clínico<br />
Daniel de Almeida DECURCIO, DDS, MSc, PhD 1<br />
Julio Almeida SILVA, DDS 1<br />
Rafael de Almeida DECURCIO, DDS 1<br />
Ricardo Gariba Silva, MSc, PhD 2<br />
Jesus Djalma PÉCORA, PhD 2<br />
resumo<br />
A obtenção do sucesso em Endodontia está associada à<br />
precisão no diagnóstico. O estabelecimento da hipótese<br />
de diagnóstico baseado unicamente na radiografia periapical<br />
é um grande desafio em todas as especialidades<br />
da Odontologia. A visualização de estruturas tridimensionais,<br />
identificadas por tomografia computadorizada<br />
de feixe cônico (TCFC) favorece uma melhor precisão<br />
do problema e planejamento para o tratamento. O objetivo<br />
deste artigo é apresentar um caso clínico que envolve<br />
o planejamento para tratamento de dens invaginatus,<br />
que foi alterado a partir de visualização tridimensional<br />
por TCFC. A análise dinâmica das estruturas endodônticas<br />
e periodontais sugeriu um diagnóstico de dens invaginatus<br />
tipo 2, associado a área radiolucente periapical<br />
e comprometimento periodontal. A adequada avaliação<br />
empregando moderno método de exame por imagem<br />
deve ser sempre feita em conjunto com a avaliação clínica.<br />
O adequado manejo de imagens de TCFC pode revelar<br />
anormalidades que as radiografias periapicais são<br />
incapazes de identificar. A escolha da terapêutica clínica<br />
para esta anormalidade foi influenciada pela TCFC, em<br />
cujas imagens foi detectada grande destruição óssea<br />
não visível previamente pela radiografia periapical inicial.<br />
Com base na necessidade de extenso tratamento<br />
restaurador, a opção terapêutica foi a extração do dente<br />
e a reabilitação bucal.<br />
Palavras-chave: Dens invaginatus. Anomalia dentária.<br />
Tomografia computadorizada de feixe cônico. Diagnóstico<br />
endodôntico.<br />
Decurcio DA, Silva JA, Decurcio RA, Silva RG, Pécora JD. Influence of cone beam computed tomography on dens invaginatus treatment planning. <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod.<br />
2011 apr-june;1(1):87-93.<br />
1<br />
Faculdade de Odontologia, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, GO, Brasil.<br />
Recebido: janeiro de 2011 / Aceito: fevereiro de 2011.<br />
2<br />
Faculdade de Odontologia, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP, Brasil.<br />
Endereço para correspondência: Daniel de Almeida Decurcio<br />
Universidade Federal de Goiás, Departmento de Estomatologia<br />
Praça Universitária s/n, Setor Universitário - CEP: 74.605-220, Goiânia, GO, Brasil<br />
E-mail: danieldecurcio@gmail.com<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 87<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):87-93
[ caso clínico ] Influência da tomografia computadorizada de feixe cônico no plano de tratamento do dens invaginatus<br />
Introdução<br />
Dens invaginatus é uma anomalia de desenvolvimento<br />
(malformação) de dentes resultante de uma invaginação<br />
da papila dentária durante o desenvolvimento<br />
do dente. O dente afetado mostra uma profunda<br />
invaginação de esmalte e dentina a partir do forame<br />
ou mesmo a partir das pontas de cúspides, e pode se<br />
estender em profundidade pela raiz 1 .<br />
Todos os dentes podem ser afetados, mas a prevalência<br />
no incisivo lateral superior é maior e a ocorrência<br />
bilateral é comum. O tratamento endodôntico pode<br />
apresentar sérias dificuldades e problemas devido à<br />
complexa anatomia desses dentes 2-6 . Desde a segunda<br />
metade do século 19, a literatura odontológica tem relatado<br />
essa malformação com os seguintes sinônimos:<br />
dens in dens, odontoma invaginado, odontoma dilatado<br />
composto, inclusão dentária, dentoide in dens 1-7 .<br />
Hülsmann 1 , com base em vários estudos, apresenta<br />
sete possibilidades sobre a etiologia da malformação<br />
dens invaginatus, que são controversas e ainda hoje permanecem<br />
obscuras. Essas teorias sobre a etiologia do<br />
dens invaginatus têm sido propostas para explicar essas<br />
malformações: a pressão de crescimento da arcada<br />
dentária resulta na deformação do órgão do esmalte; a<br />
invaginação resulta de uma falha focal do crescimento<br />
do epitélio interno do esmalte, enquanto o epitélio normal<br />
circundante continua a proliferar e circunda a área<br />
estática; a invaginação é resultado de uma proliferação<br />
rápida e agressiva de uma parte do epitélio interno do<br />
esmalte invadindo a papila dentária. Oehlers 8 considerou<br />
que a distorção do órgão do esmalte durante o desenvolvimento<br />
dentário e subsequente protrusão de uma parte<br />
do órgão do esmalte vai levar à formação de um canal<br />
revestido de esmalte terminando no cíngulo ou ocasionalmente<br />
na borda incisal; a última pode estar associada<br />
à forma irregular da coroa, uma fusão de dois germes de<br />
dentes, infecção, lesão dentária traumática; fatores genéticos.<br />
Alani e Bishop 7 relataram recentemente que a etiologia<br />
exata do dens invaginatus é desconhecida, embora<br />
uma causa genética seja o fator mais provável.<br />
Em muitos casos, um dens invaginatus é detectado<br />
pelo exame radiográfico de rotina, e pode ser facilmente<br />
negligenciado por causa da ausência de qualquer<br />
sinal clínico significativo da anomalia. Isso é lamentável,<br />
já que a presença de uma invaginação pode<br />
aumentar o risco de cárie, patologia pulpar e inflamação<br />
periodontal 2-6 .<br />
A tomografia computadorizada de feixe cônico<br />
(TCFC) permitiu recentemente a inclusão da terceira<br />
dimensão na Odontologia, sendo um benefício para<br />
todas as áreas, já que até este momento não havia utilizado<br />
as vantagens da TC médica devido à falta de<br />
especificidade. A TCFC é uma ferramenta importante<br />
no diagnóstico, com características não-destrutivas<br />
e não-invasivas 9,10 , e essa ferramenta de diagnóstico<br />
permite a visualização de uma imagem tridimensional<br />
em que um novo plano foi acrescentado: profundidade.<br />
Sua aplicação clínica permite alta precisão e está<br />
relativamente acessível 11-15 .<br />
Este artigo discute um relato de caso em que a radiografia<br />
de 2-D mostra um aspecto padrão do tipo<br />
2 de dens invaginatus em um incisivo lateral conoide,<br />
que em um primeiro momento parece ser possível o<br />
tratamento endodôntico. As imagens 3-D resultaram<br />
em informações adicionais que não haviam sido vistas<br />
com a radiografia periapical comumente utilizada.<br />
Relato do Caso<br />
Um homem de 20 anos foi encaminhado ao serviço<br />
de clínica da Faculdade de Odontologia da Universidade<br />
Federal de Goiás, a fim de avaliar e esclarecer<br />
um problema de saúde bucal, e desconforto esporádico<br />
durante a mastigação. A história médica foi negativa<br />
para a doença concomitante, sem nenhuma<br />
contribuição. O exame clínico revelou a presença de<br />
inflamação periodontal. Não havia sintoma espontâneo<br />
ou edema nos dentes, mas foi detectada uma<br />
grande mobilidade no incisivo lateral superior esquerdo.<br />
O teste de vitalidade pulpar foi negativo. A radiografia<br />
periapical revelou um dens invaginatus tipo 2, associado<br />
à radioluscência periapical. Considerando-se<br />
o desconforto do paciente, problemas periodontais,<br />
ortodônticos e endodônticos, sugeriu-se a realização<br />
de imagem TCFC com i-CAT Cone Beam System<br />
de imagens 3D (Imaging Sciences International,<br />
Hatfield, PA, EUA). Os volumes foram reconstruídos<br />
com voxels isotrópicos-isométricos medindo 0,20mm<br />
x 0,20mm x 0,20mm. A voltagem foi de 120kVp, corrente<br />
de 3,8mA e tempo de exposição de 40 segundos.<br />
As imagens foram examinadas com o software próprio<br />
do scanner (Xoran versão 3.1.62; Xoran Technologies,<br />
Ann Arbor, Michigan, EUA) em um computador de<br />
mesa executando o Microsoft Windows XP Professional<br />
SP2 (Microsoft Corp, Redmond, WA, EUA), com<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 88<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):87-93
Decurcio DA, Silva JA, Decurcio RA, Silva RG, Pécora JD<br />
processador Intel ® CoreTM 2 Duo de 1.86 GHz 6300<br />
(Intel Corporation, EUA), placa de vídeo NVIDIA Ge-<br />
Force 6200 turbo cache (NVIDIA Corporation, EUA)<br />
e monitor EIZO - Flexscan S2000, a resolução de<br />
1600x1200 pixels (Eizo Nanao Corporation Hakusan,<br />
Japan). O incisivo lateral superior esquerdo foi focado<br />
e exames foram obtidos em diferentes planos (sagital,<br />
coronal e axial) de 0,2mm de espessura.<br />
Em imagens da TCFC sagitais e axiais, pode-se observar<br />
a presença de dens invaginatus tipo 2 de Oehlers,<br />
sugerindo claramente invaginação do esmalte e da dentina.<br />
Radioluscência periapical com a presença de destruição<br />
óssea cortical foi detectada na superfície palatina,<br />
e a perda de osso cortical palatino até o terço apical<br />
também foi visível (Fig. 1). As imagens axiais da TCFC<br />
nos terços apical, médio e cervical do dens invaginatus<br />
Figura 1. Na TCFC em vistas sagital e axial, observa-se a presença de dens invaginatus tipo 2 de Oehlers. Radioluscência periapical com a presença de<br />
destruição óssea cortical na região periapical foi detectada na superfície palatina, e a perda de osso cortical vestibular até o terço apical é também visível.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 89<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):87-93
[ caso clínico ] Influência da tomografia computadorizada de feixe cônico no plano de tratamento do dens invaginatus<br />
Figura 2. Imagens de reconstruções em TCFC. Nota-se destruição de osso cortical nas faces apical, palatina e vestibular.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 90<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):87-93
Decurcio DA, Silva JA, Decurcio RA, Silva RG, Pécora JD<br />
mostraram uma posição central no dente (Fig. 1). Note<br />
destruição apical, palatina e vestibular da cortical do<br />
osso nas reconstruções das imagens da TCFC (Fig. 2).<br />
Discussão<br />
Em muitos casos, um dens invaginatus é detectado<br />
pelo exame radiográfico. Clinicamente, uma morfologia<br />
da coroa original (em forma conoide) ou um forame<br />
com fundo cego pode ser importante para indicar<br />
a probabilidade de um dens invaginatus 2 . Como os<br />
incisivos superiores são os dentes mais suscetíveis a<br />
apresentar dens invaginatus, esses dentes devem ser investigados<br />
por exames clínicos e radiográficos. Se um<br />
dente é afetado em um paciente, o dente contra-lateral<br />
deve ser investigado. É necessária a aquisição de<br />
radiografias para os incisivos laterais conoides, uma<br />
vez que Siqueira et al. 5 constataram que 10% desses<br />
dentes podem estar associados a dens invaginatus.<br />
A classificação mais usada foi proposta por Oehlers<br />
8 : Dens invaginatus tipo I - uma forma revestida de<br />
esmalte menor que ocorre dentro dos limites da coroa,<br />
não se estendendo além da junção amelocementária;<br />
dens invaginatus tipo II - uma forma revestida de esmalte,<br />
que invade a raiz, mas permanece confinado<br />
como um saco cego. Pode ou não se comunicar com<br />
a polpa dentária; dens invaginatus tipo III - uma forma<br />
que penetra através da raiz, perfurando a região apical<br />
e mostrando um “segundo forame” na região apical ou<br />
periodontal. Não há comunicação imediata com a polpa.<br />
A invaginação pode ser completamente revestida<br />
por cemento e esmalte e, frequentemente, podem ser<br />
encontrados revestindo a invaginação.<br />
Como o envolvimento pulpar de dentes com invaginações<br />
coronárias, pode ocorrer em um curto espaço<br />
de tempo após a erupção do dente, o diagnóstico<br />
precoce é muito importante para o tratamento preventivo.<br />
A Tabela 1 apresenta o resumo do tratamento de<br />
diferentes tipos de dens invaginatus observados na literatura<br />
odontológica 4,6 . Ridell et al. 16 avaliaram o prognóstico<br />
para a sobrevivência da polpa nos dentes com<br />
dens invaginatus submetidos a tratamento profilático<br />
da invaginação. Os prontuários de todos os pacientes<br />
encaminhados para o Eastman <strong>Dental</strong> Institute, Estocolmo,<br />
Suécia, com diagnóstico de dens invaginatus<br />
entre os anos 1969-1997 foram revistos. Cinco dentes<br />
em 66 pacientes haviam sido submetidos a tratamento<br />
profilático da invaginação. A avaliação retrospectiva<br />
foi baseada no exame das radiografias disponíveis a<br />
partir do acompanhamento. Eles encontraram: a) pacientes<br />
com 1 dente afetado (64,8%), com dois dentes<br />
(29,7%), com três dentes (2,2%) e com quatro dentes<br />
(3,3%), b) os dentes com dens invaginatus - incisivos<br />
Tabela 1. Resumo do tratamento de diferentes tipos de dens invaginatus.<br />
Dens Invaginatus Características Tratamento observado na literatura<br />
Tipo I<br />
(Oehler 8 , 1957)<br />
A invaginação de esmalte é limitada à coroa,<br />
antes da junção amelocementária<br />
Prevenção e controle clinico e radiográfico;<br />
Aplicação de selante na invaginação;<br />
Restauração do dente<br />
Tipo II<br />
(Oehler 8 , 1957)<br />
A invaginação se estende à junção<br />
amelocementária, e pode ou não apresentar<br />
comunicação com a polpa dentária<br />
Restauração da invaginação se a polpa dentária estiver normal;<br />
Terapia endodôntica;<br />
Tratamento combinado endodôntico-cirúrgico<br />
Tipo III<br />
(Oehler 8 , 1957)<br />
A invaginação revestida de esmalte penetra por<br />
toda a raiz, normalmente sem comunicação<br />
com a polpa dentária<br />
Restauração da invaginação se a polpa dentária estiver normal;<br />
Terapia endodôntica;<br />
Tratamento combinado endodôntico-cirúrgico<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 91<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):87-93
[ caso clínico ] Influência da tomografia computadorizada de feixe cônico no plano de tratamento do dens invaginatus<br />
centrais superiores 13%, incisivos laterais superiores<br />
85,5%, pré-molares superiores 0,8% e molares superiores<br />
0,8%; c) dens invaginatus encontrados de acordo<br />
com a classificação de Oehlers 8 : Tipo I (15,35%); Tipo<br />
II (79,4%) e Tipo III (5,3%). Após o tratamento profilático<br />
da invaginação, observaram 71% de sucesso e<br />
9% de insucesso em um período de observação de 6<br />
a 128 meses.<br />
Hamasha e Alomari 17 , na Jordânia, coletaram 3.024<br />
radiografias de uma amostra aleatória de 1.660 pacientes<br />
que apresentaram 9.377 dentes. Um dente foi considerado<br />
como tendo dens invaginatus se uma invaginação de<br />
uma estrutura radiopaca como fita, igual em densidade<br />
ao esmalte, foi vista se estendendo do cíngulo ao canal<br />
radicular. Os dentes com dens invaginatus foram encontrados<br />
em 49 indivíduos de 1.660 indivíduos examinados.<br />
A prevalência foi de 2,95%. Dens invaginatus bilateral foi<br />
observado em 12 pacientes, enquanto dens invaginatus<br />
unilateral foi demonstrado em 37 pacientes. Incisivo lateral<br />
superior foi o dente mais afetado com essa condição,<br />
o que representou 90% dos casos.<br />
A introdução da TCFC traz a revolução da informação<br />
na área da saúde, tendo contribuído no planejamento,<br />
diagnóstico, terapêutica e prognóstico em várias<br />
áreas da Odontologia 9-15 . A imagem radiográfica<br />
corresponde a um aspecto bidimensional de uma estrutura<br />
tridimensional, com potencial para conduzir a<br />
erros de interpretação 18 . O planejamento, diagnóstico<br />
e prognóstico da terapia endodôntica envolve a interpretação<br />
de imagens. Novos métodos usando exames<br />
tomográficos para investigar periodontite apical e reabsorção<br />
radicular e uma nova ferramenta para uso em<br />
diversas áreas de pesquisa são sugeridos 12-16 . Em dois<br />
artigos publicados recentemente, os autores descrevem<br />
o uso da TC 7 e TCFC 17 na investigação do dens<br />
invaginatus. Patel 19 relatou um caso interessante com<br />
periodontite perirradicular crônica associada a uma<br />
invaginação infectada em um incisivo lateral inferior<br />
com rizogênese incompleta. Imagens de TCFC mostraram<br />
ausência de comunicação entre a invaginação<br />
e o canal principal. O tratamento endodôntico foi realizado<br />
na invaginação e o canal radicular com polpa<br />
vital foi mantido sem tratamento, permitindo, assim,<br />
ao dente continuar seu desenvolvimento.<br />
A TCFC permite a visualização de uma imagem<br />
tridimensional, em que um novo plano foi adicionado:<br />
a profundidade. Sua aplicação clínica permite alta<br />
precisão e é direcionada a quase todas as áreas da<br />
Odontologia (Cirurgia, Implantodontia, Odontopediatria,<br />
Ortodontia, Endodontia, Periodontia, Disfunção<br />
Temporomandibular, Diagnóstico por Imagem, etc).<br />
A visão real da associação desses indicadores com os<br />
aspectos clínicos projeta uma quarta dimensão, marcada<br />
pela exigência de tempo e espaço 20 .<br />
No presente relato de caso, a real destruição do<br />
osso cortical periapical foi detectada na superfície<br />
palatina, e a perda de osso cortical vestibular até o<br />
terço apical também pôde ser visível (Fig. 1, 2, 3). Esses<br />
aspectos não foram visualizados na radiografia periapical<br />
inicial. Em função das condições periodontais<br />
apresentadas (alta mobilidade, grande perda óssea nas<br />
faces vestibular, distal e palatina), e a necessidade de<br />
tratamento restaurador extenso, a opção de tratamento<br />
foi a extração desse dente e reabilitação bucal.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 92<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):87-93
Decurcio DA, Silva JA, Decurcio RA, Silva RG, Pécora JD<br />
Abstract<br />
The achievement of endodontic success is associated with<br />
the accurate diagnosis. To establish the diagnostic hypothesis<br />
based on periapical radiograph is a challenge for all different<br />
dentistry specialties. The visualization of three dimensional<br />
structures, available with cone beam computed tomography<br />
(CBCT), favors precise definition of the problem and treatment<br />
planning. The aim of this manuscript is to present a case report<br />
of dens invaginatus treatment planning changed by 3-D<br />
CBCT images. The complete and dynamic visualization regarded<br />
the correct endodontic-periodontal structures, suggesting<br />
type 2 dens invaginatus associated with radiolucent areas, and<br />
periodontal compromising. The adequate examination using<br />
imaging exams should be always made in conjunction with the<br />
clinical findings. The accurate management of CBCT images<br />
may reveal abnormality which is unable to be detected in periapical<br />
radiographs. The choice of clinical therapeutics for these<br />
dental anomalies was influenced by CBCT views which showed<br />
bone destruction not previously visible in initial periapical radiograph.<br />
Based on the necessity of extensive restorative treatment,<br />
the option of treatment was the extraction of this tooth<br />
and oral rehabilitation.<br />
Keywords: Dens invaginatus. <strong>Dental</strong> anomaly. Cone beam<br />
computed tomography. Endodontic diagnosis.<br />
Referências<br />
1. Hülsmann M. Dens invaginatus: aetiology, classification,<br />
prevalence, diagnosis, and treatment considerations. Int Endod J.<br />
1997;30:79-90.<br />
2. Pécora JD, Sousa-Neto MD, Costa WF. Dens invaginatus in a<br />
maxillary canine: an anatomic, macroscopic and radiographic<br />
study. Aust Endod Newsletter. 1992;18:12-21.<br />
3. Costa WF, Sousa MD Neto, Pécora JD. Upper molar dens in<br />
dens. A case report. Braz Dent J. 1990;1:45-9.<br />
4. Sousa MD Neto, Zuccolotto WG, Saquy PC, Grandini SA, Pécora<br />
JD. Treatment of dens invaginatus in a maxillary canine. Case<br />
report. Braz Dent J. 1991;2(2):147-50.<br />
5. Siqueira EL, Silva YTC, Leite AP, Pécora JD. Incidência de<br />
incisivos laterais coniformes. Rev Odonto. 1994;2(7):416-8.<br />
6. Pecora JD, Conrado CA, Zucolotto WG, Sousa MD Neto, Saquy<br />
PC. Root canal therapy of an anomalous maxillary central incisor:<br />
a case report. Dent Traumatol. 1993;9(6):260-2.<br />
7. Alani A, Bishop K. Dens invaginatus. Part 1: classification,<br />
prevalence and aetiology. Int Endod J. 2008;41(12 Pt 1):1123-36.<br />
8. Oehlers FA. Dens invaginatus. I. Variations of the invagination<br />
process and associated anterior crown forms. Oral Surg Oral Med<br />
Oral Pathol 1957;10:1204-18.<br />
9. Arai Y, Tammisalo E, Iwai K, Hashimoto K, Shinoda K.<br />
Development of a compact computed tomographic apparatus for<br />
dental use. Dentomaxillofac Radiol. 1999;28(4):245-8.<br />
10. Mozzo P, Procacci C, Taccoci A, Martini PT, Andreis IA. A new<br />
volumetric CT macine for dental imaging based on the cone-beam<br />
technique: preliminary results. Eur Radiol. 1998;8(9):1558-64.<br />
11. Cotton TP, Geisler TM, Holden DT, Schwartz SA, Schindler<br />
WG. Endodontic applications of cone-beam volumetric<br />
tomography. J Endod 2007;33(9):1121-32.<br />
12. Patel S, Dawood A, Pitt Ford T, Whaites E. The potential<br />
applications of cone beam computed tomography in the<br />
management of endodontic problems. Int Endod J. 2007;40:818-3.<br />
13. Estrela C, Bueno MR, Leles CR, Azevedo B, Azevedo JR.<br />
Accuracy of cone beam computed tomography and panoramic<br />
and periapical radiography for detection of apical periodontitis.<br />
J Endod. 2008;34(3):273-9.<br />
14. Estrela C, Bueno MR, Azevedo BC, Azevedo JR, Pécora<br />
JD. A new periapical index based on cone beam computed<br />
tomography. J Endod. 2008;34(11):1325-31.<br />
15. Estrela C, Bueno MR, Alencar AH, Mattar R, Valladares J<br />
Neto, Azevedo BC, et al. Method to evaluate inflammatory root<br />
resorption by using Cone Beam Computed Tomography. J Endod.<br />
2009;35(11):1491-7.<br />
16. Ridell K, Mejáre I, Matsson L. Dens invaginatus: a retrospective<br />
study of prophylactic invagination treatment. Int J Pediatric Dent.<br />
2001;11(2):92-7.<br />
17. Hamasha AA, Alomari QD. Prevalence of dens invaginatus in<br />
Jordanian adults. Int Endod J. 2004;37(5):307-10.<br />
18. Bender IB. Factors influencing the radiographic appearance of<br />
bone lesions. J Endod 1982;8(4):161-70.<br />
19. Patel S. The use of cone beam computed tomography in the<br />
conservative management of dens invaginatus: a case report. Int<br />
Endod J. 2010;43(8):707-13.<br />
20. Bueno MR, Estrela C. Cone beam computed tomography in<br />
endodontic diagnosis. In: Estrela C. Endodontic Science. 2ª ed.<br />
São Paulo: Artes Médicas; 2009. p.119-54.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 93<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):87-93
Normas de apresentação de originais<br />
— O <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics publica artigos de investigação<br />
científica, revisões significativas, relatos<br />
de casos clínicos e de técnicas, comunicações breves<br />
e outros materiais relacionados à Endodontia.<br />
— O <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics utiliza o Sistema de Gestão<br />
de Publicação, um sistema on-line de submissão<br />
e avaliação de trabalhos. Para submeter novos trabalhos<br />
visite o site:<br />
www.dentalpressjournals.com<br />
— Outros tipos de correspondência poderão ser enviados<br />
para:<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> International<br />
Av. Euclides da Cunha 1718, Zona 5<br />
CEP: 87.015-180, Maringá/PR<br />
Tel.: (44) 3031-9818<br />
E-mail: artigos@dentalpress.com.br<br />
— As declarações e opiniões expressas pelo(s)<br />
autor(es) não necessariamente correspondem às<br />
do(s) editor(es) ou publisher, os quais não assumirão<br />
qualquer responsabilidade pelas mesmas. Nem o(s)<br />
editor(es) nem o publisher garantem ou endossam<br />
qualquer produto ou serviço anunciado nesta publicação<br />
ou alegação feita por seus respectivos fabricantes.<br />
Cada leitor deve determinar se deve agir<br />
conforme as informações contidas nesta publicação.<br />
A Revista ou as empresas patrocinadoras não serão<br />
responsáveis por qualquer dano advindo da publicação<br />
de informações errôneas.<br />
— Os trabalhos apresentados devem ser inéditos e<br />
não publicados ou submetidos para publicação em<br />
outra revista. Os manuscritos serão analisados pelo<br />
editor e consultores, e estão sujeitos a revisão editorial.<br />
Os autores devem seguir as orientações descritas<br />
adiante.<br />
ORIENTAÇÕES PARA SUBMISSÃO<br />
Dos MANUSCRITOS<br />
— Os trabalhos devem, preferencialmente, ser escritos<br />
em língua inglesa.<br />
— Apesar de ser oficialmente publicado em inglês, o<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics conta ainda com sua versão<br />
em língua portuguesa. Por isso serão aceitas,<br />
também, submissões de artigos em português.<br />
— Nesse caso, após terem sido avaliados e aprovados,<br />
os autores deverão enviar a versão em inglês de<br />
seus trabalhos.<br />
— Essa versão será submetida à aprovação do Conselho<br />
Editorial e deverá apresentar adequada qualidade<br />
vernacular.<br />
formatação Dos MANUSCRITOS<br />
1. Página de título<br />
— deve conter título em português e inglês, resumo e<br />
abstract, palavras-chave e keywords.<br />
— não inclua informações relativas aos autores, por<br />
exemplo: nomes completos dos autores, títulos<br />
acadêmicos, afiliações institucionais e/ou cargos<br />
administrativos. Elas deverão ser incluídas apenas<br />
nos campos específicos no site de submissão de artigos.<br />
Assim, essas informações não estarão disponíveis<br />
para os revisores.<br />
2. Resumo/Abstract<br />
— os resumos estruturados, em português e inglês, de<br />
250 palavras ou menos são os preferidos.<br />
— os resumos estruturados devem conter as seções:<br />
INTRODUÇÃO, com a proposição do estudo; MÉ-<br />
TODOS, descrevendo como o mesmo foi realizado;<br />
RESULTADOS, descrevendo os resultados primários;<br />
e CONCLUSÕES, relatando o que os autores<br />
concluíram dos resultados, além das implicações<br />
clínicas.<br />
— os resumos devem ser acompanhados de 3 a 5 palavras-chave,<br />
ou descritores, também em português<br />
e em inglês, as quais devem ser adequadas conforme<br />
o MeSH/DeCS.<br />
3. Texto<br />
— o texto deve ser organizado nas seguintes seções:<br />
Introdução, Material e Métodos, Resultados, Discussão,<br />
Conclusões, Referências, e Legendas das<br />
figuras.<br />
— os textos devem ter o número máximo de 4.000 palavras,<br />
incluindo legendas das figuras, resumo, abstract<br />
e referências.<br />
— envie as figuras em arquivos separados (ver logo<br />
abaixo).<br />
— também insira as legendas das figuras no corpo do<br />
texto, para orientar a montagem final do artigo.<br />
4. Figuras<br />
— as imagens digitais devem ser no formato JPG ou<br />
TIF, em CMYK ou tons de cinza, com pelo menos 7<br />
cm de largura e 300 dpis de resolução.<br />
— as imagens devem ser enviadas em arquivos independentes.<br />
— se uma figura já foi publicada anteriormente, sua<br />
legenda deve dar todo o crédito à fonte original.<br />
— todas as figuras devem ser citadas no texto.<br />
5. Gráficos<br />
— devem ser enviados os arquivos contendo as versões<br />
originais dos gráficos e traçados, nos programas<br />
que foram utilizados para sua confecção.<br />
— não é recomendado o envio dos mesmos apenas<br />
em formato de imagem bitmap (não editável).<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 94<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):94-6
Normas de apresentação de originais<br />
Souza RA, Figueiredo JAP, Colombo S, Dantas JCP, Lago M, Pécora JD<br />
— os desenhos enviados podem ser melhorados ou<br />
redesenhados pela produção da revista, a critério<br />
do Corpo Editorial.<br />
6. Tabelas<br />
— as tabelas devem ser autoexplicativas e devem<br />
complementar, e não duplicar o texto.<br />
— devem ser numeradas com algarismos arábicos, na<br />
ordem em que são mencionadas no texto.<br />
— forneça um breve título para cada uma.<br />
— se uma tabela tiver sido publicada anteriormente,<br />
inclua uma nota de rodapé dando crédito à fonte<br />
original.<br />
— apresente as tabelas como arquivo de texto (Word<br />
ou Excel, por exemplo), e não como elemento gráfico<br />
(imagem não editável).<br />
7. Copyright Assignment<br />
— Todos os manuscritos devem ser acompanhados<br />
da seguinte declaração escrita e assinada pelo autor<br />
principal: “Uma vez que o artigo seja publicado,<br />
o autor abaixo-assinado atribui todos os direitos autorais<br />
do manuscrito [insira aqui o título do artigo]<br />
para a <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> International O autor garante<br />
que este é um artigo original e que não viola qualquer<br />
direito autoral ou outros direitos de terceirosproprietários,<br />
que não está sob consideração para<br />
publicação por outra revista e não foi publicado<br />
previamente, seja em formato impresso ou eletrônico.<br />
Tenho a honra de assinar esta declaração e<br />
aceitar a plena responsabilidade pela publicação do<br />
artigo acima referido”.<br />
_ Este documento de cessão de direitos autorais deve<br />
ser escaneado ou digitalizado e enviado juntamente<br />
com o artigo.<br />
8. Comitês de Ética<br />
— Os artigos devem, se aplicável, fazer referência a<br />
pareceres de Comitês de Ética.<br />
9. Referências<br />
— todos os artigos citados no texto devem constar na<br />
lista de referências.<br />
— todas as referências listadas devem ser citadas no<br />
texto.<br />
— com o objetivo de facilitar a leitura do texto, as referências<br />
serão citadas no texto apenas indicando a<br />
sua numeração.<br />
— as referências devem ser identificadas no texto por<br />
números arábicos sobrescritos e numeradas na ordem<br />
em que são citadas no texto.<br />
— as abreviações dos títulos dos periódicos devem ser<br />
normalizadas de acordo com as publicações “Index<br />
Medicus” e “Index to <strong>Dental</strong> Literature”.<br />
— a exatidão das referências é de responsabilidade<br />
dos autores; as mesmas devem conter todos os dados<br />
necessários à sua identificação.<br />
— as referências devem ser apresentadas no final do<br />
texto obedecendo às Normas Vancouver (http://<br />
www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.<br />
html).<br />
— utilize os exemplos a seguir:<br />
Artigos com até seis autores<br />
Vier FV, Figueiredo JAP. Prevalence of different<br />
periapical lesions associated with human teeth<br />
and their correlation with the presence and extension<br />
of apical external root resorption. Int Endod J<br />
2002;35:710-9.<br />
Artigos com mais de seis autores<br />
De Munck J, Van Landuyt K, Peumans M, Poitevin<br />
A, Lambrechts P, Braem M, et al. A critical review<br />
of the durability of adhesion to tooth tissue: methods<br />
and results. J Dent Res. 2005 Feb;84(2):118-32.<br />
Capítulo de livro<br />
Nair PNR. Biology and pathology of apical periodontitis.<br />
In: Estrela C. Endodontic Science. São<br />
Paulo: Artes Médicas; 2009. v. 1. p. 285-348.<br />
Capítulo de livro com editor<br />
Breedlove GK, Schorfheide AM. Adolescent pregnancy.<br />
2 nd ed. Wieczorek RR, editor. White Plains<br />
(NY): March of Dimes Education Services; 2001.<br />
Dissertação, tese e trabalho de conclusão de curso<br />
Debelian GJ. Bacteremia and Fungemia in patients<br />
undergoing endodontic therapy. [Thesis]. Oslo -<br />
Norway: University of Oslo, 1997.<br />
Formato eletrônico<br />
Câmara CALP. Estética em Ortodontia: Diagramas<br />
de Referências Estéticas Dentárias (DRED) e Faciais<br />
(DREF). Rev <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Ortod Ortop Facial.<br />
2006 nov-dez;11(6):130-56. [Acesso 12 jun 2008].<br />
Disponível em: www.scielo.br/pdf/dpress/v11n6/<br />
a15v11n6.pdf.<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 95<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):94-6
Normas de apresentação de originais<br />
[ artigo original ] Posição do forame apical e sua relação com o calibre do instrumento foraminal<br />
1. O registro de ensaios clínicos<br />
Os ensaios clínicos se encontram entre as melhores evidências<br />
para tomada de decisões clínicas. Considera-se ensaio<br />
clínico todo projeto de pesquisa com pacientes que seja prospectivo,<br />
nos quais exista intervenção clínica ou medicamentosa<br />
com objetivo de comparação de causa/efeito entre os grupos<br />
estudados e que, potencialmente, possa ter interferência sobre a<br />
saúde dos envolvidos.<br />
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os ensaios<br />
clínicos controlados aleatórios e os ensaios clínicos devem ser notificados<br />
e registrados antes de serem iniciados.<br />
O registro desses ensaios tem sido proposto com o intuito<br />
de identificar todos os ensaios clínicos em execução e seus respectivos<br />
resultados, uma vez que nem todos são publicados em<br />
revistas científicas; preservar a saúde dos indivíduos que aderem<br />
ao estudo como pacientes; bem como impulsionar a comunicação<br />
e a cooperação de instituições de pesquisa entre si e com as<br />
parcelas da sociedade com interesse em um assunto específico.<br />
Adicionalmente, o registro permite reconhecer as lacunas no conhecimento<br />
existentes em diferentes áreas, observar tendências<br />
no campo dos estudos e identificar os especialistas nos assuntos.<br />
Reconhecendo a importância dessas iniciativas e para que<br />
as revistas da América Latina e Caribe sigam recomendações<br />
e padrões internacionais de qualidade, a BIREME recomendou<br />
aos editores de revistas científicas da área da saúde indexadas<br />
na Scientific Library Electronic Online (SciELO) e na LI-<br />
LACS (Literatura Latino-americana e do Caribe de Informação<br />
em Ciências da Saúde) que tornem públicas estas exigências e<br />
seu contexto. Assim como na base MEDLINE, foram incluídos<br />
campos específicos na LILACS e SciELO para o número de<br />
registro de ensaios clínicos dos artigos publicados nas revistas<br />
da área da saúde.<br />
Ao mesmo tempo, o International Committee of Medical<br />
Journal Editors (ICMJE) sugeriu aos editores de revistas científicas<br />
que exijam dos autores o número de registro no momento<br />
da submissão de trabalhos. O registro dos ensaios clínicos pode<br />
ser feito em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados<br />
pela OMS e ICMJE, cujos endereços estão disponíveis no site<br />
do ICMJE. Para que sejam validados, os Registros de Ensaios<br />
Clínicos devem seguir um conjunto de critérios estabelecidos<br />
pela OMS.<br />
2. Portal para divulgação e registro dos ensaios<br />
A OMS, com objetivo de fornecer maior visibilidade aos Registros<br />
de Ensaios Clínicos validados, lançou o portal WHO Clinical<br />
Trial Search Portal (http://www.who.int/ictrp/network/en/<br />
index.html), com interface que permite busca simultânea em diversas<br />
bases. A pesquisa, nesse portal, pode ser feita por palavras,<br />
pelo título dos ensaios clínicos ou pelo número de identificação. O<br />
resultado mostra todos os ensaios existentes, em diferentes fases<br />
de execução, com enlaces para a descrição completa no Registro<br />
Primário de Ensaios Clínicos correspondente.<br />
A qualidade da informação disponível nesse portal é garantida<br />
pelos produtores dos Registros de Ensaios Clínicos que<br />
integram a rede recém-criada pela OMS: WHO Network of<br />
Collaborating Clinical Trial Registers. Essa rede permitirá o intercâmbio<br />
entre os produtores dos Registros de Ensaios Clínicos<br />
para a definição de boas práticas e controles de qualidade. Os<br />
sites para que possam ser feitos os registros primários de ensaios<br />
clínicos são: www.actr.org.au (Australian Clinical Trials Registry),<br />
www.clinicaltrials.gov e http://isrctn.org (International<br />
Standard Randomised Controlled Trial Number Register (ISRC-<br />
TN). Os registros nacionais estão sendo criados e, na medida<br />
do possível, os ensaios clínicos registrados nos mesmos serão<br />
direcionados para os recomendados pela OMS.<br />
A OMS propõe um conjunto mínimo de informações que<br />
devem ser registradas sobre cada ensaio, como: número único<br />
de identificação, data de registro do ensaio, identidades secundárias,<br />
fontes de financiamento e suporte material, principal patrocinador,<br />
outros patrocinadores, contato para dúvidas do público,<br />
contato para dúvidas científicas, título público do estudo, título<br />
científico, países de recrutamento, problemas de saúde estudados,<br />
intervenções, critérios de inclusão e exclusão, tipo de estudo, data<br />
de recrutamento do primeiro voluntário, tamanho pretendido da<br />
amostra, status do recrutamento e medidas de resultados primárias<br />
e secundárias.<br />
Atualmente, a Rede de Colaboradores está organizada em<br />
três categorias:<br />
- Registros Primários: cumprem com os requisitos mínimos e<br />
contribuem para o Portal;<br />
- Registros Parceiros: cumprem com os requisitos mínimos,<br />
mas enviam os dados para o Portal somente através de parceria<br />
com um dos Registros Primários;<br />
- Registros Potenciais: em processo de validação pela Secretaria<br />
do Portal, ainda não contribuem para o Portal.<br />
3. Posicionamento do <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics<br />
O DENTAL PRESS ENDODONTICS apoia as políticas<br />
para registro de ensaios clínicos da Organização Mundial<br />
da Saúde - OMS (http://www.who.int/ictrp/en/) e do International<br />
Committee of Medical Journal Editors – ICMJE<br />
(http://www.wame.org/wamestmt.htm#trialreg e http://<br />
www.icmje.org/clin_trialup.htm), reconhecendo a importância<br />
dessas iniciativas para o registro e divulgação internacional<br />
de informação sobre estudos clínicos, em acesso<br />
aberto. Sendo assim, seguindo as orientações da BIREME/<br />
OPAS/OMS para a indexação de periódicos na LILACS<br />
e SciELO, somente serão aceitos para publicação os artigos<br />
de pesquisas clínicas que tenham recebido um número<br />
de identificação em um dos Registros de Ensaios Clínicos,<br />
validados pelos critérios estabelecidos pela OMS e ICMJE,<br />
cujos endereços estão disponíveis no site do ICMJE: http://<br />
www.icmje.org/faq.pdf. O número de identificação deverá<br />
ser registrado ao final do resumo.<br />
Consequentemente, recomendamos aos autores que procedam<br />
o registro dos ensaios clínicos antes do início de<br />
sua execução.<br />
Atenciosamente,<br />
Carlos Estrela<br />
Editor do <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics - ISSN 2178-3713<br />
E-mail: estrela3@terra.com.br<br />
© 2011 <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endodontics 96<br />
<strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Endod. 2011 apr-june;1(1):94-6
Sistema Endo-Eze ® AET<br />
SISTEMA OSCILATÓRIO DE PREPARO ENDODÔNTICO<br />
Contra-Ângulo Endo-Eze ®<br />
• Movimento oscilatório de 30º que traz segurança contra desvios<br />
• Desenvolvido para ser usado em conjunto com o micromotor da<br />
cadeira odontológica<br />
Limas Endo-Eze ®<br />
• Aço inoxidável<br />
• Desenho inovador que permite resistência e fl exibilidade<br />
• Disponível em 4 comprimentos: 17mm, 21mm, 24mm e 27mm<br />
»<br />
Cor<br />
Diâmetro da<br />
Ponta<br />
Conicidade<br />
Amarela #10 0.025<br />
Vermelha #13 0.035<br />
Azul #13 0.045<br />
Verde #13 0.060<br />
REMOÇÃO DE INTERFERÊNCIAS<br />
Endo-Eze ® AET atua no achatamento presente no terço médio dos<br />
dentes, liberando as interferências para o livre acesso ao terço apical.<br />
Limpeza e preparo de todos os<br />
tipos de anatomia interna com<br />
segurança<br />
Evita desgaste excessivo<br />
dentinário em áreas de risco<br />
www.ultradent.com.br<br />
DESENVOLVENDO A SAÚDE ORAL GLOBALMENTE