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religião, moral e metafísica em human, demasiado humano ... - FaJe

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Que um dia poderão existir tais espíritos livres, que a nossa Europa terá esses<br />

colegas ágeis e audazes entre os seus filhos de amanhã, <strong>em</strong> carne e osso e<br />

palpáveis, e não apenas, como para mim, <strong>em</strong> forma de espectros e sombras de<br />

um er<strong>em</strong>ita: disso serei o último a duvidar. Já os vejo que aparec<strong>em</strong>, gradual<br />

e lentamente; e talvez eu contribua para apressar sua vinda, se descrever de<br />

ant<strong>em</strong>ão sob que fados os vejo nascer, por quais caminhos aparecer.<br />

(NIETZSCHE, 2000, p. 9)<br />

Aqui, parece-nos que o próprio filósofo se tornou um desses espíritos livres,<br />

caráter marcante de sua postura desmistificadora, capaz de se distanciar do próximo e de<br />

si mesmo para experimentar, pensar e galgar livr<strong>em</strong>ente caminhos que até então não<br />

haviam sido percorridos. Assim, o filósofo continua a enfatizar a respeito da sabedoria<br />

de vida natural desse espírito livre e receita para si mesmo a saúde <strong>em</strong> pequenas doses e<br />

muito lentamente de que ele necessita, <strong>em</strong> busca de olhares distantes e profundos acerca<br />

da própria vida.<br />

Para Nietzsche, a criação das virtudes pelo espírito livre é dada no<br />

experimento mesmo e o probl<strong>em</strong>a da perspectiva <strong>moral</strong> condicionada pela hierarquia é o<br />

que impede tal espírito de avançar. Dessa forma, o filósofo chama a atenção para a<br />

renúncia de tudo que até então se venerava, renunciando, inclusive, até mesmo a própria<br />

veneração, passando a se perguntar permanent<strong>em</strong>ente com profunda suspeita o porquê<br />

desse ódio às suas próprias virtudes. Assim obtém como resposta o que o próprio<br />

filósofo descreve nessa passag<strong>em</strong>:<br />

“Você deve tornar-se senhor de si mesmo, senhor também de suas próprias<br />

virtudes. Antes eram elas os senhores; mas não pod<strong>em</strong> ser mais que seus<br />

instrumentos, ao lado de outros instrumentos. Você deve ter domínio sobre o<br />

seu pró e o seu contra, e aprender a mostrá-los e novamente guardá-los de<br />

acordo com seus fins. Você deve aprender a perceber o que há de<br />

perspectivista <strong>em</strong> cada valoração – o deslocamento, a distorção e a aparente<br />

teleologia dos horizontes, e tudo o que se relaciona à perspectiva; também o<br />

quê de estupidez que há nas oposições de valores e a perda intelectual com<br />

que se paga todo pró e todo contra. Você deve aprender a injustiça necessária<br />

de todo pró e contra, a injustiça como indissociável da vida, a própria vida<br />

como condicionada pela perspectiva e sua injustiça. Você deve sobretudo ver<br />

com seus olhos onde a injustiça é maior: ali onde a vida se desenvolveu ao<br />

mínimo, do modo mais estreito, carente, incipiente, e no entanto não pode<br />

deixar de se considerar fim e medida das coisas e <strong>em</strong> nome de sua<br />

preservação despedaçar e questionar o que for mais elevado, maior e mais<br />

rico, secreta e mesquinhamente, incessant<strong>em</strong>ente – você deve olhar com seus<br />

olhos o probl<strong>em</strong>a da hierarquia, e como poder, direito e amplidão das<br />

perspectivas cresc<strong>em</strong> conjuntamente às alturas. Você deve” – basta, o espírito<br />

livre sabe agora a qual “você deve” obedecer, e também do que agora é<br />

capaz, o que somente agora lhe é – permitido.... (NIETZSCHE, 2000, p. 12-<br />

13)<br />

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