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religião, moral e metafísica em human, demasiado humano ... - FaJe

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Nietzsche então questiona qual a posição a ser tomada pelo espírito livre<br />

para sua grande libertação, já que, até o momento, ele parece encontrar-se preso aos<br />

ideais da cultura. Dessa forma:<br />

Pode-se conjecturar que um espírito no qual o tipo do "espírito livre" deva<br />

algum dia tornar-se maduro e doce até a perfeição tenha tido seu evento<br />

decisivo numa grande liberação, e que anteriormente parecesse ainda mais<br />

atado e para s<strong>em</strong>pre acorrentado a seu canto e a sua coluna. O que liga mais<br />

fort<strong>em</strong>ente? Que laços são quase indissolúveis? (NIETZSCHE, 2000, p. 9)<br />

De acordo com Lobosque,<br />

O filósofo trata da “grande liberação” que Humano, d<strong>em</strong>asiadamente <strong>human</strong>o<br />

lhe parece representar <strong>em</strong> sua trajetória. Ilustra-a através da imag<strong>em</strong> de um<br />

hom<strong>em</strong> até então atado à sua coluna pelos laços que ligam e obrigam mais<br />

fort<strong>em</strong>ente os espíritos mais seletos: seus mais altos deveres, tais como “a<br />

gratidão pelo solo do qual vieram, pela mão que os guiou, pelo santuário<br />

onde aprenderam a adorar”. Para um hom<strong>em</strong> assim contido, a grande<br />

liberação v<strong>em</strong> como um tr<strong>em</strong>or de terra: domina-o um impulso, uma vontade<br />

de exílio e esfriamento; quer impetuosamente fugir do “aqui” e do “<strong>em</strong> casa”<br />

que fora até então objeto de todo o seu amor. Se esse abandono de tudo a que<br />

até então se adorava causa certa vergonha, surge também a alegria de ter<br />

conseguido fazê-lo: a liberação é ao mesmo t<strong>em</strong>po uma perigosa doença e<br />

uma grande vitória. Há algo de selvag<strong>em</strong> e de excêntrico nesta “primeira<br />

erupção de vontade e força de autodeterminação, de determinação própria de<br />

valores, essa vontade de livre vontade”. (LOBOSQUE, 2010, p. 217)<br />

Lobosque conclui que “apenas o hom<strong>em</strong> de vontade livre é capaz de um<br />

contraideal: nele, as vontades de poder se configuram de outra maneira, num excesso de<br />

forças plásticas que caracterizam a grande saúde” (LOBOSQUE, 2010, p. 213).<br />

Nietzsche descreve essa vontade do espírito livre nos mostrando que “com riso<br />

maldoso, ele revolve o que encontra encoberto, poupado por algum pudor: experimenta<br />

como se mostram as coisas, quando são reviradas” (NIETZSCHE, 2000, p. 10). Dessa<br />

forma, propõe para superação do que está encoberto pelo pensamento metafísico a<br />

própria inversão dos valores e compl<strong>em</strong>enta:<br />

"Não é possível revirar todos os valores? E o B<strong>em</strong> não seria Mal? E Deus<br />

apenas uma invenção e finura do D<strong>em</strong>ônio? Seria tudo falso, afinal? E se<br />

todos somos enganados, por isso mesmo não somos também enganadores?<br />

Não t<strong>em</strong>os de ser também enganadores?" – Tais pensamentos o conduz<strong>em</strong> e<br />

seduz<strong>em</strong>, s<strong>em</strong>pre mais além, s<strong>em</strong>pre mais à parte. A solidão o cerca e o<br />

abraça, s<strong>em</strong>pre mais ameaçadora, asfixiante, opressiva, terrível deusa e mater<br />

saeva cupidinum [selvag<strong>em</strong> mãe das paixões] – Mas qu<strong>em</strong> sabe hoje o que é<br />

solidão? (NIETZSCHE, 2000, p. 10)<br />

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