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religião, moral e metafísica em human, demasiado humano ... - FaJe

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S<strong>em</strong> dúvida, um dos grandes e inestimáveis benefícios que nos v<strong>em</strong> de<br />

Schopenhauer é que ele obriga nossa sensibilidade a retornar por um<br />

momento a formas antigas e potentes de ver o mundo e os homens, às quais<br />

nenhum outro caminho nos levaria tão facilmente. O ganho para a história e a<br />

justiça é muito grande: creio que ninguém hoje conseguiria facilmente, s<strong>em</strong> a<br />

ajuda de Schopenhauer, fazer justiça ao cristianismo e seus parentes<br />

asiáticos: o que é impossível, sobretudo, partindo do terreno do cristianismo<br />

existente. Somente após esse grande êxito da justiça, somente após termos<br />

corrigido, num ponto tão essencial, a concepção histórica que a era do<br />

Iluminismo trouxe consigo, poder<strong>em</strong>os de novo levar adiante a bandeira do<br />

Iluminismo – a bandeira com os três nomes: Petrarca, Erasmo, Voltaire.<br />

(NIETZSCHE, 2000, p. 35)<br />

O que Nietzsche pensa é que se tornou necessário uma reação nova para<br />

levantar a bandeira do progresso, um novo Iluminismo, já que Schopenhauer ajudou a<br />

atrasar esse progresso, ao restaurar as bases cristãs. Nietzsche entende que esta reação<br />

encontra o caminho para dissipar a crença desses ideais e procura fundamentá-la, ao<br />

fazer uma crítica da história de como esses ideais aparec<strong>em</strong>. O que, s<strong>em</strong> dúvida,<br />

justifica romper com o pensamento de Wagner e Schopenhauer, uma vez que eles se<br />

enquadravam nesse sist<strong>em</strong>a de crença fundado <strong>em</strong> ideais permanentes. Nietzsche evita e<br />

aponta como um probl<strong>em</strong>a, a confiança naqueles pensamentos sist<strong>em</strong>atizadores, já que<br />

para o filósofo “a vontade de sist<strong>em</strong>a é uma falta de retidão” (NIETZSCHE, 2006, p.<br />

13).<br />

Na interpretação de Fink, e acompanhando o raciocínio de Nietzsche, os<br />

pensamentos são na verdade reflexos da história, do test<strong>em</strong>unho, constitu<strong>em</strong>-se <strong>em</strong><br />

formas de se expressar, apresentam-se como sintomas:<br />

Nietzsche desenvolveu a sofística, não como uma arte da polêmica, não no<br />

plano da retórica, mas sim como método da interpretação de sinais: desde<br />

logo os pensamentos não são verdades ou falsidades, mas sintomas vitais,<br />

sinais reveladores de uma existência. (FINK, 1988. p. 47)<br />

Conclui-se, portanto, que não se pod<strong>em</strong> fazer afirmações morais <strong>em</strong> que o<br />

caráter absoluto da verdade prevaleça. Não existe uma única verdade 11 <strong>moral</strong> que não<br />

esteja ligada a um t<strong>em</strong>po histórico, ou uma situação que não seja sintoma da existência<br />

<strong>human</strong>a que não possa ser reinterpretada. A crítica feita pelo filósofo aos valores morais<br />

11 Este assunto pode ser encontrado <strong>em</strong>: ABEL, Günter. Verdade e Interpretação. Cadernos Nietzsche.<br />

São Paulo, n.12, p. 15-32, 2002.<br />

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