religião, moral e metafÃsica em human, demasiado humano ... - FaJe
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Em oposição a Schopenhauer que, frente à falta de sentido da vida, via a<br />
única saída na resignação, na conformidade, no ascetismo e na negação 10 , Nietzsche<br />
substitui pessimismo por força, por saúde, por alegria e por afirmação da vida. Para<br />
Nietzsche (2008), a influência do pessimismo de Schopenhauer fez com que o filósofo<br />
passasse a negar sua “vontade de vida”.<br />
A intuição e a força criadora agora é que vão preparar o hom<strong>em</strong> para um<br />
além-do-hom<strong>em</strong>. O hom<strong>em</strong> nietzschiano t<strong>em</strong> o olhar voltado para cima, com alegria e<br />
domínio, s<strong>em</strong>pre para frente. O hom<strong>em</strong> schopenhauriano t<strong>em</strong> seu olhar voltado para<br />
baixo, um olhar resignado e compassivo. Nietzsche vê a representação da vida como um<br />
b<strong>em</strong>, como sendo algo desejável e alegre. Já a filosofia de Schopenhauer coloca o<br />
sofrimento <strong>em</strong> primeiro plano e a miséria da existência da vida é representada aqui<br />
como um mal e como algo indesejável, resultando <strong>em</strong> “niilismo”, como já havia sido<br />
apontado acima por Lopes (2008).<br />
O filósofo descreve sua vontade de afirmar a vida na sua totalidade, e ao<br />
contrário do pensamento pessimista de Schopenhauer, ele dirá de si mesmo:<br />
Tomei a mim mesmo <strong>em</strong> mãos, curei a mim mesmo: a condição para isso –<br />
qualquer fisiólogo admitirá – é ser no fundo sadio. De fato, assim me aparece<br />
agora aquele longo t<strong>em</strong>po de doença: descobri a vida e a mim mesmo como<br />
que de novo, saboreei todas as boas e mesmo pequenas coisas, como outros<br />
não as teriam sabido saborear – fiz da minha vontade de saúde, de vida, a<br />
minha filosofia... Pois atente-se para isso: foi durante os anos de minha<br />
menor vitalidade que deixei de ser um pessimista: o instinto de<br />
autorrestabelecimento proibiu-me uma filosofia da pobreza e do desânimo.<br />
(NIETZSCHE, 2008, p. 23)<br />
Dessa forma, ao criticar o ascetismo de Schopenhauer, Nietzsche chegará ao<br />
cerne da questão que o motiva a fazer sua desconstrução desses ideais ascéticos pelos<br />
caminhos da crítica da <strong>moral</strong>. O que o filósofo pretende é afirmar a vida na sua<br />
totalidade e o ascetismo não possibilitaria essa afirmação, ao contrário, visava mesmo à<br />
negação de si.<br />
Mais tarde, <strong>em</strong> sua autobiografia, no livro Ecce Homo, escrito <strong>em</strong> 1888,<br />
Nietzsche (2008) prefere enfatizar a diferença <strong>em</strong> relação ao antigo mestre, afirmando<br />
10 Sobre o assunto que trata da negação e afirmação da vida, é preciso consultar: SAMPAIO, Evaldo;<br />
DOMINGUES, Ivan. UFMG. Por que somos decadentes: afirmação e negação da vida segundo<br />
Nietzsche. - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009. 333 f. Tese (doutorado)<br />
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