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religião, moral e metafísica em human, demasiado humano ... - FaJe

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Mas o que s<strong>em</strong>pre necessitei mais urgent<strong>em</strong>ente, para minha cura e<br />

restauração própria, foi a crença de não ser de tal modo solitário, de não ver<br />

assim solitariamente – uma mágica intuição de s<strong>em</strong>elhança e afinidade de<br />

olhar e desejo, um repousar na confiança da amizade, uma cegueira a dois<br />

s<strong>em</strong> interrogação n<strong>em</strong> suspeita, uma fruição de primeiros planos, de<br />

superfícies, do que é próximo e está perto, de tudo o que t<strong>em</strong> cor, pele e<br />

aparência. Talvez me censur<strong>em</strong> muita "arte" nesse ponto, muita sutil<br />

falsificação de moeda: que eu, por ex<strong>em</strong>plo, de maneira conscientecaprichosa<br />

fechei os olhos à cega vontade de <strong>moral</strong> de Schopenhauer, num<br />

t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que já era clarividente o bastante acerca da <strong>moral</strong>; e também que<br />

me enganei quanto ao incurável romantismo de Richard Wagner, como se ele<br />

fosse um início e não um fim; também quanto aos gregos, também com os<br />

al<strong>em</strong>ães e seu futuro – e talvez se fizesse toda uma lista desses tambéns...<br />

(NIETZSCHE, 2000, p. 8)<br />

No prefácio de Humano, d<strong>em</strong>asiado <strong>human</strong>o, é possível entender por que o<br />

filósofo se afasta definitivamente daqueles por qu<strong>em</strong> um dia se deixou seduzir, pois esta<br />

era a única maneira de ele buscar sua grande libertação e restauração. Ao seguir um<br />

caminho próprio, Nietzsche seguiu sua intuição, s<strong>em</strong> se deixar levar por nenhum tipo de<br />

arrependimento. Teve vontade própria para buscar aquilo que acreditava ser novidade,<br />

aquilo que seria curiosamente a chave para alçar voos mais altos, seguindo adiante pelo<br />

mundo a ser desvendado, desvelado, superado.<br />

A proposta da crítica da <strong>moral</strong> feita pelo filósofo, na obra aqui investigada,<br />

começa a adquirir corpo para que ele possa fazer uma análise psicológica dos chamados<br />

sentimentos morais, ao criticar a metafísica da vontade de Schopenhauer, na busca de<br />

superá-la.<br />

De acordo com Lopes:<br />

A tese nuclear do ascetismo schopenhaueriano, segundo a qual o intelecto é<br />

capaz <strong>em</strong> certas circunstâncias de se libertar do jugo da vontade, negar-se a si<br />

mesmo enquanto indivíduo <strong>em</strong>pírico e converter-se <strong>em</strong> puro sujeito do<br />

conhecimento, não é plausível n<strong>em</strong> do ponto de vista da psicologia, dado a<br />

tese do primado da vontade sobre o intelecto, n<strong>em</strong> do ponto de vista da<br />

metafísica de Schopenhauer, dado o fato de que nada há para além da<br />

Vontade. Para tornar sua filosofia <strong>moral</strong> consistente, Schopenhauer teria duas<br />

opções: ou negar a responsabilidade <strong>moral</strong> pelo caráter inteligível, tal como<br />

ele a negou para as ações do indivíduo <strong>em</strong>pírico, mas isso implicaria um<br />

abandono da interpretação <strong>moral</strong> do mundo (esta será a solução adotada por<br />

Nietzsche, implicitamente nas obras de juventude e explicitamente a partir de<br />

Humano, d<strong>em</strong>asiado Humano); ou tratar o conceito de liberdade como um<br />

postulado prático, o que significaria um regresso à posição kantiana e uma<br />

revisão das pr<strong>em</strong>issas deterministas do sist<strong>em</strong>a metafísico. (LOPES, 2008, p.<br />

115)<br />

Nesse contexto que se desenha, o projeto do filósofo, que visa abandonar a<br />

<strong>moral</strong> apoiada num plano inteligível, faz com que ele passe a perceber a vida na sua<br />

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