religião, moral e metafÃsica em human, demasiado humano ... - FaJe
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entende que:<br />
A essa vertente de intérpretes pertence Dias (2009) que, como Lopes,<br />
Apesar de todos os argumentos favoráveis à tese de que Nietzsche só rompeu<br />
com Schopenhauer na época <strong>em</strong> que estava escrevendo Humano, d<strong>em</strong>asiado<br />
<strong>human</strong>o, a sua desconfiança <strong>em</strong> relação à metafísica de Schopenhauer já<br />
existia desde o início, <strong>em</strong> 1867, dois anos após ele ter descoberto O mundo<br />
como vontade e representação. (DIAS, 2009, p. 47)<br />
Já a amizade e cumplicidade entre Richard Wagner e Nietzsche foi, como se<br />
sabe, rompida de modo público, <strong>em</strong> 1878, com a publicação de Humano, d<strong>em</strong>asiado<br />
<strong>human</strong>o. Aqui também o filósofo dará uma nova roupag<strong>em</strong> crítica a seu pensamento<br />
metafísico da juventude, que sofrera a influência da filosofia de Schopenhauer.<br />
O que unia as reflexões de juventude de Nietzsche com o pensamento de<br />
Wagner era exatamente a postura crítica do músico ao cristianismo e a valorização do<br />
pensamento trágico dos gregos, além de permanecer<strong>em</strong> unidos na crítica da cultura de<br />
sua época. Para Macedo, “tanto para Nietzsche quanto para Wagner a superação da<br />
concepção cristã do mundo é absolutamente necessária ao processo de renascimento da<br />
tragédia” (MACEDO, 2005, p. 285).<br />
O que de fato irá identificar e selar esse rompimento se traduz <strong>em</strong> uma forte<br />
crítica de Nietzsche ao músico, principalmente porque este agora se volta para o<br />
cristianismo e também porque o filósofo percebe nele uma postura ascética, cujo caráter<br />
não aponta para aquilo que um dia ele acreditou ser Wagner – um grande reformador de<br />
sua cultura, juntamente com ele próprio.<br />
Concomitante com a crítica a Wagner, o filósofo passa a identificar no<br />
músico a influência do ascetismo <strong>moral</strong> de Shopenhauer. Assim, Nietzsche interpreta<br />
toda <strong>moral</strong> de cunho metafísico-platônico-cristão como aquela que atrofia e nega a vida<br />
e vê agora Schopenhauer e Wagner como adeptos. Em relação ao ascetismo de Wagner<br />
influenciado, sobretudo, por Schopenhauer, Nietzsche dirá <strong>em</strong> sua obra Genealogia da<br />
<strong>moral</strong>:<br />
O que significam os ideais ascéticos? – Ou, tomando um caso individual<br />
acerca do qual frequent<strong>em</strong>ente me ped<strong>em</strong> opinião, o que significa, por<br />
ex<strong>em</strong>plo, um artista como Richard Wagner render homenag<strong>em</strong> à castidade<br />
<strong>em</strong> sua velhice? É verdade que <strong>em</strong> certo sentido, ele s<strong>em</strong>pre o fez; mas<br />
apenas b<strong>em</strong> no final <strong>em</strong> um sentido ascético. O que significa esta mudança de<br />
“senso”, esta radical reviravolta do senso? – pois isto é o que foi: Wagner<br />
virou o seu oposto. (NIETZSCHE, 1998, p. 88)<br />
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