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religião, moral e metafísica em human, demasiado humano ... - FaJe

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Para Itaparica, o uso do aforismo <strong>em</strong> Humano, d<strong>em</strong>asiado <strong>human</strong>o “revela a<br />

dimensão dos seus objetivos: sua tarefa cultural não se limita a uma simples exposição<br />

de ideias”; isso porque tal estilo também desperta uma nova atitude no leitor <strong>em</strong> relação<br />

a uma vida “profundamente ext<strong>em</strong>porânea, libertadora e, neste sentido, iluminista”<br />

(ITAPARICA, 2002, p. 43).<br />

O próprio Nietzsche nos mostra que,<br />

A apresentação incompleta é às vezes mais eficaz que a apresentação<br />

exaustiva: deixa-se mais a fazer para qu<strong>em</strong> observa, ele é incitado a continuar<br />

elaborando o que lhe aparece tão fort<strong>em</strong>ente lavrado <strong>em</strong> luz e sombra, a<br />

pensá-lo até o fim e superar ele mesmo o obstáculo que até então impedia o<br />

desprendimento completo. (NIETZSCHE, 2000, p. 132)<br />

Dessa forma, os aforismos não se restring<strong>em</strong> aos limites de sua exposição e<br />

contam com o leitor para compl<strong>em</strong>entá-los durante a leitura. O leitor faz parte do<br />

processo de interpretação inesgotável do aforismo, <strong>em</strong> busca de novas reflexões<br />

permanent<strong>em</strong>ente abertas, de forma s<strong>em</strong>pre particular. Portanto, o aforismo não<br />

constitui um conhecimento definitivo na busca de uma verdade absoluta e universal. Ele<br />

se dilui na interpretação individual do leitor que se mantém numa perspectiva aberta no<br />

t<strong>em</strong>po e na história, não se prendendo numa visão acabada ou completa da realidade.<br />

Para Itaparica,<br />

O aforismo não se resume a uma forma puramente literária; ele é, antes de<br />

tudo, a expressão de uma forma de pensamento, de uma nova maneira de<br />

conceber o conhecimento, de uma nova atitude perante a própria vida. No<br />

caso de Humano, d<strong>em</strong>asiado <strong>human</strong>o, ele é resultado de uma concepção de<br />

ciência que, estando indissociada da vida, apresenta-se como uma forma de<br />

libertação de convicções, como o anúncio de uma futura <strong>human</strong>idade crítica.<br />

Por ser o aforismo modo de expressão e parte fundamental para esse processo<br />

de libertação, os resultados da filosofia histórica não poderiam ser expressos<br />

de outra forma, assim como seus objetivos nunca poderiam ser alcançados se<br />

não houvesse leitores que pudess<strong>em</strong> extrair do aforismo seu significado<br />

profundo, o que pressupõe um próprio ato de leitura libertador.<br />

(ITAPARICA, 2002, p. 51)<br />

A intenção de Nietzsche <strong>em</strong> escrever a obra <strong>em</strong> estilo aforismático se<br />

justifica na crítica feita pelo filósofo à cultura al<strong>em</strong>ã de sua época, que presa as questões<br />

metafísicas que viam na verdade <strong>em</strong> si, a orig<strong>em</strong> do seu próprio destino. Nietzsche não<br />

encontrava qualidades e características de um estilo superior, de maturidade nos escritos<br />

cont<strong>em</strong>porâneos, principalmente na Al<strong>em</strong>anha. Critica e provoca seus cont<strong>em</strong>porâneos,<br />

uma vez que o filósofo entendia que os al<strong>em</strong>ães de sua época eram desprovidos de uma<br />

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