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religião, moral e metafísica em human, demasiado humano ... - FaJe

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Já me disseram com frequência, e s<strong>em</strong>pre com enorme surpresa, que uma<br />

coisa une e distingue todos os meus livros, do Nascimento da tragédia ao<br />

recém publicado Prelúdio a uma filosofia do futuro: todos eles contêm, assim<br />

afirmaram, laços e redes para pássaros incautos, e quase um incitamento,<br />

constante e n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre notado, à inversão das valorações habituais e dos<br />

hábitos valorizados. Como? Tudo somente – Humano, d<strong>em</strong>asiado <strong>human</strong>o?<br />

(NIETZSCHE, 2000, p. 7)<br />

As armadilhas para pássaros incautos refer<strong>em</strong>-se às próprias características<br />

de sua obra, <strong>em</strong> que fachadas superficiais encobririam aos leitores apressados seu<br />

verdadeiro sentido. Tal estilo selecionaria seus leitores mais atentos a perceber<strong>em</strong> as<br />

críticas do filósofo à cultura de sua época, b<strong>em</strong> como a toda <strong>moral</strong> de cunho metafísico.<br />

Desse modo, Itaparica nos diz que:<br />

Até então, suas obras se compunham de um estilo bastante linear, quer seja<br />

na forma de tratado filológico, <strong>em</strong> O nascimento da tragédia, quer seja na de<br />

escritos polêmicos, nas Considerações ext<strong>em</strong>porâneas. Em Humano,<br />

d<strong>em</strong>asiado <strong>human</strong>o, Nietzsche utiliza pela primeira vez aquele que seria<br />

considerado, erroneamente, seu modo de expressão privilegiado: o aforismo.<br />

(ITAPARICA, 2002, p. 26-27)<br />

Pod<strong>em</strong>os concluir que o estilo aforismático de Nietzsche corresponde a uma<br />

total recusa da filosofia como um sist<strong>em</strong>a fechado. O filósofo encontra na <strong>moral</strong> de<br />

cunho metafísico esta expressão, uma vez que seu fundamento se pauta <strong>em</strong> valores<br />

aceitos incondicionalmente. Sendo assim, o estilo aforismático presente <strong>em</strong> Humano,<br />

d<strong>em</strong>asiado <strong>human</strong>o representaria uma nova forma de experimentar, de ousar e de<br />

interpretar a <strong>moral</strong>. O fundamento da <strong>moral</strong> não está <strong>em</strong> um além-mundo, sua<br />

característica se apresenta para o hom<strong>em</strong> no mundo da vida e s<strong>em</strong> um ideal universal, já<br />

que ela é vivida de múltiplas formas pelo hom<strong>em</strong>, numa perspectiva s<strong>em</strong>pre aberta.<br />

Assim, parece que o estilo aforismático se justifica numa nova perspectiva aberta para o<br />

hom<strong>em</strong> na sua forma de valorar.<br />

Fink nos mostra tal complexidade, ao analisar o estilo aforismático de<br />

Humano, d<strong>em</strong>asiado <strong>human</strong>o e aponta para a dificuldade <strong>em</strong> compreender e interpretar,<br />

de forma única, a obra do filósofo. Para o estudioso, “nenhum filósofo escondeu<br />

porventura as suas reflexões sob tantos sofismas. Dir-se-ia que a sua natureza rutilante e<br />

irrequieta não consegue chegar a uma expressão clara e definida, que ele representa<br />

muitos papeis” (FINK, 1988, p. 10).<br />

Nessa perspectiva apontada por Fink sobre o estilo aforismático de Humano,<br />

d<strong>em</strong>asiado <strong>human</strong>o, a escolha do filósofo por um estilo breve, fragmentário e com<br />

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