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religião, moral e metafísica em human, demasiado humano ... - FaJe

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Dentre os assuntos polêmicos, encontra-se o que Nietzsche havia escrito<br />

sobre Wagner na referida obra, e não tinha mais como voltar atrás. Apesar de ter feito<br />

seu editor esperar, não havia mais nada a retocar e a esconder, e o filósofo, apesar de<br />

sua reserva e grande admiração por Wagner, não mudaria nada do que escrevera.<br />

Nietzsche não poderia ser julgado por um trabalho que, para ele próprio, configurava<br />

um grande desafio. Hálevy (1989) nos relata então que o filósofo teve uma ideia única:<br />

não iria assinar o livro, este seria publicado de maneira enigmática, pois não conteria o<br />

nome do autor. Nietzsche confiara apenas a Richard Wagner perceber que a obra<br />

Humano, d<strong>em</strong>asiado <strong>human</strong>o era mesmo dele. Assim, o filósofo escreveu uma carta a<br />

Wagner, d<strong>em</strong>onstrando confiança no músico <strong>em</strong> guardar o segredo de seu livro:<br />

Envio-lhe este livro, Humano, d<strong>em</strong>asiado <strong>human</strong>o, e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, digolhe,<br />

a você e à sua nobre companheira, na mais absoluta confiança, o meu<br />

segredo, e que desejo que seja também o seu. O livro é de minha autoria.<br />

(NIETZSCHE apud HALÉVY, 1989, p. 168)<br />

Sobre o acontecimento posterior a esta carta de Nietzsche a Wagner, Halévy<br />

(1989) nos conta que o editor, consultado pelo filósofo sobre a ideia de uma publicação<br />

anônima, impediu essa fantasia, uma vez que tinha assinado um contrato com um jov<strong>em</strong><br />

autor que gozava de certo nome, para explorar o valor desse nome; portanto, não lhe<br />

convinha absolutamente publicar um anônimo. Nietzsche volta atrás e pensa <strong>em</strong> outra<br />

ideia, mesmo que a contragosto. Foi então que o filósofo resolveu dedicar sua obra a<br />

Voltaire.<br />

Apesar do episódio descrito acima, o filósofo, na sua obra Opiniões e<br />

sentenças diversas, que compõe o segundo volume de Humano, d<strong>em</strong>asiado <strong>human</strong>o, faz<br />

uma crítica contundente à censura do editor e relata:<br />

Que o nome do autor conste no livro é agora costume e quase obrigação; mas<br />

é uma das principais causas do pouco efeito dos livros. Pois, se são bons,<br />

val<strong>em</strong> mais do que as pessoas, como suas quintessências; tão logo o autor se<br />

dá a conhecer como o título, no entanto, a quintessência é novamente diluída<br />

pelo leitor no pessoal, no personalíssimo, e assim fracassa a finalidade do<br />

livro. É ambição do intelecto não mais aparecer individualmente.<br />

(NIETZSCHE, 2008, p. 73)<br />

A publicação de Humano, d<strong>em</strong>asiado <strong>human</strong>o gerou de fato muita<br />

controvérsia e acabou marcando definitivamente o autor, como nos mostra Janz (1981).<br />

De acordo com o pesquisador, Nietzsche realizou uma ruptura, a partir deste trabalho,<br />

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