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TCC Ten Al Aline Goulart - Escola de Saúde do Exército

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1º <strong>Ten</strong> <strong>Al</strong> ALINE HAMILTON GOULART<br />

AS ENFERMEIRAS NA FEB: AS PRIMEIRAS MULHERES NO<br />

EXÉRCITO BRASILEIRO.<br />

RIO DE JANEIRO<br />

2010


1º <strong>Ten</strong> <strong>Al</strong> ALINE HAMILTON GOULART<br />

AS ENFERMEIRAS NA FEB: AS PRIMEIRAS MULHERES NO EXÉRCITO<br />

BRASILEIRO.<br />

Projeto <strong>de</strong> pesquisa apresenta<strong>do</strong> à<br />

<strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Exército, como<br />

requisito parcial para obtenção <strong>de</strong> Grau<br />

<strong>de</strong> Pós-Graduação Lato Sensu,<br />

especialização em Aplicações<br />

Complementares às Ciências Militares.<br />

Orienta<strong>do</strong>r: Maj Marcelo Cândi<strong>do</strong> F. Fernan<strong>de</strong>s<br />

RIO DE JANEIRO<br />

2010


1º <strong>Ten</strong> <strong>Al</strong> ALINE HAMILTON GOULART<br />

AS ENFERMEIRAS NA FEB: AS PRIMEIRAS MULHERES NO EXÉRCITO<br />

BRASILEIRO.<br />

COMISSÃO DE AVALIAÇÃO<br />

MARCELO CÂNDIDO FARIAS FERNANDES - Major<br />

Orienta<strong>do</strong>r<br />

LUÍS FELIPE SIMÕES RAMOS – Capitão<br />

Coorienta<strong>do</strong>r<br />

FABRÍCIO ALMEIDA DE MOURA – Capitão<br />

Avalia<strong>do</strong>r<br />

RIO DE JANEIRO<br />

2010


AGRADECIMENTOS<br />

Agra<strong>de</strong>ço a Deus pela felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vencer mais um <strong>de</strong>safio.<br />

Aos meus pais que sempre me apoiaram e me <strong>de</strong>ram todas as<br />

condições para prosperar.<br />

Ao meu mari<strong>do</strong>, maior inspira<strong>do</strong>r para cursar a <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, pelo<br />

exemplo <strong>de</strong> militar que é e por incansável que foi me proporcionan<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o<br />

suporte para realizar essa conquista.<br />

A minha filha, razão <strong>do</strong> meu viver, que só por existir justifica toda e<br />

qualquer busca por aprimoramento.<br />

Ao meu coorienta<strong>do</strong>r pela atenção e entusiasmo no <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong>ste trabalho.<br />

Aos meus instrutores pela <strong>de</strong>dicação na minha formação.<br />

E aos meus colegas pelo companheirismo e amiza<strong>de</strong>. Sem o apoio<br />

<strong>de</strong>les e <strong>de</strong>las o peso da jornada seria muito maior.


Dedico este trabalho aos meus amores:<br />

meu mari<strong>do</strong>, minha filha e aos meus pais.<br />

Sem esses, a <strong>Escola</strong> da vida não teria<br />

brilho e as dificulda<strong>de</strong>s seriam<br />

impossibilida<strong>de</strong>s.


RESUMO<br />

Este trabalho tem como objetivo investigar a atuação das enfermeiras na Força<br />

Expedicionária Brasileira (FEB) e evi<strong>de</strong>nciar como essa participação serviu <strong>de</strong><br />

alicerce para a entrada <strong>de</strong>finitiva das mulheres ao Serviço <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

Exército Brasileiro. Trata-se <strong>de</strong> uma revisão bibliográfica <strong>de</strong> livros históricos,<br />

artigos científicos, revistas civis e militares e publicações em sites nacionais. O<br />

início da Segunda Guerra se <strong>de</strong>u quan<strong>do</strong> Hitler começou a aplicar seu<br />

programa <strong>de</strong> expansão nazista. O Brasil, neste momento estava viven<strong>do</strong> a Era<br />

Vargas (1930-1945) e ficou neutro no perío<strong>do</strong> inicial <strong>do</strong> conflito. Porém, após<br />

ter sofri<strong>do</strong> ataques aos seus navios, em 31 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1942, o presi<strong>de</strong>nte<br />

Getúlio Vargas assinou um <strong>de</strong>creto <strong>de</strong>claran<strong>do</strong> “Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Guerra” em to<strong>do</strong> o<br />

território nacional. Após realizar os atos diplomáticos indispensáveis, tratou-se<br />

<strong>de</strong> organizar e preparar a FEB para atuar no Teatro <strong>de</strong> Operações <strong>do</strong><br />

Mediterrâneo. A inclusão <strong>de</strong> mulheres enfermeiras nas fileiras da FEB, se<br />

<strong>de</strong>veu, entre outros fatores, à solicitação norte-americana. Então, através <strong>do</strong><br />

Decreto nº 6097, <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1943, foi cria<strong>do</strong> o Quadro <strong>de</strong><br />

Enfermeiras da Reserva <strong>do</strong> Exército no Serviço <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. Após a seleção, as<br />

enfermeiras, participaram <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong> Emergência <strong>de</strong> Enfermeiras da Reserva<br />

<strong>do</strong> Exército. Este curso teve duração <strong>de</strong> 6 semanas e foi composto por 3<br />

módulos: parte teórica, preparação física e instrução militar. Após a finalização<br />

<strong>do</strong> curso preparatório, as enfermeiras foram incorporadas como enfermeiras <strong>de</strong><br />

terceira classe <strong>do</strong> círculo <strong>de</strong> oficiais subalternos. Da primeira turma <strong>de</strong><br />

voluntárias, num total <strong>de</strong> 50 alunas, 37 foram incorporadas e seguiram para a<br />

Itália. Assim que o contingente <strong>de</strong> enfermeiras se completou, elas atuaram<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o hospital <strong>de</strong> campo, na frente <strong>de</strong> batalha, até os hospitais <strong>de</strong><br />

retaguarda. As ativida<strong>de</strong>s executadas no dia-a-dia <strong>do</strong>s hospitais <strong>de</strong> campanha<br />

incluíam a realização <strong>de</strong> curativos, checagem <strong>de</strong> prontuários, administração <strong>de</strong><br />

medicamentos e monitoração <strong>de</strong> sinais vitais. Com o término da guerra, a FEB<br />

foi <strong>de</strong>smobilizada e as enfermeiras <strong>de</strong>sligadas <strong>do</strong> Exército. Em 1957, o<br />

Congresso Nacional, promulgou a Lei Nº 3.160 que incluiu no Serviço <strong>de</strong><br />

Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Exército as enfermeiras que participaram da FEB, no posto <strong>de</strong> 2º<br />

tenente: fato este, importante para o ingresso efetivo <strong>do</strong> segmento feminino nas<br />

Forças Armadas <strong>do</strong> Brasil. Não resta a menor dúvida <strong>de</strong> que as primeiras<br />

mulheres brasileiras a ingressarem oficialmente no serviço ativo das Forças<br />

Armadas Brasileiras foram as enfermeiras da FEB. Constata-se, no entanto, o<br />

esquecimento sobre a presença da mulher na História Militar <strong>do</strong> Brasil. Foi só<br />

em 1997 que iniciou <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>finitiva o segmento feminino no Serviço <strong>de</strong><br />

Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Exército, ao se formarem as primeiras médicas, <strong>de</strong>ntistas e<br />

farmacêuticas <strong>de</strong> carreira na <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Exército. Conclui-se que o<br />

Brasil segue uma tendência mundial <strong>de</strong> incluir as mulheres nesse universo<br />

tradicionalmente masculino, porém sempre com algumas décadas <strong>de</strong> atraso.<br />

Aqui as mulheres, como nos <strong>de</strong>mais países, iniciaram como força auxiliar<br />

temporárias e aos poucos, foram ganhan<strong>do</strong> espaço nos Quadros e Serviços <strong>de</strong><br />

carreira.<br />

Palavras-chave: Enfermeira. Força Expedicionária Brasileira. Brasil-Exército.


ABSTRACT<br />

This work aims to investigate the role of nurses in the Brazilian Expeditionary<br />

Force (BEF) and show how such participation worked as the foundation for the<br />

final entry of women to the Health Service of the Brazilian Army. This is a<br />

review of historical books, papers, magazines civilian and military sites in<br />

national publications. The onset of World War II was when Hitler began to<br />

implement its program of Nazi expansion. Brazil, by this time was living the<br />

Vargas Era (1930-1945) and remained neutral in the initial period of conflict.<br />

However, after attacks suffered on their ships, on August 31 st , 1942, the<br />

presi<strong>de</strong>nt Getúlio Vargas signed a <strong>de</strong>cree <strong>de</strong>claring a "State of War" throughout<br />

the national territory. After performing the necessary diplomatic actions, the<br />

or<strong>de</strong>r was to organize and prepare the BEF to operate in the Mediterranean<br />

Theater of Operations. The inclusion of women nurses in the rows of the BEF,<br />

was due, among other factors, to request the United States. Then, through<br />

Decree No. 6097 of November 15 th , 1943, the Nurses Board of the Army<br />

Reserve in the Department of Health was created. After selection, the nurses,<br />

participated of the Course of Emergency Nurses of the Army Reserve. This<br />

course lasted six weeks and was composed of three modules: theoretical part,<br />

fitness and military training. After completing the preparatory course, the nurses<br />

were incorporated as nurses of third class. The first group of volunteers, a total<br />

of 50 stu<strong>de</strong>nts, 37 were incorporated and went to Italy. Once the contingent of<br />

nurses was completed, they worked in field hospitals, in the battle front and in<br />

the hospitals in the rear. The activities performed in day-to-day field hospitals<br />

inclu<strong>de</strong>d the preparation of dressings, checking records, administering<br />

medication and monitoring vital signs. With the end of the war, the BEF was<br />

dissolved and nurses went off the Army. In 1957, the Congress has enacted<br />

Law No. 3160 which inclu<strong>de</strong>d to the Army Health Service, nurses who<br />

participated in the BEF, as 2 nd lieutenant. This was really important for the<br />

effective entry of the female segment in Armed Forces of Brazil. Not the least<br />

<strong>do</strong>ubt that the first Brazilian women to enroll officially in active service of the<br />

Brazilian Armed Forces were the nurses of BEF. However, the presence of<br />

women in the military history of Brazil is usually forgotten. It was only in 1997<br />

that the female segment <strong>de</strong>finitively started on Health Service of the Army,<br />

when the first medical, <strong>de</strong>ntal and pharmaceutical career women were formed<br />

at the Health School of the Army. We conclu<strong>de</strong> that Brazil follows a global trend<br />

of including women in traditionally male work, but always a few <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>s later.<br />

Here, as in other countries, women began as assistant temporary strength and<br />

gradually have been gaining role in Tables and Career Services.<br />

Keywords: Nurse. Brazilian Expeditionary Force. Brazil-Army.


SUMÁRIO<br />

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 8<br />

2 DESENVOLVIMENTO .................................................................................. 10<br />

2.1 A CRIAÇÃO DA FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA ...................... 10<br />

2.2 O SERVIÇO DE SAÚDE DO EXÉRCITO .................................................. 12<br />

2.3 AS ENFERMEIRAS INTEGRAM A FEB .................................................... 12<br />

2.3.1 O Curso preparatório para a Guerra ................................................... 15<br />

2.4 A ATUAÇÃO DAS ENFERMEIRAS NA ITÁLIA ....................................... 15<br />

2.5 A DESMOBILIZAÇÃO DA FEB .................................................................. 17<br />

2.6 O RE-INÍCIO DO SEGMENTO FEMININO NO EB ................................ . 17<br />

2.7 A MULHER MILITAR NO BRASIL ............................................................. 18<br />

2.8 A MULHER MILITAR NOS PAÍSES OCIDENTAIS ................................... 19<br />

2.8.1 Na Inglaterra ......................................................................................... 19<br />

2.8.2 No Canadá ............................................................................................. 19<br />

2.8.3 Nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s ........................................................................... 20<br />

2.8.4 Na França ............................................................................................. 20<br />

3 CONCLUSÃO ............................................................................................. 21<br />

REFERÊNCIAS ............................................................................................... 23


8<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

A Segunda Guerra Mundial (IIGM) teve início em primeiro <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />

1939 com a invasão da Polônia, seguida da anexação <strong>de</strong> Dantzig ao Reich<br />

(KOSHIBA e PEREIRA, 2004).<br />

O Brasil vivia a Era Vargas (1930-1945) e vinha manten<strong>do</strong>-se neutro no<br />

conflito da Segunda Guerra Mundial. Com o ataque japonês a Pearl Harbor em<br />

1941, o Brasil e outras 25 nações livres se associaram e firmaram uma <strong>de</strong>claração<br />

<strong>de</strong> findar as relações diplomáticas com os países <strong>do</strong> Eixo: <strong>Al</strong>emanha, Japão e Itália.<br />

A partir <strong>de</strong>sse momento os submarinos alemães e italianos passaram a atacar os<br />

navios mercantes brasileiros (CANSANÇÃO, 1987).<br />

Des<strong>de</strong> então o governo Vargas começou a sofrer pressões internas e<br />

externas para o ingresso <strong>do</strong> Brasil na gran<strong>de</strong> guerra. Nesse contexto histórico, em 9<br />

<strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1943, através <strong>de</strong> portaria ministerial, foi criada a 1ª Divisão <strong>de</strong><br />

Infantaria Expedicionária, força combatente da FEB, composta por unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

infantaria, artilharia, engenharia e saú<strong>de</strong>; comanda<strong>do</strong>s pelo general-<strong>de</strong>-divisão João<br />

Baptista Mascarenhas <strong>de</strong> Moraes (OLIVEIRA e SANTOS, 2007).<br />

Os alia<strong>do</strong>s norte-americanos, através <strong>do</strong> coman<strong>do</strong> <strong>do</strong> V Exército Americano,<br />

solicitaram ao Brasil a presença <strong>de</strong> enfermeiras no front <strong>de</strong> operações terrestres sob<br />

a alegação <strong>de</strong> aliviar a <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong> enfermagem norte-americanas,<br />

que já estavam atuan<strong>do</strong> na guerra há 4 anos, e também <strong>de</strong> dirimir as futuras<br />

dificulda<strong>de</strong> lingüísticas entres os pacientes e aten<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (OLIVEIRA e<br />

SANTOS, 2007).<br />

Em nove <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1943 o jornal O Globo publicou uma chamada<br />

solicitan<strong>do</strong> mulheres voluntárias com ida<strong>de</strong> entre <strong>de</strong>zoito e trinta e seis anos para<br />

a<strong>de</strong>rirem o Exército. Ao se apresentarem para seleção, elas <strong>de</strong>veriam ser solteiras,<br />

viúvas ou separadas, e comprovar alguma qualificação para o serviço <strong>de</strong><br />

enfermagem (CANSANÇÃO, 1987).<br />

Dessa forma, em 5 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1944 foi cria<strong>do</strong> oficialmente o Curso <strong>de</strong><br />

Emergência <strong>de</strong> Enfermeiras <strong>de</strong> Reserva <strong>do</strong> Exército. Em 28 <strong>de</strong> janeiro iniciou o<br />

curso propriamente dito, que constava <strong>de</strong> treinamento militar, intenso treinamento<br />

físico e instruções teóricas e práticas hospitalares (LEITE, 2000).


9<br />

A participação <strong>de</strong> 67 enfermeiras (61 hospitalares e 6 especializadas em<br />

transporte aéreo) na Força Expedicionária Brasileira (FEB), durante a Segunda<br />

Guerra Mundial, marcou a primeira entrada <strong>de</strong> mulheres nas fileiras <strong>do</strong> Exército<br />

Brasileiro (EB) (BERNARDES, LOPES e SANTOS, 2005).<br />

A figura feminina na guerra representava a imagem <strong>de</strong> pátria-mãe, que levava<br />

os cuida<strong>do</strong>s maternos aos solda<strong>do</strong>s, filhos da pátria. Desta forma, as enfermeiras<br />

brasileiras estariam <strong>de</strong>stinadas a cumprir o seu papel assistencial (OLIVEIRA e<br />

SANTOS, 2007). E, através <strong>do</strong> voluntaria<strong>do</strong>, as Forças Armadas acolheram<br />

mulheres das classes média e alta brasileira, que aceitan<strong>do</strong> o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> fazer parte<br />

da história <strong>do</strong> Brasil na Segunda Guerra Mundial <strong>de</strong>terminaram o início da presença<br />

feminina no nosso Exército.<br />

Atualmente o segmento feminino no EB, especialmente no Serviço <strong>de</strong><br />

Saú<strong>de</strong>, é numericamente significativo, tanto no círculo <strong>de</strong> oficiais quanto <strong>de</strong> praças.<br />

Historicamente, no entanto, não havia lugar para as mulheres nas Forças Armadas<br />

Brasileiras. Fato esse observa<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> se analisa o crescimento <strong>do</strong> efetivo<br />

feminino <strong>de</strong> 49 membros em 1992 para 3.086 mulheres em 1998 (GOMES, 2006).<br />

A realida<strong>de</strong> social <strong>do</strong> Brasil e políticas <strong>de</strong> pessoal da força terrestre foram se<br />

modifican<strong>do</strong> com o tempo, ten<strong>do</strong> na Segunda Guerra um marco importante, mas não<br />

sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>finitivo para a entrada das mulheres nesse universo (CYTRYNOWICZ,<br />

2000).<br />

Surge <strong>de</strong>sta constatação a motivação para realizar este trabalho: resgatar a<br />

memória social da atuação da enfermagem na FEB e firmar a importância da<br />

presença <strong>do</strong> segmento feminino <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> Exército.<br />

O presente projeto po<strong>de</strong>rá contribuir para realçar a importância da presença<br />

feminina nas fileiras <strong>do</strong> EB, indican<strong>do</strong> as dificulda<strong>de</strong>s encontradas pelas pioneiras<br />

para figurar nessa categoria profissional.<br />

Este trabalho tem como objetivo investigar sobre a atuação das enfermeiras<br />

na FEB e evi<strong>de</strong>nciar como essa participação serviu <strong>de</strong> alicerce para a entrada<br />

<strong>de</strong>finitiva das mulheres ao Serviço <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Exército Brasileiro.<br />

Trata-se <strong>de</strong> uma revisão bibliográfica <strong>de</strong> livros históricos, artigos científicos,<br />

revistas civis e militares e publicações em sites nacionais. Da<strong>do</strong>s colhi<strong>do</strong>s em<br />

publicações <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1987 a julho <strong>de</strong> 2010.


10<br />

2 DESENVOLVIMENTO<br />

O início da Segunda Guerra se <strong>de</strong>u quan<strong>do</strong> Hitler começou a aplicar seu<br />

programa <strong>de</strong> expansão nazista. Em março <strong>de</strong> 1938 ele anexou a Áustria à<br />

<strong>Al</strong>emanha. Após ter invadi<strong>do</strong> e toma<strong>do</strong> para si toda a Tchecoslováquia, a Grã-<br />

Bretanha assumiu o compromisso <strong>de</strong> auxiliar os países ameaça<strong>do</strong>s e ficou atenta<br />

em relação a Polônia, uma vez que o objetivo <strong>de</strong> Hitler era a hegemonia européia.<br />

Como previsto, em 1° <strong>de</strong> setembro ele or<strong>de</strong>nou a inva são da Polônia. Dois dias<br />

<strong>de</strong>pois a Grã-Bretanha e a França <strong>de</strong>clararam guerra à <strong>Al</strong>emanha.<br />

Em 27 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1940, a <strong>Al</strong>emanha, a Itália e o Japão assinaram um<br />

pacto <strong>de</strong> aliança, forman<strong>do</strong> o Eixo. Do outro la<strong>do</strong> da linha <strong>de</strong> batalha estavam os<br />

<strong>Al</strong>ia<strong>do</strong>s: Inglaterra, França, União Soviética e Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />

O Brasil, neste momento estava viven<strong>do</strong> a Era Vargas (1930-1945) e ficou<br />

neutro no perío<strong>do</strong> inicial <strong>do</strong> conflito. Após o ataque japonês a Pearl Harbour, 26<br />

nações livres – incluin<strong>do</strong> o Brasil - se associaram. Em 1° <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1942, o Brasil<br />

entrou na guerra ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s <strong>Al</strong>ia<strong>do</strong>s. Dessa forma, o nosso país encerrou ligações<br />

diplomáticas com os países <strong>do</strong> Eixo.<br />

Em represália a atitu<strong>de</strong> brasileira, os submarinos alemães e italianos<br />

passaram a atacar nossos navios mercantes ofen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> assim nossa soberania.<br />

Consequentemente, em 31 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1942, o presi<strong>de</strong>nte Getúlio Vargas assinou<br />

o Decreto n° 10.358 <strong>de</strong>claran<strong>do</strong> “Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Guerra” e m to<strong>do</strong> o território nacional.<br />

2.1 A CRIAÇÃO DA FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA<br />

Após realizar os atos diplomáticos indispensáveis, tratou-se <strong>de</strong> organizar e<br />

preparar uma Força Expedicionária Brasileira para atuar no Teatro <strong>de</strong> Operações <strong>do</strong><br />

Mediterrâneo (MOURA, 1990).<br />

Dessa forma foi nomea<strong>do</strong> Ministro da Guerra o General Eurico Gaspar Dutra<br />

que convi<strong>do</strong>u o General Mascarenhas <strong>de</strong> Moraes, comandante da 2° Região Militar<br />

para comandar a FEB. Nasceu assim a FEB e foi organizada a Primeira Divisão <strong>de</strong><br />

Infantaria Expedicionária (1° DIE) (ALBERTO, 2001).


11<br />

Segun<strong>do</strong> Moraes (1960) a 1° DIE era composta da seg uinte forma:<br />

- Comandante Geral <strong>de</strong> Divisão;<br />

- Quartel Geral, Esta<strong>do</strong> Maior Geral e Esta<strong>do</strong> Maior Especial;<br />

- Infantaria Divisionária: Comandante e 03 Regimentos <strong>de</strong> Infantaria;<br />

- Artilharia Divisionária: Comandante e 04 Grupos <strong>de</strong> Artilharia;<br />

- Esquadrilha <strong>de</strong> Aviação;<br />

- Batalhão <strong>de</strong> Engenharia;<br />

- Batalhão <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>;<br />

- Esquadrão <strong>de</strong> Reconhecimento;<br />

- Companhia <strong>de</strong> Transmissões – Comunicações.<br />

A tropa especial era assim composta, ainda segun<strong>do</strong> Morais (1960):<br />

- Coman<strong>do</strong> <strong>do</strong> Quartel General e da Tropa Especial;<br />

- Destacamento <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>;<br />

- Companhia <strong>de</strong> Manutenção;<br />

- Companhia <strong>de</strong> Intendência;<br />

- Pelotão <strong>de</strong> Sepultamento;<br />

- Pelotão <strong>de</strong> Polícia;<br />

- Banda <strong>de</strong> Música.<br />

Os Órgãos Não-Divisionários eram compostos pelos seguintes:<br />

- Comandante da FEB<br />

- Serviço <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da FEB;<br />

- Agência <strong>do</strong> Banco <strong>do</strong> Brasil;<br />

- Paga<strong>do</strong>ria Fixa;<br />

- Seção Brasileira <strong>de</strong> Base;<br />

- Depósito <strong>de</strong> Intendência;<br />

- Serviço Postal;<br />

- Serviço <strong>de</strong> Justiça;<br />

- Depósito <strong>de</strong> Pessoal.


12<br />

2.2 O SERVIÇO DE SAÚDE DO EXÉRCITO<br />

O 1° Batalhão <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, cria<strong>do</strong> pelo Decreto-Lei Re serva<strong>do</strong> número 6071-A,<br />

<strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1943, foi uma unida<strong>de</strong> nova. Tinha subordinação militar ao<br />

Coman<strong>do</strong> da Divisão e técnica ao Chefe <strong>do</strong> Serviço <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa mesma<br />

Divisão, que era comandada pelo Major Médico Bonifácio Antônio Borba. Era<br />

constituí<strong>do</strong> por uma Companhia <strong>de</strong> Coman<strong>do</strong> e Serviço, uma Companhia para<br />

Tratamento e 03 Companhias <strong>de</strong> Evacuação.<br />

A chefia <strong>do</strong> Serviço <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da FEB coube ao Coronel Médico Emanuel<br />

Marques Porto. O Serviço somou entre médicos, <strong>de</strong>ntistas e farmacêuticos 198<br />

oficiais, 67 enfermeiras, 44 enfermeiros, 6 manipula<strong>do</strong>res <strong>de</strong> farmácia, 6<br />

manipula<strong>do</strong>res <strong>de</strong> radiologia e 2 protéticos (ALBERTO, 2001).<br />

Na organização <strong>do</strong>utrinária <strong>do</strong> Serviço <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> foi aban<strong>do</strong>nada a<br />

organização francesa e a<strong>do</strong>tada a forma Norte-Americana (Destacamento <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>,<br />

Batalhão <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, Hospitais Cirúrgicos <strong>de</strong> Urgência, <strong>de</strong> Evacuação e <strong>de</strong> Guarnição<br />

(ALBERTO, 2001).<br />

A instrução foi programada na área <strong>de</strong> primeiros socorros, triagem, cirurgia <strong>de</strong><br />

guerra, normas <strong>de</strong> evacuação, tratamento e transporte <strong>de</strong> feri<strong>do</strong>s, ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

evacuação e suprimento e manutenção.<br />

O Serviço <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> brasileiro não dispunha <strong>de</strong> hospitais próprios, forman<strong>do</strong>,<br />

<strong>de</strong>ste mo<strong>do</strong>, “Grupos Suplementares em Hospitais Norte-Americanos”.<br />

2.3 AS ENFERMEIRAS INTEGRAM A FEB<br />

Conforme Oliveira (2007), <strong>de</strong>ve-se consi<strong>de</strong>rar que nunca houve, <strong>de</strong><br />

forma tão enfática, a convocação <strong>de</strong> mulheres para alinharem-se ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma<br />

tropa em um conflito <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m mundial como a Segunda Guerra. Isso combinou<br />

sentimento nacionalista, treinamento rigoroso, prontidão, alerta e marcha, e fundin<strong>do</strong><br />

i<strong>de</strong>ais <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Novo com a mobilização para guerra. Surgiu, então, um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

socieda<strong>de</strong> militarizada.


13<br />

A inclusão <strong>de</strong> mulheres enfermeiras nas fileiras da FEB se <strong>de</strong>veu, entre<br />

outros fatores, à solicitação norte-americana (V Exército Americano). As enfermeiras<br />

americanas já estavam no Teatro <strong>de</strong> Operações Terrestre (TOT) há cerca <strong>de</strong> 4 anos,<br />

sobrecarregadas, e não falavam português, o que certamente seria um problema<br />

significativo no trato com os futuros pacientes brasileiros.<br />

Sabe-se que a participação feminina durante a IIGM era rotineira nos outros<br />

países combatentes. A Rússia, por exemplo, preparava mulheres para o combate<br />

antes mesmo <strong>do</strong> início <strong>do</strong> conflito (CAIRE, 2002). Na França, as mulheres ocupavam<br />

seus espaços em três escalões diferentes: nas fábricas e setores administrativos, as<br />

enfermeiras e as condutoras <strong>de</strong> ambulâncias da Cruz Vermelha. Na Inglaterra as<br />

mulheres, já em 1938, assumiram posições em tarefas não-combatentes, mas com a<br />

evolução <strong>do</strong> conflito elas gradativamente se aproximaram mais <strong>do</strong> combate. Nos<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, foi através <strong>de</strong> uma lei <strong>do</strong> Congresso, instituída em 14 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong><br />

1942, que se criou o corpo <strong>de</strong> auxiliares femininos no Exército. Na <strong>Al</strong>emanha, já<br />

havia o serviço militar obrigatório das mulheres nos primeiros anos da Guerra. Na<br />

Inglaterra, a mulher era muito bem reconhecida e servia nas formações <strong>de</strong> serviço<br />

territorial auxiliar.<br />

Então, através <strong>do</strong> Decreto nº 6097, <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1943, foi cria<strong>do</strong> o<br />

Quadro <strong>de</strong> Enfermeiras da Reserva <strong>do</strong> Exército no Serviço <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. Iniciou assim<br />

a formação <strong>de</strong> enfermeiras militares. O Corpo <strong>de</strong> Enfermeiras da Reserva foi to<strong>do</strong><br />

cria<strong>do</strong> com voluntárias (CAMERINO, 1983). Houve uma tentativa <strong>de</strong> extrair alunas<br />

da <strong>Escola</strong> Anna Nery, a principal forma<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> enfermeiras da época, porém o<br />

salário ofereci<strong>do</strong> (quatrocentos e vinte mil réis) foi consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> muito baixo pela<br />

diretora da instituição que não permitiu que suas alunas se alistassem nessas<br />

condições.<br />

O surgimento das voluntárias foi um fator positivo para inserção das mulheres<br />

no meio militar. Havia na época uma mobilização nacional espontânea e popular<br />

para o ingresso <strong>do</strong> Brasil na guerra, e as mulheres encontraram na profissão <strong>de</strong><br />

Enfermagem o caminho para participarem. Houve, por parte <strong>de</strong> moças da socieda<strong>de</strong><br />

brasileira, uma procura importante pelos cursos das escolas <strong>de</strong> formação <strong>de</strong><br />

enfermagem da época, sen<strong>do</strong> inclusive o voluntaria<strong>do</strong> feito por duas princesas:<br />

Maria Francisca e Maria Tereza Órleans e Bragança (MEDEIROS, 2001).<br />

Em contrapartida, falta <strong>de</strong> estímulo era o que não faltava. Havia intensa<br />

reprovação social, e mesmo <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s núcleos familiares das voluntárias, eram


14<br />

poucas as que encontraram apoio. <strong>Al</strong>ém disso, as atitu<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Exército em relação<br />

às mulheres também não favorecia a imagem das voluntárias: <strong>de</strong>s<strong>de</strong> uniformes não<br />

adapta<strong>do</strong>s a elas, até a ina<strong>de</strong>quação <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> quadro hierárquico em relação a<br />

outros exércitos alia<strong>do</strong>s. Ressalta essa afirmação a constatação <strong>de</strong> que as<br />

enfermeiras americanas já possuíam posto <strong>de</strong> capitão ou major e eram chefes <strong>do</strong>s<br />

Serviços <strong>de</strong> Enfermagem <strong>do</strong>s Hospitais <strong>de</strong> Campanha, enquanto as enfermeiras<br />

brasileiras chegaram ao front com graduação <strong>de</strong> terceiro sargento.<br />

Como <strong>de</strong>screve Cansanção (1987), a forma que a brasileira encontrou <strong>de</strong><br />

participar da <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> território nacional foi recorrer às escolas <strong>de</strong> enfermagem e,<br />

mesmo assim, a incorporação das mulheres só ocorreu <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a imposição <strong>do</strong>s<br />

americanos. Essa abertura ao segmento feminino levou a um aumento na procura<br />

por capacitação na área <strong>de</strong> enfermagem <strong>de</strong> toda socieda<strong>de</strong> ativa e, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

termina<strong>do</strong> o evento, colocou a profissão <strong>de</strong> enfermeira sob nova perspectiva frente à<br />

socieda<strong>de</strong>.<br />

Inicialmente o Exército exigiu diploma <strong>de</strong> Enfermagem reconheci<strong>do</strong>, mas com<br />

a recusa da <strong>Escola</strong> Anna Nery, foram ampliadas as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> formação<br />

profissional. Havia, na época, 3 tipos <strong>de</strong> cursos: o <strong>de</strong> profissionais (duração <strong>de</strong> 3<br />

anos), o <strong>de</strong> Samaritanas (duração <strong>de</strong> 1 ano, seria o supletivo <strong>de</strong> Enfermagem) e o<br />

<strong>de</strong> Voluntárias Socorristas (duração <strong>de</strong> 3 meses) (CYTRYNOWICZ, 2000). Dessa<br />

forma, ingressaram na FEB apenas 6 enfermeiras profissionais, vindas <strong>do</strong> Hospital<br />

<strong>Al</strong>fre<strong>do</strong> Pinto, da Cruz Vermelha e uma da <strong>Escola</strong> Anna Nery.<br />

Assim, as mulheres que possuíam qualquer experiência na área <strong>de</strong><br />

enfermagem po<strong>de</strong>riam ou não aceitar a convocação; todavia, um forte apelo<br />

patriótico esteve presente na propaganda veiculada pela mídia da época, que<br />

anunciava a possibilida<strong>de</strong> da mulher ingressar num universo eminentemente<br />

masculino (BERNARDES, 2003). Em 9 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1943, houve a publicação no<br />

jornal “O Globo” <strong>de</strong> uma propaganda solicitan<strong>do</strong> mulheres entre 18 e 36 anos para<br />

a<strong>de</strong>rirem ao voluntaria<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> que elas <strong>de</strong>veriam ser solteiras, viúvas ou<br />

separadas e comprovar alguma qualificação para o serviço <strong>de</strong> Enfermagem<br />

(BERNARDES; LOPES, 2007).


15<br />

2.3.1 O Curso Preparatório para a Guerra<br />

Após a seleção, as enfermeiras, participaram <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong> Emergência <strong>de</strong><br />

Enfermeiras da Reserva <strong>do</strong> Exército (CEERE), ministra<strong>do</strong> pela Diretoria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

Exército no Rio <strong>de</strong> Janeiro e, nas se<strong>de</strong>s das Regiões Militares, pelas respectivas<br />

chefias <strong>do</strong> Serviço <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (BERNARDES; LOPES, 2007). Este curso teve<br />

duração <strong>de</strong> 6 semanas e foi composto por 3 módulos: parte teórica, preparação<br />

física e instrução militar.<br />

O curso fez com que as voluntárias civis incorporassem o habitus militar e<br />

padronizou o comportamento das novas militares no TOT. Possibilitou treinamento<br />

para todas as implicações que pu<strong>de</strong>ssem advir <strong>de</strong> um evento bélico <strong>de</strong>sta natureza,<br />

inclusive o <strong>de</strong> transportar feri<strong>do</strong>s em aeronaves, sobre o oceano Atlântico, sem a<br />

presença médica.<br />

Ao término <strong>do</strong> curso, as alunas consi<strong>de</strong>radas aptas eram propostas para<br />

nomeação ao Ministério da Guerra. Da primeira turma <strong>de</strong> voluntárias, num total <strong>de</strong><br />

50 alunas, 37 foram incorporadas e seguiram para a Itália. Depois ainda ocorreram 4<br />

cursos.<br />

Foi assim que as mulheres brasileiras iniciaram uma nova fase <strong>do</strong> Exército<br />

Brasileiro. Seguin<strong>do</strong> tendências internacionais, o Brasil contava agora com a<br />

presença feminina no seu front <strong>de</strong> guerra. E essas mulheres, que fugiam <strong>do</strong> padrão<br />

socialmente aceito na época, tinham o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> servir ao país, seguin<strong>do</strong> para Guerra.<br />

2.4 A ATUAÇÃO DAS ENFERMEIRAS NA ITÁLIA<br />

Após a finalização <strong>do</strong> curso preparatório, as enfermeiras foram incorporadas<br />

como enfermeiras <strong>de</strong> terceira classe <strong>do</strong> círculo <strong>de</strong> oficiais subalternos <strong>do</strong> EB (posto<br />

este cria<strong>do</strong> para elas).<br />

Foi forma<strong>do</strong> o Destacamento Precursor da FEB, composto pelas enfermeiras<br />

Elza Cansanção Me<strong>de</strong>iros, Virgínia Maria <strong>de</strong> Niemeyer Portocarrero, Carmen<br />

Bebiano <strong>de</strong> Mello Braga, Antonieta Ferreira e Ignacia <strong>de</strong> Melo Braga. Foi <strong>de</strong>signa<strong>do</strong><br />

o major médico Ernestino Gomes <strong>de</strong> Oliveira para comandar o <strong>de</strong>stacamento.


16<br />

O Destacamento Precursor saiu no dia 7 <strong>de</strong> julho, <strong>de</strong> avião, para Natal. De lá<br />

fizeram diversas escalas até chegarem a Nápoles, aon<strong>de</strong> tinham a missão <strong>de</strong><br />

recepcionar os cinco mil brasileiros <strong>do</strong> 1º Escalão da FEB.<br />

Esse Destacamento foi <strong>de</strong>signa<strong>do</strong> para a seção hospitalar brasileira <strong>do</strong> 45th<br />

Field Hospital e para o 182nd Station Hospital. Já ao <strong>de</strong>sembarcarem na Itália, 300<br />

pracinhas brasileiros foram baixa<strong>do</strong>s nesses hospitais.<br />

Assim que o contingente <strong>de</strong> enfermeiras se completou, elas atuaram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

hospital <strong>de</strong> campo, na frente <strong>de</strong> batalha, até os hospitais <strong>de</strong> retaguarda, quais sejam:<br />

32nd Fiel Hospital, 16th Evacuation Hospital, 38th Evacuation Hospital, 7th Station<br />

Hospital, 105th Station Hospital, 45th General Hospital, 182nd General Hospital e o<br />

300th General Hospital (CANSANÇÃO,2003).<br />

Uma vez que a Guerra é dinâmica e sua localização geográfica muda<br />

conforme o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> conflito, outra atribuição das enfermeiras brasileiras<br />

era realizar as diversas mudanças <strong>de</strong> localização <strong>do</strong>s hospitais. Dessa forma, o<br />

Serviço <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> acompanhou essa mobilida<strong>de</strong>. As lutas <strong>do</strong> cotidiano da guerra,<br />

tais como o clima adverso e a barreira lingüística foram alguns <strong>do</strong>s <strong>de</strong>safios<br />

encontra<strong>do</strong>s pelo grupamento feminino <strong>de</strong> enfermagem. Por outro la<strong>do</strong>, as<br />

experiências vividas junto às enfermeiras <strong>de</strong> outras nacionalida<strong>de</strong>s possibilitaram a<br />

incorporação <strong>de</strong> uma cultura <strong>de</strong>terminante nas suas vidas e futuro profissional<br />

(BERNARDES; LOPES; SANTOS, 2005).<br />

As ativida<strong>de</strong>s executadas no dia-a-dia <strong>do</strong>s hospitais <strong>de</strong> campanha incluíam a<br />

realização <strong>de</strong> curativos, checagem <strong>de</strong> prontuários, administração <strong>de</strong> medicamentos,<br />

monitoração <strong>de</strong> sinais vitais <strong>de</strong>ntre outros. Já nos hospitais <strong>de</strong> Evacuação, a função<br />

da equipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> era colocar os pacientes em condições <strong>de</strong> viajar para a<br />

retaguarda.<br />

Para o transporte <strong>de</strong> feri<strong>do</strong>s, foi cria<strong>do</strong> um Serviço <strong>de</strong> Transporte Aéreo,<br />

composto por 6 enfermeiras. Os aviões <strong>de</strong> carga eram adapta<strong>do</strong>s com padiolas nas<br />

laterais e as enfermeiras prestavam a assistência aos feri<strong>do</strong>s sem o<br />

acompanhamento <strong>de</strong> médico. Eram transporta<strong>do</strong>s entre 18 e 20 pacientes em cada<br />

aeronave e os vôos transatlânticos duravam 10 horas (BERNARDES; LOPES,<br />

2007).<br />

Assim, a atuação das enfermeiras da FEB foi marcada por inúmeros elogios<br />

<strong>do</strong>s chefes militares e <strong>do</strong>s solda<strong>do</strong>s, o que enfatiza a importância da sua<br />

contribuição para o êxito da campanha <strong>do</strong> Brasil na IIGM.


17<br />

2.5 A DESMOBILIZAÇÃO DA FEB<br />

Ao término da guerra, em julho <strong>de</strong> 1945 e, antes mesmo <strong>do</strong> regresso da FEB<br />

ao Brasil, houve a <strong>de</strong>smobilização da Força, ainda na Europa. Acabou assim, <strong>de</strong><br />

forma frustrante, a participação <strong>do</strong>s cidadãos brasileiros na força combatente <strong>de</strong>sse<br />

gran<strong>de</strong> evento histórico <strong>de</strong> forma geral e das enfermeiras em particular.<br />

Fato esse que po<strong>de</strong> ser analisa<strong>do</strong> por mais <strong>de</strong> um ângulo. Segun<strong>do</strong><br />

Cansanção toda a FEB foi <strong>de</strong>smobilizada para que o governo Vargas não ficasse<br />

ameaça<strong>do</strong> diante <strong>de</strong> uma tropa treinada e vitoriosa justamente por combater um<br />

regime semelhante ao <strong>de</strong>le próprio. E, ainda, a própria <strong>de</strong>svalorização das<br />

profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, na época, propiciou um corte imediato no vínculo entre as<br />

partes, não consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> os excelentes serviços presta<strong>do</strong>s.<br />

Através <strong>do</strong> Aviso Ministerial 217-185 <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> julho foi dissolvida a FEB.<br />

Coor<strong>de</strong>naram esse feito os generais Eurico Gaspar Dutra (Ministro da Guerra) e<br />

Góis Monteiro (Chefe <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Maior).<br />

Um fato impressionante é que as voluntárias nem sequer pu<strong>de</strong>ram participar<br />

<strong>do</strong> <strong>de</strong>sfile em homenagem ao retorno das tropas brasileiras, e sen<strong>do</strong> assim,<br />

<strong>de</strong>sligadas <strong>do</strong> Exército imediatamente.<br />

Ao ser <strong>de</strong>smobilizada a FEB, o Serviço <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Exército per<strong>de</strong>u o<br />

segmento feminino (OLIVEIRA; SANTOS, 2007).<br />

2.6 O RE-INÍCIO DO SEGMENTO FEMININO DO EB<br />

No final <strong>do</strong>s anos oitenta, com a nova Constituição da República Fe<strong>de</strong>rativa<br />

<strong>do</strong> Brasil, às mulheres foram garanti<strong>do</strong>s os mesmos direitos <strong>do</strong>s homens. No<br />

entanto, em muitas profissões <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque social, a presença das mulheres era<br />

mínima.<br />

A aceitação das mulheres nos quadros <strong>de</strong> carreira <strong>de</strong> oficiais <strong>do</strong> Exército<br />

Brasileiro só aconteceu nos anos noventa e, ainda hoje, parece haver resistência<br />

nesse universo em lidar com a situação <strong>de</strong> comandante e comanda<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> na<br />

primeira situação está uma mulher, e na segunda, um homem.


18<br />

Segun<strong>do</strong> Leite (2000), não resta a menor dúvida <strong>de</strong> que as primeiras<br />

mulheres brasileiras a ingressarem oficialmente no serviço ativo das Forças<br />

Armadas Brasileiras foram as enfermeiras da FEB. Observa-se, no entanto, o<br />

esquecimento sobre a presença da mulher na História Militar <strong>do</strong> Brasil.<br />

Após terem si<strong>do</strong> excluídas das fileiras <strong>do</strong> EB, algumas enfermeiras<br />

continuaram prestan<strong>do</strong> seus serviços como servi<strong>do</strong>ras civis. Outras iniciaram uma<br />

luta jurídica para serem re-incorporadas. Em 1957, o Congresso Nacional,<br />

promulgou a Lei Nº 3.160 que inclui no Serviço <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Exército as enfermeiras<br />

que participaram da FEB, no posto <strong>de</strong> 2º tenente. Fato importante para o ingresso<br />

efetivo <strong>do</strong> segmento feminino nas Forças Armadas <strong>do</strong> Brasil (CANSANÇÃO, 2003).<br />

Mas foi só em 1997 que iniciou <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>finitiva o segmento feminino no<br />

Serviço <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> EB, quan<strong>do</strong> se formaram médicas, <strong>de</strong>ntistas e farmacêuticas<br />

<strong>de</strong> carreira na <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Exército.<br />

2.7 A MULHER MILITAR NO BRASIL<br />

O início da carreira feminina nas Forças Armadas Brasileiras começou na<br />

Marinha em 1980, com a criação <strong>do</strong> Corpo Auxiliar Feminino da Reserva da<br />

Marinha. Na segunda meta<strong>de</strong> <strong>do</strong>s anos 1990 a mulher foi incorporada na estrutura<br />

oficial <strong>de</strong> Corpos e Quadros da Marinha (LOMBARDI, BRUSCHINI e MERCADO,<br />

2009).<br />

Na Força Terrestre a mulher só po<strong>de</strong> ingressar, após a <strong>de</strong>smobilização da<br />

FEB em 1945, através da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Administração <strong>do</strong> Exército (EsAEx). A lei n°<br />

7831, <strong>de</strong> 2 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1989, criou o Quadro Complementar <strong>de</strong> Oficiais (QCO) <strong>do</strong><br />

Exército. Abriram-se, assim, vagas para mulheres com formação em nível superior<br />

em: Administração, Ciências Contábeis, Direito, Economia, Enfermagem, Estatística,<br />

Informática, Magistério, Pedagogia, Psicologia, Relações Públicas e Veterinária.<br />

Em 1996 o Exército instituiu o Serviço Militar Feminino Voluntário para<br />

médicas, <strong>de</strong>ntistas, farmacêuticas, veterinárias e enfermeiras.<br />

Em 1997 a <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Exército (EsSEx) e o Instituto Militar <strong>de</strong><br />

Engenharia (IME) matricularam pela primeira vez, mulheres em suas turmas. Na


19<br />

EsSEx formaram-se médicas, <strong>de</strong>ntistas e farmacêuticas que iniciaram o oficialato <strong>do</strong><br />

segmento feminino na saú<strong>de</strong>.<br />

Acompanhan<strong>do</strong> a mesma tendência e in<strong>do</strong> além, em 1997, ingressou a<br />

primeira turma feminina na Aca<strong>de</strong>mia da Força Aérea – permitin<strong>do</strong>, assim, às<br />

mulheres a mesma carreira que a <strong>do</strong>s homens. Situação, até hoje, privilégio da<br />

Aeronáutica.<br />

2.8 A MULHER MILITAR NOS PAÍSES OCIDENTAIS<br />

Inglaterra, Canadá, Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e França estão em vias <strong>de</strong> alcançar a<br />

integração total das mulheres nas Forças Armadas, especialmente no que se refere<br />

às modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> carreira. Atualmente esses países já estão na fase <strong>de</strong><br />

experimentação para incluir as mulheres em especializações operacionais.<br />

2.8.1 Na Inglaterra<br />

Os três corpos femininos: o Corpo Feminino <strong>do</strong> Exército Real (Women Royal<br />

Army Corps), o Serviço Feminino da Marinha Real (Women Royal Navy Service) e a<br />

Seção Feminina da Real Força Aérea (Women Air Force) foram <strong>de</strong>finitivamente<br />

integra<strong>do</strong>s às forças nacionais em 1949.<br />

As funções são diversificadas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cargos burocráticos (secretárias,<br />

datilógrafas e conta<strong>do</strong>ras) aos <strong>de</strong> telefonista, fotógrafa, químicas e cozinheiras e até<br />

os mais próximos ao combate como os <strong>de</strong> enfermeira e condutoras.<br />

2.8.2 No Canadá<br />

A assinatura <strong>do</strong> Trata<strong>do</strong> <strong>do</strong> Atlântico Norte e a eclosão da Guerra da Coréia<br />

em 1950 favoreceram a readmissão das mulheres nas forças armadas. Já em 1951


20<br />

foi formada a divisão feminina da força aérea. Seguiu o Exército em 1954 e a<br />

Marinha em 1955.<br />

2.8.3 Nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />

Durante a IIGM o número <strong>de</strong> enfermeiras foi cerca <strong>de</strong> 57 mil no Exército e 11<br />

mil na Marinha.<br />

Após o término da gran<strong>de</strong> guerra, em 1948, o Congresso aprovou uma lei<br />

chamada: “Lei <strong>de</strong> Integração das Mulheres nas Forças Armadas”, que autorizou sua<br />

assimilação e suprimiu a reserva feminina.<br />

2.8.4 Na França<br />

Já em 1930 havia a possibilida<strong>de</strong> da mulher enfermeira da Cruz Vermelha<br />

francesa se voluntariar (sem remuneração) para as formações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> em<br />

campanha. A duração <strong>do</strong> engajamento era mínima <strong>de</strong> 1 ano e máxima conforme<br />

durasse o conflito. Outra ativida<strong>de</strong> que elas exerciam era <strong>de</strong> condutoras <strong>de</strong> viaturas.<br />

Em 1940 as opções <strong>de</strong> serviço foram ampliadas. As novas missões po<strong>de</strong>riam<br />

ser nos esta<strong>do</strong>s maiores e corpo <strong>de</strong> tropa, nos serviços <strong>de</strong> artilharia, engenharia,<br />

intendência e saú<strong>de</strong> e nos transportes.


21<br />

3 CONCLUSÃO<br />

As enfermeiras da FEB representaram o início da carreira militar <strong>do</strong> segmento<br />

feminino no EB, fato este impulsiona<strong>do</strong> pelas mudanças sócio-econômicas<br />

brasileiras na década <strong>de</strong> quarenta.<br />

Seguin<strong>do</strong> uma tendência internacional, e por solicitação <strong>do</strong>s alia<strong>do</strong>s norteamericanos,<br />

o Esta<strong>do</strong> Maior <strong>do</strong> Exército implementou, em caráter <strong>de</strong> urgência, a<br />

busca por voluntárias para compor o Quadro <strong>de</strong> Enfermeiras a fim <strong>de</strong> atuar no<br />

cenário da Guerra. Havia uma mobilização popular espontânea no Brasil no mesmo<br />

senti<strong>do</strong>, <strong>de</strong> tal forma que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>do</strong> conflito, muitas mulheres já estavam se<br />

preparan<strong>do</strong>, através <strong>de</strong> cursos profissionalizantes, para esse voluntaria<strong>do</strong>.<br />

Assim, em 9 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1943 o jornal “O Globo” publicou a chamada às<br />

voluntárias cujos critérios <strong>de</strong> inclusão eram os seguintes: ter entre 18 e 36 anos, ser<br />

solteira, viúva ou separada e possuir qualquer diploma <strong>de</strong> enfermagem. Assim que<br />

selecionadas, as enfermeiras foram submetidas ao Curso <strong>de</strong> Emergência <strong>de</strong><br />

Enfermeiras da Reserva <strong>do</strong> Exército.<br />

O curso, coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> e ministra<strong>do</strong> pela Diretoria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> Exército,<br />

constou <strong>de</strong> três módulos distintos: parte teórica, preparação física e instrução militar.<br />

O treinamento físico a que foram submetidas era basicamente o mesmo que o<br />

aplica<strong>do</strong> aos solda<strong>do</strong>s em treinamento na época. O objetivo era inserir nas mulheres<br />

o habitus militar, padronizan<strong>do</strong>, assim, o comportamento <strong>de</strong>ssas enfermeiras no<br />

Teatro <strong>de</strong> Operações na Itália.<br />

As enfermeiras selecionadas atuaram na Itália em cooperação com o Serviço<br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Americano. Realizaram, entre tantas tarefas, a evacuação aeromédica <strong>do</strong>s<br />

feri<strong>do</strong>s brasileiros.<br />

Após o final da Guerra e antes mesmo <strong>de</strong> chegarem ao Brasil em 1945, a<br />

FEB foi <strong>de</strong>smobilizada. To<strong>do</strong>s os reservistas foram <strong>de</strong>sliga<strong>do</strong>s <strong>do</strong> EB. Desta<br />

maneira, também as enfermeiras <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> fazer parte <strong>do</strong> contingente brasileiro.<br />

Esse fato foi muito frustrante para to<strong>do</strong>s os febianos, e explica<strong>do</strong> pelo fato <strong>de</strong> um<br />

possível temor <strong>do</strong> governo Vargas <strong>de</strong> ter em seu território uma força treinada para<br />

combater o regime totalitário, como era o seu.


22<br />

Comparativamente com as Forças Armadas <strong>de</strong> outros países, a aceitação das<br />

mulheres no meio militar no Brasil, é recente. Na França, por exemplo, isso ocorreu<br />

vinte anos antes (MARIUZZO, 2008).<br />

Dentro <strong>de</strong>sse panorama, o Exército, no Brasil, foi o último das Forças<br />

Armadas a incorporar mulheres. E até hoje, elas não po<strong>de</strong>m ingressar na carreira<br />

combatente.<br />

Conclui-se que o Brasil segue uma tendência mundial <strong>de</strong> incluir as mulheres<br />

nesse universo tradicionalmente masculino, porém sempre com algumas décadas<br />

<strong>de</strong> atraso. Aqui as mulheres, como nos <strong>de</strong>mais países, iniciaram como força auxiliar<br />

temporária e aos poucos foram ganhan<strong>do</strong> espaço nos Quadros e Serviços <strong>de</strong><br />

carreira.<br />

Destaca-se que as enfermeiras da FEB tiveram um papel importantíssimo<br />

nesse processo, pois mostraram que mulheres são muito capazes <strong>de</strong> tolerar o<br />

treinamento, absorver o habitus militar e <strong>de</strong>sempenhar importante papel no front <strong>de</strong><br />

guerra, tanto como profissionais, bem como símbolos da Pátria Mãe que acolhe e dá<br />

suporte aos seus combatentes.<br />

Contu<strong>do</strong>, algumas lacunas ainda <strong>de</strong>vem ser preenchidas. Uma <strong>de</strong>las é<br />

enten<strong>de</strong>r porque o EB não <strong>de</strong>u continuida<strong>de</strong> ao serviço feminino ao término da<br />

Segunda Guerra, uma vez que internacionalmente houve essa continuação. E outra<br />

questão a ser pensada com olhos no futuro, é o estu<strong>do</strong> da oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mulheres<br />

ingressarem nas carreiras combatentes <strong>do</strong> Exército.


23<br />

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