Conteúdo integral 2.58 MB - Unimep

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INSTITUTO EDUCACIONAL PIRACICABANO – IEP<br />

Presidente do Conselho Diretor<br />

Diretor geral<br />

Vice-diretor<br />

Reitor<br />

Pró-reitora de graduação e educação continuada<br />

Pró-reitora de pós-graduação, pesquisa e extensão<br />

Pró-reitor administrativo<br />

PAULO BORGES CAMPOS JÚNIOR<br />

DAVI FERREIRA BARROS<br />

SÉRGIO MARCUS NOGUEIRA TAVARES<br />

Universidade Metodista de Piracicaba<br />

Conselho de Política Editorial<br />

Policy Advisory Committee<br />

DAVI FERREIRA BARROS<br />

RINALVA CASSIANO SILVA<br />

ROSA GITANA KROB MENEGHETTI<br />

SÉRGIO MARCUS NOGUEIRA TAVARES<br />

EDITORA UNIMEP<br />

DAVI FERREIRA BARROS (presidente)<br />

SÉRGIO MARCUS NOGUEIRA TAVARES (vice-presidente)<br />

BELARMINO CESAR GUIMARÃES DA COSTA<br />

CLÁUDIA REGINA CAVAGLIERI<br />

MARCELO DE CASTRO CESAR<br />

NANCY ALFIERI NUNES<br />

JOSÉ ANTONIO ARANTES SALLES<br />

SAÚDE EM REVISTA Health in Review maio/ago. 2007, v. 9, n. 22<br />

Comissão Científico-Editorial MARCELO DE CASTRO CESAR – editor científico (Educação Física e Medicina)<br />

Scientific-Editorial Board CRISTINA BROGLIA F. DE LACERDA – (Fonoaudiologia)<br />

ELIANA PEREIRA DE ARAÚJO (Enfermagem)<br />

FÁTIMA CRISTIANE L. GOULART FARHAT (Farmácia)<br />

MARIA LUIZA OZORES POLACOW (Ciências Biomédicas)<br />

ROSANA MACHER TEODORI (Fisioterapia)<br />

VÂNIA APARECIDA LEANDRO MERHI (Nutrição)<br />

Comitê Científico ALBERT - JESUS FIGUERAS SUÑE (Fundació Institut Català de<br />

Advisory Board Farmacologia / Universitat Autònoma de Barcelona, Espanha)<br />

ARTURO SAN FELICIANO (Departamento de Quimica Farmaceutica /<br />

Faculdad de Farmacia / Universidade de Salamanca, Espanha)<br />

ELVIRA MARIA GUERRA SHINOHARA (Faculdade de Ciências Farmacêuticas / USP-SP)<br />

FRAN HARSTROM (Department of Rehabilitation, Human Resources and<br />

Communication Disorders / University of Arkansas-Fayetteville, USA)<br />

ISABELA HOFFMEISTER MENEGOTTO (Curso de Fonoaudiologia / Universidade<br />

Luterana do Brasil-Ulbra / Canoas-RS)<br />

LÉSLIE PICCOLOTTO FERREIRA (Faculdade de Fonoaudiologia / PUC-SP)<br />

LISIAS NOGUEIRA CASTILHO (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina / USP-SP)<br />

MARIA CRISTINA FABER BOOG (Departamento de Enfermagem – Faculdade de<br />

Ciências Médicas / Unicamp-SP)<br />

MAURO FISBERG (Departamento de Pediatria e Adolescência – Nutrologia / Unifesp-SP)<br />

PEDRO LUIZ ROSALEN (Faculdade de Odontologia de Piracicaba / Unicamp-SP)<br />

RENATA MOTA MAMEDE CARVALHO (Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia<br />

e Terapia Ocupacional / Faculdade de Medicina da USP-SP)<br />

RUI CURI (Instituto de Ciências Biomédicas / USP-SP)<br />

Editora Executiva/Managing Editor ROSA GITANA KROB MENEGHETTI<br />

Equipe Técnica/Technical Team IVONETE SAVINO (secretária)<br />

MARIA NILZA FACCO PREEG (auxiliar administrativa)<br />

PEDRO LUÍS LOPES BINCOLETTO (auxiliar administrativo)<br />

REGINA FRACETO (ficha catalográfica)<br />

MARCIA REGINA ALVES FELIPPE (edição de texto)<br />

RENATA CRISTINA COLASANTE (revisão de textos em inglês)<br />

Capa WESLEY LOPES HONÓRIO<br />

Impressa por PrintFit<br />

SAÚDE EM REVISTA é uma publicação quadrimestral da Editora UNIMEP, a qual traz artigos vinculados ao desenvolvimento científico e<br />

tecnológico nas áreas de ciências biológicas e da saúde. Os originais devem ser encaminhados à Comissão Científico-Editorial da revista,<br />

observadas suas normas para publicação de artigos. As opiniões expressas nos artigos são de responsabilidade dos seus autores. Os textos<br />

são selecionados por processo anônimo de avaliação por pares (blind peer review). Na última edição de cada ano, é publicada a relação do<br />

seu corpo de referee. Veja as normas para publicação no final da revista (estilo Vancouver: ).<br />

SAÚDE EM REVISTA (Health in Review) is published three times a year by UNIMEP Press (São Paulo/Brazil). It contains papers on scientific<br />

and technological issues from biological and health sciences. Editorial norms for submission of articles can be requested to the Editor.<br />

Manuscripts are selected through a blind peer review process. In the last issue of the year, the list of referee body is published. See editorial<br />

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Aceita-se permuta / Exchange is desired.<br />

Saúde em Revista é indexada pelo / Saúde em Revista is indexed by<br />

SPORTDiscus, SIRC Collection; Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Cientificas de América Latina, el Caribe, España y<br />

Portugal (LATINDEX) e base de dados Peri (ESALQ/USP) e Qualis CAPES.<br />

EDITORA UNIMEP<br />

SAÚDE EM REVISTA<br />

Rodovia do Açúcar, Km 156 – bloco 7 – sala 8<br />

13400-911 – Piracicaba/SP<br />

Tel./fax: 55 (19) 3124-1620<br />

E-mail: sauderev@unimep.br<br />

SAÚDE EM REVISTA<br />

UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA<br />

V. 1 • n. 1 • 1999<br />

Quadrimestral / Three times yearly<br />

ISSN 1516-7356<br />

1. Ciências da Saúde – periódicos<br />

CDU – 613/614


DOENÇAS NUTRICIONAIS<br />

E NUTRICIONISTAS: O<br />

QUE PODEMOS FAZER?<br />

O perfil de morbidade e mortalidade no Brasil é aterrorizante. As doenças do aparelho<br />

circulatório, em especial o infarto do miocárdio e o acidente vascular cerebral, são responsáveis<br />

por 36% dos quase 1 bilhão de óbitos, que ocorrem anualmente em nosso país. Em um<br />

estudo publicado pelo Earth Institute da Universidade de Columbia, EUA, denominado Uma<br />

luta contra o tempo. O desafio das doenças cardiovasculares em economias em desenvolvimento<br />

e apresentada análise feita por um grupo de especialistas (incluindo brasileiros) sobre<br />

a situação atual e as perspectivas da evolução dessas doenças no mundo, prevê-se que, até<br />

o ano 2040, o Brasil terá um aumento de 240% no número de mortes por doença<br />

cardiovascular, ganhando da China (200%), Índia (180%), África do Sul (110%). Seremos<br />

campeões. Os reflexos desse fato sobre a economia, uma vez que essas mortes ocorrem em<br />

idades bastante produtivas, são catastróficos.<br />

Dirão alguns que outras catástrofes foram previstas, e algumas não ocorreram. Analisemos,<br />

então, a situação de Ribeirão Preto em relação aos fatores de risco de doenças crônicas<br />

cardiovasculares. Um estudo marcante vem sendo liderado pelo professor Barbieri, do Departamento<br />

de Pediatria da FMRP. Esse pesquisador e seu grupo vêm acompanhando uma<br />

população nascida nos anos de 1978 e 1979. Em sua última análise dessa população, hoje<br />

com 24 a 25 anos, foram observadas a prevalência de 43,1% de sobrepeso e obesidade entre<br />

os homens e a de 28,8% entre as mulheres; 20,8% dos homens e 13,9% das mulheres ainda<br />

adotam o tabagismo como hábito; 41,6% dos homens e 57,3% das mulheres são sedentários;<br />

e 41,8% dos homens e 8,7% das mulheres apresentam consumo elevado de bebidas alcoólicas.<br />

Outro dado interessante é que, mesmo nessa idade, 1,2% dos homens e 1% das mulheres<br />

já têm açúcar no sangue acima dos valores adotados como normais, e 11,3% dos homens e<br />

14% das mulheres têm excesso de gordura abdominal.<br />

Em outros estudos conduzidos por nosso grupo, a prevalência de excesso de peso e<br />

obesidade em adultos ribeirão-pretanos aumentou de 37,3% para 46,1% entre 1984 e 2001.<br />

Em 2001, 21% dos ribeirão-pretanos eram hipertensos; 28,5% tinham colesterol no sangue<br />

aumentado; e, pasmem, 47,9% tinham a cintura abdominal (fator de risco para doença cardíaca<br />

cada vez mais valorizado) acima do nível de risco.


Pela análise desses dados e observando-se o estilo de vida dos brasileiros, cada vez mais<br />

voltado aos alimentos calóricos e industrializados e somando-se as automações crescentes,<br />

que tornam o homem progressivamente mais sedentário, podemos concluir que a situação da<br />

saúde hoje não é boa, mas tem tudo para piorar.<br />

O que poderão os nutricionistas fazer diante desse quadro?<br />

JOSÉ ERNESTO DOS SANTOS<br />

Professor doutor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP/SP)


CONTENTS<br />

ORIGINAIS / ORIGINALS<br />

7.<br />

Análise do Lanche Escolar Consumido por Adolescentes<br />

Analysis of the Teenager’s School Feeding<br />

MARINA MARQUART FELICE; ISA DE PÁDUA CINTRA SAMPAIO & MAURO<br />

FISBERG<br />

15.<br />

A Percepção Corporal Influencia no Consumo do Café da<br />

Manhã de Adolescentes?<br />

Does the Body Perception Have an Influence in Teenagers’<br />

Breakfast Consumption?<br />

ELIANA CRISTINA DE ALMEIDA; LUCIA MARIA BRANCO; MARIA<br />

APARECIDA ZANETTI PASSOS; ALINE DE PIANO; ISA DE PÁDUA CINTRA<br />

& MAURO FISBERG<br />

23.<br />

Efeito de Aulas de Nutrição para Modificação do Estado<br />

Nutricional de Adolescentes<br />

Effect of Nutrition Classes for the Modification of Nutritional<br />

Status in Adolescents<br />

SIMONE CARDOSO FREIRE & ROBERTO FERNANDES DA COSTA<br />

31.<br />

Comparação de Testes de 1RM e 10RMs em Homens Jovens<br />

Treinados<br />

Comparison of 1-RM and 10-RM Tests in Trained Young Males<br />

CLEITON AUGUSTO LIBARDI; ÉRIKA SARITA SPILLER; ADALBERTO<br />

VICENTE DE OLIVEIRA JR.; ELISANE ROSSIN PESSOTI; MARIA<br />

IMACULADA DE LIMA MONTEBELO & MARCELO DE CASTRO CESAR


39.<br />

47.<br />

53.<br />

59.<br />

Treinamento Muscular Inspiratório na Reabilitação de<br />

Pacientes com DPOC<br />

Inspiratory Muscle Training in Rehabilitation of COPD Patients<br />

KARLA PAIVA RIBEIRO; ANDREZA DE TOLEDO; DANIELA BERETTA<br />

WHITAKER; LORENA CECÍLIA VALENZUELA REYES & DIRCEU COSTA<br />

Avaliação da Qualidade de Vida em Pacientes submetidos à<br />

Reconstrução do LCA<br />

A Research of Life’s Quality in Patients with ACL Reconstruction<br />

PAULO VILAS BOAS DE MIRANDA; JONAS FRANZOLIN SOARES; ARIANE<br />

AMOR; KATIA LEME DEMARCHI; SERGIO ROCHA PIEDADE; PEDRO<br />

HENRIQUE REGAZZO & ALEXANDRE SABBAG DA SILVA<br />

Alterações Motoras e Sensoriais na Mielomeningocele: relato<br />

de três casos<br />

Impairments in Myelomeningocele: cases report<br />

GUSTAVO CHRISTOFOLETTI; GERUZA P. BELA; REGINA C. TUROLLA;<br />

SIMONE SERRADILHA; MERLYN M. OLIANI & ANTÔNIO C. QUADROS JR.<br />

Efeitos do Dimetilaminoetanol (DMAE) em Preparação<br />

Neuromuscular<br />

Effects of Dimethylaminoethanol (DMAE) in Neuromuscular<br />

Preparation<br />

DIMAS DOS SANTOS ROCHA JUNIOR; GILDO BERNARDO LEITE; JOSIANE<br />

BRANDOLUZI PATINI; LÉA RODRIGUES SIMIONI &YOKO OSHIMA-FRANCO<br />

RESENHAS / REVIEWS<br />

69.<br />

73.<br />

Preparação Desportiva: Fundamentos da Teoria Geral do<br />

Treinamento Desportivo<br />

Sporting Preparation: basics of the general theory of the Sporting<br />

Training<br />

“Teoría General Del Entrenamiento Deportivo”, de Lev Pavlovitch<br />

JOÃO PAULO BORIN<br />

NORMAS PARA PUBLICAÇÃO


MARINA MARQUART FELICE ET AL.<br />

Análise do Lanche Escolar Consumido<br />

por Adolescentes<br />

Analysis of the Teenager’s School Feeding<br />

ORIGINAL / ORIGINAL<br />

MARINA MARQUART FELICE *<br />

Nutricionista, especialista em<br />

adolescência pelo Centro de<br />

Atendimento e Apoio ao Adolescente<br />

– Departamento de Pediatria<br />

(Unifesp/EPM)<br />

ISA DE PÁDUA CINTRA SAMPAIO<br />

Docente do Centro de Atendimento<br />

e Apoio ao Adolescente – Departamento<br />

de Pediatria (Unifesp/EPM)<br />

MAURO FISBERG<br />

Docente do Centro de Atendimento<br />

e Apoio ao Adolescente – Departamento<br />

de Pediatria (Unifesp/EPM)<br />

* Correspondências:<br />

Alameda Perequê, 19 – Alphaville<br />

06542-110 Santana de Parnaíba/SP<br />

marina.felice@ig.com.br<br />

RESUMO A alimentação dos adolescentes constitui motivo de preocupação,<br />

uma vez que, normalmente, substituem as refeições por lanches<br />

inadequados, possuem baixa ingestão de frutas e verduras e alta ingestão<br />

de alimentos ricos em gordura. Como esse comportamento ocorre também<br />

nas escolas, o presente estudo teve por objetivo analisar o estado<br />

nutricional e a qualidade dos lanches oferecidos nas cantinas escolares.<br />

Foram avaliados 625 escolares, de 10 a 15 anos, do município de São<br />

Paulo. Realizou-se avaliação do estado nutricional e do consumo alimentar.<br />

Para a análise estatística dos dados, utilizou-se o teste “T” de<br />

Student e o qui-quadrado. Observou-se que 8,8% dos adolescentes apresentam<br />

baixo peso, e 23,4% apresentam excesso de peso, sendo que, nas<br />

escolas públicas, há maior prevalência de baixo peso, e, nas escolas<br />

particulares, há maior prevalência de excesso de peso. Verificou-se também<br />

que 51,7% dos adolescentes consomem alimentos da cantina;<br />

23,5%, lanche de casa; 32,6%, merenda; e 18,9% não consomem nada<br />

durante o intervalo escolar. Os alimentos mais consumidos entre os<br />

adolescentes avaliados são guloseimas, salgadinho de pacote e bolacha,<br />

e há um consumo elevado de refrigerante em detrimento de sucos e<br />

lácteos. Concluiu-se que existe a necessidade de os adolescentes adotarem<br />

um estilo de vida mais saudável e que a escola é um importante<br />

local para a promoção de educação nutricional e formação de um hábito<br />

alimentar saudável.<br />

Palavras-chave ADOLESCENTE – ALIMENTAÇÃO ESCOLAR – CONSUMO ALIMENTAR.<br />

ABSTRACT The evaluation of adolescents eating habits is very important<br />

because many times adolescents use snacks to replace meals; they have<br />

low consumption of fruit and vegetables and high consumption of fatty<br />

food. This behavior takes place within schools periods as well. Thus,<br />

this study aimed at analyzing the nutritional state and the quality of<br />

snacks sold in schools. We studied 625 students aged 10-15 years from<br />

the city of São Paulo in a representative survey of public and private<br />

schools, and analyzed their nutritional state and alimentary consumption.<br />

Student’s “T” test and the chi-square test were used for statistical<br />

purposes. According to these analyses 8.8% of the adolescents presented<br />

low weight and 23.4% were overweight. The incidence of low weight is<br />

higher in public schools and overweight is higher in private schools.<br />

About 51.7% of the adolescents bought food in the cafeteria, 23.5%<br />

brough it from home, 32.6% eat food prepared by the school and 18.9%<br />

do not eat. The eating preferences among adolescents were: candy,<br />

snacks and crackers. They also consume a lot of soft drinks. A change<br />

in adolecents’ life styles is necessary, and we concluded that the school<br />

environment is an excellent place to promote nutritional education.<br />

Keywords ADOLESCENT – SCHOOL FEEDING – FOOD CONSUMPTION.<br />

Saúde em Revista<br />

Análise do Consumo de Lanches Escolares<br />

7


MARINA MARQUART FELICE ET AL.<br />

INTRODUÇÃO<br />

A adolescência é considerada um período<br />

nutricionalmente vulnerável, principalmente<br />

durante a puberdade e o estirão do crescimento<br />

em que ocorrem as maiores necessidades<br />

energéticas e de nutrientes. Sendo assim, a<br />

prática de hábitos alimentares ruins, durante<br />

essa fase, pode comprometer o crescimento, o<br />

desenvolvimento e a saúde a longo prazo. 1, 2<br />

A tendência atual sobre o consumo alimentar<br />

dos adolescentes constitui motivo de<br />

preocupação, tendo em vista que, comumente,<br />

trocam a alimentação habitual pelo consumo<br />

de lanches inadequados. Essas mudanças nos<br />

hábitos alimentares associadas a um estilo de<br />

vida sedentário durante a infância e a adolescência<br />

são responsáveis pelo desenvolvimento<br />

de doenças crônicas na fase adulta, como a<br />

obesidade e outras doenças associadas. 3-7<br />

Segundo Story et al. 8 , os adolescentes<br />

possuem hábitos alimentares inadequados,<br />

como a baixa ingestão de frutas, verduras,<br />

legumes e laticínios e o consumo elevado de<br />

alimentos com elevado teor de gordura, colesterol<br />

e sódio. Alguns autores também descrevem<br />

o aumento no consumo de alimentos<br />

industrializados, fast food e refrigerante, nessa<br />

fase da vida. 9<br />

Esse comportamento também ocorre nas<br />

escolas. Em um estudo que avaliou a ingestão<br />

alimentar de 3.307 crianças e adolescentes<br />

americanos, verificou-se que o consumo de<br />

gorduras e açúcar de adição corresponde a<br />

40% da ingestão energética total. 10 De acordo<br />

com Story & Neumark-Sztainer, 11 90% das<br />

escolas americanas vendem refrigerante e alimentos<br />

ricos em gordura em suas cantinas.<br />

A literatura demonstra a necessidade de<br />

melhorar a qualidade dos alimentos oferecidos<br />

nas escolas, concluindo que trata de um bom<br />

local para estimular o aumento do consumo de<br />

frutas e verduras (alimentação saudável). 12<br />

Além disso, Dwyer et al. 13 destacam a<br />

importância do fracionamento da dieta com<br />

refeições planejadas, a fim de evitar o consumo<br />

de lanches e salgadinhos, que contribuem<br />

para uma ingestão excessiva de calorias e<br />

sódio. Em seu estudo, mais de 80% dos adolescentes<br />

avaliados consomem junk food entre<br />

as refeições principais (café da manhã,<br />

almoço e jantar), sendo que esses lanches<br />

contribuem com 1/3 da ingestão calórica diária<br />

desses indivíduos.<br />

Diante do que foi descrito e considerando<br />

a importância da realização de mais estudos<br />

sobre o consumo alimentar em cantinas<br />

escolares pelos adolescentes, elaborou-se o<br />

presente estudo com o objetivo de analisar a<br />

qualidade dos lanches oferecidos nas cantinas.<br />

METODOLOGIA<br />

Casuística<br />

Realizou-se um estudo transversal, em<br />

que foram avaliados adolescentes, de ambos<br />

os sexos, com idade entre 10 e 15 anos, estudantes<br />

de escolas públicas e privadas do<br />

município de São Paulo, no período de março<br />

a junho de 2004.<br />

Os critérios de seleção das escolas foram<br />

a presença de alunos matriculados de 5 a<br />

a 8 a séries do ensino fundamental e a de cantina.<br />

A pesquisa foi realizada em uma escola<br />

particular e em três escolas públicas, totalizando<br />

625 alunos.<br />

Os adolescentes participaram voluntariamente<br />

da pesquisa mediante a autorização<br />

prévia da direção da escola.<br />

A investigação encontra-se inserida na<br />

proposta do Projeto Mega, que visa a conhecer<br />

os hábitos de vida e o perfil nutricional de adolescentes<br />

de escolas públicas e particulares do<br />

município de São Paulo, realizado pelo Centro<br />

de Atendimento e Apoio ao Adolescente e<br />

aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade<br />

Federal de São Paulo (Unifesp/EPM).<br />

Procedimentos<br />

Foram verificados o estado nutricional e<br />

o consumo alimentar durante o intervalo escolar<br />

dos estudantes.<br />

8<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 7-14, 2007


MARINA MARQUART FELICE ET AL.<br />

Avaliação do Estado Nutricional<br />

A massa corporal dos estudantes foi<br />

medida em quilos, tendo sido utilizada a balança<br />

eletrônica da marca Plenna, que foi<br />

colocada em superfície nivelada e zerada a<br />

cada pesagem. No momento da pesagem, o<br />

adolescente encontrava-se em posição vertical,<br />

descalço, usando roupas leves e sem<br />

portar objetos pesados. A capacidade máxima<br />

da balança é de 150 kg com divisão de 100g.<br />

A estatura foi medida em centímetros,<br />

utilizando-se o antropômetro de parede da<br />

marca Seca, a 90 o em relação à parede. O<br />

adolescente permanecia em pé, descalço, ereto,<br />

com os calcanhares juntos e com a cabeça<br />

no plano de Frankfurt.<br />

As medidas de peso e a estatura foram<br />

utilizadas para avaliação do estado<br />

nutricional por meio do cálculo do índice de<br />

massa corpórea (IMC), definido como massa<br />

corporal em quilos, dividido pela estatura em<br />

metros, elevada ao quadrado (kg/m 2 ). A classificação<br />

foi realizada de acordo com as curvas<br />

de CDC (2000), com valores segundo a<br />

idade e o sexo, adotando-se os seguintes<br />

pontos de corte:<br />

• Baixo peso (IMC < P5);<br />

• Eutrofia (P5 < IMC < P85);<br />

• Excesso de peso (IMC > P85).<br />

Consumo Alimentar<br />

Foi aplicado um questionário, em que o<br />

adolescente respondia se tinha o hábito de<br />

freqüentar a cantina, trazer lanche de casa e/<br />

ou consumir alimentos da merenda, quais<br />

eram os tipos de alimentos usualmente consumidos<br />

e qual sua origem.<br />

Em relação ao consumo alimentar, os<br />

alimentos foram divididos em 13 grupos:<br />

• Guloseimas: bala, chiclete;<br />

• Salgadinhos: salgadinho de pacote,<br />

amendoim, pipoca doce;<br />

• Salgado assado;<br />

• Salgado frito;<br />

• Sanduíches: hot dog (cachorro-quente),<br />

hambúrguer, misto quente;<br />

• Bolachas: bolacha, biscoito, bolo;<br />

• Doces: chocolate, docinhos;<br />

• Sorvete;<br />

• Refrigerante;<br />

• Sucos: suco caixinha (industrializado),<br />

suco natural;<br />

• Lácteos: iogurte, achocolatado;<br />

• Frutas;<br />

• Cereais: barra de cereal e cereal matinal.<br />

A aplicação dos questionários foi realizada<br />

por estagiários de nutrição, previamente treinados<br />

por profissionais envolvidos no projeto.<br />

Análise dos Dados<br />

Os dados obtidos foram analisados de<br />

acordo com o sexo, a faixa etária, o tipo de<br />

escola e o estado nutricional.<br />

Análise Estatística<br />

Os dados coletados foram inseridos em<br />

um banco de dados do Microsoft Excel<br />

(Windows XP). A análise estatística foi realizada<br />

por meio do software Statistical Package<br />

for the Social Sciences (SPSS – versão 10.0).<br />

Para a análise dos dados, realizaram-se<br />

testes paramétricos para variáveis quantitativas<br />

e não-paramétricos para variáveis qualitativas.<br />

Foi aplicado o teste “T” Student para a relação<br />

entre as médias e o teste qui-quadrado para<br />

avaliar se houve diferença entre duas variáveis<br />

independentes, considerando-a estatisticamente<br />

significativa quando p < 0,05.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

Uma das preocupações relacionadas ao<br />

consumo alimentar inadequado é o estado<br />

nutricional. A obesidade é uma doença crônica<br />

e epidêmica, pois vem apresentando um<br />

rápido aumento em sua prevalência nas últimas<br />

décadas, tanto em países desenvolvidos<br />

14, 15<br />

quanto naqueles em desenvolvimento.<br />

Saúde em Revista<br />

Análise do Consumo de Lanches Escolares<br />

9


MARINA MARQUART FELICE ET AL.<br />

Segundo a American Dietetic Association,<br />

16 por volta de 4,7 milhões de jovens, entre<br />

6 e 17 anos, têm sobrepeso ou obesidade.<br />

Nesse estudo, foram avaliados 625 adolescentes,<br />

estudantes de três escolas públicas<br />

(n = 497) e uma privada (n = 128), com idade<br />

entre 10 e 15 anos e média de idade de<br />

12,38 anos (DP = 1,38), sendo 52% do sexo<br />

feminino e 48% do sexo masculino.<br />

Observou-se que 8,8% dos adolescentes<br />

apresentam baixo peso, enquanto 23,4%<br />

apresentam excesso de peso (14,4% de<br />

sobrepeso e 9% de obesidade). Observou-se<br />

também que os meninos têm uma tendência<br />

significativamente maior a apresentarem desvios<br />

nutricionais quando comparados às meninas<br />

[baixo peso (13% X 4,9%) e excesso<br />

de peso (26% X 20,9%)] (p < 0,001).<br />

Estudos realizados em algumas cidades<br />

brasileiras apresentam dados semelhantes aos<br />

resultados encontrados nessa pesquisa e mostram<br />

que o sobrepeso e a obesidade já atingem<br />

mais de 20% das crianças e adolescentes. 17<br />

Essa situação é favorecida pelo estilo de<br />

vida inadequado, representado por sedentarismo,<br />

hábitos familiares incorretos, alimentação<br />

insatisfatória, refeições desequilibradas,<br />

consumo de doces e guloseimas entre<br />

outros. Cerca de 80% dos adolescentes obesos<br />

tornam-se adultos obesos. Além disso, o<br />

excesso de peso gera uma situação de risco,<br />

pois está associado ao desenvolvimento de<br />

doenças crônicas. 14<br />

A literatura mostra que a condição<br />

socioeconômica também é um fator importante<br />

a ser considerado quando se discute o<br />

excesso de peso em crianças e adolescentes. 17<br />

Segundo Jenkins e Horner, 18 a incidência de<br />

obesidade é maior em adolescentes com melhor<br />

condição socioeconômica. Os resultados<br />

observados neste estudo também evidenciam<br />

essa situação. Verificou-se que a escola particular<br />

apresenta maior prevalência de excesso<br />

de peso em relação às escolas públicas.<br />

Ao comparar o estado nutricional dos<br />

adolescentes segundo o tipo de escola, verificou-se<br />

uma diferença estatisticamente significativa<br />

(p < 0,05), sendo que as escolas<br />

públicas apresentam maior prevalência de<br />

baixo peso em relação à escola particular<br />

(9,9% X 4,7%), enquanto que esta apresenta<br />

maior prevalência de excesso de peso em<br />

relação à escola pública (32% X 21,1%).<br />

Em relação ao consumo alimentar dos<br />

adolescentes durante o intervalo escolar, observou-se<br />

que 51,7% consomem alimentos<br />

comprados na cantina; 23,5%, lanche de<br />

casa; e 32,6%, a merenda. Verificou-se também<br />

que 18,9% não consomem nada durante<br />

o intervalo escolar, sendo que a prevalência<br />

de adolescentes que omitem o lanche é maior<br />

no turno da manhã.<br />

A omissão de refeições é um hábito<br />

comum na adolescência, como observado<br />

entre os alunos avaliados. A dieta dos adolescentes<br />

é inadequada em muitas vitaminas e<br />

minerais, incluindo ácido fólico, vitaminas A,<br />

B e E, ferro, zinco e cálcio. Estudos relatam<br />

que os adolescentes que omitem o café da<br />

manhã apresentam outros erros alimentares,<br />

como ingestão inadequada de nutrientes, alimentação<br />

irregular, além de apresentarem<br />

maior IMC. 6, 10-12 Segundo Haines e Stang, 21<br />

adolescentes do sexo feminino, que fazem o<br />

café da manhã, têm maior ingestão de cálcio<br />

e fibra e podem reduzir o risco de sobrepeso.<br />

Lanche de Casa<br />

O lanche de casa foi consumido por<br />

20,5% dos alunos de escola pública e por<br />

35,2% dos alunos de escola particular. Observou-se<br />

que 54,5% dos alunos preparam o próprio<br />

lanche, enquanto que 35,1% têm o lanche<br />

preparado pela mãe. Apenas 3,7% têm o lanche<br />

preparado pelo pai, e 6,7%, por outra pessoa.<br />

As meninas (59,8%) preparam mais o<br />

próprio lanche em relação aos meninos, e as<br />

mães preparam mais o lanche dos meninos<br />

(44,2%) que o das meninas, independentemente<br />

do tipo de escola, embora essa diferença<br />

não tenha apresentado diferença estatisticamente<br />

significativa.<br />

10<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 7-14, 2007


MARINA MARQUART FELICE ET AL.<br />

Em relação à faixa etária, observou-se<br />

que os adolescentes mais velhos (13 a 15<br />

anos) preparam mais o próprio lanche, enquanto<br />

que os mais novos (10 a 12 anos) têm<br />

seu lanche preparado pelas mães mais<br />

freqüentemente que os mais velhos (p < 0,05).<br />

Em um estudo realizado com crianças<br />

obesas, verificou-se que os pais têm uma<br />

forte influência nas escolhas alimentares dos<br />

filhos. Os autores relatam que a redução na<br />

ingestão de gordura e açúcar em crianças<br />

pode ser obtida por meio da mudança dos<br />

hábitos alimentares dos pais. 19 De acordo<br />

com Klesges et al., 20 quando as mães estão<br />

diretamente envolvidas na seleção do alimento,<br />

as crianças escolhem refeições com baixas<br />

calorias, baixos teores de gordura<br />

saturada e sódio que quando fazem livremente<br />

a escolha de sua refeição.<br />

Merenda<br />

Em relação ao consumo da merenda, os<br />

meninos (35,7%) apresentam maior consumo<br />

em relação às meninas (29,6%), e os adolescentes<br />

mais velhos (13 a 15 anos) consomem<br />

mais que os mais novos (10 a 13 anos).<br />

Verificou-se maior freqüência no consumo<br />

da merenda entre os alunos do turno da<br />

tarde que entre os alunos do turno da manhã<br />

(p < 0,001), sendo que 43,8% dos alunos da<br />

manhã nunca consomem a merenda, enquanto<br />

que 30,2% dos alunos da tarde o fazem 2<br />

a 3 vezes por semana.<br />

Ao analisar o estado nutricional, verificou-se<br />

que os adolescentes com baixo peso<br />

consomem mais a merenda que os com excesso<br />

de peso (Figura 1).<br />

Observou-se também que 47,7% dos<br />

adolescentes repetem a merenda e que a<br />

média de vezes de repetição é de 2,23 (DP =<br />

1,1), sendo essa média semelhante entre os<br />

sexos, a faixa etária e o estado nutricional.<br />

Entretanto, em relação ao estado<br />

nutricional, embora a média de vezes que os<br />

adolescentes repetem a merenda seja semelhante,<br />

observou-se que tal atitude é mais freqüente<br />

entre os alunos com baixo peso (p < 0,05).<br />

Um outro resultado interessante a ser<br />

discutido é o fato de os adolescentes<br />

eutróficos (64%) possuírem um comportamento<br />

significativamente maior em comer<br />

alimentos da cantina complementando a merenda<br />

em relação aos adolescentes com excesso<br />

de peso (47,9%) e com baixo peso<br />

(41%). Não foram encontradas justificativas<br />

para esse fato, já que o estudo foi apenas<br />

qualitativo, ou seja, não se sabe a quantidade<br />

de alimento consumida por cada escolar.<br />

Figura 1. Distribuição (%) dos adolescentes segundo o consumo da merenda e o estado nutricional.<br />

Saúde em Revista<br />

Análise do Consumo de Lanches Escolares<br />

11


MARINA MARQUART FELICE ET AL.<br />

Sugere-se a hipótese de que os adolescentes<br />

eutróficos consomem menor quantidade de<br />

alimento independentemente da origem. Portanto,<br />

mantêm o peso normal, pois consomem<br />

maior variedade em menores quantidades.<br />

Da mesma maneira, os adolescentes com<br />

baixo peso devem consumir quantidades insuficientes,<br />

mesmo sendo uma maior variedade<br />

de alimentos.<br />

Além disso, as meninas (65,2%) apresentam<br />

maior tendência para esse comportamento<br />

que os meninos (51,4%) (p < 0,05).<br />

Cantina<br />

Notou-se que os adolescentes de escola<br />

particular consomem mais vezes na cantina<br />

(63,3%) que os adolescentes de escola pública<br />

(48,7%) (p < 0,05) e que as meninas<br />

(60,6%) consomem mais que os meninos<br />

(42%) (p < 0,05).<br />

Em relação ao estado nutricional, o consumo<br />

de alimentos da cantina ocorre em<br />

50,9% dos adolescentes com baixo peso,<br />

53,1% dos eutróficos e 47,9% dos sobrepesos.<br />

A figura 2 ilustra os motivos pelos<br />

quais os adolescentes compram seus lanches<br />

na cantina.<br />

As principais barreiras que impedem as<br />

crianças e os adolescentes de comerem alimentos<br />

saudáveis são a falta de senso de urgência<br />

em relação à saúde pessoal, à aparência<br />

e ao odor dos alimentos, à falta de tempo,<br />

à falta de opção e à conveniência. 22<br />

A figura 3 apresenta os alimentos mais<br />

consumidos pelos adolescentes.<br />

Observa-se uma freqüência no consumo<br />

de guloseimas e salgadinho de pacote, alimentos<br />

ricos em açúcar, gorduras e sódio. Há<br />

também um consumo elevado de refrigerante,<br />

em detrimento dos sucos e dos lácteos.<br />

Ainda em relação ao consumo alimentar,<br />

observou-se que os adolescentes mais<br />

novos preferem alimentos, como bolachas,<br />

lácteos e sanduíches, enquanto que os mais<br />

velhos preferem guloseimas e refrigerante. É<br />

importante lembrar que os adolescentes mais<br />

novos consomem mais lanches levados de<br />

casa e preparados pelas mães (que, normalmente,<br />

contêm lácteos, sanduíches, frutas e<br />

biscoito), enquanto que os mais velhos compram<br />

mais alimentos na cantina, por isso a<br />

diferença no comportamento alimentar. Segundo<br />

o tipo de escola, os adolescentes de<br />

escola particular consomem mais salgado<br />

assado, sanduíches e suco, enquanto que os<br />

de escola pública consomem mais refrigerante<br />

e salgadinho de pacote. Vale ressaltar que<br />

Figura 2. Distribuição (%) dos adolescentes segundo os motivos para escolha da cantina.<br />

12<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 7-14, 2007


MARINA MARQUART FELICE ET AL.<br />

Figura 3. Distribuição (%) dos adolescentes segundo o consumo alimentar.<br />

as cantinas de escolas públicas oferecem em<br />

maior quantidade alimentos de baixo custo,<br />

como salgadinhos de pacote.<br />

As refeições e os lanches consumidos<br />

nas escolas contribuem muito na formação<br />

dos hábitos alimentares das crianças e dos<br />

adolescentes. 23 A literatura evidencia que os<br />

lanches vendidos nas cantinas escolares possuem<br />

baixa qualidade nutricional e são muito<br />

calóricos e ricos em gordura saturada. 12<br />

CONCLUSÃO<br />

Claramente, existe a necessidade de estabelecer<br />

um balanço entre a ingestão e o<br />

gasto calórico, bem como de se adotar estilos<br />

de vida mais saudáveis. Na prevenção da<br />

obesidade, uma ênfase no consumo de frutas<br />

e hortaliças poderia ser um importante passo<br />

para evitar preparações com alta densidade<br />

energética. Vale ressaltar que o oferecimento<br />

de lanches não é sinônimo de uma alimentação<br />

inadequada, uma vez que eles podem ser<br />

nutritivos e balanceados.<br />

A escola é um importante local para a<br />

promoção de educação nutricional e para a<br />

formação do hábito alimentar saudável, devendo,<br />

portanto, ser uma atividade incluída<br />

no currículo escolar.<br />

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Saúde em Revista<br />

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Submetido: 4/set./2006<br />

Aprovado: 27/mar./2007<br />

14<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 7-14, 2007


LUCIA MARIA BRANCO ET AL.<br />

ORIGINAL / ORIGINAL<br />

A Percepção Corporal Influencia no Consumo<br />

do Café da Manhã de Adolescentes?<br />

Does the Body Perception Have an Influence in<br />

Teenagers’ Breakfast Consumption?<br />

LUCIA MARIA BRANCO *<br />

Nutricionista e mestre em Ciências<br />

(Unifesp/SP)<br />

ELIANA CRISTINA DE ALMEIDA<br />

Nutricionista e mestre em Ciências<br />

(Unifesp/SP)<br />

MARIA APARECIDA ZANETTI PASSOS<br />

Nutricionista e mestre em Ciências<br />

(Unifesp/SP)<br />

ALINE DE PIANO<br />

Nutricionista e mestranda do<br />

Programa de Pós-Graduação em<br />

Nutrição (Unifesp/SP)<br />

ISA DE PÁDUA CINTRA<br />

PhD e professora titular do<br />

Departamento de Pediatria<br />

(Unifesp/SP)<br />

Mauro Fisberg<br />

PhD e professor titular do<br />

Departamento de Pediatria<br />

(Unifesp/SP)<br />

* Correspondências:<br />

Rua Aracambé, 35 – Jd. Sta. Teresa<br />

04187-110 São Paulo/SP<br />

luciambranco@ig.com.br<br />

RESUMO A adolescência é uma fase de transformações e vulnerabilidade<br />

às pressões da mídia, que cultua a magreza como padrão de beleza, o<br />

que faz com que os adolescentes lancem mão de recursos inadequados<br />

para a redução de peso, como a omissão de refeições. Objetivo: Conhecer<br />

o hábito do consumo do café da manhã e sua relação com a percepção<br />

corporal. Métodos: Foram avaliados 812 adolescentes, matriculados<br />

em escolas da cidade de Cotia/SP. A classificação da imagem corporal<br />

foi realizada por auto-avaliação com o auxílio de figuras de silhuetas e<br />

o hábito do café da manhã por questionário. Para a análise estatística,<br />

utilizou-se o teste qui-quadrado. Resultados: Verificou-se que 15% da<br />

população estudada apresentava-se acima do peso, porém 49% se achavam<br />

em tal condição nutricional, principalmente os sujeitos do sexo<br />

feminino. Observou-se que 44,3% dos adolescentes não consumiam o<br />

café da manhã diariamente, sem diferença estatística entre os sexos.<br />

Conclusão: Verificou-se que a omissão do café da manhã foi maior<br />

entre os adolescentes com excesso de peso, e observou-se relação estatisticamente<br />

significativa entre a omissão do café da manhã e a distorção<br />

da percepção corporal nos adolescentes do sexo feminino, demonstrando<br />

que a percepção corporal exerce influência sobre o hábito do café da<br />

manhã.<br />

Palavras-chave ADOLESCENTE – HÁBITOS ALIMENTARES – IMAGEM CORPORAL.<br />

ABSTRACT Adolescence is characterized by many transformations and<br />

vulnerability to the pressures of the media, which values thinness as a<br />

beauty standard, making teenagers use inadequate methods to lose<br />

weight, as skipping meals. Objective: to know the habit of breakfast<br />

consumption and the body image perception. Methods: 812 adolescents<br />

registered in school of the town of Cotia/SP (14.6 ±1.7 years) were<br />

evaluated. The body image classification was carried out by a selfapplied<br />

questionnaire containing figures of silhouettes, and the breakfast<br />

habits, by closed questions. We applied the Chi-square test for the<br />

statistical analysis. Results: We observed that 15% of the population<br />

was overweight. However, 49% were found in such nutritional<br />

condition, mainly among females. We also observed that 44.3% of the<br />

adolescents did not consume breakfast daily, with no statistic difference<br />

between genders. Conclusion: The habit of skipping breakfast prevailed<br />

among overweight adolescents, as well as the statistically significant<br />

relation between the elimination of breakfast and the distortion of the of<br />

the body image perception among females, showing that the body image<br />

perception influences breakfast eating habits.<br />

Keywords ADOLESCENT – FOOD HABITS – BODY IMAGE.<br />

Saúde em Revista<br />

Percepção Corporal e Café da Manhã<br />

15


LUCIA MARIA BRANCO ET AL.<br />

INTRODUÇÃO<br />

A adolescência é uma fase que, além da<br />

ocorrência de uma variedade de eventos biológicos<br />

e psicossociais, pode ser uma etapa<br />

da vida em que ocorrem grandes transformações<br />

dos hábitos alimentares, podendo interferir<br />

de forma direta no estado nutricional<br />

dessa população. 1, 2<br />

Os hábitos alimentares dos adolescentes<br />

têm sido destacados, principalmente em função<br />

das refeições irregulares, dos lanches<br />

calóricos, da alimentação fora de casa e da<br />

prática de seguir dietas alternativas. 3<br />

Sabe-se que esse é um período de grande<br />

vulnerabilidade, em que as revistas, os programas<br />

de TV, as propagandas e os amigos são<br />

considerados fontes de informações, evidenciando<br />

a importância, mesmo que indiretamente,<br />

sobre o comportamento alimentar. 4, 5<br />

Estudos demonstram que as meninas<br />

omitem mais o café da manhã que os meninos,<br />

sugerindo que esse recurso é utilizado para<br />

evitar ganho e/ou controlar o peso. 6, 7 Aqueles<br />

que não fazem o desjejum apresentam certa<br />

dificuldade em compensar o potencial perdido<br />

de nutrientes e energia em outras refeições,<br />

tendo sido observado que os adolescentes que<br />

consomem o café da manhã selecionam melhor<br />

o alimento durante todo o dia, contribuindo na<br />

qualidade nutricional da dieta. 8, 9<br />

A influência que a auto-imagem corporal<br />

exerce sobre os hábitos de saúde dos adolescentes<br />

tem sido discutida na literatura.<br />

10, 11<br />

Atualmente, a forte tendência social e cultural<br />

de considerar a magreza como uma situação<br />

ideal de aceitação e êxito está influenciando<br />

cada vez mais os adolescentes, especialmente<br />

os do sexo feminino, 12 favorecendo a formação<br />

de padrões alimentares inadequados.<br />

Considerando a importância dos hábitos<br />

alimentares para a saúde – especificamente<br />

do adolescente –, este estudo teve como objetivos:<br />

avaliar o estado nutricional de adolescentes,<br />

identificar a percepção que têm<br />

sobre o corpo – sua imagem corporal – e<br />

analisar as relações entre o estado nutricional,<br />

a imagem corporal e o hábito de consumir<br />

o café da manhã.<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

A pesquisa foi realizada com 812 adolescentes,<br />

de 10 a 19 anos de idade, de ambos os<br />

sexos, matriculados em escolas públicas e<br />

privadas, da região central da cidade de Cotia,<br />

São Paulo. Esse projeto teve aprovação do<br />

comitê de ética da Universidade Federal de<br />

São Paulo. Somente participaram do estudo os<br />

alunos cujos responsáveis assinaram o termo<br />

de consentimento informado. A pesquisa foi<br />

descritiva com delineamento transversal.<br />

Para a avaliação antropométrica, foi<br />

medida a massa corporal por meio da balança<br />

eletrônica (Tanita TBS-521 ®), plataforma,<br />

com capacidade de 150kg e graduação<br />

em 100g. Os adolescentes foram pesados<br />

com roupas leves e descalços, segundo<br />

Jelliffe (1968). 13<br />

A estatura foi mensurada por meio do<br />

estadiômetro (SECA ®), afixado na parede a<br />

90 o em relação ao solo, com escala em milímetros<br />

(mm), de acordo com Jelliffe, 1968. 13<br />

A classificação do estado nutricional foi<br />

realizada por meio do Índice de Massa Corporal<br />

[IMC = peso (kg) / estatura²(m)], de<br />

acordo com os parâmetros estabelecidos por<br />

Must et al. (1991), 14 e a classificação proposta<br />

pela OMS (1995). 15<br />

A classificação da imagem corporal foi<br />

realizada por meio da auto-avaliação contendo<br />

figuras de silhuetas, em que o aluno identificava<br />

a figura que mais achava parecida<br />

com seu tipo físico, conforme os critérios<br />

estabelecidos por Fritsch-Madrigal et al.<br />

(1999), 16 contendo quatro categorias para a<br />

classificação: baixo peso (silhueta 1),<br />

eutrófico (silhuetas 2 a 5), sobrepeso (silhuetas<br />

6 e 7) e obeso (silhuetas 8 e 9).<br />

Para verificar se os adolescentes tinham o<br />

hábito de consumir o café da manhã, foi aplicado<br />

um questionário, cuja resposta poderia ser<br />

16<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 15-21, 2007


LUCIA MARIA BRANCO ET AL.<br />

diariamente (5 a 7 vezes por semana), de vez<br />

em quando (1 a 4 vezes por semana) ou nunca.<br />

Para a análise estatística dos dados, foi<br />

utilizado o software SPSS versão 10.0 for<br />

Windows. Foram aplicados o teste qui-quadrado<br />

e a correlação de Pearson para as variáveis.<br />

O nível de rejeição fixado foi igual<br />

ou menor que 5% (p < 0,05).<br />

RESULTADOS<br />

Dos 812 adolescentes avaliados, 407<br />

(50%) eram do sexo feminino e 405 (50%)<br />

do sexo masculino. A média de idade foi de<br />

14,6 anos (± 1,7 anos), sendo que 44% pertenciam<br />

à escola particular e 56% à escola<br />

pública. Aproximadamente 17% dos adolescentes<br />

apresentavam excesso de peso, não<br />

havendo diferença significativa entre os sexos<br />

(p > 0,05) (Figura 1).<br />

Conforme ilustra a figura 2, 65,9% dos<br />

adolescentes do sexo feminino e 31,4% do<br />

sexo masculino consideravam-se acima do<br />

peso, sem diferença estatística (p > 0,05).<br />

Pode-se notar que, aproximadamente,<br />

49% (395 adolescentes) da população estudada<br />

considerava-se acima do peso, porém apenas<br />

15% (123 adolescentes) estavam com<br />

Figura 1. Distribuição do estado nutricional dos adolescentes.<br />

Figura 2. Distribuição da percepção corporal dos adolescentes.<br />

Saúde em Revista<br />

Percepção Corporal e Café da Manhã<br />

17


LUCIA MARIA BRANCO ET AL.<br />

excesso de peso (p > 0,05), o que demonstra uma tendência à distorção da imagem corporal<br />

desses adolescentes, principalmente entre o sexo feminino, como ilustra a tabela 1.<br />

Tabela 1. Relação do estado nutricional e a percepção corporal.<br />

Observa-se que 359 (44,3%) adolescentes não possuem o hábito de realizar o café da<br />

manhã diariamente, sem diferença estatisticamente significativa entre os sexos (Figura 3).<br />

Figura 3. Consumo do café da manhã entre os adolescentes.<br />

18<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 15-21, 2007


LUCIA MARIA BRANCO ET AL.<br />

Verifica-se que a omissão do café da<br />

manhã foi maior entre os adolescentes com<br />

excesso de peso (p < 0,05) de ambos os sexos<br />

(Tabela 2).<br />

Nota-se uma relação estatisticamente significativa<br />

entre a omissão do café da manhã e<br />

a distorção da imagem corporal nos adolescentes<br />

do sexo feminino, sendo que a maioria<br />

das adolescentes que omitiam o café da manhã<br />

enxergava-se acima do peso (p < 0,05).<br />

Nos meninos, essa relação não foi significativa<br />

(p > 0,05) (Tabela 2).<br />

Tabela 2. Relação do estado nutricional e percepção corporal com o hábito do consumo do café<br />

da manhã entre os adolescentes.<br />

* p < 0,05, teste Qui-quadrado<br />

DISCUSSÃO<br />

A imagem corporal tem sido descrita<br />

como a capacidade de representação mental<br />

do próprio corpo pertinente a cada indivíduo,<br />

sendo que essa imagem envolve aspectos<br />

relacionados à estrutura (como tamanho, dimensões)<br />

e à aparência (forma, aspecto),<br />

entre vários outros componentes psicológicos<br />

e físicos da imagem corporal. 17-19<br />

Ao relacionar o estado nutricional com<br />

a autopercepção corporal, verificou-se que<br />

houve tendência de os adolescentes apresentarem<br />

distorção da imagem corporal. É importante<br />

ressaltar que, apesar de não haver<br />

relação significativa entre essas variáveis, as<br />

meninas tendem a superestimar sua imagem<br />

corporal. Verificou-se que das 268 adolescentes<br />

(65,9%) que se acharam em excesso<br />

de peso, somente 70 (17,2%) encontravam-se<br />

Saúde em Revista<br />

Percepção Corporal e Café da Manhã<br />

19


LUCIA MARIA BRANCO ET AL.<br />

dessa forma. Uma pesquisa realizada com<br />

145 estudantes do sexo feminino, com idade<br />

entre 12 e 18 anos, revelou que, embora apenas<br />

27% estivessem com excesso de peso,<br />

56% apresentaram insatisfação com a imagem<br />

corporal, sendo que 48% desse grupo<br />

relatou já ter feito algum tipo de tratamento<br />

para emagrecer. 20<br />

Observou-se que aproximadamente metade<br />

dos adolescentes não possuía o hábito<br />

de realizar diariamente o café da manhã, sem<br />

diferença estatística entre os sexos. Os resultados<br />

encontrados no presente estudo demonstraram<br />

que a omissão do desjejum foi<br />

maior entre os indivíduos com excesso de<br />

peso, havendo uma relação significativa entre<br />

o estado nutricional e o hábito de realizar<br />

essa refeição, o que pode sugerir que alguns<br />

adolescentes descontentes com sua imagem<br />

corporal omitem determinadas refeições,<br />

como, por exemplo, o café da manhã, na<br />

tentativa de perder peso e reduzir o valor<br />

calórico diário.<br />

Estudo realizado com 1.245 adolescentes<br />

suecos mostrou que 24% das meninas e 12%<br />

dos meninos não consomem o café da manhã<br />

diariamente e de forma adequada. 21 Em estudo<br />

longitudinal com 1.400 adolescentes americanos,<br />

verificou-se que, após três anos de acompanhamento,<br />

a omissão do desjejum promoveu<br />

aumento de peso significativo entre os<br />

indivíduos eutróficos, quando comparado com<br />

os indivíduos que consumiam o café da manhã<br />

diariamente. 22 Outro estudo realizado com<br />

153 adolescentes de seis escolas da rede estadual<br />

da região de Santo André, SP observou<br />

que 56 % da população estudada não realizava<br />

o café da manhã, com maior prevalência entre<br />

o sexo feminino. 7<br />

O presente estudo mostrou uma relação<br />

significativa entre a distorção da imagem<br />

corporal e a omissão do desjejum entre as<br />

meninas (p < 0,05). Em estudo com adolescentes<br />

do Reino Unido, foi observada uma<br />

associação significativa entre o descontentamento<br />

com a imagem corporal e a omissão<br />

de certas refeições, como o café da manhã,<br />

sendo essa associação mais significativa entre<br />

as meninas. 23 Isso demonstra a relação<br />

entre a distorção da imagem corporal e os<br />

hábitos alimentares inadequados em adolescentes,<br />

especialmente do sexo feminino.<br />

CONCLUSÃO<br />

O café da manhã é uma refeição essencial<br />

no dia-a-dia do ser humano. No entanto,<br />

a soma dos dados do presente trabalho mostra<br />

que houve relação significativa entre o estado<br />

nutricional e a omissão do café da manhã em<br />

ambos os sexos, cujos adolescentes que apresentam<br />

excesso de peso ou distorção da imagem<br />

corporal estão mais sujeitos a comportamentos<br />

e atitudes alimentares inadequadas.<br />

Entre as meninas, verificou-se uma significativa<br />

relação entre a distorção da imagem corporal<br />

e a omissão do desjejum. Essa prática<br />

inadequada pode se relacionar com alterações<br />

do estado nutricional. Portanto, deve-se encorajar<br />

os adolescentes a consumirem o café da<br />

manhã diariamente, visando aos bons hábitos<br />

alimentares, o estado nutricional adequado,<br />

assim como o bem-estar físico e mental desses<br />

indivíduos.<br />

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Submetido: 7/dez./2006<br />

Aprovado: 6/jun./2007<br />

Saúde em Revista<br />

Percepção Corporal e Café da Manhã<br />

21


SIMONE CARDOSO FREIRE, ROBERTO FERNANDES DA COSTA<br />

ORIGINAL / ORIGINAL<br />

Efeito de Aulas de Nutrição para Modificação<br />

do Estado Nutricional de Adolescentes<br />

Effect of Nutrition Classes for the Modification of Nutritional<br />

Status in Adolescents<br />

RESUMO OBJETIVO: Avaliar o efeito de um programa de educação<br />

nutricional para adolescentes apresentando sobrepeso e obesidade,<br />

matriculados no ensino fundamental da rede de ensino do Serviço<br />

Social da Indústria (Sesi) na região de Osasco, São Paulo. MÉTODO:<br />

Foram avaliados 1.493 adolescentes, e um total de 269 (18%) adolescentes,<br />

entre 11 e 15 anos de idade, com sobrepeso e obesidade, fez<br />

parte do estudo. O estado nutricional foi definido pelos percentis 85 e<br />

95 do IMC por idade e sexo, conforme proposto por Must et al. (1991).<br />

Todos os adolescentes participaram de oito aulas de educação<br />

nutricional, duas vezes por mês. Foi utilizado o teste qui-quadrado para<br />

comparar as diferenças pré e pós-período de intervenção. RESULTA-<br />

DOS: Na avaliação inicial, havia 138 (51,3%) adolescentes com<br />

sobrepeso e 131 (48,7%) obesos. Após a intervenção, havia 121 (45%)<br />

em sobrepeso, 125 (46,5%) obesos e 23 (8,5%) eutróficos. Embora não<br />

tenha havido diferenças estatisticamente significantes para sobrepeso (p<br />

= 0,144) e obesidade (p = 0,610), o teste qui-quadrado mostrou diferença<br />

significante em relação à eutrofia (p = 0,000), demonstrando resultado<br />

positivo da intervenção. CONCLUSÃO: Os resultados mostraram<br />

que as aulas de educação nutricional melhoraram o conhecimento dos<br />

adolescentes sobre hábitos alimentares e podem ser usados na prevenção<br />

e no tratamento do sobrepeso e da obesidade.<br />

Palavras-chave ADOLESCENTE – OBESIDADE – PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO –<br />

EDUCAÇÃO NUTRICIONAL.<br />

SIMONE CARDOSO FREIRE *<br />

Especialista em Saúde Pública<br />

Aplicada à Prática Pedagógica<br />

(Unifesp/SP) e mestre em Ciência<br />

dos Alimentos – Faculdade de<br />

Ciências Farmacêuticas (USP/SP)<br />

ROBERTO FERNANDES DA COSTA<br />

Doutor em Ciências Aplicadas à<br />

Pediatria (Unifesp/SP) e professor<br />

da Faculdade de Fisioterapia<br />

(Unisanta/SP)<br />

* Correspondências:<br />

R. Humberto I, 962 – ap. 21<br />

Vila Mariana<br />

04018-033 São Paulo/SP<br />

sfreire@usp.br<br />

ABSTRACT OBJECTIVE: To evaluate the effect of a program of<br />

nutritional education for overweight or obese adolescents enrolled in a<br />

school (elementary education) in the state of São Paulo, Brazil.<br />

METHOD: We evaluated 1,493 adolescents and a total of 269 (18%)<br />

adolescents aged 11-15 years with overweight or obesity took part in<br />

the study (all students in the institution that presented overweight).<br />

Nutritional status was defined by the 85 th and 95 th percentiles of BMI<br />

for age, respectively, as proposed by CDC in 2000. All adolescents<br />

participated in eight classes of nutritional education, two times a month.<br />

We used chi-square test to compare the results before and after<br />

intervention. RESULTS: In the initial evaluation there were 138<br />

(51.3%) overweight and 131 (48.7%) obese adolescents. In the final<br />

evaluation there were 121 (45%) overweight, 125 (46.5%) obese and 23<br />

(8.5%) normal weight adolescents. Although no significant differences<br />

were found for overweight (p = 0.144) and obesity (p = 0.610), the chisquare<br />

test showed significant difference between results before and<br />

after intervention for normal weight (p = 0.000), demonstrating a<br />

positive shift for weight recovery. CONCLUSION: The results showed<br />

that the classes of nutritional education improved the knowledge of<br />

adolescents about alimentary habits and could be used in the prevention<br />

and treatment of overweight and obesity.<br />

Keywords ADOLESCENT – OBESITY – NUTRITION PROGRAMMES – NUTRITION<br />

EDUCATION.<br />

Saúde em Revista<br />

Efeito de Aulas de Nutrição para Adolescentes<br />

23


SIMONE CARDOSO FREIRE, ROBERTO FERNANDES DA COSTA<br />

INTRODUÇÃO<br />

A obesidade é um dos principais problemas<br />

de saúde pública da atualidade, observado<br />

em diferentes faixas etárias e condições<br />

socioeconômicas em países desenvolvidos e<br />

em países em desenvolvimento. 1, 2<br />

Nos anos de 1999 e 2000, as prevalências<br />

de sobrepeso e obesidade em adolescentes<br />

norte-americanos foram estimadas em<br />

15%. 3 A adolescência é considerada um período<br />

mais crítico para o desenvolvimento da<br />

obesidade, devido ao processo de hiperplasia<br />

e hipertrofia dos adipócitos inerente ao período<br />

de crescimento e desenvolvimento acentuados<br />

que ocorre nessa fase. 4<br />

Um ponto relevante relacionado à quantidade<br />

de gordura corporal excessiva na adolescência<br />

refere-se à precocidade com que<br />

podem surgir os efeitos danosos à saúde,<br />

sabidamente associados à obesidade, além das<br />

relações existentes entre obesidade nessa fase<br />

da vida e seu prolongamento até à vida adulta.<br />

5-8 Dessa forma, não é raro encontrarmos<br />

adolescentes obesos que apresentam dislipidemia,<br />

hipertensão arterial, diabetes tipo 2,<br />

síndrome metabólica entre outras doenças<br />

normalmente relacionadas à vida adulta.<br />

No período da adolescência, em conjunto<br />

com a presença da obesidade, pode ocorrer<br />

maturação sexual precoce em meninas, 9 principalmente<br />

quando houver excesso de gordura<br />

abdominal. 10 As meninas podem, ainda, apresentar<br />

amenorréia devido à liberação de<br />

gonadotrofinas. A estatura durante a adolescência<br />

é maior que a média para idade, porém<br />

a estatura final pode resultar diminuída por<br />

fechamento precoce das cartilagens de crescimento.<br />

Podem ocorrer os distúrbios psíquicos<br />

como causa ou conseqüência da obesidade,<br />

podendo interferir nas alterações da imagem<br />

corporal decorrente do excesso de peso. 11<br />

Muitos estudos relatam que adolescentes<br />

quando pretendem diminuir peso fazem jejum,<br />

pulam refeições ou até mesmo têm comportamentos<br />

mais patológicos, como usar laxativos<br />

ou diuréticos, como mostra o projeto Eating<br />

Among Teens de Neumark-Sztainer. 12<br />

Nesse sentido, vale ressaltar que a orientação<br />

dietética para diminuição de massa corporal<br />

deve ser ministrada de forma que o indivíduo<br />

sinta-se autônomo para escolher e<br />

definir as próprias opções e assim administrar<br />

o próprio emagrecimento. 13, 14 Modificações<br />

alimentares podem ser baseadas na pirâmide<br />

alimentar, a qual tem como objetivo assegurar<br />

a ingestão de dieta variada e completa em todos<br />

os nutrientes. A introdução de alimentos<br />

não habituais deve ser gradual e só deve ocorrer<br />

depois que o indivíduo tiver consciência de<br />

que todos os alimentos são permitidos, quando<br />

então poderá controlar a quantidade. 14<br />

Estudos usando dieta normocalórica com<br />

objetivo de reduzir massa corporal mostram<br />

eficiência, com a diminuição da massa gorda<br />

e preservação da massa magra, 13, 15 enquanto<br />

o uso de dietas hipocalóricas pode apresentar<br />

resultados contrários, com maior risco de reincidência<br />

do excesso de gordura. 16<br />

Sendo a educação um processo que visa<br />

a formar o indivíduo para agir conscientemente,<br />

criando uma autogestão diante de situações<br />

novas da vida, 17 o objetivo desse estudo<br />

foi verificar a eficiência de um<br />

programa de orientação de adolescentes para<br />

o autocuidado em relação à sua alimentação<br />

e à melhora do estado nutricional.<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

O estudo foi realizado no primeiro semestre<br />

de 2002, nas cinco escolas do ensino<br />

fundamental da rede do Serviço Social da Indústria<br />

– Sesi –, na região de Osasco, SP, com<br />

os alunos matriculados nos ciclos III e IV.<br />

Os alunos foram recrutados pelos professores<br />

de educação física e passaram por<br />

avaliação antropométrica para identificação<br />

do estado nutricional. A massa corporal e a<br />

estatura foram obtidas conforme padronização<br />

descrita por Gordon et al., 18 utilizandose,<br />

respectivamente, uma balança digital da<br />

24<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 23-29, 2007


SIMONE CARDOSO FREIRE, ROBERTO FERNANDES DA COSTA<br />

marca Filizola®, com capacidade máxima de<br />

150kg e resolução de 100g, e um estadiômetro<br />

de metal com resolução de 1 mm, com<br />

barra vertical e esquadro móvel para posicionamento<br />

sobre a cabeça.<br />

Foi calculado o índice de massa corporal<br />

(IMC), dividindo-se a massa em quilogramas<br />

pelo quadrado da estatura em metros, e<br />

o diagnóstico de sobrepeso e obesidade foi<br />

realizado utilizando-se como pontos de corte<br />

os percentis 85 e 95, respectivamente, de<br />

acordo com idade e sexo, conforme critério<br />

proposto por Must et al. 19<br />

Após a identificação dos alunos em<br />

sobrepeso e obesidade, os coordenadores de<br />

cada escola organizaram os horários para as<br />

aulas de nutrição, que ocorreram dentro do<br />

período escolar. Os alunos participaram de<br />

uma reunião explicativa do trabalho, os quais<br />

podiam ter livre arbítrio para participação.<br />

Dessa forma, a amostra foi constituída<br />

por 269 alunos de ambos os sexos, com idades<br />

entre 11 e 15 anos, os quais tiveram duas<br />

aulas de nutrição por mês, com duração de<br />

50 minutos, durante quatro meses, sendo<br />

reavaliados ao final desse período para a<br />

identificação das possíveis modificações no<br />

estado nutricional.<br />

A intervenção dietética foi dividida em<br />

oito aulas, sendo que os alunos do ciclo III<br />

tinham aulas separadamente do grupo de ciclo<br />

IV. O enfoque de cada tópico não foi simplesmente<br />

passar conteúdo, e sim oferecer conceitos<br />

facilitando o entendimento para que os<br />

alunos praticassem no seu dia-a-dia e, com<br />

isso, aumentassem seu poder de decisão, para,<br />

então, agirem sobre suas próprias mudanças. 20<br />

A descrição das oito aulas é apresentada<br />

a seguir:<br />

Aula 1: Como está seu peso? Calcule e<br />

classifique seu IMC.<br />

Nessa aula, os alunos aprenderam a calcular<br />

o IMC e a classificá-lo, consultando os dados<br />

da tabela da Must et al. 19 para saberem se<br />

estavam dentro da classificação de sobrepeso<br />

(IMC > P85) ou obesidade (IMC > P95).<br />

Aula 2: Consumo dos macronutrientes<br />

em proporções adequadas.<br />

O objetivo de passar as proporcionalidades<br />

de cada macronutriente (50% a 60%<br />

de carboidratos, 20% a 30% de lipídios e 10%<br />

a 15% de proteínas) é de ensinar aos adolescentes<br />

a importância de cada um no organismo,<br />

mostrando suas diferentes funções. 21<br />

Aula 3: Qual a importância dos<br />

micronutrientes?<br />

Foram selecionados alguns micronutrientes<br />

(cálcio, ferro, zinco, magnésio, tiamina,<br />

riboflavina, niacina e vitamina D) para uma<br />

abordagem sobre sua importância nessa fase de<br />

crescimento e desenvolvimento. 22<br />

Aula 4: Consumo médio de calorias,<br />

distribuídas pelas refeições.<br />

Foi utilizado o aporte calórico recomendado<br />

pela Recommended Dietary Allownaces,<br />

23 sendo 2.200 kcal para meninas, entre 11<br />

e 18 anos, 2.500 kcal para meninos, entre 11<br />

e 14 anos, e 3.000 kcal para meninos, entre<br />

15 a 18 anos. As distribuições das refeições<br />

seguidas foram sugeridas por Philippi et al., 21<br />

mostrando que é possível realizar até seis refeições<br />

ao dia. Nessa aula, focou-se a importância<br />

da distribuição e da não-realização de<br />

lanches extras.<br />

Aula 5: Refeição versus lanche.<br />

Geralmente, os lanches são ricos em<br />

carboidratos simples e gorduras saturadas,<br />

enquanto a refeição consegue ter equilíbrio<br />

entre macro e micronutrientes. Nessa aula,<br />

utilizou-se o exemplo de um cachorro-quente<br />

completo e uma refeição equilibrada.<br />

Aula 6: Fome versus apetite.<br />

Foram abordadas as definições de fome<br />

e apetite para que os adolescentes fizessem<br />

um autoquestionamento sobre seu próprio<br />

comportamento alimentar.<br />

Aula 7: Avalie seu alimento.<br />

Alertar os adolescentes sobre o que estão<br />

consumindo foi o objetivo dessa aula, e,<br />

para isso, foram solicitados os próprios rótulos<br />

de produtos alimentícios, que haviam<br />

consumido, e realizavam a avaliação dos<br />

Saúde em Revista<br />

Efeito de Aulas de Nutrição para Adolescentes<br />

25


SIMONE CARDOSO FREIRE, ROBERTO FERNANDES DA COSTA<br />

nutrientes contidos assim como a relação das<br />

calorias e a proporcionalidade para a respectiva<br />

refeição.<br />

Aula 8: Entendendo a pirâmide dos<br />

alimentos.<br />

Os adolescentes foram orientados a seguir<br />

a pirâmide com a finalidade de obtenção de<br />

uma alimentação proporcional nas necessidades<br />

para macro e micronutrientes. 21 A análise estatística<br />

contou com a utilização do teste quiquadrado<br />

para comparação da proporção de<br />

adolescentes em cada condição do estado nutricional<br />

antes e após a intervenção. A significância<br />

estatística adotada foi de p < 0,05.<br />

A realização desse estudo obedeceu aos<br />

princípios éticos para pesquisa envolvendo<br />

seres humanos, conforme resolução CNS<br />

196/96.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

A tabela 1 apresenta o número de alunos<br />

matriculados em cada uma das escolas<br />

participantes do estudo, bem como a proporção<br />

de alunos em sobrepeso e obesidade na<br />

fase inicial do estudo. Dos adolescentes avaliados<br />

nessa fase, 48,7% apresentavam obesidade,<br />

e 51,3%, sobrepeso.<br />

Após a realização das oito aulas de nutrição,<br />

pode-se observar que houve redução<br />

no número de adolescentes em sobrepeso e<br />

obesos, bem como aumento do número de<br />

adolescentes eutróficos (Tabela 2).<br />

DISCUSSÃO<br />

Tem sido freqüente a constatação de<br />

altos índices de excesso de gordura corporal<br />

Tabela 1. Número e proporção de alunos com sobrepeso e obesidade para cada centro educacional<br />

da região de Osasco.<br />

Centro educacional *Alunos matriculados Sobrepeso Obesidade Total<br />

Ciclos III e IV<br />

A 258 28 (10,8%) 17 (6,6%) 45 (17,7%)<br />

B 232 13 (5,6%) 32 (13,8%) 45 (19,4%)<br />

C 205 27 (13,2%) 14 (6,8%) 41 (20%)<br />

D 482 41 (8,5%) 35 (7,3%) 76 (15,8%)<br />

E 316 29 (9,2%) 33 (10,4%) 62 (19,6%)<br />

Total 1.493 138 (9,2%) 131 (8,8%) 269 (18%)<br />

* Fonte: secretária dos centros educacionais (1 o semestre de 2001).<br />

Tabela 2. Resultados absolutos e relativos para as classificações do estado nutricional no início e<br />

no final da intervenção.<br />

Sobrepeso Obesidade Eutrofia<br />

Fases Inicial Final Inicial Final Inicial Final<br />

n (%) 138 (9,2%) 121 (8,1%) 131(8,8%) 125 (8,4%) 0 (0%) 23 (1,5%)<br />

p 0,167 0,666 0,000<br />

26<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 23-29, 2007


SIMONE CARDOSO FREIRE, ROBERTO FERNANDES DA COSTA<br />

(sobrepeso e obesidade) em estudos realizados<br />

com adolescentes. 3<br />

No presente estudo, dos 1.493 alunos<br />

avaliados, 18% apresentaram excesso de gordura<br />

corporal, sendo 9,2% de sobrepeso e<br />

8,8% de obesidade, ou seja, desses adolescentes,<br />

51,1% estavam entre P85 e P95 do IMC<br />

por idade e sexo, e 48,9%, acima do P95.<br />

Estudo realizado por Frutuoso et al. 24 com 157<br />

crianças e adolescentes, entre 7 e 14 anos de<br />

idade, matriculados em um Centro de Juventude<br />

da cidade de São Paulo, encontrou 23,4%<br />

dos sujeitos com excesso de gordura corporal,<br />

entretanto, em proporções diferentes das encontradas<br />

na região de Osasco, 77,7% com<br />

sobrepeso e 22,3% com obesidade. Essa diferença,<br />

em parte, pode ser explicada pelo fato<br />

de o estudo de São Paulo ter utilizado os valores<br />

de corte propostos por Cole et al., 25 pois,<br />

comparados aos pontos de corte propostos por<br />

Must et al., 19 há uma tendência a apresentar<br />

maior proporção de sujeitos em sobrepeso e<br />

menor em obesidade. 2<br />

Em estudos mais recentes para classificação<br />

da obesidade, Cintra et al. 26 observaram<br />

em uma amostra de 8.020 adolescentes,<br />

entre 10 e 15 anos de idade, matriculados em<br />

escolas públicas e particulares da cidade de<br />

São Paulo, 8% apresentando obesidade, distribuídos<br />

em 47,2% com obesidade leve,<br />

28% moderada e 24,8% grave, havendo uma<br />

maior tendência de maior gravidade nas escolas<br />

particulares.<br />

Segundo Costa et al., 1 a definição de<br />

sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes<br />

ainda não apresenta consenso na literatura,<br />

sendo que a variedade de métodos<br />

aplicados e os diferentes valores de corte<br />

empregados dificultam a comparação dos<br />

resultados obtidos por diferentes estudos.<br />

Independentemente dos critérios utilizados,<br />

é fato que os resultados que são encontrados<br />

em diferentes estudos, nessa faixa etária,<br />

sugere que devem ser criadas políticas de intervenção<br />

nutricional junto às escolas para<br />

viabilizar a melhora de saúde desse grupo.<br />

Nesse caso, o aconselhamento nutricional<br />

é uma das ferramentas que temos para instruir<br />

no processo de aprendizagem, pelo qual os<br />

indivíduos são efetivamente auxiliados, a selecionar<br />

e implementar novos comportamentos<br />

alimentares com o objetivo de alcançar a<br />

mudança de comportamento e não somente<br />

obter o conhecimento sobre nutrição. 20<br />

No presente estudo, dos 269 adolescentes<br />

que inicialmente apresentavam IMC elevado,<br />

23 (8,6%) haviam modificado sua condição<br />

ao final do estudo, sendo que 17<br />

(12,3%) saíram da condição de sobrepeso, e<br />

6 (4,6%), da de obesidade.<br />

Estudo de Valverde et al. 14 , utilizando<br />

intervenção dietética normocalórica com a<br />

inclusão de acompanhamento médico e psicológico,<br />

com sete visitas durante um ano,<br />

não apresentou diferença significante para a<br />

adequação do índice de massa corpórea inicial<br />

e final do grupo, ressaltando que, para o<br />

sucesso do tratamento, é importante que as<br />

visitas sejam mais regulares.<br />

Oliveira et al. 27 , acompanhando um grupo<br />

de meninas entre 14 e 17 anos de idade<br />

com IMC > P95, durante quatro meses, com<br />

atendimento multidisciplinar, incluindo<br />

nutricionista, professores de educação física<br />

e psicólogo, mostraram um resultado com<br />

40% de evasão e uma leve alteração do<br />

percentual da gravidade do IMC de 124,2 +<br />

17,8 para 119,1 + 17,4, ressaltando inúmeros<br />

motivos para a desistência do tratamento,<br />

como ansiedade para o resultado, perda de<br />

interesse pelo tratamento e motivos financeiros,<br />

evidenciando ser inviável esse tipo de<br />

tratamento a longo prazo com três visitas<br />

semanais ao centro de tratamento.<br />

Nuutinen 28 acompanhou, durante dois<br />

anos, 42 crianças e adolescentes com idade<br />

entre 6 e 16 anos, com peso relativo > 120%,<br />

com o objetivo de avaliar a eficácia do tipo de<br />

tratamento, sendo individual (grupo 1) e atendimento<br />

em grupo (grupo 2). Os valores de<br />

peso relativo do grupo 1 reduziram 16,2%,<br />

ocorrendo um leve aumento no segundo ano,<br />

Saúde em Revista<br />

Efeito de Aulas de Nutrição para Adolescentes<br />

27


SIMONE CARDOSO FREIRE, ROBERTO FERNANDES DA COSTA<br />

porém sem diferença estatisticamente significante.<br />

Já no grupo 2, não foi observada diferença<br />

estatisticamente significante entre o início<br />

e o fim do tratamento, apresentando<br />

apenas uma redução de 7,3%.<br />

Mediante tais resultados, é possível observar<br />

que novos hábitos alimentares não são<br />

incorporados em períodos curtos, portanto,<br />

propostas para diminuição da massa corporal<br />

e sua manutenção devem estar atreladas à<br />

extensão do tratamento. 29<br />

Outros aspectos importantes levantados<br />

nesse estudo para obtenção de sucesso no<br />

tratamento da obesidade são: verificar o mais<br />

cedo possível os índices de sobrepeso e realizar<br />

um trabalho preventivo, pois os melhores<br />

resultados, nesse estudo, foram com os<br />

adolescentes nessa condição; manter sempre<br />

uma conduta positiva mediante cada alteração<br />

do grupo; evitar sobrecarga de informações<br />

e estabelecer o conteúdo anotado para o<br />

grupo; ter apoio dos professores, incentivando<br />

a participação às aulas de nutrição; criar<br />

uma expectativa positiva para os alunos em<br />

relação ao resultado final.<br />

CONCLUSÕES<br />

As aulas de nutrição com enfoque na<br />

melhora do conhecimento dos adolescentes<br />

sobre hábitos alimentares, a fim de permitir<br />

que aprendam a tomar decisões corretas sobre<br />

a qualidade e a quantidade dos alimentos<br />

a serem ingeridos, mostraram que podem ser<br />

utilizadas como uma ferramenta adicional<br />

para a prevenção e o tratamento da obesidade<br />

na adolescência.<br />

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Agradecimentos<br />

À dra. Tereza Toshiko Watanabe, diretora da<br />

Divisão de Alimentação do Sesi; ao sr. Wilson<br />

José Kool Monteiro, diretor do Centro<br />

de Atividades de Osasco; aos coordenadores<br />

e professores dos centros educacionais da<br />

região de Osasco.<br />

Submetido: 14/jun./2006<br />

Aprovado: 2/maio/2007<br />

Saúde em Revista<br />

Efeito de Aulas de Nutrição para Adolescentes<br />

29


CLEITON AUGUSTO LIBARDI ET AL.<br />

ORIGINAL / ORIGINAL<br />

Comparação de Testes de 1RM e 10RMs em Homens<br />

Jovens Treinados<br />

Comparison of 1-RM and 10-RM Tests in Trained Young Males<br />

CLEITON AUGUSTO LIBARDI *<br />

Mestre em Educação Física pelo<br />

Curso de Mestrado em Educação<br />

Física – Faculdade de Ciências da<br />

Saúde (UNIMEP/SP)<br />

ÉRIKA SARITA SPILLER<br />

Professora de Educação Física pelo<br />

Curso de Educação Física –<br />

Faculdade de Ciências da Saúde<br />

(UNIMEP/SP)<br />

ADALBERTO VICENTE DE OLIVEIRA JR.<br />

Mestre em Educação Física pelo<br />

Curso de Mestrado em Educação<br />

Física (bolsista CAPES) – Faculdade<br />

de Ciências da Saúde (UNIMEP/SP)<br />

ELISANE ROSSIN PESSOTI<br />

Mestre em Fisioterapia pelo Curso<br />

de Fisioterapia – Faculdade de<br />

Ciências da Saúde (UNIMEP/SP)<br />

MARIA IMACULADA DE LIMA<br />

MONTEBELO<br />

Docente da Faculdade de Ciências<br />

Exatas e da Natureza (UNIMEP/SP)<br />

MARCELO DE CASTRO CESAR<br />

Docente do Curso de Educação<br />

Física – Faculdade de Ciências da<br />

Saúde (UNIMEP/SP)<br />

* Correspondências:<br />

R. Aquilino Pacheco, 1.717<br />

13400-000 Piracicaba/SP<br />

cleitonlibardi@terra.com.br<br />

RESUMO O objetivo deste estudo foi comparar as respostas<br />

hemodinâmicas e metabólica e a percepção subjetiva de esforço de<br />

homens jovens submetidos a testes de uma repetição máxima (1RM) e<br />

dez repetições máximas (10RMs). Quatorze indivíduos do sexo masculino,<br />

saudáveis e treinados, com idade entre 18 e 28 anos, foram submetidos<br />

a testes de 1RM e 10RMs, no exercício extensão de joelhos, nos<br />

quais foram determinadas a freqüência cardíaca (FC), a pressão arterial<br />

sistólica (PAS) e a diastólica (PAD), a concentração sérica de lactato e<br />

a percepção subjetiva de esforço (PSE). Na análise estatística, foi realizado<br />

o teste de Wilcoxon para dados pareados, adotando-se valores de<br />

p < 0,05. A carga máxima nos testes de 1RM foi maior que nos testes<br />

de 10RMs (p = 0,0009). A FC pico foi maior nos testes de 10RMs<br />

(p = 0,0002), e a PAD pós-teste foi maior nos testes 1RM (p = 0,01),<br />

não ocorrendo diferença na PAS (p = 0,30), estando todos os valores<br />

atingidos dentro de limites considerados normais no exercício. A concentração<br />

de lactato sanguíneo pós-teste (p = 0,0001) e a PSE pós-teste<br />

foram maiores nos testes de 10RMs (p = 0,02). Conclui-se que os testes<br />

de 1RM e 10RMs possuem ajustes hemodinâmicos diferentes, mas não<br />

apresentam respostas cardiovasculares excessivas em homens jovens<br />

treinados. Os testes de 1RM possuem um predomínio anaeróbio aláctico,<br />

e os testes de 10RMs possuem um predomínio anaeróbio láctico, que<br />

pode ter acarretado no aumento da percepção subjetiva de esforço.<br />

Palavras-chave TESTE DE FORÇA – FORÇA MÁXIMA – REPETIÇÕES MÁXIMAS<br />

– EXTENSÃO DE JOELHOS – HOMENS JOVENS.<br />

ABSTRACT The aim of this study was to compare hemodynamic and<br />

metabolic responses and rating of perceived exertion of young men in<br />

tests of one maximum repetition (1RM) and ten maximum repetitions<br />

(10RMs). Fourteen healthy trained males, aged 18 to 28 years, were<br />

submitted to 1-RM and 10-RM knee extensors exercise. The heart rate<br />

(HR), systolic blood pressure (SBP), diastolic blood pressure (DBP),<br />

lactate serum and rating of perceived exertion (RPE) were measured. A<br />

paired Wilcoxon test was used for statistical analysis, and value of p d”<br />

0.05 was adopted. The maximum load was greater in 1 RM than in 10<br />

RMs (p = 0.0009). The HR peak was greater in 10RMs (p = 0.0002)<br />

and the DBP pos-test was greater in 1RM (p = 0.01), without significant<br />

differences in SBP (p = 0.30). All the values were considered normal in<br />

exercise. The lactate serum (p = 0.0001) and RPE pos-test (p = 0.02),<br />

were greater in 10RMs. We concluded that 1RM and 10RMs have<br />

different hemodynamic responses, but the cardiovascular responses<br />

aren’t excessive in trained young men. In 1RM, the predominant source<br />

of energy is high-energy phosphate and in 10RMs the predominant<br />

source of energy is anaerobic glycolysis, which may have provoked the<br />

increase in the perceived exertion rate.<br />

Keywords STRENGTH TESTING – MAXIMAL STRENGTH – REPETITION MAXIMUM<br />

– KNEE EXTENSORS – YOUNG MEN.<br />

Saúde em Revista<br />

Comparação entre Testes de 1RM e 10RMs<br />

31


CLEITON AUGUSTO LIBARDI ET AL.<br />

INTRODUÇÃO<br />

O treinamento de força muscular consiste<br />

em um importante auxílio para a melhora<br />

da aptidão física das pessoas, cujos benefícios<br />

têm sido cada vez mais evidenciados na<br />

promoção da saúde. 1.<br />

Para a elaboração de um treinamento de<br />

força, é importante a avaliação da força muscular,<br />

para informar os efeitos do treinamento<br />

e proporcionar condições para uma prescrição<br />

e um controle adequado dessa capacidade. 2.<br />

Segundo Power e Howley, 3 a avaliação<br />

da força muscular pode ser realizada por<br />

meio de tensiometria, dinamometria, equipamento<br />

isocinético computadorizado e testes<br />

de uma repetição máxima (1RM), os quais<br />

são mais utilizados em academias de ginástica<br />

e clubes. Os testes de 1RM implicam tentativas<br />

de levantar uma única vez um determinado<br />

peso de forma correta de acordo com<br />

uma padronização prévia.<br />

O teste deve iniciar com uma carga abaixo<br />

do nível máximo do indivíduo, de modo<br />

que, se o movimento for realizado corretamente,<br />

o peso deverá ser aumentado para a próxima<br />

tentativa até quando o indivíduo não conseguir<br />

realizar o movimento com perfeição. 4, 5<br />

McArdle et al. 6 citam que testes para a<br />

predição de 1RM são indicados para a<br />

avaliação da força muscular de adolescentes,<br />

cardiopatas, idosos e hipertensos por estimarem<br />

a carga máxima de indivíduos em esforços<br />

submáximos e por serem mais seguros<br />

para essas populações. Normalmente, o teste<br />

é realizado entre 7RMs a 10RMs, sendo que<br />

isso representa 68% de 1RM para pessoas<br />

destreinadas e 79% para treinados.<br />

Já em estudo de Medeiros et al., 7 os testes<br />

de 1RM foram utilizados na avaliação da<br />

força muscular de pacientes com insuficiência<br />

coronariana, em que não ocorreu nenhum<br />

tipo de complicação para esse grupo de indivíduos,<br />

indicando que o teste de 1RM parece<br />

seguro para essa população.<br />

Devido à carência de estudos comparando<br />

testes de 1RM com testes de 10RMs, esse<br />

estudo teve como objetivo comparar as respostas<br />

hemodinâmicas e metabólicas e a percepção<br />

subjetiva de esforço de homens jovens<br />

submetidos a testes de membros<br />

inferiores de 1RM e 10RMs.<br />

CASUÍSTICA E MÉTODOS<br />

Participaram desse estudo 14 indivíduos<br />

saudáveis do sexo masculino, com idade entre<br />

18 e 28 anos, média de 21,3 anos ± 1,5<br />

anos, peso de 74,3kg ± 9,9, estatura de<br />

174,1cm ± 7,8 e índice de massa corporal de<br />

24,2kg/m 2 ± 1,6, praticantes de atividades<br />

motoras no Centro de Qualidade de Vida<br />

(CQV) do curso de Educação Física, da Universidade<br />

Metodista de Piracicaba. Os voluntários<br />

praticavam musculação há, pelo menos,<br />

um ano, não possuíam histórico de<br />

lesões nas articulações dos joelhos e não faziam<br />

uso de recursos ergogênicos.<br />

Esse estudo faz parte do projeto de<br />

Avaliação e Treinamento Físico de participantes<br />

do Centro de Qualidade de Vida<br />

(CQV) da Universidade Metodista de Piracicaba<br />

(UNIMEP), aprovado pelo Comitê de<br />

Ética e Pesquisa da UNIMEP.<br />

Inicialmente, os voluntários foram submetidos<br />

a uma avaliação médica e a uma<br />

anamnese clínica, a qual incluía perguntas<br />

relacionadas de maneira geral à saúde e à prática<br />

de exercícios físicos. Os voluntários foram<br />

orientados a não praticar exercícios que<br />

solicitem os membros inferiores nas semanas<br />

em que os testes foram realizados, sendo eles<br />

executados com intervalo de 48 a 72 horas.<br />

Os testes de 1RM e de 10RMs foram<br />

realizados em uma cadeira extensora da marca<br />

Tônus ® , na qual os indivíduos permaneciam<br />

sentados segurando o apoio do aparelho,<br />

com inclinação de tronco a 70°, e joelho<br />

fletido em 90°. 8 Antes do início do teste, foram<br />

verificados freqüência cardíaca, pressão<br />

32<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 31-37, 2007


CLEITON AUGUSTO LIBARDI ET AL.<br />

arterial, lactato sanguíneo e percepção subjetiva<br />

de esforço. Em seguida, os indivíduos<br />

realizaram um aquecimento de dez repetições,<br />

cuja fase concêntrica durou de 1 a 2<br />

segundos com extensão máxima dos joelhos,<br />

seguido de uma fase excêntrica com duração<br />

de 3 a 4 segundos até um angulo de 90° com<br />

os dois membros simultaneamente, utilizando<br />

uma carga correspondente a 25% do peso<br />

corporal de cada indivíduo.<br />

Três minutos após o aquecimento, era<br />

iniciado o teste com carga de 50% do peso<br />

corporal do indivíduo, que executou uma<br />

repetição a partir da posição inicial nos testes<br />

de 1RM, e 60% dessa carga nos testes de<br />

10RMs, realizando a fase concêntrica até<br />

extensão completa dos joelhos com duração<br />

de 1 a 2 segundos, e a fase excêntrica com<br />

duração de 3 a 4 segundos até retornar à<br />

posição inicial. Após três minutos de recuperação,<br />

eram aumentados 3kg para, em seguida,<br />

ser realizada outra tentativa. A freqüência<br />

cardíaca, a pressão arterial e a percepção<br />

subjetiva de esforço eram determinadas após<br />

cada tentativa. Os indivíduos permaneciam<br />

sentados em repouso enquanto eram realizadas<br />

as análises.<br />

A execução de uma repetição (nos testes<br />

de 1RM) ou de dez (nos testes de 10 RMs)<br />

foi feita a cada três minutos, até que o indivíduo<br />

não conseguiu mais realizar o movimento<br />

de maneira adequada; considerou-se a<br />

última carga realizada com perfeição. Após<br />

três minutos da última execução, foi coletada<br />

mais uma amostra de sangue para análise do<br />

lactato sanguíneo.<br />

Foram determinados os maiores valores<br />

de freqüência cardíaca (FC), utilizando-se um<br />

monitor de freqüência cardíaca da marca Polar<br />

® S610, a pressão arterial sistólica (PAS) e<br />

a pressão arterial diastólica (PAD) pós-teste,<br />

aferidas pelo método auscultatório com um<br />

aparelho manual Cardiomed ® , e denominados<br />

valores de pico, ou seja, os maiores valores<br />

atingidos durante os testes. A concentração<br />

sérica de lactato foi analisada pré e três minutos<br />

após o teste por um lactímetro portátil<br />

da marca ACCUSPORT ® , e a percepção subjetiva<br />

de esforço (PSE), logo imediatamente<br />

após o término do teste, utilizando-se a escala<br />

de Borg 9 , ambos foram denominados valores<br />

pós-testes. Os resultados foram expressos<br />

em média e desvio-padrão (DP). Na análise<br />

dos dados, foram utilizados a carga máxima<br />

levantada de maneira correta, a FC pico, os<br />

valores de PAS e PAD pico, PSE pós-teste,<br />

LAC pré-teste e pós-teste, em que não foi<br />

observada distribuição normal, sendo realizado<br />

o teste não-paramétrico de Wilcoxon para<br />

dados pareados. Foram adotados, nesse estudo,<br />

valores para p < 0,05, e todos os testes<br />

foram realizados no programa estatístico<br />

Statistica 6.0.<br />

RESULTADOS<br />

A carga máxima nos testes de 1RM<br />

apresentou valores significantemente maiores<br />

que os testes de 10RMs (Tabela 1). Os valores<br />

da carga máxima nos testes de 10RMs<br />

representaram 70,6% dos valores da carga<br />

máxima atingida nos testes de 1RM.<br />

Na comparação das variáveis hemodinâmicas,<br />

foram encontradas diferenças<br />

significantes de freqüência cardíaca máxima<br />

nos testes de 10RMs em relação aos testes de<br />

1RM. Em relação à pressão arterial, maiores<br />

valores da pressão arterial diastólica pós-teste<br />

ocorreram nos testes de 10RMs, não ocorrendo<br />

diferenças significantes nos valores da<br />

pressão arterial sistólica pós-teste nos testes<br />

de 1RM e 10RMs.<br />

A concentração de lactato sanguíneo<br />

pré-teste não apresentou diferença significante<br />

entre os testes de 1RM e 10RMs, mas<br />

na fase pós-teste os valores foram significantemente<br />

maiores nos testes de 10RMs que<br />

nos testes de 1RM. Os resultados da PSE<br />

pós-teste foram significantes nos testes de<br />

10RMs (Tabela 1).<br />

Saúde em Revista<br />

Comparação entre Testes de 1RM e 10RMs<br />

33


CLEITON AUGUSTO LIBARDI ET AL.<br />

Tabela 1. Média ± desvio-padrão da média e resultados das variáveis obtidas nos testes de uma<br />

repetição máxima (1RM) e dez repetições máximas (10RMs) dos homens jovens, sendo * p < 0, 05.<br />

FC – freqüência cardíaca PAS – pressão arterial sistólica PAD – pressão arterial diastólica<br />

PSE – percepção subjetiva de esforço LAC – concentração sérica de lactato<br />

DISCUSSÃO<br />

Os testes de carga máxima podem ser<br />

muito úteis na prescrição de treinamento,<br />

porém deve-se atentar na relação entre o<br />

percentual de 1RM e o número de repetições<br />

que pode ser realizado, pois essa relação<br />

varia com a quantidade de massa muscular<br />

envolvida no exercício. 10<br />

Reynolds et al. 11 verificaram que para<br />

dez repetições máximas o percentual de 1RM<br />

é diferente de acordo com o exercício realizado<br />

70,1 % para a pressão de pernas e 75,65%<br />

para o supino reto. No presente estudo, os<br />

testes de 10RMs representaram um valor médio<br />

de 68,7 % da carga máxima do teste de<br />

1RM. Isso sugere que o exercício de cadeira<br />

extensora para indivíduos treinados pode ser<br />

utilizado de maneira eficaz para prescrição de<br />

treinamento utilizando percentual da carga<br />

máxima. McArdle et al. 6 relatam que indivíduos<br />

treinados e destreinados podem realizar 7 a<br />

10 movimentos com carga entre 68% a 79%<br />

de 1RM, ou seja, valores semelhantes aos<br />

observados nesse estudo.<br />

Os valores de freqüência cardíaca pico<br />

nos testes de 10RMs mostraram-se maiores<br />

que nos testes de 1RM. O mesmo foi demonstrado<br />

em estudo de Sale et al., 11 que verificaram<br />

valores maiores de FC durante séries com<br />

cargas submáximas até a falha voluntária em<br />

relação à execução de séries utilizando cargas<br />

de 1RM. Neste estudo, os valores médios da<br />

FC pico foram de 148 bpm para o teste de<br />

10RMs, semelhantes aos encontrados por Sale<br />

et al. 12 e Leite e Farinatti. 13<br />

Em estudo realizado por Medeiros et<br />

al., 7 com pacientes após sofrerem infarto<br />

agudo do miocárdio, foi encontrada FC pico<br />

de 90bpm nos testes de 1RM na cadeira extensora,<br />

demonstrando que os testes de 1RM<br />

são seguros para o sistema cardiovascular.<br />

Nas análises desse estudo, os testes de 1RM<br />

resultaram em valores de FC pico de<br />

118,7bpm. Segundo White, 14 a freqüência<br />

cardíaca é sensível a contrações prolongadas,<br />

principalmente quando são muito localizadas,<br />

de modo que o aumento dos batimentos<br />

acompanha o aumento do tempo em que o<br />

indivíduo permanece em atividade, estando<br />

relacionado principalmente ao número de<br />

repetições solicitadas.<br />

Lamotte et al. 15 também demonstraram<br />

em seu estudo quando compararam quatro<br />

séries de 17 repetições com 40% de 1RM com<br />

quatro séries de dez repetições com 70% de<br />

1RM, cujo trabalho com maior número de<br />

repetições foi obtido valores elevados de FC<br />

pico, o que explica a maior FC pico nos testes<br />

de 10RMs encontradas nesse estudo.<br />

34<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 31-37, 2007


CLEITON AUGUSTO LIBARDI ET AL.<br />

A avaliação da pressão arterial foi realizada<br />

pelo método auscultatório considerado<br />

ser menos preciso que os métodos invasivos,<br />

como o cateterismo intra-arterial. Este, por<br />

sua vez, pode gerar grandes riscos aos voluntários,<br />

como: hemorragia, espasmo artéria,<br />

estenose entre outros. 13 Perloff et al. 16 relatam<br />

que o cateterismo intra-arterial excederia<br />

os limites éticos científicos.<br />

A pressão arterial sistólica pico não<br />

apresentou diferenças significantes entre os<br />

testes de 1RM e 10RMs. Em ambos os testes,<br />

houve aumento da PAS pico. Em alguns<br />

indivíduos, esse aumento atingiu valores de<br />

210mmHg no teste de 10RMs bilateral, o que<br />

pode ser esperado no esforço máximo, segundo<br />

Andrade et al., 17 não excedendo os<br />

valores recomendados de 220mmHg durante<br />

a determinação de 1RM. 15<br />

A PAD pico apresentou menores valores<br />

nos testes de 10RMs em relação aos testes<br />

de 1RM, sugerindo que o exercício com<br />

pesos com mais repetições, envolvendo uma<br />

grande massa muscular, promove uma menor<br />

resistência periférica dentro das artérias após<br />

a sístole, indicando facilidade em o sangue<br />

fluir das artérias para dentro dos capilares. 6<br />

Segundo Andrade et al. 17 , a PAD não deve<br />

exceder 15mmHg dos valores de repouso, de<br />

modo que a resposta da PAD em nosso estudo<br />

pode ser considerada normal, pois em<br />

nenhum dos testes ocorreu tal aumento.<br />

Considera-se que as variáveis FC pico,<br />

PAS e PAD pico não apresentaram comportamento<br />

hiper-reativo nos testes de 1RM e<br />

10RMs, de modo que os testes não acarretaram<br />

excessiva sobrecarga ao sistema<br />

cardiovascular dos voluntários.<br />

Em relação à concentração sérica de<br />

lactato, as coletas foram realizadas antes e<br />

três minutos após o esforço, sendo que não<br />

houve diferença nos valores de lactato sanguíneo<br />

pré-teste nos testes de 1RM e 10RMs,<br />

mas os valores obtidos pós-testes foram<br />

maiores nos testes de 10RMs em relação aos<br />

de 1RM. Os níveis de lactato sanguíneo, após<br />

o esforço nos testes de 10RMs, demonstraram<br />

um predomínio do metabolismo<br />

anaeróbio láctico, e os níveis de lactato nos<br />

testes de 1 RM, próximos aos de repouso, caracterizaram<br />

um predomínio anaeróbio<br />

aláctico. 6<br />

Kraemer et al. 18 realizaram um estudo<br />

comparando as concentrações de lactato sanguíneo<br />

em um grupo, que treinou oito exercícios<br />

com três séries de 10RMs, com intervalo<br />

de um minuto, com um segundo grupo,<br />

que realizou oito exercícios com três séries<br />

de 5RMs e intervalo de três minutos. Esses<br />

estudos demonstraram que o segundo grupo<br />

que realizou intervalos mais curtos teve maiores<br />

concentrações de lactato sanguíneo, em<br />

comparação ao grupo que executou exercícios<br />

com intervalo de três minutos. Além do<br />

intervalo de descanso, os autores colocam<br />

que somente cargas mais altas não resultam<br />

em concentrações elevadas de lactato sanguíneo,<br />

e sim um número mais alto de repetições<br />

e séries mais longas, o que acarretaria<br />

em concentrações mais elevadas de lactato, o<br />

que está de acordo com nossos resultados.<br />

Ahtiainen et al. 19 verificaram aumentos<br />

das concetrações de lactato acima de<br />

13mmol/l, durante o exercício de pressão de<br />

pernas, com 8 a 12 repetições, com cinco<br />

minutos entre as séries. O presente estudo<br />

apresentou valores médios de 7,5mmol/l ao<br />

final do teste de 10RMs, demostrando que o<br />

exercício de extensão de joelhos parece promover<br />

uma menor concentração de lactato<br />

após esforço máximo.<br />

Isso também foi observado por Scott, 20<br />

cujos valores de lactato foram mais elevados<br />

quanto maior foi o grupo muscular solicitado<br />

e o tempo em que permaneceu em<br />

contração após duas séries. Na flexão do<br />

cotovelo para seis repetições, os valores<br />

foram de 7,1mmol/l; já para a pressão de<br />

pernas com dez repetições, o lactato atingiu<br />

valores de 11,5mmol/l.<br />

Saúde em Revista<br />

Comparação entre Testes de 1RM e 10RMs<br />

35


CLEITON AUGUSTO LIBARDI ET AL.<br />

As respostas fisiológicas durante o exercício<br />

também podem ser medidas pelo percentual<br />

do esforço físico, por meio de um caminho fisiológico,<br />

que transmite sinais do córtex motor<br />

ao córtex sensorial, interpretado como sensação<br />

de esforço. 21 Suminski et al. 22 avaliaram a intensidade<br />

de esforço utilizando a Escala de 0 a<br />

10; Gearhart et al. 23 utilizaram a escala de Borg<br />

de 6 a 20. Os dois trabalhos utilizaram diferentes<br />

estratégias para captação de PSE e mostraram<br />

que é viável sua utilização como<br />

quantificação da intensidade de esforço durante<br />

o treinamento com pesos. A PSE foi maior nos<br />

testes de 10RMs em relação aos de 1RM, de<br />

modo que esses resultados parecem ocorrer<br />

devido à maior concentração sérica de lactato<br />

nos testes com predomínio anaeróbio láctico,<br />

ocasionando um grande desconforto e, conseqüentemente,<br />

maior percepção de esforço.<br />

Abernethy e Wehr 21 obtiveram respostas<br />

muito baixas de lactato em esforços de 5RMs<br />

em relação a 15RMs, ao final de uma ou três<br />

séries, o que também aconteceu com testes de<br />

1RM e 10RMs. Lagally et al. 21 e Mihevic 25<br />

relatam que a PSE parece estar mais associada<br />

aos mecanismos proprioceptores e tendíneos,<br />

prováveis sinalizadores de esforço, e também<br />

afirmam que os responsáveis pela PSE são os<br />

sensores musculares (fuso muscular e órgão<br />

tendinoso de golgi) e a acidose metabólica.<br />

Moura et al. 26 observaram grande correlação<br />

entre a carga levantada no teste de 1RM e a<br />

PSE, principalmente quando a carga vai se<br />

aproximando dos valores da força máxima do<br />

indivíduo. Por esses fatores, consideramos que<br />

a maior PSE nos testes de 10RMs encontra-se<br />

dentro do esperado.<br />

CONCLUSÕES<br />

Os testes de 1RM e 10RMs, de resistência<br />

dinâmica invariável em cadeira extensora,<br />

possuem ajustes hemodinâmicos diferentes<br />

sem apresentar respostas cardiovasculares<br />

excessivas em homens jovens treinados. O<br />

estudo apresentou também diferanças nas variáveis<br />

metabólicas e na PSE, sendo que seus<br />

maiores valores foram obtidos nos testes de<br />

10RMs, indicando que essas variáveis assim<br />

como os ajustes hemodinâmicos parecem levar<br />

o indivíduo a um maior desconforto durante<br />

o teste 10RMs.<br />

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Submetido: 3/mar./2006<br />

Aprovado: 9/abr./2007<br />

Saúde em Revista<br />

Comparação entre Testes de 1RM e 10RMs<br />

37


KARLA PAIVA RIBEIRO ET AL.<br />

ORIGINAL / ORIGINAL<br />

Treinamento Muscular Inspiratório na Reabilitação<br />

de Pacientes com DPOC<br />

Inspiratory Muscle Training in Rehabilitation of COPD Patients<br />

KARLA PAIVA RIBEIRO *<br />

Mestre em Fisioterapia pela<br />

UNIMEP/SP e docente na Faculdade<br />

de Jaguariúna (FAJ/SP)<br />

ANDREZA DE TOLEDO<br />

Mestre em Fisioterapia pela<br />

UNIMEP/SP<br />

DANIELA BERETTA WHITAKER<br />

Especialista em Fisioterapia<br />

Respiratória em UTI pela<br />

Unicamp e supervisora de estágio<br />

da Faculdade de Jaguariúna<br />

(FAJ/SP)<br />

LORENA CECÍLIA VALENZUELA<br />

REYES<br />

Mestre pela UFSCar e docente na<br />

Universidade de Taubaté (Unitau/SP)<br />

DIRCEU COSTA<br />

Professor doutor do Curso de<br />

Mestrado em Fisioterapia –<br />

Faculdade de Ciências da Saúde<br />

(UNIMEP/SP)<br />

* Correspondências:<br />

R. Aquidaban, 225, ap. 133<br />

Bairro Santa Cruz<br />

14020-689 Ribeirão Preto/SP<br />

karla@costapereira.com<br />

RESUMO O objetivo do estudo foi comparar treinamento físico (TF) e<br />

reeducação respiratória (RR), associados ou não, ao treinamento muscular<br />

inspiratório (TMI) em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica<br />

(DPOC). Os 19 pacientes foram divididos em dois grupos – RR e<br />

TMI+RR – e submetidos à avaliação de espirometria, teste de caminhada<br />

de seis minutos (TC6), avaliação da sensação de dispnéia, teste<br />

incremental em esteira (TIE) e pressões inspiratória e expiratória máximas<br />

(PImáx e PEmáx). O tratamento durou seis semanas com três sessões<br />

semanais. O grupo RR realizou exercício em esteira, exercícios para<br />

membros superiores e RR. O grupo TMI+RR realizou os mesmos exercícios<br />

e TMI. Foram observados aumento do volume expiratório forçado<br />

no primeiro segundo (VEF1), ventilação voluntária máxima (VVM) e<br />

pico de fluxo (PF) na espirometria do grupo RR. Os dois grupos apresentaram<br />

aumento nas distâncias percorridas no TC6 e TIE e redução da<br />

sensação de dispnéia. Observaram-se aumentos da PImáx e PEmáx nos<br />

dois grupos, com melhora significativa da PImáx no grupo TMI+RR<br />

comparado ao grupo RR. Conclui-se que o programa de reabilitação<br />

pulmonar (PRP) melhorou a capacidade física, sensação de dispnéia e<br />

força muscular respiratória em pacientes com DPOC. A associação do<br />

TMI pode ser considerada como uma intervenção adicional, especialmente<br />

nos pacientes que apresentam fraqueza muscular respiratória.<br />

Palavras-chave REABILITAÇÃO – DPOC – EXERCÍCIOS RESPIRATÓRIOS –<br />

ESPIROMETRIA.<br />

ABSTRACT The aim of this study was to compare physical training (PT)<br />

and respiratory reeducation (RR) associated or not to inspiratory muscle<br />

training (IMT) in chronic obstructive pulmonary disease (COPD)<br />

patients. Nineteen patients were randomized in two groups, RR and<br />

IMT+RR, and submitted to an evaluation consisting of spyrometry, sixminute-walk<br />

test (6MWT), dyspnea perception, treadmill incremental<br />

test (TIT) and maximal inspiratory and expiratory pressures (MIP and<br />

MEP). The treatment was carried out for six weeks, three times per<br />

week. The RR group performed treadmill exercise, exercises for upper<br />

limbs and RR. The IMT+RR group performed the same exercises and<br />

IMT. Spyrometric values, forced expiratory volume in first second<br />

(FEV1), maximal voluntary ventilation (MVV) and peak flow (PF),<br />

increased in the RR group. Walking distances in 6MWT and in TIT<br />

increased and dyspnea perception reduced in both groups, with no<br />

differences between them. MIP and MEP increased in both groups, and<br />

MIP showed significant increase in the IMT+RR group when compared<br />

with the RR group. We conclude that pulmonary rehabilitation program<br />

(PRP) improves exercise tolerance, dyspnea perception and respiratory<br />

muscle strength in COPD patients. The association of IMT can be<br />

considered an additional intervention, especially in patients with<br />

respiratory muscle weakness.<br />

Keywords REHABILITATION – COPD – BREATHING EXERCISES – SPIROMETRY.<br />

Saúde em Revista<br />

Reabilitação Pulmonar em Pacientes com DPOC<br />

39


KARLA PAIVA RIBEIRO ET AL.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Pacientes com doença pulmonar obstrutiva<br />

crônica (DPOC) apresentam graus variados<br />

de dispnéia e deterioração na capacidade<br />

de realizar exercícios físicos em associação<br />

às funções cardiovascular e pulmonar prejudicadas,<br />

1, 2 fatores que interferem nas atividades<br />

da vida diária. 3 A fraqueza muscular periférica<br />

e respiratória, presente nesses<br />

indivíduos, representa fator adicional na intolerância<br />

aos esforços, na dispnéia e na qualidade<br />

de vida. 1, 4<br />

A DPOC é a patologia de maior ímpeto<br />

para o desenvolvimento de programas de reabilitação<br />

pulmonar (PRP), que tem por objetivo<br />

aliviar os sintomas e otimizar a função,<br />

restaurando ao paciente o nível mais alto<br />

possível de independência funcional, por<br />

meio de exercícios de condicionamento e<br />

fortalecimento muscular. 5-7<br />

A participação no PRP oferece resultados<br />

positivos para pacientes com DPOC,<br />

como a melhora da tolerância ao exercício<br />

físico, 8, 9 redução da demanda ventilatória em<br />

esforço submáximo, melhora da eficiência do<br />

trabalho, 10 diminuição da dispnéia, 11 melhora<br />

nas atividades da vida diária e diminuição<br />

10, 12<br />

dos períodos de internação hospitalar.<br />

Esses benefícios são bem demonstrados na<br />

literatura, quando se fala em exercícios de<br />

condicionamento e fortalecimento muscular<br />

de membros superiores (MMSS) e membros<br />

inferiores (MMII).<br />

Como a fraqueza dos músculos respiratórios<br />

pode estar relacionada à redução da<br />

tolerância aos esforços, ao aumento da<br />

dispnéia e à piora na qualidade de vida, o<br />

treinamento específico dessa musculatura<br />

vem sendo estudado, mas ainda persistem<br />

dúvidas e existem controvérsias a respeito<br />

de seus efeitos. Poucos estudos foram realizados<br />

comparando o treinamento físico isolado<br />

e o treinamento físico associado ao<br />

treinamento muscular respiratório. Segundo<br />

Dekhuijzen et al., 13 essa associação potencializa<br />

os efeitos da reabilitação pulmonar.<br />

Já Larson et al. 14 não observaram melhora<br />

significativa na tolerância aos esforços e na<br />

qualidade de vida, quando adicionaram o<br />

treinamento muscular respiratório ao treinamento<br />

físico.<br />

Com base nisso, justifica-se a realização<br />

desse estudo com aplicação do treinamento<br />

muscular respiratório associado a outros<br />

componentes do PRP, como treinamento físico<br />

e reeducação respiratória, na tentativa de<br />

observar se apresenta vantagens com relação<br />

aos outros componentes isolados, uma vez<br />

que seus efeitos ainda não estão bem definidos<br />

na literatura.<br />

MATERIAL E MÉTODO<br />

Amostra<br />

O estudo foi realizado no Ambulatório<br />

de Pneumologia da Clínica de Fisioterapia<br />

da Universidade de Taubaté. Para inclusão<br />

no estudo, os pacientes deveriam apresentar<br />

DPOC moderada a grave, com VEF 1<br />

< 60%<br />

do previsto e relação VEF 1<br />

/CVF < 70%, 15<br />

estabilidade clínica, utilização de terapêutica<br />

medicamentosa prescrita pelo médico e motivação<br />

para participar do PRP. Foram excluídos<br />

pacientes que apresentassem condição<br />

que limitasse a realização de exercícios,<br />

como cardiopatia descompensada ou seqüela<br />

de doença neurológica, e pacientes que persistiam<br />

tabagistas. Os pacientes selecionados<br />

assinaram um termo de consentimento livre<br />

e esclarecido, de acordo com a resolução<br />

196/96 do Conselho Nacional de Saúde. O<br />

estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética<br />

em Pesquisa (n o 79/04).<br />

Foram incluídos no estudo 21 pacientes.<br />

Desses, dois abandonaram por desistência,<br />

sendo a amostra final composta de 19 pacientes,<br />

divididos aleatoriamente em dois grupos,<br />

denominados RR e TMI+RR. As características<br />

dos grupos com relação a sexo,<br />

idade e variáveis antropométricas e<br />

espirométricas constam da tabela 1, a seguir:<br />

40<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 39-46, 2007


KARLA PAIVA RIBEIRO ET AL.<br />

Tabela 1. Sexo, idade, variáveis antropométricas e espirométricas dos grupos reeducação respiratória<br />

e treinameno muscular inspiratório + reeducação respiratória.<br />

Avaliação<br />

Os pacientes foram submetidos à avaliação<br />

antes e após o PRP, que consistiu de<br />

espirometria, teste de caminhada de seis minutos<br />

(TC6), sensação de dispnéia, teste<br />

incremental em esteira (TIE) e força muscular<br />

respiratória.<br />

A espirometria foi realizada com o<br />

espirômetro Vitalograph 2120. Foram realizadas<br />

as manobras de capacidade vital lenta<br />

(CVL) e de capacidade vital forçada (CVF),<br />

de acordo com a padronização da ATS, 16 nas<br />

quais foram obtidos os valores de capacidade<br />

vital (CV), CVF, volume expiratório forçado<br />

no primeiro segundo (VEF 1<br />

), índice de<br />

Tiffeneau (relação VEF 1<br />

/CVF), pico de fluxo<br />

expiratório (PF) e ventilação voluntária máxima<br />

(VVM) indireta, calculada pela fórmula<br />

proposta por Bethlem. 17<br />

O TC6 foi realizado de acordo com as<br />

recomendações da ATS. 18 Os pacientes foram<br />

orientados a percorrer a maior distância possível<br />

durante seis minutos em corredor plano,<br />

com encorajamento verbal a cada momento.<br />

Os sinais vitais foram mensurados antes e<br />

após o teste. Os pacientes realizaram-no utilizando<br />

um oxímetro portátil, e a saturação<br />

periférica de oxigênio (SpO 2<br />

) e a freqüência<br />

cardíaca (FC) foram avaliadas durante todo o<br />

teste. Quando a SpO 2<br />

reduziu para valores<br />

abaixo de 88%, foi administrado oxigênio. A<br />

sensação de dispnéia foi avaliada pela escala<br />

de percepção de esforço de Borg 7 no início,<br />

a cada dois minutos e ao final do teste.<br />

O TIE seguiu o protocolo adaptado para<br />

pacientes com DPOC, empregado na Clínica<br />

de Fisioterapia Respiratória da Universidade<br />

Federal de São Carlos. 19 A velocidade inicial<br />

do teste foi de 2km/h, com incremento de<br />

0,5km/h a cada dois minutos, e a inclinação<br />

foi mantida constante em 3%. No repouso,<br />

30 segundos antes do incremento de velocidade<br />

e na recuperação, foram avaliados os<br />

sinais vitais, a SpO 2<br />

e a sensação de dispnéia<br />

pela escala de Borg. Ao final, foi anotada a<br />

distância percorrida. Quando a SpO 2<br />

reduziu<br />

para valores abaixo de 88%, foi administrado<br />

oxigênio. O teste era interrompido caso o<br />

Saúde em Revista<br />

Reabilitação Pulmonar em Pacientes com DPOC<br />

41


KARLA PAIVA RIBEIRO ET AL.<br />

paciente apresentasse dispnéia intensa, fadiga<br />

em MMII, aumento da FC para além da máxima<br />

estimada para a idade, queda da pressão<br />

arterial sistólica em mais de 20mmHg, ou<br />

aumento para acima de 250mmHg, ou ainda<br />

aumento da pressão arterial diastólica para<br />

acima de 120mmHg, tontura, palidez, ou se o<br />

paciente solicitasse.<br />

A força muscular respiratória foi avaliada<br />

pela mensuração da pressão inspiratória<br />

máxima (PImáx) e pressão expiratória máxima<br />

(PEmáx) realizadas com o manovacuômetro<br />

modelo NS 120-TRR, de acordo com as normas<br />

propostas por Black e Hyatt. 20<br />

Procedimento Experimental<br />

Os pacientes realizaram o protocolo<br />

experimental durante seis semanas, três vezes<br />

por semana.<br />

O grupo RR realizou um PRP em que<br />

cada sessão consistiu de: exercício em esteira<br />

ergométrica por 30 minutos, treinamento de<br />

MMSS com halteres por oito minutos e 15<br />

minutos de reeducação respiratória (RR).<br />

O grupo TMI+RR realizou um PRP em<br />

que cada sessão consistiu de: exercício em<br />

esteira ergométrica por 30 minutos, treinamento<br />

de MMSS com halteres por oito minutos e<br />

15 minutos de TMI com o Threshold ® IMT, da<br />

Respironics, associado à RR.<br />

Nos dois grupos, a velocidade inicial do<br />

treinamento na esteira foi 50% da velocidade<br />

atingida no TIE, com aumento semanal de<br />

0,5km/h, ou de acordo com a tolerância dos<br />

pacientes. Quando necessário, era administrado<br />

oxigênio. O treinamento de MMSS consistiu<br />

de exercícios na diagonal primitiva 21<br />

com o paciente sentado, sendo duas séries de<br />

dois minutos em cada membro. A carga inicial<br />

do treinamento foi de 0,5kg, com aumento<br />

semanal de 0,5kg, ou de acordo com a<br />

tolerância dos pacientes. Para a RR, os pacientes<br />

foram orientados quanto à realização da<br />

respiração diafragmática, e o treinamento foi<br />

realizado inicialmente com o paciente na<br />

posição semiFowler e, posteriormente, sentado.<br />

No grupo TMI+RR, a carga utilizada<br />

para o TMI foi de 40% do valor da PImáx,<br />

sendo esta reavaliada semanalmente para reajuste<br />

da carga.<br />

Análise dos Dados<br />

Para avaliar a homogeneidade entre os<br />

grupos antes do PRP, foi utilizado o teste<br />

paramétrico de comparação entre duas médias<br />

não emparelhadas com desvio-padrão desconhecido.<br />

Para avaliar os resultados antes e<br />

após o PRP em cada grupo e a comparação<br />

da variação antes e após o PRP do grupo RR<br />

com a variação do grupo TMI+RR, foi utilizado<br />

o teste não-paramétrico de Wilcoxon-<br />

Mann-Whitney. O software utilizado foi<br />

SPSS 8.0 for Windows. Considerou-se estatisticamente<br />

significante quando p < 0,05.<br />

RESULTADOS<br />

Os grupos apresentaram homogeneidade<br />

antes de iniciar o PRP.<br />

Com relação ao teste de função pulmonar,<br />

os pacientes do grupo RR apresentaram<br />

aumento significante (p < 0,05) apenas<br />

para as variáveis VEF 1<br />

(de 1,09 ± 0,41<br />

para 1,11 ± 0,38 litros), VVM (de 40 ± 15<br />

para 41 ± 14 litros) e PF (de 137 ± 68 para<br />

150 ± 75 litros/minuto), após o PRP. Os<br />

pacientes do grupo TMI + RR não apresentaram<br />

alteração significante em nenhuma<br />

variável do teste. Quando comparados os<br />

dois grupos, apenas o PF mostrou aumento<br />

significante (p < 0,05) no grupo RR.<br />

Os pacientes do grupo RR apresentaram<br />

aumento significante (p < 0,05) da distância<br />

percorrida (DP) no TC6 (de para 409 ± 160<br />

metros) e no TIE (de 408 ± 207 para 850<br />

± 380 metros) e redução significante da<br />

dispnéia no repouso (de 0,7 ± 0,9 para 0,4 ±<br />

0,6) e na mesma intensidade de esforço (de<br />

2,3 ± 0,6 para 1,2 ± 0,5) do TIE. Os pacientes<br />

do grupo TMI + RR apresentaram aumento<br />

significante (p < 0,05) da DP no TC6<br />

(de 325 ± 106 para 447 ± 115 metros) e no<br />

42<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 39-46, 2007


KARLA PAIVA RIBEIRO ET AL.<br />

TIE (de 305 ± 209 para 669 ± 373 metros).<br />

Apresentaram também redução significante<br />

(p < 0,05) da sensação de dispnéia no repouso<br />

(de 0,8 ± 0,9 para 0,2 ± 0,6) e na mesma<br />

intensidade de esforço (de 1,9 ± 0,8 para<br />

1,2 ± 0,9) do TIE e redução da FC no repouso<br />

(de 98 ± 11 para 89 ± 12 batimentos por<br />

minuto). A figura 1 mostra os valores individuais<br />

da DP no TC6 para os pacientes dos<br />

grupos RR e TMI + RR.<br />

Distância (metros)<br />

800<br />

600<br />

400<br />

200<br />

0<br />

351±114<br />

ANTES<br />

GRUPO RR<br />

409±160<br />

APÓS<br />

+55,5m<br />

0m<br />

+21m<br />

+166,5m<br />

+55,5m<br />

+148,5m<br />

-2,5m<br />

+82m<br />

+39m<br />

Figura 2. Pressão inspiratoria máxima antes e<br />

após o programa de reabilitação pulmonar nos<br />

grupos reeducação respiratória e treinameno<br />

muscular inspiratório + reeducação respiratória.<br />

Distância (metros)<br />

700<br />

600<br />

500<br />

400<br />

300<br />

200<br />

100<br />

0<br />

325±106<br />

447±115<br />

ANTES<br />

APÓS<br />

GRUPO TMI+RR<br />

+70m<br />

+13m<br />

+189m<br />

+267,2m<br />

+34,5m<br />

+179,5m<br />

+100m<br />

+22,5m<br />

+300m<br />

+9m<br />

Figura 1. Distância percorrida no teste de caminhada<br />

de seis minutos antes e após o programa<br />

de reabiliação pulmonar nos grupos reeducação<br />

respiratória e treinameno muscular inspiratório<br />

+ reeducação respiratória.<br />

Os pacientes dos grupos RR e TMI + RR<br />

apresentaram melhora significante (p < 0,05)<br />

das variáveis PImáx (de -61 ± 18 para -78 ±<br />

20cmH 2<br />

O, no grupo RR, e de -63 ± 14 para -<br />

90 ± 12cmH 2<br />

O, no grupo TMI + RR) e PEmáx<br />

(de 73 ± 31 para 88 ± 33cmH 2<br />

O, no grupo RR,<br />

e de 89 ± 20 para 98 ± 18cmH 2<br />

O, no grupo<br />

TMI + RR). Quando comparados os dois grupos,<br />

o grupo TMI + RR apresentou melhora<br />

significante da PImáx (p < 0,05). As alterações<br />

da PImáx e PEmáx podem ser visualizadas nas<br />

figuras 2 e 3, respectivamente.<br />

Figura 3. Pressão expiratória máxima antes e<br />

após o programa de reabilitação pulmonar nos<br />

grupos reeducação respiratória e treinameno<br />

muscular inspiratório + reeducação respiratória.<br />

DISCUSSÃO<br />

Pacientes com DPOC apresentam deterioração<br />

da função pulmonar e fraqueza muscular<br />

periférica e respiratória, fatores responsáveis<br />

pelo desenvolvimento de dispnéia e<br />

intolerância aos esforços, comprometendo as<br />

atividades de vida diária com prejuízo na<br />

qualidade de vida. 2, 22 Os PRPs são realizados<br />

com objetivo de reduzir sintomas, promover<br />

maior independência funcional e maior tolerância<br />

aos esforços físicos, melhorando a<br />

qualidade de vida dos pacientes. 5<br />

Diversos estudos são realizados para avaliar<br />

os efeitos dos PRPs em pacientes com<br />

DPOC, e a espirometria permanece inalterada<br />

mesmo após o tratamento. 6, 23-26 Embora tenha<br />

sido encontrado aumento significante em algu-<br />

Saúde em Revista<br />

Reabilitação Pulmonar em Pacientes com DPOC<br />

43


KARLA PAIVA RIBEIRO ET AL.<br />

mas variáveis espirométricas (VEF 1<br />

, VVM e<br />

PF) nos pacientes do grupo RR, a maioria das<br />

variáveis desse grupo e do grupo TMI+RR<br />

permaneceu inalterada, de acordo com grande<br />

parte dos registros encontrados na literatura.<br />

Cabe ressaltar que os poucos aumentos significantes<br />

encontrados não se constituem em<br />

alterações clinicamente expressivas. Carter et<br />

al. 10 observaram aumento de variáveis espirométricas,<br />

como PF, após um programa de treinamento<br />

aeróbio em pacientes com DPOC.<br />

Segundo esses autores, essa alteração pode ser<br />

conseqüente de uma redução da obstrução de<br />

vias aéreas de maior calibre com melhora da<br />

força muscular respiratória.<br />

Pode-se constatar que houve um aumento<br />

da tolerância aos esforços físicos após a realização<br />

do PRP nos pacientes dos grupos RR<br />

e TMI + RR. Esse resultado foi constatado<br />

pelo aumento significante da DP no TC6 e no<br />

TIE, apresentado pelos grupos, ratificando os<br />

6, 8, 11, 19, 25, 26<br />

estudos apresentados na literatura.<br />

Acredita-se que o treinamento físico em esteira,<br />

realizado por todos os pacientes, pode ter<br />

sido o principal fator responsável pelo aumento<br />

da tolerância ao exercício físico em nossos<br />

pacientes. Os pacientes do grupo TMI + RR<br />

apresentaram também uma redução significante<br />

da FC em repouso após o PRP, fator<br />

que demonstra uma melhora no condicionamento<br />

cardiovascular desses pacientes.<br />

Segundo Redelmeier et al., 27 um aumento<br />

de 54 metros na DP no TC6 representa<br />

uma melhora clínica em pacientes com<br />

DPOC, o que pode ser confirmado pelos nossos<br />

resultados, já que o aumento médio da<br />

DP no TC6 foi de 58 metros no grupo RR e<br />

122 metros no grupo TMI + RR.<br />

Não foram observadas diferenças<br />

significantes entre os grupos em relação à DP<br />

no TC6 e no TIE. De acordo com nossos resultados,<br />

o TMI associado ao treinamento<br />

físico não oferece benefícios adicionais na<br />

tolerância aos esforços físicos quando comparado<br />

com o treinamento físico isolado, o<br />

que está de acordo com os resultados apresentados<br />

por Larson et al. 14 No entanto, diferem<br />

dos resultados de Dekhuijzen et al., 13<br />

que demostraram que a associação do TMI<br />

ao treinamento físico resultou em melhora<br />

significativa da tolerância aos esforços quando<br />

comparado com o treinamento físico isolado.<br />

Os efeitos do TMI sobre a tolerância<br />

aos esforços físicos ainda são controversos e<br />

essas divergências de resultados demonstram<br />

a necessidade de novos estudos para se determinar,<br />

dentre outros elementos, a melhor<br />

forma e a melhor carga para treinar a musculatura<br />

respiratória.<br />

No que diz respeito à dispnéia, alguns<br />

estudos mostram sua redução após um PRP<br />

em pacientes com DPOC, 6, 11, 24 enquanto<br />

19, 23,<br />

outros estudos não mostram tal alteração.<br />

25<br />

Observou-se, em nosso estudo, redução<br />

significante na sensação de dispnéia no repouso<br />

e na mesma intensidade de esforço no<br />

TIE nos dois grupos estudados. A sensação<br />

de dispnéia na intensidade máxima do TIE<br />

não mostrou diferença significante, porém, o<br />

fato de os pacientes percorrerem uma maior<br />

distância e suportarem um maior tempo de<br />

teste com a mesma sensação de dispnéia também<br />

ajuda a demonstrar que o PRP proporcionou<br />

uma influência eficaz nesse aspecto.<br />

A melhora da força muscular inspiratória<br />

tem sido demonstrada por diversos estudos<br />

1, 4, 13, 28<br />

que avaliaram os benefícios do TMI.<br />

Os pacientes dos dois grupos apresentaram<br />

um aumento significante da PImáx após o<br />

PRP, sendo que o grupo TMI + RR apresentou<br />

melhor resultado quando comparado com<br />

o grupo RR, como já era de se esperar. Acredita-se<br />

que o aumento da PImáx no grupo RR,<br />

que não realizou treinamento específico de<br />

musculatura inspiratória, possa ter ocorrido<br />

em conseqüência de uma provável melhora da<br />

mecânica respiratória, causada pela RR, fator<br />

responsável, em parte, pela função dos músculos<br />

respiratórios, 29 ou também em decorrência<br />

do condicionamento geral do paciente. 26<br />

De acordo com Porszasz et al., 30 após o<br />

treinamento físico, existe uma redução da ven-<br />

44<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 39-46, 2007


KARLA PAIVA RIBEIRO ET AL.<br />

tilação e da frequência respiratória para um<br />

mesmo nível de exercício, com um aumento da<br />

capacidade inspiratória. Esse resultado sugere<br />

uma redução da hiperinsuflação, fator responsável<br />

pela melhora da mecânica do diafragma<br />

e, conseqüentemente, da força muscular respiratória.<br />

Apesar de termos treinado apenas os<br />

músculos inspiratórios, constatou-se aumento<br />

significante também da PEmáx nos dois grupos,<br />

confirmando a hipótese de que houve uma<br />

melhora da mecânica respiratória.<br />

CONCLUSÃO<br />

Com base nos resultados obtidos nesse<br />

estudo, é possível concluir que o PRP melhorou<br />

a tolerância aos esforços físicos, a força<br />

muscular respiratória e a sensação de<br />

dispnéia em pacientes com DPOC, consistindo<br />

em uma importante estratégia terapêutica<br />

empregada pela fisioterapia respiratória.<br />

A associação do TMI aos outros componentes<br />

do PRP, embora não tenha sido<br />

suficiente para se traduzir em melhora adicional<br />

na tolerância aos esforços físicos e<br />

sensação de dispnéia nos pacientes com<br />

DPOC, trouxe um importante benefício aos<br />

pacientes com relação à melhora da força<br />

muscular inspiratória, destacando-se como<br />

uma estratégia a ser acrescentada para pacientes<br />

que apresentem fraqueza muscular<br />

respiratória.<br />

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Saúde em Revista<br />

Reabilitação Pulmonar em Pacientes com DPOC<br />

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Submetido: 1º/jun./2006<br />

Aprovado: 19/abr./2007<br />

46<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 39-46, 2007


ALEXANDRE SABBAG DA SILVA ET AL.<br />

ORIGINAL / ORIGINAL<br />

Avaliação da Qualidade de Vida em Pacientes<br />

submetidos à Reconstrução do LCA<br />

A Research of Life’s Quality in Patients with ACL Reconstruction<br />

ALEXANDRE SABBAG DA SILVA *<br />

Fisioterapeuta, mestre em<br />

Reabilitação (Unifesp/SP) e<br />

docente das Universidades São<br />

Marcos e Guarulhos<br />

PAULO VILAS BOAS DE MIRANDA<br />

Fisioterapeuta pela Faculdade de<br />

Ciências Médicas (Unicamp/SP)<br />

JONAS FRANZOLIN SOARES<br />

Fisioterapeuta pela Faculdade de<br />

Ciências Médicas (Unicamp/SP)<br />

ARIANE AMOR<br />

Fisioterapeuta pela Faculdade de<br />

Ciências Médicas (Unicamp/SP)<br />

KATIA LEME DEMARCHI<br />

Fisioterapeuta pela Faculdade de<br />

Ciências Médicas (Unicamp/SP)<br />

SERGIO ROCHA PIEDADE<br />

Médico, doutor pela Faculdade de<br />

Ciências Médicas (Unicamp/SP)<br />

PEDRO HENRIQUE REGAZZO<br />

Fisioterapeuta, professor do Curso<br />

de Fisioterapia Aplicada à<br />

Ortopedia e Traumatologia –<br />

Faculdade de Ciências Médicas<br />

(Unicamp/SP)<br />

RESUMO O presente estudo, realizado no Ambulatório de Fisioterapia<br />

Ortopédica e Traumatológica do Hospital de Clínicas da Unicamp, teve<br />

por objetivo avaliar a qualidade de vida pós-operatória tardia de pacientes<br />

submetidos à reconstrução do Ligamento Cruzado Anterior (LCA)<br />

com o terço médio do tendão patelar ipsilateral, realizado pelo departamento<br />

de ortopedia e trauma dessa mesma instituição, no período de<br />

janeiro de 2002 a dezembro de 2004. Foram avaliados 21 pacientes do<br />

sexo masculino com idade entre 21 e 38 anos. A avaliação fundamentou-se<br />

em aspectos subjetivos, aplicação do SF-36 e escala de Lysholm,<br />

e em aspectos objetivos relativos aos testes clínicos. Conclui-se que, dos<br />

pacientes avaliados, 19% apresentaram testes clínicos positivos. Quando<br />

comparados o tempo de pós-operatório com os testes clínicos e os escores<br />

de capacidade funcional (Lysholm) com qualidade de vida (SF-<br />

36), obteve-se forte correlação positiva entre eles.<br />

Palavras-chave QUALIDADE DE VIDA – CIRURGIA – JOELHO – LIGAMENTO<br />

CRUZADO ANTERIOR.<br />

ABSTRACT According to this research, carried out at the Physical<br />

Therapy, Orthopedics and Traumatology Service of UNICAMP’s<br />

University Hospital, the objective was to measure of the post-surgical<br />

quality of life of patients with anterior cruciate ligament (ACL)<br />

reconstruction made with the center of the patellar tendon; the surgery<br />

has been made by the Orthopedics and Traumatology Department of<br />

UNICAMP between January/2002 and December/2004. Twenty-one<br />

evaluations of male patients aged 21-38 years were carried out. The<br />

evaluation was based on objective aspects, SF36 and Lysholm Scale<br />

applications and on objective aspects related to physical examinations.<br />

The conclusion of this study was that 19% of the all patients evaluated<br />

showed positive clinical tests. When comparing the post-surgery time to<br />

the clinical tests and the Lysholm scale and SF-36 applications, a strong<br />

positive correlation was obtained.<br />

Keywords QUALITY OF LIFE – SURGERY – KNEE – ANTERIOR CRUCIATE<br />

LIGAMENT.<br />

* Correspondências:<br />

R. Elba, 1.126, c. 5 – Moinho Velho<br />

04285-001 São Paulo/SP<br />

alesabbag@bol.com.br<br />

Saúde em Revista<br />

Qualidade de Vida Pós-reconstrução do LCA<br />

47


ALEXANDRE SABBAG DA SILVA ET AL.<br />

INTRODUÇÃO<br />

O joelho é a maior articulação do corpo<br />

humano, desenvolvida para suportar carga, o<br />

qual apresenta uma cinemática articular distinta<br />

e uma estrutura cápsulo-ligamentar complexa<br />

que garante sua estabilidade. Os ligamentos<br />

cruzados controlam e orientam o movimento<br />

articular, previnem deslocamentos e rotações<br />

anormais do joelho. O ligamento cruzado anterior<br />

(LCA) assim como o ligamento cruzado<br />

posterior (LCP) são estruturas extra-sinoviais<br />

e intra-articulares. Recebem essa denominação<br />

de acordo com sua inserção tibial e por cruzarem<br />

o centro do joelho. 1-3<br />

As lesões ligamentares do joelho vêm se<br />

tornando cada vez mais freqüentes, sendo um<br />

problema comumente abordado por ortopedistas<br />

e fisioterapeutas. Estudos epidemiológicos<br />

nos Estados Unidos da América relatam<br />

que a incidência de lesão do LCA é de<br />

1/30 indivíduos por ano, sendo 70% dessas<br />

lesões associadas à prática esportiva competitiva<br />

ou recreacional. No nosso meio, o futebol<br />

é a principal atividade física, que conduz<br />

a lesão desse ligamento, levando a um quadro<br />

de instabilidade crônica do joelho. 1<br />

O mecanismo de lesão mais freqüente é<br />

o torsional, que ocorre quando o corpo gira<br />

para o lado oposto do pé apoiado ao solo,<br />

determinando uma rotação externa do membro<br />

inferior, acompanhado de um discreto<br />

valgismo do joelho. Se a energia do trauma<br />

ultrapassar a capacidade visco-elástica do ligamento,<br />

ele se rompe. A lesão altera a artrocinemática<br />

tíbio-femoral, permitindo o aparecimento<br />

de episódios de subluxação,<br />

manifestado clinicamente pelos falseios do<br />

joelho. Os sinais clínicos de hemartrose aguda,<br />

dor e incapacidade funcional ocorrem<br />

poucas horas após a ruptura ligamentar. 2-6<br />

O tratamento cirúrgico é indicado principalmente<br />

para indivíduos ativos, trabalhadores,<br />

atletas profissionais ou recreacionais, cuja<br />

articulação do joelho desempenha papel fundamental.<br />

A cirurgia consiste na reconstrução<br />

ligamentar realizada com tendões autólogos,<br />

como o tendão patelar e dos músculos grácil e<br />

semitendinoso. Esse procedimento visa a restabelecer<br />

a função articular, minimizando a<br />

ocorrência de lesões secundárias. 7<br />

A evolução clínica pós-operatória tem<br />

enfoque centrado na estabilidade articular e<br />

nas avaliações subjetivas, que, muitas vezes,<br />

não identificam o verdadeiro grau de satisfação<br />

do paciente em relação às suas necessidades<br />

funcionais diárias. Portanto, uma abordagem<br />

mais ampla, correlacionando dados<br />

clínicos e cirúrgicos pode permitir uma melhor<br />

avaliação dos resultados.<br />

Esse trabalho tem por objetivo avaliar a<br />

qualidade de vida pós-operatória tardia de<br />

pacientes submetidos à reconstrução do LCA<br />

com o terço médio do tendão patelar no Hospital<br />

das Clínicas da Universidade Estadual<br />

de Campinas (HC – Unicamp), utilizando-se<br />

de uma avaliação fisioterapêutica fundamentada<br />

por aspectos subjetivos e objetivos.<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

No período de janeiro de 2002 até dezembro<br />

de 2004, foram realizadas, no HC –<br />

Unicamp, 121 reconstruções do LCA com<br />

terço médio do tendão patelar. Após contato<br />

prévio, realizado pelo Serviço de Assistência<br />

Social do Hospital, 21 pacientes, todos do<br />

sexo masculino, com idade entre 21 e 38<br />

anos, média de 30,14 anos, compareceram<br />

para avaliação clínica objetiva, funcionalsubjetiva<br />

(Lysholm) e escore de qualidade de<br />

vida (SF-36). Todos os sujeitos da pesquisa<br />

foram devidamente esclarecidos sobre o objetivo<br />

do trabalho e assinaram um termo de<br />

consentimento de livre esclarecimento.<br />

O mecanismo torsional de lesão do<br />

LCA esteve presente na totalidade da amostra,<br />

entre eles 62% acometeram o membro<br />

inferior esquerdo, e 39%, o direito.<br />

Na avaliação objetiva, foram realizados<br />

os testes específicos de Lachman, gaveta<br />

anterior e pivot shit, de forma comparativa<br />

entre o joelho operado e controle, para inferir<br />

sobre a integridade do LCA. 8, 9<br />

Paralelamente, foi determinada a perimetria<br />

da coxa, utilizando fita antropométrica<br />

48<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 47-52, 2007


ALEXANDRE SABBAG DA SILVA ET AL.<br />

Sanny Medical, 2 metros, em um ponto 7 centímetros<br />

acima da interlinha articular do joelho.<br />

Essa medida permitiu avaliar o grau de hipotrofia<br />

do músculo quadríceps.<br />

Para a avaliação subjetiva, foi aplicado<br />

o SF-36 (Medical Ouctumes Study 36-Item<br />

Short-Form Health Survey). Esse questionário<br />

permite avaliar a qualidade de vida de um<br />

indivíduo. É composto de 36 itens englobados<br />

em 8 escalas (capacidade funcional, dor,<br />

estado geral de saúde, vitalidade, aspectos<br />

sociais, emocionais e físicos e saúde mental).<br />

10 Complementando essa avaliação, foi<br />

aplicada a escala de Lysholm, constituída de<br />

oito critérios, sendo três funcionais e cinco<br />

subjetivos. Este é um escore subjetivo que<br />

avalia os resultados terapêuticos da patologia<br />

ligamentar do joelho. 11<br />

RESULTADOS<br />

Quadro 1. Dados referentes aos testes de Lachman, gaveta anterior e pivot shift obtidos na avaliação<br />

objetiva.<br />

Casos<br />

Testes clínicos<br />

Lachman gaveta anterior pivot shift<br />

Perimetria<br />

operado controle operado controle operado controle operado controle<br />

1 - - - - - - 38.5 39.0<br />

2 - - - - - - 42.5 43.0<br />

3 - - - - - - 45.0 46.0<br />

4 - - - - - - 43.0 45.0<br />

5 - - - - - - 42.0 43.0<br />

6 - - - - - - 39.0 40.0<br />

7 - - - - - - 38.0 38.5<br />

8 - - - - - - 41.0 43.0<br />

9 - - - - - - 40.0 40.0<br />

10 - - - - - - 39.5 40.5<br />

11 - - - - - - 39.0 40.0<br />

12 + - + - + - 32.0 32.5<br />

13 + - + - + - 41.0 41.5<br />

14 + - + - ** - 39.0 39.0<br />

15 - - - - - - 42.0 43.5<br />

16 - - - - - - 37.0 38.0<br />

17 + - + - + - 42.0 43.0<br />

18 - - - - - - 38.5 40.0<br />

19 - - - - ** - 37.0 37.0<br />

20 - - - - - - 38.0 39.0<br />

21 - - - - - - 35.5 36.5<br />

Graduação da translação anterior da tíbia em relação ao fêmur no teste de gaveta anterior: (+) 0,5cm; (++) 1cm<br />

e (+++) 1,5cm.<br />

O teste de Lachman e pivot shift foram graduados como (+) positivo e negativo (-).<br />

** Pacientes que não cooperaram com o exame impossibilitando a realização do teste.<br />

Através dos dados descritos no quadro 1, foi constatado que 19% dos pacientes apresentaram<br />

pelo menos um dos testes positivos. A perimetria realizada no membro controle mostrou<br />

diferença superior a 1 centímetro em 19% dos casos quando comparada com o membro<br />

operado, não apresentando portanto relação entre os testes clínicos e a perimetria.<br />

Saúde em Revista<br />

Qualidade de Vida Pós-reconstrução do LCA<br />

49


ALEXANDRE SABBAG DA SILVA ET AL.<br />

Freqüência<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

2<br />

6<br />

4<br />

< 60 60 |- 70 70 |- 80 80 |- 90 90 ou +<br />

Escala do SF-36<br />

Figura 1. Escala do SF-36 de uma amostra de<br />

pacientes do Ambulatório de Ortopedia e Traumatologia<br />

de Fisioterapia do HC/Unicamp, que<br />

realizaram cirurgia no joelho, entre 2002 e 2004.<br />

Freqüência<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

1<br />

6<br />

Excelente Bom Regular Pobre<br />

8<br />

Escala de Lysholm<br />

Figura 2. Escala de Lysholm de uma amostra de<br />

pacientes do Ambulatório de Ortopedia e<br />

Traumatologia de Fisioterapia do HC/Unicamp, que<br />

realizaram cirurgia no joelho, entre 2002 e 2004.<br />

8<br />

6<br />

1<br />

A partir dos resultados referentes às<br />

avaliações funcional e subjetiva (SF-36 e<br />

Lysholm) foram construídas as Figuras 1 e 2<br />

respectivamente.<br />

Observando a figura 1, é possível constatar<br />

que 42% dos resultados obtidos no SF-<br />

36 foram considerados como excelente ou<br />

bom, enquanto 58% dos casos como regular<br />

ou pobre.<br />

Os resultados obtidos na avaliação funcional-subjetiva<br />

de Lysholm mostraram que<br />

66,6% dos pacientes avaliados no presente<br />

estudo apresentaram um escore classificado<br />

como pobre ou regular.<br />

Agrupando os resultados obtidos pela<br />

escala de Lysholm em bom/excelente e pobre/regular<br />

e comparando com o escore obtido<br />

no SF-36, foi visto que os dois critérios<br />

subjetivos utilizados no presente estudo<br />

apresentaram forte correlação positiva (Coeficiente<br />

de Correlação de Spearman –<br />

CCS = 0,78).<br />

A idade apresentou uma correlação negativa<br />

moderada quando correlacionada com<br />

o SF-36 (CCS = -0,51), entretanto a escala<br />

de Lysholm não apresentou diferença entre<br />

os grupos em relação à idade segundo o teste<br />

de Mann Withney - MW (p = 0,574).<br />

O tempo de espera pela cirurgia não<br />

apresentou diferença entre os grupos segundo<br />

a escala de Lysholm – MW, (p= 0,389).<br />

Também não houve discrepância entre esses<br />

grupos segundo o SF-36 (CCS = 0,03).<br />

No presente estudo não houve associação<br />

entre os testes físicos e a escala de<br />

Lysholm (teste exato de Fisher: p Lachamn<br />

=<br />

0,521, p gaveta anterior<br />

= 0,255, p pivot shift<br />

= 0,263).<br />

Porém, os pacientes que apresentaram os testes<br />

físicos de Lachman, gaveta anterior ou<br />

pivot shift positivos obtiveram um escore na<br />

escala funcional de Lysholm pobre/regular,<br />

podendo isso estar relacionado à baixa<br />

casuística desse trabalho.<br />

Entretanto, o tempo de pós-operatório<br />

apresentou diferença em relação ao teste de<br />

gaveta anterior (p = 0,012) e o pivot shift<br />

(p = 0,044); o mesmo não ocorre em relação<br />

ao teste de Lachman, que está no limite da<br />

diferença entre os grupos segundo a escala<br />

de MW (p = 0,056).<br />

Os resultados obtidos nestes testes não<br />

têm relação significativa com a idade ou tempo<br />

de espera pela cirurgia pelo teste de MW<br />

(p Lachamn<br />

= 0,419, p gaveta anterior<br />

= 0,857, p pivot shift<br />

= 0,466).<br />

DISCUSSÃO<br />

A lesão do LCA é a principal causa de<br />

instabilidade ligamentar crônica do joelho.<br />

Acomete indivíduos, na sua maioria, jovens,<br />

ativos, que, invariavelmente, encontram-se na<br />

fase mais produtiva da vida adulta. A cronicidade<br />

dessa lesão pode promover o apareci-<br />

50<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 47-52, 2007


ALEXANDRE SABBAG DA SILVA ET AL.<br />

mento de lesões secundárias, aumentando o<br />

grau de incapacidade funcional, acelerando o<br />

processo de degeneração articular. Nessa condição,<br />

o tratamento cirúrgico é realizado com<br />

o intuito de melhorar a cinemática articular,<br />

assim como a qualidade de vida do paciente.<br />

A subjetividade, caracterizada por ser o<br />

estado de saúde ou qualidade de vida um<br />

conceito compreendido a partir de uma perspectiva<br />

individual, e a multidimensionalidade,<br />

caracterizada por abranger diferentes<br />

aspectos da vida de uma pessoa, como físico<br />

e emocional, são fundamentais quando se<br />

deseja avaliar o estado de saúde de um indivíduo<br />

de forma mais abrangente. 10<br />

Barber et al. 12 realizaram uma comparação<br />

entre dois grupos tratados cirurgicamente – um<br />

com pacientes acima de 40 anos e outro com<br />

idade inferior a 40 anos. Concluíram que não<br />

existem diferenças significativas entre os dois<br />

grupos, de tal modo que a faixa etária não é uma<br />

barreira ao sucesso da reconstrução do LCA.<br />

O presente estudo constatou que o envelhecimento<br />

da população avaliada é inversamente<br />

proporcional ao escore de qualidade<br />

de vida aferido pelo SF-36, sugerindo que os<br />

indivíduos de maior idade apresentaram uma<br />

pior qualidade de vida quando comparados<br />

aos indivíduos de menor idade, contrariando<br />

os dados encontrados na literatura.<br />

Em nosso estudo, foi concluído que<br />

19% dos pacientes apresentaram alguns testes<br />

físicos positivos (Lachman, gaveta anterior<br />

e pivot shift), dados semelhantes aos dos<br />

5, 13, 14<br />

autores pesquisados.<br />

Cohen 14 encontrou correlação estatisticamente<br />

significativa, apesar de baixa, entre a<br />

graduação da manobra de Lachaman e o resultado<br />

da pontuação de Lysholm. Nesse sentido,<br />

foi encontrada tendência de piores resultados<br />

da manobra de Lachman estarem relacionados<br />

a piores resultados do questionário Lysholm.<br />

No presente estudo, não houve correlação<br />

estatisticamente significativa entre a associação<br />

dos testes físicos e a escala de<br />

Lysholm. Porém, os pacientes que apresentaram<br />

os testes físicos de Lachman, gaveta<br />

anterior ou pivot shift positivos, obtiveram<br />

um escore na escala funcional de Lysholm<br />

pobre/regular, podendo estar relacionado à<br />

baixa casuística desse trabalho.<br />

Segundo Peccin, 11 as correlações entre o<br />

questionário Lysholm e o SF-36 apresentaram<br />

significância estatística nos aspectos físicos,<br />

dor e capacidade funcional, itens avaliados<br />

tanto no questionário genérico SF-36 quanto<br />

no específico Lysholm. Em nosso estudo, encontramos<br />

situação semelhante quando agrupamos<br />

os resultados obtidos pela escala de<br />

Lysholm em bom/excelente e pobre/regular e<br />

comparamos com o escore obtido no SF-36.<br />

A percepção do estado de saúde dos pacientes<br />

bem como o impacto da doença e de<br />

seu tratamento no indivíduo são dados importantes<br />

de serem avaliados em estudos clínicos<br />

e epidemiológicos. 10 Há uma necessidade crescente<br />

de avaliarmos os indivíduos em todos os<br />

aspectos biopsicossociais, e, quando houver<br />

interesse em avaliar alguma afecção, devemse<br />

aplicar questionários específicos associados<br />

a genéricos, a fim de se ter um perfil mais verídico<br />

do estado geral de saúde do indivíduo. 11<br />

CONCLUSÃO<br />

Pelo presente estudo, conclui-se que, dos<br />

21 pacientes avaliados, a idade apresentou<br />

correlação negativa moderada com o escore<br />

de qualidade de vida aferido pelo SF-36, sugerindo<br />

que os indivíduos de maior idade de<br />

nossa amostra apresentam um baixo escore de<br />

qualidade de vida, assim como o tempo de<br />

pré-operatório não apresentou correlação com<br />

o escore de capacidade funcional de Lysholm.<br />

Quanto aos testes físicos, ressalta-se que<br />

9,5% dos pacientes não colaboraram para a<br />

realização do pivot-shift. Os 19% que apresentaram<br />

um dos testes clínicos positivos<br />

obtiveram um escore pobre ou regular na<br />

escala funcional de Lysholm.<br />

Saúde em Revista<br />

Qualidade de Vida Pós-reconstrução do LCA<br />

51


ALEXANDRE SABBAG DA SILVA ET AL.<br />

O tempo de pós-operatório apresentou<br />

forte correlação positiva com os testes clínicos,<br />

sugerindo que, nessa amostra, os indivíduos<br />

com maior tempo de cirurgia estariam<br />

mais susceptíveis a apresentarem os testes<br />

clínicos positivos no joelho operado quando<br />

comparado ao controle.<br />

Ao comparar os escores de capacidade<br />

funcional (Lysholm) com qualidade de vida<br />

(SF-36), foi obtida uma forte correlação<br />

positiva, sugerindo que, nesse estudo, os<br />

pacientes que apresentaram um bom escore<br />

de qualidade de vida também tiveram boa<br />

pontuação em sua capacidade funcional.<br />

Objetivando uma melhor interpretação<br />

dos dados desse estudo, é sugerido que esse<br />

trabalho seja utilizado como um projeto-piloto<br />

devido à limitada casuística apresentada.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

1. Camanho GL. Patologias do joelho. 1. ed. São Paulo: Sarvier; 1996.<br />

2. Fu FH, Harner CD, Johnson DL, Miller MD, Woo SL. Biomechanics of knee ligaments: basic concepts and<br />

clinical application. Instr Course Lect 1994;43:137-48.<br />

3. Kennedy JL, Fowler PJ. Medial and anterior instability of the knee: an anatomical and clinical study using<br />

stress machines. J Bone Joint Surg Am 1971;53(7):1.257-70.<br />

4. Kaneko K, Demouy EH, Brunet ME. Correlation between occult bone lesions and meniscoligamentous<br />

injuries in patients with traumatic knee joint disease. Clin imaging 1993;17(4):253-7.<br />

5. Regazzo PH, Aere CL, Gasparoto LF, Tavares M. Avaliação da condição pós-operatória tardia de pacientes<br />

com insuficiência do ligamento cruzado anterior. Campinas: FCM-Unicamp;2004.<br />

6. Rochwood Jr. CA, Gren DP, Bucholz RW. Fraturas em adultos. 3. ed. São Paulo: Manole Ltda.; 1994.<br />

7. Crenshaw AH. Cirurgia ortopédica de Campbell. 8. ed. São Paulo: Manole; 1996, v. 3.<br />

8. Magee DJ. Avaliação músculo esquelética. 4. ed. São Paulo: Manole Ltda.; 2005.<br />

9. Reider B. O exame físico em ortopedia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A.; 2001.<br />

10. Ciconelli RM, Ferraz <strong>MB</strong>, Santos W, Meinão I, Quaresma MR. Tradução para língua portuguesa e validação<br />

do questionário genérico de avaliação de qualidade de vida SF-36 (Brasil SF-36). Rev Bras Reumatol<br />

1999;39(3):143-50.<br />

11. Peccin MS. Questionário específico para sintomas do joelho “Lysholm Knee Scoring Scale”. Tradução e<br />

validação para a língua portuguesa [dissertação]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo – Escola<br />

Paulista de Medicina; 2001.<br />

12. Barber FA, Elrod BF, McGguire DA, Paulos LE. Is an anterior cruciate ligament reconstruction outcome age<br />

dependent? Arthroscopy 1996;12(6):720-5.<br />

13. Indelicato PA, Linton RC, Huegel M. The results fresh-frozen patellar allografts for chronic anterior cruciate<br />

ligament deficiency of the Knee. Am J Sports Med 1992;20(2):118-21.<br />

14. Cohen M. Reconstrução do ligamento cruzado anterior com o terço central do ligamento da patela – avaliação<br />

dos resultados com seguimento de dez a quinze anos [tese]. São Paulo: Universidade Federal de São<br />

Paulo – Escola Paulista de Medicina; 2001.<br />

Submetido: 14/jun./2006<br />

Aprovado: 28/maio/2007<br />

52<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 47-52, 2007


GUSTAVO CHRISTOFOLETTI ET AL.<br />

Alterações Motoras e Sensoriais na<br />

Mielomeningocele: relato de três casos<br />

Impairments in Myelomeningocele: cases report<br />

ORIGINAL / ORIGINAL<br />

GUSTAVO CHRISTOFOLETTI *<br />

Mestre em Ciências da<br />

Motricidade (Unesp/SP), especialista<br />

em Fisioterapia Aplicada à<br />

Neurologia Infantil (Unicamp/SP)<br />

e docente da Universidade<br />

Estadual de Goiás (UEG/GO)<br />

GERUZA P. BELA<br />

Especialista em Fisioterapia<br />

Aplicada à Neurologia Infantil<br />

(Unicamp/SP) e docente da<br />

Universidade Paulista (Unip/SP)<br />

REGINA C. TUROLLA<br />

Docente da Pontifícia Universidade<br />

Católica de Campinas<br />

(PUCCamp/SP)<br />

SIMONE SERRADILHA<br />

Especialista em Fisioterapia<br />

Aplicada à Neurologia Infantil<br />

(Unicamp/SP)<br />

MERLYN M. OLIANI<br />

Mestre em Ciências da<br />

Motricidade (Unesp/SP)<br />

ANTÔNIO C. QUADROS JR.<br />

Mestre em Ciências da<br />

Motricidade (Unesp/SP)<br />

* Correspondências:<br />

Rua Hilário da Silva Miranda, 118<br />

J. Novo Chapadão<br />

13070-034 Campinas/SP<br />

gustavo_physio@yahoo.com.br<br />

RESUMO INTRODUÇÃO: Definida como sendo um disrafismo medular<br />

conseqüente ao fechamento parcial do tubo neural, a mielomeningocele<br />

(MMC) apresenta alterações motoras e sensoriais responsáveis por<br />

causar déficits de equilíbrio e instabilidade postural. OBJETIVOS:<br />

Verificar as alterações motoras e sensoriais de pacientes com MMC<br />

atendidos no Ambulatório de Fisioterapia aplicada à Neurologia Infantil<br />

– HC – Unicamp, durante o ano de 2005. MATERIAIS E MÉTODOS:<br />

Foi realizada uma análise de prontuários envolvendo os seguintes itens:<br />

anamnese, desenvolvimento neuropsicomotor, dismorfismo, força e<br />

tônus muscular; reflexos superficiais e profundos; sensibilidade superficial<br />

e profunda; clônus; mobilidade; encurtamentos musculares.<br />

RESULTADOS: Três indivíduos, sendo dois do sexo feminino e um do<br />

masculino, idade média de 6,67 ± 1,15 anos, participaram dessa pesquisa.<br />

Desses, dois apresentaram diagnóstico de MMC lombar e um de<br />

MMC sacral. A anamnese apontou gestação problemática envolvendo<br />

todos os pacientes. Foi observado um maior atrasado no desenvolvimento<br />

neuropsicomotor nos casos de MMC lombar. Alterações sensoriais<br />

e motoras foram observadas em todos os participantes com menor<br />

gravidade em relação àquele com MMC sacral. CONCLUSÃO: Os<br />

pacientes com MMC lombar e sacral apresentaram alterações sensoriais<br />

e motoras. Mais estudos envolvendo essa temática são fundamentais<br />

para possibilitar uma conclusão mais minuciosa.<br />

Palavras-chave MIELOMENINGOCELE – ESPINHA BÍFIDA – DISRAFISMO ESPI-<br />

NHAL –ESTUDOS DE CASOS.<br />

ABSTRACT INTRODUCTION: Defined as a spinal cord disraphysm<br />

consequent to the partial closing of the neural tube, myelomeningocele<br />

(MMC) presents motor and sensorial impairments commonly responsible<br />

for balance and postural instability. OBJECTIVES: Verify motor and<br />

sensorial impairments in patients with MMC assisted at Unicamp’s<br />

Physical Therapy applied to Neurology Service in 2005. METHODS: For<br />

such, medical records were utilized and the following items were analyzed:<br />

neuropsychomotor development; dimorphism; muscular strength and tonus;<br />

superficial and deep reflexes; superficial and deep sensibilities; clonus;<br />

mobility; and flexibility. RESULTS: Three subjects, one male and two<br />

females, 6.67 ± 1.15 years, participated in this research. Two of them are<br />

diagnosed with lombar MMC and, the other, sacral MMC. Anamnesis<br />

usually pointed to a problema pregnancy in all cases. Lombar MMC<br />

showed to cause more neuropsychomotor delay than sacral MMC. Motor<br />

and sensorial impairments were seen in all patients, but they were less<br />

affected in sacral MMC. CONCLUSION: Both lombar and sacral MMC<br />

presented sensorial and motor impairments, variables commonly related to<br />

balance and postural instability. More studies are important to make a<br />

more accurate conclusion.<br />

Keywords MYELOMENINGOCELE – SPINA BIFIDA – SPINAL DYSRAPHISM – CASE<br />

STUDIES.<br />

Saúde em Revista<br />

Alterações Sensório-motoras na MMC<br />

53


GUSTAVO CHRISTOFOLETTI ET AL.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Também conhecida como spina bifida<br />

cystica, a mielomeningocele (MMC) consiste<br />

em uma desordem disráfica caracterizada<br />

pelo fechamento parcial do tubo neural decorrente<br />

da proliferação inadequada de células<br />

ectodérmicas durante a terceira e a quarta<br />

semana de embriogênese. 1 Conseqüente a<br />

isso, alterações sensoriais, motoras e cognitivas,<br />

muitas vezes decorrentes da malformação<br />

de Arnold-Chiari, são comuns. 2<br />

Com incidência aproximada de quatro<br />

por mil nascidos vivos, 3 a MMC freqüentemente<br />

encontra-se associada com a malformação<br />

de Arnold-Chiari. Conforme a descrição<br />

de Chiari, a malformação do tipo I<br />

consiste no deslocamento caudal das amígdalas<br />

cerebelares por meio do forame magno; o<br />

tipo II representa uma herniação das amígdalas,<br />

verme cerebelar, quarto ventrículo e porção<br />

inferior do bulbo por meio do forame<br />

occipital; já o tipo III consiste em uma<br />

herniação do cerebelo e tronco encefálico<br />

dentro de uma meningocele cervical alta; no<br />

tipo IV, há uma hipoplasia cerebelar sem<br />

herniação. 4 Quando sintomática, tais alterações<br />

causam obstrução do fluxo do líquido<br />

cérebro-espinhal, promovendo seu acúmulo<br />

anormal na cavidade craniana. 5<br />

Em relação à hidrocefalia obstrutiva<br />

decorrente da malformação de Arnold-Chiari,<br />

comumente é observada uma hipoplasia e<br />

astrogliose cerebral, com alargamento do<br />

túber cinéreo e aumento dos ventrículos cerebrais.<br />

Existe uma alteração na concentração<br />

de diversos neurotransmissores neuropepitídicos,<br />

refletindo em distúrbio difuso da função<br />

neuronal e, possivelmente, em dificuldade<br />

de circulação dos metabólitos do cérebro<br />

hidrocefálico. 5 A disfunção do corpo caloso,<br />

muitas vezes, vem associada a déficits<br />

cognitivos, particularmente relacionados à<br />

cognição não-verbal. 5, 6<br />

As alterações motoras e sensoriais decorrentes<br />

do disrafismo medular freqüentemente<br />

promovem alterações osteomioarticulares,<br />

confinando, muitas vezes, o paciente<br />

com MMC a uma situação de exclusão social.<br />

Alterações posturais, caracterizadas, sobretudo,<br />

por hiperescoliose (na MMC lombar)<br />

ou hipercifose (nos casos de lesões<br />

torácicas), promovem instabilidade no equilíbrio<br />

do paciente. Ainda em relação às alterações<br />

motoras, segundo Bartonek et al., 7 a<br />

paresia dos músculos flexores plantares causa<br />

anteriorização da tíbia, suscitando instabilidade<br />

e movimentos compensatórios de joelho,<br />

quadril e tronco.<br />

Além dos anteriormente citados, déficits<br />

sensoriais, 7, 8 cognitivos, 9 tônicos 7 e tróficos, 9,<br />

10<br />

com processo osteoporótico 11 (envolvendo<br />

ou não subluxações de quadril) e contraturas<br />

musculares, 12 também constituem fatores que<br />

influenciam na qualidade de vida do paciente<br />

com MMC, aumentando os índices de comorbidades<br />

nessa população.<br />

Esse estudo teve como objetivo descrever<br />

as alterações motoras e sensoriais de<br />

pacientes com MMC atendidos no Setor de<br />

Fisioterapia e Terapia Ocupacional Aplicada<br />

à Neurologia Infantil do Hospital das Clínicas<br />

da Unicamp, durante o ano de 2005.<br />

MATERIAIS E MÉTODOS<br />

Esse estudo apresenta delineamento de<br />

relato de casos. A seleção dos participantes<br />

foi realizada a partir da amostra de pacientes<br />

que freqüentaram o Ambulatório de Fisioterapia<br />

e Terapia Ocupacional Aplicada à Neurologia<br />

Infantil – Hospital das Clínicas –<br />

Unicamp, no ano de 2005. Como critérios de<br />

inclusão, foram admitidos pacientes de ambos<br />

os sexos, idade entre 3 e 12 anos, e com<br />

diagnóstico de MMC comprovado pela avaliação<br />

médica. Os participantes foram classificados<br />

de acordo com a lesão topográfica<br />

instalada (MMC lombar e MMC sacral). Foi<br />

realizada uma análise de prontuários envolvendo<br />

os seguintes itens: anamnese, desenvolvimento<br />

neuropsicomotor (controle<br />

54<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 53-57, 2007


GUSTAVO CHRISTOFOLETTI ET AL.<br />

cefálico, sentar com e sem apoio, engatinhar,<br />

bipedestação e deambulação), dismorfismo,<br />

força muscular (normal ou paresia), tônus<br />

muscular (normal, hipotonia ou hipertonia);<br />

reflexos superficiais (palmo-mentoniano,<br />

cutâneo-plantar) e profundos (bicipital, tricipital,<br />

estiloradial, patelar, aquileu e<br />

abdutor); sensibilidade superficial e profunda<br />

(normal, hipoestesia ou hiperestesia); clônus<br />

(presente e ausente); mobilidade (normal ou<br />

diminuída); encurtamentos musculares. A<br />

avaliação, previamente realizada, foi realizada<br />

em ambiente calmo, com a presença do<br />

cuidador responsável, e sem interferência de<br />

fatores externos.<br />

Os responsáveis legais assinaram um<br />

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido<br />

baseado na resolução 196/96 do Ministério<br />

da Saúde, permitindo a utilização dos dados<br />

dessa pesquisa.<br />

RESULTADOS<br />

Quatro pacientes com diagnóstico de<br />

MMC foram atendidos no Ambulatório de<br />

Fisioterapia e Terapia Ocupacional Aplicada<br />

à Neurologia Infantil da Unicamp, no ano de<br />

2005. Desses, um foi excluído da amostra<br />

por apresentar diagnóstico associado de paralisia<br />

cerebral. Dados dos pacientes referentes<br />

à idade, a gênero e à lesão topográfica, encontram-se<br />

na tabela 1.<br />

Pacientes com MMC Lombar<br />

Em relação à anamnese, foram observados<br />

problemas gestacionais em ambos os<br />

casos: gestação não-planejada, histórico de<br />

abortos, movimentos fetais tardios e Apgar<br />

baixo nos primeiros cinco minutos. Em um<br />

dos casos, houve uma infecção urinária associada<br />

à gravidez, com internação hospitalar<br />

em decorrência de sepse, pneumonia, hiponatremia,<br />

hipotassemia, choque hemorrágico<br />

e insuficiência renal da criança.<br />

O desenvolvimento neuropsicomotor<br />

ocorreu com atraso. O sustento cefálico<br />

aconteceu por volta dos oito meses; o sentar<br />

com apoio só foi possível após os dois anos.<br />

Apenas um dos pacientes conseguiu<br />

engatinhar (aos dois anos e quatro meses). A<br />

deambulação também foi realizada por apenas<br />

um paciente. Tal fato iniciou-se após os<br />

cinco anos de idade, com auxílio de órteses<br />

de estabilização joelho-tornozelo-pé (órtese<br />

do tipo KAFO – knee-ankle-foot orthosis).<br />

As alterações dismórficas basearam-se<br />

no aumento do perímetro encefálico (conseqüente<br />

à hidrocefalia obstrutiva) e na<br />

hipotrofia dos membros inferiores (MMII). A<br />

busca pelos estímulos auditivos e visuais<br />

apontou para uma possível preservação dos<br />

músculos oculares e do sistema auditivo.<br />

Ambos os pacientes apresentaram<br />

hipoestesia superficial e profunda nos MMII,<br />

a partir do segmento L1. Foi observada<br />

paresia dos músculos inervados pelos segmentos<br />

L2-L5. Os reflexos superficiais nos<br />

MMII estavam hipoativos, com ausência do<br />

sinal cutâneo plantar em extensão (sinal<br />

patognomônico de Babinski). Em apenas um<br />

paciente, foi constatado clônus do tipo<br />

esgotável. Força muscular, reflexos e sensi-<br />

Tabela 1. Característica dos participantes da pesquisa.<br />

Saúde em Revista<br />

Alterações Sensório-motoras na MMC<br />

55


GUSTAVO CHRISTOFOLETTI ET AL.<br />

bilidade dos membros superiores (MMSS)<br />

não estavam alterados.<br />

Os pacientes apresentaram diminuição<br />

da mobilidade de tronco com predominância<br />

do segmento lombar. Houve um maior comprometimento<br />

dos movimentos de flexão<br />

(ventral e lateral). Movimentos pélvicos em<br />

retroversão foram também afetados, bem<br />

como a flexão plantar e dorsal do tornozelo.<br />

Os principais músculos encurtados foram:<br />

tríceps sural, grácil e isquitibiais.<br />

Paciente com MMC Sacral<br />

A gestação envolvendo o paciente com<br />

MMC sacral foi menos problemática em relação<br />

aos casos envolvendo os sujeitos com<br />

MMC lombar. Apesar da idade materna<br />

avançada, o parto foi do tipo cesariana, sem<br />

intercorrências. O Apgar foi nove no primeiro<br />

minuto e dez no quinto.<br />

O desenvolvimento neuropsicomotor<br />

ocorreu com pouco atraso: o sustento<br />

cefálico ocorreu aos três meses de vida; o<br />

sentar com apoio, aos oito; com um ano, o<br />

paciente engatinhava; a bipedestação ocorreu<br />

com um ano e cinco meses; a deambulação<br />

independente, após dois anos de idade.<br />

As alterações dismórficas caracterizaram-se<br />

por uma leve hipotrofia dos MMII.<br />

Assim como nos pacientes com MMC lombar,<br />

a busca pelos estímulos auditivos e visuais<br />

apontou para uma possível preservação<br />

dos músculos oculares e do sistema auditivo.<br />

O segmento lombar encontrava-se com sensibilidades<br />

superficial e profunda preservadas.<br />

Não houve alteração no tônus muscular.<br />

Foi constatada uma leve paresia de alguns<br />

músculos inervados pelo quinto segmento<br />

lombar (flexores dorsais e plantares de tornozelo).<br />

Os reflexos dos MMII encontravam-se<br />

hiperativos, com ausência do sinal cutâneo<br />

plantar em extensão e clônus. Força muscular,<br />

reflexos e sensibilidade dos MMSS estavam<br />

inalterados.<br />

Em relação à amplitude de movimento<br />

(ADM), foi observada uma diminuição de<br />

mobilidade de tronco (todos os movimentos<br />

da região lombo-sacra). O tornozelo encontrou-se<br />

com ADM limitada, especialmente<br />

para flexão dorsal. Os encurtamentos musculares<br />

predominantes envolviam os seguintes<br />

músculos biarticulares: tríceps sural, iliopsoas<br />

e isquiotibiais.<br />

DISCUSSÃO<br />

Os resultados encontrados apontaram um<br />

desempenho motor mais deficiente nas crianças<br />

com MMC lombar em relação àquela com<br />

MMC sacral, concordando com resultados<br />

preliminares da literatura. 13, 14 O aparecimento<br />

de sinais de “liberação piramidal” com sinais<br />

de lesões periféricas aponta para a necessidade<br />

de se realizar um controle adequado da<br />

hidrocefalia obstrutiva, causa comum de hipertensão<br />

intracraniana e estresse cerebral.<br />

Estudos relatam a derivação ventrículoperitonial,<br />

caracterizada pela drenagem<br />

do líquido cérebro-espinhal à cavidade peritoneal,<br />

como sendo um procedimento adequado,<br />

com respostas benéficas imediatas. Especificamente<br />

nos casos envolvendo derivação<br />

externa, o conhecimento do mecanismo relacionado<br />

à drenagem do líquido cérebro-espinhal<br />

envolve todos os profissionais da saúde,<br />

pois a manipulação do paciente pode causar<br />

elevação da pressão intracraniana. 15<br />

Apesar do mesmo diagnóstico, os pacientes<br />

com MMC lombar apresentaram habilidades<br />

motoras diferenciadas. Tal fato remete<br />

à importância de se realizarem exames<br />

pré-natais regulares, pois, como visto, condições<br />

gestacionais mais adversas e severas<br />

podem limitar o desempenho motor da criança.<br />

Diante disso, a atuação preventiva do<br />

profissional da saúde se torna essencial para<br />

assistência da gestante e de seu filho.<br />

Os autores desse estudo acharam sensato<br />

excluir um paciente da amostra, pois o<br />

diagnóstico associado de paralisia cerebral<br />

poderia causar resultados não condizentes<br />

com aqueles com MMC isolada.<br />

56<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 53-57, 2007


GUSTAVO CHRISTOFOLETTI ET AL.<br />

Em conclusão, os pacientes com MMC<br />

lombar e sacral apresentaram alterações sensoriais<br />

e motoras, variáveis comumente relacionadas<br />

a déficits de equilíbrio nessa população.<br />

Por se tratar de relato de três casos, as<br />

conclusões não podem ser generalizadas.<br />

Diante disso, estudos transversais e longitudinais,<br />

envolvendo um maior tamanho de<br />

amostra, são fundamentais para possibilitar<br />

uma conclusão mais minuciosa.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

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myelomeningocele. Neurosurg Rev 1999;22:45-9.<br />

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muscle on gait pattern in children with sacral to mid-lumbar myelomeningocele: a gait analysis study. Gait<br />

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14. Pite-tem Cate IM, Kennedy C, Stevenson J. Disability and quality of life in spina bífida and hydrocephalus<br />

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15. Vonchon M, Dhellemmes P. Cerebrospinal fluid shunt infection: risk factors and long-term follow-up. Childs<br />

Nerv Syst 2006;22(7):692-7.<br />

Submetido: 12/set./2006<br />

Aprovado: 13/jul./2007<br />

Saúde em Revista<br />

Alterações Sensório-motoras na MMC<br />

57


DIMAS DOS SANTOS ROCHA JÚNIOR ET AL.<br />

ORIGINAL / ORIGINAL<br />

Efeitos do Dimetilaminoetanol (DMAE) em<br />

Preparação Neuromuscular<br />

Effects of Dimethylaminoethanol (DMAE) in<br />

Neuromuscular Preparation<br />

DIMAS DOS SANTOS ROCHA JÚNIOR<br />

Farmacêutico e mestrando em<br />

Farmacologia (Unicamp/SP)<br />

GILDO BERNARDO LEITE<br />

Biólogo do Departamento de<br />

Farmacologia (Unicamp/SP)<br />

RESUMO O dimetilaminoetanol (DMAE) é comercializado em vários<br />

países como suplemento da dieta, amplificador da cognição e também<br />

como matéria-prima de produtos cosméticos. No Brasil, a Agência<br />

Nacional de Vigilância Sanitária aprovou o uso cosmético em 2002,<br />

visando a uma ação antiaging, após a observação do efeito colateral<br />

decorrente da administração oral do medicamento Deanol®: contração<br />

involuntária da musculatura do rosto e do pescoço. Pesquisou-se, nesse<br />

trabalho, a ação do DMAE em preparação isolada do nervo frênicodiafragma<br />

de camundongos, utilizando-se técnicas miográfica e<br />

eletrofisiológica. DMAE, sob o parâmetro miográfico, mostrou dois<br />

efeitos neuromusculares principais, dependentes da concentração: o<br />

facilitador da neurotransmissão (1mg/mL, n = 6 e 4mg/mL, n = 11) e o<br />

bloqueador neuromuscular completo aos 40 minutos (20mg/mL, n = 4).<br />

Em preparações previamente curarizadas (d-Tubocurarina, 10µg/mL) e<br />

sob estímulo direto, o DMAE (8mg/mL, n = 3) aumentou a amplitude<br />

da contração muscular (30%), mostrando uma ação direta sobre a fibra<br />

muscular, enquanto sob estímulo indireto demonstrou não possuir ação<br />

anticolinesterásica. O DMAE, sob o parâmetro eletrofisiológico, agiu<br />

pré-sinapticamente sobre a terminação nervosa, constatado pelo aumento<br />

gradativo dos valores de conteúdo quântico (1mg/mL, n = 4). As implicações<br />

desses resultados são discutidas nesse trabalho.<br />

Palavras-chave TÉCNICAS COSMÉTICAS – DEANOL® – JUNÇÃO<br />

NEUROMUSCULAR.<br />

JOSIANE BRANDOLUZI PATINI<br />

Fisioterapeuta e estagiária do<br />

Laboratório de Neurofarmacologia<br />

(Unicamp/SP)<br />

LÉA RODRIGUES-SIMIONI *<br />

Bióloga e docente responsável<br />

pelo Laboratório de<br />

Neurofarmacologia (Unicamp/SP)<br />

YOKO OSHIMA-FRANCO<br />

Farmacêutica-Bioquímica e<br />

doutora em Farmacologia<br />

(Unicamp/SP)<br />

* Correspondências:<br />

Unicamp<br />

Cidade Univers. “Zeferino Vaz”<br />

13083-970 Campinas/SP<br />

Caixa Postal 6.111<br />

simioni@unicamp.br<br />

ABSTRACT Dimethylaminoethanol (DMAE) is commercialized in several<br />

countries as diet supplement, cognition enhancer and also as substance<br />

in the constitution of cosmetic products. In Brazil, the cosmetic use was<br />

approved by the Agência Nacional de Vigilância Sanitária, in 2002,<br />

aiming at an antiaging action, after side effects from oral Deanol®<br />

administration were observed: involuntary contraction of the face and<br />

the neck muscles. The objective of this work was to study the action of<br />

DMAE in the isolated preparation of phrenic nerve-diaphragm of mice,<br />

using myographic and electrophysiological techniques. DMAE, under<br />

myographical parameter, showed two main neuromuscular and<br />

concentration-dependent effects: the facilitator (1mg/mL, n = 6 and<br />

4mg/mL, n = 11) and the neuromuscular blocker at 40 min (20mg/mL,<br />

n = 4). In pre-curarized preparations (d-Tubocurarine, 10µg/mL) and<br />

under direct stimuli, DMAE (8mg/mL, n = 3) increased the amplitude<br />

of muscular contraction (30%), showing a direct action on the muscular<br />

fiber; whereas under indirect stimuli, it showed to have no<br />

anticholinesterasic action. DMAE, under electrophysiological parameter<br />

did act presynaptically on the nervous terminal by a gradual increase of<br />

quantum content values (1mg/mL, n = 4). The implications of these<br />

results are discussed in this work.<br />

Keywords COSMETIC TECHNIQUES – DEANOL® – NEUROMUSCULAR JUNCTION.<br />

Saúde em Revista<br />

DMAE Uso Tópico: cosmético ou medicamento?<br />

59


DIMAS DOS SANTOS ROCHA JÚNIOR ET AL<br />

INTRODUÇÃO<br />

O composto químico dimetilaminoetanol<br />

(DMAE, Deanol®) apresenta a fórmula estrutural<br />

CH 3<br />

NHCH 2<br />

-(CH 2<br />

) 2<br />

OH. Sua forma de<br />

bitartarato é uma das comercializadas e apresenta<br />

a fórmula molecular C 4<br />

H 11<br />

NO.C 4<br />

H 6<br />

O 6.<br />

O Deanol®, ao ser administrado pela via<br />

oral, passa pelo trânsito gastrointestinal sem<br />

sofrer grandes alterações, atravessa a barreira<br />

hematoencefálica e aumenta os níveis de<br />

colina e, conseqüentemente, aumenta a síntese<br />

de acetilcolina (ACh) diretamente ao nível<br />

cerebral, 1-6 atuando como um precursor indireto<br />

da ACh e caracterizado como uma substância<br />

estimulante do SNC. 4<br />

O Food and Drug Administration (FDA)<br />

autorizou a comercialização do DMAE,<br />

enfocando sua efetiva ação na síndrome da<br />

fadiga crônica, depressão leve, distúrbio de<br />

comportamento associado à hiperatividade e<br />

a problemas de aprendizado, com diminuição<br />

3, 5, 7, 8<br />

da compreensão e/ou da concentração.<br />

O DMAE também tem sido usado para aliviar<br />

sintomas motores em pacientes com<br />

discinesia 9 e discinesia tardia induzida por<br />

neurolépticos, com bons resultados, segundo<br />

alguns autores, 10 ou não, segundo outros, 11<br />

além de uso em distúrbios motores associados<br />

à hipofunção colinérgica.<br />

De forma contrária, Haug e Holzgraefe<br />

(1991) 12 verificaram que adultos tratados com<br />

DMAE por dez anos consecutivos desenvolveram<br />

uma marcante síndrome de discinesia,<br />

que afeta, predominantemente, a musculatura<br />

orofacial e a respiratória. Estudos in vitro<br />

demonstraram que o DMAE produz malformações<br />

no tubo neural de embriões de camundongos,<br />

13 corroborando prévios estudos<br />

desses pesquisadores, 14 com conseqüências<br />

não conhecidas sobre conceptos humanos.<br />

Como se percebe, muitos esforços têm<br />

sido envidados para o entendimento do modo<br />

de ação desse agente, quando usado por via<br />

oral, principalmente decorrente do seu uso<br />

crônico, como abordado. Entretanto, uma<br />

nova forma de uso introduzida entre os anos<br />

1999 e 2002, o tópico, visando a um efeito<br />

tensor com ação antiaging – ainda carente de<br />

estudos que comprovem a eficácia —, teve<br />

aprovação do FDA 15, 16 e, posteriormente,<br />

também no Brasil, da Agência Nacional de<br />

Vigilância Sanitária (Anvisa), conforme a<br />

Resolução – RDC 178, publicada no Diário<br />

Oficial de 18 de junho de 2002.<br />

Uma vez que estudos do uso tópico do<br />

DMAE ainda são raros, nesse trabalho, pesquisaram-se<br />

os efeitos do DMAE em preparações<br />

neuromusculares isoladas (simulando o<br />

uso tópico desse agente em formulações cosméticas),<br />

para verificar seu espectro de ação<br />

farmacológica na fibra muscular esquelética.<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

Animais<br />

Utilizaram-se camundongos Swiss fornecidos<br />

pela Central de Bioterismo<br />

(Unicamp), mantidos no biotério do Departamento<br />

de Farmacologia (Unicamp), com peso<br />

entre 25g e 30g, e recebendo ração e água ad<br />

libitum. A pesquisa teve aprovação da Comissão<br />

de Ética na Experimentação Animal<br />

(CEEA-IB-Unicamp), sob protocolo 630-3.<br />

Material<br />

Adquiriu-se o bitartarato de dimetilaminoetanol,<br />

doravante referido apenas como<br />

DMAE, do Laboratório Galena, São José do<br />

Rio Preto, SP.<br />

Solução Nutritiva<br />

Solução de Tyrode (mM): NaCl 137;<br />

KCl 2,7; CaCl 2<br />

1,8; MgCl 2<br />

0,49; NaH 2<br />

PO 4<br />

0,42; NaHCO 3<br />

11,9 e glicose 11,1.<br />

Técnica Miográfica: preparação nervo<br />

frênico-diafragma (NFD) de camundongo<br />

Camundongos foram sacrificados pela<br />

secção e sangria dos vasos cervicais, após<br />

anestesia com hidrato de cloral 10% (300mg/<br />

kg, i.p.). A preparação – retirada segundo<br />

60<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 59-68, 2007


DIMAS DOS SANTOS ROCHA JÚNIOR ET AL.<br />

técnica para rato descrita por Bülbring<br />

(1946) 17 – colocada em cuba contendo 5mL<br />

de solução de Tyrode, presa nos músculos da<br />

costela por ganchos existentes na base da<br />

cuba, mantida à temperatura de 37ºC e<br />

aerada com carbogênio (mistura de 95% O 2<br />

e<br />

5% CO 2<br />

), recebeu vários tratamentos, conforme<br />

descritos a seguir. O acoplamento entre o<br />

transdutor isométrico Load Cell BG-10 GM<br />

e o fisiógrafo Gould Universal Amplifier<br />

Model RS 3400 permitiu o registro da força<br />

de contração muscular, de preparações submetidas<br />

à tensão constante de 5g/cm e à<br />

estimulação indireta (nervo frênico) gerada<br />

por estimulador S48F (Grass Instruments), de<br />

0,2s de duração e 0,1Hz de freqüência. Após<br />

a estabilização da preparação, adicionaram-se<br />

ao banho 1,25mg; 5mg; 20mg; 40mg; 60mg<br />

e 100mg de DMAE solubilizados em solução<br />

nutritiva de Tyrode, perfazendo as concentrações<br />

finais de 0,25mg/mL; 1mg/mL; 4mg/mL;<br />

8mg/mL; 12mg/mL e 20 mg/mL, respectivamente.<br />

Todo protocolo experimental teve duração<br />

de 120min. Obteve-se a curva concentração-resposta<br />

e comparou-se com a condição<br />

controle (solução de Tyrode apenas). Algumas<br />

preparações curarizadas com d-Tubocurarina<br />

(d-Tc, 10µg/mL) receberam simultaneamente<br />

estímulos direto (2s, 80 V) e indireto e foram,<br />

então, tratadas com DMAE 8mg/mL.<br />

Técnica Eletrofisiológica<br />

Retirou-se o músculo diafragma cortado<br />

ou cut muscle com seu nervo frênico (preparação<br />

NFD de camundongos descrita no item<br />

2.4.1.), segundo a técnica de Barstad e<br />

Lilleheil (1968) 18 adaptada para camundongos.<br />

Essa preparação é usada para impedir a<br />

propagação do potencial de ação muscular,<br />

evitar o processo contrátil e permitir a captação<br />

do potencial de placa terminal. Fixou-se<br />

o conjunto (músculo cortado e nervo) horizontalmente<br />

por meio de alfinetes, em cuba<br />

revestida de resina e silicone (Dow Corning-<br />

Sylgard) e preenchido com solução nutritiva<br />

de Tyrode. Manteve-se a temperatura em torno<br />

de 30ºC a 34ºC com o auxílio de uma<br />

lâmpada de raios infravermelhos, e aerou-se<br />

a preparação com carbogênio. Observaram-se<br />

as preparações (antes e após a adição de<br />

DMAE 1mg/mL, concentração eleita após<br />

ensaios-piloto com concentrações menores,<br />

que não alteraram a resposta basal), por 60<br />

minutos (tempo ideal na técnica eletrofisiológica<br />

para a medida de biopotenciais, cuja<br />

captação é muito delicada e trabalhosa, diferentemente<br />

da técnica miográfica, que é robusta<br />

e permite ensaios de longa duração),<br />

com lupa (Wild m7 S-Switzerland) de capacidade<br />

para aumentos até 40 vezes. Utilizou-se<br />

a técnica de Fatt e Katz (1951) 19 com<br />

introdução de microeletrodos de vidro intracelularmente<br />

sobre as fibras musculares superficiais,<br />

com o auxílio de micromanipulador<br />

Leitz, para a obtenção do potencial de placa<br />

terminal (PPT), registrado on-line, usando-se<br />

o software AqDados 4 (Lynx) e armazenados<br />

em computador para posterior análise. 20<br />

Análise Estatística<br />

Os resultados foram expressos como<br />

média + erro padrão, e a significância das<br />

diferenças observadas determinada pelo teste<br />

t-Student. Considerou-se significante valor<br />

obtido com p < 0,05.<br />

RESULTADOS<br />

Estudo Miográfico<br />

Os efeitos farmacológicos mais expressivos<br />

do DMAE são mostrados na figura 1.<br />

A concentração de 20mg/mL causou 50% de<br />

paralisia em um tempo de T 50<br />

=18 ± 2,5min<br />

(n = 4). Na concentração de 12mg/mL, houve<br />

facilitação (aumento da amplitude da resposta<br />

contrátil de 43 ± 4,5%, n = 14), e, aos<br />

120min, a resposta contrátil foi de 71 ± 8%<br />

em relação ao controle. As concentrações de<br />

1mg/mL (n = 6) e 4mg/mL (n = 11) apresentaram<br />

facilitação (com aumentos de 14 ± 5 e<br />

51 ± 9,0%, respectivamente), declinando ligeiramente<br />

para 5 ± 4 e 23 ± 8%, respectiva-<br />

Saúde em Revista<br />

DMAE Uso Tópico: cosmético ou medicamento?<br />

61


DIMAS DOS SANTOS ROCHA JÚNIOR ET AL<br />

mente, e mantidos até os 120min de observação.<br />

Na concentração de 0,25 mg/mL (n =<br />

6), não houve alteração significativa da resposta<br />

basal, quando comparada à condiçãocontrole<br />

de Tyrode (n = 10). Os registros<br />

miográficos comprovando os eventos farmacológicos<br />

– facilitação da neurotransmissão e<br />

bloqueio da resposta contrátil ou ausência de<br />

efeito – são mostrados na figura 2 (A, con-<br />

trole Tyrode; B, DMAE 0,25mg/mL; C,<br />

DMAE 8mg/mL; D, DMAE 12mg/mL e E,<br />

DMAE 20mg/mL). Nota-se que, após a lavagem<br />

da preparação e suposta retirada da<br />

substância, a resposta contrátil é mantida (figuras<br />

2B, C e D) ou restabelecida, mesmo<br />

tendo ocorrido total bloqueio neuromuscular<br />

durante a vigência do experimento (fig. 2E).<br />

Figura 1. Preparação nervo frênico-diafragma de camundongos, sob<br />

estímulo indireto (técnica miográfica). Curva concentração-resposta de<br />

DMAE (dimetilaminoetanol). O número de experimentos está descrito na<br />

legenda da figura.<br />

62<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 59-68, 2007


DIMAS DOS SANTOS ROCHA JÚNIOR ET AL.<br />

Figura 2. Preparação nervo frênico-diafragma de camundongos, sob estímulo indireto. Registros<br />

miográficos representativos dos principais efeitos farmacológicos de DMAE (dimetilaminoetanol), nas<br />

concentrações de (mg/mL) B, 0,25; C, 8; D, 12; E, 20; comparados ao controle A (solução Tyrode).<br />

W, lavagem da preparação.<br />

Saúde em Revista<br />

DMAE Uso Tópico: cosmético ou medicamento?<br />

63


DIMAS DOS SANTOS ROCHA JÚNIOR ET AL<br />

As preparações que foram curarizadas (d-Tc 10µg/mL, n = 3, figura 3) e simultaneamente<br />

estimuladas, direta e indiretamente, responderam de forma clássica, conforme o esperado para esse<br />

agente bloqueador não-despolarizante. A adição posterior de DMAE (8mg/mL, n = 3) não reverteu<br />

o bloqueio induzido pela d-Tc sob estímulo indireto, porém, após a lavagem da preparação, houve<br />

recobro da resposta contrátil. De forma contrária, sob estímulo direto, a adição posterior de DMAE<br />

(8mg/mL, n = 3) aumentou cerca de 30% a amplitude da resposta contrátil, assim permanecendo<br />

após a lavagem da preparação.<br />

Figura 3. Preparação nervo frênico-diafragma de camundongos, sob estímulos simultâneos indireto<br />

(I) e direto (D). Registro miográfico representativo de ensaios em preparações previamente<br />

curarizadas (n = 3). Seta delgada, momento de adição da d-Tubocurarina (10 µg/mL) e decorrente<br />

bloqueio neuromuscular, sob estímulo indireto (I). Na vigência deste bloqueio (I), a estimulação direta<br />

(D) garante a contração muscular e após 10 min adicionou-se DMAE (dimetilaminoetanol) 8 mg/mL<br />

(seta espessa). W, lavagem da preparação.<br />

Estudo Eletrofisiológico<br />

DMAE 1mg/mL (n = 4) aumentou o conteúdo quântico de potenciais de placa terminal<br />

de células-controle, antes da adição de DMAE, de 196,7 ± 32 para, após sua adição, 281,9<br />

± 67 (tempos de 5min a 10min, *p < 0,05 em relação ao controle) e 369,8 ± 87 (tempos de<br />

30min a 60min, *p < 0,05 em relação ao controle e também ao tempo de 5min a 10min),<br />

mostrando que a liberação quântica foi progressiva (figura 4).<br />

Figura 4. Determinação do conteúdo quântico em preparações nervo frênico-diafragma de camundongos<br />

(técnica eletrofisiológica), antes (controle) e após a adição de DMAE (dimetilaminoetanol)<br />

1 mg/mL (n = 4).<br />

64<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 59-68, 2007


DIMAS DOS SANTOS ROCHA JÚNIOR ET AL.<br />

DISCUSSÃO<br />

Nesse trabalho, enfocou-se a sinapse<br />

nervo-músculo (junção neuromuscular) por<br />

ser o modelo ideal para o estudo do DMAE,<br />

em uma tentativa de melhor compreender o<br />

efeito tópico desse agente (e não o decorrente<br />

do seu uso oral), que tem sido introduzido<br />

nas formulações cosméticas com a finalidade<br />

de combater a flacidez decorrente do processo<br />

de envelhecimento da pele.<br />

O Guia para Avaliação de Segurança de<br />

Produtos Cosméticos 21 preconiza alguns testes<br />

básicos úteis para qualquer substância usada<br />

em cosmético (absorção cutânea; estudo do<br />

potencial sistêmico – via oral e testes de<br />

mutagenicidade; estudo do potencial de efeitos<br />

alergênicos e de risco irritativo – irritação<br />

primária da pele, da mucosa ou ocular), bem<br />

como testes complementares úteis em situações<br />

particulares (toxicidade subaguda; estudo<br />

do efeito na reprodução; fotomutagenicidade;<br />

irritação por efeito cumulativo; teratogenicidade,<br />

carcinogenicidade e genotoxicidade).<br />

Nesse estudo, utilizaram-se os parâmetros<br />

miográfico e eletrofisiológico para a avaliação<br />

de segurança do DMAE sob o ponto de vista<br />

farmacológico.<br />

Na condução desse estudo, foram formuladas<br />

três hipóteses baseadas no seguinte raciocínio:<br />

se uma ação que aumente a força de<br />

contração muscular e que se contraponha à<br />

paralisia muscular é esperada do DMAE, então<br />

é possível que esse agente penetre as camadas<br />

mais profundas da pele (a derme) e (1)<br />

tenha afinidade por terminações colinérgicas,<br />

seja aí recaptado como precursor da colina e<br />

aumente a síntese de acetilcolina, (ACh) a<br />

exemplo do que ocorre no sistema nervoso<br />

central. Ao ser deflagrado o impulso nervoso,<br />

muita ACh é liberada na fenda sináptica,<br />

desencadeando o processo contrátil, que<br />

passa a ser modulado pela quantidade de<br />

ACh (> quantidade de ACh > força de contração).<br />

Por outro lado, pode-se pensar em<br />

uma ação (2) envolvendo apenas a fibra<br />

muscular, como, por exemplo, o receptor<br />

rianodina, que liberaria o cálcio armazenado<br />

no retículo sarcoplasmático para o citoplasma<br />

da célula e desencadearia a contração<br />

muscular. Pode-se também pensar no<br />

(3) envolvimento de ambos – o terminal<br />

nervoso e a fibra muscular.<br />

Embora os parâmetros miográfico e<br />

eletrofisiológico não sejam preconizados pela<br />

Anvisa, esse modelo experimental respondeu<br />

às hipóteses levantadas. Dos efeitos farmacológicos<br />

mostrados pelo DMAE nos ensaios<br />

miográficos, a facilitação da neurotransmissão<br />

é o efeito desejado e não o bloqueio<br />

neuromuscular, que leva à paralisia da resposta<br />

contrátil. Assim, é importante conhecer<br />

o limite da ação farmacológica, e pode-se<br />

afirmar que concentrações excessivas de<br />

DMAE provocam efeito contrário ao desejado,<br />

em preparações in vitro. Embora essa<br />

informação deva ser cuidadosamente extrapolada<br />

para a clínica, não pode ser desconsiderada.<br />

A facilitação da neurotransmissão,<br />

visualizada pelo aumento da amplitude da<br />

resposta contrátil, e que, do ponto de vista<br />

fisiológico representa o aumento da força de<br />

contração, explicaria a sensação relatada de<br />

repuxamento da pele (efeito lifting do<br />

DMAE). O fato de a preparação responder<br />

aos estímulos evocados, após a lavagem da<br />

preparação, denota integridade funcional da<br />

resposta contrátil, mas estudos como o da<br />

análise morfológica ultra-estrutural poderiam<br />

ser úteis para avaliar a ocorrência ou não de<br />

algum tipo de dano à célula.<br />

Na vigência do efeito da d-Tubocurarina<br />

(d-Tc), que induz um bloqueio neuromuscular<br />

por tornar a membrana subsináptica<br />

menos sensível à ação despolarizante da ACh<br />

e cuja interrupção na transmissão do impulso<br />

nervoso ocorre quando o neurotransmissor<br />

não pode mais originar um potencial de placa<br />

terminal, de amplitude suficiente para deflagrar<br />

a resposta propagada, 22 o DMAE aumentou<br />

a amplitude da contração muscular sob<br />

estímulo direto, evidenciando uma ação dire-<br />

Saúde em Revista<br />

DMAE Uso Tópico: cosmético ou medicamento?<br />

65


DIMAS DOS SANTOS ROCHA JÚNIOR ET AL<br />

ta sobre a fibra muscular (justificando, mais<br />

uma vez, o efeito lifting). Contudo, esse agente<br />

não reverteu o bloqueio induzido pela d-<br />

TC, sob estímulo indireto, demostrando não<br />

possuir ação anticolinesterásica, pois, se a<br />

enzima acetilcolinesterase fosse inibida, haveria<br />

aumento da concentração de ACh na fenda<br />

sináptica, que, por sua vez, deslocaria a d-Tc<br />

dos receptores nicotínicos e reverteria, em<br />

algum grau, o bloqueio neuromuscular.<br />

Se do ponto de vista analítico a técnica<br />

miográfica oferece informações de triagem<br />

sobre o fenômeno fisiológico da contração<br />

muscular, a técnica eletrofisiológica informa<br />

sobre a neurotransmissão, graças à obtenção<br />

de biopotenciais elétricos. O parâmetro eletrofisiológico<br />

obtido nesse trabalho – o potencial<br />

de placa terminal (PPT) – representa<br />

o potencial pós-sináptico excitatório na<br />

célula muscular, que é desencadeante do<br />

potencial de ação muscular. 23 Se esse potencial<br />

de ação na fibra muscular se propagar,<br />

ocorrerá a contração muscular inviabilizando<br />

a inserção do microeletrodo de vidro. Por<br />

essa razão, utilizou-se uma fina tira da preparação<br />

nervo frênico-diafragma (cut muscle)<br />

para impedir a propagação do potencial e<br />

conseqüente contração muscular. Dessa forma,<br />

isolou-se para estudo o potencial de placa<br />

terminal, que permitiu a determinação do<br />

conteúdo quântico, uma vez que os PPTs<br />

representam as múltiplas liberações simultâneas<br />

de quanta de ACh. 24<br />

Os valores de conteúdo quântico, após a<br />

adição de DMAE à preparação, aumentaram<br />

gradativamente, mostrando claramente o<br />

envolvimento do terminal nervoso, ou seja,<br />

um evento pré-sináptico. Essa é uma informação<br />

interessante e que tem impacto sobre o<br />

uso concomitante de outro agente terapêutico,<br />

que também tem sido utilizado com fins cosméticos<br />

– o Botox® –, proveniente da toxina<br />

botulínica produzida pela bactéria Clostridium<br />

botulinum, cuja ação de clivar proteínas presentes<br />

no terminal nervoso e impedir a liberação<br />

de ACh 25, 26 é contrária ao DMAE, que,<br />

conforme resultados aqui mostrados, aumenta<br />

a liberação desse neurotransmissor.<br />

Avaliando-se os resultados em conjunto,<br />

conclui-se que o DMAE age tanto sobre o<br />

terminal nervoso colinérgico, aumentando a<br />

liberação quântica do neurotransmissor,<br />

quanto sobre a fibra muscular (por mecanismo<br />

que permanece não esclarecido), aumentando<br />

a força de contração muscular; esse<br />

efeito é progressivo e dependente da concentração,<br />

que, quando elevada, pode determinar<br />

a paralisia muscular, pelo menos observada<br />

em condições in vitro.<br />

A importância desse estudo é mostrar<br />

que o DMAE tem uma ação além-cosmética,<br />

ou seja, é um produto bioativo, que exerce<br />

efeitos sobre o organismo. Produtos cosméticos<br />

contendo ingredientes bioativos, com reconhecido<br />

mecanismo molecular, têm sido<br />

informalmente denominados cosmecêuticos,<br />

ou seja, cosméticos com propriedades terapêuticas,<br />

de combate a doenças ou curativas. 27<br />

Segundo a legislação brasileira (Lei<br />

6.360/76, que dispõe sobre a vigilância sanitária<br />

dos produtos), 28 que abrange “medicamentos,<br />

drogas, insumos farmacêuticos, correlatos,<br />

saneantes domissanitários, cosméticos,<br />

produtos de higiene pessoal e perfumes”, somente<br />

são registrados “cosméticos, perfumes<br />

e produtos de higiene pessoal” aqueles que se<br />

destinam ao uso externo com finalidades estética,<br />

protetora, higiênica ou odorífera, sem<br />

causar irritações à pele ou danos à saúde. Incluem-se,<br />

portanto, como cosméticos, os “produtos<br />

para uso externo, destinado à proteção,<br />

embelezamento das diferentes partes do corpo”;<br />

produtos de higiene, como aqueles “para<br />

uso externo, antisséptico ou não, destinados ao<br />

asseio ou desinfecção corporal”; perfumes,<br />

como “produtos de composição aromática<br />

obtida à base de substâncias naturais ou sintéticas<br />

com a finalidade de perfumar”.<br />

Embora o termo cosmecêutico não seja<br />

reconhecido pelo FDA, tampouco pela<br />

Anvisa, há de se considerar as diferenças<br />

entre um produto meramente cosmético da-<br />

66<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 59-68, 2007


DIMAS DOS SANTOS ROCHA JÚNIOR ET AL.<br />

quele que age como medicamento, como o<br />

DMAE (ou Botox®), e, portanto, deve-se<br />

assegurar sua prescrição por dermatologistas<br />

e manipulação por profissionais farmacêuticos<br />

com habilitação na área.<br />

O uso racional do DMAE deve ser avaliado<br />

pelo prescritor, uma vez que esse tipo<br />

de informação é geralmente inacessível à<br />

população, que busca tão-somente uma melhor<br />

apresentação estética. Finalmente, sugere-se<br />

que mais estudos científicos que contribuam<br />

com a dermatologia especificamente<br />

na área da cosmetologia sejam incentivados,<br />

pois a proporção de substâncias químicas<br />

presentes em uma única formulação cosmética<br />

é muito grande, aumentando possíveis<br />

interações químicas e a ocorrência de eventos<br />

inesperados.<br />

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Saúde em Revista<br />

DMAE Uso Tópico: cosmético ou medicamento?<br />

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DIMAS DOS SANTOS ROCHA JÚNIOR ET AL<br />

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[updated 2006 Out 30; cited 2006 Out 30]. Available in: .<br />

Submetido: 21/jun./2006<br />

Aprovado: 7/dez./2006<br />

68<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 59-68, 2007


JOÃO PAULO BORIN<br />

RESENHA / REVIEW<br />

Preparação Desportiva: fundamentos da teoria geral<br />

do treinamento desportivo<br />

Sporting Preparation: basics of the general theory of<br />

the sporting training<br />

“Teoría General Del Entrenamiento Deportivo”,<br />

de Lev Pavlovitch Matveev<br />

Barcelona: Paidotribo, 2001, 268p.<br />

34,00, ISBN 84-8019-504-5<br />

JOÃO PAULO BORIN *<br />

Docente do Curso de Mestrado em<br />

Educação Física e coordenador do<br />

Laboratório de Avaliação Física e<br />

Monitoramento do Treinamento<br />

Desportivo – LAFIMT (UNIMEP/SP)<br />

* Correspondências:<br />

Rod. do Açúcar, km 156<br />

13400-911 – Piracicaba/SP<br />

jpborin@unimep.br<br />

Antes de iniciar o trabalho aqui proposto, julga-se<br />

fundamental relatar algumas particularidades sobre o<br />

autor. Considerado a maior referência mundial no âmbito<br />

da preparação desportiva, professor e cientista emérito na<br />

área do alto desempenho, possui mais de 650 publicações<br />

científicas em todo o mundo, editadas em mais de 30<br />

países. Foi o criador do sistema de periodização e organização<br />

do treinamento desportivo nos desportos coletivos<br />

e individuais. Responsável direto pelo sucesso da ex-<br />

União Soviética, atualmente Rússia, nos últimos 50 anos,<br />

em termos de resultados olímpicos, pois atuava como<br />

consultor científico. Faleceu em julho de 2007, aos 86<br />

anos, após terminar de ler uma tese de doutorado, entre<br />

centenas que orientou.<br />

O livro Teoría general do entrenamiento deportivo<br />

apresenta os principais pontos das problemáticas que a<br />

teoria do desporto aponta nos seus aspectos <strong>integral</strong>,<br />

geral e investigativo com enfoque científico e ilustrado<br />

com dados de pesquisas experimentais. É resultado de<br />

parte do material utilizado para preparação do curso sobre<br />

teoria do desporto para o último nível de treinadores<br />

profissionais. A obra é estruturada em sete capítulos e<br />

sistematizada em três partes principais: i) Essência do<br />

fenômeno do desporto e sua teoria, ii) Teoria da competição<br />

desportiva e o sistema de competições desportivas,<br />

iii) Problemática <strong>integral</strong> da construção sistematizada da<br />

preparação do desportista em modalidades desportivas.<br />

Na primeira parte, composta de um capítulo, é exposta<br />

a concepção contemporânea de desporto como um<br />

fenômeno único da realidade social, destacando sua es-<br />

Saúde em Revista<br />

Teoria Geral do Treinamento<br />

69


JOÃO PAULO BORIN<br />

sência, suas formas, funções e as tendências de seu desenvolvimento.<br />

Ao mesmo tempo, mostram-se os caminhos de<br />

formação da teoria do desporto aliados aos diferentes ramos<br />

da ciência bem como a evolução dos objetivos e métodos do<br />

conhecimento científico. Destaca-se, inicialmente, nesse<br />

capítulo, a forma clara e direta como apresenta as correlações<br />

entre a teoria geral do desporto, as disciplinas teóricometodológicas<br />

e suas particularidades quanto às modalidades<br />

desportivas e os ramos do conhecimento humanístico e científico<br />

natural. A seguir, ressalta a importância no processo<br />

sistemático de organização da preparação do desportista de<br />

que o todo não se resume a partes e apresenta a idéia de<br />

modelação teórica, entendida como meios lógicos utilizados<br />

na formação do desportista, que representa o objeto reproduzido,<br />

como, por exemplo, a distância percorrida em determinados<br />

desportos.<br />

Na segunda parte, composta dos capítulos dois e três,<br />

busca analisar e compreender conceitualmente a competição,<br />

o sistema competitivo e as exigências da atividade do<br />

desportista. Destaca-se que a teoria do desporto, durante<br />

muito tempo, não considerou a competição na esfera teórica,<br />

e, devido às investigações realizadas nas últimas décadas,<br />

passou-se a entender a essência dos fenômenos na prática<br />

desportiva. Aponta também que, na atividade competitiva, a<br />

questão motivacional do praticante é fundamental, além da<br />

relação entre técnica e tática. Por fim, nesse bloco, mostra<br />

algumas particularidades das manifestações das qualidades<br />

psíquicas e físicas do desportista na atividade competitiva<br />

bem como diferentes competições desportivas, calendário e<br />

as tendências da dinâmica da preparação a longo prazo na<br />

prática do desportista.<br />

A terceira parte, que compreende os capítulos quatro a<br />

seis e com conteúdo mais denso, apresenta de forma detalhada<br />

os princípios fundamentais teórico-metodológicos da<br />

concepção contemporânea do processo de preparação do<br />

desportista. O autor realiza uma exposição profunda dos<br />

critérios e enfoques utilizados para diagnóstico da predisposição<br />

individual e desportiva e como os principais objetivos<br />

a serem atingidos na preparação desportiva a longo prazo. A<br />

seguir, procura caracterizar o conteúdo do trabalho no processo<br />

multilateral do desportista e a utilização dos exercícios<br />

como meio e método de preparação. Por fim, discute as etapas<br />

de maximização e especialização individualizada profunda<br />

no processo de preparação assim como aspectos relacionados<br />

à carga, sobrecarga e sincronicidade das diferentes<br />

partes da preparação do indivíduo.<br />

70<br />

SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 69-71-2007


JOÃO PAULO BORIN<br />

A última parte do livro – conclusão – dedica-se a discutir<br />

alguns problemas fundamentais e aplicados na teoria do<br />

desporto, abrangendo questões como: i) o fenômeno “forma<br />

desportiva”, apresentando a dinâmica dos resultados de vários<br />

recordistas mundiais; ii) a estrutura do treinamento<br />

desportivo atual, a relação com a preparação geral e especial<br />

dos desportistas e possíveis equívocos conceituais; iii) tendo<br />

como pano de fundo as questões conceituais de desenvolvimento<br />

e educação, o autor discute o processo de adaptação<br />

do indivíduo ao longo do tempo, tanto na esfera da educação<br />

física, da preparação, quanto, especialmente, do treinamento<br />

desportivo.<br />

A área do treinamento desportivo está em constante evolução,<br />

principalmente com a contribuição dos aspectos metodológicos<br />

e tecnológicos. Essa obra apresenta, com linguagem<br />

clara e objetiva, conceitos básicos e essenciais a serem entendidos<br />

e seguidos no processo de formação do desportista. Dessa<br />

maneira, o livro representa um marco no âmbito do treinamento<br />

desportivo por apontar caminhos e informações, que<br />

podem ser utilizadas pelos profissionais que atuam nos diferentes<br />

patamares da preparação desportiva.<br />

Submetido: 3/set./2007<br />

Aprovado: 1.º/nov./2007<br />

Saúde em Revista<br />

Teoria Geral do Treinamento<br />

71


SAÚDE EM REVISTA<br />

Normas para Publicação<br />

Princípios Gerais<br />

I. A SAÚDE EM REVISTA tem por objetivo publicar trabalhos que contribuam para o desenvolvimento<br />

científico e tecnológico nas áreas de ciências biológicas e da saúde.<br />

II. A revista privilegia a veiculação de temas em ciências biológicas e de saúde (teoria, ética<br />

e história), pesquisa teórica e/ou experimental, política e ensino.<br />

III.Os temas podem ser desenvolvidos por meio das seguintes categorias:<br />

• ARTIGOS ORIGINAIS: resultantes de pesquisa científica, apresentam dados originais de<br />

descobertas com relação a aspectos experimentais ou observacionais de característica<br />

médica, bioquímica e social, incluindo análise descritiva e ou inferências de dados próprios.<br />

Sua estrutura é a convencional, trazendo os seguintes itens: Introdução, Métodos,<br />

Resultados, Discussão, Conclusão e Referências Bibliográficas;<br />

• ARTIGOS DE REVISÃO: têm por objeto resumir, analisar ou sintetizar trabalhos de investigação<br />

já publicados em revistas científicas;<br />

• ARTIGOS DE ATUALIZAÇÃO OU DIVULGAÇÃO: relatam informações geralmente atuais sobre<br />

tema de interesse para determinada especialidade (uma nova técnica, por exemplo),<br />

com características distintas de um artigo de revisão;<br />

• RELATOS DE CASO: representam dados descritos de um ou mais casos, explorando um<br />

método ou problemas por meio de exemplo. Apresentam as características do indivíduo<br />

estudado, com indicação de sexo e idade, podendo ter sido realizado em humano<br />

ou animal;<br />

• RESUMOS DE MONOGRAFIA: relativos a trabalho de graduação e de pós-graduação mais<br />

relevantes e originais; *<br />

• RESENHAS: comentários críticos de livros e/ou teses, não confundindo-se com mero resumo<br />

dos trabalhos resenhados. Devem conter todas as informações para a identificação<br />

da obra analisada (autor; título; tradutor e título original, se houver; edição, se<br />

não for a primeira; local; editora; ano; total de páginas; ISBN; e preço).<br />

• CARTAS: comentários a artigos relevantes publicados anteriormente.<br />

Nota: os artigos submetidos à revista devem, preferencialmente, enquadrar-se na categoria<br />

de relatos originais (científicos).<br />

IV.Com exceção dos Resumos, a submissão dos manuscritos implica que o trabalho não tenha<br />

sido publicado e não esteja sob consideração para publicação em outra revista.<br />

V. A aceitação se dará observando-se os seguintes critérios:<br />

* Resumos de monografias: encaminhar três cópias em papel e uma em disquete, contendo: título em português e inglês;<br />

resumo em português e inglês; palavras-chave em português e inglês (mínimo: três; máximo: seis); nome do autor e<br />

curso; nome do orientador; data da aprovação; total de páginas do texto original e documento do orientador, atestando<br />

sua aprovação.<br />

Saúde em Revista 73


a) adequação ao escopo da revista;<br />

b) qualidade científica, atestada pela Comissão Científico-Editorial e por processo anônimo<br />

de avaliação por pares (blind peer review), ** com consultores não remunerados,<br />

especialmente convidados, cujos nomes são divulgados anualmente, como<br />

forma de reconhecimento;<br />

c) cumprimento das normas da SAÚDE EM REVISTA. O autor será informado do andamento do<br />

processo de seleção e os originais enviados à Editora UNIMEP serão a ele devolvidos;<br />

d) coerência do número de autores com as dimensões do projeto.<br />

VI.Os artigos devem respeitar as seguintes dimensões:<br />

• ARTIGOS ORIGINAIS, DE REVISÃO, DE ATUALIZAÇÃO OU DIVULGAÇÃO e RELATOS DE CASO:<br />

10 a 18 laudas (de 14.000 a 25.200 toques *** );<br />

• REVISÕES DE LITERATURA: 8 a 12 laudas (de 11.200 a 16.800 toques);<br />

• ENSAIOS: 12 a 20 laudas (de 16.800 a 28.000 toques);<br />

• RESUMOS DE MONOGRAFIAS: 1 lauda (até 1.400 toques);<br />

• RESENHAS: 2 a 4 laudas (de 2.800 a 5.600 toques).<br />

VII. A exatidão e a adequação das referências bibliográficas consultadas e menciondas no<br />

artigo são de inteira responsabilidade do(s) autor(es).<br />

VIII. Cabe à revista a exclusividade na publicação dos artigos aprovados.<br />

IX. Os artigos podem sofrer alterações editoriais não substanciais (reparagrafações, correções<br />

gramaticais e adequações estilísticas), que não modifiquem o sentido do texto. O<br />

autor terá acesso às mudanças introduzidas.<br />

X. Não há remuneração pelos trabalhos. Por artigo, cada autor receberá um exemplar da<br />

revista, remetido por intermédio do autor responsável. Ele(s) pode(m) ainda adquirir<br />

outros exemplares da revista com desconto de 30% sobre o preço de capa.<br />

XI. Os artigos devem ser encaminhados à Comissão Científico-Editorial da revista por meio<br />

de ofício, no qual devem constar:<br />

• DECLARAÇÃO de cessão dos direitos autorais assinada por pelo menos um dos autores,<br />

com anuência e concordância dos demais, indicando a exclusividade de publicação<br />

na SAÚDE EM REVISTA – caso o artigo venha a ser aceito pela Comissão Científico-Editorial<br />

–, bem como a concordância com estas Normas para Publicação;<br />

• CONSIDERAÇÕES ÉTICAS E LEGAIS: evitar o uso de iniciais ou números de registros hospitalares<br />

dos pacientes. Um paciente não poderá ser identificado em fotografias,<br />

exceto com consentimento expressso, por escrito, acompanhando o trabalho original.<br />

Estudos realizados em seres humanos devem estar de acordo com padrões éticos e<br />

com o devido consentimento livre e esclarecido dos pacientes. Deve ser incluída a<br />

aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, devidamente registrada no Conselho<br />

** Para maior detalhamento das etapas, cf. item II de “Apresentação”.<br />

*** Nesse total de toques, considerar também o espaço entre palavras.<br />

74


Nacional de Saúde ou na Universidade à qual o(s) autor(es) estejam vinculados, ou<br />

na instituição mais próxima ao seu local de trabalho que o possa registrar;<br />

• INDICAÇÃO DA CATEGORIA do manuscrito, conforme item III.<br />

Forma e preparação dos manuscritos<br />

Cada artigo deve conter os seguintes elementos:<br />

I. IDENTIFICAÇÃO<br />

• NOME E SOBRENOME do(s) AUTOR(es) (no caso de mais de um, indicar o responsável<br />

para troca de correspondência);<br />

• Telefone, e-mail e endereço para correspondência DE CADA AUTOR/CO-AUTOR;<br />

• TITULAÇÃO ACADÊMICA, INSTITUIÇÃO a que cada autor/co-autor está afiliado, acompanhado<br />

do respectivo endereço, UNIDADE e FUNÇÃO do(s) autor(es);<br />

• DEPARTAMENTO e INSTITUIÇÃO em que o trabalho foi realizado;<br />

• TÍTULO (e subtítulo, se houver): precisa(m) indicar claramente o conteúdo do texto e<br />

ser conciso(s), evitando-se palavras supérfluas [total máximo de 80 toques];<br />

• SUBVENÇÃO: menção de apoio e financiamento eventualmente recebidos;<br />

• Se tiver por base DISSERTAÇÃO ou TESE, indicar título, ano e instituição onde foi apresentada;<br />

• Se tiver sido apresentado em REUNIÃO CIENTÍFICA, indicar nome do evento, local e data<br />

da realização<br />

• Agradecimento, apenas se absolutamente indispensável.<br />

Esses elementos devem ser descritos em folha individualizada, antecedendo o texto<br />

do artigo propriamente dito.<br />

II. TEXTO<br />

• TÍTULO do trabalho em português e inglês (textos em inglês devem apresentar título,<br />

resumo e palavras-chave em português; textos em espanhol, título em inglês, abstract<br />

e keywords).<br />

• RESUMO indicativo e informativo (máximo de 1.400 toques), em português e inglês<br />

(Abstract). Para fins de indexação, o autor deve indicar as palavras-chave ou<br />

descritores (mínimo de três e máximo de seis) do artigo, em português e inglês<br />

(keywords), fazendo necessariamente o uso de DECS-Descritores em Ciências da Saúde<br />

().<br />

• TÍTULO ABREVIADO, com até 40 caracteres, para fins de legenda nas páginas impressas.<br />

Documentação<br />

As citações devem obedecer à apresentação aqui detalhada:<br />

I. CITAÇÕES NO TEXTO<br />

As citações ao longo do texto, assim como nas tabelas e figuras, devem ser<br />

identificadas por número arábico e numeradas consecutivamente segundo a ordem<br />

em que são mencionadas no artigo. Esse número precisa ser colocado em expoente<br />

(sobrescrito). Ao se citar dois autores de obra referenciada, seus sobrenomes devem<br />

Saúde em Revista 75


estar ligados pela conjução “e”; no caso de três ou mais, cita-se o primeiro autor<br />

seguido da expressão “et al.”.<br />

Exemplos:<br />

1, 5, 7<br />

• O fracasso do movimento de saúde comunitária parece evidente.<br />

• Terris et al. 8 atualizam a clássica definição de saúde pública.<br />

AS NOTAS EXPLICATIVAS, * quando houver, precisam ser dispostas no rodapé, remetidas por<br />

asterisco (não por número), sobrescrito no corpo do texto. Havendo mais de uma por<br />

página, o seu número corresponderá à quantidade de astericos necessários para indicá-lo, **<br />

processo esse que será reiniciado em eventual nova página.<br />

Toda vez que a citação for literal, ou específica a um trecho da obra, e tiver (a) menos<br />

de quatro linhas, ela deve aparecer entre aspas, e não em itálico; se for (b) igual ou<br />

maior que quatro linhas deve ter recuo de quatro centímetros das margens do texto (sem<br />

aspas), sendo destacada em parágrafo próprio, com corpo reduzido em relação ao restante<br />

do texto, pulando-se uma linha antes e outra depois da transcrição.<br />

(a) ...Fica claro, portanto, que “as exigências nutricionais dos fungos que afetam papéis<br />

são carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, enxofre, potássio, magnésio, fósforo, ferro,<br />

zinco, cobre e manganês”, conforme afirma Kowalik 17 (p. 99-114).<br />

(b) ...Como afirma Malerbi, discutindo o atendimento ao paciente diabético na rede básica<br />

do município de São Paulo:<br />

O atendimento de pacientes diabéticos ainda está dependendo da iniciativa<br />

pessoal dos profissionais que atuam nos postos, os quais, quando têm interesse,<br />

deparam-se com dificuldades relativas a critérios, medicamentos,<br />

materiais, recursos auxiliares etc. As maiores dificuldades residem, porém,<br />

quanto ao treinamento e atualização das equipes, e quanto ao sistema de<br />

referência e contra-referência, o qual é extremamente complicado, burocratizado<br />

e ineficaz. (Malerbi, 8 p. 31)<br />

Os demais complementos (nome completo do autor, nome da obra, cidade, editora, ano<br />

de publicação etc.) constarão das Referências Bibliográficas, ao fim de cada artigo, seguindo<br />

o padrão abaixo.<br />

II. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

As Referências Bibliográficas são limitadas a 30, nos textos que se enquadram nas categorias<br />

Artigos Originais, Revisão e Ensaio. Publicações mais de um autor, até o limite de<br />

seis, terão todos citados; acima de seis autores, citam-se os seis primeiros, seguidos de<br />

“et al.” (cf. exemplos abaixo). As referências ao longo do texto (citações) devem ser<br />

identificadas por número arábico e numeradas consecutivamente, normatizadas com base<br />

no estilo Vancouver (). Os títulos de periódicos devem ser referidos de<br />

forma abreviada, segundo o Index Medicus ().<br />

* Nota explicativa no rodapé da página.<br />

** Uma eventual segunda nota na mesma página será indicada por dois asteriscos.<br />

76


Artigos em periódicos<br />

1. Exemplo:<br />

• Vega KJ, Pina I, Krevsky B. Heart transplantation is associated with an increased risk<br />

for pancreatobiliary disease. Ann Intern Med 1/jun/1996;124 (11):980-3.<br />

Se o periódico tem paginação contínua e não apresenta numeração, pode ser omitido<br />

o número da revista:<br />

• Vega KJ, Pina I, Krevsky B. Heart transplantation is associated with an increased risk<br />

for pancreatobiliary disease. Ann Intern Med 1996;124:980-3.<br />

Para mais de seis autores: listar os seis primeiros seguidos por “et al.”<br />

• Parkin DM, Clayton D, Black RJ, Masuyer E, Friedl HP, Ivanov E et al. Childhood<br />

leukaemia in Europe after Chernobyl: 5 year follow-up. Br J Cancer 1996;73:1.006-12.<br />

2. Organizados como autores<br />

• The Cardiac Society of Australia and New Zealand. Clinical exercise stress testing.<br />

Safety and performance guidelines. Med J ago/1996;164:282-4.<br />

3. Nenhum autor apresentado<br />

• Cancer in South Africa [editorial]. S Afr Med J 1994;84:15.<br />

4. Volume ou artigo com suplemento<br />

• Shen HM, Zhang QF. Risk assessment of nickel carcinogenicity and occupational<br />

lung cancer. Environ Health Perspect 1994;102 Suppl 1:275-82.<br />

• Payne DK, Sullivan MD, Massie MJ. Women’s psychological reactions to breast<br />

cancer. Semin Oncol 1996;23(1 Suppl 2):89-97.<br />

5. Artigo sem volume<br />

• Turan I, Wredmark T, Fellander-Tsai L. Arthroscopic ankle arthrodesis in rheumatoid<br />

arthritis. Clin Orthop 1995;(320):110-4.<br />

6. Nenhum título ou volume<br />

• Browell DA, Lennard TW. Immunologic status of the cancer patient and the effects<br />

of blood transfusion on antitumor responses. Curr Opin Gen Surg 1993:325-33.<br />

7. Paginação em algarismos romanos<br />

• Fisher GA, Sikic BI. Drug resistance in clinical oncology and hematology.<br />

Introduction. Hematol Oncol Clin North Am abr 1995;9(2):xi-xii.<br />

8. Autores citados em outros artigos<br />

• Enzensberger W, Fischer PA. Metronome in Parkinson’s disease [letter]. Lancet<br />

1996;347:1.337. Clement J, De Bock R. Hematological complications of hantavirus<br />

nephropathy (HVN) [abstract]. Kidney Int 1992;42:1.285.<br />

Livros e monografias<br />

• Ringsven MK, Bond D. Gerontology and leadership skills for nurses. 2 ed. Albany<br />

(NY): Delmar Publishers; 1996.<br />

Saúde em Revista 77


• Norman IJ, Redfern SJ, editors. Mental health care for elderly people. New York:<br />

Churchill Livingstone; 1996.<br />

• Institute of Medicine (US). Looking at the future of the Medicaid program. Washington:<br />

The Institute; 1992.<br />

• Phillips SJ, Whisnant JP. Hypertension and stroke. In: Laragh JH, Brenner BM,<br />

editors. Hypertension: pathophysiology, diagnosis, and management. 2 ed. New York:<br />

Raven Press; 1995. p. 465-78.<br />

• Kimura J, Shibasaki H [editors]. Recent advances in clinical neurophysiology.<br />

Proceedings of the 10th International Congress of EMG and Clinical<br />

Neurophysiology; 15-19/out/1995; Kyoto, Japan. Amsterdam: Elsevier; 1996.<br />

• Bengtsson S, Solheim BG. Enforcement of data protection, privacy and security in<br />

medical informatics. In: Lun KC, Degoulet P, Piemme TE, Rienhoff O, editors.<br />

MEDINFO 92. Proceedings of the 7th World Congress on Medical Informatics; 6-10/<br />

set/1992; Geneva, Switzerland. Amsterdam: North-Holland; 1992. p. 1.561-5.<br />

1. Dissertação ou tese<br />

• Ferreira SJ. Caracterização molecular da Xillela fastidiosa [dissertação ou tese].<br />

Piracicaba (SP): Universidade de São Paulo; 2000.<br />

2. Artigos de jornal<br />

• Lopes RJ. Estudo aponta elo entre ferro e Parkinson. Folha de S.Paulo 16/set/2002;<br />

sec. A:10.<br />

3. Dicionário e referências similares<br />

• Stedman’s medical dictionary. 26 ed. Baltimore: Williams e Wilkins; 1995. Apraxia;<br />

p. 119-20.<br />

Material eletrônico<br />

1. Artigos de periódicos em formato eletrônico<br />

• Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Emerg Infect Dis [serial<br />

online] 1995 jan-mar [acesso 5/jun/1996];1(1):[24 telas]. Disponível: .<br />

2. Monografias em formato eletrônico<br />

• CDI, clinical dermatology illustrated [monograph on CD-rom]. Reeves JRT, Maibach<br />

H. CMEA Multimedia Group, producers. 2 ed. Versão 2.0. San Diego: CMEA; 1995.<br />

3. Arquivos de computador<br />

• Hemodynamics III: the ups and downs of hemodynamics [computer program]. Versão<br />

2.2. Orlando (FL): Computerized Educational Systems; 1993.<br />

Apresentação<br />

I. Os artigos podem ser submetidos redigidos em português, inglês ou espanhol.<br />

II. ETAPAS de encaminhamento dos artigos: (a) apresentação de três cópias impressas do<br />

artigo, acompanhadas de arquivo eletrônico gravado em disquete (ou enviado por e-mail),<br />

devidamente padronizado conforme estas Normas para Publicação, para submissão à Co-<br />

78


missão Científico-Editorial da Revista e aos seus consultores, constando de uma delas os<br />

dados completos do(s) autor(es) e, das outras duas, apenas o título da obra (sem identificação);<br />

fornecer também brevíssimo currículo do(s) autor(es); (b) um dos membros da<br />

Comissão e dois nomes externos a ela são designados como pareceristas, estes dois últimos<br />

por processo blind peer review; (c) recebidos de volta tais pareceres, eles são analisados em<br />

outro encontro da Comissão, chegando-se a uma avaliação final: “indicado para publicação”,<br />

“indicado com ressalvas” ou “recusado”; (d) em carta ao(s) autor(es), essas decisões<br />

são fundamentadas e devolvidos os originais com anotações dos pareceristas; (e) se indicado<br />

para publicação “com ressalvas”, o artigo deve ser novamente submetido à Editora: os<br />

trechos alterados precisarão ser realçados por cor ou sublinhados; essa nova versão será entregue<br />

em papel (uma cópia) e em arquivo eletrônico, acompanhada do texto original apreciado<br />

pelos pareceristas; (f) eventuais ilustrações devem ser encaminhadas separadamente,<br />

em seus respectivos arquivos eletrônicos em suas extensões originais; (g) antes da impressão,<br />

o(s) autor(es) recebe(m) versão final do texto para análise.<br />

III. As ILUSTRAÇÕES (tabelas, fotografias, gráficos, desenhos e mapas) necessárias à compreensão<br />

do texto devem ser numeradas seqüencialmente com algarismos arábicos e apresentadas<br />

de modo a garantir boa qualidade de impressão. Precisam ter título conciso,<br />

grafados em letras minúsculas. (a) TABELAS: editadas em Word ou Excel, com formatação<br />

necessariamente de acordo com as dimensões da revista. Devem vir inseridas nos pontos<br />

exatos de suas apresentações ao longo do texto; não podem ser muito grandes e nem ter<br />

fios verticais para separar colunas; (b) FOTOGRAFIAS: com bom con-traste e foco nítido,<br />

sendo fornecidas em arquivos em extensão “jpg”, “tif” ou “gif”; (c) GRÁFICOS e DESENHOS:<br />

incluídos nos locais exatos do texto. No caso de indicação para publicação, essas ilustrações<br />

precisarão ser enviadas em separado, necessariamente em arquivos de seus programas<br />

originais (p. ex., Excel, CorelDraw, PhotoShop, PaintBrush etc.); (d) figuras,<br />

gráficos e mapas, caso sejam enviados para DIGITALIZAÇÃO, devem ser preparados em tinta<br />

nanquim preta. As convenções precisam aparecer em sua área interna.<br />

Os manuscritos devem ser encaminhados para:<br />

Editora UNIMEP / Secretaria Executiva da Saúde em Revista<br />

Rodovia do Açúcar, km 156 – bloco 7 - sala 8<br />

13400-911 – Piracicaba/SP Brasil<br />

Saúde em Revista 79

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