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INSTITUTO EDUCACIONAL PIRACICABANO – IEP<br />
Presidente do Conselho Diretor<br />
Diretor geral<br />
Vice-diretor<br />
Reitor<br />
Pró-reitora de graduação e educação continuada<br />
Pró-reitora de pós-graduação, pesquisa e extensão<br />
Pró-reitor administrativo<br />
PAULO BORGES CAMPOS JÚNIOR<br />
DAVI FERREIRA BARROS<br />
SÉRGIO MARCUS NOGUEIRA TAVARES<br />
Universidade Metodista de Piracicaba<br />
Conselho de Política Editorial<br />
Policy Advisory Committee<br />
DAVI FERREIRA BARROS<br />
RINALVA CASSIANO SILVA<br />
ROSA GITANA KROB MENEGHETTI<br />
SÉRGIO MARCUS NOGUEIRA TAVARES<br />
EDITORA UNIMEP<br />
DAVI FERREIRA BARROS (presidente)<br />
SÉRGIO MARCUS NOGUEIRA TAVARES (vice-presidente)<br />
BELARMINO CESAR GUIMARÃES DA COSTA<br />
CLÁUDIA REGINA CAVAGLIERI<br />
MARCELO DE CASTRO CESAR<br />
NANCY ALFIERI NUNES<br />
JOSÉ ANTONIO ARANTES SALLES<br />
SAÚDE EM REVISTA Health in Review maio/ago. 2007, v. 9, n. 22<br />
Comissão Científico-Editorial MARCELO DE CASTRO CESAR – editor científico (Educação Física e Medicina)<br />
Scientific-Editorial Board CRISTINA BROGLIA F. DE LACERDA – (Fonoaudiologia)<br />
ELIANA PEREIRA DE ARAÚJO (Enfermagem)<br />
FÁTIMA CRISTIANE L. GOULART FARHAT (Farmácia)<br />
MARIA LUIZA OZORES POLACOW (Ciências Biomédicas)<br />
ROSANA MACHER TEODORI (Fisioterapia)<br />
VÂNIA APARECIDA LEANDRO MERHI (Nutrição)<br />
Comitê Científico ALBERT - JESUS FIGUERAS SUÑE (Fundació Institut Català de<br />
Advisory Board Farmacologia / Universitat Autònoma de Barcelona, Espanha)<br />
ARTURO SAN FELICIANO (Departamento de Quimica Farmaceutica /<br />
Faculdad de Farmacia / Universidade de Salamanca, Espanha)<br />
ELVIRA MARIA GUERRA SHINOHARA (Faculdade de Ciências Farmacêuticas / USP-SP)<br />
FRAN HARSTROM (Department of Rehabilitation, Human Resources and<br />
Communication Disorders / University of Arkansas-Fayetteville, USA)<br />
ISABELA HOFFMEISTER MENEGOTTO (Curso de Fonoaudiologia / Universidade<br />
Luterana do Brasil-Ulbra / Canoas-RS)<br />
LÉSLIE PICCOLOTTO FERREIRA (Faculdade de Fonoaudiologia / PUC-SP)<br />
LISIAS NOGUEIRA CASTILHO (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina / USP-SP)<br />
MARIA CRISTINA FABER BOOG (Departamento de Enfermagem – Faculdade de<br />
Ciências Médicas / Unicamp-SP)<br />
MAURO FISBERG (Departamento de Pediatria e Adolescência – Nutrologia / Unifesp-SP)<br />
PEDRO LUIZ ROSALEN (Faculdade de Odontologia de Piracicaba / Unicamp-SP)<br />
RENATA MOTA MAMEDE CARVALHO (Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia<br />
e Terapia Ocupacional / Faculdade de Medicina da USP-SP)<br />
RUI CURI (Instituto de Ciências Biomédicas / USP-SP)<br />
Editora Executiva/Managing Editor ROSA GITANA KROB MENEGHETTI<br />
Equipe Técnica/Technical Team IVONETE SAVINO (secretária)<br />
MARIA NILZA FACCO PREEG (auxiliar administrativa)<br />
PEDRO LUÍS LOPES BINCOLETTO (auxiliar administrativo)<br />
REGINA FRACETO (ficha catalográfica)<br />
MARCIA REGINA ALVES FELIPPE (edição de texto)<br />
RENATA CRISTINA COLASANTE (revisão de textos em inglês)<br />
Capa WESLEY LOPES HONÓRIO<br />
Impressa por PrintFit<br />
SAÚDE EM REVISTA é uma publicação quadrimestral da Editora UNIMEP, a qual traz artigos vinculados ao desenvolvimento científico e<br />
tecnológico nas áreas de ciências biológicas e da saúde. Os originais devem ser encaminhados à Comissão Científico-Editorial da revista,<br />
observadas suas normas para publicação de artigos. As opiniões expressas nos artigos são de responsabilidade dos seus autores. Os textos<br />
são selecionados por processo anônimo de avaliação por pares (blind peer review). Na última edição de cada ano, é publicada a relação do<br />
seu corpo de referee. Veja as normas para publicação no final da revista (estilo Vancouver: ).<br />
SAÚDE EM REVISTA (Health in Review) is published three times a year by UNIMEP Press (São Paulo/Brazil). It contains papers on scientific<br />
and technological issues from biological and health sciences. Editorial norms for submission of articles can be requested to the Editor.<br />
Manuscripts are selected through a blind peer review process. In the last issue of the year, the list of referee body is published. See editorial<br />
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EDITORA UNIMEP<br />
SAÚDE EM REVISTA<br />
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SAÚDE EM REVISTA<br />
UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA<br />
V. 1 • n. 1 • 1999<br />
Quadrimestral / Three times yearly<br />
ISSN 1516-7356<br />
1. Ciências da Saúde – periódicos<br />
CDU – 613/614
DOENÇAS NUTRICIONAIS<br />
E NUTRICIONISTAS: O<br />
QUE PODEMOS FAZER?<br />
O perfil de morbidade e mortalidade no Brasil é aterrorizante. As doenças do aparelho<br />
circulatório, em especial o infarto do miocárdio e o acidente vascular cerebral, são responsáveis<br />
por 36% dos quase 1 bilhão de óbitos, que ocorrem anualmente em nosso país. Em um<br />
estudo publicado pelo Earth Institute da Universidade de Columbia, EUA, denominado Uma<br />
luta contra o tempo. O desafio das doenças cardiovasculares em economias em desenvolvimento<br />
e apresentada análise feita por um grupo de especialistas (incluindo brasileiros) sobre<br />
a situação atual e as perspectivas da evolução dessas doenças no mundo, prevê-se que, até<br />
o ano 2040, o Brasil terá um aumento de 240% no número de mortes por doença<br />
cardiovascular, ganhando da China (200%), Índia (180%), África do Sul (110%). Seremos<br />
campeões. Os reflexos desse fato sobre a economia, uma vez que essas mortes ocorrem em<br />
idades bastante produtivas, são catastróficos.<br />
Dirão alguns que outras catástrofes foram previstas, e algumas não ocorreram. Analisemos,<br />
então, a situação de Ribeirão Preto em relação aos fatores de risco de doenças crônicas<br />
cardiovasculares. Um estudo marcante vem sendo liderado pelo professor Barbieri, do Departamento<br />
de Pediatria da FMRP. Esse pesquisador e seu grupo vêm acompanhando uma<br />
população nascida nos anos de 1978 e 1979. Em sua última análise dessa população, hoje<br />
com 24 a 25 anos, foram observadas a prevalência de 43,1% de sobrepeso e obesidade entre<br />
os homens e a de 28,8% entre as mulheres; 20,8% dos homens e 13,9% das mulheres ainda<br />
adotam o tabagismo como hábito; 41,6% dos homens e 57,3% das mulheres são sedentários;<br />
e 41,8% dos homens e 8,7% das mulheres apresentam consumo elevado de bebidas alcoólicas.<br />
Outro dado interessante é que, mesmo nessa idade, 1,2% dos homens e 1% das mulheres<br />
já têm açúcar no sangue acima dos valores adotados como normais, e 11,3% dos homens e<br />
14% das mulheres têm excesso de gordura abdominal.<br />
Em outros estudos conduzidos por nosso grupo, a prevalência de excesso de peso e<br />
obesidade em adultos ribeirão-pretanos aumentou de 37,3% para 46,1% entre 1984 e 2001.<br />
Em 2001, 21% dos ribeirão-pretanos eram hipertensos; 28,5% tinham colesterol no sangue<br />
aumentado; e, pasmem, 47,9% tinham a cintura abdominal (fator de risco para doença cardíaca<br />
cada vez mais valorizado) acima do nível de risco.
Pela análise desses dados e observando-se o estilo de vida dos brasileiros, cada vez mais<br />
voltado aos alimentos calóricos e industrializados e somando-se as automações crescentes,<br />
que tornam o homem progressivamente mais sedentário, podemos concluir que a situação da<br />
saúde hoje não é boa, mas tem tudo para piorar.<br />
O que poderão os nutricionistas fazer diante desse quadro?<br />
JOSÉ ERNESTO DOS SANTOS<br />
Professor doutor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP/SP)
CONTENTS<br />
ORIGINAIS / ORIGINALS<br />
7.<br />
Análise do Lanche Escolar Consumido por Adolescentes<br />
Analysis of the Teenager’s School Feeding<br />
MARINA MARQUART FELICE; ISA DE PÁDUA CINTRA SAMPAIO & MAURO<br />
FISBERG<br />
15.<br />
A Percepção Corporal Influencia no Consumo do Café da<br />
Manhã de Adolescentes?<br />
Does the Body Perception Have an Influence in Teenagers’<br />
Breakfast Consumption?<br />
ELIANA CRISTINA DE ALMEIDA; LUCIA MARIA BRANCO; MARIA<br />
APARECIDA ZANETTI PASSOS; ALINE DE PIANO; ISA DE PÁDUA CINTRA<br />
& MAURO FISBERG<br />
23.<br />
Efeito de Aulas de Nutrição para Modificação do Estado<br />
Nutricional de Adolescentes<br />
Effect of Nutrition Classes for the Modification of Nutritional<br />
Status in Adolescents<br />
SIMONE CARDOSO FREIRE & ROBERTO FERNANDES DA COSTA<br />
31.<br />
Comparação de Testes de 1RM e 10RMs em Homens Jovens<br />
Treinados<br />
Comparison of 1-RM and 10-RM Tests in Trained Young Males<br />
CLEITON AUGUSTO LIBARDI; ÉRIKA SARITA SPILLER; ADALBERTO<br />
VICENTE DE OLIVEIRA JR.; ELISANE ROSSIN PESSOTI; MARIA<br />
IMACULADA DE LIMA MONTEBELO & MARCELO DE CASTRO CESAR
39.<br />
47.<br />
53.<br />
59.<br />
Treinamento Muscular Inspiratório na Reabilitação de<br />
Pacientes com DPOC<br />
Inspiratory Muscle Training in Rehabilitation of COPD Patients<br />
KARLA PAIVA RIBEIRO; ANDREZA DE TOLEDO; DANIELA BERETTA<br />
WHITAKER; LORENA CECÍLIA VALENZUELA REYES & DIRCEU COSTA<br />
Avaliação da Qualidade de Vida em Pacientes submetidos à<br />
Reconstrução do LCA<br />
A Research of Life’s Quality in Patients with ACL Reconstruction<br />
PAULO VILAS BOAS DE MIRANDA; JONAS FRANZOLIN SOARES; ARIANE<br />
AMOR; KATIA LEME DEMARCHI; SERGIO ROCHA PIEDADE; PEDRO<br />
HENRIQUE REGAZZO & ALEXANDRE SABBAG DA SILVA<br />
Alterações Motoras e Sensoriais na Mielomeningocele: relato<br />
de três casos<br />
Impairments in Myelomeningocele: cases report<br />
GUSTAVO CHRISTOFOLETTI; GERUZA P. BELA; REGINA C. TUROLLA;<br />
SIMONE SERRADILHA; MERLYN M. OLIANI & ANTÔNIO C. QUADROS JR.<br />
Efeitos do Dimetilaminoetanol (DMAE) em Preparação<br />
Neuromuscular<br />
Effects of Dimethylaminoethanol (DMAE) in Neuromuscular<br />
Preparation<br />
DIMAS DOS SANTOS ROCHA JUNIOR; GILDO BERNARDO LEITE; JOSIANE<br />
BRANDOLUZI PATINI; LÉA RODRIGUES SIMIONI &YOKO OSHIMA-FRANCO<br />
RESENHAS / REVIEWS<br />
69.<br />
73.<br />
Preparação Desportiva: Fundamentos da Teoria Geral do<br />
Treinamento Desportivo<br />
Sporting Preparation: basics of the general theory of the Sporting<br />
Training<br />
“Teoría General Del Entrenamiento Deportivo”, de Lev Pavlovitch<br />
JOÃO PAULO BORIN<br />
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO
MARINA MARQUART FELICE ET AL.<br />
Análise do Lanche Escolar Consumido<br />
por Adolescentes<br />
Analysis of the Teenager’s School Feeding<br />
ORIGINAL / ORIGINAL<br />
MARINA MARQUART FELICE *<br />
Nutricionista, especialista em<br />
adolescência pelo Centro de<br />
Atendimento e Apoio ao Adolescente<br />
– Departamento de Pediatria<br />
(Unifesp/EPM)<br />
ISA DE PÁDUA CINTRA SAMPAIO<br />
Docente do Centro de Atendimento<br />
e Apoio ao Adolescente – Departamento<br />
de Pediatria (Unifesp/EPM)<br />
MAURO FISBERG<br />
Docente do Centro de Atendimento<br />
e Apoio ao Adolescente – Departamento<br />
de Pediatria (Unifesp/EPM)<br />
* Correspondências:<br />
Alameda Perequê, 19 – Alphaville<br />
06542-110 Santana de Parnaíba/SP<br />
marina.felice@ig.com.br<br />
RESUMO A alimentação dos adolescentes constitui motivo de preocupação,<br />
uma vez que, normalmente, substituem as refeições por lanches<br />
inadequados, possuem baixa ingestão de frutas e verduras e alta ingestão<br />
de alimentos ricos em gordura. Como esse comportamento ocorre também<br />
nas escolas, o presente estudo teve por objetivo analisar o estado<br />
nutricional e a qualidade dos lanches oferecidos nas cantinas escolares.<br />
Foram avaliados 625 escolares, de 10 a 15 anos, do município de São<br />
Paulo. Realizou-se avaliação do estado nutricional e do consumo alimentar.<br />
Para a análise estatística dos dados, utilizou-se o teste “T” de<br />
Student e o qui-quadrado. Observou-se que 8,8% dos adolescentes apresentam<br />
baixo peso, e 23,4% apresentam excesso de peso, sendo que, nas<br />
escolas públicas, há maior prevalência de baixo peso, e, nas escolas<br />
particulares, há maior prevalência de excesso de peso. Verificou-se também<br />
que 51,7% dos adolescentes consomem alimentos da cantina;<br />
23,5%, lanche de casa; 32,6%, merenda; e 18,9% não consomem nada<br />
durante o intervalo escolar. Os alimentos mais consumidos entre os<br />
adolescentes avaliados são guloseimas, salgadinho de pacote e bolacha,<br />
e há um consumo elevado de refrigerante em detrimento de sucos e<br />
lácteos. Concluiu-se que existe a necessidade de os adolescentes adotarem<br />
um estilo de vida mais saudável e que a escola é um importante<br />
local para a promoção de educação nutricional e formação de um hábito<br />
alimentar saudável.<br />
Palavras-chave ADOLESCENTE – ALIMENTAÇÃO ESCOLAR – CONSUMO ALIMENTAR.<br />
ABSTRACT The evaluation of adolescents eating habits is very important<br />
because many times adolescents use snacks to replace meals; they have<br />
low consumption of fruit and vegetables and high consumption of fatty<br />
food. This behavior takes place within schools periods as well. Thus,<br />
this study aimed at analyzing the nutritional state and the quality of<br />
snacks sold in schools. We studied 625 students aged 10-15 years from<br />
the city of São Paulo in a representative survey of public and private<br />
schools, and analyzed their nutritional state and alimentary consumption.<br />
Student’s “T” test and the chi-square test were used for statistical<br />
purposes. According to these analyses 8.8% of the adolescents presented<br />
low weight and 23.4% were overweight. The incidence of low weight is<br />
higher in public schools and overweight is higher in private schools.<br />
About 51.7% of the adolescents bought food in the cafeteria, 23.5%<br />
brough it from home, 32.6% eat food prepared by the school and 18.9%<br />
do not eat. The eating preferences among adolescents were: candy,<br />
snacks and crackers. They also consume a lot of soft drinks. A change<br />
in adolecents’ life styles is necessary, and we concluded that the school<br />
environment is an excellent place to promote nutritional education.<br />
Keywords ADOLESCENT – SCHOOL FEEDING – FOOD CONSUMPTION.<br />
Saúde em Revista<br />
Análise do Consumo de Lanches Escolares<br />
7
MARINA MARQUART FELICE ET AL.<br />
INTRODUÇÃO<br />
A adolescência é considerada um período<br />
nutricionalmente vulnerável, principalmente<br />
durante a puberdade e o estirão do crescimento<br />
em que ocorrem as maiores necessidades<br />
energéticas e de nutrientes. Sendo assim, a<br />
prática de hábitos alimentares ruins, durante<br />
essa fase, pode comprometer o crescimento, o<br />
desenvolvimento e a saúde a longo prazo. 1, 2<br />
A tendência atual sobre o consumo alimentar<br />
dos adolescentes constitui motivo de<br />
preocupação, tendo em vista que, comumente,<br />
trocam a alimentação habitual pelo consumo<br />
de lanches inadequados. Essas mudanças nos<br />
hábitos alimentares associadas a um estilo de<br />
vida sedentário durante a infância e a adolescência<br />
são responsáveis pelo desenvolvimento<br />
de doenças crônicas na fase adulta, como a<br />
obesidade e outras doenças associadas. 3-7<br />
Segundo Story et al. 8 , os adolescentes<br />
possuem hábitos alimentares inadequados,<br />
como a baixa ingestão de frutas, verduras,<br />
legumes e laticínios e o consumo elevado de<br />
alimentos com elevado teor de gordura, colesterol<br />
e sódio. Alguns autores também descrevem<br />
o aumento no consumo de alimentos<br />
industrializados, fast food e refrigerante, nessa<br />
fase da vida. 9<br />
Esse comportamento também ocorre nas<br />
escolas. Em um estudo que avaliou a ingestão<br />
alimentar de 3.307 crianças e adolescentes<br />
americanos, verificou-se que o consumo de<br />
gorduras e açúcar de adição corresponde a<br />
40% da ingestão energética total. 10 De acordo<br />
com Story & Neumark-Sztainer, 11 90% das<br />
escolas americanas vendem refrigerante e alimentos<br />
ricos em gordura em suas cantinas.<br />
A literatura demonstra a necessidade de<br />
melhorar a qualidade dos alimentos oferecidos<br />
nas escolas, concluindo que trata de um bom<br />
local para estimular o aumento do consumo de<br />
frutas e verduras (alimentação saudável). 12<br />
Além disso, Dwyer et al. 13 destacam a<br />
importância do fracionamento da dieta com<br />
refeições planejadas, a fim de evitar o consumo<br />
de lanches e salgadinhos, que contribuem<br />
para uma ingestão excessiva de calorias e<br />
sódio. Em seu estudo, mais de 80% dos adolescentes<br />
avaliados consomem junk food entre<br />
as refeições principais (café da manhã,<br />
almoço e jantar), sendo que esses lanches<br />
contribuem com 1/3 da ingestão calórica diária<br />
desses indivíduos.<br />
Diante do que foi descrito e considerando<br />
a importância da realização de mais estudos<br />
sobre o consumo alimentar em cantinas<br />
escolares pelos adolescentes, elaborou-se o<br />
presente estudo com o objetivo de analisar a<br />
qualidade dos lanches oferecidos nas cantinas.<br />
METODOLOGIA<br />
Casuística<br />
Realizou-se um estudo transversal, em<br />
que foram avaliados adolescentes, de ambos<br />
os sexos, com idade entre 10 e 15 anos, estudantes<br />
de escolas públicas e privadas do<br />
município de São Paulo, no período de março<br />
a junho de 2004.<br />
Os critérios de seleção das escolas foram<br />
a presença de alunos matriculados de 5 a<br />
a 8 a séries do ensino fundamental e a de cantina.<br />
A pesquisa foi realizada em uma escola<br />
particular e em três escolas públicas, totalizando<br />
625 alunos.<br />
Os adolescentes participaram voluntariamente<br />
da pesquisa mediante a autorização<br />
prévia da direção da escola.<br />
A investigação encontra-se inserida na<br />
proposta do Projeto Mega, que visa a conhecer<br />
os hábitos de vida e o perfil nutricional de adolescentes<br />
de escolas públicas e particulares do<br />
município de São Paulo, realizado pelo Centro<br />
de Atendimento e Apoio ao Adolescente e<br />
aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade<br />
Federal de São Paulo (Unifesp/EPM).<br />
Procedimentos<br />
Foram verificados o estado nutricional e<br />
o consumo alimentar durante o intervalo escolar<br />
dos estudantes.<br />
8<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 7-14, 2007
MARINA MARQUART FELICE ET AL.<br />
Avaliação do Estado Nutricional<br />
A massa corporal dos estudantes foi<br />
medida em quilos, tendo sido utilizada a balança<br />
eletrônica da marca Plenna, que foi<br />
colocada em superfície nivelada e zerada a<br />
cada pesagem. No momento da pesagem, o<br />
adolescente encontrava-se em posição vertical,<br />
descalço, usando roupas leves e sem<br />
portar objetos pesados. A capacidade máxima<br />
da balança é de 150 kg com divisão de 100g.<br />
A estatura foi medida em centímetros,<br />
utilizando-se o antropômetro de parede da<br />
marca Seca, a 90 o em relação à parede. O<br />
adolescente permanecia em pé, descalço, ereto,<br />
com os calcanhares juntos e com a cabeça<br />
no plano de Frankfurt.<br />
As medidas de peso e a estatura foram<br />
utilizadas para avaliação do estado<br />
nutricional por meio do cálculo do índice de<br />
massa corpórea (IMC), definido como massa<br />
corporal em quilos, dividido pela estatura em<br />
metros, elevada ao quadrado (kg/m 2 ). A classificação<br />
foi realizada de acordo com as curvas<br />
de CDC (2000), com valores segundo a<br />
idade e o sexo, adotando-se os seguintes<br />
pontos de corte:<br />
• Baixo peso (IMC < P5);<br />
• Eutrofia (P5 < IMC < P85);<br />
• Excesso de peso (IMC > P85).<br />
Consumo Alimentar<br />
Foi aplicado um questionário, em que o<br />
adolescente respondia se tinha o hábito de<br />
freqüentar a cantina, trazer lanche de casa e/<br />
ou consumir alimentos da merenda, quais<br />
eram os tipos de alimentos usualmente consumidos<br />
e qual sua origem.<br />
Em relação ao consumo alimentar, os<br />
alimentos foram divididos em 13 grupos:<br />
• Guloseimas: bala, chiclete;<br />
• Salgadinhos: salgadinho de pacote,<br />
amendoim, pipoca doce;<br />
• Salgado assado;<br />
• Salgado frito;<br />
• Sanduíches: hot dog (cachorro-quente),<br />
hambúrguer, misto quente;<br />
• Bolachas: bolacha, biscoito, bolo;<br />
• Doces: chocolate, docinhos;<br />
• Sorvete;<br />
• Refrigerante;<br />
• Sucos: suco caixinha (industrializado),<br />
suco natural;<br />
• Lácteos: iogurte, achocolatado;<br />
• Frutas;<br />
• Cereais: barra de cereal e cereal matinal.<br />
A aplicação dos questionários foi realizada<br />
por estagiários de nutrição, previamente treinados<br />
por profissionais envolvidos no projeto.<br />
Análise dos Dados<br />
Os dados obtidos foram analisados de<br />
acordo com o sexo, a faixa etária, o tipo de<br />
escola e o estado nutricional.<br />
Análise Estatística<br />
Os dados coletados foram inseridos em<br />
um banco de dados do Microsoft Excel<br />
(Windows XP). A análise estatística foi realizada<br />
por meio do software Statistical Package<br />
for the Social Sciences (SPSS – versão 10.0).<br />
Para a análise dos dados, realizaram-se<br />
testes paramétricos para variáveis quantitativas<br />
e não-paramétricos para variáveis qualitativas.<br />
Foi aplicado o teste “T” Student para a relação<br />
entre as médias e o teste qui-quadrado para<br />
avaliar se houve diferença entre duas variáveis<br />
independentes, considerando-a estatisticamente<br />
significativa quando p < 0,05.<br />
RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />
Uma das preocupações relacionadas ao<br />
consumo alimentar inadequado é o estado<br />
nutricional. A obesidade é uma doença crônica<br />
e epidêmica, pois vem apresentando um<br />
rápido aumento em sua prevalência nas últimas<br />
décadas, tanto em países desenvolvidos<br />
14, 15<br />
quanto naqueles em desenvolvimento.<br />
Saúde em Revista<br />
Análise do Consumo de Lanches Escolares<br />
9
MARINA MARQUART FELICE ET AL.<br />
Segundo a American Dietetic Association,<br />
16 por volta de 4,7 milhões de jovens, entre<br />
6 e 17 anos, têm sobrepeso ou obesidade.<br />
Nesse estudo, foram avaliados 625 adolescentes,<br />
estudantes de três escolas públicas<br />
(n = 497) e uma privada (n = 128), com idade<br />
entre 10 e 15 anos e média de idade de<br />
12,38 anos (DP = 1,38), sendo 52% do sexo<br />
feminino e 48% do sexo masculino.<br />
Observou-se que 8,8% dos adolescentes<br />
apresentam baixo peso, enquanto 23,4%<br />
apresentam excesso de peso (14,4% de<br />
sobrepeso e 9% de obesidade). Observou-se<br />
também que os meninos têm uma tendência<br />
significativamente maior a apresentarem desvios<br />
nutricionais quando comparados às meninas<br />
[baixo peso (13% X 4,9%) e excesso<br />
de peso (26% X 20,9%)] (p < 0,001).<br />
Estudos realizados em algumas cidades<br />
brasileiras apresentam dados semelhantes aos<br />
resultados encontrados nessa pesquisa e mostram<br />
que o sobrepeso e a obesidade já atingem<br />
mais de 20% das crianças e adolescentes. 17<br />
Essa situação é favorecida pelo estilo de<br />
vida inadequado, representado por sedentarismo,<br />
hábitos familiares incorretos, alimentação<br />
insatisfatória, refeições desequilibradas,<br />
consumo de doces e guloseimas entre<br />
outros. Cerca de 80% dos adolescentes obesos<br />
tornam-se adultos obesos. Além disso, o<br />
excesso de peso gera uma situação de risco,<br />
pois está associado ao desenvolvimento de<br />
doenças crônicas. 14<br />
A literatura mostra que a condição<br />
socioeconômica também é um fator importante<br />
a ser considerado quando se discute o<br />
excesso de peso em crianças e adolescentes. 17<br />
Segundo Jenkins e Horner, 18 a incidência de<br />
obesidade é maior em adolescentes com melhor<br />
condição socioeconômica. Os resultados<br />
observados neste estudo também evidenciam<br />
essa situação. Verificou-se que a escola particular<br />
apresenta maior prevalência de excesso<br />
de peso em relação às escolas públicas.<br />
Ao comparar o estado nutricional dos<br />
adolescentes segundo o tipo de escola, verificou-se<br />
uma diferença estatisticamente significativa<br />
(p < 0,05), sendo que as escolas<br />
públicas apresentam maior prevalência de<br />
baixo peso em relação à escola particular<br />
(9,9% X 4,7%), enquanto que esta apresenta<br />
maior prevalência de excesso de peso em<br />
relação à escola pública (32% X 21,1%).<br />
Em relação ao consumo alimentar dos<br />
adolescentes durante o intervalo escolar, observou-se<br />
que 51,7% consomem alimentos<br />
comprados na cantina; 23,5%, lanche de<br />
casa; e 32,6%, a merenda. Verificou-se também<br />
que 18,9% não consomem nada durante<br />
o intervalo escolar, sendo que a prevalência<br />
de adolescentes que omitem o lanche é maior<br />
no turno da manhã.<br />
A omissão de refeições é um hábito<br />
comum na adolescência, como observado<br />
entre os alunos avaliados. A dieta dos adolescentes<br />
é inadequada em muitas vitaminas e<br />
minerais, incluindo ácido fólico, vitaminas A,<br />
B e E, ferro, zinco e cálcio. Estudos relatam<br />
que os adolescentes que omitem o café da<br />
manhã apresentam outros erros alimentares,<br />
como ingestão inadequada de nutrientes, alimentação<br />
irregular, além de apresentarem<br />
maior IMC. 6, 10-12 Segundo Haines e Stang, 21<br />
adolescentes do sexo feminino, que fazem o<br />
café da manhã, têm maior ingestão de cálcio<br />
e fibra e podem reduzir o risco de sobrepeso.<br />
Lanche de Casa<br />
O lanche de casa foi consumido por<br />
20,5% dos alunos de escola pública e por<br />
35,2% dos alunos de escola particular. Observou-se<br />
que 54,5% dos alunos preparam o próprio<br />
lanche, enquanto que 35,1% têm o lanche<br />
preparado pela mãe. Apenas 3,7% têm o lanche<br />
preparado pelo pai, e 6,7%, por outra pessoa.<br />
As meninas (59,8%) preparam mais o<br />
próprio lanche em relação aos meninos, e as<br />
mães preparam mais o lanche dos meninos<br />
(44,2%) que o das meninas, independentemente<br />
do tipo de escola, embora essa diferença<br />
não tenha apresentado diferença estatisticamente<br />
significativa.<br />
10<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 7-14, 2007
MARINA MARQUART FELICE ET AL.<br />
Em relação à faixa etária, observou-se<br />
que os adolescentes mais velhos (13 a 15<br />
anos) preparam mais o próprio lanche, enquanto<br />
que os mais novos (10 a 12 anos) têm<br />
seu lanche preparado pelas mães mais<br />
freqüentemente que os mais velhos (p < 0,05).<br />
Em um estudo realizado com crianças<br />
obesas, verificou-se que os pais têm uma<br />
forte influência nas escolhas alimentares dos<br />
filhos. Os autores relatam que a redução na<br />
ingestão de gordura e açúcar em crianças<br />
pode ser obtida por meio da mudança dos<br />
hábitos alimentares dos pais. 19 De acordo<br />
com Klesges et al., 20 quando as mães estão<br />
diretamente envolvidas na seleção do alimento,<br />
as crianças escolhem refeições com baixas<br />
calorias, baixos teores de gordura<br />
saturada e sódio que quando fazem livremente<br />
a escolha de sua refeição.<br />
Merenda<br />
Em relação ao consumo da merenda, os<br />
meninos (35,7%) apresentam maior consumo<br />
em relação às meninas (29,6%), e os adolescentes<br />
mais velhos (13 a 15 anos) consomem<br />
mais que os mais novos (10 a 13 anos).<br />
Verificou-se maior freqüência no consumo<br />
da merenda entre os alunos do turno da<br />
tarde que entre os alunos do turno da manhã<br />
(p < 0,001), sendo que 43,8% dos alunos da<br />
manhã nunca consomem a merenda, enquanto<br />
que 30,2% dos alunos da tarde o fazem 2<br />
a 3 vezes por semana.<br />
Ao analisar o estado nutricional, verificou-se<br />
que os adolescentes com baixo peso<br />
consomem mais a merenda que os com excesso<br />
de peso (Figura 1).<br />
Observou-se também que 47,7% dos<br />
adolescentes repetem a merenda e que a<br />
média de vezes de repetição é de 2,23 (DP =<br />
1,1), sendo essa média semelhante entre os<br />
sexos, a faixa etária e o estado nutricional.<br />
Entretanto, em relação ao estado<br />
nutricional, embora a média de vezes que os<br />
adolescentes repetem a merenda seja semelhante,<br />
observou-se que tal atitude é mais freqüente<br />
entre os alunos com baixo peso (p < 0,05).<br />
Um outro resultado interessante a ser<br />
discutido é o fato de os adolescentes<br />
eutróficos (64%) possuírem um comportamento<br />
significativamente maior em comer<br />
alimentos da cantina complementando a merenda<br />
em relação aos adolescentes com excesso<br />
de peso (47,9%) e com baixo peso<br />
(41%). Não foram encontradas justificativas<br />
para esse fato, já que o estudo foi apenas<br />
qualitativo, ou seja, não se sabe a quantidade<br />
de alimento consumida por cada escolar.<br />
Figura 1. Distribuição (%) dos adolescentes segundo o consumo da merenda e o estado nutricional.<br />
Saúde em Revista<br />
Análise do Consumo de Lanches Escolares<br />
11
MARINA MARQUART FELICE ET AL.<br />
Sugere-se a hipótese de que os adolescentes<br />
eutróficos consomem menor quantidade de<br />
alimento independentemente da origem. Portanto,<br />
mantêm o peso normal, pois consomem<br />
maior variedade em menores quantidades.<br />
Da mesma maneira, os adolescentes com<br />
baixo peso devem consumir quantidades insuficientes,<br />
mesmo sendo uma maior variedade<br />
de alimentos.<br />
Além disso, as meninas (65,2%) apresentam<br />
maior tendência para esse comportamento<br />
que os meninos (51,4%) (p < 0,05).<br />
Cantina<br />
Notou-se que os adolescentes de escola<br />
particular consomem mais vezes na cantina<br />
(63,3%) que os adolescentes de escola pública<br />
(48,7%) (p < 0,05) e que as meninas<br />
(60,6%) consomem mais que os meninos<br />
(42%) (p < 0,05).<br />
Em relação ao estado nutricional, o consumo<br />
de alimentos da cantina ocorre em<br />
50,9% dos adolescentes com baixo peso,<br />
53,1% dos eutróficos e 47,9% dos sobrepesos.<br />
A figura 2 ilustra os motivos pelos<br />
quais os adolescentes compram seus lanches<br />
na cantina.<br />
As principais barreiras que impedem as<br />
crianças e os adolescentes de comerem alimentos<br />
saudáveis são a falta de senso de urgência<br />
em relação à saúde pessoal, à aparência<br />
e ao odor dos alimentos, à falta de tempo,<br />
à falta de opção e à conveniência. 22<br />
A figura 3 apresenta os alimentos mais<br />
consumidos pelos adolescentes.<br />
Observa-se uma freqüência no consumo<br />
de guloseimas e salgadinho de pacote, alimentos<br />
ricos em açúcar, gorduras e sódio. Há<br />
também um consumo elevado de refrigerante,<br />
em detrimento dos sucos e dos lácteos.<br />
Ainda em relação ao consumo alimentar,<br />
observou-se que os adolescentes mais<br />
novos preferem alimentos, como bolachas,<br />
lácteos e sanduíches, enquanto que os mais<br />
velhos preferem guloseimas e refrigerante. É<br />
importante lembrar que os adolescentes mais<br />
novos consomem mais lanches levados de<br />
casa e preparados pelas mães (que, normalmente,<br />
contêm lácteos, sanduíches, frutas e<br />
biscoito), enquanto que os mais velhos compram<br />
mais alimentos na cantina, por isso a<br />
diferença no comportamento alimentar. Segundo<br />
o tipo de escola, os adolescentes de<br />
escola particular consomem mais salgado<br />
assado, sanduíches e suco, enquanto que os<br />
de escola pública consomem mais refrigerante<br />
e salgadinho de pacote. Vale ressaltar que<br />
Figura 2. Distribuição (%) dos adolescentes segundo os motivos para escolha da cantina.<br />
12<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 7-14, 2007
MARINA MARQUART FELICE ET AL.<br />
Figura 3. Distribuição (%) dos adolescentes segundo o consumo alimentar.<br />
as cantinas de escolas públicas oferecem em<br />
maior quantidade alimentos de baixo custo,<br />
como salgadinhos de pacote.<br />
As refeições e os lanches consumidos<br />
nas escolas contribuem muito na formação<br />
dos hábitos alimentares das crianças e dos<br />
adolescentes. 23 A literatura evidencia que os<br />
lanches vendidos nas cantinas escolares possuem<br />
baixa qualidade nutricional e são muito<br />
calóricos e ricos em gordura saturada. 12<br />
CONCLUSÃO<br />
Claramente, existe a necessidade de estabelecer<br />
um balanço entre a ingestão e o<br />
gasto calórico, bem como de se adotar estilos<br />
de vida mais saudáveis. Na prevenção da<br />
obesidade, uma ênfase no consumo de frutas<br />
e hortaliças poderia ser um importante passo<br />
para evitar preparações com alta densidade<br />
energética. Vale ressaltar que o oferecimento<br />
de lanches não é sinônimo de uma alimentação<br />
inadequada, uma vez que eles podem ser<br />
nutritivos e balanceados.<br />
A escola é um importante local para a<br />
promoção de educação nutricional e para a<br />
formação do hábito alimentar saudável, devendo,<br />
portanto, ser uma atividade incluída<br />
no currículo escolar.<br />
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Submetido: 4/set./2006<br />
Aprovado: 27/mar./2007<br />
14<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 7-14, 2007
LUCIA MARIA BRANCO ET AL.<br />
ORIGINAL / ORIGINAL<br />
A Percepção Corporal Influencia no Consumo<br />
do Café da Manhã de Adolescentes?<br />
Does the Body Perception Have an Influence in<br />
Teenagers’ Breakfast Consumption?<br />
LUCIA MARIA BRANCO *<br />
Nutricionista e mestre em Ciências<br />
(Unifesp/SP)<br />
ELIANA CRISTINA DE ALMEIDA<br />
Nutricionista e mestre em Ciências<br />
(Unifesp/SP)<br />
MARIA APARECIDA ZANETTI PASSOS<br />
Nutricionista e mestre em Ciências<br />
(Unifesp/SP)<br />
ALINE DE PIANO<br />
Nutricionista e mestranda do<br />
Programa de Pós-Graduação em<br />
Nutrição (Unifesp/SP)<br />
ISA DE PÁDUA CINTRA<br />
PhD e professora titular do<br />
Departamento de Pediatria<br />
(Unifesp/SP)<br />
Mauro Fisberg<br />
PhD e professor titular do<br />
Departamento de Pediatria<br />
(Unifesp/SP)<br />
* Correspondências:<br />
Rua Aracambé, 35 – Jd. Sta. Teresa<br />
04187-110 São Paulo/SP<br />
luciambranco@ig.com.br<br />
RESUMO A adolescência é uma fase de transformações e vulnerabilidade<br />
às pressões da mídia, que cultua a magreza como padrão de beleza, o<br />
que faz com que os adolescentes lancem mão de recursos inadequados<br />
para a redução de peso, como a omissão de refeições. Objetivo: Conhecer<br />
o hábito do consumo do café da manhã e sua relação com a percepção<br />
corporal. Métodos: Foram avaliados 812 adolescentes, matriculados<br />
em escolas da cidade de Cotia/SP. A classificação da imagem corporal<br />
foi realizada por auto-avaliação com o auxílio de figuras de silhuetas e<br />
o hábito do café da manhã por questionário. Para a análise estatística,<br />
utilizou-se o teste qui-quadrado. Resultados: Verificou-se que 15% da<br />
população estudada apresentava-se acima do peso, porém 49% se achavam<br />
em tal condição nutricional, principalmente os sujeitos do sexo<br />
feminino. Observou-se que 44,3% dos adolescentes não consumiam o<br />
café da manhã diariamente, sem diferença estatística entre os sexos.<br />
Conclusão: Verificou-se que a omissão do café da manhã foi maior<br />
entre os adolescentes com excesso de peso, e observou-se relação estatisticamente<br />
significativa entre a omissão do café da manhã e a distorção<br />
da percepção corporal nos adolescentes do sexo feminino, demonstrando<br />
que a percepção corporal exerce influência sobre o hábito do café da<br />
manhã.<br />
Palavras-chave ADOLESCENTE – HÁBITOS ALIMENTARES – IMAGEM CORPORAL.<br />
ABSTRACT Adolescence is characterized by many transformations and<br />
vulnerability to the pressures of the media, which values thinness as a<br />
beauty standard, making teenagers use inadequate methods to lose<br />
weight, as skipping meals. Objective: to know the habit of breakfast<br />
consumption and the body image perception. Methods: 812 adolescents<br />
registered in school of the town of Cotia/SP (14.6 ±1.7 years) were<br />
evaluated. The body image classification was carried out by a selfapplied<br />
questionnaire containing figures of silhouettes, and the breakfast<br />
habits, by closed questions. We applied the Chi-square test for the<br />
statistical analysis. Results: We observed that 15% of the population<br />
was overweight. However, 49% were found in such nutritional<br />
condition, mainly among females. We also observed that 44.3% of the<br />
adolescents did not consume breakfast daily, with no statistic difference<br />
between genders. Conclusion: The habit of skipping breakfast prevailed<br />
among overweight adolescents, as well as the statistically significant<br />
relation between the elimination of breakfast and the distortion of the of<br />
the body image perception among females, showing that the body image<br />
perception influences breakfast eating habits.<br />
Keywords ADOLESCENT – FOOD HABITS – BODY IMAGE.<br />
Saúde em Revista<br />
Percepção Corporal e Café da Manhã<br />
15
LUCIA MARIA BRANCO ET AL.<br />
INTRODUÇÃO<br />
A adolescência é uma fase que, além da<br />
ocorrência de uma variedade de eventos biológicos<br />
e psicossociais, pode ser uma etapa<br />
da vida em que ocorrem grandes transformações<br />
dos hábitos alimentares, podendo interferir<br />
de forma direta no estado nutricional<br />
dessa população. 1, 2<br />
Os hábitos alimentares dos adolescentes<br />
têm sido destacados, principalmente em função<br />
das refeições irregulares, dos lanches<br />
calóricos, da alimentação fora de casa e da<br />
prática de seguir dietas alternativas. 3<br />
Sabe-se que esse é um período de grande<br />
vulnerabilidade, em que as revistas, os programas<br />
de TV, as propagandas e os amigos são<br />
considerados fontes de informações, evidenciando<br />
a importância, mesmo que indiretamente,<br />
sobre o comportamento alimentar. 4, 5<br />
Estudos demonstram que as meninas<br />
omitem mais o café da manhã que os meninos,<br />
sugerindo que esse recurso é utilizado para<br />
evitar ganho e/ou controlar o peso. 6, 7 Aqueles<br />
que não fazem o desjejum apresentam certa<br />
dificuldade em compensar o potencial perdido<br />
de nutrientes e energia em outras refeições,<br />
tendo sido observado que os adolescentes que<br />
consomem o café da manhã selecionam melhor<br />
o alimento durante todo o dia, contribuindo na<br />
qualidade nutricional da dieta. 8, 9<br />
A influência que a auto-imagem corporal<br />
exerce sobre os hábitos de saúde dos adolescentes<br />
tem sido discutida na literatura.<br />
10, 11<br />
Atualmente, a forte tendência social e cultural<br />
de considerar a magreza como uma situação<br />
ideal de aceitação e êxito está influenciando<br />
cada vez mais os adolescentes, especialmente<br />
os do sexo feminino, 12 favorecendo a formação<br />
de padrões alimentares inadequados.<br />
Considerando a importância dos hábitos<br />
alimentares para a saúde – especificamente<br />
do adolescente –, este estudo teve como objetivos:<br />
avaliar o estado nutricional de adolescentes,<br />
identificar a percepção que têm<br />
sobre o corpo – sua imagem corporal – e<br />
analisar as relações entre o estado nutricional,<br />
a imagem corporal e o hábito de consumir<br />
o café da manhã.<br />
MATERIAL E MÉTODOS<br />
A pesquisa foi realizada com 812 adolescentes,<br />
de 10 a 19 anos de idade, de ambos os<br />
sexos, matriculados em escolas públicas e<br />
privadas, da região central da cidade de Cotia,<br />
São Paulo. Esse projeto teve aprovação do<br />
comitê de ética da Universidade Federal de<br />
São Paulo. Somente participaram do estudo os<br />
alunos cujos responsáveis assinaram o termo<br />
de consentimento informado. A pesquisa foi<br />
descritiva com delineamento transversal.<br />
Para a avaliação antropométrica, foi<br />
medida a massa corporal por meio da balança<br />
eletrônica (Tanita TBS-521 ®), plataforma,<br />
com capacidade de 150kg e graduação<br />
em 100g. Os adolescentes foram pesados<br />
com roupas leves e descalços, segundo<br />
Jelliffe (1968). 13<br />
A estatura foi mensurada por meio do<br />
estadiômetro (SECA ®), afixado na parede a<br />
90 o em relação ao solo, com escala em milímetros<br />
(mm), de acordo com Jelliffe, 1968. 13<br />
A classificação do estado nutricional foi<br />
realizada por meio do Índice de Massa Corporal<br />
[IMC = peso (kg) / estatura²(m)], de<br />
acordo com os parâmetros estabelecidos por<br />
Must et al. (1991), 14 e a classificação proposta<br />
pela OMS (1995). 15<br />
A classificação da imagem corporal foi<br />
realizada por meio da auto-avaliação contendo<br />
figuras de silhuetas, em que o aluno identificava<br />
a figura que mais achava parecida<br />
com seu tipo físico, conforme os critérios<br />
estabelecidos por Fritsch-Madrigal et al.<br />
(1999), 16 contendo quatro categorias para a<br />
classificação: baixo peso (silhueta 1),<br />
eutrófico (silhuetas 2 a 5), sobrepeso (silhuetas<br />
6 e 7) e obeso (silhuetas 8 e 9).<br />
Para verificar se os adolescentes tinham o<br />
hábito de consumir o café da manhã, foi aplicado<br />
um questionário, cuja resposta poderia ser<br />
16<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 15-21, 2007
LUCIA MARIA BRANCO ET AL.<br />
diariamente (5 a 7 vezes por semana), de vez<br />
em quando (1 a 4 vezes por semana) ou nunca.<br />
Para a análise estatística dos dados, foi<br />
utilizado o software SPSS versão 10.0 for<br />
Windows. Foram aplicados o teste qui-quadrado<br />
e a correlação de Pearson para as variáveis.<br />
O nível de rejeição fixado foi igual<br />
ou menor que 5% (p < 0,05).<br />
RESULTADOS<br />
Dos 812 adolescentes avaliados, 407<br />
(50%) eram do sexo feminino e 405 (50%)<br />
do sexo masculino. A média de idade foi de<br />
14,6 anos (± 1,7 anos), sendo que 44% pertenciam<br />
à escola particular e 56% à escola<br />
pública. Aproximadamente 17% dos adolescentes<br />
apresentavam excesso de peso, não<br />
havendo diferença significativa entre os sexos<br />
(p > 0,05) (Figura 1).<br />
Conforme ilustra a figura 2, 65,9% dos<br />
adolescentes do sexo feminino e 31,4% do<br />
sexo masculino consideravam-se acima do<br />
peso, sem diferença estatística (p > 0,05).<br />
Pode-se notar que, aproximadamente,<br />
49% (395 adolescentes) da população estudada<br />
considerava-se acima do peso, porém apenas<br />
15% (123 adolescentes) estavam com<br />
Figura 1. Distribuição do estado nutricional dos adolescentes.<br />
Figura 2. Distribuição da percepção corporal dos adolescentes.<br />
Saúde em Revista<br />
Percepção Corporal e Café da Manhã<br />
17
LUCIA MARIA BRANCO ET AL.<br />
excesso de peso (p > 0,05), o que demonstra uma tendência à distorção da imagem corporal<br />
desses adolescentes, principalmente entre o sexo feminino, como ilustra a tabela 1.<br />
Tabela 1. Relação do estado nutricional e a percepção corporal.<br />
Observa-se que 359 (44,3%) adolescentes não possuem o hábito de realizar o café da<br />
manhã diariamente, sem diferença estatisticamente significativa entre os sexos (Figura 3).<br />
Figura 3. Consumo do café da manhã entre os adolescentes.<br />
18<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 15-21, 2007
LUCIA MARIA BRANCO ET AL.<br />
Verifica-se que a omissão do café da<br />
manhã foi maior entre os adolescentes com<br />
excesso de peso (p < 0,05) de ambos os sexos<br />
(Tabela 2).<br />
Nota-se uma relação estatisticamente significativa<br />
entre a omissão do café da manhã e<br />
a distorção da imagem corporal nos adolescentes<br />
do sexo feminino, sendo que a maioria<br />
das adolescentes que omitiam o café da manhã<br />
enxergava-se acima do peso (p < 0,05).<br />
Nos meninos, essa relação não foi significativa<br />
(p > 0,05) (Tabela 2).<br />
Tabela 2. Relação do estado nutricional e percepção corporal com o hábito do consumo do café<br />
da manhã entre os adolescentes.<br />
* p < 0,05, teste Qui-quadrado<br />
DISCUSSÃO<br />
A imagem corporal tem sido descrita<br />
como a capacidade de representação mental<br />
do próprio corpo pertinente a cada indivíduo,<br />
sendo que essa imagem envolve aspectos<br />
relacionados à estrutura (como tamanho, dimensões)<br />
e à aparência (forma, aspecto),<br />
entre vários outros componentes psicológicos<br />
e físicos da imagem corporal. 17-19<br />
Ao relacionar o estado nutricional com<br />
a autopercepção corporal, verificou-se que<br />
houve tendência de os adolescentes apresentarem<br />
distorção da imagem corporal. É importante<br />
ressaltar que, apesar de não haver<br />
relação significativa entre essas variáveis, as<br />
meninas tendem a superestimar sua imagem<br />
corporal. Verificou-se que das 268 adolescentes<br />
(65,9%) que se acharam em excesso<br />
de peso, somente 70 (17,2%) encontravam-se<br />
Saúde em Revista<br />
Percepção Corporal e Café da Manhã<br />
19
LUCIA MARIA BRANCO ET AL.<br />
dessa forma. Uma pesquisa realizada com<br />
145 estudantes do sexo feminino, com idade<br />
entre 12 e 18 anos, revelou que, embora apenas<br />
27% estivessem com excesso de peso,<br />
56% apresentaram insatisfação com a imagem<br />
corporal, sendo que 48% desse grupo<br />
relatou já ter feito algum tipo de tratamento<br />
para emagrecer. 20<br />
Observou-se que aproximadamente metade<br />
dos adolescentes não possuía o hábito<br />
de realizar diariamente o café da manhã, sem<br />
diferença estatística entre os sexos. Os resultados<br />
encontrados no presente estudo demonstraram<br />
que a omissão do desjejum foi<br />
maior entre os indivíduos com excesso de<br />
peso, havendo uma relação significativa entre<br />
o estado nutricional e o hábito de realizar<br />
essa refeição, o que pode sugerir que alguns<br />
adolescentes descontentes com sua imagem<br />
corporal omitem determinadas refeições,<br />
como, por exemplo, o café da manhã, na<br />
tentativa de perder peso e reduzir o valor<br />
calórico diário.<br />
Estudo realizado com 1.245 adolescentes<br />
suecos mostrou que 24% das meninas e 12%<br />
dos meninos não consomem o café da manhã<br />
diariamente e de forma adequada. 21 Em estudo<br />
longitudinal com 1.400 adolescentes americanos,<br />
verificou-se que, após três anos de acompanhamento,<br />
a omissão do desjejum promoveu<br />
aumento de peso significativo entre os<br />
indivíduos eutróficos, quando comparado com<br />
os indivíduos que consumiam o café da manhã<br />
diariamente. 22 Outro estudo realizado com<br />
153 adolescentes de seis escolas da rede estadual<br />
da região de Santo André, SP observou<br />
que 56 % da população estudada não realizava<br />
o café da manhã, com maior prevalência entre<br />
o sexo feminino. 7<br />
O presente estudo mostrou uma relação<br />
significativa entre a distorção da imagem<br />
corporal e a omissão do desjejum entre as<br />
meninas (p < 0,05). Em estudo com adolescentes<br />
do Reino Unido, foi observada uma<br />
associação significativa entre o descontentamento<br />
com a imagem corporal e a omissão<br />
de certas refeições, como o café da manhã,<br />
sendo essa associação mais significativa entre<br />
as meninas. 23 Isso demonstra a relação<br />
entre a distorção da imagem corporal e os<br />
hábitos alimentares inadequados em adolescentes,<br />
especialmente do sexo feminino.<br />
CONCLUSÃO<br />
O café da manhã é uma refeição essencial<br />
no dia-a-dia do ser humano. No entanto,<br />
a soma dos dados do presente trabalho mostra<br />
que houve relação significativa entre o estado<br />
nutricional e a omissão do café da manhã em<br />
ambos os sexos, cujos adolescentes que apresentam<br />
excesso de peso ou distorção da imagem<br />
corporal estão mais sujeitos a comportamentos<br />
e atitudes alimentares inadequadas.<br />
Entre as meninas, verificou-se uma significativa<br />
relação entre a distorção da imagem corporal<br />
e a omissão do desjejum. Essa prática<br />
inadequada pode se relacionar com alterações<br />
do estado nutricional. Portanto, deve-se encorajar<br />
os adolescentes a consumirem o café da<br />
manhã diariamente, visando aos bons hábitos<br />
alimentares, o estado nutricional adequado,<br />
assim como o bem-estar físico e mental desses<br />
indivíduos.<br />
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Submetido: 7/dez./2006<br />
Aprovado: 6/jun./2007<br />
Saúde em Revista<br />
Percepção Corporal e Café da Manhã<br />
21
SIMONE CARDOSO FREIRE, ROBERTO FERNANDES DA COSTA<br />
ORIGINAL / ORIGINAL<br />
Efeito de Aulas de Nutrição para Modificação<br />
do Estado Nutricional de Adolescentes<br />
Effect of Nutrition Classes for the Modification of Nutritional<br />
Status in Adolescents<br />
RESUMO OBJETIVO: Avaliar o efeito de um programa de educação<br />
nutricional para adolescentes apresentando sobrepeso e obesidade,<br />
matriculados no ensino fundamental da rede de ensino do Serviço<br />
Social da Indústria (Sesi) na região de Osasco, São Paulo. MÉTODO:<br />
Foram avaliados 1.493 adolescentes, e um total de 269 (18%) adolescentes,<br />
entre 11 e 15 anos de idade, com sobrepeso e obesidade, fez<br />
parte do estudo. O estado nutricional foi definido pelos percentis 85 e<br />
95 do IMC por idade e sexo, conforme proposto por Must et al. (1991).<br />
Todos os adolescentes participaram de oito aulas de educação<br />
nutricional, duas vezes por mês. Foi utilizado o teste qui-quadrado para<br />
comparar as diferenças pré e pós-período de intervenção. RESULTA-<br />
DOS: Na avaliação inicial, havia 138 (51,3%) adolescentes com<br />
sobrepeso e 131 (48,7%) obesos. Após a intervenção, havia 121 (45%)<br />
em sobrepeso, 125 (46,5%) obesos e 23 (8,5%) eutróficos. Embora não<br />
tenha havido diferenças estatisticamente significantes para sobrepeso (p<br />
= 0,144) e obesidade (p = 0,610), o teste qui-quadrado mostrou diferença<br />
significante em relação à eutrofia (p = 0,000), demonstrando resultado<br />
positivo da intervenção. CONCLUSÃO: Os resultados mostraram<br />
que as aulas de educação nutricional melhoraram o conhecimento dos<br />
adolescentes sobre hábitos alimentares e podem ser usados na prevenção<br />
e no tratamento do sobrepeso e da obesidade.<br />
Palavras-chave ADOLESCENTE – OBESIDADE – PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO –<br />
EDUCAÇÃO NUTRICIONAL.<br />
SIMONE CARDOSO FREIRE *<br />
Especialista em Saúde Pública<br />
Aplicada à Prática Pedagógica<br />
(Unifesp/SP) e mestre em Ciência<br />
dos Alimentos – Faculdade de<br />
Ciências Farmacêuticas (USP/SP)<br />
ROBERTO FERNANDES DA COSTA<br />
Doutor em Ciências Aplicadas à<br />
Pediatria (Unifesp/SP) e professor<br />
da Faculdade de Fisioterapia<br />
(Unisanta/SP)<br />
* Correspondências:<br />
R. Humberto I, 962 – ap. 21<br />
Vila Mariana<br />
04018-033 São Paulo/SP<br />
sfreire@usp.br<br />
ABSTRACT OBJECTIVE: To evaluate the effect of a program of<br />
nutritional education for overweight or obese adolescents enrolled in a<br />
school (elementary education) in the state of São Paulo, Brazil.<br />
METHOD: We evaluated 1,493 adolescents and a total of 269 (18%)<br />
adolescents aged 11-15 years with overweight or obesity took part in<br />
the study (all students in the institution that presented overweight).<br />
Nutritional status was defined by the 85 th and 95 th percentiles of BMI<br />
for age, respectively, as proposed by CDC in 2000. All adolescents<br />
participated in eight classes of nutritional education, two times a month.<br />
We used chi-square test to compare the results before and after<br />
intervention. RESULTS: In the initial evaluation there were 138<br />
(51.3%) overweight and 131 (48.7%) obese adolescents. In the final<br />
evaluation there were 121 (45%) overweight, 125 (46.5%) obese and 23<br />
(8.5%) normal weight adolescents. Although no significant differences<br />
were found for overweight (p = 0.144) and obesity (p = 0.610), the chisquare<br />
test showed significant difference between results before and<br />
after intervention for normal weight (p = 0.000), demonstrating a<br />
positive shift for weight recovery. CONCLUSION: The results showed<br />
that the classes of nutritional education improved the knowledge of<br />
adolescents about alimentary habits and could be used in the prevention<br />
and treatment of overweight and obesity.<br />
Keywords ADOLESCENT – OBESITY – NUTRITION PROGRAMMES – NUTRITION<br />
EDUCATION.<br />
Saúde em Revista<br />
Efeito de Aulas de Nutrição para Adolescentes<br />
23
SIMONE CARDOSO FREIRE, ROBERTO FERNANDES DA COSTA<br />
INTRODUÇÃO<br />
A obesidade é um dos principais problemas<br />
de saúde pública da atualidade, observado<br />
em diferentes faixas etárias e condições<br />
socioeconômicas em países desenvolvidos e<br />
em países em desenvolvimento. 1, 2<br />
Nos anos de 1999 e 2000, as prevalências<br />
de sobrepeso e obesidade em adolescentes<br />
norte-americanos foram estimadas em<br />
15%. 3 A adolescência é considerada um período<br />
mais crítico para o desenvolvimento da<br />
obesidade, devido ao processo de hiperplasia<br />
e hipertrofia dos adipócitos inerente ao período<br />
de crescimento e desenvolvimento acentuados<br />
que ocorre nessa fase. 4<br />
Um ponto relevante relacionado à quantidade<br />
de gordura corporal excessiva na adolescência<br />
refere-se à precocidade com que<br />
podem surgir os efeitos danosos à saúde,<br />
sabidamente associados à obesidade, além das<br />
relações existentes entre obesidade nessa fase<br />
da vida e seu prolongamento até à vida adulta.<br />
5-8 Dessa forma, não é raro encontrarmos<br />
adolescentes obesos que apresentam dislipidemia,<br />
hipertensão arterial, diabetes tipo 2,<br />
síndrome metabólica entre outras doenças<br />
normalmente relacionadas à vida adulta.<br />
No período da adolescência, em conjunto<br />
com a presença da obesidade, pode ocorrer<br />
maturação sexual precoce em meninas, 9 principalmente<br />
quando houver excesso de gordura<br />
abdominal. 10 As meninas podem, ainda, apresentar<br />
amenorréia devido à liberação de<br />
gonadotrofinas. A estatura durante a adolescência<br />
é maior que a média para idade, porém<br />
a estatura final pode resultar diminuída por<br />
fechamento precoce das cartilagens de crescimento.<br />
Podem ocorrer os distúrbios psíquicos<br />
como causa ou conseqüência da obesidade,<br />
podendo interferir nas alterações da imagem<br />
corporal decorrente do excesso de peso. 11<br />
Muitos estudos relatam que adolescentes<br />
quando pretendem diminuir peso fazem jejum,<br />
pulam refeições ou até mesmo têm comportamentos<br />
mais patológicos, como usar laxativos<br />
ou diuréticos, como mostra o projeto Eating<br />
Among Teens de Neumark-Sztainer. 12<br />
Nesse sentido, vale ressaltar que a orientação<br />
dietética para diminuição de massa corporal<br />
deve ser ministrada de forma que o indivíduo<br />
sinta-se autônomo para escolher e<br />
definir as próprias opções e assim administrar<br />
o próprio emagrecimento. 13, 14 Modificações<br />
alimentares podem ser baseadas na pirâmide<br />
alimentar, a qual tem como objetivo assegurar<br />
a ingestão de dieta variada e completa em todos<br />
os nutrientes. A introdução de alimentos<br />
não habituais deve ser gradual e só deve ocorrer<br />
depois que o indivíduo tiver consciência de<br />
que todos os alimentos são permitidos, quando<br />
então poderá controlar a quantidade. 14<br />
Estudos usando dieta normocalórica com<br />
objetivo de reduzir massa corporal mostram<br />
eficiência, com a diminuição da massa gorda<br />
e preservação da massa magra, 13, 15 enquanto<br />
o uso de dietas hipocalóricas pode apresentar<br />
resultados contrários, com maior risco de reincidência<br />
do excesso de gordura. 16<br />
Sendo a educação um processo que visa<br />
a formar o indivíduo para agir conscientemente,<br />
criando uma autogestão diante de situações<br />
novas da vida, 17 o objetivo desse estudo<br />
foi verificar a eficiência de um<br />
programa de orientação de adolescentes para<br />
o autocuidado em relação à sua alimentação<br />
e à melhora do estado nutricional.<br />
MATERIAL E MÉTODOS<br />
O estudo foi realizado no primeiro semestre<br />
de 2002, nas cinco escolas do ensino<br />
fundamental da rede do Serviço Social da Indústria<br />
– Sesi –, na região de Osasco, SP, com<br />
os alunos matriculados nos ciclos III e IV.<br />
Os alunos foram recrutados pelos professores<br />
de educação física e passaram por<br />
avaliação antropométrica para identificação<br />
do estado nutricional. A massa corporal e a<br />
estatura foram obtidas conforme padronização<br />
descrita por Gordon et al., 18 utilizandose,<br />
respectivamente, uma balança digital da<br />
24<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 23-29, 2007
SIMONE CARDOSO FREIRE, ROBERTO FERNANDES DA COSTA<br />
marca Filizola®, com capacidade máxima de<br />
150kg e resolução de 100g, e um estadiômetro<br />
de metal com resolução de 1 mm, com<br />
barra vertical e esquadro móvel para posicionamento<br />
sobre a cabeça.<br />
Foi calculado o índice de massa corporal<br />
(IMC), dividindo-se a massa em quilogramas<br />
pelo quadrado da estatura em metros, e<br />
o diagnóstico de sobrepeso e obesidade foi<br />
realizado utilizando-se como pontos de corte<br />
os percentis 85 e 95, respectivamente, de<br />
acordo com idade e sexo, conforme critério<br />
proposto por Must et al. 19<br />
Após a identificação dos alunos em<br />
sobrepeso e obesidade, os coordenadores de<br />
cada escola organizaram os horários para as<br />
aulas de nutrição, que ocorreram dentro do<br />
período escolar. Os alunos participaram de<br />
uma reunião explicativa do trabalho, os quais<br />
podiam ter livre arbítrio para participação.<br />
Dessa forma, a amostra foi constituída<br />
por 269 alunos de ambos os sexos, com idades<br />
entre 11 e 15 anos, os quais tiveram duas<br />
aulas de nutrição por mês, com duração de<br />
50 minutos, durante quatro meses, sendo<br />
reavaliados ao final desse período para a<br />
identificação das possíveis modificações no<br />
estado nutricional.<br />
A intervenção dietética foi dividida em<br />
oito aulas, sendo que os alunos do ciclo III<br />
tinham aulas separadamente do grupo de ciclo<br />
IV. O enfoque de cada tópico não foi simplesmente<br />
passar conteúdo, e sim oferecer conceitos<br />
facilitando o entendimento para que os<br />
alunos praticassem no seu dia-a-dia e, com<br />
isso, aumentassem seu poder de decisão, para,<br />
então, agirem sobre suas próprias mudanças. 20<br />
A descrição das oito aulas é apresentada<br />
a seguir:<br />
Aula 1: Como está seu peso? Calcule e<br />
classifique seu IMC.<br />
Nessa aula, os alunos aprenderam a calcular<br />
o IMC e a classificá-lo, consultando os dados<br />
da tabela da Must et al. 19 para saberem se<br />
estavam dentro da classificação de sobrepeso<br />
(IMC > P85) ou obesidade (IMC > P95).<br />
Aula 2: Consumo dos macronutrientes<br />
em proporções adequadas.<br />
O objetivo de passar as proporcionalidades<br />
de cada macronutriente (50% a 60%<br />
de carboidratos, 20% a 30% de lipídios e 10%<br />
a 15% de proteínas) é de ensinar aos adolescentes<br />
a importância de cada um no organismo,<br />
mostrando suas diferentes funções. 21<br />
Aula 3: Qual a importância dos<br />
micronutrientes?<br />
Foram selecionados alguns micronutrientes<br />
(cálcio, ferro, zinco, magnésio, tiamina,<br />
riboflavina, niacina e vitamina D) para uma<br />
abordagem sobre sua importância nessa fase de<br />
crescimento e desenvolvimento. 22<br />
Aula 4: Consumo médio de calorias,<br />
distribuídas pelas refeições.<br />
Foi utilizado o aporte calórico recomendado<br />
pela Recommended Dietary Allownaces,<br />
23 sendo 2.200 kcal para meninas, entre 11<br />
e 18 anos, 2.500 kcal para meninos, entre 11<br />
e 14 anos, e 3.000 kcal para meninos, entre<br />
15 a 18 anos. As distribuições das refeições<br />
seguidas foram sugeridas por Philippi et al., 21<br />
mostrando que é possível realizar até seis refeições<br />
ao dia. Nessa aula, focou-se a importância<br />
da distribuição e da não-realização de<br />
lanches extras.<br />
Aula 5: Refeição versus lanche.<br />
Geralmente, os lanches são ricos em<br />
carboidratos simples e gorduras saturadas,<br />
enquanto a refeição consegue ter equilíbrio<br />
entre macro e micronutrientes. Nessa aula,<br />
utilizou-se o exemplo de um cachorro-quente<br />
completo e uma refeição equilibrada.<br />
Aula 6: Fome versus apetite.<br />
Foram abordadas as definições de fome<br />
e apetite para que os adolescentes fizessem<br />
um autoquestionamento sobre seu próprio<br />
comportamento alimentar.<br />
Aula 7: Avalie seu alimento.<br />
Alertar os adolescentes sobre o que estão<br />
consumindo foi o objetivo dessa aula, e,<br />
para isso, foram solicitados os próprios rótulos<br />
de produtos alimentícios, que haviam<br />
consumido, e realizavam a avaliação dos<br />
Saúde em Revista<br />
Efeito de Aulas de Nutrição para Adolescentes<br />
25
SIMONE CARDOSO FREIRE, ROBERTO FERNANDES DA COSTA<br />
nutrientes contidos assim como a relação das<br />
calorias e a proporcionalidade para a respectiva<br />
refeição.<br />
Aula 8: Entendendo a pirâmide dos<br />
alimentos.<br />
Os adolescentes foram orientados a seguir<br />
a pirâmide com a finalidade de obtenção de<br />
uma alimentação proporcional nas necessidades<br />
para macro e micronutrientes. 21 A análise estatística<br />
contou com a utilização do teste quiquadrado<br />
para comparação da proporção de<br />
adolescentes em cada condição do estado nutricional<br />
antes e após a intervenção. A significância<br />
estatística adotada foi de p < 0,05.<br />
A realização desse estudo obedeceu aos<br />
princípios éticos para pesquisa envolvendo<br />
seres humanos, conforme resolução CNS<br />
196/96.<br />
RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />
A tabela 1 apresenta o número de alunos<br />
matriculados em cada uma das escolas<br />
participantes do estudo, bem como a proporção<br />
de alunos em sobrepeso e obesidade na<br />
fase inicial do estudo. Dos adolescentes avaliados<br />
nessa fase, 48,7% apresentavam obesidade,<br />
e 51,3%, sobrepeso.<br />
Após a realização das oito aulas de nutrição,<br />
pode-se observar que houve redução<br />
no número de adolescentes em sobrepeso e<br />
obesos, bem como aumento do número de<br />
adolescentes eutróficos (Tabela 2).<br />
DISCUSSÃO<br />
Tem sido freqüente a constatação de<br />
altos índices de excesso de gordura corporal<br />
Tabela 1. Número e proporção de alunos com sobrepeso e obesidade para cada centro educacional<br />
da região de Osasco.<br />
Centro educacional *Alunos matriculados Sobrepeso Obesidade Total<br />
Ciclos III e IV<br />
A 258 28 (10,8%) 17 (6,6%) 45 (17,7%)<br />
B 232 13 (5,6%) 32 (13,8%) 45 (19,4%)<br />
C 205 27 (13,2%) 14 (6,8%) 41 (20%)<br />
D 482 41 (8,5%) 35 (7,3%) 76 (15,8%)<br />
E 316 29 (9,2%) 33 (10,4%) 62 (19,6%)<br />
Total 1.493 138 (9,2%) 131 (8,8%) 269 (18%)<br />
* Fonte: secretária dos centros educacionais (1 o semestre de 2001).<br />
Tabela 2. Resultados absolutos e relativos para as classificações do estado nutricional no início e<br />
no final da intervenção.<br />
Sobrepeso Obesidade Eutrofia<br />
Fases Inicial Final Inicial Final Inicial Final<br />
n (%) 138 (9,2%) 121 (8,1%) 131(8,8%) 125 (8,4%) 0 (0%) 23 (1,5%)<br />
p 0,167 0,666 0,000<br />
26<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 23-29, 2007
SIMONE CARDOSO FREIRE, ROBERTO FERNANDES DA COSTA<br />
(sobrepeso e obesidade) em estudos realizados<br />
com adolescentes. 3<br />
No presente estudo, dos 1.493 alunos<br />
avaliados, 18% apresentaram excesso de gordura<br />
corporal, sendo 9,2% de sobrepeso e<br />
8,8% de obesidade, ou seja, desses adolescentes,<br />
51,1% estavam entre P85 e P95 do IMC<br />
por idade e sexo, e 48,9%, acima do P95.<br />
Estudo realizado por Frutuoso et al. 24 com 157<br />
crianças e adolescentes, entre 7 e 14 anos de<br />
idade, matriculados em um Centro de Juventude<br />
da cidade de São Paulo, encontrou 23,4%<br />
dos sujeitos com excesso de gordura corporal,<br />
entretanto, em proporções diferentes das encontradas<br />
na região de Osasco, 77,7% com<br />
sobrepeso e 22,3% com obesidade. Essa diferença,<br />
em parte, pode ser explicada pelo fato<br />
de o estudo de São Paulo ter utilizado os valores<br />
de corte propostos por Cole et al., 25 pois,<br />
comparados aos pontos de corte propostos por<br />
Must et al., 19 há uma tendência a apresentar<br />
maior proporção de sujeitos em sobrepeso e<br />
menor em obesidade. 2<br />
Em estudos mais recentes para classificação<br />
da obesidade, Cintra et al. 26 observaram<br />
em uma amostra de 8.020 adolescentes,<br />
entre 10 e 15 anos de idade, matriculados em<br />
escolas públicas e particulares da cidade de<br />
São Paulo, 8% apresentando obesidade, distribuídos<br />
em 47,2% com obesidade leve,<br />
28% moderada e 24,8% grave, havendo uma<br />
maior tendência de maior gravidade nas escolas<br />
particulares.<br />
Segundo Costa et al., 1 a definição de<br />
sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes<br />
ainda não apresenta consenso na literatura,<br />
sendo que a variedade de métodos<br />
aplicados e os diferentes valores de corte<br />
empregados dificultam a comparação dos<br />
resultados obtidos por diferentes estudos.<br />
Independentemente dos critérios utilizados,<br />
é fato que os resultados que são encontrados<br />
em diferentes estudos, nessa faixa etária,<br />
sugere que devem ser criadas políticas de intervenção<br />
nutricional junto às escolas para<br />
viabilizar a melhora de saúde desse grupo.<br />
Nesse caso, o aconselhamento nutricional<br />
é uma das ferramentas que temos para instruir<br />
no processo de aprendizagem, pelo qual os<br />
indivíduos são efetivamente auxiliados, a selecionar<br />
e implementar novos comportamentos<br />
alimentares com o objetivo de alcançar a<br />
mudança de comportamento e não somente<br />
obter o conhecimento sobre nutrição. 20<br />
No presente estudo, dos 269 adolescentes<br />
que inicialmente apresentavam IMC elevado,<br />
23 (8,6%) haviam modificado sua condição<br />
ao final do estudo, sendo que 17<br />
(12,3%) saíram da condição de sobrepeso, e<br />
6 (4,6%), da de obesidade.<br />
Estudo de Valverde et al. 14 , utilizando<br />
intervenção dietética normocalórica com a<br />
inclusão de acompanhamento médico e psicológico,<br />
com sete visitas durante um ano,<br />
não apresentou diferença significante para a<br />
adequação do índice de massa corpórea inicial<br />
e final do grupo, ressaltando que, para o<br />
sucesso do tratamento, é importante que as<br />
visitas sejam mais regulares.<br />
Oliveira et al. 27 , acompanhando um grupo<br />
de meninas entre 14 e 17 anos de idade<br />
com IMC > P95, durante quatro meses, com<br />
atendimento multidisciplinar, incluindo<br />
nutricionista, professores de educação física<br />
e psicólogo, mostraram um resultado com<br />
40% de evasão e uma leve alteração do<br />
percentual da gravidade do IMC de 124,2 +<br />
17,8 para 119,1 + 17,4, ressaltando inúmeros<br />
motivos para a desistência do tratamento,<br />
como ansiedade para o resultado, perda de<br />
interesse pelo tratamento e motivos financeiros,<br />
evidenciando ser inviável esse tipo de<br />
tratamento a longo prazo com três visitas<br />
semanais ao centro de tratamento.<br />
Nuutinen 28 acompanhou, durante dois<br />
anos, 42 crianças e adolescentes com idade<br />
entre 6 e 16 anos, com peso relativo > 120%,<br />
com o objetivo de avaliar a eficácia do tipo de<br />
tratamento, sendo individual (grupo 1) e atendimento<br />
em grupo (grupo 2). Os valores de<br />
peso relativo do grupo 1 reduziram 16,2%,<br />
ocorrendo um leve aumento no segundo ano,<br />
Saúde em Revista<br />
Efeito de Aulas de Nutrição para Adolescentes<br />
27
SIMONE CARDOSO FREIRE, ROBERTO FERNANDES DA COSTA<br />
porém sem diferença estatisticamente significante.<br />
Já no grupo 2, não foi observada diferença<br />
estatisticamente significante entre o início<br />
e o fim do tratamento, apresentando<br />
apenas uma redução de 7,3%.<br />
Mediante tais resultados, é possível observar<br />
que novos hábitos alimentares não são<br />
incorporados em períodos curtos, portanto,<br />
propostas para diminuição da massa corporal<br />
e sua manutenção devem estar atreladas à<br />
extensão do tratamento. 29<br />
Outros aspectos importantes levantados<br />
nesse estudo para obtenção de sucesso no<br />
tratamento da obesidade são: verificar o mais<br />
cedo possível os índices de sobrepeso e realizar<br />
um trabalho preventivo, pois os melhores<br />
resultados, nesse estudo, foram com os<br />
adolescentes nessa condição; manter sempre<br />
uma conduta positiva mediante cada alteração<br />
do grupo; evitar sobrecarga de informações<br />
e estabelecer o conteúdo anotado para o<br />
grupo; ter apoio dos professores, incentivando<br />
a participação às aulas de nutrição; criar<br />
uma expectativa positiva para os alunos em<br />
relação ao resultado final.<br />
CONCLUSÕES<br />
As aulas de nutrição com enfoque na<br />
melhora do conhecimento dos adolescentes<br />
sobre hábitos alimentares, a fim de permitir<br />
que aprendam a tomar decisões corretas sobre<br />
a qualidade e a quantidade dos alimentos<br />
a serem ingeridos, mostraram que podem ser<br />
utilizadas como uma ferramenta adicional<br />
para a prevenção e o tratamento da obesidade<br />
na adolescência.<br />
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Agradecimentos<br />
À dra. Tereza Toshiko Watanabe, diretora da<br />
Divisão de Alimentação do Sesi; ao sr. Wilson<br />
José Kool Monteiro, diretor do Centro<br />
de Atividades de Osasco; aos coordenadores<br />
e professores dos centros educacionais da<br />
região de Osasco.<br />
Submetido: 14/jun./2006<br />
Aprovado: 2/maio/2007<br />
Saúde em Revista<br />
Efeito de Aulas de Nutrição para Adolescentes<br />
29
CLEITON AUGUSTO LIBARDI ET AL.<br />
ORIGINAL / ORIGINAL<br />
Comparação de Testes de 1RM e 10RMs em Homens<br />
Jovens Treinados<br />
Comparison of 1-RM and 10-RM Tests in Trained Young Males<br />
CLEITON AUGUSTO LIBARDI *<br />
Mestre em Educação Física pelo<br />
Curso de Mestrado em Educação<br />
Física – Faculdade de Ciências da<br />
Saúde (UNIMEP/SP)<br />
ÉRIKA SARITA SPILLER<br />
Professora de Educação Física pelo<br />
Curso de Educação Física –<br />
Faculdade de Ciências da Saúde<br />
(UNIMEP/SP)<br />
ADALBERTO VICENTE DE OLIVEIRA JR.<br />
Mestre em Educação Física pelo<br />
Curso de Mestrado em Educação<br />
Física (bolsista CAPES) – Faculdade<br />
de Ciências da Saúde (UNIMEP/SP)<br />
ELISANE ROSSIN PESSOTI<br />
Mestre em Fisioterapia pelo Curso<br />
de Fisioterapia – Faculdade de<br />
Ciências da Saúde (UNIMEP/SP)<br />
MARIA IMACULADA DE LIMA<br />
MONTEBELO<br />
Docente da Faculdade de Ciências<br />
Exatas e da Natureza (UNIMEP/SP)<br />
MARCELO DE CASTRO CESAR<br />
Docente do Curso de Educação<br />
Física – Faculdade de Ciências da<br />
Saúde (UNIMEP/SP)<br />
* Correspondências:<br />
R. Aquilino Pacheco, 1.717<br />
13400-000 Piracicaba/SP<br />
cleitonlibardi@terra.com.br<br />
RESUMO O objetivo deste estudo foi comparar as respostas<br />
hemodinâmicas e metabólica e a percepção subjetiva de esforço de<br />
homens jovens submetidos a testes de uma repetição máxima (1RM) e<br />
dez repetições máximas (10RMs). Quatorze indivíduos do sexo masculino,<br />
saudáveis e treinados, com idade entre 18 e 28 anos, foram submetidos<br />
a testes de 1RM e 10RMs, no exercício extensão de joelhos, nos<br />
quais foram determinadas a freqüência cardíaca (FC), a pressão arterial<br />
sistólica (PAS) e a diastólica (PAD), a concentração sérica de lactato e<br />
a percepção subjetiva de esforço (PSE). Na análise estatística, foi realizado<br />
o teste de Wilcoxon para dados pareados, adotando-se valores de<br />
p < 0,05. A carga máxima nos testes de 1RM foi maior que nos testes<br />
de 10RMs (p = 0,0009). A FC pico foi maior nos testes de 10RMs<br />
(p = 0,0002), e a PAD pós-teste foi maior nos testes 1RM (p = 0,01),<br />
não ocorrendo diferença na PAS (p = 0,30), estando todos os valores<br />
atingidos dentro de limites considerados normais no exercício. A concentração<br />
de lactato sanguíneo pós-teste (p = 0,0001) e a PSE pós-teste<br />
foram maiores nos testes de 10RMs (p = 0,02). Conclui-se que os testes<br />
de 1RM e 10RMs possuem ajustes hemodinâmicos diferentes, mas não<br />
apresentam respostas cardiovasculares excessivas em homens jovens<br />
treinados. Os testes de 1RM possuem um predomínio anaeróbio aláctico,<br />
e os testes de 10RMs possuem um predomínio anaeróbio láctico, que<br />
pode ter acarretado no aumento da percepção subjetiva de esforço.<br />
Palavras-chave TESTE DE FORÇA – FORÇA MÁXIMA – REPETIÇÕES MÁXIMAS<br />
– EXTENSÃO DE JOELHOS – HOMENS JOVENS.<br />
ABSTRACT The aim of this study was to compare hemodynamic and<br />
metabolic responses and rating of perceived exertion of young men in<br />
tests of one maximum repetition (1RM) and ten maximum repetitions<br />
(10RMs). Fourteen healthy trained males, aged 18 to 28 years, were<br />
submitted to 1-RM and 10-RM knee extensors exercise. The heart rate<br />
(HR), systolic blood pressure (SBP), diastolic blood pressure (DBP),<br />
lactate serum and rating of perceived exertion (RPE) were measured. A<br />
paired Wilcoxon test was used for statistical analysis, and value of p d”<br />
0.05 was adopted. The maximum load was greater in 1 RM than in 10<br />
RMs (p = 0.0009). The HR peak was greater in 10RMs (p = 0.0002)<br />
and the DBP pos-test was greater in 1RM (p = 0.01), without significant<br />
differences in SBP (p = 0.30). All the values were considered normal in<br />
exercise. The lactate serum (p = 0.0001) and RPE pos-test (p = 0.02),<br />
were greater in 10RMs. We concluded that 1RM and 10RMs have<br />
different hemodynamic responses, but the cardiovascular responses<br />
aren’t excessive in trained young men. In 1RM, the predominant source<br />
of energy is high-energy phosphate and in 10RMs the predominant<br />
source of energy is anaerobic glycolysis, which may have provoked the<br />
increase in the perceived exertion rate.<br />
Keywords STRENGTH TESTING – MAXIMAL STRENGTH – REPETITION MAXIMUM<br />
– KNEE EXTENSORS – YOUNG MEN.<br />
Saúde em Revista<br />
Comparação entre Testes de 1RM e 10RMs<br />
31
CLEITON AUGUSTO LIBARDI ET AL.<br />
INTRODUÇÃO<br />
O treinamento de força muscular consiste<br />
em um importante auxílio para a melhora<br />
da aptidão física das pessoas, cujos benefícios<br />
têm sido cada vez mais evidenciados na<br />
promoção da saúde. 1.<br />
Para a elaboração de um treinamento de<br />
força, é importante a avaliação da força muscular,<br />
para informar os efeitos do treinamento<br />
e proporcionar condições para uma prescrição<br />
e um controle adequado dessa capacidade. 2.<br />
Segundo Power e Howley, 3 a avaliação<br />
da força muscular pode ser realizada por<br />
meio de tensiometria, dinamometria, equipamento<br />
isocinético computadorizado e testes<br />
de uma repetição máxima (1RM), os quais<br />
são mais utilizados em academias de ginástica<br />
e clubes. Os testes de 1RM implicam tentativas<br />
de levantar uma única vez um determinado<br />
peso de forma correta de acordo com<br />
uma padronização prévia.<br />
O teste deve iniciar com uma carga abaixo<br />
do nível máximo do indivíduo, de modo<br />
que, se o movimento for realizado corretamente,<br />
o peso deverá ser aumentado para a próxima<br />
tentativa até quando o indivíduo não conseguir<br />
realizar o movimento com perfeição. 4, 5<br />
McArdle et al. 6 citam que testes para a<br />
predição de 1RM são indicados para a<br />
avaliação da força muscular de adolescentes,<br />
cardiopatas, idosos e hipertensos por estimarem<br />
a carga máxima de indivíduos em esforços<br />
submáximos e por serem mais seguros<br />
para essas populações. Normalmente, o teste<br />
é realizado entre 7RMs a 10RMs, sendo que<br />
isso representa 68% de 1RM para pessoas<br />
destreinadas e 79% para treinados.<br />
Já em estudo de Medeiros et al., 7 os testes<br />
de 1RM foram utilizados na avaliação da<br />
força muscular de pacientes com insuficiência<br />
coronariana, em que não ocorreu nenhum<br />
tipo de complicação para esse grupo de indivíduos,<br />
indicando que o teste de 1RM parece<br />
seguro para essa população.<br />
Devido à carência de estudos comparando<br />
testes de 1RM com testes de 10RMs, esse<br />
estudo teve como objetivo comparar as respostas<br />
hemodinâmicas e metabólicas e a percepção<br />
subjetiva de esforço de homens jovens<br />
submetidos a testes de membros<br />
inferiores de 1RM e 10RMs.<br />
CASUÍSTICA E MÉTODOS<br />
Participaram desse estudo 14 indivíduos<br />
saudáveis do sexo masculino, com idade entre<br />
18 e 28 anos, média de 21,3 anos ± 1,5<br />
anos, peso de 74,3kg ± 9,9, estatura de<br />
174,1cm ± 7,8 e índice de massa corporal de<br />
24,2kg/m 2 ± 1,6, praticantes de atividades<br />
motoras no Centro de Qualidade de Vida<br />
(CQV) do curso de Educação Física, da Universidade<br />
Metodista de Piracicaba. Os voluntários<br />
praticavam musculação há, pelo menos,<br />
um ano, não possuíam histórico de<br />
lesões nas articulações dos joelhos e não faziam<br />
uso de recursos ergogênicos.<br />
Esse estudo faz parte do projeto de<br />
Avaliação e Treinamento Físico de participantes<br />
do Centro de Qualidade de Vida<br />
(CQV) da Universidade Metodista de Piracicaba<br />
(UNIMEP), aprovado pelo Comitê de<br />
Ética e Pesquisa da UNIMEP.<br />
Inicialmente, os voluntários foram submetidos<br />
a uma avaliação médica e a uma<br />
anamnese clínica, a qual incluía perguntas<br />
relacionadas de maneira geral à saúde e à prática<br />
de exercícios físicos. Os voluntários foram<br />
orientados a não praticar exercícios que<br />
solicitem os membros inferiores nas semanas<br />
em que os testes foram realizados, sendo eles<br />
executados com intervalo de 48 a 72 horas.<br />
Os testes de 1RM e de 10RMs foram<br />
realizados em uma cadeira extensora da marca<br />
Tônus ® , na qual os indivíduos permaneciam<br />
sentados segurando o apoio do aparelho,<br />
com inclinação de tronco a 70°, e joelho<br />
fletido em 90°. 8 Antes do início do teste, foram<br />
verificados freqüência cardíaca, pressão<br />
32<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 31-37, 2007
CLEITON AUGUSTO LIBARDI ET AL.<br />
arterial, lactato sanguíneo e percepção subjetiva<br />
de esforço. Em seguida, os indivíduos<br />
realizaram um aquecimento de dez repetições,<br />
cuja fase concêntrica durou de 1 a 2<br />
segundos com extensão máxima dos joelhos,<br />
seguido de uma fase excêntrica com duração<br />
de 3 a 4 segundos até um angulo de 90° com<br />
os dois membros simultaneamente, utilizando<br />
uma carga correspondente a 25% do peso<br />
corporal de cada indivíduo.<br />
Três minutos após o aquecimento, era<br />
iniciado o teste com carga de 50% do peso<br />
corporal do indivíduo, que executou uma<br />
repetição a partir da posição inicial nos testes<br />
de 1RM, e 60% dessa carga nos testes de<br />
10RMs, realizando a fase concêntrica até<br />
extensão completa dos joelhos com duração<br />
de 1 a 2 segundos, e a fase excêntrica com<br />
duração de 3 a 4 segundos até retornar à<br />
posição inicial. Após três minutos de recuperação,<br />
eram aumentados 3kg para, em seguida,<br />
ser realizada outra tentativa. A freqüência<br />
cardíaca, a pressão arterial e a percepção<br />
subjetiva de esforço eram determinadas após<br />
cada tentativa. Os indivíduos permaneciam<br />
sentados em repouso enquanto eram realizadas<br />
as análises.<br />
A execução de uma repetição (nos testes<br />
de 1RM) ou de dez (nos testes de 10 RMs)<br />
foi feita a cada três minutos, até que o indivíduo<br />
não conseguiu mais realizar o movimento<br />
de maneira adequada; considerou-se a<br />
última carga realizada com perfeição. Após<br />
três minutos da última execução, foi coletada<br />
mais uma amostra de sangue para análise do<br />
lactato sanguíneo.<br />
Foram determinados os maiores valores<br />
de freqüência cardíaca (FC), utilizando-se um<br />
monitor de freqüência cardíaca da marca Polar<br />
® S610, a pressão arterial sistólica (PAS) e<br />
a pressão arterial diastólica (PAD) pós-teste,<br />
aferidas pelo método auscultatório com um<br />
aparelho manual Cardiomed ® , e denominados<br />
valores de pico, ou seja, os maiores valores<br />
atingidos durante os testes. A concentração<br />
sérica de lactato foi analisada pré e três minutos<br />
após o teste por um lactímetro portátil<br />
da marca ACCUSPORT ® , e a percepção subjetiva<br />
de esforço (PSE), logo imediatamente<br />
após o término do teste, utilizando-se a escala<br />
de Borg 9 , ambos foram denominados valores<br />
pós-testes. Os resultados foram expressos<br />
em média e desvio-padrão (DP). Na análise<br />
dos dados, foram utilizados a carga máxima<br />
levantada de maneira correta, a FC pico, os<br />
valores de PAS e PAD pico, PSE pós-teste,<br />
LAC pré-teste e pós-teste, em que não foi<br />
observada distribuição normal, sendo realizado<br />
o teste não-paramétrico de Wilcoxon para<br />
dados pareados. Foram adotados, nesse estudo,<br />
valores para p < 0,05, e todos os testes<br />
foram realizados no programa estatístico<br />
Statistica 6.0.<br />
RESULTADOS<br />
A carga máxima nos testes de 1RM<br />
apresentou valores significantemente maiores<br />
que os testes de 10RMs (Tabela 1). Os valores<br />
da carga máxima nos testes de 10RMs<br />
representaram 70,6% dos valores da carga<br />
máxima atingida nos testes de 1RM.<br />
Na comparação das variáveis hemodinâmicas,<br />
foram encontradas diferenças<br />
significantes de freqüência cardíaca máxima<br />
nos testes de 10RMs em relação aos testes de<br />
1RM. Em relação à pressão arterial, maiores<br />
valores da pressão arterial diastólica pós-teste<br />
ocorreram nos testes de 10RMs, não ocorrendo<br />
diferenças significantes nos valores da<br />
pressão arterial sistólica pós-teste nos testes<br />
de 1RM e 10RMs.<br />
A concentração de lactato sanguíneo<br />
pré-teste não apresentou diferença significante<br />
entre os testes de 1RM e 10RMs, mas<br />
na fase pós-teste os valores foram significantemente<br />
maiores nos testes de 10RMs que<br />
nos testes de 1RM. Os resultados da PSE<br />
pós-teste foram significantes nos testes de<br />
10RMs (Tabela 1).<br />
Saúde em Revista<br />
Comparação entre Testes de 1RM e 10RMs<br />
33
CLEITON AUGUSTO LIBARDI ET AL.<br />
Tabela 1. Média ± desvio-padrão da média e resultados das variáveis obtidas nos testes de uma<br />
repetição máxima (1RM) e dez repetições máximas (10RMs) dos homens jovens, sendo * p < 0, 05.<br />
FC – freqüência cardíaca PAS – pressão arterial sistólica PAD – pressão arterial diastólica<br />
PSE – percepção subjetiva de esforço LAC – concentração sérica de lactato<br />
DISCUSSÃO<br />
Os testes de carga máxima podem ser<br />
muito úteis na prescrição de treinamento,<br />
porém deve-se atentar na relação entre o<br />
percentual de 1RM e o número de repetições<br />
que pode ser realizado, pois essa relação<br />
varia com a quantidade de massa muscular<br />
envolvida no exercício. 10<br />
Reynolds et al. 11 verificaram que para<br />
dez repetições máximas o percentual de 1RM<br />
é diferente de acordo com o exercício realizado<br />
70,1 % para a pressão de pernas e 75,65%<br />
para o supino reto. No presente estudo, os<br />
testes de 10RMs representaram um valor médio<br />
de 68,7 % da carga máxima do teste de<br />
1RM. Isso sugere que o exercício de cadeira<br />
extensora para indivíduos treinados pode ser<br />
utilizado de maneira eficaz para prescrição de<br />
treinamento utilizando percentual da carga<br />
máxima. McArdle et al. 6 relatam que indivíduos<br />
treinados e destreinados podem realizar 7 a<br />
10 movimentos com carga entre 68% a 79%<br />
de 1RM, ou seja, valores semelhantes aos<br />
observados nesse estudo.<br />
Os valores de freqüência cardíaca pico<br />
nos testes de 10RMs mostraram-se maiores<br />
que nos testes de 1RM. O mesmo foi demonstrado<br />
em estudo de Sale et al., 11 que verificaram<br />
valores maiores de FC durante séries com<br />
cargas submáximas até a falha voluntária em<br />
relação à execução de séries utilizando cargas<br />
de 1RM. Neste estudo, os valores médios da<br />
FC pico foram de 148 bpm para o teste de<br />
10RMs, semelhantes aos encontrados por Sale<br />
et al. 12 e Leite e Farinatti. 13<br />
Em estudo realizado por Medeiros et<br />
al., 7 com pacientes após sofrerem infarto<br />
agudo do miocárdio, foi encontrada FC pico<br />
de 90bpm nos testes de 1RM na cadeira extensora,<br />
demonstrando que os testes de 1RM<br />
são seguros para o sistema cardiovascular.<br />
Nas análises desse estudo, os testes de 1RM<br />
resultaram em valores de FC pico de<br />
118,7bpm. Segundo White, 14 a freqüência<br />
cardíaca é sensível a contrações prolongadas,<br />
principalmente quando são muito localizadas,<br />
de modo que o aumento dos batimentos<br />
acompanha o aumento do tempo em que o<br />
indivíduo permanece em atividade, estando<br />
relacionado principalmente ao número de<br />
repetições solicitadas.<br />
Lamotte et al. 15 também demonstraram<br />
em seu estudo quando compararam quatro<br />
séries de 17 repetições com 40% de 1RM com<br />
quatro séries de dez repetições com 70% de<br />
1RM, cujo trabalho com maior número de<br />
repetições foi obtido valores elevados de FC<br />
pico, o que explica a maior FC pico nos testes<br />
de 10RMs encontradas nesse estudo.<br />
34<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 31-37, 2007
CLEITON AUGUSTO LIBARDI ET AL.<br />
A avaliação da pressão arterial foi realizada<br />
pelo método auscultatório considerado<br />
ser menos preciso que os métodos invasivos,<br />
como o cateterismo intra-arterial. Este, por<br />
sua vez, pode gerar grandes riscos aos voluntários,<br />
como: hemorragia, espasmo artéria,<br />
estenose entre outros. 13 Perloff et al. 16 relatam<br />
que o cateterismo intra-arterial excederia<br />
os limites éticos científicos.<br />
A pressão arterial sistólica pico não<br />
apresentou diferenças significantes entre os<br />
testes de 1RM e 10RMs. Em ambos os testes,<br />
houve aumento da PAS pico. Em alguns<br />
indivíduos, esse aumento atingiu valores de<br />
210mmHg no teste de 10RMs bilateral, o que<br />
pode ser esperado no esforço máximo, segundo<br />
Andrade et al., 17 não excedendo os<br />
valores recomendados de 220mmHg durante<br />
a determinação de 1RM. 15<br />
A PAD pico apresentou menores valores<br />
nos testes de 10RMs em relação aos testes<br />
de 1RM, sugerindo que o exercício com<br />
pesos com mais repetições, envolvendo uma<br />
grande massa muscular, promove uma menor<br />
resistência periférica dentro das artérias após<br />
a sístole, indicando facilidade em o sangue<br />
fluir das artérias para dentro dos capilares. 6<br />
Segundo Andrade et al. 17 , a PAD não deve<br />
exceder 15mmHg dos valores de repouso, de<br />
modo que a resposta da PAD em nosso estudo<br />
pode ser considerada normal, pois em<br />
nenhum dos testes ocorreu tal aumento.<br />
Considera-se que as variáveis FC pico,<br />
PAS e PAD pico não apresentaram comportamento<br />
hiper-reativo nos testes de 1RM e<br />
10RMs, de modo que os testes não acarretaram<br />
excessiva sobrecarga ao sistema<br />
cardiovascular dos voluntários.<br />
Em relação à concentração sérica de<br />
lactato, as coletas foram realizadas antes e<br />
três minutos após o esforço, sendo que não<br />
houve diferença nos valores de lactato sanguíneo<br />
pré-teste nos testes de 1RM e 10RMs,<br />
mas os valores obtidos pós-testes foram<br />
maiores nos testes de 10RMs em relação aos<br />
de 1RM. Os níveis de lactato sanguíneo, após<br />
o esforço nos testes de 10RMs, demonstraram<br />
um predomínio do metabolismo<br />
anaeróbio láctico, e os níveis de lactato nos<br />
testes de 1 RM, próximos aos de repouso, caracterizaram<br />
um predomínio anaeróbio<br />
aláctico. 6<br />
Kraemer et al. 18 realizaram um estudo<br />
comparando as concentrações de lactato sanguíneo<br />
em um grupo, que treinou oito exercícios<br />
com três séries de 10RMs, com intervalo<br />
de um minuto, com um segundo grupo,<br />
que realizou oito exercícios com três séries<br />
de 5RMs e intervalo de três minutos. Esses<br />
estudos demonstraram que o segundo grupo<br />
que realizou intervalos mais curtos teve maiores<br />
concentrações de lactato sanguíneo, em<br />
comparação ao grupo que executou exercícios<br />
com intervalo de três minutos. Além do<br />
intervalo de descanso, os autores colocam<br />
que somente cargas mais altas não resultam<br />
em concentrações elevadas de lactato sanguíneo,<br />
e sim um número mais alto de repetições<br />
e séries mais longas, o que acarretaria<br />
em concentrações mais elevadas de lactato, o<br />
que está de acordo com nossos resultados.<br />
Ahtiainen et al. 19 verificaram aumentos<br />
das concetrações de lactato acima de<br />
13mmol/l, durante o exercício de pressão de<br />
pernas, com 8 a 12 repetições, com cinco<br />
minutos entre as séries. O presente estudo<br />
apresentou valores médios de 7,5mmol/l ao<br />
final do teste de 10RMs, demostrando que o<br />
exercício de extensão de joelhos parece promover<br />
uma menor concentração de lactato<br />
após esforço máximo.<br />
Isso também foi observado por Scott, 20<br />
cujos valores de lactato foram mais elevados<br />
quanto maior foi o grupo muscular solicitado<br />
e o tempo em que permaneceu em<br />
contração após duas séries. Na flexão do<br />
cotovelo para seis repetições, os valores<br />
foram de 7,1mmol/l; já para a pressão de<br />
pernas com dez repetições, o lactato atingiu<br />
valores de 11,5mmol/l.<br />
Saúde em Revista<br />
Comparação entre Testes de 1RM e 10RMs<br />
35
CLEITON AUGUSTO LIBARDI ET AL.<br />
As respostas fisiológicas durante o exercício<br />
também podem ser medidas pelo percentual<br />
do esforço físico, por meio de um caminho fisiológico,<br />
que transmite sinais do córtex motor<br />
ao córtex sensorial, interpretado como sensação<br />
de esforço. 21 Suminski et al. 22 avaliaram a intensidade<br />
de esforço utilizando a Escala de 0 a<br />
10; Gearhart et al. 23 utilizaram a escala de Borg<br />
de 6 a 20. Os dois trabalhos utilizaram diferentes<br />
estratégias para captação de PSE e mostraram<br />
que é viável sua utilização como<br />
quantificação da intensidade de esforço durante<br />
o treinamento com pesos. A PSE foi maior nos<br />
testes de 10RMs em relação aos de 1RM, de<br />
modo que esses resultados parecem ocorrer<br />
devido à maior concentração sérica de lactato<br />
nos testes com predomínio anaeróbio láctico,<br />
ocasionando um grande desconforto e, conseqüentemente,<br />
maior percepção de esforço.<br />
Abernethy e Wehr 21 obtiveram respostas<br />
muito baixas de lactato em esforços de 5RMs<br />
em relação a 15RMs, ao final de uma ou três<br />
séries, o que também aconteceu com testes de<br />
1RM e 10RMs. Lagally et al. 21 e Mihevic 25<br />
relatam que a PSE parece estar mais associada<br />
aos mecanismos proprioceptores e tendíneos,<br />
prováveis sinalizadores de esforço, e também<br />
afirmam que os responsáveis pela PSE são os<br />
sensores musculares (fuso muscular e órgão<br />
tendinoso de golgi) e a acidose metabólica.<br />
Moura et al. 26 observaram grande correlação<br />
entre a carga levantada no teste de 1RM e a<br />
PSE, principalmente quando a carga vai se<br />
aproximando dos valores da força máxima do<br />
indivíduo. Por esses fatores, consideramos que<br />
a maior PSE nos testes de 10RMs encontra-se<br />
dentro do esperado.<br />
CONCLUSÕES<br />
Os testes de 1RM e 10RMs, de resistência<br />
dinâmica invariável em cadeira extensora,<br />
possuem ajustes hemodinâmicos diferentes<br />
sem apresentar respostas cardiovasculares<br />
excessivas em homens jovens treinados. O<br />
estudo apresentou também diferanças nas variáveis<br />
metabólicas e na PSE, sendo que seus<br />
maiores valores foram obtidos nos testes de<br />
10RMs, indicando que essas variáveis assim<br />
como os ajustes hemodinâmicos parecem levar<br />
o indivíduo a um maior desconforto durante<br />
o teste 10RMs.<br />
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Submetido: 3/mar./2006<br />
Aprovado: 9/abr./2007<br />
Saúde em Revista<br />
Comparação entre Testes de 1RM e 10RMs<br />
37
KARLA PAIVA RIBEIRO ET AL.<br />
ORIGINAL / ORIGINAL<br />
Treinamento Muscular Inspiratório na Reabilitação<br />
de Pacientes com DPOC<br />
Inspiratory Muscle Training in Rehabilitation of COPD Patients<br />
KARLA PAIVA RIBEIRO *<br />
Mestre em Fisioterapia pela<br />
UNIMEP/SP e docente na Faculdade<br />
de Jaguariúna (FAJ/SP)<br />
ANDREZA DE TOLEDO<br />
Mestre em Fisioterapia pela<br />
UNIMEP/SP<br />
DANIELA BERETTA WHITAKER<br />
Especialista em Fisioterapia<br />
Respiratória em UTI pela<br />
Unicamp e supervisora de estágio<br />
da Faculdade de Jaguariúna<br />
(FAJ/SP)<br />
LORENA CECÍLIA VALENZUELA<br />
REYES<br />
Mestre pela UFSCar e docente na<br />
Universidade de Taubaté (Unitau/SP)<br />
DIRCEU COSTA<br />
Professor doutor do Curso de<br />
Mestrado em Fisioterapia –<br />
Faculdade de Ciências da Saúde<br />
(UNIMEP/SP)<br />
* Correspondências:<br />
R. Aquidaban, 225, ap. 133<br />
Bairro Santa Cruz<br />
14020-689 Ribeirão Preto/SP<br />
karla@costapereira.com<br />
RESUMO O objetivo do estudo foi comparar treinamento físico (TF) e<br />
reeducação respiratória (RR), associados ou não, ao treinamento muscular<br />
inspiratório (TMI) em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica<br />
(DPOC). Os 19 pacientes foram divididos em dois grupos – RR e<br />
TMI+RR – e submetidos à avaliação de espirometria, teste de caminhada<br />
de seis minutos (TC6), avaliação da sensação de dispnéia, teste<br />
incremental em esteira (TIE) e pressões inspiratória e expiratória máximas<br />
(PImáx e PEmáx). O tratamento durou seis semanas com três sessões<br />
semanais. O grupo RR realizou exercício em esteira, exercícios para<br />
membros superiores e RR. O grupo TMI+RR realizou os mesmos exercícios<br />
e TMI. Foram observados aumento do volume expiratório forçado<br />
no primeiro segundo (VEF1), ventilação voluntária máxima (VVM) e<br />
pico de fluxo (PF) na espirometria do grupo RR. Os dois grupos apresentaram<br />
aumento nas distâncias percorridas no TC6 e TIE e redução da<br />
sensação de dispnéia. Observaram-se aumentos da PImáx e PEmáx nos<br />
dois grupos, com melhora significativa da PImáx no grupo TMI+RR<br />
comparado ao grupo RR. Conclui-se que o programa de reabilitação<br />
pulmonar (PRP) melhorou a capacidade física, sensação de dispnéia e<br />
força muscular respiratória em pacientes com DPOC. A associação do<br />
TMI pode ser considerada como uma intervenção adicional, especialmente<br />
nos pacientes que apresentam fraqueza muscular respiratória.<br />
Palavras-chave REABILITAÇÃO – DPOC – EXERCÍCIOS RESPIRATÓRIOS –<br />
ESPIROMETRIA.<br />
ABSTRACT The aim of this study was to compare physical training (PT)<br />
and respiratory reeducation (RR) associated or not to inspiratory muscle<br />
training (IMT) in chronic obstructive pulmonary disease (COPD)<br />
patients. Nineteen patients were randomized in two groups, RR and<br />
IMT+RR, and submitted to an evaluation consisting of spyrometry, sixminute-walk<br />
test (6MWT), dyspnea perception, treadmill incremental<br />
test (TIT) and maximal inspiratory and expiratory pressures (MIP and<br />
MEP). The treatment was carried out for six weeks, three times per<br />
week. The RR group performed treadmill exercise, exercises for upper<br />
limbs and RR. The IMT+RR group performed the same exercises and<br />
IMT. Spyrometric values, forced expiratory volume in first second<br />
(FEV1), maximal voluntary ventilation (MVV) and peak flow (PF),<br />
increased in the RR group. Walking distances in 6MWT and in TIT<br />
increased and dyspnea perception reduced in both groups, with no<br />
differences between them. MIP and MEP increased in both groups, and<br />
MIP showed significant increase in the IMT+RR group when compared<br />
with the RR group. We conclude that pulmonary rehabilitation program<br />
(PRP) improves exercise tolerance, dyspnea perception and respiratory<br />
muscle strength in COPD patients. The association of IMT can be<br />
considered an additional intervention, especially in patients with<br />
respiratory muscle weakness.<br />
Keywords REHABILITATION – COPD – BREATHING EXERCISES – SPIROMETRY.<br />
Saúde em Revista<br />
Reabilitação Pulmonar em Pacientes com DPOC<br />
39
KARLA PAIVA RIBEIRO ET AL.<br />
INTRODUÇÃO<br />
Pacientes com doença pulmonar obstrutiva<br />
crônica (DPOC) apresentam graus variados<br />
de dispnéia e deterioração na capacidade<br />
de realizar exercícios físicos em associação<br />
às funções cardiovascular e pulmonar prejudicadas,<br />
1, 2 fatores que interferem nas atividades<br />
da vida diária. 3 A fraqueza muscular periférica<br />
e respiratória, presente nesses<br />
indivíduos, representa fator adicional na intolerância<br />
aos esforços, na dispnéia e na qualidade<br />
de vida. 1, 4<br />
A DPOC é a patologia de maior ímpeto<br />
para o desenvolvimento de programas de reabilitação<br />
pulmonar (PRP), que tem por objetivo<br />
aliviar os sintomas e otimizar a função,<br />
restaurando ao paciente o nível mais alto<br />
possível de independência funcional, por<br />
meio de exercícios de condicionamento e<br />
fortalecimento muscular. 5-7<br />
A participação no PRP oferece resultados<br />
positivos para pacientes com DPOC,<br />
como a melhora da tolerância ao exercício<br />
físico, 8, 9 redução da demanda ventilatória em<br />
esforço submáximo, melhora da eficiência do<br />
trabalho, 10 diminuição da dispnéia, 11 melhora<br />
nas atividades da vida diária e diminuição<br />
10, 12<br />
dos períodos de internação hospitalar.<br />
Esses benefícios são bem demonstrados na<br />
literatura, quando se fala em exercícios de<br />
condicionamento e fortalecimento muscular<br />
de membros superiores (MMSS) e membros<br />
inferiores (MMII).<br />
Como a fraqueza dos músculos respiratórios<br />
pode estar relacionada à redução da<br />
tolerância aos esforços, ao aumento da<br />
dispnéia e à piora na qualidade de vida, o<br />
treinamento específico dessa musculatura<br />
vem sendo estudado, mas ainda persistem<br />
dúvidas e existem controvérsias a respeito<br />
de seus efeitos. Poucos estudos foram realizados<br />
comparando o treinamento físico isolado<br />
e o treinamento físico associado ao<br />
treinamento muscular respiratório. Segundo<br />
Dekhuijzen et al., 13 essa associação potencializa<br />
os efeitos da reabilitação pulmonar.<br />
Já Larson et al. 14 não observaram melhora<br />
significativa na tolerância aos esforços e na<br />
qualidade de vida, quando adicionaram o<br />
treinamento muscular respiratório ao treinamento<br />
físico.<br />
Com base nisso, justifica-se a realização<br />
desse estudo com aplicação do treinamento<br />
muscular respiratório associado a outros<br />
componentes do PRP, como treinamento físico<br />
e reeducação respiratória, na tentativa de<br />
observar se apresenta vantagens com relação<br />
aos outros componentes isolados, uma vez<br />
que seus efeitos ainda não estão bem definidos<br />
na literatura.<br />
MATERIAL E MÉTODO<br />
Amostra<br />
O estudo foi realizado no Ambulatório<br />
de Pneumologia da Clínica de Fisioterapia<br />
da Universidade de Taubaté. Para inclusão<br />
no estudo, os pacientes deveriam apresentar<br />
DPOC moderada a grave, com VEF 1<br />
< 60%<br />
do previsto e relação VEF 1<br />
/CVF < 70%, 15<br />
estabilidade clínica, utilização de terapêutica<br />
medicamentosa prescrita pelo médico e motivação<br />
para participar do PRP. Foram excluídos<br />
pacientes que apresentassem condição<br />
que limitasse a realização de exercícios,<br />
como cardiopatia descompensada ou seqüela<br />
de doença neurológica, e pacientes que persistiam<br />
tabagistas. Os pacientes selecionados<br />
assinaram um termo de consentimento livre<br />
e esclarecido, de acordo com a resolução<br />
196/96 do Conselho Nacional de Saúde. O<br />
estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética<br />
em Pesquisa (n o 79/04).<br />
Foram incluídos no estudo 21 pacientes.<br />
Desses, dois abandonaram por desistência,<br />
sendo a amostra final composta de 19 pacientes,<br />
divididos aleatoriamente em dois grupos,<br />
denominados RR e TMI+RR. As características<br />
dos grupos com relação a sexo,<br />
idade e variáveis antropométricas e<br />
espirométricas constam da tabela 1, a seguir:<br />
40<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 39-46, 2007
KARLA PAIVA RIBEIRO ET AL.<br />
Tabela 1. Sexo, idade, variáveis antropométricas e espirométricas dos grupos reeducação respiratória<br />
e treinameno muscular inspiratório + reeducação respiratória.<br />
Avaliação<br />
Os pacientes foram submetidos à avaliação<br />
antes e após o PRP, que consistiu de<br />
espirometria, teste de caminhada de seis minutos<br />
(TC6), sensação de dispnéia, teste<br />
incremental em esteira (TIE) e força muscular<br />
respiratória.<br />
A espirometria foi realizada com o<br />
espirômetro Vitalograph 2120. Foram realizadas<br />
as manobras de capacidade vital lenta<br />
(CVL) e de capacidade vital forçada (CVF),<br />
de acordo com a padronização da ATS, 16 nas<br />
quais foram obtidos os valores de capacidade<br />
vital (CV), CVF, volume expiratório forçado<br />
no primeiro segundo (VEF 1<br />
), índice de<br />
Tiffeneau (relação VEF 1<br />
/CVF), pico de fluxo<br />
expiratório (PF) e ventilação voluntária máxima<br />
(VVM) indireta, calculada pela fórmula<br />
proposta por Bethlem. 17<br />
O TC6 foi realizado de acordo com as<br />
recomendações da ATS. 18 Os pacientes foram<br />
orientados a percorrer a maior distância possível<br />
durante seis minutos em corredor plano,<br />
com encorajamento verbal a cada momento.<br />
Os sinais vitais foram mensurados antes e<br />
após o teste. Os pacientes realizaram-no utilizando<br />
um oxímetro portátil, e a saturação<br />
periférica de oxigênio (SpO 2<br />
) e a freqüência<br />
cardíaca (FC) foram avaliadas durante todo o<br />
teste. Quando a SpO 2<br />
reduziu para valores<br />
abaixo de 88%, foi administrado oxigênio. A<br />
sensação de dispnéia foi avaliada pela escala<br />
de percepção de esforço de Borg 7 no início,<br />
a cada dois minutos e ao final do teste.<br />
O TIE seguiu o protocolo adaptado para<br />
pacientes com DPOC, empregado na Clínica<br />
de Fisioterapia Respiratória da Universidade<br />
Federal de São Carlos. 19 A velocidade inicial<br />
do teste foi de 2km/h, com incremento de<br />
0,5km/h a cada dois minutos, e a inclinação<br />
foi mantida constante em 3%. No repouso,<br />
30 segundos antes do incremento de velocidade<br />
e na recuperação, foram avaliados os<br />
sinais vitais, a SpO 2<br />
e a sensação de dispnéia<br />
pela escala de Borg. Ao final, foi anotada a<br />
distância percorrida. Quando a SpO 2<br />
reduziu<br />
para valores abaixo de 88%, foi administrado<br />
oxigênio. O teste era interrompido caso o<br />
Saúde em Revista<br />
Reabilitação Pulmonar em Pacientes com DPOC<br />
41
KARLA PAIVA RIBEIRO ET AL.<br />
paciente apresentasse dispnéia intensa, fadiga<br />
em MMII, aumento da FC para além da máxima<br />
estimada para a idade, queda da pressão<br />
arterial sistólica em mais de 20mmHg, ou<br />
aumento para acima de 250mmHg, ou ainda<br />
aumento da pressão arterial diastólica para<br />
acima de 120mmHg, tontura, palidez, ou se o<br />
paciente solicitasse.<br />
A força muscular respiratória foi avaliada<br />
pela mensuração da pressão inspiratória<br />
máxima (PImáx) e pressão expiratória máxima<br />
(PEmáx) realizadas com o manovacuômetro<br />
modelo NS 120-TRR, de acordo com as normas<br />
propostas por Black e Hyatt. 20<br />
Procedimento Experimental<br />
Os pacientes realizaram o protocolo<br />
experimental durante seis semanas, três vezes<br />
por semana.<br />
O grupo RR realizou um PRP em que<br />
cada sessão consistiu de: exercício em esteira<br />
ergométrica por 30 minutos, treinamento de<br />
MMSS com halteres por oito minutos e 15<br />
minutos de reeducação respiratória (RR).<br />
O grupo TMI+RR realizou um PRP em<br />
que cada sessão consistiu de: exercício em<br />
esteira ergométrica por 30 minutos, treinamento<br />
de MMSS com halteres por oito minutos e<br />
15 minutos de TMI com o Threshold ® IMT, da<br />
Respironics, associado à RR.<br />
Nos dois grupos, a velocidade inicial do<br />
treinamento na esteira foi 50% da velocidade<br />
atingida no TIE, com aumento semanal de<br />
0,5km/h, ou de acordo com a tolerância dos<br />
pacientes. Quando necessário, era administrado<br />
oxigênio. O treinamento de MMSS consistiu<br />
de exercícios na diagonal primitiva 21<br />
com o paciente sentado, sendo duas séries de<br />
dois minutos em cada membro. A carga inicial<br />
do treinamento foi de 0,5kg, com aumento<br />
semanal de 0,5kg, ou de acordo com a<br />
tolerância dos pacientes. Para a RR, os pacientes<br />
foram orientados quanto à realização da<br />
respiração diafragmática, e o treinamento foi<br />
realizado inicialmente com o paciente na<br />
posição semiFowler e, posteriormente, sentado.<br />
No grupo TMI+RR, a carga utilizada<br />
para o TMI foi de 40% do valor da PImáx,<br />
sendo esta reavaliada semanalmente para reajuste<br />
da carga.<br />
Análise dos Dados<br />
Para avaliar a homogeneidade entre os<br />
grupos antes do PRP, foi utilizado o teste<br />
paramétrico de comparação entre duas médias<br />
não emparelhadas com desvio-padrão desconhecido.<br />
Para avaliar os resultados antes e<br />
após o PRP em cada grupo e a comparação<br />
da variação antes e após o PRP do grupo RR<br />
com a variação do grupo TMI+RR, foi utilizado<br />
o teste não-paramétrico de Wilcoxon-<br />
Mann-Whitney. O software utilizado foi<br />
SPSS 8.0 for Windows. Considerou-se estatisticamente<br />
significante quando p < 0,05.<br />
RESULTADOS<br />
Os grupos apresentaram homogeneidade<br />
antes de iniciar o PRP.<br />
Com relação ao teste de função pulmonar,<br />
os pacientes do grupo RR apresentaram<br />
aumento significante (p < 0,05) apenas<br />
para as variáveis VEF 1<br />
(de 1,09 ± 0,41<br />
para 1,11 ± 0,38 litros), VVM (de 40 ± 15<br />
para 41 ± 14 litros) e PF (de 137 ± 68 para<br />
150 ± 75 litros/minuto), após o PRP. Os<br />
pacientes do grupo TMI + RR não apresentaram<br />
alteração significante em nenhuma<br />
variável do teste. Quando comparados os<br />
dois grupos, apenas o PF mostrou aumento<br />
significante (p < 0,05) no grupo RR.<br />
Os pacientes do grupo RR apresentaram<br />
aumento significante (p < 0,05) da distância<br />
percorrida (DP) no TC6 (de para 409 ± 160<br />
metros) e no TIE (de 408 ± 207 para 850<br />
± 380 metros) e redução significante da<br />
dispnéia no repouso (de 0,7 ± 0,9 para 0,4 ±<br />
0,6) e na mesma intensidade de esforço (de<br />
2,3 ± 0,6 para 1,2 ± 0,5) do TIE. Os pacientes<br />
do grupo TMI + RR apresentaram aumento<br />
significante (p < 0,05) da DP no TC6<br />
(de 325 ± 106 para 447 ± 115 metros) e no<br />
42<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 39-46, 2007
KARLA PAIVA RIBEIRO ET AL.<br />
TIE (de 305 ± 209 para 669 ± 373 metros).<br />
Apresentaram também redução significante<br />
(p < 0,05) da sensação de dispnéia no repouso<br />
(de 0,8 ± 0,9 para 0,2 ± 0,6) e na mesma<br />
intensidade de esforço (de 1,9 ± 0,8 para<br />
1,2 ± 0,9) do TIE e redução da FC no repouso<br />
(de 98 ± 11 para 89 ± 12 batimentos por<br />
minuto). A figura 1 mostra os valores individuais<br />
da DP no TC6 para os pacientes dos<br />
grupos RR e TMI + RR.<br />
Distância (metros)<br />
800<br />
600<br />
400<br />
200<br />
0<br />
351±114<br />
ANTES<br />
GRUPO RR<br />
409±160<br />
APÓS<br />
+55,5m<br />
0m<br />
+21m<br />
+166,5m<br />
+55,5m<br />
+148,5m<br />
-2,5m<br />
+82m<br />
+39m<br />
Figura 2. Pressão inspiratoria máxima antes e<br />
após o programa de reabilitação pulmonar nos<br />
grupos reeducação respiratória e treinameno<br />
muscular inspiratório + reeducação respiratória.<br />
Distância (metros)<br />
700<br />
600<br />
500<br />
400<br />
300<br />
200<br />
100<br />
0<br />
325±106<br />
447±115<br />
ANTES<br />
APÓS<br />
GRUPO TMI+RR<br />
+70m<br />
+13m<br />
+189m<br />
+267,2m<br />
+34,5m<br />
+179,5m<br />
+100m<br />
+22,5m<br />
+300m<br />
+9m<br />
Figura 1. Distância percorrida no teste de caminhada<br />
de seis minutos antes e após o programa<br />
de reabiliação pulmonar nos grupos reeducação<br />
respiratória e treinameno muscular inspiratório<br />
+ reeducação respiratória.<br />
Os pacientes dos grupos RR e TMI + RR<br />
apresentaram melhora significante (p < 0,05)<br />
das variáveis PImáx (de -61 ± 18 para -78 ±<br />
20cmH 2<br />
O, no grupo RR, e de -63 ± 14 para -<br />
90 ± 12cmH 2<br />
O, no grupo TMI + RR) e PEmáx<br />
(de 73 ± 31 para 88 ± 33cmH 2<br />
O, no grupo RR,<br />
e de 89 ± 20 para 98 ± 18cmH 2<br />
O, no grupo<br />
TMI + RR). Quando comparados os dois grupos,<br />
o grupo TMI + RR apresentou melhora<br />
significante da PImáx (p < 0,05). As alterações<br />
da PImáx e PEmáx podem ser visualizadas nas<br />
figuras 2 e 3, respectivamente.<br />
Figura 3. Pressão expiratória máxima antes e<br />
após o programa de reabilitação pulmonar nos<br />
grupos reeducação respiratória e treinameno<br />
muscular inspiratório + reeducação respiratória.<br />
DISCUSSÃO<br />
Pacientes com DPOC apresentam deterioração<br />
da função pulmonar e fraqueza muscular<br />
periférica e respiratória, fatores responsáveis<br />
pelo desenvolvimento de dispnéia e<br />
intolerância aos esforços, comprometendo as<br />
atividades de vida diária com prejuízo na<br />
qualidade de vida. 2, 22 Os PRPs são realizados<br />
com objetivo de reduzir sintomas, promover<br />
maior independência funcional e maior tolerância<br />
aos esforços físicos, melhorando a<br />
qualidade de vida dos pacientes. 5<br />
Diversos estudos são realizados para avaliar<br />
os efeitos dos PRPs em pacientes com<br />
DPOC, e a espirometria permanece inalterada<br />
mesmo após o tratamento. 6, 23-26 Embora tenha<br />
sido encontrado aumento significante em algu-<br />
Saúde em Revista<br />
Reabilitação Pulmonar em Pacientes com DPOC<br />
43
KARLA PAIVA RIBEIRO ET AL.<br />
mas variáveis espirométricas (VEF 1<br />
, VVM e<br />
PF) nos pacientes do grupo RR, a maioria das<br />
variáveis desse grupo e do grupo TMI+RR<br />
permaneceu inalterada, de acordo com grande<br />
parte dos registros encontrados na literatura.<br />
Cabe ressaltar que os poucos aumentos significantes<br />
encontrados não se constituem em<br />
alterações clinicamente expressivas. Carter et<br />
al. 10 observaram aumento de variáveis espirométricas,<br />
como PF, após um programa de treinamento<br />
aeróbio em pacientes com DPOC.<br />
Segundo esses autores, essa alteração pode ser<br />
conseqüente de uma redução da obstrução de<br />
vias aéreas de maior calibre com melhora da<br />
força muscular respiratória.<br />
Pode-se constatar que houve um aumento<br />
da tolerância aos esforços físicos após a realização<br />
do PRP nos pacientes dos grupos RR<br />
e TMI + RR. Esse resultado foi constatado<br />
pelo aumento significante da DP no TC6 e no<br />
TIE, apresentado pelos grupos, ratificando os<br />
6, 8, 11, 19, 25, 26<br />
estudos apresentados na literatura.<br />
Acredita-se que o treinamento físico em esteira,<br />
realizado por todos os pacientes, pode ter<br />
sido o principal fator responsável pelo aumento<br />
da tolerância ao exercício físico em nossos<br />
pacientes. Os pacientes do grupo TMI + RR<br />
apresentaram também uma redução significante<br />
da FC em repouso após o PRP, fator<br />
que demonstra uma melhora no condicionamento<br />
cardiovascular desses pacientes.<br />
Segundo Redelmeier et al., 27 um aumento<br />
de 54 metros na DP no TC6 representa<br />
uma melhora clínica em pacientes com<br />
DPOC, o que pode ser confirmado pelos nossos<br />
resultados, já que o aumento médio da<br />
DP no TC6 foi de 58 metros no grupo RR e<br />
122 metros no grupo TMI + RR.<br />
Não foram observadas diferenças<br />
significantes entre os grupos em relação à DP<br />
no TC6 e no TIE. De acordo com nossos resultados,<br />
o TMI associado ao treinamento<br />
físico não oferece benefícios adicionais na<br />
tolerância aos esforços físicos quando comparado<br />
com o treinamento físico isolado, o<br />
que está de acordo com os resultados apresentados<br />
por Larson et al. 14 No entanto, diferem<br />
dos resultados de Dekhuijzen et al., 13<br />
que demostraram que a associação do TMI<br />
ao treinamento físico resultou em melhora<br />
significativa da tolerância aos esforços quando<br />
comparado com o treinamento físico isolado.<br />
Os efeitos do TMI sobre a tolerância<br />
aos esforços físicos ainda são controversos e<br />
essas divergências de resultados demonstram<br />
a necessidade de novos estudos para se determinar,<br />
dentre outros elementos, a melhor<br />
forma e a melhor carga para treinar a musculatura<br />
respiratória.<br />
No que diz respeito à dispnéia, alguns<br />
estudos mostram sua redução após um PRP<br />
em pacientes com DPOC, 6, 11, 24 enquanto<br />
19, 23,<br />
outros estudos não mostram tal alteração.<br />
25<br />
Observou-se, em nosso estudo, redução<br />
significante na sensação de dispnéia no repouso<br />
e na mesma intensidade de esforço no<br />
TIE nos dois grupos estudados. A sensação<br />
de dispnéia na intensidade máxima do TIE<br />
não mostrou diferença significante, porém, o<br />
fato de os pacientes percorrerem uma maior<br />
distância e suportarem um maior tempo de<br />
teste com a mesma sensação de dispnéia também<br />
ajuda a demonstrar que o PRP proporcionou<br />
uma influência eficaz nesse aspecto.<br />
A melhora da força muscular inspiratória<br />
tem sido demonstrada por diversos estudos<br />
1, 4, 13, 28<br />
que avaliaram os benefícios do TMI.<br />
Os pacientes dos dois grupos apresentaram<br />
um aumento significante da PImáx após o<br />
PRP, sendo que o grupo TMI + RR apresentou<br />
melhor resultado quando comparado com<br />
o grupo RR, como já era de se esperar. Acredita-se<br />
que o aumento da PImáx no grupo RR,<br />
que não realizou treinamento específico de<br />
musculatura inspiratória, possa ter ocorrido<br />
em conseqüência de uma provável melhora da<br />
mecânica respiratória, causada pela RR, fator<br />
responsável, em parte, pela função dos músculos<br />
respiratórios, 29 ou também em decorrência<br />
do condicionamento geral do paciente. 26<br />
De acordo com Porszasz et al., 30 após o<br />
treinamento físico, existe uma redução da ven-<br />
44<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 39-46, 2007
KARLA PAIVA RIBEIRO ET AL.<br />
tilação e da frequência respiratória para um<br />
mesmo nível de exercício, com um aumento da<br />
capacidade inspiratória. Esse resultado sugere<br />
uma redução da hiperinsuflação, fator responsável<br />
pela melhora da mecânica do diafragma<br />
e, conseqüentemente, da força muscular respiratória.<br />
Apesar de termos treinado apenas os<br />
músculos inspiratórios, constatou-se aumento<br />
significante também da PEmáx nos dois grupos,<br />
confirmando a hipótese de que houve uma<br />
melhora da mecânica respiratória.<br />
CONCLUSÃO<br />
Com base nos resultados obtidos nesse<br />
estudo, é possível concluir que o PRP melhorou<br />
a tolerância aos esforços físicos, a força<br />
muscular respiratória e a sensação de<br />
dispnéia em pacientes com DPOC, consistindo<br />
em uma importante estratégia terapêutica<br />
empregada pela fisioterapia respiratória.<br />
A associação do TMI aos outros componentes<br />
do PRP, embora não tenha sido<br />
suficiente para se traduzir em melhora adicional<br />
na tolerância aos esforços físicos e<br />
sensação de dispnéia nos pacientes com<br />
DPOC, trouxe um importante benefício aos<br />
pacientes com relação à melhora da força<br />
muscular inspiratória, destacando-se como<br />
uma estratégia a ser acrescentada para pacientes<br />
que apresentem fraqueza muscular<br />
respiratória.<br />
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Submetido: 1º/jun./2006<br />
Aprovado: 19/abr./2007<br />
46<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 39-46, 2007
ALEXANDRE SABBAG DA SILVA ET AL.<br />
ORIGINAL / ORIGINAL<br />
Avaliação da Qualidade de Vida em Pacientes<br />
submetidos à Reconstrução do LCA<br />
A Research of Life’s Quality in Patients with ACL Reconstruction<br />
ALEXANDRE SABBAG DA SILVA *<br />
Fisioterapeuta, mestre em<br />
Reabilitação (Unifesp/SP) e<br />
docente das Universidades São<br />
Marcos e Guarulhos<br />
PAULO VILAS BOAS DE MIRANDA<br />
Fisioterapeuta pela Faculdade de<br />
Ciências Médicas (Unicamp/SP)<br />
JONAS FRANZOLIN SOARES<br />
Fisioterapeuta pela Faculdade de<br />
Ciências Médicas (Unicamp/SP)<br />
ARIANE AMOR<br />
Fisioterapeuta pela Faculdade de<br />
Ciências Médicas (Unicamp/SP)<br />
KATIA LEME DEMARCHI<br />
Fisioterapeuta pela Faculdade de<br />
Ciências Médicas (Unicamp/SP)<br />
SERGIO ROCHA PIEDADE<br />
Médico, doutor pela Faculdade de<br />
Ciências Médicas (Unicamp/SP)<br />
PEDRO HENRIQUE REGAZZO<br />
Fisioterapeuta, professor do Curso<br />
de Fisioterapia Aplicada à<br />
Ortopedia e Traumatologia –<br />
Faculdade de Ciências Médicas<br />
(Unicamp/SP)<br />
RESUMO O presente estudo, realizado no Ambulatório de Fisioterapia<br />
Ortopédica e Traumatológica do Hospital de Clínicas da Unicamp, teve<br />
por objetivo avaliar a qualidade de vida pós-operatória tardia de pacientes<br />
submetidos à reconstrução do Ligamento Cruzado Anterior (LCA)<br />
com o terço médio do tendão patelar ipsilateral, realizado pelo departamento<br />
de ortopedia e trauma dessa mesma instituição, no período de<br />
janeiro de 2002 a dezembro de 2004. Foram avaliados 21 pacientes do<br />
sexo masculino com idade entre 21 e 38 anos. A avaliação fundamentou-se<br />
em aspectos subjetivos, aplicação do SF-36 e escala de Lysholm,<br />
e em aspectos objetivos relativos aos testes clínicos. Conclui-se que, dos<br />
pacientes avaliados, 19% apresentaram testes clínicos positivos. Quando<br />
comparados o tempo de pós-operatório com os testes clínicos e os escores<br />
de capacidade funcional (Lysholm) com qualidade de vida (SF-<br />
36), obteve-se forte correlação positiva entre eles.<br />
Palavras-chave QUALIDADE DE VIDA – CIRURGIA – JOELHO – LIGAMENTO<br />
CRUZADO ANTERIOR.<br />
ABSTRACT According to this research, carried out at the Physical<br />
Therapy, Orthopedics and Traumatology Service of UNICAMP’s<br />
University Hospital, the objective was to measure of the post-surgical<br />
quality of life of patients with anterior cruciate ligament (ACL)<br />
reconstruction made with the center of the patellar tendon; the surgery<br />
has been made by the Orthopedics and Traumatology Department of<br />
UNICAMP between January/2002 and December/2004. Twenty-one<br />
evaluations of male patients aged 21-38 years were carried out. The<br />
evaluation was based on objective aspects, SF36 and Lysholm Scale<br />
applications and on objective aspects related to physical examinations.<br />
The conclusion of this study was that 19% of the all patients evaluated<br />
showed positive clinical tests. When comparing the post-surgery time to<br />
the clinical tests and the Lysholm scale and SF-36 applications, a strong<br />
positive correlation was obtained.<br />
Keywords QUALITY OF LIFE – SURGERY – KNEE – ANTERIOR CRUCIATE<br />
LIGAMENT.<br />
* Correspondências:<br />
R. Elba, 1.126, c. 5 – Moinho Velho<br />
04285-001 São Paulo/SP<br />
alesabbag@bol.com.br<br />
Saúde em Revista<br />
Qualidade de Vida Pós-reconstrução do LCA<br />
47
ALEXANDRE SABBAG DA SILVA ET AL.<br />
INTRODUÇÃO<br />
O joelho é a maior articulação do corpo<br />
humano, desenvolvida para suportar carga, o<br />
qual apresenta uma cinemática articular distinta<br />
e uma estrutura cápsulo-ligamentar complexa<br />
que garante sua estabilidade. Os ligamentos<br />
cruzados controlam e orientam o movimento<br />
articular, previnem deslocamentos e rotações<br />
anormais do joelho. O ligamento cruzado anterior<br />
(LCA) assim como o ligamento cruzado<br />
posterior (LCP) são estruturas extra-sinoviais<br />
e intra-articulares. Recebem essa denominação<br />
de acordo com sua inserção tibial e por cruzarem<br />
o centro do joelho. 1-3<br />
As lesões ligamentares do joelho vêm se<br />
tornando cada vez mais freqüentes, sendo um<br />
problema comumente abordado por ortopedistas<br />
e fisioterapeutas. Estudos epidemiológicos<br />
nos Estados Unidos da América relatam<br />
que a incidência de lesão do LCA é de<br />
1/30 indivíduos por ano, sendo 70% dessas<br />
lesões associadas à prática esportiva competitiva<br />
ou recreacional. No nosso meio, o futebol<br />
é a principal atividade física, que conduz<br />
a lesão desse ligamento, levando a um quadro<br />
de instabilidade crônica do joelho. 1<br />
O mecanismo de lesão mais freqüente é<br />
o torsional, que ocorre quando o corpo gira<br />
para o lado oposto do pé apoiado ao solo,<br />
determinando uma rotação externa do membro<br />
inferior, acompanhado de um discreto<br />
valgismo do joelho. Se a energia do trauma<br />
ultrapassar a capacidade visco-elástica do ligamento,<br />
ele se rompe. A lesão altera a artrocinemática<br />
tíbio-femoral, permitindo o aparecimento<br />
de episódios de subluxação,<br />
manifestado clinicamente pelos falseios do<br />
joelho. Os sinais clínicos de hemartrose aguda,<br />
dor e incapacidade funcional ocorrem<br />
poucas horas após a ruptura ligamentar. 2-6<br />
O tratamento cirúrgico é indicado principalmente<br />
para indivíduos ativos, trabalhadores,<br />
atletas profissionais ou recreacionais, cuja<br />
articulação do joelho desempenha papel fundamental.<br />
A cirurgia consiste na reconstrução<br />
ligamentar realizada com tendões autólogos,<br />
como o tendão patelar e dos músculos grácil e<br />
semitendinoso. Esse procedimento visa a restabelecer<br />
a função articular, minimizando a<br />
ocorrência de lesões secundárias. 7<br />
A evolução clínica pós-operatória tem<br />
enfoque centrado na estabilidade articular e<br />
nas avaliações subjetivas, que, muitas vezes,<br />
não identificam o verdadeiro grau de satisfação<br />
do paciente em relação às suas necessidades<br />
funcionais diárias. Portanto, uma abordagem<br />
mais ampla, correlacionando dados<br />
clínicos e cirúrgicos pode permitir uma melhor<br />
avaliação dos resultados.<br />
Esse trabalho tem por objetivo avaliar a<br />
qualidade de vida pós-operatória tardia de<br />
pacientes submetidos à reconstrução do LCA<br />
com o terço médio do tendão patelar no Hospital<br />
das Clínicas da Universidade Estadual<br />
de Campinas (HC – Unicamp), utilizando-se<br />
de uma avaliação fisioterapêutica fundamentada<br />
por aspectos subjetivos e objetivos.<br />
MATERIAL E MÉTODOS<br />
No período de janeiro de 2002 até dezembro<br />
de 2004, foram realizadas, no HC –<br />
Unicamp, 121 reconstruções do LCA com<br />
terço médio do tendão patelar. Após contato<br />
prévio, realizado pelo Serviço de Assistência<br />
Social do Hospital, 21 pacientes, todos do<br />
sexo masculino, com idade entre 21 e 38<br />
anos, média de 30,14 anos, compareceram<br />
para avaliação clínica objetiva, funcionalsubjetiva<br />
(Lysholm) e escore de qualidade de<br />
vida (SF-36). Todos os sujeitos da pesquisa<br />
foram devidamente esclarecidos sobre o objetivo<br />
do trabalho e assinaram um termo de<br />
consentimento de livre esclarecimento.<br />
O mecanismo torsional de lesão do<br />
LCA esteve presente na totalidade da amostra,<br />
entre eles 62% acometeram o membro<br />
inferior esquerdo, e 39%, o direito.<br />
Na avaliação objetiva, foram realizados<br />
os testes específicos de Lachman, gaveta<br />
anterior e pivot shit, de forma comparativa<br />
entre o joelho operado e controle, para inferir<br />
sobre a integridade do LCA. 8, 9<br />
Paralelamente, foi determinada a perimetria<br />
da coxa, utilizando fita antropométrica<br />
48<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 47-52, 2007
ALEXANDRE SABBAG DA SILVA ET AL.<br />
Sanny Medical, 2 metros, em um ponto 7 centímetros<br />
acima da interlinha articular do joelho.<br />
Essa medida permitiu avaliar o grau de hipotrofia<br />
do músculo quadríceps.<br />
Para a avaliação subjetiva, foi aplicado<br />
o SF-36 (Medical Ouctumes Study 36-Item<br />
Short-Form Health Survey). Esse questionário<br />
permite avaliar a qualidade de vida de um<br />
indivíduo. É composto de 36 itens englobados<br />
em 8 escalas (capacidade funcional, dor,<br />
estado geral de saúde, vitalidade, aspectos<br />
sociais, emocionais e físicos e saúde mental).<br />
10 Complementando essa avaliação, foi<br />
aplicada a escala de Lysholm, constituída de<br />
oito critérios, sendo três funcionais e cinco<br />
subjetivos. Este é um escore subjetivo que<br />
avalia os resultados terapêuticos da patologia<br />
ligamentar do joelho. 11<br />
RESULTADOS<br />
Quadro 1. Dados referentes aos testes de Lachman, gaveta anterior e pivot shift obtidos na avaliação<br />
objetiva.<br />
Casos<br />
Testes clínicos<br />
Lachman gaveta anterior pivot shift<br />
Perimetria<br />
operado controle operado controle operado controle operado controle<br />
1 - - - - - - 38.5 39.0<br />
2 - - - - - - 42.5 43.0<br />
3 - - - - - - 45.0 46.0<br />
4 - - - - - - 43.0 45.0<br />
5 - - - - - - 42.0 43.0<br />
6 - - - - - - 39.0 40.0<br />
7 - - - - - - 38.0 38.5<br />
8 - - - - - - 41.0 43.0<br />
9 - - - - - - 40.0 40.0<br />
10 - - - - - - 39.5 40.5<br />
11 - - - - - - 39.0 40.0<br />
12 + - + - + - 32.0 32.5<br />
13 + - + - + - 41.0 41.5<br />
14 + - + - ** - 39.0 39.0<br />
15 - - - - - - 42.0 43.5<br />
16 - - - - - - 37.0 38.0<br />
17 + - + - + - 42.0 43.0<br />
18 - - - - - - 38.5 40.0<br />
19 - - - - ** - 37.0 37.0<br />
20 - - - - - - 38.0 39.0<br />
21 - - - - - - 35.5 36.5<br />
Graduação da translação anterior da tíbia em relação ao fêmur no teste de gaveta anterior: (+) 0,5cm; (++) 1cm<br />
e (+++) 1,5cm.<br />
O teste de Lachman e pivot shift foram graduados como (+) positivo e negativo (-).<br />
** Pacientes que não cooperaram com o exame impossibilitando a realização do teste.<br />
Através dos dados descritos no quadro 1, foi constatado que 19% dos pacientes apresentaram<br />
pelo menos um dos testes positivos. A perimetria realizada no membro controle mostrou<br />
diferença superior a 1 centímetro em 19% dos casos quando comparada com o membro<br />
operado, não apresentando portanto relação entre os testes clínicos e a perimetria.<br />
Saúde em Revista<br />
Qualidade de Vida Pós-reconstrução do LCA<br />
49
ALEXANDRE SABBAG DA SILVA ET AL.<br />
Freqüência<br />
10<br />
8<br />
6<br />
4<br />
2<br />
0<br />
2<br />
6<br />
4<br />
< 60 60 |- 70 70 |- 80 80 |- 90 90 ou +<br />
Escala do SF-36<br />
Figura 1. Escala do SF-36 de uma amostra de<br />
pacientes do Ambulatório de Ortopedia e Traumatologia<br />
de Fisioterapia do HC/Unicamp, que<br />
realizaram cirurgia no joelho, entre 2002 e 2004.<br />
Freqüência<br />
10<br />
8<br />
6<br />
4<br />
2<br />
0<br />
1<br />
6<br />
Excelente Bom Regular Pobre<br />
8<br />
Escala de Lysholm<br />
Figura 2. Escala de Lysholm de uma amostra de<br />
pacientes do Ambulatório de Ortopedia e<br />
Traumatologia de Fisioterapia do HC/Unicamp, que<br />
realizaram cirurgia no joelho, entre 2002 e 2004.<br />
8<br />
6<br />
1<br />
A partir dos resultados referentes às<br />
avaliações funcional e subjetiva (SF-36 e<br />
Lysholm) foram construídas as Figuras 1 e 2<br />
respectivamente.<br />
Observando a figura 1, é possível constatar<br />
que 42% dos resultados obtidos no SF-<br />
36 foram considerados como excelente ou<br />
bom, enquanto 58% dos casos como regular<br />
ou pobre.<br />
Os resultados obtidos na avaliação funcional-subjetiva<br />
de Lysholm mostraram que<br />
66,6% dos pacientes avaliados no presente<br />
estudo apresentaram um escore classificado<br />
como pobre ou regular.<br />
Agrupando os resultados obtidos pela<br />
escala de Lysholm em bom/excelente e pobre/regular<br />
e comparando com o escore obtido<br />
no SF-36, foi visto que os dois critérios<br />
subjetivos utilizados no presente estudo<br />
apresentaram forte correlação positiva (Coeficiente<br />
de Correlação de Spearman –<br />
CCS = 0,78).<br />
A idade apresentou uma correlação negativa<br />
moderada quando correlacionada com<br />
o SF-36 (CCS = -0,51), entretanto a escala<br />
de Lysholm não apresentou diferença entre<br />
os grupos em relação à idade segundo o teste<br />
de Mann Withney - MW (p = 0,574).<br />
O tempo de espera pela cirurgia não<br />
apresentou diferença entre os grupos segundo<br />
a escala de Lysholm – MW, (p= 0,389).<br />
Também não houve discrepância entre esses<br />
grupos segundo o SF-36 (CCS = 0,03).<br />
No presente estudo não houve associação<br />
entre os testes físicos e a escala de<br />
Lysholm (teste exato de Fisher: p Lachamn<br />
=<br />
0,521, p gaveta anterior<br />
= 0,255, p pivot shift<br />
= 0,263).<br />
Porém, os pacientes que apresentaram os testes<br />
físicos de Lachman, gaveta anterior ou<br />
pivot shift positivos obtiveram um escore na<br />
escala funcional de Lysholm pobre/regular,<br />
podendo isso estar relacionado à baixa<br />
casuística desse trabalho.<br />
Entretanto, o tempo de pós-operatório<br />
apresentou diferença em relação ao teste de<br />
gaveta anterior (p = 0,012) e o pivot shift<br />
(p = 0,044); o mesmo não ocorre em relação<br />
ao teste de Lachman, que está no limite da<br />
diferença entre os grupos segundo a escala<br />
de MW (p = 0,056).<br />
Os resultados obtidos nestes testes não<br />
têm relação significativa com a idade ou tempo<br />
de espera pela cirurgia pelo teste de MW<br />
(p Lachamn<br />
= 0,419, p gaveta anterior<br />
= 0,857, p pivot shift<br />
= 0,466).<br />
DISCUSSÃO<br />
A lesão do LCA é a principal causa de<br />
instabilidade ligamentar crônica do joelho.<br />
Acomete indivíduos, na sua maioria, jovens,<br />
ativos, que, invariavelmente, encontram-se na<br />
fase mais produtiva da vida adulta. A cronicidade<br />
dessa lesão pode promover o apareci-<br />
50<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 47-52, 2007
ALEXANDRE SABBAG DA SILVA ET AL.<br />
mento de lesões secundárias, aumentando o<br />
grau de incapacidade funcional, acelerando o<br />
processo de degeneração articular. Nessa condição,<br />
o tratamento cirúrgico é realizado com<br />
o intuito de melhorar a cinemática articular,<br />
assim como a qualidade de vida do paciente.<br />
A subjetividade, caracterizada por ser o<br />
estado de saúde ou qualidade de vida um<br />
conceito compreendido a partir de uma perspectiva<br />
individual, e a multidimensionalidade,<br />
caracterizada por abranger diferentes<br />
aspectos da vida de uma pessoa, como físico<br />
e emocional, são fundamentais quando se<br />
deseja avaliar o estado de saúde de um indivíduo<br />
de forma mais abrangente. 10<br />
Barber et al. 12 realizaram uma comparação<br />
entre dois grupos tratados cirurgicamente – um<br />
com pacientes acima de 40 anos e outro com<br />
idade inferior a 40 anos. Concluíram que não<br />
existem diferenças significativas entre os dois<br />
grupos, de tal modo que a faixa etária não é uma<br />
barreira ao sucesso da reconstrução do LCA.<br />
O presente estudo constatou que o envelhecimento<br />
da população avaliada é inversamente<br />
proporcional ao escore de qualidade<br />
de vida aferido pelo SF-36, sugerindo que os<br />
indivíduos de maior idade apresentaram uma<br />
pior qualidade de vida quando comparados<br />
aos indivíduos de menor idade, contrariando<br />
os dados encontrados na literatura.<br />
Em nosso estudo, foi concluído que<br />
19% dos pacientes apresentaram alguns testes<br />
físicos positivos (Lachman, gaveta anterior<br />
e pivot shift), dados semelhantes aos dos<br />
5, 13, 14<br />
autores pesquisados.<br />
Cohen 14 encontrou correlação estatisticamente<br />
significativa, apesar de baixa, entre a<br />
graduação da manobra de Lachaman e o resultado<br />
da pontuação de Lysholm. Nesse sentido,<br />
foi encontrada tendência de piores resultados<br />
da manobra de Lachman estarem relacionados<br />
a piores resultados do questionário Lysholm.<br />
No presente estudo, não houve correlação<br />
estatisticamente significativa entre a associação<br />
dos testes físicos e a escala de<br />
Lysholm. Porém, os pacientes que apresentaram<br />
os testes físicos de Lachman, gaveta<br />
anterior ou pivot shift positivos, obtiveram<br />
um escore na escala funcional de Lysholm<br />
pobre/regular, podendo estar relacionado à<br />
baixa casuística desse trabalho.<br />
Segundo Peccin, 11 as correlações entre o<br />
questionário Lysholm e o SF-36 apresentaram<br />
significância estatística nos aspectos físicos,<br />
dor e capacidade funcional, itens avaliados<br />
tanto no questionário genérico SF-36 quanto<br />
no específico Lysholm. Em nosso estudo, encontramos<br />
situação semelhante quando agrupamos<br />
os resultados obtidos pela escala de<br />
Lysholm em bom/excelente e pobre/regular e<br />
comparamos com o escore obtido no SF-36.<br />
A percepção do estado de saúde dos pacientes<br />
bem como o impacto da doença e de<br />
seu tratamento no indivíduo são dados importantes<br />
de serem avaliados em estudos clínicos<br />
e epidemiológicos. 10 Há uma necessidade crescente<br />
de avaliarmos os indivíduos em todos os<br />
aspectos biopsicossociais, e, quando houver<br />
interesse em avaliar alguma afecção, devemse<br />
aplicar questionários específicos associados<br />
a genéricos, a fim de se ter um perfil mais verídico<br />
do estado geral de saúde do indivíduo. 11<br />
CONCLUSÃO<br />
Pelo presente estudo, conclui-se que, dos<br />
21 pacientes avaliados, a idade apresentou<br />
correlação negativa moderada com o escore<br />
de qualidade de vida aferido pelo SF-36, sugerindo<br />
que os indivíduos de maior idade de<br />
nossa amostra apresentam um baixo escore de<br />
qualidade de vida, assim como o tempo de<br />
pré-operatório não apresentou correlação com<br />
o escore de capacidade funcional de Lysholm.<br />
Quanto aos testes físicos, ressalta-se que<br />
9,5% dos pacientes não colaboraram para a<br />
realização do pivot-shift. Os 19% que apresentaram<br />
um dos testes clínicos positivos<br />
obtiveram um escore pobre ou regular na<br />
escala funcional de Lysholm.<br />
Saúde em Revista<br />
Qualidade de Vida Pós-reconstrução do LCA<br />
51
ALEXANDRE SABBAG DA SILVA ET AL.<br />
O tempo de pós-operatório apresentou<br />
forte correlação positiva com os testes clínicos,<br />
sugerindo que, nessa amostra, os indivíduos<br />
com maior tempo de cirurgia estariam<br />
mais susceptíveis a apresentarem os testes<br />
clínicos positivos no joelho operado quando<br />
comparado ao controle.<br />
Ao comparar os escores de capacidade<br />
funcional (Lysholm) com qualidade de vida<br />
(SF-36), foi obtida uma forte correlação<br />
positiva, sugerindo que, nesse estudo, os<br />
pacientes que apresentaram um bom escore<br />
de qualidade de vida também tiveram boa<br />
pontuação em sua capacidade funcional.<br />
Objetivando uma melhor interpretação<br />
dos dados desse estudo, é sugerido que esse<br />
trabalho seja utilizado como um projeto-piloto<br />
devido à limitada casuística apresentada.<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
1. Camanho GL. Patologias do joelho. 1. ed. São Paulo: Sarvier; 1996.<br />
2. Fu FH, Harner CD, Johnson DL, Miller MD, Woo SL. Biomechanics of knee ligaments: basic concepts and<br />
clinical application. Instr Course Lect 1994;43:137-48.<br />
3. Kennedy JL, Fowler PJ. Medial and anterior instability of the knee: an anatomical and clinical study using<br />
stress machines. J Bone Joint Surg Am 1971;53(7):1.257-70.<br />
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injuries in patients with traumatic knee joint disease. Clin imaging 1993;17(4):253-7.<br />
5. Regazzo PH, Aere CL, Gasparoto LF, Tavares M. Avaliação da condição pós-operatória tardia de pacientes<br />
com insuficiência do ligamento cruzado anterior. Campinas: FCM-Unicamp;2004.<br />
6. Rochwood Jr. CA, Gren DP, Bucholz RW. Fraturas em adultos. 3. ed. São Paulo: Manole Ltda.; 1994.<br />
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8. Magee DJ. Avaliação músculo esquelética. 4. ed. São Paulo: Manole Ltda.; 2005.<br />
9. Reider B. O exame físico em ortopedia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A.; 2001.<br />
10. Ciconelli RM, Ferraz <strong>MB</strong>, Santos W, Meinão I, Quaresma MR. Tradução para língua portuguesa e validação<br />
do questionário genérico de avaliação de qualidade de vida SF-36 (Brasil SF-36). Rev Bras Reumatol<br />
1999;39(3):143-50.<br />
11. Peccin MS. Questionário específico para sintomas do joelho “Lysholm Knee Scoring Scale”. Tradução e<br />
validação para a língua portuguesa [dissertação]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo – Escola<br />
Paulista de Medicina; 2001.<br />
12. Barber FA, Elrod BF, McGguire DA, Paulos LE. Is an anterior cruciate ligament reconstruction outcome age<br />
dependent? Arthroscopy 1996;12(6):720-5.<br />
13. Indelicato PA, Linton RC, Huegel M. The results fresh-frozen patellar allografts for chronic anterior cruciate<br />
ligament deficiency of the Knee. Am J Sports Med 1992;20(2):118-21.<br />
14. Cohen M. Reconstrução do ligamento cruzado anterior com o terço central do ligamento da patela – avaliação<br />
dos resultados com seguimento de dez a quinze anos [tese]. São Paulo: Universidade Federal de São<br />
Paulo – Escola Paulista de Medicina; 2001.<br />
Submetido: 14/jun./2006<br />
Aprovado: 28/maio/2007<br />
52<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 47-52, 2007
GUSTAVO CHRISTOFOLETTI ET AL.<br />
Alterações Motoras e Sensoriais na<br />
Mielomeningocele: relato de três casos<br />
Impairments in Myelomeningocele: cases report<br />
ORIGINAL / ORIGINAL<br />
GUSTAVO CHRISTOFOLETTI *<br />
Mestre em Ciências da<br />
Motricidade (Unesp/SP), especialista<br />
em Fisioterapia Aplicada à<br />
Neurologia Infantil (Unicamp/SP)<br />
e docente da Universidade<br />
Estadual de Goiás (UEG/GO)<br />
GERUZA P. BELA<br />
Especialista em Fisioterapia<br />
Aplicada à Neurologia Infantil<br />
(Unicamp/SP) e docente da<br />
Universidade Paulista (Unip/SP)<br />
REGINA C. TUROLLA<br />
Docente da Pontifícia Universidade<br />
Católica de Campinas<br />
(PUCCamp/SP)<br />
SIMONE SERRADILHA<br />
Especialista em Fisioterapia<br />
Aplicada à Neurologia Infantil<br />
(Unicamp/SP)<br />
MERLYN M. OLIANI<br />
Mestre em Ciências da<br />
Motricidade (Unesp/SP)<br />
ANTÔNIO C. QUADROS JR.<br />
Mestre em Ciências da<br />
Motricidade (Unesp/SP)<br />
* Correspondências:<br />
Rua Hilário da Silva Miranda, 118<br />
J. Novo Chapadão<br />
13070-034 Campinas/SP<br />
gustavo_physio@yahoo.com.br<br />
RESUMO INTRODUÇÃO: Definida como sendo um disrafismo medular<br />
conseqüente ao fechamento parcial do tubo neural, a mielomeningocele<br />
(MMC) apresenta alterações motoras e sensoriais responsáveis por<br />
causar déficits de equilíbrio e instabilidade postural. OBJETIVOS:<br />
Verificar as alterações motoras e sensoriais de pacientes com MMC<br />
atendidos no Ambulatório de Fisioterapia aplicada à Neurologia Infantil<br />
– HC – Unicamp, durante o ano de 2005. MATERIAIS E MÉTODOS:<br />
Foi realizada uma análise de prontuários envolvendo os seguintes itens:<br />
anamnese, desenvolvimento neuropsicomotor, dismorfismo, força e<br />
tônus muscular; reflexos superficiais e profundos; sensibilidade superficial<br />
e profunda; clônus; mobilidade; encurtamentos musculares.<br />
RESULTADOS: Três indivíduos, sendo dois do sexo feminino e um do<br />
masculino, idade média de 6,67 ± 1,15 anos, participaram dessa pesquisa.<br />
Desses, dois apresentaram diagnóstico de MMC lombar e um de<br />
MMC sacral. A anamnese apontou gestação problemática envolvendo<br />
todos os pacientes. Foi observado um maior atrasado no desenvolvimento<br />
neuropsicomotor nos casos de MMC lombar. Alterações sensoriais<br />
e motoras foram observadas em todos os participantes com menor<br />
gravidade em relação àquele com MMC sacral. CONCLUSÃO: Os<br />
pacientes com MMC lombar e sacral apresentaram alterações sensoriais<br />
e motoras. Mais estudos envolvendo essa temática são fundamentais<br />
para possibilitar uma conclusão mais minuciosa.<br />
Palavras-chave MIELOMENINGOCELE – ESPINHA BÍFIDA – DISRAFISMO ESPI-<br />
NHAL –ESTUDOS DE CASOS.<br />
ABSTRACT INTRODUCTION: Defined as a spinal cord disraphysm<br />
consequent to the partial closing of the neural tube, myelomeningocele<br />
(MMC) presents motor and sensorial impairments commonly responsible<br />
for balance and postural instability. OBJECTIVES: Verify motor and<br />
sensorial impairments in patients with MMC assisted at Unicamp’s<br />
Physical Therapy applied to Neurology Service in 2005. METHODS: For<br />
such, medical records were utilized and the following items were analyzed:<br />
neuropsychomotor development; dimorphism; muscular strength and tonus;<br />
superficial and deep reflexes; superficial and deep sensibilities; clonus;<br />
mobility; and flexibility. RESULTS: Three subjects, one male and two<br />
females, 6.67 ± 1.15 years, participated in this research. Two of them are<br />
diagnosed with lombar MMC and, the other, sacral MMC. Anamnesis<br />
usually pointed to a problema pregnancy in all cases. Lombar MMC<br />
showed to cause more neuropsychomotor delay than sacral MMC. Motor<br />
and sensorial impairments were seen in all patients, but they were less<br />
affected in sacral MMC. CONCLUSION: Both lombar and sacral MMC<br />
presented sensorial and motor impairments, variables commonly related to<br />
balance and postural instability. More studies are important to make a<br />
more accurate conclusion.<br />
Keywords MYELOMENINGOCELE – SPINA BIFIDA – SPINAL DYSRAPHISM – CASE<br />
STUDIES.<br />
Saúde em Revista<br />
Alterações Sensório-motoras na MMC<br />
53
GUSTAVO CHRISTOFOLETTI ET AL.<br />
INTRODUÇÃO<br />
Também conhecida como spina bifida<br />
cystica, a mielomeningocele (MMC) consiste<br />
em uma desordem disráfica caracterizada<br />
pelo fechamento parcial do tubo neural decorrente<br />
da proliferação inadequada de células<br />
ectodérmicas durante a terceira e a quarta<br />
semana de embriogênese. 1 Conseqüente a<br />
isso, alterações sensoriais, motoras e cognitivas,<br />
muitas vezes decorrentes da malformação<br />
de Arnold-Chiari, são comuns. 2<br />
Com incidência aproximada de quatro<br />
por mil nascidos vivos, 3 a MMC freqüentemente<br />
encontra-se associada com a malformação<br />
de Arnold-Chiari. Conforme a descrição<br />
de Chiari, a malformação do tipo I<br />
consiste no deslocamento caudal das amígdalas<br />
cerebelares por meio do forame magno; o<br />
tipo II representa uma herniação das amígdalas,<br />
verme cerebelar, quarto ventrículo e porção<br />
inferior do bulbo por meio do forame<br />
occipital; já o tipo III consiste em uma<br />
herniação do cerebelo e tronco encefálico<br />
dentro de uma meningocele cervical alta; no<br />
tipo IV, há uma hipoplasia cerebelar sem<br />
herniação. 4 Quando sintomática, tais alterações<br />
causam obstrução do fluxo do líquido<br />
cérebro-espinhal, promovendo seu acúmulo<br />
anormal na cavidade craniana. 5<br />
Em relação à hidrocefalia obstrutiva<br />
decorrente da malformação de Arnold-Chiari,<br />
comumente é observada uma hipoplasia e<br />
astrogliose cerebral, com alargamento do<br />
túber cinéreo e aumento dos ventrículos cerebrais.<br />
Existe uma alteração na concentração<br />
de diversos neurotransmissores neuropepitídicos,<br />
refletindo em distúrbio difuso da função<br />
neuronal e, possivelmente, em dificuldade<br />
de circulação dos metabólitos do cérebro<br />
hidrocefálico. 5 A disfunção do corpo caloso,<br />
muitas vezes, vem associada a déficits<br />
cognitivos, particularmente relacionados à<br />
cognição não-verbal. 5, 6<br />
As alterações motoras e sensoriais decorrentes<br />
do disrafismo medular freqüentemente<br />
promovem alterações osteomioarticulares,<br />
confinando, muitas vezes, o paciente<br />
com MMC a uma situação de exclusão social.<br />
Alterações posturais, caracterizadas, sobretudo,<br />
por hiperescoliose (na MMC lombar)<br />
ou hipercifose (nos casos de lesões<br />
torácicas), promovem instabilidade no equilíbrio<br />
do paciente. Ainda em relação às alterações<br />
motoras, segundo Bartonek et al., 7 a<br />
paresia dos músculos flexores plantares causa<br />
anteriorização da tíbia, suscitando instabilidade<br />
e movimentos compensatórios de joelho,<br />
quadril e tronco.<br />
Além dos anteriormente citados, déficits<br />
sensoriais, 7, 8 cognitivos, 9 tônicos 7 e tróficos, 9,<br />
10<br />
com processo osteoporótico 11 (envolvendo<br />
ou não subluxações de quadril) e contraturas<br />
musculares, 12 também constituem fatores que<br />
influenciam na qualidade de vida do paciente<br />
com MMC, aumentando os índices de comorbidades<br />
nessa população.<br />
Esse estudo teve como objetivo descrever<br />
as alterações motoras e sensoriais de<br />
pacientes com MMC atendidos no Setor de<br />
Fisioterapia e Terapia Ocupacional Aplicada<br />
à Neurologia Infantil do Hospital das Clínicas<br />
da Unicamp, durante o ano de 2005.<br />
MATERIAIS E MÉTODOS<br />
Esse estudo apresenta delineamento de<br />
relato de casos. A seleção dos participantes<br />
foi realizada a partir da amostra de pacientes<br />
que freqüentaram o Ambulatório de Fisioterapia<br />
e Terapia Ocupacional Aplicada à Neurologia<br />
Infantil – Hospital das Clínicas –<br />
Unicamp, no ano de 2005. Como critérios de<br />
inclusão, foram admitidos pacientes de ambos<br />
os sexos, idade entre 3 e 12 anos, e com<br />
diagnóstico de MMC comprovado pela avaliação<br />
médica. Os participantes foram classificados<br />
de acordo com a lesão topográfica<br />
instalada (MMC lombar e MMC sacral). Foi<br />
realizada uma análise de prontuários envolvendo<br />
os seguintes itens: anamnese, desenvolvimento<br />
neuropsicomotor (controle<br />
54<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 53-57, 2007
GUSTAVO CHRISTOFOLETTI ET AL.<br />
cefálico, sentar com e sem apoio, engatinhar,<br />
bipedestação e deambulação), dismorfismo,<br />
força muscular (normal ou paresia), tônus<br />
muscular (normal, hipotonia ou hipertonia);<br />
reflexos superficiais (palmo-mentoniano,<br />
cutâneo-plantar) e profundos (bicipital, tricipital,<br />
estiloradial, patelar, aquileu e<br />
abdutor); sensibilidade superficial e profunda<br />
(normal, hipoestesia ou hiperestesia); clônus<br />
(presente e ausente); mobilidade (normal ou<br />
diminuída); encurtamentos musculares. A<br />
avaliação, previamente realizada, foi realizada<br />
em ambiente calmo, com a presença do<br />
cuidador responsável, e sem interferência de<br />
fatores externos.<br />
Os responsáveis legais assinaram um<br />
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido<br />
baseado na resolução 196/96 do Ministério<br />
da Saúde, permitindo a utilização dos dados<br />
dessa pesquisa.<br />
RESULTADOS<br />
Quatro pacientes com diagnóstico de<br />
MMC foram atendidos no Ambulatório de<br />
Fisioterapia e Terapia Ocupacional Aplicada<br />
à Neurologia Infantil da Unicamp, no ano de<br />
2005. Desses, um foi excluído da amostra<br />
por apresentar diagnóstico associado de paralisia<br />
cerebral. Dados dos pacientes referentes<br />
à idade, a gênero e à lesão topográfica, encontram-se<br />
na tabela 1.<br />
Pacientes com MMC Lombar<br />
Em relação à anamnese, foram observados<br />
problemas gestacionais em ambos os<br />
casos: gestação não-planejada, histórico de<br />
abortos, movimentos fetais tardios e Apgar<br />
baixo nos primeiros cinco minutos. Em um<br />
dos casos, houve uma infecção urinária associada<br />
à gravidez, com internação hospitalar<br />
em decorrência de sepse, pneumonia, hiponatremia,<br />
hipotassemia, choque hemorrágico<br />
e insuficiência renal da criança.<br />
O desenvolvimento neuropsicomotor<br />
ocorreu com atraso. O sustento cefálico<br />
aconteceu por volta dos oito meses; o sentar<br />
com apoio só foi possível após os dois anos.<br />
Apenas um dos pacientes conseguiu<br />
engatinhar (aos dois anos e quatro meses). A<br />
deambulação também foi realizada por apenas<br />
um paciente. Tal fato iniciou-se após os<br />
cinco anos de idade, com auxílio de órteses<br />
de estabilização joelho-tornozelo-pé (órtese<br />
do tipo KAFO – knee-ankle-foot orthosis).<br />
As alterações dismórficas basearam-se<br />
no aumento do perímetro encefálico (conseqüente<br />
à hidrocefalia obstrutiva) e na<br />
hipotrofia dos membros inferiores (MMII). A<br />
busca pelos estímulos auditivos e visuais<br />
apontou para uma possível preservação dos<br />
músculos oculares e do sistema auditivo.<br />
Ambos os pacientes apresentaram<br />
hipoestesia superficial e profunda nos MMII,<br />
a partir do segmento L1. Foi observada<br />
paresia dos músculos inervados pelos segmentos<br />
L2-L5. Os reflexos superficiais nos<br />
MMII estavam hipoativos, com ausência do<br />
sinal cutâneo plantar em extensão (sinal<br />
patognomônico de Babinski). Em apenas um<br />
paciente, foi constatado clônus do tipo<br />
esgotável. Força muscular, reflexos e sensi-<br />
Tabela 1. Característica dos participantes da pesquisa.<br />
Saúde em Revista<br />
Alterações Sensório-motoras na MMC<br />
55
GUSTAVO CHRISTOFOLETTI ET AL.<br />
bilidade dos membros superiores (MMSS)<br />
não estavam alterados.<br />
Os pacientes apresentaram diminuição<br />
da mobilidade de tronco com predominância<br />
do segmento lombar. Houve um maior comprometimento<br />
dos movimentos de flexão<br />
(ventral e lateral). Movimentos pélvicos em<br />
retroversão foram também afetados, bem<br />
como a flexão plantar e dorsal do tornozelo.<br />
Os principais músculos encurtados foram:<br />
tríceps sural, grácil e isquitibiais.<br />
Paciente com MMC Sacral<br />
A gestação envolvendo o paciente com<br />
MMC sacral foi menos problemática em relação<br />
aos casos envolvendo os sujeitos com<br />
MMC lombar. Apesar da idade materna<br />
avançada, o parto foi do tipo cesariana, sem<br />
intercorrências. O Apgar foi nove no primeiro<br />
minuto e dez no quinto.<br />
O desenvolvimento neuropsicomotor<br />
ocorreu com pouco atraso: o sustento<br />
cefálico ocorreu aos três meses de vida; o<br />
sentar com apoio, aos oito; com um ano, o<br />
paciente engatinhava; a bipedestação ocorreu<br />
com um ano e cinco meses; a deambulação<br />
independente, após dois anos de idade.<br />
As alterações dismórficas caracterizaram-se<br />
por uma leve hipotrofia dos MMII.<br />
Assim como nos pacientes com MMC lombar,<br />
a busca pelos estímulos auditivos e visuais<br />
apontou para uma possível preservação<br />
dos músculos oculares e do sistema auditivo.<br />
O segmento lombar encontrava-se com sensibilidades<br />
superficial e profunda preservadas.<br />
Não houve alteração no tônus muscular.<br />
Foi constatada uma leve paresia de alguns<br />
músculos inervados pelo quinto segmento<br />
lombar (flexores dorsais e plantares de tornozelo).<br />
Os reflexos dos MMII encontravam-se<br />
hiperativos, com ausência do sinal cutâneo<br />
plantar em extensão e clônus. Força muscular,<br />
reflexos e sensibilidade dos MMSS estavam<br />
inalterados.<br />
Em relação à amplitude de movimento<br />
(ADM), foi observada uma diminuição de<br />
mobilidade de tronco (todos os movimentos<br />
da região lombo-sacra). O tornozelo encontrou-se<br />
com ADM limitada, especialmente<br />
para flexão dorsal. Os encurtamentos musculares<br />
predominantes envolviam os seguintes<br />
músculos biarticulares: tríceps sural, iliopsoas<br />
e isquiotibiais.<br />
DISCUSSÃO<br />
Os resultados encontrados apontaram um<br />
desempenho motor mais deficiente nas crianças<br />
com MMC lombar em relação àquela com<br />
MMC sacral, concordando com resultados<br />
preliminares da literatura. 13, 14 O aparecimento<br />
de sinais de “liberação piramidal” com sinais<br />
de lesões periféricas aponta para a necessidade<br />
de se realizar um controle adequado da<br />
hidrocefalia obstrutiva, causa comum de hipertensão<br />
intracraniana e estresse cerebral.<br />
Estudos relatam a derivação ventrículoperitonial,<br />
caracterizada pela drenagem<br />
do líquido cérebro-espinhal à cavidade peritoneal,<br />
como sendo um procedimento adequado,<br />
com respostas benéficas imediatas. Especificamente<br />
nos casos envolvendo derivação<br />
externa, o conhecimento do mecanismo relacionado<br />
à drenagem do líquido cérebro-espinhal<br />
envolve todos os profissionais da saúde,<br />
pois a manipulação do paciente pode causar<br />
elevação da pressão intracraniana. 15<br />
Apesar do mesmo diagnóstico, os pacientes<br />
com MMC lombar apresentaram habilidades<br />
motoras diferenciadas. Tal fato remete<br />
à importância de se realizarem exames<br />
pré-natais regulares, pois, como visto, condições<br />
gestacionais mais adversas e severas<br />
podem limitar o desempenho motor da criança.<br />
Diante disso, a atuação preventiva do<br />
profissional da saúde se torna essencial para<br />
assistência da gestante e de seu filho.<br />
Os autores desse estudo acharam sensato<br />
excluir um paciente da amostra, pois o<br />
diagnóstico associado de paralisia cerebral<br />
poderia causar resultados não condizentes<br />
com aqueles com MMC isolada.<br />
56<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 53-57, 2007
GUSTAVO CHRISTOFOLETTI ET AL.<br />
Em conclusão, os pacientes com MMC<br />
lombar e sacral apresentaram alterações sensoriais<br />
e motoras, variáveis comumente relacionadas<br />
a déficits de equilíbrio nessa população.<br />
Por se tratar de relato de três casos, as<br />
conclusões não podem ser generalizadas.<br />
Diante disso, estudos transversais e longitudinais,<br />
envolvendo um maior tamanho de<br />
amostra, são fundamentais para possibilitar<br />
uma conclusão mais minuciosa.<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
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15. Vonchon M, Dhellemmes P. Cerebrospinal fluid shunt infection: risk factors and long-term follow-up. Childs<br />
Nerv Syst 2006;22(7):692-7.<br />
Submetido: 12/set./2006<br />
Aprovado: 13/jul./2007<br />
Saúde em Revista<br />
Alterações Sensório-motoras na MMC<br />
57
DIMAS DOS SANTOS ROCHA JÚNIOR ET AL.<br />
ORIGINAL / ORIGINAL<br />
Efeitos do Dimetilaminoetanol (DMAE) em<br />
Preparação Neuromuscular<br />
Effects of Dimethylaminoethanol (DMAE) in<br />
Neuromuscular Preparation<br />
DIMAS DOS SANTOS ROCHA JÚNIOR<br />
Farmacêutico e mestrando em<br />
Farmacologia (Unicamp/SP)<br />
GILDO BERNARDO LEITE<br />
Biólogo do Departamento de<br />
Farmacologia (Unicamp/SP)<br />
RESUMO O dimetilaminoetanol (DMAE) é comercializado em vários<br />
países como suplemento da dieta, amplificador da cognição e também<br />
como matéria-prima de produtos cosméticos. No Brasil, a Agência<br />
Nacional de Vigilância Sanitária aprovou o uso cosmético em 2002,<br />
visando a uma ação antiaging, após a observação do efeito colateral<br />
decorrente da administração oral do medicamento Deanol®: contração<br />
involuntária da musculatura do rosto e do pescoço. Pesquisou-se, nesse<br />
trabalho, a ação do DMAE em preparação isolada do nervo frênicodiafragma<br />
de camundongos, utilizando-se técnicas miográfica e<br />
eletrofisiológica. DMAE, sob o parâmetro miográfico, mostrou dois<br />
efeitos neuromusculares principais, dependentes da concentração: o<br />
facilitador da neurotransmissão (1mg/mL, n = 6 e 4mg/mL, n = 11) e o<br />
bloqueador neuromuscular completo aos 40 minutos (20mg/mL, n = 4).<br />
Em preparações previamente curarizadas (d-Tubocurarina, 10µg/mL) e<br />
sob estímulo direto, o DMAE (8mg/mL, n = 3) aumentou a amplitude<br />
da contração muscular (30%), mostrando uma ação direta sobre a fibra<br />
muscular, enquanto sob estímulo indireto demonstrou não possuir ação<br />
anticolinesterásica. O DMAE, sob o parâmetro eletrofisiológico, agiu<br />
pré-sinapticamente sobre a terminação nervosa, constatado pelo aumento<br />
gradativo dos valores de conteúdo quântico (1mg/mL, n = 4). As implicações<br />
desses resultados são discutidas nesse trabalho.<br />
Palavras-chave TÉCNICAS COSMÉTICAS – DEANOL® – JUNÇÃO<br />
NEUROMUSCULAR.<br />
JOSIANE BRANDOLUZI PATINI<br />
Fisioterapeuta e estagiária do<br />
Laboratório de Neurofarmacologia<br />
(Unicamp/SP)<br />
LÉA RODRIGUES-SIMIONI *<br />
Bióloga e docente responsável<br />
pelo Laboratório de<br />
Neurofarmacologia (Unicamp/SP)<br />
YOKO OSHIMA-FRANCO<br />
Farmacêutica-Bioquímica e<br />
doutora em Farmacologia<br />
(Unicamp/SP)<br />
* Correspondências:<br />
Unicamp<br />
Cidade Univers. “Zeferino Vaz”<br />
13083-970 Campinas/SP<br />
Caixa Postal 6.111<br />
simioni@unicamp.br<br />
ABSTRACT Dimethylaminoethanol (DMAE) is commercialized in several<br />
countries as diet supplement, cognition enhancer and also as substance<br />
in the constitution of cosmetic products. In Brazil, the cosmetic use was<br />
approved by the Agência Nacional de Vigilância Sanitária, in 2002,<br />
aiming at an antiaging action, after side effects from oral Deanol®<br />
administration were observed: involuntary contraction of the face and<br />
the neck muscles. The objective of this work was to study the action of<br />
DMAE in the isolated preparation of phrenic nerve-diaphragm of mice,<br />
using myographic and electrophysiological techniques. DMAE, under<br />
myographical parameter, showed two main neuromuscular and<br />
concentration-dependent effects: the facilitator (1mg/mL, n = 6 and<br />
4mg/mL, n = 11) and the neuromuscular blocker at 40 min (20mg/mL,<br />
n = 4). In pre-curarized preparations (d-Tubocurarine, 10µg/mL) and<br />
under direct stimuli, DMAE (8mg/mL, n = 3) increased the amplitude<br />
of muscular contraction (30%), showing a direct action on the muscular<br />
fiber; whereas under indirect stimuli, it showed to have no<br />
anticholinesterasic action. DMAE, under electrophysiological parameter<br />
did act presynaptically on the nervous terminal by a gradual increase of<br />
quantum content values (1mg/mL, n = 4). The implications of these<br />
results are discussed in this work.<br />
Keywords COSMETIC TECHNIQUES – DEANOL® – NEUROMUSCULAR JUNCTION.<br />
Saúde em Revista<br />
DMAE Uso Tópico: cosmético ou medicamento?<br />
59
DIMAS DOS SANTOS ROCHA JÚNIOR ET AL<br />
INTRODUÇÃO<br />
O composto químico dimetilaminoetanol<br />
(DMAE, Deanol®) apresenta a fórmula estrutural<br />
CH 3<br />
NHCH 2<br />
-(CH 2<br />
) 2<br />
OH. Sua forma de<br />
bitartarato é uma das comercializadas e apresenta<br />
a fórmula molecular C 4<br />
H 11<br />
NO.C 4<br />
H 6<br />
O 6.<br />
O Deanol®, ao ser administrado pela via<br />
oral, passa pelo trânsito gastrointestinal sem<br />
sofrer grandes alterações, atravessa a barreira<br />
hematoencefálica e aumenta os níveis de<br />
colina e, conseqüentemente, aumenta a síntese<br />
de acetilcolina (ACh) diretamente ao nível<br />
cerebral, 1-6 atuando como um precursor indireto<br />
da ACh e caracterizado como uma substância<br />
estimulante do SNC. 4<br />
O Food and Drug Administration (FDA)<br />
autorizou a comercialização do DMAE,<br />
enfocando sua efetiva ação na síndrome da<br />
fadiga crônica, depressão leve, distúrbio de<br />
comportamento associado à hiperatividade e<br />
a problemas de aprendizado, com diminuição<br />
3, 5, 7, 8<br />
da compreensão e/ou da concentração.<br />
O DMAE também tem sido usado para aliviar<br />
sintomas motores em pacientes com<br />
discinesia 9 e discinesia tardia induzida por<br />
neurolépticos, com bons resultados, segundo<br />
alguns autores, 10 ou não, segundo outros, 11<br />
além de uso em distúrbios motores associados<br />
à hipofunção colinérgica.<br />
De forma contrária, Haug e Holzgraefe<br />
(1991) 12 verificaram que adultos tratados com<br />
DMAE por dez anos consecutivos desenvolveram<br />
uma marcante síndrome de discinesia,<br />
que afeta, predominantemente, a musculatura<br />
orofacial e a respiratória. Estudos in vitro<br />
demonstraram que o DMAE produz malformações<br />
no tubo neural de embriões de camundongos,<br />
13 corroborando prévios estudos<br />
desses pesquisadores, 14 com conseqüências<br />
não conhecidas sobre conceptos humanos.<br />
Como se percebe, muitos esforços têm<br />
sido envidados para o entendimento do modo<br />
de ação desse agente, quando usado por via<br />
oral, principalmente decorrente do seu uso<br />
crônico, como abordado. Entretanto, uma<br />
nova forma de uso introduzida entre os anos<br />
1999 e 2002, o tópico, visando a um efeito<br />
tensor com ação antiaging – ainda carente de<br />
estudos que comprovem a eficácia —, teve<br />
aprovação do FDA 15, 16 e, posteriormente,<br />
também no Brasil, da Agência Nacional de<br />
Vigilância Sanitária (Anvisa), conforme a<br />
Resolução – RDC 178, publicada no Diário<br />
Oficial de 18 de junho de 2002.<br />
Uma vez que estudos do uso tópico do<br />
DMAE ainda são raros, nesse trabalho, pesquisaram-se<br />
os efeitos do DMAE em preparações<br />
neuromusculares isoladas (simulando o<br />
uso tópico desse agente em formulações cosméticas),<br />
para verificar seu espectro de ação<br />
farmacológica na fibra muscular esquelética.<br />
MATERIAL E MÉTODOS<br />
Animais<br />
Utilizaram-se camundongos Swiss fornecidos<br />
pela Central de Bioterismo<br />
(Unicamp), mantidos no biotério do Departamento<br />
de Farmacologia (Unicamp), com peso<br />
entre 25g e 30g, e recebendo ração e água ad<br />
libitum. A pesquisa teve aprovação da Comissão<br />
de Ética na Experimentação Animal<br />
(CEEA-IB-Unicamp), sob protocolo 630-3.<br />
Material<br />
Adquiriu-se o bitartarato de dimetilaminoetanol,<br />
doravante referido apenas como<br />
DMAE, do Laboratório Galena, São José do<br />
Rio Preto, SP.<br />
Solução Nutritiva<br />
Solução de Tyrode (mM): NaCl 137;<br />
KCl 2,7; CaCl 2<br />
1,8; MgCl 2<br />
0,49; NaH 2<br />
PO 4<br />
0,42; NaHCO 3<br />
11,9 e glicose 11,1.<br />
Técnica Miográfica: preparação nervo<br />
frênico-diafragma (NFD) de camundongo<br />
Camundongos foram sacrificados pela<br />
secção e sangria dos vasos cervicais, após<br />
anestesia com hidrato de cloral 10% (300mg/<br />
kg, i.p.). A preparação – retirada segundo<br />
60<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 59-68, 2007
DIMAS DOS SANTOS ROCHA JÚNIOR ET AL.<br />
técnica para rato descrita por Bülbring<br />
(1946) 17 – colocada em cuba contendo 5mL<br />
de solução de Tyrode, presa nos músculos da<br />
costela por ganchos existentes na base da<br />
cuba, mantida à temperatura de 37ºC e<br />
aerada com carbogênio (mistura de 95% O 2<br />
e<br />
5% CO 2<br />
), recebeu vários tratamentos, conforme<br />
descritos a seguir. O acoplamento entre o<br />
transdutor isométrico Load Cell BG-10 GM<br />
e o fisiógrafo Gould Universal Amplifier<br />
Model RS 3400 permitiu o registro da força<br />
de contração muscular, de preparações submetidas<br />
à tensão constante de 5g/cm e à<br />
estimulação indireta (nervo frênico) gerada<br />
por estimulador S48F (Grass Instruments), de<br />
0,2s de duração e 0,1Hz de freqüência. Após<br />
a estabilização da preparação, adicionaram-se<br />
ao banho 1,25mg; 5mg; 20mg; 40mg; 60mg<br />
e 100mg de DMAE solubilizados em solução<br />
nutritiva de Tyrode, perfazendo as concentrações<br />
finais de 0,25mg/mL; 1mg/mL; 4mg/mL;<br />
8mg/mL; 12mg/mL e 20 mg/mL, respectivamente.<br />
Todo protocolo experimental teve duração<br />
de 120min. Obteve-se a curva concentração-resposta<br />
e comparou-se com a condição<br />
controle (solução de Tyrode apenas). Algumas<br />
preparações curarizadas com d-Tubocurarina<br />
(d-Tc, 10µg/mL) receberam simultaneamente<br />
estímulos direto (2s, 80 V) e indireto e foram,<br />
então, tratadas com DMAE 8mg/mL.<br />
Técnica Eletrofisiológica<br />
Retirou-se o músculo diafragma cortado<br />
ou cut muscle com seu nervo frênico (preparação<br />
NFD de camundongos descrita no item<br />
2.4.1.), segundo a técnica de Barstad e<br />
Lilleheil (1968) 18 adaptada para camundongos.<br />
Essa preparação é usada para impedir a<br />
propagação do potencial de ação muscular,<br />
evitar o processo contrátil e permitir a captação<br />
do potencial de placa terminal. Fixou-se<br />
o conjunto (músculo cortado e nervo) horizontalmente<br />
por meio de alfinetes, em cuba<br />
revestida de resina e silicone (Dow Corning-<br />
Sylgard) e preenchido com solução nutritiva<br />
de Tyrode. Manteve-se a temperatura em torno<br />
de 30ºC a 34ºC com o auxílio de uma<br />
lâmpada de raios infravermelhos, e aerou-se<br />
a preparação com carbogênio. Observaram-se<br />
as preparações (antes e após a adição de<br />
DMAE 1mg/mL, concentração eleita após<br />
ensaios-piloto com concentrações menores,<br />
que não alteraram a resposta basal), por 60<br />
minutos (tempo ideal na técnica eletrofisiológica<br />
para a medida de biopotenciais, cuja<br />
captação é muito delicada e trabalhosa, diferentemente<br />
da técnica miográfica, que é robusta<br />
e permite ensaios de longa duração),<br />
com lupa (Wild m7 S-Switzerland) de capacidade<br />
para aumentos até 40 vezes. Utilizou-se<br />
a técnica de Fatt e Katz (1951) 19 com<br />
introdução de microeletrodos de vidro intracelularmente<br />
sobre as fibras musculares superficiais,<br />
com o auxílio de micromanipulador<br />
Leitz, para a obtenção do potencial de placa<br />
terminal (PPT), registrado on-line, usando-se<br />
o software AqDados 4 (Lynx) e armazenados<br />
em computador para posterior análise. 20<br />
Análise Estatística<br />
Os resultados foram expressos como<br />
média + erro padrão, e a significância das<br />
diferenças observadas determinada pelo teste<br />
t-Student. Considerou-se significante valor<br />
obtido com p < 0,05.<br />
RESULTADOS<br />
Estudo Miográfico<br />
Os efeitos farmacológicos mais expressivos<br />
do DMAE são mostrados na figura 1.<br />
A concentração de 20mg/mL causou 50% de<br />
paralisia em um tempo de T 50<br />
=18 ± 2,5min<br />
(n = 4). Na concentração de 12mg/mL, houve<br />
facilitação (aumento da amplitude da resposta<br />
contrátil de 43 ± 4,5%, n = 14), e, aos<br />
120min, a resposta contrátil foi de 71 ± 8%<br />
em relação ao controle. As concentrações de<br />
1mg/mL (n = 6) e 4mg/mL (n = 11) apresentaram<br />
facilitação (com aumentos de 14 ± 5 e<br />
51 ± 9,0%, respectivamente), declinando ligeiramente<br />
para 5 ± 4 e 23 ± 8%, respectiva-<br />
Saúde em Revista<br />
DMAE Uso Tópico: cosmético ou medicamento?<br />
61
DIMAS DOS SANTOS ROCHA JÚNIOR ET AL<br />
mente, e mantidos até os 120min de observação.<br />
Na concentração de 0,25 mg/mL (n =<br />
6), não houve alteração significativa da resposta<br />
basal, quando comparada à condiçãocontrole<br />
de Tyrode (n = 10). Os registros<br />
miográficos comprovando os eventos farmacológicos<br />
– facilitação da neurotransmissão e<br />
bloqueio da resposta contrátil ou ausência de<br />
efeito – são mostrados na figura 2 (A, con-<br />
trole Tyrode; B, DMAE 0,25mg/mL; C,<br />
DMAE 8mg/mL; D, DMAE 12mg/mL e E,<br />
DMAE 20mg/mL). Nota-se que, após a lavagem<br />
da preparação e suposta retirada da<br />
substância, a resposta contrátil é mantida (figuras<br />
2B, C e D) ou restabelecida, mesmo<br />
tendo ocorrido total bloqueio neuromuscular<br />
durante a vigência do experimento (fig. 2E).<br />
Figura 1. Preparação nervo frênico-diafragma de camundongos, sob<br />
estímulo indireto (técnica miográfica). Curva concentração-resposta de<br />
DMAE (dimetilaminoetanol). O número de experimentos está descrito na<br />
legenda da figura.<br />
62<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 59-68, 2007
DIMAS DOS SANTOS ROCHA JÚNIOR ET AL.<br />
Figura 2. Preparação nervo frênico-diafragma de camundongos, sob estímulo indireto. Registros<br />
miográficos representativos dos principais efeitos farmacológicos de DMAE (dimetilaminoetanol), nas<br />
concentrações de (mg/mL) B, 0,25; C, 8; D, 12; E, 20; comparados ao controle A (solução Tyrode).<br />
W, lavagem da preparação.<br />
Saúde em Revista<br />
DMAE Uso Tópico: cosmético ou medicamento?<br />
63
DIMAS DOS SANTOS ROCHA JÚNIOR ET AL<br />
As preparações que foram curarizadas (d-Tc 10µg/mL, n = 3, figura 3) e simultaneamente<br />
estimuladas, direta e indiretamente, responderam de forma clássica, conforme o esperado para esse<br />
agente bloqueador não-despolarizante. A adição posterior de DMAE (8mg/mL, n = 3) não reverteu<br />
o bloqueio induzido pela d-Tc sob estímulo indireto, porém, após a lavagem da preparação, houve<br />
recobro da resposta contrátil. De forma contrária, sob estímulo direto, a adição posterior de DMAE<br />
(8mg/mL, n = 3) aumentou cerca de 30% a amplitude da resposta contrátil, assim permanecendo<br />
após a lavagem da preparação.<br />
Figura 3. Preparação nervo frênico-diafragma de camundongos, sob estímulos simultâneos indireto<br />
(I) e direto (D). Registro miográfico representativo de ensaios em preparações previamente<br />
curarizadas (n = 3). Seta delgada, momento de adição da d-Tubocurarina (10 µg/mL) e decorrente<br />
bloqueio neuromuscular, sob estímulo indireto (I). Na vigência deste bloqueio (I), a estimulação direta<br />
(D) garante a contração muscular e após 10 min adicionou-se DMAE (dimetilaminoetanol) 8 mg/mL<br />
(seta espessa). W, lavagem da preparação.<br />
Estudo Eletrofisiológico<br />
DMAE 1mg/mL (n = 4) aumentou o conteúdo quântico de potenciais de placa terminal<br />
de células-controle, antes da adição de DMAE, de 196,7 ± 32 para, após sua adição, 281,9<br />
± 67 (tempos de 5min a 10min, *p < 0,05 em relação ao controle) e 369,8 ± 87 (tempos de<br />
30min a 60min, *p < 0,05 em relação ao controle e também ao tempo de 5min a 10min),<br />
mostrando que a liberação quântica foi progressiva (figura 4).<br />
Figura 4. Determinação do conteúdo quântico em preparações nervo frênico-diafragma de camundongos<br />
(técnica eletrofisiológica), antes (controle) e após a adição de DMAE (dimetilaminoetanol)<br />
1 mg/mL (n = 4).<br />
64<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 59-68, 2007
DIMAS DOS SANTOS ROCHA JÚNIOR ET AL.<br />
DISCUSSÃO<br />
Nesse trabalho, enfocou-se a sinapse<br />
nervo-músculo (junção neuromuscular) por<br />
ser o modelo ideal para o estudo do DMAE,<br />
em uma tentativa de melhor compreender o<br />
efeito tópico desse agente (e não o decorrente<br />
do seu uso oral), que tem sido introduzido<br />
nas formulações cosméticas com a finalidade<br />
de combater a flacidez decorrente do processo<br />
de envelhecimento da pele.<br />
O Guia para Avaliação de Segurança de<br />
Produtos Cosméticos 21 preconiza alguns testes<br />
básicos úteis para qualquer substância usada<br />
em cosmético (absorção cutânea; estudo do<br />
potencial sistêmico – via oral e testes de<br />
mutagenicidade; estudo do potencial de efeitos<br />
alergênicos e de risco irritativo – irritação<br />
primária da pele, da mucosa ou ocular), bem<br />
como testes complementares úteis em situações<br />
particulares (toxicidade subaguda; estudo<br />
do efeito na reprodução; fotomutagenicidade;<br />
irritação por efeito cumulativo; teratogenicidade,<br />
carcinogenicidade e genotoxicidade).<br />
Nesse estudo, utilizaram-se os parâmetros<br />
miográfico e eletrofisiológico para a avaliação<br />
de segurança do DMAE sob o ponto de vista<br />
farmacológico.<br />
Na condução desse estudo, foram formuladas<br />
três hipóteses baseadas no seguinte raciocínio:<br />
se uma ação que aumente a força de<br />
contração muscular e que se contraponha à<br />
paralisia muscular é esperada do DMAE, então<br />
é possível que esse agente penetre as camadas<br />
mais profundas da pele (a derme) e (1)<br />
tenha afinidade por terminações colinérgicas,<br />
seja aí recaptado como precursor da colina e<br />
aumente a síntese de acetilcolina, (ACh) a<br />
exemplo do que ocorre no sistema nervoso<br />
central. Ao ser deflagrado o impulso nervoso,<br />
muita ACh é liberada na fenda sináptica,<br />
desencadeando o processo contrátil, que<br />
passa a ser modulado pela quantidade de<br />
ACh (> quantidade de ACh > força de contração).<br />
Por outro lado, pode-se pensar em<br />
uma ação (2) envolvendo apenas a fibra<br />
muscular, como, por exemplo, o receptor<br />
rianodina, que liberaria o cálcio armazenado<br />
no retículo sarcoplasmático para o citoplasma<br />
da célula e desencadearia a contração<br />
muscular. Pode-se também pensar no<br />
(3) envolvimento de ambos – o terminal<br />
nervoso e a fibra muscular.<br />
Embora os parâmetros miográfico e<br />
eletrofisiológico não sejam preconizados pela<br />
Anvisa, esse modelo experimental respondeu<br />
às hipóteses levantadas. Dos efeitos farmacológicos<br />
mostrados pelo DMAE nos ensaios<br />
miográficos, a facilitação da neurotransmissão<br />
é o efeito desejado e não o bloqueio<br />
neuromuscular, que leva à paralisia da resposta<br />
contrátil. Assim, é importante conhecer<br />
o limite da ação farmacológica, e pode-se<br />
afirmar que concentrações excessivas de<br />
DMAE provocam efeito contrário ao desejado,<br />
em preparações in vitro. Embora essa<br />
informação deva ser cuidadosamente extrapolada<br />
para a clínica, não pode ser desconsiderada.<br />
A facilitação da neurotransmissão,<br />
visualizada pelo aumento da amplitude da<br />
resposta contrátil, e que, do ponto de vista<br />
fisiológico representa o aumento da força de<br />
contração, explicaria a sensação relatada de<br />
repuxamento da pele (efeito lifting do<br />
DMAE). O fato de a preparação responder<br />
aos estímulos evocados, após a lavagem da<br />
preparação, denota integridade funcional da<br />
resposta contrátil, mas estudos como o da<br />
análise morfológica ultra-estrutural poderiam<br />
ser úteis para avaliar a ocorrência ou não de<br />
algum tipo de dano à célula.<br />
Na vigência do efeito da d-Tubocurarina<br />
(d-Tc), que induz um bloqueio neuromuscular<br />
por tornar a membrana subsináptica<br />
menos sensível à ação despolarizante da ACh<br />
e cuja interrupção na transmissão do impulso<br />
nervoso ocorre quando o neurotransmissor<br />
não pode mais originar um potencial de placa<br />
terminal, de amplitude suficiente para deflagrar<br />
a resposta propagada, 22 o DMAE aumentou<br />
a amplitude da contração muscular sob<br />
estímulo direto, evidenciando uma ação dire-<br />
Saúde em Revista<br />
DMAE Uso Tópico: cosmético ou medicamento?<br />
65
DIMAS DOS SANTOS ROCHA JÚNIOR ET AL<br />
ta sobre a fibra muscular (justificando, mais<br />
uma vez, o efeito lifting). Contudo, esse agente<br />
não reverteu o bloqueio induzido pela d-<br />
TC, sob estímulo indireto, demostrando não<br />
possuir ação anticolinesterásica, pois, se a<br />
enzima acetilcolinesterase fosse inibida, haveria<br />
aumento da concentração de ACh na fenda<br />
sináptica, que, por sua vez, deslocaria a d-Tc<br />
dos receptores nicotínicos e reverteria, em<br />
algum grau, o bloqueio neuromuscular.<br />
Se do ponto de vista analítico a técnica<br />
miográfica oferece informações de triagem<br />
sobre o fenômeno fisiológico da contração<br />
muscular, a técnica eletrofisiológica informa<br />
sobre a neurotransmissão, graças à obtenção<br />
de biopotenciais elétricos. O parâmetro eletrofisiológico<br />
obtido nesse trabalho – o potencial<br />
de placa terminal (PPT) – representa<br />
o potencial pós-sináptico excitatório na<br />
célula muscular, que é desencadeante do<br />
potencial de ação muscular. 23 Se esse potencial<br />
de ação na fibra muscular se propagar,<br />
ocorrerá a contração muscular inviabilizando<br />
a inserção do microeletrodo de vidro. Por<br />
essa razão, utilizou-se uma fina tira da preparação<br />
nervo frênico-diafragma (cut muscle)<br />
para impedir a propagação do potencial e<br />
conseqüente contração muscular. Dessa forma,<br />
isolou-se para estudo o potencial de placa<br />
terminal, que permitiu a determinação do<br />
conteúdo quântico, uma vez que os PPTs<br />
representam as múltiplas liberações simultâneas<br />
de quanta de ACh. 24<br />
Os valores de conteúdo quântico, após a<br />
adição de DMAE à preparação, aumentaram<br />
gradativamente, mostrando claramente o<br />
envolvimento do terminal nervoso, ou seja,<br />
um evento pré-sináptico. Essa é uma informação<br />
interessante e que tem impacto sobre o<br />
uso concomitante de outro agente terapêutico,<br />
que também tem sido utilizado com fins cosméticos<br />
– o Botox® –, proveniente da toxina<br />
botulínica produzida pela bactéria Clostridium<br />
botulinum, cuja ação de clivar proteínas presentes<br />
no terminal nervoso e impedir a liberação<br />
de ACh 25, 26 é contrária ao DMAE, que,<br />
conforme resultados aqui mostrados, aumenta<br />
a liberação desse neurotransmissor.<br />
Avaliando-se os resultados em conjunto,<br />
conclui-se que o DMAE age tanto sobre o<br />
terminal nervoso colinérgico, aumentando a<br />
liberação quântica do neurotransmissor,<br />
quanto sobre a fibra muscular (por mecanismo<br />
que permanece não esclarecido), aumentando<br />
a força de contração muscular; esse<br />
efeito é progressivo e dependente da concentração,<br />
que, quando elevada, pode determinar<br />
a paralisia muscular, pelo menos observada<br />
em condições in vitro.<br />
A importância desse estudo é mostrar<br />
que o DMAE tem uma ação além-cosmética,<br />
ou seja, é um produto bioativo, que exerce<br />
efeitos sobre o organismo. Produtos cosméticos<br />
contendo ingredientes bioativos, com reconhecido<br />
mecanismo molecular, têm sido<br />
informalmente denominados cosmecêuticos,<br />
ou seja, cosméticos com propriedades terapêuticas,<br />
de combate a doenças ou curativas. 27<br />
Segundo a legislação brasileira (Lei<br />
6.360/76, que dispõe sobre a vigilância sanitária<br />
dos produtos), 28 que abrange “medicamentos,<br />
drogas, insumos farmacêuticos, correlatos,<br />
saneantes domissanitários, cosméticos,<br />
produtos de higiene pessoal e perfumes”, somente<br />
são registrados “cosméticos, perfumes<br />
e produtos de higiene pessoal” aqueles que se<br />
destinam ao uso externo com finalidades estética,<br />
protetora, higiênica ou odorífera, sem<br />
causar irritações à pele ou danos à saúde. Incluem-se,<br />
portanto, como cosméticos, os “produtos<br />
para uso externo, destinado à proteção,<br />
embelezamento das diferentes partes do corpo”;<br />
produtos de higiene, como aqueles “para<br />
uso externo, antisséptico ou não, destinados ao<br />
asseio ou desinfecção corporal”; perfumes,<br />
como “produtos de composição aromática<br />
obtida à base de substâncias naturais ou sintéticas<br />
com a finalidade de perfumar”.<br />
Embora o termo cosmecêutico não seja<br />
reconhecido pelo FDA, tampouco pela<br />
Anvisa, há de se considerar as diferenças<br />
entre um produto meramente cosmético da-<br />
66<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 59-68, 2007
DIMAS DOS SANTOS ROCHA JÚNIOR ET AL.<br />
quele que age como medicamento, como o<br />
DMAE (ou Botox®), e, portanto, deve-se<br />
assegurar sua prescrição por dermatologistas<br />
e manipulação por profissionais farmacêuticos<br />
com habilitação na área.<br />
O uso racional do DMAE deve ser avaliado<br />
pelo prescritor, uma vez que esse tipo<br />
de informação é geralmente inacessível à<br />
população, que busca tão-somente uma melhor<br />
apresentação estética. Finalmente, sugere-se<br />
que mais estudos científicos que contribuam<br />
com a dermatologia especificamente<br />
na área da cosmetologia sejam incentivados,<br />
pois a proporção de substâncias químicas<br />
presentes em uma única formulação cosmética<br />
é muito grande, aumentando possíveis<br />
interações químicas e a ocorrência de eventos<br />
inesperados.<br />
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[updated 2006 Out 30; cited 2006 Out 30]. Available in: .<br />
Submetido: 21/jun./2006<br />
Aprovado: 7/dez./2006<br />
68<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 59-68, 2007
JOÃO PAULO BORIN<br />
RESENHA / REVIEW<br />
Preparação Desportiva: fundamentos da teoria geral<br />
do treinamento desportivo<br />
Sporting Preparation: basics of the general theory of<br />
the sporting training<br />
“Teoría General Del Entrenamiento Deportivo”,<br />
de Lev Pavlovitch Matveev<br />
Barcelona: Paidotribo, 2001, 268p.<br />
34,00, ISBN 84-8019-504-5<br />
JOÃO PAULO BORIN *<br />
Docente do Curso de Mestrado em<br />
Educação Física e coordenador do<br />
Laboratório de Avaliação Física e<br />
Monitoramento do Treinamento<br />
Desportivo – LAFIMT (UNIMEP/SP)<br />
* Correspondências:<br />
Rod. do Açúcar, km 156<br />
13400-911 – Piracicaba/SP<br />
jpborin@unimep.br<br />
Antes de iniciar o trabalho aqui proposto, julga-se<br />
fundamental relatar algumas particularidades sobre o<br />
autor. Considerado a maior referência mundial no âmbito<br />
da preparação desportiva, professor e cientista emérito na<br />
área do alto desempenho, possui mais de 650 publicações<br />
científicas em todo o mundo, editadas em mais de 30<br />
países. Foi o criador do sistema de periodização e organização<br />
do treinamento desportivo nos desportos coletivos<br />
e individuais. Responsável direto pelo sucesso da ex-<br />
União Soviética, atualmente Rússia, nos últimos 50 anos,<br />
em termos de resultados olímpicos, pois atuava como<br />
consultor científico. Faleceu em julho de 2007, aos 86<br />
anos, após terminar de ler uma tese de doutorado, entre<br />
centenas que orientou.<br />
O livro Teoría general do entrenamiento deportivo<br />
apresenta os principais pontos das problemáticas que a<br />
teoria do desporto aponta nos seus aspectos <strong>integral</strong>,<br />
geral e investigativo com enfoque científico e ilustrado<br />
com dados de pesquisas experimentais. É resultado de<br />
parte do material utilizado para preparação do curso sobre<br />
teoria do desporto para o último nível de treinadores<br />
profissionais. A obra é estruturada em sete capítulos e<br />
sistematizada em três partes principais: i) Essência do<br />
fenômeno do desporto e sua teoria, ii) Teoria da competição<br />
desportiva e o sistema de competições desportivas,<br />
iii) Problemática <strong>integral</strong> da construção sistematizada da<br />
preparação do desportista em modalidades desportivas.<br />
Na primeira parte, composta de um capítulo, é exposta<br />
a concepção contemporânea de desporto como um<br />
fenômeno único da realidade social, destacando sua es-<br />
Saúde em Revista<br />
Teoria Geral do Treinamento<br />
69
JOÃO PAULO BORIN<br />
sência, suas formas, funções e as tendências de seu desenvolvimento.<br />
Ao mesmo tempo, mostram-se os caminhos de<br />
formação da teoria do desporto aliados aos diferentes ramos<br />
da ciência bem como a evolução dos objetivos e métodos do<br />
conhecimento científico. Destaca-se, inicialmente, nesse<br />
capítulo, a forma clara e direta como apresenta as correlações<br />
entre a teoria geral do desporto, as disciplinas teóricometodológicas<br />
e suas particularidades quanto às modalidades<br />
desportivas e os ramos do conhecimento humanístico e científico<br />
natural. A seguir, ressalta a importância no processo<br />
sistemático de organização da preparação do desportista de<br />
que o todo não se resume a partes e apresenta a idéia de<br />
modelação teórica, entendida como meios lógicos utilizados<br />
na formação do desportista, que representa o objeto reproduzido,<br />
como, por exemplo, a distância percorrida em determinados<br />
desportos.<br />
Na segunda parte, composta dos capítulos dois e três,<br />
busca analisar e compreender conceitualmente a competição,<br />
o sistema competitivo e as exigências da atividade do<br />
desportista. Destaca-se que a teoria do desporto, durante<br />
muito tempo, não considerou a competição na esfera teórica,<br />
e, devido às investigações realizadas nas últimas décadas,<br />
passou-se a entender a essência dos fenômenos na prática<br />
desportiva. Aponta também que, na atividade competitiva, a<br />
questão motivacional do praticante é fundamental, além da<br />
relação entre técnica e tática. Por fim, nesse bloco, mostra<br />
algumas particularidades das manifestações das qualidades<br />
psíquicas e físicas do desportista na atividade competitiva<br />
bem como diferentes competições desportivas, calendário e<br />
as tendências da dinâmica da preparação a longo prazo na<br />
prática do desportista.<br />
A terceira parte, que compreende os capítulos quatro a<br />
seis e com conteúdo mais denso, apresenta de forma detalhada<br />
os princípios fundamentais teórico-metodológicos da<br />
concepção contemporânea do processo de preparação do<br />
desportista. O autor realiza uma exposição profunda dos<br />
critérios e enfoques utilizados para diagnóstico da predisposição<br />
individual e desportiva e como os principais objetivos<br />
a serem atingidos na preparação desportiva a longo prazo. A<br />
seguir, procura caracterizar o conteúdo do trabalho no processo<br />
multilateral do desportista e a utilização dos exercícios<br />
como meio e método de preparação. Por fim, discute as etapas<br />
de maximização e especialização individualizada profunda<br />
no processo de preparação assim como aspectos relacionados<br />
à carga, sobrecarga e sincronicidade das diferentes<br />
partes da preparação do indivíduo.<br />
70<br />
SAÚDE REV., Piracicaba, 9 (22): 69-71-2007
JOÃO PAULO BORIN<br />
A última parte do livro – conclusão – dedica-se a discutir<br />
alguns problemas fundamentais e aplicados na teoria do<br />
desporto, abrangendo questões como: i) o fenômeno “forma<br />
desportiva”, apresentando a dinâmica dos resultados de vários<br />
recordistas mundiais; ii) a estrutura do treinamento<br />
desportivo atual, a relação com a preparação geral e especial<br />
dos desportistas e possíveis equívocos conceituais; iii) tendo<br />
como pano de fundo as questões conceituais de desenvolvimento<br />
e educação, o autor discute o processo de adaptação<br />
do indivíduo ao longo do tempo, tanto na esfera da educação<br />
física, da preparação, quanto, especialmente, do treinamento<br />
desportivo.<br />
A área do treinamento desportivo está em constante evolução,<br />
principalmente com a contribuição dos aspectos metodológicos<br />
e tecnológicos. Essa obra apresenta, com linguagem<br />
clara e objetiva, conceitos básicos e essenciais a serem entendidos<br />
e seguidos no processo de formação do desportista. Dessa<br />
maneira, o livro representa um marco no âmbito do treinamento<br />
desportivo por apontar caminhos e informações, que<br />
podem ser utilizadas pelos profissionais que atuam nos diferentes<br />
patamares da preparação desportiva.<br />
Submetido: 3/set./2007<br />
Aprovado: 1.º/nov./2007<br />
Saúde em Revista<br />
Teoria Geral do Treinamento<br />
71
SAÚDE EM REVISTA<br />
Normas para Publicação<br />
Princípios Gerais<br />
I. A SAÚDE EM REVISTA tem por objetivo publicar trabalhos que contribuam para o desenvolvimento<br />
científico e tecnológico nas áreas de ciências biológicas e da saúde.<br />
II. A revista privilegia a veiculação de temas em ciências biológicas e de saúde (teoria, ética<br />
e história), pesquisa teórica e/ou experimental, política e ensino.<br />
III.Os temas podem ser desenvolvidos por meio das seguintes categorias:<br />
• ARTIGOS ORIGINAIS: resultantes de pesquisa científica, apresentam dados originais de<br />
descobertas com relação a aspectos experimentais ou observacionais de característica<br />
médica, bioquímica e social, incluindo análise descritiva e ou inferências de dados próprios.<br />
Sua estrutura é a convencional, trazendo os seguintes itens: Introdução, Métodos,<br />
Resultados, Discussão, Conclusão e Referências Bibliográficas;<br />
• ARTIGOS DE REVISÃO: têm por objeto resumir, analisar ou sintetizar trabalhos de investigação<br />
já publicados em revistas científicas;<br />
• ARTIGOS DE ATUALIZAÇÃO OU DIVULGAÇÃO: relatam informações geralmente atuais sobre<br />
tema de interesse para determinada especialidade (uma nova técnica, por exemplo),<br />
com características distintas de um artigo de revisão;<br />
• RELATOS DE CASO: representam dados descritos de um ou mais casos, explorando um<br />
método ou problemas por meio de exemplo. Apresentam as características do indivíduo<br />
estudado, com indicação de sexo e idade, podendo ter sido realizado em humano<br />
ou animal;<br />
• RESUMOS DE MONOGRAFIA: relativos a trabalho de graduação e de pós-graduação mais<br />
relevantes e originais; *<br />
• RESENHAS: comentários críticos de livros e/ou teses, não confundindo-se com mero resumo<br />
dos trabalhos resenhados. Devem conter todas as informações para a identificação<br />
da obra analisada (autor; título; tradutor e título original, se houver; edição, se<br />
não for a primeira; local; editora; ano; total de páginas; ISBN; e preço).<br />
• CARTAS: comentários a artigos relevantes publicados anteriormente.<br />
Nota: os artigos submetidos à revista devem, preferencialmente, enquadrar-se na categoria<br />
de relatos originais (científicos).<br />
IV.Com exceção dos Resumos, a submissão dos manuscritos implica que o trabalho não tenha<br />
sido publicado e não esteja sob consideração para publicação em outra revista.<br />
V. A aceitação se dará observando-se os seguintes critérios:<br />
* Resumos de monografias: encaminhar três cópias em papel e uma em disquete, contendo: título em português e inglês;<br />
resumo em português e inglês; palavras-chave em português e inglês (mínimo: três; máximo: seis); nome do autor e<br />
curso; nome do orientador; data da aprovação; total de páginas do texto original e documento do orientador, atestando<br />
sua aprovação.<br />
Saúde em Revista 73
a) adequação ao escopo da revista;<br />
b) qualidade científica, atestada pela Comissão Científico-Editorial e por processo anônimo<br />
de avaliação por pares (blind peer review), ** com consultores não remunerados,<br />
especialmente convidados, cujos nomes são divulgados anualmente, como<br />
forma de reconhecimento;<br />
c) cumprimento das normas da SAÚDE EM REVISTA. O autor será informado do andamento do<br />
processo de seleção e os originais enviados à Editora UNIMEP serão a ele devolvidos;<br />
d) coerência do número de autores com as dimensões do projeto.<br />
VI.Os artigos devem respeitar as seguintes dimensões:<br />
• ARTIGOS ORIGINAIS, DE REVISÃO, DE ATUALIZAÇÃO OU DIVULGAÇÃO e RELATOS DE CASO:<br />
10 a 18 laudas (de 14.000 a 25.200 toques *** );<br />
• REVISÕES DE LITERATURA: 8 a 12 laudas (de 11.200 a 16.800 toques);<br />
• ENSAIOS: 12 a 20 laudas (de 16.800 a 28.000 toques);<br />
• RESUMOS DE MONOGRAFIAS: 1 lauda (até 1.400 toques);<br />
• RESENHAS: 2 a 4 laudas (de 2.800 a 5.600 toques).<br />
VII. A exatidão e a adequação das referências bibliográficas consultadas e menciondas no<br />
artigo são de inteira responsabilidade do(s) autor(es).<br />
VIII. Cabe à revista a exclusividade na publicação dos artigos aprovados.<br />
IX. Os artigos podem sofrer alterações editoriais não substanciais (reparagrafações, correções<br />
gramaticais e adequações estilísticas), que não modifiquem o sentido do texto. O<br />
autor terá acesso às mudanças introduzidas.<br />
X. Não há remuneração pelos trabalhos. Por artigo, cada autor receberá um exemplar da<br />
revista, remetido por intermédio do autor responsável. Ele(s) pode(m) ainda adquirir<br />
outros exemplares da revista com desconto de 30% sobre o preço de capa.<br />
XI. Os artigos devem ser encaminhados à Comissão Científico-Editorial da revista por meio<br />
de ofício, no qual devem constar:<br />
• DECLARAÇÃO de cessão dos direitos autorais assinada por pelo menos um dos autores,<br />
com anuência e concordância dos demais, indicando a exclusividade de publicação<br />
na SAÚDE EM REVISTA – caso o artigo venha a ser aceito pela Comissão Científico-Editorial<br />
–, bem como a concordância com estas Normas para Publicação;<br />
• CONSIDERAÇÕES ÉTICAS E LEGAIS: evitar o uso de iniciais ou números de registros hospitalares<br />
dos pacientes. Um paciente não poderá ser identificado em fotografias,<br />
exceto com consentimento expressso, por escrito, acompanhando o trabalho original.<br />
Estudos realizados em seres humanos devem estar de acordo com padrões éticos e<br />
com o devido consentimento livre e esclarecido dos pacientes. Deve ser incluída a<br />
aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, devidamente registrada no Conselho<br />
** Para maior detalhamento das etapas, cf. item II de “Apresentação”.<br />
*** Nesse total de toques, considerar também o espaço entre palavras.<br />
74
Nacional de Saúde ou na Universidade à qual o(s) autor(es) estejam vinculados, ou<br />
na instituição mais próxima ao seu local de trabalho que o possa registrar;<br />
• INDICAÇÃO DA CATEGORIA do manuscrito, conforme item III.<br />
Forma e preparação dos manuscritos<br />
Cada artigo deve conter os seguintes elementos:<br />
I. IDENTIFICAÇÃO<br />
• NOME E SOBRENOME do(s) AUTOR(es) (no caso de mais de um, indicar o responsável<br />
para troca de correspondência);<br />
• Telefone, e-mail e endereço para correspondência DE CADA AUTOR/CO-AUTOR;<br />
• TITULAÇÃO ACADÊMICA, INSTITUIÇÃO a que cada autor/co-autor está afiliado, acompanhado<br />
do respectivo endereço, UNIDADE e FUNÇÃO do(s) autor(es);<br />
• DEPARTAMENTO e INSTITUIÇÃO em que o trabalho foi realizado;<br />
• TÍTULO (e subtítulo, se houver): precisa(m) indicar claramente o conteúdo do texto e<br />
ser conciso(s), evitando-se palavras supérfluas [total máximo de 80 toques];<br />
• SUBVENÇÃO: menção de apoio e financiamento eventualmente recebidos;<br />
• Se tiver por base DISSERTAÇÃO ou TESE, indicar título, ano e instituição onde foi apresentada;<br />
• Se tiver sido apresentado em REUNIÃO CIENTÍFICA, indicar nome do evento, local e data<br />
da realização<br />
• Agradecimento, apenas se absolutamente indispensável.<br />
Esses elementos devem ser descritos em folha individualizada, antecedendo o texto<br />
do artigo propriamente dito.<br />
II. TEXTO<br />
• TÍTULO do trabalho em português e inglês (textos em inglês devem apresentar título,<br />
resumo e palavras-chave em português; textos em espanhol, título em inglês, abstract<br />
e keywords).<br />
• RESUMO indicativo e informativo (máximo de 1.400 toques), em português e inglês<br />
(Abstract). Para fins de indexação, o autor deve indicar as palavras-chave ou<br />
descritores (mínimo de três e máximo de seis) do artigo, em português e inglês<br />
(keywords), fazendo necessariamente o uso de DECS-Descritores em Ciências da Saúde<br />
().<br />
• TÍTULO ABREVIADO, com até 40 caracteres, para fins de legenda nas páginas impressas.<br />
Documentação<br />
As citações devem obedecer à apresentação aqui detalhada:<br />
I. CITAÇÕES NO TEXTO<br />
As citações ao longo do texto, assim como nas tabelas e figuras, devem ser<br />
identificadas por número arábico e numeradas consecutivamente segundo a ordem<br />
em que são mencionadas no artigo. Esse número precisa ser colocado em expoente<br />
(sobrescrito). Ao se citar dois autores de obra referenciada, seus sobrenomes devem<br />
Saúde em Revista 75
estar ligados pela conjução “e”; no caso de três ou mais, cita-se o primeiro autor<br />
seguido da expressão “et al.”.<br />
Exemplos:<br />
1, 5, 7<br />
• O fracasso do movimento de saúde comunitária parece evidente.<br />
• Terris et al. 8 atualizam a clássica definição de saúde pública.<br />
AS NOTAS EXPLICATIVAS, * quando houver, precisam ser dispostas no rodapé, remetidas por<br />
asterisco (não por número), sobrescrito no corpo do texto. Havendo mais de uma por<br />
página, o seu número corresponderá à quantidade de astericos necessários para indicá-lo, **<br />
processo esse que será reiniciado em eventual nova página.<br />
Toda vez que a citação for literal, ou específica a um trecho da obra, e tiver (a) menos<br />
de quatro linhas, ela deve aparecer entre aspas, e não em itálico; se for (b) igual ou<br />
maior que quatro linhas deve ter recuo de quatro centímetros das margens do texto (sem<br />
aspas), sendo destacada em parágrafo próprio, com corpo reduzido em relação ao restante<br />
do texto, pulando-se uma linha antes e outra depois da transcrição.<br />
(a) ...Fica claro, portanto, que “as exigências nutricionais dos fungos que afetam papéis<br />
são carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, enxofre, potássio, magnésio, fósforo, ferro,<br />
zinco, cobre e manganês”, conforme afirma Kowalik 17 (p. 99-114).<br />
(b) ...Como afirma Malerbi, discutindo o atendimento ao paciente diabético na rede básica<br />
do município de São Paulo:<br />
O atendimento de pacientes diabéticos ainda está dependendo da iniciativa<br />
pessoal dos profissionais que atuam nos postos, os quais, quando têm interesse,<br />
deparam-se com dificuldades relativas a critérios, medicamentos,<br />
materiais, recursos auxiliares etc. As maiores dificuldades residem, porém,<br />
quanto ao treinamento e atualização das equipes, e quanto ao sistema de<br />
referência e contra-referência, o qual é extremamente complicado, burocratizado<br />
e ineficaz. (Malerbi, 8 p. 31)<br />
Os demais complementos (nome completo do autor, nome da obra, cidade, editora, ano<br />
de publicação etc.) constarão das Referências Bibliográficas, ao fim de cada artigo, seguindo<br />
o padrão abaixo.<br />
II. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
As Referências Bibliográficas são limitadas a 30, nos textos que se enquadram nas categorias<br />
Artigos Originais, Revisão e Ensaio. Publicações mais de um autor, até o limite de<br />
seis, terão todos citados; acima de seis autores, citam-se os seis primeiros, seguidos de<br />
“et al.” (cf. exemplos abaixo). As referências ao longo do texto (citações) devem ser<br />
identificadas por número arábico e numeradas consecutivamente, normatizadas com base<br />
no estilo Vancouver (). Os títulos de periódicos devem ser referidos de<br />
forma abreviada, segundo o Index Medicus ().<br />
* Nota explicativa no rodapé da página.<br />
** Uma eventual segunda nota na mesma página será indicada por dois asteriscos.<br />
76
Artigos em periódicos<br />
1. Exemplo:<br />
• Vega KJ, Pina I, Krevsky B. Heart transplantation is associated with an increased risk<br />
for pancreatobiliary disease. Ann Intern Med 1/jun/1996;124 (11):980-3.<br />
Se o periódico tem paginação contínua e não apresenta numeração, pode ser omitido<br />
o número da revista:<br />
• Vega KJ, Pina I, Krevsky B. Heart transplantation is associated with an increased risk<br />
for pancreatobiliary disease. Ann Intern Med 1996;124:980-3.<br />
Para mais de seis autores: listar os seis primeiros seguidos por “et al.”<br />
• Parkin DM, Clayton D, Black RJ, Masuyer E, Friedl HP, Ivanov E et al. Childhood<br />
leukaemia in Europe after Chernobyl: 5 year follow-up. Br J Cancer 1996;73:1.006-12.<br />
2. Organizados como autores<br />
• The Cardiac Society of Australia and New Zealand. Clinical exercise stress testing.<br />
Safety and performance guidelines. Med J ago/1996;164:282-4.<br />
3. Nenhum autor apresentado<br />
• Cancer in South Africa [editorial]. S Afr Med J 1994;84:15.<br />
4. Volume ou artigo com suplemento<br />
• Shen HM, Zhang QF. Risk assessment of nickel carcinogenicity and occupational<br />
lung cancer. Environ Health Perspect 1994;102 Suppl 1:275-82.<br />
• Payne DK, Sullivan MD, Massie MJ. Women’s psychological reactions to breast<br />
cancer. Semin Oncol 1996;23(1 Suppl 2):89-97.<br />
5. Artigo sem volume<br />
• Turan I, Wredmark T, Fellander-Tsai L. Arthroscopic ankle arthrodesis in rheumatoid<br />
arthritis. Clin Orthop 1995;(320):110-4.<br />
6. Nenhum título ou volume<br />
• Browell DA, Lennard TW. Immunologic status of the cancer patient and the effects<br />
of blood transfusion on antitumor responses. Curr Opin Gen Surg 1993:325-33.<br />
7. Paginação em algarismos romanos<br />
• Fisher GA, Sikic BI. Drug resistance in clinical oncology and hematology.<br />
Introduction. Hematol Oncol Clin North Am abr 1995;9(2):xi-xii.<br />
8. Autores citados em outros artigos<br />
• Enzensberger W, Fischer PA. Metronome in Parkinson’s disease [letter]. Lancet<br />
1996;347:1.337. Clement J, De Bock R. Hematological complications of hantavirus<br />
nephropathy (HVN) [abstract]. Kidney Int 1992;42:1.285.<br />
Livros e monografias<br />
• Ringsven MK, Bond D. Gerontology and leadership skills for nurses. 2 ed. Albany<br />
(NY): Delmar Publishers; 1996.<br />
Saúde em Revista 77
• Norman IJ, Redfern SJ, editors. Mental health care for elderly people. New York:<br />
Churchill Livingstone; 1996.<br />
• Institute of Medicine (US). Looking at the future of the Medicaid program. Washington:<br />
The Institute; 1992.<br />
• Phillips SJ, Whisnant JP. Hypertension and stroke. In: Laragh JH, Brenner BM,<br />
editors. Hypertension: pathophysiology, diagnosis, and management. 2 ed. New York:<br />
Raven Press; 1995. p. 465-78.<br />
• Kimura J, Shibasaki H [editors]. Recent advances in clinical neurophysiology.<br />
Proceedings of the 10th International Congress of EMG and Clinical<br />
Neurophysiology; 15-19/out/1995; Kyoto, Japan. Amsterdam: Elsevier; 1996.<br />
• Bengtsson S, Solheim BG. Enforcement of data protection, privacy and security in<br />
medical informatics. In: Lun KC, Degoulet P, Piemme TE, Rienhoff O, editors.<br />
MEDINFO 92. Proceedings of the 7th World Congress on Medical Informatics; 6-10/<br />
set/1992; Geneva, Switzerland. Amsterdam: North-Holland; 1992. p. 1.561-5.<br />
1. Dissertação ou tese<br />
• Ferreira SJ. Caracterização molecular da Xillela fastidiosa [dissertação ou tese].<br />
Piracicaba (SP): Universidade de São Paulo; 2000.<br />
2. Artigos de jornal<br />
• Lopes RJ. Estudo aponta elo entre ferro e Parkinson. Folha de S.Paulo 16/set/2002;<br />
sec. A:10.<br />
3. Dicionário e referências similares<br />
• Stedman’s medical dictionary. 26 ed. Baltimore: Williams e Wilkins; 1995. Apraxia;<br />
p. 119-20.<br />
Material eletrônico<br />
1. Artigos de periódicos em formato eletrônico<br />
• Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Emerg Infect Dis [serial<br />
online] 1995 jan-mar [acesso 5/jun/1996];1(1):[24 telas]. Disponível: .<br />
2. Monografias em formato eletrônico<br />
• CDI, clinical dermatology illustrated [monograph on CD-rom]. Reeves JRT, Maibach<br />
H. CMEA Multimedia Group, producers. 2 ed. Versão 2.0. San Diego: CMEA; 1995.<br />
3. Arquivos de computador<br />
• Hemodynamics III: the ups and downs of hemodynamics [computer program]. Versão<br />
2.2. Orlando (FL): Computerized Educational Systems; 1993.<br />
Apresentação<br />
I. Os artigos podem ser submetidos redigidos em português, inglês ou espanhol.<br />
II. ETAPAS de encaminhamento dos artigos: (a) apresentação de três cópias impressas do<br />
artigo, acompanhadas de arquivo eletrônico gravado em disquete (ou enviado por e-mail),<br />
devidamente padronizado conforme estas Normas para Publicação, para submissão à Co-<br />
78
missão Científico-Editorial da Revista e aos seus consultores, constando de uma delas os<br />
dados completos do(s) autor(es) e, das outras duas, apenas o título da obra (sem identificação);<br />
fornecer também brevíssimo currículo do(s) autor(es); (b) um dos membros da<br />
Comissão e dois nomes externos a ela são designados como pareceristas, estes dois últimos<br />
por processo blind peer review; (c) recebidos de volta tais pareceres, eles são analisados em<br />
outro encontro da Comissão, chegando-se a uma avaliação final: “indicado para publicação”,<br />
“indicado com ressalvas” ou “recusado”; (d) em carta ao(s) autor(es), essas decisões<br />
são fundamentadas e devolvidos os originais com anotações dos pareceristas; (e) se indicado<br />
para publicação “com ressalvas”, o artigo deve ser novamente submetido à Editora: os<br />
trechos alterados precisarão ser realçados por cor ou sublinhados; essa nova versão será entregue<br />
em papel (uma cópia) e em arquivo eletrônico, acompanhada do texto original apreciado<br />
pelos pareceristas; (f) eventuais ilustrações devem ser encaminhadas separadamente,<br />
em seus respectivos arquivos eletrônicos em suas extensões originais; (g) antes da impressão,<br />
o(s) autor(es) recebe(m) versão final do texto para análise.<br />
III. As ILUSTRAÇÕES (tabelas, fotografias, gráficos, desenhos e mapas) necessárias à compreensão<br />
do texto devem ser numeradas seqüencialmente com algarismos arábicos e apresentadas<br />
de modo a garantir boa qualidade de impressão. Precisam ter título conciso,<br />
grafados em letras minúsculas. (a) TABELAS: editadas em Word ou Excel, com formatação<br />
necessariamente de acordo com as dimensões da revista. Devem vir inseridas nos pontos<br />
exatos de suas apresentações ao longo do texto; não podem ser muito grandes e nem ter<br />
fios verticais para separar colunas; (b) FOTOGRAFIAS: com bom con-traste e foco nítido,<br />
sendo fornecidas em arquivos em extensão “jpg”, “tif” ou “gif”; (c) GRÁFICOS e DESENHOS:<br />
incluídos nos locais exatos do texto. No caso de indicação para publicação, essas ilustrações<br />
precisarão ser enviadas em separado, necessariamente em arquivos de seus programas<br />
originais (p. ex., Excel, CorelDraw, PhotoShop, PaintBrush etc.); (d) figuras,<br />
gráficos e mapas, caso sejam enviados para DIGITALIZAÇÃO, devem ser preparados em tinta<br />
nanquim preta. As convenções precisam aparecer em sua área interna.<br />
Os manuscritos devem ser encaminhados para:<br />
Editora UNIMEP / Secretaria Executiva da Saúde em Revista<br />
Rodovia do Açúcar, km 156 – bloco 7 - sala 8<br />
13400-911 – Piracicaba/SP Brasil<br />
Saúde em Revista 79