Terra e Cultura_40.pdf - UniFil
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CENTRO UNIVERSITÁRIO FILADÉLFIA ENTIDADE MANTENEDORA: INSTITUTO FILADÉLFIA DE LONDRINA Diretoria: Sra. Ana Maria Moraes Gomes ....................... Presidente Sr. Rubens Teodoro Gomes ............................ Vice-Presidente Dr.Wellington Werner ..................................... Secretário Sra. Lélia Monteiro de Melo Bronzetti ............. Vice-Secretário Sr. Alberto Luiz Candido Wust........................ Tesoureiro Sr. José Severino ............................................ Vice-Tesoureiro Osni Ferreira (Rev) ......................................... Chanceler Eleazar Ferreira ..............................................Reitor
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CENTRO UNIVERSITÁRIO FILADÉLFIA<br />
ENTIDADE MANTENEDORA:<br />
INSTITUTO FILADÉLFIA DE LONDRINA<br />
Diretoria:<br />
Sra. Ana Maria Moraes Gomes ....................... Presidente<br />
Sr. Rubens Teodoro Gomes ............................ Vice-Presidente<br />
Dr.Wellington Werner ..................................... Secretário<br />
Sra. Lélia Monteiro de Melo Bronzetti ............. Vice-Secretário<br />
Sr. Alberto Luiz Candido Wust........................ Tesoureiro<br />
Sr. José Severino ............................................ Vice-Tesoureiro<br />
Osni Ferreira (Rev) ......................................... Chanceler<br />
Eleazar Ferreira ..............................................Reitor
ISSN 0104-8112<br />
TERRA E CULTURA<br />
Ano XXI – nº 40 – Janeiro a Julho de 2005<br />
CONSELHO EDITORIAL<br />
PRESIDENTE<br />
Leandro Henrique Magalhães<br />
CONSELHEIROS<br />
Ademir Morgenstern Padilha<br />
Damares Tomasin Biazin<br />
João Juliani<br />
Joaquim Pacheco de Lima<br />
José Martins Trigueiro Neto<br />
Juliana Harumi Suzuki<br />
Maria Eduvirges Marandola<br />
Marisa Batista Brighenti
CENTRO UNIVERSITÁRIO FILADÉLFIA<br />
REITOR:<br />
Dr. Eleazar Ferreira<br />
PRÓ-REITORA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO:<br />
Profª. Vera Lúcia Lemos Basto Echenique<br />
COORDENADORA DE CONTROLE ACADÊMICO:<br />
Profª. Alice Cardamone Diniz<br />
COORDENADORA DE AÇÃO ACADÊMICA:<br />
Profª. Damares Tomasin Biazin<br />
PRÓ-REITOR DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO:<br />
Prof. Nardir Antonio Sperandio<br />
COORDENADOR DE PROJETOS ESPECIAIS E ASSESSOR DO REITOR<br />
Prof. Reynaldo Camargo Neves<br />
COORDENADOR DE PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS:<br />
Prof. Leandro Henrique Magalhães<br />
COORDENADORES DE CURSOS DE GRADUAÇÃO:<br />
Administração<br />
Arquitetura e Urbanismo<br />
Biomedicina<br />
Ciências Biológicas<br />
Ciências Contábeis<br />
Direito<br />
Enfermagem<br />
Farmácia<br />
Fisioterapia<br />
Nutrição<br />
Pedagogia<br />
Psicologia<br />
Secretariado Executivo<br />
Sistema de Informação<br />
Tecnologia em Proc. de Dados<br />
Teologia<br />
Turismo<br />
Prof. Luís Marcelo Martins<br />
Prof. Ivan Prado Junior<br />
Prof. Eduardo Carlos Ferreira Tonani<br />
Prof. João Antônio Cyrino Zequi<br />
Prof. Eduardo Nascimento da Costa<br />
Prof. Osmar Vieira da Silva<br />
Profª. Maria Lucia da Silva Lopes<br />
Profª. Lenita Brunetto Bruniera<br />
Profª. Suhaila Mahmoud Smaili Santos<br />
Profª. Flávia Hernandez Fernandez<br />
Profª. Marta Regina Furlan de Oliveira<br />
Profª. Denise Hernandes Tinoco<br />
Profª. Izabel Fernandes Garcia Souza<br />
Prof. Adail Roberto Nogueira<br />
Prof. Adail Roberto Nogueira<br />
Prof. Rev. Silas Barbosa Dias<br />
Profª. Thais Berbert<br />
Rua Alagoas, nº 2.050 - CEP 86.020-430<br />
Fone: (0xx43) 3375-7400 - Londrina - Paraná<br />
www.unifil.br
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TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
SUMÁRIO<br />
EDITORIAL ................................................................................... 9<br />
ALIMENTOS TRANSGÊNICOS ASPECTOS ÉTICOS, NUTRICIONAIS E<br />
DE SEGURANÇA ALIMENTAR PARA O CONSUMIDOR ............... 11<br />
Mário Sérgio Azevedo Resta<br />
Tadeu Elisbão<br />
ANÁLISE DAS PERCEPÇÕES E CONSEQÜÊNCIAS NA RELAÇÃO EN-<br />
TRE OS PAIS E PORTADORES DE SÍNDROME DE DOWN .......... 29<br />
Tatiany Honório Porto<br />
José Antônio Baltazar<br />
ANÁLISE DE DADOS COLETADOS EM INSTITUIÇÕES DE ENSINO<br />
SOBRE O ADOLESCENTE E O PROBLEMA VOCACIONAL .......... 36<br />
Takae Sawae de Campos<br />
José Antônio Baltazar<br />
ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS COM FAMILIARES SOBRE O DE-<br />
SENVOLVIMENTO BIO-PSICO-SOCIAL DE PORTADORES DE<br />
SÍNDROME DE DOWN .............................................................. 41<br />
Fábio Aparecido Sperandio<br />
José Antônio Baltazar<br />
ANGÚSTIA E SEXUALIDADE: A DESCOBERTA FREUDIANA .......... 44<br />
Denise Maria Lopes Dal-Cól<br />
7<br />
A ESTRATÉGIA DA CONVENIÊNCIA NOS POSTOS DE COMBUSTÍVEIS<br />
DE LONDRINA ......................................................................... 55<br />
Alexandre Brandalize<br />
Adalberto Brandalize<br />
A EVOLUÇÃO DOS DIREITOS AUTORAIS NA INTERNET .............. 69<br />
Rogério Martins de Paula<br />
Simone Vinhas de Oliveira<br />
Yeza Bozo Tonin<br />
Renata Silveira de Paiva<br />
Carlos Francisco Borges Ferreira Pires<br />
Fernanda Dias Franco<br />
Cláudio Antônio de Paiva Simon<br />
Valkíria Aparecida Lopes Ferraro<br />
A IMPLEMENTAÇÃO DE PROGRAMAS OU AÇÕES PARA A INTEGRAÇÃO<br />
REGIONAL: REFLEXÕES PARA UM DEBATE............................. 75<br />
Jandir Ferrera de Lima<br />
A IMPORTÂNCIA DO BRINQUEDO E DO BRINCAR PARA O DESEN-<br />
VOLVIMENTO BIOPSICOSOCIAL DA CRIANÇA........................ 83<br />
Valeska Macarini Celestino<br />
José Antônio Baltazar<br />
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TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
DA APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR NOS<br />
CONTRATOS ELETRÔNICOS .................................................... 86<br />
Fernanda Dias Franco<br />
Rogério Martins de Paula<br />
Simone Vinhas de Oliveira<br />
Yeza Bozo Tonin<br />
Renata Silveira de Paiva<br />
Carlos Francisco Borges Ferreira Pires<br />
Valkíria Aparecida Lopes Ferraro<br />
ESTUDO DE PADRÕES UTILIZANDO UM ESTUDO DE CASO ......... 91<br />
Sérgio Akio Tanaka<br />
Shirley Hitomi Mitsunaga de Oliveira<br />
Rodolfo Miranda de Barros<br />
EVOLUÇÃO DE FIRMAS EM LONDRINA ..................................... 105<br />
Maria Eduvirge Marandola<br />
GESTÃO DE CUSTOS: O OBZ - ORÇAMENTO BASE ZERO E A GES-<br />
TÃO DO CONHECIMENTO COMO VERTENTES DO SUCESSO<br />
EMPRESARIAL..................................................................... 116<br />
Alexandre Chirnev Pedotti<br />
andreia de Ávila Batista<br />
Ilvili Andréa Werner<br />
8<br />
O PSICÓLOGO E A EDUCAÇÃO SEXUAL .................................... 131<br />
Mary Neide Damico Figueiró<br />
REEDIÇÃO, NEGAÇÃO OU CONSTATAÇÃO FAMILIAR E SOCIAL EM<br />
INDIVÍDUOS PESQUISADOS EM LONDRINA............................ 141<br />
Michelle Gonçalves Moreschi<br />
José Antônio Baltazar<br />
TRANSTORNOS PSICOSSOMÁTICOS E RESILIÊNCIA ................. 147<br />
Denise Hernandes Tinoco<br />
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TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
EDITORIAL<br />
Este ano a Revista <strong>Terra</strong> e <strong>Cultura</strong> tem motivos de sobra para comemorar:<br />
além de completar vinte e um anos de existência, chega ao seu número quarenta,<br />
cumprindo importante papel como instrumento disseminador de idéias, servindo<br />
como espaço de diálogo entre pesquisadores e alunos da <strong>UniFil</strong>, e destes<br />
com instituições de ensino e pesquisa de todo o Brasil.<br />
O Centro Universitário Filadélfia – <strong>UniFil</strong> consolida-se como importante centro<br />
de ensino, pesquisa e extensão de Londrina e região norte paranaense, sendo<br />
referência como instituição de qualidade. A pesquisa e a extensão, pouco a<br />
pouco, vem ocupando espaço importante neste contexto, atuando em conjunto<br />
com o ensino na busca de uma formação completa, profissional e cidadã. Para<br />
tanto, são fundamentais os instrumentos de divulgação das atividades desenvolvidas<br />
por nossos profissionais e a troca de experiências com outras instituições,<br />
o que fortalece instrumentos como o simpósio de iniciação científica e, em<br />
especial, a revista terra e cultura.<br />
É neste sentido que, ao comemorarmos vinte e um anos, propomos alterações<br />
em seu formato e diagramação. Esperamos com isto torná-la ainda mais<br />
atraente, ampliando o número de leitores, dinâmica que vem se mantendo nos<br />
últimos anos. Como indicado anteriormente, aumenta a cada edição o número<br />
de instituições e pesquisadores que solicitam o envio da publicação, o que demonstra<br />
a importância da mesma no cenário acadêmico nacional.<br />
Consolidando sua tradição de espaço aberto para publicações de artigos<br />
vinculados as áreas de atuação da <strong>UniFil</strong>, nesta edição encontramos importantes<br />
contribuições sobre temáticas contemporâneas, como a questão dos alimentos<br />
transgênicos e o debate em torno dos direitos autorais na Internet. A preocupação<br />
com o consumidor aparece em dois artigos, um da área de direito e<br />
outro que trata dos postos de combustível de Londrina. Questões vinculadas a<br />
inclusão social são abordadas em dois textos sobre portadores de síndrome de<br />
Down. Na área da psicologia, encontramos contribuições que tratam de questões<br />
como a vocação profissional, sexualidade, família e transtornos<br />
psicossomáticos. O brinquedo e o brincar também é abordado, entendido como<br />
elemento fundamental para o desenvolvimento biopsicosocial da criança. A área<br />
de negócios contribui com artigos importantes para o entendimento do processo<br />
de integração regional e a evolução dos negócios no município. Encontramos<br />
também material que trata da importância do sistema de informação para o<br />
gerenciamento e o sucesso de um negócio.<br />
A diversidade de temáticas aqui apresentadas demonstra a profícua produção<br />
científica e a importância do diálogo entre as diversas áreas de saber, marca<br />
da revista terra e cultura, preocupada com a qualidade, a diversidade e o debate<br />
acadêmico.<br />
O CONSELHO EDITORIAL<br />
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ALIMENTOS TRANSGÊNICOS<br />
ASPECTOS ÉTICOS, NUTRICIONAIS E DE<br />
SEGURANÇA ALIMENTAR PARA O CONSUMIDOR<br />
* Mário Sérgio Azevedo Resta<br />
**Tadeu Elisbão<br />
RESUMO<br />
O texto apresenta e discute alterações de propriedades nutricionais dos<br />
alimentos provenientes de vegetais submetidos a técnicas da biotecnologia, como,<br />
por exemplo, a engenharia genética. São abordados, especialmente, os impactos<br />
na segurança alimentar e no meio ambiente, com seus conseqüentes riscos<br />
para a saúde do consumidor. Avalia alguns dos principais benefícios e riscos<br />
potenciais inerentes à aplicação da manipulação gênica em alimentos destinados<br />
à alimentação humana, procurando dissecar a polêmica existente em torno<br />
do tema “alimentos transgênicos” de forma clara e imparcial. Conclui que tanto<br />
os benefícios da utilização da biotecnologia para o melhoramento das características<br />
nutricionais de alimentos, como os riscos potenciais apontados pelos<br />
opositores, são factíveis; contudo, a necessidade de se aumentar a quantidade e<br />
a qualidade dos alimentos em função do crescimento populacional, justifica os<br />
esforços e as pesquisas visando a utilização maciça da biotecnologia para a<br />
produção de alimentos. Até o momento, os produtos obtidos a partir de plantas<br />
transgênicas têm sido exaustivamente ensaiados, mostrando-se seguros. Mesmo<br />
assim, os testes (imparciais) devem continuar.<br />
Palavras-chave: Alimentos; Biotecnologia; Engenharia Genética; Organismos<br />
Geneticamente Modificados (OGM’s); Transgênicos.<br />
ABSTRACT<br />
The text presents and discusses alterations of nutritional properties of food<br />
coming from vegetables submitted to biotechnological techniques, such as genetic<br />
engineering. Particularly approached are the impacts upon food and environment<br />
safety, and their consequent risks for the consumer’s health. It evaluates some<br />
of the main benefits and potential risks inherent to the application of the gene<br />
manipulation in food destined to human nourishment, seeking to examine the<br />
polemic existing around the theme “transgenic food” in a clear and impartial<br />
way. The conclusion drawn is that both the benefits of using biotechnology in<br />
the amelioration of food nutritious characteristics and the potential risks pointed<br />
out by the contestants are feasible; however, the need to increase food quantity<br />
and quality due to the population growth justifies the efforts and the research<br />
aiming at the massive use of biotechnology in food production. Up to now, the<br />
products obtained from transgenic plants have been extensively assayed, proving<br />
to be safe. Nevertheless, the (impartial) tests shall continue.<br />
11<br />
Key-words: Food; Biotechnology; Genetic Engineering; Genetically Modified<br />
Organisms; Transgenic.<br />
*Graduado em Zootecnia<br />
Pós-Graduado em Gestão de Recursos Humanos e Marketing interno<br />
Especialista em Higiene e Ciência de Alimentos pelo Centro Universitário Filadélfia – <strong>UniFil</strong> (2004).<br />
Consultor nas áreas de Alimentos e Gestão de Qualidade pelo SENAI<br />
E-mail: mariosergio@folhaweb.com.br<br />
**Doutor em Genética pela Universidade de São Paulo – USP.<br />
Docente da <strong>UniFil</strong>.<br />
Orientador da monografia que gerou o presente artigo.<br />
E-mail: ducarmo@sercomtel.com.br<br />
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1-INTRODUÇÃO<br />
A partir dos anos setenta do século passado, a Ciência desenvolveu técnicas<br />
e metodologias que permitiram isolar cópias de genes específicos e transferi-los<br />
de um indivíduo para outro, de forma que esse material genético exógeno<br />
se inserisse no genoma do receptor e pudesse expressar características fenotípicas<br />
novas. Surgiam então os primeiros organismos transgênicos ou geneticamente<br />
modificados, há cerca de trinta e cinco anos, mais precisamente.<br />
Esta conquista tornou-se possível, por meio de manipulação genética, transferindo<br />
características desejáveis de um indivíduo para outro, de forma planejada<br />
e dirigida, sem a necessidade dos processos sexuais (naturais) para se obter<br />
variabilidade genética.<br />
Por outro lado, grupos ideológicos da sociedade têm criticado veementemente<br />
esse tipo de metodologia, dizendo que os cientistas estão “brincando de<br />
Deus”, menosprezando os riscos potenciais à saúde humana, originários do consumo<br />
indiscriminado na dieta, de produtos derivados dos tais organismos geneticamente<br />
modificados. Uma outra corrente, entretanto, acredita que essa<br />
tecnologia, chamada de Engenharia Genética, será a “salvação da humanidade”<br />
no que diz respeito à produção de alimentos e também de insumos importantes<br />
para o bem-estar das populações, como é o caso dos fármacos. E ainda<br />
há um terceiro grupo, que assume uma posição mais moderada, apregoando<br />
que as pessoas devem ter o direito de estar cientes daquilo que estão ingerindo<br />
e então defendem a rotulação diferencial que especifique claramente os alimentos<br />
de origem transgênica no ato da comercialização.<br />
O uso das técnicas modernas de biotecnologia, como a do DNA<br />
recombinante, visando a transferência de genes que conferem características<br />
desejáveis para plantas que são usadas como alimentos, já constitui uma das<br />
principais estratégias tecnológicas empregadas na agricultura da atualidade.<br />
Entende-se sem contestação, por exemplo, que o desenvolvimento de cultivares<br />
com uma melhor qualidade protéica, pode ser acelerado e otimizado com a<br />
utilização de técnicas de manipulação gênica e de transformação genética<br />
(CARNEIRO, 2004).<br />
A grande esperança atual da aplicação da biotecnologia na agricultura reside<br />
no fato de que, com o uso dessas novas técnicas de melhoramento genético a<br />
nível molecular, é possível desenvolver, de modo mais eficiente, cultivares mais<br />
produtivos, com custos de produção mais baixos, e com melhores qualidades<br />
nutricionais.<br />
A FAO estima que a população mundial deverá dobrar até 2040. Desta<br />
forma, a obtenção de produtos agrícolas, alimentos e fibras, deverá ser aumentada<br />
segundo a mesma proporção do crescimento populacional. Há, unicamente,<br />
três alternativas técnicas disponíveis para se elevar a produção de alimentos<br />
no campo: a) expansão da área plantada; b) melhoria do ambiente (terra, clima<br />
e pragas) nas suas diferentes variáveis; e c) melhoramento genético das linhagens<br />
cultivadas.<br />
Os problemas de má nutrição, diagnosticados continuamente em variadas<br />
populações, como a deficiência de aminoácidos, vitamina A, ferro, iodo e zinco,<br />
poderiam, teoricamente, ser superadas com a introdução de genes que resultem<br />
em maior concentração destes nutrientes nos alimentos, pois variedades com<br />
maior conteúdo de nutrientes essenciais podem prevenir doenças crônicas na<br />
população (BORÉM & DEL GIÚDICE, 2000).<br />
Entretanto, a grande preocupação de setores da sociedade com relação às<br />
questões de biosegurança, incluindo as conseqüências sociais que poderiam<br />
advir do uso de alimentos obtidos por meio de engenharia genética, tem ocasionado<br />
verdadeiros boicotes ao plantio e comercialização de alimentos transgênicos.<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
Conseqüentemente, existe uma forte demanda por legislação oficial, através de<br />
dispositivos legais que disciplinem a liberação do cultivo e venda dessa “novidade”<br />
por parte dos agricultores interessados.<br />
Em meio a toda esta celeuma, atribulado por tantas informações nem sempre<br />
confiáveis, carente de orientação e conhecimentos seguros, fica o homem<br />
comum, o consumidor brasileiro.<br />
Tendo em vista esta situação, justifica-se, pois, mais uma abordagem da<br />
matéria, de forma séria, científica e independente, já que faltam subsídios que<br />
possam, de alguma forma, esclarecer as dúvidas prementes, das quais o público<br />
em geral se vê refém. Dentre tais dúvidas pode-se citar as seguintes:<br />
a) Quais os riscos que os transgênicos oferecem à saúde<br />
da população?<br />
b) As técnicas disponíveis, realmente, são seguras e já estão<br />
suficientemente dominadas para se evitar eventuais<br />
“desastres”?<br />
c) Os transgênicos, efetivamente, são a saída para o problema<br />
da fome que assola o mundo?<br />
d) Os alimentos transgênicos podem, realmente, diminuir<br />
a incidência de alergias e outras doenças?<br />
e)Quais as vantagens nutricionais que os alimentos<br />
transgênicos poderiam trazer para o consumidor?<br />
f) Quais os benefícios que já foram alcançados em relação<br />
aos alimentos convencionais?<br />
Assim, a principal proposta do presente trabalho é a de trazer esclarecimentos<br />
aos leitores a respeito de algumas dessas questões, procurando<br />
desmistificar afirmações que têm sido publicadas por pessoas que não estão<br />
adeqüadamente capacitadas, o que pode gerar a disseminação de idéias errôneas<br />
a respeito do assunto, através da mídia leiga (e sensacionalista); e que tem<br />
acontecido freqüentemente nos últimos anos.<br />
Como escopo secundário, pode-se dizer que o presente estudo pretende,<br />
também, apresentar a visão de um consumidor comum (este autor) em relação<br />
à matéria, após ter tido acesso a várias fontes de informação, focalizando os<br />
seguintes temas:<br />
• Quais são as principais características dos vegetais, empregados<br />
como alimentos, que a biotecnologia tem como<br />
alvo?<br />
13<br />
• Em que aspectos a biotecnologia pode influir positivamente<br />
na produção de alimentos?<br />
• Quais as possíveis conseqüências negativas da aplicação<br />
da biotecnologia na produção de alimentos?<br />
• Como a biotecnologia pode ajudar nos programas de combate<br />
à fome e à desnutrição?<br />
Ao mesmo tempo, é preocupante, sobremaneira, a forma como tem sido<br />
questionado o trabalho dos cientistas que vem se dedicando ao estudo dos<br />
transgênicos, o que poderia comprometer a confiabilidade da própria Ciência,<br />
de uma forma mais abrangente. É como afirma um dos importantes autores<br />
consultados:<br />
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“O que é preocupante, especialmente para o nosso país, é<br />
que as campanhas milionárias contrárias aos transgênicos<br />
estão procurando convencer a sociedade de que a ciência e<br />
os cientistas não são confiáveis. Ora, isso é ignorar importantes<br />
conquistas da ciência que resultam nos significativos<br />
melhoramentos da qualidade de vida disponíveis na<br />
atualidade.” (PATERNIANI, 2002).<br />
Foi percebido, durante a análise do material selecionado para a elaboração<br />
desta monografia, que a grande maioria dos autores apresentam, basicamente,<br />
as mesmas idéias, como, a idéia central de que ainda não há evidências científicas<br />
de que os alimentos transgênicos possam oferecer perigos ao consumidor,<br />
e que não se pode desprezar a importância potencial deles.<br />
Parece que do ponto de vista da saúde humana, os transgênicos não fogem<br />
à regra comum aplicável a todas as ações do homem que modificam o rumo<br />
natural dos fatos, ou seja, a de que existem sempre vantagens e desvantagens;<br />
e é a relação entre elas que determina a eficiência ou não da “novidade”. (FERRAZ,<br />
2000).<br />
Tornou-se claro que muitos dos temidos possíveis perigos que os alimentos<br />
transgênicos poderiam representar, somente seriam percebidos em longo prazo,<br />
a exemplo do que aconteceu com o amianto há algumas décadas na Europa.<br />
A segurança alimentar parece, portanto, ter um caráter dinâmico, pois alimentos<br />
com elevado teor de gorduras não eram considerados nocivos à saúde<br />
até alguns anos atrás. Hoje, sabe-se que dietas ricas em gorduras saturadas<br />
são, comprovadamente, prejudiciais à saúde humana. Mesmo assim, estes alimentos<br />
ainda são comercializados sem qualquer restrição.<br />
Por outro lado, foi possível perceber que a biotecnologia ainda tem um grande<br />
potencial para ser explorado, e poderá, assim, ser uma ferramenta bastante útil<br />
para o desenvolvimento de alimentos de maior produtividade e qualidade<br />
nutricional superior, devendo-se, entretanto, respeitar o direito de escolha do<br />
consumidor.<br />
“O melhoramento genético via biotecnologia é a mais promissora,<br />
precisa e rápida estratégia para elevar a produção<br />
agrícola mundial, reduzindo as perdas na colheita,<br />
perdas decorrentes de pragas e doenças, e elevando a produtividade<br />
das lavouras.” (BORÉM & DEL GIÚDICE, 2000).<br />
Enfim, o aprendizado resultante do desenvolvimento do presente trabalho<br />
mostra que os debates em torno do assunto em questão devem ser direcionados<br />
para o aprofundamento de conhecimentos científicos sobre todos os aspectos<br />
inerentes à produção e ao consumo de alimentos transgênicos, incluindo todos<br />
os tipos de benefícios e riscos potenciais.<br />
2-BREVE HISTÓRICO DA BIOTECNOLOGIA EM ALIMENTOS<br />
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A partir da década de 70, os cientistas conseguiram isolar genes específicos<br />
e transferi-los de um indivíduo para o outro, dando origem aos organismos<br />
transgênicos ou geneticamente modificados (OGM) (MOREIRA, 2000). Essa<br />
tecnologia, hoje conhecida como “tecnologia do DNA recombinante” ou “engenharia<br />
genética’, possibilitaria, então, identificar, recortar e transferir para células<br />
de outros indivíduos, pedaços de DNA, que fariam aparecer em tais organismos,<br />
propriedades genéticas novas e que fossem, de certa forma, interessantes para<br />
a utilização humana (ELISBÃO, 2002).<br />
Na mesma época, mais precisamente em 1973, teve início a implementação<br />
de novas técnicas de modificação genética, com uma experiência do pesquisador<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
Paul Boyer, que conseguiu obter em laboratório uma cepa de Escherichia coli<br />
capaz de expressar o gene responsável pela produção de insulina, próprio dos<br />
seres humanos (MOREIRA, 2000).<br />
Logo depois, já em meados da década de 80, as primeiras plantas obtidas<br />
por meio de procedimentos de engenharia genética começaram a ser cultivadas<br />
no campo, e até o ano 2000, já haviam sido autorizados mais de 25 mil testes de<br />
campo em diferentes países do mundo. No Brasil, somente a partir de 1996,<br />
após a aprovação da legislação de biossegurança em 1995, foram liberados os<br />
primeiros testes com plantas transgênicas, que até o ano 2000 totalizavam cerca<br />
de 800 (PORTUGAL, 2000).<br />
Vale a pena destacar que, inicialmente, a biotecnologia agropecuária tinha<br />
como foco principal a melhoria agronômica das plantas estudadas, inserindolhes<br />
características como resistência a insetos, a vírus e a herbicidas, através da<br />
introdução de genes, geralmente obtidos a partir de microrganismos, como bactérias<br />
(PORTUGAL, 2000).<br />
Posteriormente, outras características genéticas começaram a ser ensaiadas.<br />
Outras qualidades de plantas cultivadas que podem ser e/ou já estão sendo<br />
aperfeiçoadas por via transgênica, são: (a) aumento do valor nutritivo do<br />
órgão comestível; (b) retardo na época de maturação dos frutos; (c) modificações<br />
em flores ornamentais; e (d) produção de substâncias “alheias” (ELISBÃO, 2002).<br />
Deve-se estar consciente de que algumas das características-alvo poderiam<br />
também ser aperfeiçoadas através do melhoramento genético convencional, que<br />
é muito mais demorado, pelo fato de depender de cruzamentos programados e<br />
da seleção dos recombinantes que manifestam as características desejadas em<br />
proporções satisfatórias (ELISBÃO, 2002). Entretanto, existem muitas modificações<br />
que podem ser introduzidas nas plantas por meio da engenharia genética<br />
e que não podem ser rapidamente, ou facilmente, obtidas pelo melhoramento<br />
genético tradicional (MOREIRA, 2000). Isso sugere elevar o melhoramento genético<br />
“moderno” através de técnicas de engenharia genética à condição de ferramenta<br />
mais promissora, precisa e rápida para aumentar a produção agrícola<br />
mundial, reduzindo as perdas decorrentes de pragas e doenças e, conseqüentemente,<br />
incrementando a produtividade das lavouras (BORÉM & DEL GIÚDICE,<br />
2000).<br />
A comercialização de produtos de plantas transgênicas iniciou-se na década<br />
de 90, com o tomate geneticamente modificado para maturação lenta, produzido<br />
pela Calgene (FlavrSavr), e com a soja resistente ao herbicida glifosate,<br />
desenvolvida pela Monsanto (PORTUGAL, 2000).<br />
Em 1996, os primeiros produtos comerciais gerados pela engenharia genética<br />
começaram a ser vendidos nos supermercados dos Estados Unidos. Desde<br />
então, organismos geneticamente modificados de várias espécies vegetais, tais<br />
como soja, batata, milho e algodão, vêm sendo colocados no mercado (BORÉM<br />
& DEL GIÚDICE, 2000), como mostra a tabela abaixo:<br />
15<br />
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S<br />
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TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
Tabela 1<br />
Transgênicos nas prateleiras (Evolução da permissão de venda por país)*<br />
PAÍS ANO PRODUTO<br />
Argentina<br />
Canadá<br />
E.U.A<br />
Japão<br />
União<br />
Européia<br />
1996<br />
1998<br />
1996<br />
1997<br />
1998<br />
1999<br />
1994<br />
1995<br />
1996<br />
1997<br />
1995<br />
1996<br />
1997<br />
1998<br />
Soja<br />
Milho e algodão<br />
milho e algodão<br />
Canola<br />
Soja e melão<br />
Batata e trigo<br />
Melão, soja, tomate, algodão e batata<br />
Canola e milho<br />
Soja, canola, batata e milho<br />
Algodão e tomate<br />
Tomate e canola<br />
Soja<br />
Milho<br />
Batata e algodão<br />
Brasil - Nenhum<br />
16<br />
R<br />
E<br />
V<br />
I<br />
S<br />
T<br />
A<br />
• Extraído e adaptado de PIAU, 2000.<br />
Em 2000, algumas espécies de plantas transgênicas, como soja, milho e<br />
canola já tinham participação relevante na agricultura dos Estados Unidos,<br />
Canadá e Argentina. A soja transgênica tolerante ao glifosate ocupava, então,<br />
54% da área cultivada com esta espécie vegetal nos Estados Unidos e 75% na<br />
Argentina. Além dessas, muitas outras culturas tornar-se-iam populares, como<br />
fumo, tomate, batata e algodão, uma vez que a área cultivada com plantas<br />
transgênicas havia aumentado, em nível mundial de 1,7 milhões de hectares em<br />
1996 para 27,8 milhões em 1998, atingindo em 1999, o montante de 39,9 milhões<br />
de hectares (PORTUGAL, 2000).<br />
Pode-se dizer que a aplicação das técnicas de biotecnologia, em plantas<br />
produtoras de alimentos, já constituía, em 2000, uma das principais estratégias<br />
tecnológicas da moderna agricultura e gerava grandes expectativas no sentido<br />
de se poder desenvolver, de modo mais eficiente, cultivares mais produtivos,<br />
com melhores qualidades nutricionais e com menores custos de produção<br />
(MOREIRA, 2000).<br />
As técnicas modernas de engenharia genética permitem, atualmente, um<br />
processo muito mais pontual, preciso e controlado de introdução de uma característica<br />
desejada em uma planta, do que o processo de cruzamento sexuado<br />
(hibridação) convencionalmente utilizado (ODA, 2003).<br />
A transformação genética de vegetais superiores (para introduzir os genes<br />
desejados nas células da planta receptora) tem tido avanços consideráveis nas<br />
últimas duas décadas. Vários métodos de transformação foram propostos. Atualmente,<br />
os mais empregados são: a biobalística, introdução de genes mediada<br />
por Agrobacterium e a eletroporação de protoplastos e tecidos. Dentre eles, o<br />
mais comumente utilizado parece ser a biobalística.<br />
A técnica da biobalística utiliza microprojéteis de ouro ou tungstênio acelerados<br />
a altas velocidades (superiores a 1.500km/h) para carrear e introduzir<br />
ácidos nucléicos e outras moléculas, em células e tecidos in vivo. As<br />
micropartículas aceleradas atravessam a parede e a membrana celular de maneira<br />
não-letal, e vão se localizar aleatoriamente entre as organelas celulares.<br />
Em seguida, o DNA é dissociado do “veículo” das micropartículas pela ação dos<br />
agentes celulares, ocorrendo então o processo de integração do gene exógeno no<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
genoma (DNA) do organismo receptor que é, desta forma, modificado geneticamente.<br />
Uma das vantagens da técnica de transformação através do processo de<br />
biobalística é que este permite a introdução de genes e a sua expressão genética<br />
em qualquer tipo celular (ARAGÃO, VIANNA & RECH, 2004).<br />
Atualmente, com o enorme desenvolvimento da biologia molecular, houve<br />
um grande avanço na compreensão dos mecanismos genéticos e bioquímicos<br />
básicos, permitindo assim que se desenvolvessem novas estratégias de melhoramento<br />
por meio da transformação genética (CARNEIRO, 2004).<br />
Neste sentido, várias técnicas e metodologias aperfeiçoadas no âmbito<br />
da biotecnologia foram desenvolvidas, como as descritas por AZEVEDO et al.<br />
(2002, p.11-44).<br />
3-A POLÊMICA EM TORNO DO ASSUNTO<br />
A engenharia genética despertou, muito cedo, preocupações com questões<br />
de biossegurança e bioética, tanto com respeito ao exercício dessa atividade<br />
em laboratório quanto em relação aos potenciais danos ecológicos. É preciso<br />
diferenciar, entretanto, as preocupações genuínas com os efeitos das<br />
plantas transgênicas no ambiente, de algumas iniciativas que, por meio de<br />
uma roupagem ecológica, pretendem, na verdade, defender posições de<br />
mercado (PORTUGAL, 2000).<br />
Existem dois aspectos fundamentais, relacionados à cultura de transgênicos,<br />
que têm gerado controvérsia por parte de alguns grupos de consumidores e<br />
teóricos: os possíveis efeitos orgânicos negativos de organismos geneticamente<br />
modificados quando utilizados para alimentação humana e também riscos ecológicos<br />
associados ao plantio de tais culturas (NEVES et al., 2002).<br />
Um grupo da sociedade tem combatido a engenharia genética, apregoando<br />
que os cientistas estão menosprezando os graves riscos à saúde humana, principalmente<br />
devido ao consumo crescente dos produtos derivados de organismos<br />
geneticamente modificados. Um outro grupo acredita que a engenharia genética<br />
será a “salvação da humanidade” no que diz respeito à produção de alimentos e<br />
de insumos importantes. Ainda, um terceiro grupo, com uma posição mais moderada,<br />
defende a idéia de que as pessoas devem estar cientes daquilo que estão<br />
ingerindo, e prega a obrigatoriedade da rotulação identificadora dos alimentos<br />
transgênicos (MOREIRA, 2000).<br />
Apesar de dados estatísticos recentes apontarem, claramente, um crescimento<br />
irreversível das culturas transgênicas, caminhando-se para que toda a<br />
produção agrícola mundial seja baseada em vegetais geneticamente modificados,<br />
o tema tem gerado manifestações de pânico e pavor, sem que haja, no<br />
entanto, fundamentação científica suficiente para habilitar tais manifestantes a<br />
se pronunciarem publicamente (ELISBÃO, 2002).<br />
Ainda existe uma forte reação da sociedade, localizada principalmente na<br />
Europa, a respeito do uso, para consumo humano, de organismos geneticamente<br />
modificados e de seus derivados, e também quanto aos seus potenciais efeitos<br />
prejudiciais ao ambiente (PORTUGAL, 2000).<br />
A polêmica atual em torno dos transgênicos, de certa forma, não leva em<br />
conta o fato de que a engenharia genética aplicada ao melhoramento genético<br />
vegetal já vem causando enormes mudanças nos sistemas de produção agrícola,<br />
através da geração de boas alternativas para o aumento da produtividade<br />
de alimentos, com segurança ambiental e redução dos custos de produção<br />
(PORTUGAL, 2000).<br />
É sabido que há grande preocupação da sociedade em relação às questões<br />
de biossegurança e às conseqüências sociais que o uso de alimentos obtidos por<br />
R<br />
E<br />
V<br />
I<br />
S<br />
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A<br />
17<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
18<br />
engenharia genética poderiam ocasionar, levando os cidadãos a se manifestar<br />
de várias formas, como, por exemplo, através de boicotes, e assim gerando demanda<br />
por firmes regulamentações por parte do Estado para a liberação de<br />
alimentos transgênicos (MOREIRA, 2000).<br />
Apesar de apresentar vantagens inquestionáveis, um fato coloca os<br />
transgênicos em questão: o desconhecimento das possíveis conseqüências de sua<br />
utilização na dieta em grande escala e por tempo prolongado (vários anos), produzindo<br />
efeitos sobre uma imensa base populacional e em interação com fatores os<br />
mais variados do meio ambiente natural. Isso impõe a necessidade de, na consideração<br />
de como disciplinar legalmente o uso e a comercialização de alimentos<br />
geneticamente modificados, levar-se em conta os componentes de risco envolvidos<br />
na questão (SALLES, 2004).<br />
Instituições respeitadas, como o próprio Instituto de Defesa do Consumidor<br />
(IDEC) têm afirmado publicamente que a CTNBio não tem regras relacionadas à<br />
segurança alimentar, comercialização e rotulagem de transgênicos, fato que já<br />
em 2000 não correspondia à verdade (CASTRO, 2000). Ao longo de três anos de<br />
funcionamento, foram emitidas pela referida instituição dezoito Instruções<br />
Normativas, regulamentando diversos aspectos da moderna biotecnologia no<br />
país (SCHOLZE,2003).<br />
Além dos riscos que, naturalmente, devem ser considerados, qualquer análise<br />
normativa deve também ponderar os benefícios de uma determinada tecnologia.<br />
O cultivo dos transgênicos pode resultar também em redução do uso de defensivos<br />
agrícolas, com efeitos positivos para o meio ambiente (NEVES et al., 2002).<br />
Pesquisas têm sido feitas nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia, a propósito<br />
da opinião pública sobre a questão da rotulagem. No que se refere à<br />
segregação de mercadorias com o rótulo dos produtos transgênicos, o Instituto<br />
de Desenvolvimento do Consumidor divulga, em seu site, uma pesquisa realizada<br />
pela Directorate General XII da Comissão Européia, órgão executivo da União<br />
Européia: “Os consumidores europeus exigem que os produtos geneticamente<br />
modificados sejam rotulados: 85% dos consumidores na Dinamarca, 85% na<br />
Alemanha, 72% na Grécia, 81% na Espanha, 82% no Reino Unido, querem a<br />
rotulagem dos transgênicos”.(ECHEVERRIA, 2004).<br />
A discussão quanto aos possíveis riscos associados ao uso de organismos<br />
geneticamente modificados (OGM’s) intensificou-se nos últimos dois anos. Infelizmente,<br />
essa discussão, muitas vezes, não é guiada prioritariamente pelos aspectos<br />
técnico-científicos. Porém, um ponto importante que emerge desta polêmica<br />
é que a análise da segurança alimentar e ambiental visando a liberação de um<br />
OGM deve ser feita caso a caso, uma vez que um determinado OGM é resultado<br />
inédito da interação entre a espécie modificada (receptora) e o(s) (trans)gene(s)<br />
utilizado(s) para produzir aquele evento de transformação (SOUZA JR., 2004).<br />
R<br />
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V<br />
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A<br />
4-BENEFÍCIOS DA BIOTECNOLOGIA EM ALIMENTOS<br />
Algumas das vantagens do plantio de alimentos geneticamente modificados<br />
tornam plenamente compreensível a crescente popularização dos mesmos: são<br />
mais resistentes, exigem menos defensivos, crescem mais rápido, produzem mais.<br />
Em 1997, quando havia 2,8 milhões de hectares plantados nos Estados Unidos,<br />
os agricultores economizaram em torno de US$ 190 milhões em defensivos agrícolas.<br />
Alguns dos benefícios poderão, também, atingir diretamente o consumidor,<br />
por exemplo, por meio de alimentos mais saborosos, de mais fácil conservação,<br />
com teores nutricionais mais adequados e livres de substâncias capazes de<br />
gerar alergias (SALLES, 2004).<br />
A biotecnologia agrega ao melhoramento genético tradicional a possibilidade<br />
de manipular um único gene, sem transferir junto, não intencionalmente, vários<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
outros; torna possível também a identificação desses genes e de seus produtos<br />
protéicos, que podem ser tóxicos; e torna desnecessário ter de se esperar dez a<br />
doze anos para melhorar plantas, misturando aleatoriamente milhares de genes,<br />
pois permite selecionar o gene de uma característica genética específica de qualquer<br />
planta e transportá-la “cirurgicamente” com grande precisão para o código<br />
genético de outra (IFIC FOUNDATION, 2004).<br />
As mudanças introduzidas via engenharia genética são as mais variadas, e<br />
envolvem, basicamente, o aumento da quantidade de determinadas substâncias,<br />
ou da qualidade nutricional de outras, presentes nos alimentos destinados<br />
ao consumo humano ou de outras espécies animais (ELISBÃO, 2002).<br />
Alguns produtos como milho, soja, algodão, mamão, pimenta, batata, arroz,<br />
entre outros, têm sido melhorados através da biotecnologia, resultando em<br />
benefícios, como maior resistência a doenças, redução da necessidade do uso<br />
de pesticidas, maior concentração de nutrientes, tolerância a certos herbicidas,<br />
crescimento mais rápido das lavouras, melhorias no sabor e na qualidade<br />
nutricional (IFIC FOUNDATION, 2004).<br />
Um dos benefícios mais importantes que se pode obter com a modificação<br />
direta do genoma de plantas utilizadas para a nutrição humana, é a possibilidade<br />
da melhor adequação dos alimentos à dieta humana, otimizando o equilíbrio<br />
entre seus nutrientes, permitindo uma melhor nutrição, a um custo potencialmente<br />
mais baixo. O exemplo clássico é o balanceamento de aminoácidos em<br />
grãos originalmente pobres em metionina e lisina (FERRAZ, 2000).<br />
É importante notar, no entanto, que o objetivo da biotecnologia aplicada aos<br />
alimentos não se restringe unicamente em aumentar a produção. Inclui-se também<br />
o atendimento às exigências de consumidores que, cada vez mais, desejam<br />
produtos mais seguros, naturais, frescos, saborosos e convenientes em variados<br />
aspectos (BRUNORO COSTA, 2003).<br />
Vários alimentos de origem vegetal, comercializados em vários países do<br />
mundo, hoje, possuem características nutricionais e/ou comerciais importantes,<br />
alteradas através de técnicas de biotecnologia. No quadro abaixo encontram-se<br />
algumas culturas de alimentos geneticamente modificados, destacando-se<br />
as características que foram melhoradas.<br />
19<br />
Tabela 2<br />
Modificações de plantas, obtidas por meio da biotecnologia, que expressam<br />
características de qualidade*.<br />
CULTURA<br />
CARACTERÍSTICA<br />
Abacaxi<br />
Ameixa, melão, mamão,<br />
morango, pêra e pimenta<br />
Alface<br />
Arroz<br />
Batata<br />
Batata-doce<br />
Brócolis<br />
Café<br />
Aumento no teor de açúcares<br />
Amadureciemento retardado (aumento da<br />
vida útil)<br />
Menor taxa de deterioração pós-colheita<br />
Maior taxa de amido e melhoramento das<br />
proteínas<br />
Maior teor de sólidos (amido em especial),<br />
aumento na proporção de tirosina e redução<br />
na de glicoalcalóides, além de maior<br />
resistência a doenças<br />
Melhor qualidade protéica<br />
Maior tempo de vida útil pós-colheita<br />
Redução no teor de cafeína<br />
R<br />
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V<br />
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TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
20<br />
Canola<br />
Maçã<br />
Girassol<br />
Tomate<br />
Trigo<br />
Uva<br />
Soja<br />
Milho<br />
Mandioca<br />
Cevada<br />
Cenoura<br />
Alteração no perfil de ácidos graxos<br />
Aumento no teor de carboidratos e<br />
alterações no amadurecimento<br />
Melhor qualidade protéica<br />
Amadureciemento retardado, aumento no<br />
teor de sólidos, alterações no perfil de<br />
açúcares, elevação na proporção de licopeno<br />
e aumento de enzimas antioxidantes<br />
Melhor digestibilidade e melhor qualidade<br />
protéica<br />
Incremento de sabor<br />
Melhor qualidade protéica (com mais<br />
metionina e lisina) e aumento de fitosteróis<br />
Aumento nos teore de lisina, metionina e<br />
tripofano, diminuição de lignina e fitatos,<br />
elevação de fosfatos e antocianinas e inibição<br />
de micotoxinas<br />
Melhor composição nutricional<br />
Termoestabilidade de enzimas, introdução<br />
de novas proteínas, redução de pontes de<br />
bissulfito e melhoria da digestibilidade<br />
Aumento de carotenóides e do valor<br />
nutricional em geral<br />
• Extraído e adaptado de AZEREDO, 2003<br />
Outra característica de grande interesse comercial diz respeito à redução<br />
da velocidade de maturação dos frutos, porque favorece as operações de transporte<br />
e estocagem desses produtos, influenciando diretamente no seu “shelf<br />
life”. Através da engenharia genética pode-se fazer isto mediante duas formas:<br />
introduzindo genes que acabam reduzindo os níveis de enzimas degradativas<br />
como a poligalacturonase, ou genes que diminuem a síntese de etileno, considerado<br />
o hormônio do amadurecimento (ELISBÃO, 2002).<br />
Exemplos de melhoramentos conseguidos com o emprego da biotecnologia:<br />
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A<br />
Milho<br />
Do ponto de vista de biossegurança, a estratégia de transformar geneticamente<br />
milho com seqüências de DNA isoladas da própria espécie é desejável, uma<br />
vez que se altera apenas a regulação de genes que são naturalmente expressos<br />
pela planta.<br />
Plantas transgênicas de milho, geradas em estudo conduzido pela EMBRAPA,<br />
apresentaram aumento na produção da delta-zeína e da beta-zeína (proteínas<br />
ricas em aminoácidos essenciais), e o desaparecimento da gama-zeína.<br />
A beta-zeína é constituída por uma cadeia protéica de 160 aminoácidos, e<br />
contém menos glutamina (16%), leucina (10%) e prolina (9%) que as alfa-zeínas,<br />
mas tem, significativamente, mais metionina (4%) e cisteína (7%). A gama-zeína<br />
possui 180 aminoácidos, sendo 7% de cisteína e 25% de prolina, e representa<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
cerca de 25% das proteínas existentes nas variedades tradicionais do milho. A<br />
delta-zeína é uma proteína de 130 aminoácidos e contém altos índices de<br />
metionina (cerca de 23%), mas corresponde a apenas 5% das proteínas existentes<br />
naturalmente no milho (CARNEIRO, 2004).<br />
Mamão<br />
Dentre os fatores que limitam a cultura do mamão no Brasil, destaca-se a<br />
“mancha anelar do mamoeiro” ou “mosaico”. Esta doença é o principal problema<br />
fitossanitário desta cultura no mundo, sendo causada por um vírus, chamado<br />
vírus da mancha anelar do mamoeiro ou Papaya Ringspot Virus (PRSV). Mamoeiros<br />
atacados por esta doença apresentam diminuição na taxa de crescimento<br />
da planta e, conseqüentemente, na produtividade.<br />
A EMBRAPA, através do Centro de Mandioca e Fruticultura na Bahia, estabeleceu<br />
um acordo de parceria com a Universidade de Cornell (EUA) para desenvolver<br />
mamoeiro transgênico resistente ao vírus da mancha anelar do mamoeiro,<br />
propondo-se a selecionar, pelo menos um, material em condições de ser<br />
transferido para o produtor até o final de 2001 (SOUZA JR., 2004).<br />
Laranja<br />
O cancro cítrico tem provocado grandes prejuízos, tanto no Brasil como em<br />
outros países produtores de citros. Essa doença afeta toda a parte aérea da<br />
planta, causando lesões em frutos, folhas e ramos.<br />
Experimentos de inoculação de plantas transgênicas de laranja com a bactéria<br />
do cancro cítrico, mostraram que as plantas com maiores quantidades de<br />
sarcotoxina são mais resistentes ao patógeno.<br />
A obtenção de plantas transgênicas de laranja doce, a partir dos cultivares<br />
plantados no Brasil, contendo o gene da sarcotoxina, é uma estratégia muito<br />
promissora para aumentar a tolerância à bactéria do cancro cítrico. Entretanto,<br />
ainda deverão ser implementados estudos para se conhecer suficientemente o<br />
efeito da introdução do gene da sarcotoxina nas plantas, nos aspectos da segurança<br />
alimentar e do impacto no ambiente, antes que essa tecnologia possa ser<br />
aplicada de maneira mais ampla (BESPALHOK FILHO, 2004).<br />
Feijão<br />
Uma das doenças de maior impacto na cultura do feijoeiro é o mosaicodourado,<br />
causado por um geminivírus, o vírus do mosaico-dourado do feijoeiro<br />
(BGMV). Esta doença está hoje disseminada por todas as áreas produtoras de<br />
feijão do Brasil e em outros países da América Latina. No Brasil, em condições<br />
de campo, as perdas ficam em torno de 40 a 85%, podendo chegar a 100%,<br />
dependendo da cultivar, do estágio em que se encontram as plantas quando<br />
acontece a infecção, e do isolado do vírus infectante.<br />
Feijoeiros transgênicos tolerantes ao vírus estão sendo incorporados ao programa<br />
de melhoramento da EMBRAPA/CNPAF, com objetivo de fazer a introdução<br />
desta característica em diferentes cultivares e a avaliação final no campo.<br />
Outro objetivo do melhoramento genético do feijoeiro tem sido o aumento<br />
da qualidade nutricional, principalmente em relação ao teor de metionina e<br />
triptofano nos grãos, uma vez que esta planta é importante para a alimentação<br />
humana e extremamente deficiente quanto a estes dois aminoácidos essenciais.<br />
Em uma tentativa para se obter sementes de feijão contendo maiores teores<br />
de metionina, plantas transgênicas foram obtidas expressando o gene da<br />
albumina 2S de castanha-do-pará. A proteína codificada por este gene possui<br />
um elevado teor de metionina (18%).<br />
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21<br />
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Embora as sementes tenham apresentado altos níveis do aminoácido metionina<br />
antes da maturação fisiológica, obteve-se um aumento da ordem de 25% do teor de<br />
metionina nas sementes maduras (ARAGÃO, VIANNA & RECH, 2004).<br />
22<br />
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A<br />
5-RISCOS POTENCIAIS<br />
O fato de se transportar alimentos a longas distâncias e entre países, criou<br />
o problema do controle sanitário e, conseqüentemente, a existência de barreiras<br />
comerciais. Em decorrência deste fato, houve a necessidade da ampliação das<br />
regras de controle da qualidade dos alimentos, o que se chama hoje de “segurança<br />
alimentar”, que envolve, entre outros, a integração de conhecimentos de<br />
toxicologia, microbiologia, genética, bioquímica, ciências ambientais e dos alimentos.<br />
Como o mundo está interligado por meios de comunicação, as exigências<br />
das sociedades tornam-se rapidamente universais. Em decorrência disso, a segurança<br />
alimentar passa por uma revisão de seus conceitos, buscando protocolos<br />
que levem a reduzir as incertezas na tomada de decisões, cobrindo de fato<br />
duas noções fundamentais: ausência de toxicidade e o valor nutricional do novo<br />
alimento (ZANCAN, 2003).<br />
Qualquer alimento é considerado seguro se nenhum dano ou efeito indesejável<br />
resultar do seu consumo (ODA, 2003). Entretanto, mesmo que até o momento<br />
não se conheça nenhuma evidência científica indicando a potencialidade<br />
de os alimentos da atual geração de transgênicos fazerem mal à saúde, ou que o<br />
seu cultivo possa acarretar um desastre ambiental, por se tratar de algo “novo”,<br />
há ainda algumas incertezas, as quais devem ser seriamente consideradas. A<br />
dificuldade de avaliação de riscos dessa natureza, e que é necessária para qualquer<br />
decisão sobre as medidas legais adequadas para o caso, está associada ao<br />
nível de desenvolvimento científico sobre tal assunto. Não apenas considerando<br />
evidências estatísticas, o desafio da ciência é antever, com segurança, as conseqüências<br />
futuras de vários fatores, cuja manifestação pode ocorrer somente após<br />
um longo período (SALLES, 2004).<br />
Entre os presumíveis problemas apontados como resultantes de impactos<br />
negativos dos alimentos transgênicos sobre a saúde, estão: intoxicações, alergias,<br />
desenvolvimento de resistência a antibióticos, outros riscos desconhecidos.<br />
A maior preocupação da comunidade científica e médica internacional é<br />
com a transferência de genes marcadores de resistência aos antibióticos, considerando-se<br />
a mobilidade dos genes entre organismos vivos. Tanto assim que as<br />
discussões em nível internacional sugerem que os ensaios sobre a segurança<br />
dos alimentos obtidos de organismos modificados geneticamente devem obedecer<br />
ao mesmo rigor dos testes utilizados para a liberação de novos medicamentos<br />
(ZANCAN, 2003).<br />
Considerando os aspectos de segurança ambiental e alimentar, os principais<br />
perigos levantados, no que se refere a plantas transgênicas expressando<br />
genes de resistência a antibióticos são: (a) que o gene seja tóxico; (b) que o<br />
produto do gene seja tóxico ou cause alergia; (c) que o gene seja transferido para<br />
microrganismos no aparelho digestivo de animais ou no ambiente; e (d) que o<br />
gene ou seu produto cause danos ao ambiente (SOUZA JR., 2004).<br />
Tais perigos, entretanto, parecem não se justificar, já que o critério para o<br />
uso de genes de resistência a antibióticos no papel de genes marcadores para<br />
seleção positiva de transformantes não é aleatório: considera-se, prioritariamente,<br />
a importância do antibiótico específico no tratamento de doenças humanas. Se<br />
o antibiótico for a única, ou uma das únicas, armas contra uma doença que<br />
confere alto risco de vida, este deve ter o seu emprego sumariamente proibido<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
nos ensaios de desenvolvimento de plantas transgênicas. Tanto assim que o<br />
gene mais utilizado na engenharia genética de plantas produz uma enzima que<br />
inativa antibióticos como a neomicina (que tem uso principalmente tópico), a<br />
kanamicina e a puromicina (que não são geralmente utilizadas para controle de<br />
doenças em humanos e outros animais) (SOUZA JR.,2004).<br />
Em relação ao meio ambiente, os possíveis impactos negativos apontados<br />
têm sido: o aumento das ervas daninhas, aparecimento de “superervas daninhas”,<br />
mudanças no consumo de herbicidas para padrões mais tóxicos, aparecimento<br />
de novas viroses e de vírus mais resistentes, envenenamento da vida<br />
selvagem, perda da biodiversidade, possibilidade de aparecimento de efeitos<br />
imprevistos e desconhecidos (ECHEVERRIA, 2004).<br />
Em termos de meio ambiente, também pairam sérias dúvidas sobre os riscos<br />
implicados no uso agrícola de organismos geneticamente modificados. Em<br />
primeiro lugar, considera-se a possibilidade da “exportação” de genes, pelo fato<br />
de se utilizar na manipulação genética, “promotores”, uma estrutura do DNA<br />
que mais facilmente permite a modificação genética. Receia-se que, em ambiente<br />
natural, com base nessas estruturas presentes nos transgênicos, possa haver<br />
uma migração de genes das espécies modificadas geneticamente para espécies<br />
nativas a elas relacionadas. Isso poderia acarretar conseqüências imprevisíveis<br />
para tais espécies e para os ecossistemas envolvidos.<br />
Soma-se a isto o risco de plantas geneticamente modificadas, contendo um<br />
gene inseticida, causarem também a morte de espécies de insetos não-nocivas,<br />
que se alimentam do pólen das culturas transgênicas. A preocupação, nesse<br />
caso, está relacionada, antes de mais nada, à preservação da biodiversidade.<br />
Por fim, argumenta-se que a existência de plantações capazes de produzir<br />
seu próprio inseticida pode provocar a evolução dos mecanismos de resistência<br />
nas espécies de insetos que se objetivava controlar.<br />
Com isso poder-se-ia, a médio e longo prazo, permitir que as lavouras convencionais<br />
e também as modificadas viessem a se tornar novamente susceptíveis<br />
(SALLES, 2004).<br />
23<br />
6-CONCLUSÕES<br />
Parece não restar dúvidas, seja entre especialistas ou entre leigos, a respeito<br />
do grande potencial da biotecnologia, mormente em se tratando das possibilidades<br />
de manipulação do material genético original das espécies biológicas.<br />
Como uma nova (e revolucionária) tecnologia, é perfeitamente compreensível<br />
que a engenharia genética desperte receios e gere polêmicas, uma vez que, por<br />
conta do instinto de conservação, talvez, há uma tendência natural para o espírito<br />
humano temer o desconhecido.<br />
Cabe aqui rememorar alguns fatos do passado, como, por exemplo, a vacina<br />
contra a varíola na área das ciências da saúde e a energia nuclear, na física.<br />
Ambas, inicialmente, assombraram a população nas suas respectivas épocas de<br />
descoberta e tentativa de introdução no mercado; entretanto, passado o “vendaval”,<br />
hoje a varíola está erradicada mundialmente, e a energia nuclear beneficia<br />
milhões de pessoas em diferentes países do globo terrestre e o seu aproveitamento,<br />
apesar de polemizado, já é comum em nosso cotidiano.<br />
Diante de toda a necessidade atual e, principalmente, futura de se aumentar<br />
a produção de alimentos e de prover as populações carentes em todo o mundo<br />
com alimentos de alta qualidade nutricional a um preço acessível, parece<br />
não ser sensato descartar a possibilidade de utilização de qualquer tecnologia<br />
que possibilite atender a tais necessidades sem que, no mínimo, a “novidade”<br />
seja experimentada e avaliada sob critérios científicos.<br />
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É sabido que toda conquista científica demanda tempo para se poder assegurar<br />
a confiabilidade de seus resultados. Pelo que foi possível verificar na literatura<br />
disponibilizada para a elaboração da presente monografia, nenhum produto<br />
hoje existente no mercado passou por tantos testes e nem foi tão questionado,<br />
como tem sido o caso dos alimentos transgênicos. E, desde quando foi<br />
comercializado pela primeira vez, até o presente, não foi registrada sequer uma<br />
evidência científica de que algum alimento proveniente de organismo geneticamente<br />
modificado tenha gerado problemas clínicos de qualquer ordem nos consumidores.<br />
É pertinente, entretanto, afirmar que o cidadão tem todo o direito de saber<br />
a procedência do que está consumindo, e deve ter a prerrogativa de poder optar<br />
pelo que for mais conveniente, na sua concepção pessoal. Por isto a identificação<br />
clara dos produtos alimentares que tenham passado por manipulação genética,<br />
através de rótulos, etiquetas ou qualquer outro meio visual, é perfeitamente<br />
justificável e oportuna, pois, além de garantir o livre arbítrio por parte do<br />
consumidor, também pode proporcionar a possibilidade de se monitorar a utilização<br />
e os eventuais efeitos de tais produtos, de uma forma mais controlada e<br />
eficaz.<br />
Vale a pena também lembrar aqui que vários alimentos têm sido alterados<br />
geneticamente ao longo do tempo de várias formas, principalmente através do<br />
melhoramento genético convencional; além desta metodologia clássica, cabe também,<br />
destacar que, em alguns casos, foram provocadas e depois utilizadas mutações<br />
gênicas induzidas por radiação, sem que o procedimento tenha despertado<br />
qualquer tipo de questionamento.<br />
O fato de se objetivar introduzir características genéticas desejáveis, e conhecidas,<br />
em qualquer organismo, independente da tecnologia empregada para<br />
este fim, pode, perfeitamente, ser considerado como uma iniciativa louvável.<br />
Parece que o temor dos riscos envolvidos na utilização de uma tecnologia em<br />
questão, não deveriam superar o potencial de benefícios inerentes aos produtos<br />
gerados por ela.<br />
Quanto aos avanços já obtidos e ainda possíveis de serem alcançados com<br />
a utilização da biotecnologia, especialmente o seu ramo mais jovem, a tecnologia<br />
do DNA recombinante, parece desnecessário reafirmar que são indiscutíveis. O<br />
caso do golden rice, por exemplo, ilustra muito bem este fato. Deve-se reconhecer<br />
que procurar contribuir para o benefício de milhões de pessoas, entre elas<br />
crianças, é realmente admirável, e a carência de vitamina A é um registro lamentável<br />
em algumas populações.<br />
Por outro lado, é justo ponderar que os riscos inerentes ao emprego da<br />
biotecnologia também são factíveis de se consumarem. Entretanto, é necessário<br />
entender que tudo o que o ser humano faz, deixando o estado de inércia, implica<br />
em riscos, que devem ser avaliados considerando-se também os benefícios potenciais.<br />
A relação entre riscos e vantagens é que determina a viabilidade de<br />
qualquer iniciativa. Se não fosse assim, o Homem ainda não teria ido ao espaço<br />
sideral, nem à Lua, não haveria bolsa de valores e, provavelmente, ninguém<br />
sairia de casa devido ao temor ao imponderável.<br />
Outro aspecto importante, que cabe ser dissecado neste texto, está relacionado<br />
com questões de cunho filosófico: será que já se questionou por que os<br />
alimentos, de origem vegetal, naturais, muitas vezes, têm as suas propriedades<br />
nutricionais deficientes para as necessidades orgânicas humanas? Haveria uma<br />
“lógica” justificável para isto? E será que as conseqüências de se alterar propriedades<br />
originais de seres da natureza não poderiam afetar o equilíbrio (ou<br />
desequilíbrio) biológico no Planeta? Talvez a deficiência de alguns aminoácidos<br />
em grãos, por exemplo, tenha um significado implícito que o espírito humano<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
ainda não descortinou. E, pensando-se em beneficiar populações desnutridas,<br />
de baixa renda e habitantes de regiões com poucos recursos, seria eticamente<br />
correto permitir a propriedade intelectual ou a patente de alimentos geneticamente<br />
modificados? Tais indagações, e outras mais, contribuem para agitar o<br />
cenário habitado pelos interesses e receios relativos à utilização da biotecnologia,<br />
e assim propiciam maior quantidade de “munição” para os intelectos puramente<br />
teóricos ou ativistas, posicionados em ações de vanguarda da Ciência ou em<br />
movimentos ambientalistas radicais.<br />
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Revista Higiene Alimentar, 2002.<br />
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 22. ed. São Paulo:<br />
Cortez, 2002.<br />
GLOSSÁRIO<br />
BIOTECNOLOGIA: emprego de organismos biológicos ou células vivas para a<br />
produção de substâncias de interesse econômico, como fármacos e alimentos<br />
(MOREIRA, 2000);<br />
BIOBALÍSTICA: É um método que utiliza microprojéteis em alta velocidade envoltos<br />
por DNA, com objetivo de superar a parede celular pela força, na esperança<br />
que algumas moléculas de DNA atinjam o núcleo e se integrem ao genoma<br />
nuclear. Os microprojéteis são constituídos principalmente de partículas esféricas<br />
de ouro ou tungstênio, e geralmente os equipamentos utilizam o gás hélio,<br />
eletricidade ou propulsão a ar e alta pressão na aceleração das partículas (AZE-<br />
VEDO et al., 2002).<br />
CROMOSSOMO: Elementos microscópicos em forma de filamentos que ocorrem<br />
no núcleo das células eucarióticas. Os cromossomos contêm o DNA onde estão<br />
contidas todas as informações genética do organismo ao qual a célula pertence<br />
(MOREIRA, 2000);<br />
CTNBio: Comissão Técnica Nacional de Biossegurança;<br />
DNA (ÁCIDO DESOXIRRIBONUCLÉICO): composto de desoxirribose (açúcar),<br />
fosfato e bases nitrogenadas. Cada molécula de DNA consiste de duas fitas complementares<br />
no formato de uma hélice dupla. O DNA é responsável pela expressão<br />
da informação genética no indivíduo e também pela transferência dos genes<br />
de uma geração para outra (MOREIRA, 2000);<br />
27<br />
ELETROPORAÇÃO: Método que consiste em submeter protoplastos misturaddos<br />
com DNA a uma descarga elétrica controlada opor um curto espaço de tempo.<br />
Esta descarga cria poros na membrana nuclear, facilitando a entrada de DNA no<br />
núcleo. Nesta solução de protoplastos, que células sem a parece celular (núcleos<br />
com citoplasma) também estão presentes plasmídeos contendo genes de interesse.<br />
Com a criação de poros pela descarga elétrica, um ou mais plasmídeos<br />
podem penetrar no núcleo e se integrarem no genoma da célula (AZEVEDO et<br />
al., 2002).<br />
ENGENHARIA GENÉTICA: ver Tecnologia do DNA Recombinante;<br />
GENE: Um segmento de um cromossomo onde se situa a informação genética<br />
(hereditária) para a produção de um tipo de molécula de proteína<br />
(MOREIRA, 2000);<br />
OGM: sigla para Organismo Geneticamente Modificado.<br />
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TECNOLOGIA DO DNA RECOMBINANTE: metodologia de isolamento de cópias<br />
de um determinado gene de um organismo e de inserção dele no DNA de outro<br />
organismo (da mesma espécie ou de espécie diferente). É também chamada de<br />
Engenharia Genética ou de Modificação Genética (MOREIRA, 2000);<br />
TRANSGÊNICO: indivíduo que no seu conjunto gênico possui um ou mais genes<br />
que não são próprios de sua espécie biológica, mas que foram aí colocados através<br />
de procedimentos laboratoriais de engenharia genética (ELISBÃO, 2002).<br />
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ANÁLISE DAS PERCEPÇÕES E CONSEQÜÊNCIAS NA RELAÇÃO<br />
ENTRE OS PAIS E PORTADORES DE SÍNDROME DE DOWN<br />
*Tatiany Honório Porto<br />
* *José Antônio Baltazar<br />
RESUMO<br />
O presente artigo pretende abordar considerações sobre a relação dos portadores<br />
de Síndrome de Down com a família e amigos e a influência dessa relação<br />
no desenvolvimento e na vida social desse portador. A relação familiar, principalmente<br />
entre pais e filhos, sempre se mostrou de muita importância, sobremaneira<br />
nas famílias em que os filhos são portadores de algum tipo de deficiência,<br />
como é o caso da Síndrome de Down, pois, nos portadores dessa Síndrome,<br />
a estimulação por parte dos pais produz um melhor desenvolvimento físico,<br />
motor e psicológico e, conseqüentemente, uma melhor relação desse portador<br />
com o mundo à sua volta. Então, os objetivos desta pesquisa foram compreender<br />
a dinâmica do relacionamento dos pais com seus filhos portadores de<br />
Síndrome de Down, a influência desse relacionamento na vida dos filhos e a<br />
influência da informação do médico sobre a Síndrome da criança na tarefa de<br />
aceitação da criança pelos pais.<br />
Palavras-chave: Deficiência Mental; Síndrome de Down; Relacionamento<br />
Familiar.<br />
ABSTRACT<br />
The presented article intends to approach some considerations concerning<br />
the relationship between friends and family of the Down Syndrome´s porters<br />
and their influence in the porter’s development and social life. The familiar<br />
relationship, mainly between the parents and their children always show itself<br />
very important, in families that are children with some deficiency it is more<br />
important, how is the case of Down Syndrome, because in the Down Syndrome´s<br />
porters the parent’s stimulation produce a best physical, motor and psychological<br />
development and for consequence a best relationship of these porters with the<br />
world around them. So, the objectives of this research were understand the<br />
dynamic of the parent’s relationship with their sons Down Syndrome´s porters<br />
and the influence of this relationship in their son’s life and the influence of the<br />
doctor’s information about the children’s Syndrome in the acceptation of these<br />
children for their parents.<br />
29<br />
Key-words: Mental Deficiency; Down Syndrome; Family Relationship.<br />
*Acadêmica do Curso de Psicologia do Centro Universitário Filadélfia – <strong>UniFil</strong>.<br />
E-mail:tatyporto@hotmail.com<br />
** Docente do Curso de Psicologia da <strong>UniFil</strong>.<br />
Mestre em Educação pela UNOESTE – Presidente Prudente.<br />
Psicólogo clínico.<br />
E-mail: jabaltazar@uol.com.br<br />
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INTRODUÇÃO<br />
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Um dos maiores problemas do ser humano, na atualidade, centra-se nas<br />
expectativas criadas perante um fato, uma pessoa ou um objeto, pois quando<br />
essas expectativas não são concretizadas, pode surgir uma série de sentimentos<br />
negativos nas pessoas como: preocupação, angústia, ansiedade, raiva, medo,<br />
rejeição, culpa, entre outras atitudes e comportamentos.<br />
Uma dessas expectativas seria a dos pais a respeito do(s) filho(s) durante a<br />
gestação. Eles sempre esperam que seu futuro filho possua uma série de qualidades,<br />
mas a maioria aceita, que pelo menos, que venha ao mundo uma criança<br />
saudável; mas quando ficam sabendo que seu filho é portador da Síndrome de<br />
Down, expectativas são quebradas e há um grande sofrimento por parte dos pais.<br />
Como argumenta PUESCHE (1993):<br />
“Os pais passam nove meses imaginando como será o bebê<br />
e qual efeito que ele terá sobre a família (...) Durante a<br />
gravidez, muitos pais chegam a verbalizar suas preocupações<br />
de que algo errado possa acontecer, mas geralmente<br />
esse sentimento é fugaz e repelido, principalmente quando<br />
não houve problemas durante a gestação e nenhum membro<br />
da família apresenta alguma deficiência”. (p:23).<br />
Quando reverter da situação é inevitável, como no caso da Síndrome de<br />
Down, resta aos pais adaptar-se às mudanças. Nessa fase de adaptação, do luto<br />
do filho desejado e a conseqüente aceitação do filho real, muitas vezes, a família<br />
precisa de muito mais ajuda do que a própria criança. A adaptação pode ocorrer<br />
de várias formas: por acesso a informações, maior tempo de convívio com a<br />
criança, conformismo dos pais, entre outras atitudes e comportamentos.<br />
Apesar disso, estudos mostram que, na maioria das vezes, os sentimentos<br />
negativos vão embora e bons sentimentos surgem, a partir do momento em que<br />
os pais vão convivendo coma criança, conhecendo-a melhor ou se conformando<br />
com as limitações com filho.<br />
Corroborando isto, PUESCHE (1993, p:27) narra:<br />
“Uma mãe descreveu seu processo de aceitação da seguinte<br />
maneira: Primeiro reconheci o que ela nunca seria, depois<br />
aprendi que ela não precisava ser e, finalmente, acredito<br />
que a aceitei como ela é e pode ser”.<br />
Já é sabido que a relação familiar, entre pais e filhos é de grande importância,<br />
pois os pais são as pessoas que ficam o maior tempo na companhia de seus<br />
filhos e eles, por conseqüência, recebem grande influência dos progenitores. A<br />
família influi, sobretudo via atitude dos pais; a família é o apoio, a sustentação,<br />
fonte de afeto e moral, de formação de valores, tão necessários para a formação<br />
humana de todas as pessoas e essa importância fica ainda maior nas famílias<br />
em que há filhos portadores de algum tipo de deficiência, como é o caso da<br />
Síndrome de Down, pois essas crianças precisam de cuidados especiais, indispensáveis<br />
para o seu desenvolvimento.<br />
É na relação com a família que a criança cresce, se desenvolve e aprende a<br />
se relacionar com o mundo que o cerca. Os pais não podem mudar a condição<br />
genética de seus filhos, mas podem e devem proporcionar a ela tudo de que ela<br />
precisa, amor e um ambiente necessário para desenvolver todo o seu potencial.<br />
O objetivo da presente pesquisa foi compreender a dinâmica do relacionamento<br />
dos pais com seus filhos portadores de Síndrome de Down e a influência desse<br />
relacionamento na vida desses filhos.<br />
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A metodologia empregada foi a pesquisa de campo, de forma quantitativa e<br />
qualitativa, com a utilização de questionários mistos, contendo 11 perguntas<br />
abertas e 18 fechadas. Participaram deste estudo, dez pais de portadores de<br />
Síndrome de Down da cidade de Londrina, cujos filhos são afiliados a APS Down<br />
(Associação de Pais e Amigos dos Portadores de Síndrome de Down), sendo que<br />
cinco portadores eram do sexo masculino e cinco do sexo feminino, com idades<br />
variando entre oito meses e 13 anos, no período de fevereiro de 2002 até novembro<br />
de 2003. Esta investigação científica ficou centrada na teoria de Siegfried<br />
Puesche, psiquiatra americano e Valerie Sinason, psicoterapeuta britânica.<br />
Alguns pontos analisados na pesquisa foram:<br />
• Nível sócio-econômico da família, idade, sexo, escolaridade,<br />
profissão e lazer do portador de Síndrome de Down;<br />
• Presença dessa Síndrome ou de outra deficiência em algum<br />
outro membro da família desse portador;<br />
• Expectativas perante a criança durante a gravidez;<br />
• Momento em que soube da deficiência do filho;<br />
• Quem informou sobre a deficiência;<br />
• De que modo foi informado;<br />
• Sentimentos dos pais após a informação;<br />
• Sentimentos atuais perante o filho;<br />
• Causa da mudança de sentimentos;<br />
• Onde buscaram informações;<br />
• Discriminação da família e amigos;<br />
• Sentimentos dos irmãos do portador.<br />
31<br />
RESULTADOS<br />
Os resultados mostraram que os pais que apresentam uma boa aceitação<br />
da Síndrome de Down do filho estimulam ou proporcionam maior estimulação<br />
do mesmo. Podemos observar que essas crianças apresentam uma maior quantidade<br />
de opções de lazer. Os pais que aceitam bem seu filho, não têm dificuldades<br />
para mostrá-lo aos amigos e parentes e, conseqüentemente, freqüentam<br />
uma maior variedade de lugares na companhia de seu filho.<br />
Um aspecto preocupante é a grande quantidade de crianças portadoras de<br />
Síndrome de Down, que ainda não têm nenhum tipo de lazer, o que pode ter<br />
ocorrido, na maioria dos casos, devido à falta de estimulação causada pela má<br />
aceitação e pelo baixo nível sócio-econômico dos pais, pois hoje em dia o lazer<br />
está muito ligado ao consumo. Então, pessoas com baixo nível sócio-econômico<br />
estão impossibilitadas de experimentar uma grande variedade de opções de lazer.<br />
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LAZER<br />
Nº DE<br />
RESPOSTAS<br />
FREQÜÊNCIA<br />
RELATIVA<br />
Não tem 5 50%<br />
Casa de amigos 3 30%<br />
Festas 3 30%<br />
Bola 1 10%<br />
Bicicleta 1 10%<br />
Pesca 1 10%<br />
Dança 1 10%<br />
Parque 1 10%<br />
Tabela 1 - Lazer do Portador de Síndrome de Down.<br />
32<br />
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Oitenta por cento dos pais tinham boas expectativas em relação a seu filho<br />
no período da gravidez; apesar disso 100% deles tiveram sentimentos negativos<br />
em relação à criança após o nascimento.<br />
Como podemos constatar em SINASON (1993):<br />
“Uma vez que existe um tal prazer comunal quando um<br />
novo bebê sadio nasce, também não é de se espantar que,<br />
quando um bebê nasce com desconforto, dor ou deficiência,<br />
a família experimente sentimentos difíceis. Pode ser<br />
que haja vergonha, culpa, medo, pena, raiva, revolta, bem<br />
como amor”. (p: 32).<br />
Mas, com um maior conhecimento da criança e maior acesso a informações,<br />
de variados modos, isto se alterou; 70% dos pais relataram que esses<br />
sentimentos negativos mudaram com o passar do tempo e foram substituídos<br />
por sentimentos como carinho e amor.<br />
As fontes de informação que os pais utilizaram para um maior conhecimento<br />
sobre a Síndrome de Down foram: médico, escolas especializadas, Internet,<br />
leitura, relação com outros pais e outros profissionais.<br />
Quarenta por cento dos pais relataram que o médico os informou que seu<br />
filho tinha Síndrome de Down de uma maneira incompleta e destrutiva, enquanto<br />
20% sentiram indiferença por parte do médico e outros 20%, preocupação,<br />
o que pode ter influenciado uma má aceitação do filho por parte dos pais.<br />
Como pode ser visto em SINASON (1993):<br />
“ Um relato de uma mãe, que reproduzo aqui com a autorização<br />
dela, tem sido a experiência de centenas: “Quando a enfermeira<br />
me disse que eu tinha tido uma filha, estava bastante nervosa.<br />
Ela não disse “Você tem uma filha adorável.”.Ela me entregou a<br />
criança muito rapidamente. O médico também não quis ficar<br />
muito tempo comigo. Quando meu marido e eu olhamos o nosso<br />
bebê pela primeira vez, acho que foi do mesmo modo rápido<br />
e brusco com que a enfermeira tinha nos olhado. Não posso me<br />
perdoar agora. É uma menina tão adorável.” (p: 33)”.<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
Outro aspecto preocupante foi a presença, nesta pesquisa, de uma mãe que<br />
só ficou sabendo que seu filho apresentava Síndrome de Down quando o mesmo<br />
tinha quatro anos. No hospital em que o menino nasceu nem o médico nem a<br />
enfermeira deram a notícia e ela foi embora do hospital pensando que seu filho<br />
não tinha qualquer tipo de deficiência, o que criou um caso muito sério, pois<br />
essa criança deixou de receber os cuidados precoces necessários para um melhor<br />
desenvolvimento. É importante salientar que o nervosismo ou o pouco<br />
conhecimento desses profissionais sobre a Síndrome de Down, não justifica<br />
essa falha absurda.<br />
No caso dos irmãos, parece ter ocorrido uma boa aceitação, com sentimento<br />
de carinho em 80% dos casos.<br />
Como confirma SINASON (1993):<br />
“... ele é parte tão importante da minha vida que não posso<br />
imaginar como seria a vida sem ele e quero ajudar outras<br />
famílias a sentirem-se do mesmo modo.” (p: 56).<br />
A discriminação, tanto por parte da família quanto por parte de amigos,<br />
ocorreu em apenas 30% dos casos, o que pode ter acontecido devido ao fato de<br />
as informações sobre a Síndrome de Down, ultimamente, estarem mais presentes<br />
em nosso cotidiano, em propagandas, novelas e campanhas na televisão.<br />
Porque o preconceito nada mais é do que uma total falta de informação, não<br />
que se esteja tentando aqui negar que portadores de Síndrome de Down são<br />
diferentes das pessoas consideradas “normais”, porque declarar isso, também,<br />
é um tipo de preconceito, pois acaba-se negligenciando os cuidados necessários<br />
para um melhor desenvolvimento e uma melhor adaptação desses afetados na<br />
sociedade. Estamos alertando para o fato de que, a partir do momento em que<br />
as pessoas estejam mais informadas a respeito da Síndrome de Down, elas ficam<br />
cientes da real condição dos portadores e de suas possibilidades de desenvolvimento.<br />
Aí, a maior parte das discriminações acabam.<br />
Na amostra que integrou a presente pesquisa, o fator hereditário parece<br />
não ter tido muita influência, pois foi registrada a presença de um outro portador<br />
na família, em apenas 10% dos casos.<br />
33<br />
CONCLUSÕES<br />
Foi possível concluir que os pais que aceitam bem o filho, apesar de suas<br />
limitações que os tornam diferentes das crianças consideradas “normais”, e assim<br />
ajudam na estimulação social e pessoal, conseqüentemente, proporcionam<br />
a essas crianças um melhor desenvolvimento físico, motor e psico-social. Corroborando<br />
isso CASTILHO (2003) diz:<br />
“A aceitação começa pelo desejo de que o filho chegue a<br />
existir; casais que têm um filho por falha dos métodos<br />
contraceptivos, dificilmente conseguirão criar esse clima<br />
em que todo o filho que vem ao mundo se sente desejado,<br />
acima de tudo, pelos seus pais. A aceitação implica, também,<br />
em esbanjar - com gosto, não como algo que atrapalha<br />
- os cuidados de que cada filho necessita. Os pais devem<br />
estabelecer uma relação ardentemente afetuosa com<br />
cada um dos filhos e fazê-los ver que todos eles são “importantes”<br />
na vida da família. Comprovou-se que a criança<br />
aceita pelos pais é, geralmente, ‘cooperativa, sociável, amigável,<br />
leal, emocionalmente estável e simpática’; e que ‘encara<br />
a vida com confiança’”.<br />
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Essa aceitação é ajudada através do acesso a informações sobre a Síndrome<br />
de Down que fazem diminuir a rejeição e o preconceito, por parte dos pais,<br />
parentes e amigos e criam um bom relacionamento do portador da Síndrome<br />
com eles mesmo e com o resto do mundo.<br />
Os resultados desta pesquisa são relevantes no sentido de poder informar<br />
os pais de portadores de Síndrome de Down, sobre o relacionamento com o seu<br />
filho e também destacar a validade da estimulação na vida dessa criança. É<br />
relevante também, para “abrir os olhos dos médicos” e fazê-los refletir sobre<br />
qual a melhor forma de informar os pais que venham a ter um filho portador da<br />
Síndrome de Down, pois essa notícia, na maioria dos casos, é um choque muito<br />
grande para eles e pode influenciar muito no tratamento que eles deverão dispensar<br />
a seu filho.<br />
Percebe-se, então, a urgência da necessidade de mudanças curriculares no<br />
cursos de graduação de Medicina e Enfermagem, uma vez que muitas vezes<br />
quem dá a notícia é o(a) enfermeiro(a), no sentido a acrescentar um conteúdo<br />
tão importante como esse no currículo nos futuros médicos e enfermeiros. O<br />
que pode ser corroborado por SINASON (1993):<br />
“Até que todas as escolas de Medicina e Enfermagem ofereçam<br />
treinamento de como dar essas notícias aos pais e como<br />
explicar o diagnóstico com a maior clareza possível, os pais<br />
tenderão a ter seu choque ampliado.” (p:33).<br />
Como já é sabido que mudanças desse tipo não acontecem em nosso país<br />
da noite para o dia, então vamos propor uma modificação mais imediata, mas de<br />
igual importância: a presença de um psicólogo ou de um profissional especializado<br />
nos hospitais para ajudar os médicos a dar a informação para os pais, de<br />
forma mais técnica e satisfatória.<br />
Os profissionais da Psicologia podem ajudar no sentido de explicitar claramente<br />
as potencialidades e limitações daquela criança, indicando os exames<br />
necessários e os serviços que ela irá necessitar conseguir para um melhor desenvolvimento.<br />
Além disso, se for de interesse dos pais, deve-se indicar instituições<br />
especializadas, onde alguns serviços são oferecidos para essa família gratuitamente<br />
e também são disponibilizadas mais informações sobre a<br />
Síndrome de Down, inclusive partindo de outros pais cujos filhos freqüentam<br />
tais instituições.<br />
O psicólogo deve sempre se constituir em um canal aberto de informações e<br />
estar pronto para responder às dúvidas dos pais sobre o “drama” do seu filho,<br />
minimizando assim a rejeição e o choque a que são expostos com a inesperada<br />
notícia.<br />
REFERÊNCIAS<br />
CASTILHO, Geraldo. Portal da Família. A Importância das Atitudes dos Pais. Disponível<br />
em :. Acesso<br />
em 4 de agosto de 2002.<br />
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I<br />
S<br />
T<br />
A<br />
ILECE. Como Prevenir a Deficiência Mental. Londrina: 2002.<br />
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Informações sobre a Síndrome de Down, destinadas a<br />
profissionais de Unidades de Saúde. Brasília, 2002.<br />
PUESCHE, Siegfried. Síndrome de Down guia para pais e educadores. Campinas:<br />
Papirus, 1993.<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
RIO DE JANEIRO. Espaço XXI – Grupo de Pais de crianças Down abrindo espaço<br />
no século XXI, 1997. Disponível em: .<br />
Acesso em 1º de agosto de 2002.<br />
RIO DE JANEIRO. Sociedade Síndrome de Down, 1997. Disponível em: . Acesso em 2 de agosto de 2002.<br />
RIO GRANDE DO SUL. Síndrome de Down, Trissomia do Cromossomo 21, 2001.<br />
Disponível em: . Acesso em<br />
2 de agosto de 2002.<br />
SÃO PAULO. Síndrome de Down: características e etiologia. Bauru, 1997. Disponível<br />
em: . Acesso<br />
em 1 de agosto de 2002.<br />
SCHULTE, W.; Tölle, R. Manual de Psiquiatria. São Paulo: Editora Pedagógica e<br />
Universitária Ltda.<br />
SINASON, Valerie. Compreendendo seu filho deficiente. Rio de Janeiro: Editora<br />
Imago, 1993.<br />
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ANÁLISE DE DADOS COLETADOS EM INSTITUIÇÕES DE ENSINO<br />
SOBRE O ADOLESCENTE E O PROBLEMA VOCACIONAL<br />
*Takae Sawae de Campos<br />
**José Antônio Baltazar<br />
RESUMO<br />
A presente pesquisa, intitulada ‘O Adolescente e o Problema Vocacional’<br />
teve como objetivo levantar as principais dúvidas dos adolescentes no<br />
enfrentamento da escolha profissional, e identificar as principais influências<br />
que eles sofrem no meio social. Participaram da pesquisa, alunos que estavam<br />
cursando o 2º ano do ensino médio de uma escola particular e de uma outra<br />
de ensino público, ambas situadas em Cornélio Procópio (PR), totalizando 71<br />
(setenta e um) participantes, de ambos os sexos, na faixa etária de 16 a 19<br />
anos. Cada aluno respondeu um instrumento contendo 25 questões, que serviram<br />
de embasamento para verificação e comprovação das hipóteses iniciais<br />
de que as dificuldades na escolha profissional independem da classe social, e<br />
que a maioria dos adolescentes tenta conciliar a satisfação pessoal com o mercado<br />
de trabalho.<br />
Palavras-chave: Adolescência; Problema Vocacional; Escolha.<br />
36<br />
ABSTRACT<br />
The present research, entitled ‘The Teenager and the Vocational Problem’,<br />
had as purpose to discuss the principal doubts that teenagers face at the<br />
professional choice and to identify the main influence that they suffer in the<br />
social atmosphere. Students of the second grade of high school, from particular<br />
and public colleges at Cornelio Procópio PR, have participated in this research,<br />
came down to 71 (seventy one) people researched, from both sex, at the age from<br />
16 to 19 years old. Each student answered an questionnaire with 25 questions,<br />
that attended to check and to proof the initial hypothesis that the difficulties at<br />
the professional choice doesn’t depend of social group and that most of the<br />
teenagers try to conciliate personal satisfaction with the job.<br />
Key-words: Adolescence; Vocational Problem; Option<br />
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1. INTRODUÇÃO<br />
Muitos aspectos sócio-culturais tornam mais complexa a fase de adolescência,<br />
que já é, por predisposição biológica, um período bastante difícil. Acrescente-se,<br />
ainda, a necessidade do direcionamento vocacional. Este, talvez seja o<br />
maior problema que o adolescente tem que resolver, pois está indiretamente<br />
ligado à sobrevivência.<br />
Esta, em um sentido amplo, envolve a subsistência, a cidadania e a paternidade.<br />
Segundo, RAPPORTT (1998), uma das grandes tarefas do jovem será processar,<br />
de alguma forma, as diversas influências recebidas. Ele tentará, ao mesmo<br />
tempo integrá-las e se diferenciar delas, projetando suas escolhas no futuro.<br />
A inquietação do jovem e de sua família face a esse momento de decisão, se<br />
justifica plenamente.<br />
*Acadêmico do 3º ano do Curso de Psicologia do Centro Universitário Filadélfia - <strong>UniFil</strong>.<br />
E-mail: takaesawae@hotmail.com<br />
**Docente do Curso de Psicologia da <strong>UniFil</strong>. Mestre em Educação pela UNOESTE – Presidente Prudente.<br />
Psicólogo clínico.<br />
E-mail: jabaltazar@uol.com.br<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
Tal escolha na adolescência se apresenta como urgente e necessária, pois<br />
sinaliza o final da infância e a participação mais efetiva no mundo adulto, sendo,<br />
nesse sentido, sem possibilidades de volta. Podemos reconsiderar em vários<br />
momentos o caminho traçado na adolescência, mudar de área ou atividade, mas<br />
não podemos mais retornar à infância.<br />
Muitas vezes, nesse período as relações familiares tornam-se tumultuadas,<br />
pois os pais pressionam o filho, ora para continuar criança, ora para crescer,<br />
definir-se e tornar-se logo independente, colocando o jovem em um certo estado<br />
de “ansiedade” em relação aos valores e normas que ele deve aprender para<br />
entrar para o mundo adulto.<br />
O momento da escolha profissional não acontece somente por causa do<br />
suposto desenvolvimento psicobiológico; também é influenciado pelo fator<br />
sociocultural.<br />
Entendemos, então, que o indivíduo escolhe sua ocupação ou profissão a<br />
partir das condições sociais em que vive e em função de suas habilidades, aptidões,<br />
interesses e dons. É algo que teve início quando se instalou na sociedade<br />
o modelo de produção capitalista.<br />
A partir do séc. XIX surgiu a sociedade industrial capitalista, fundada sobre<br />
os ideais de progresso econômico e social. Rompe-se, assim, em alguns países,<br />
a rigidez da sociedade feudal, marcada pela imobilidade dentro das grandes<br />
desigualdades sociais.<br />
Antes do capitalismo, o indivíduo tinha a sua ocupação determinada pelos<br />
laços de sangue; sua ocupação vinha de berço. Os servos teriam seus filhos e<br />
netos servos; os senhores seriam sempre senhores.<br />
Os homens adquiriram consciência de que podiam ser atores e autores de<br />
sua própria História, embora a dinâmica da sociedade impusesse um conjunto<br />
de mecanismos que obstaculizavam essa ação.<br />
O socialismo propunha uma organização social democrática para as massas.<br />
O comunismo, com a livre associação dos produtores livres, prometia a<br />
liberdade e o desenvolvimento pessoal.<br />
Somente algumas pequenas comunidades que se organizaram de acordo<br />
com esses princípios em sociedades mais numerosas e complexas acabaram<br />
levando a deturpações, como na ex-União Soviética, que muito se distanciou<br />
dos ideais socialistas, sofrendo sob uma ditadura ostensiva.<br />
Percebe-se, então, que indivíduos e grupos competem direta e agressivamente<br />
em função de seus próprios interesses. Nesse contexto são muitos os<br />
exemplos, valores ou normas contraditórios.<br />
Sabemos das mais diversas fontes (religião, filosofia, sociologia... etc.), a<br />
respeito das relações entre o indivíduo e a sociedade no que se refere à divisão<br />
das funções produtivas, administrativas, legais, etc. Essa divisão sempre se<br />
baseou na ideologia e na forma de organização social dominante, bem como no<br />
exercício do poder – diretamente decorrente da posse das riquezas e do controle<br />
dos meios de subsistência.<br />
Muitas teorias sobre a escolha profissional consideram que não há liberdade<br />
de escolha em uma sociedade capitalista. O indivíduo é escolhido para uma<br />
profissão pelas influências dos fatores sociais, da estrutura de classes, dos meios<br />
de comunicação e, de certa forma, da herança social.<br />
BOHOSLAVSKY (1977), psicólogo argentino, aponta o grupo familiar e o de<br />
amigos, como os dois grupos de onde vêm as principais pressões e os principais<br />
elementos para que o adolescente se referencie na hora da escolha. Diz ainda,<br />
que o grupo de amigos fornece, em geral, uma referência positiva enquanto que<br />
o grupo familiar pode, eventualmente, fornecer referências que o jovem procura<br />
rejeitar. Justifica dizendo que o grupo familiar é mais complexo, e que este não<br />
é opcional como o grupo de amigos.<br />
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Os valores desses grupos, as satisfações ou insatisfações<br />
que seus elementos experenciam com suas ocupações, as<br />
expectativas que apresentam em relação à escolha do jovem,<br />
são fatores fundamentais. O pai que considera seu<br />
trabalho de baixo valor social procurará sempre direcionar<br />
a escolha de seu filho no caminho da superação daquela<br />
situação social. Assim, o pai operário sonha com o filho<br />
doutor. Cita ainda que o adolescente, durante o processo<br />
de escolha profissional, passa por quatro situações, que se<br />
distinguem pelo tipo de conflito, ansiedade e defesa, evidenciados<br />
em seu comportamento: 1) – Situação prédilemática.<br />
O adolescente não se deu ainda conta que deve<br />
escolher. Os conflitos são ambíguos e a ansiedade baixa.<br />
As defesas são fortes. Em geral deposita nos pais a preocupação<br />
da escolha. 2) - Situação dilemática. O adolescente<br />
já percebe a necessidade da escolha. Os conflitos são confusos<br />
e ambivalentes. Confunde carreiras e matérias, emprego<br />
e estudo, etc. O nível de ansiedade é moderado. 3) -<br />
Situação problemática. O adolescente está realmente<br />
preocupado. Ele discrimina melhor, está menos confuso,<br />
mas ainda não há integração. Os conflitos são geralmente<br />
ambivalentes. “Quero ser engenheiro, mas não gosto de<br />
mate”mática; quero ser psicólogo, mas ganha pouco”, etc.<br />
As ansiedades são moderadas. 4) - Situações de resolução.<br />
Abandonar projetos e tomar uma decisão, elaborar seus<br />
lutos e encontrar uma solução. Os conflitos são<br />
ambivalentes quando se ama e se odeia o que se abandona,<br />
e combivalentes quando se passa a integrar esse objeto,<br />
que já não se ama e nem se odeia, mas que se reconhece.<br />
Nesta situação pode ocorrer uma regressão; abandona<br />
momentaneamente a escolha já elaborada, sentindo a solidão<br />
e a responsabilidade desta escolha para seu futuro;<br />
poderá também, observar expressão de onipotência na idéia<br />
de querer seguir várias carreiras, ou ainda a esquiva das<br />
carreiras abandonadas. São comportamentos de defesa que<br />
o adolescente utiliza para lidar com a ansiedade provocada<br />
pela situação<br />
Acreditamos que FREIRE (1992, p.47) está correto quando afirma que “Ninguém<br />
nasce feito. Vamos nos fazendo aos poucos, na prática social de que tomamos<br />
parte”.<br />
Devemos estar conscientes de que escolher também é perder. Escolher é,<br />
assim, obter e perder algo.<br />
Quando nos damos conta disso, a escolha fica mais fácil, porque na maioria<br />
das vezes, o que tentamos fazer é evitar a perda, o que em certas escolhas,<br />
torna-se impossível.<br />
A vida é muito dinâmica e os critérios usados hoje podem ser diferentes dos<br />
de amanhã. Vive-se a escolha do presente e constrói-se o projeto de amanhã,<br />
considerando que esta escolha sempre fará parte do nosso cotidiano. Mas se<br />
isto não funcionar, não der certo, é muito importante termos coragem para recomeçar,<br />
lembrar que uma escolha pode ser refeita, retomada e modificada.<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
2.METODOLOGIA<br />
Pesquisa de Campo.<br />
População Amostrada<br />
Participaram deste estudo, estudantes do 3º grau, da escola privada, Colégio<br />
Nossa Senhora do Rosário e da escola pública Colégio Estadual Castro Alves,<br />
ambas de Cornélio Procópio (PR), ano letivo de 2002.<br />
3.RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />
O momento da escolha profissional para os adolescentes é muito especial e<br />
marcado por situações de muitos conflitos. A maioria dos alunos entrevistados<br />
preocupa-se e pensa que é a escolha mais importante para a construção de seu<br />
futuro, e, sem dúvida, é, pois será uma escolha da atividade que exercerá a<br />
maior parte de sua vida e dela dependerá para sua subsistência.<br />
Quanto aos fatores que influenciaram na escolha da profissão, foram diversos,<br />
pois os adolescentes sofrem influência do meio social, além dos conteúdos<br />
pessoais e dos limites ou possibilidades que fazem parte desta escolha.<br />
Na questão da vocação, mais de 50% dos alunos entrevistados responderam<br />
que não acreditam na vocação; portanto julgam que somente o preparo<br />
técnico seja suficiente para proporcionar meios de subsistência. Esta questão é<br />
bastante polêmica, pois em alguns casos é evidenciado um dom, uma vocação,<br />
impossível de se negar, como no caso de alguns artistas que nunca estudaram<br />
música e se tornaram músicos famosos. Porém, sabidamente estão presentes<br />
características biológicas (genéticas) que não cabe no momento discuti-las.<br />
Segundo BOCK (2001) a idéia da vocação é usada para justificar as desigualdades<br />
sociais, produzidas pela estrutura social e justificadas pela concepção<br />
de diferenças individuais.<br />
Houve unanimidade entre os entrevistados da escola pública e foi a opinião<br />
da grande maioria do ensino particular, quanto à crença de que as “faculdades”<br />
mais conceituadas proporcionam melhores oportunidades de emprego aos acadêmicos<br />
ao concluírem o curso. Parece ser uma questão lógica, mas seria correto<br />
afirmar isso? O que ocorre é que os alunos provenientes das classes economicamente<br />
privilegiadas têm maiores chances, pois dispõem de todos os recursos<br />
necessários para a profissionalização.<br />
Percebe-se que o problema da escolha envolve a vontade de querer todas as<br />
possibilidades e, ao escolher, significa fazer um projeto que inclui um ‘desconhecido’<br />
que atemoriza, ocasionando insegurança; isto é, a escolha também é<br />
uma perda. Ao dar preferência por uma das possibilidades, perdem-se todas as<br />
outras, e esta sensação de perda é muito angustiante quando temos várias alternativas<br />
que a princípio são igualmente atraentes, restando a dúvida sobre<br />
qual seria a melhor escolha.<br />
Com exceção de apenas um entrevistado, todos responderam que mudariam<br />
de curso caso não se identificasse com o mesmo. Ao escolher uma profissão,<br />
este ato não define a vida de uma pessoa; é apenas o primeiro passo, que será<br />
seguido por muitos outros que poderão mudar o rumo de suas vidas a qualquer<br />
momento.<br />
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4.CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Com base nos dados obtidos, concluiu-se que eram verdadeiras as hipóteses<br />
iniciais levantadas, de que as dificuldades na escolha profissional independem<br />
da classe social e que a maioria dos adolescentes tenta conciliar a satisfação<br />
pessoal com o mercado de trabalho.<br />
Muitos jovens declaram que seus pais não influenciaram e nem manifestaram<br />
desejos acerca de alguma carreira profissional. Seria sensato acreditar?<br />
Provavelmente eles cresceram ouvindo de seus pais e familiares falando de sucessos<br />
e fracassos profissionais. Com certeza os adolescentes sofreram conseqüências<br />
desses fatos.<br />
Percebe-se que os jovens são corajosos, que são capazes de recomeçar caso<br />
achem que a escolha não correspondeu às suas expectativas.<br />
As dúvidas, companheiras de mais de 50% dos estudantes, indicam que é a<br />
fase de começar a assumir compromissos importantes e definitivos na vida e, é<br />
por causa disso, marcada por muitas angústias e sofrimentos. Os estudantes<br />
ficam inseguros diante das escolhas, mas precisam assumir uma direção e abraçar<br />
a vida com todos os seus riscos.<br />
Contudo, não podemos considerar que o futuro de uma pessoa dependa<br />
exclusivamente de sua opção profissional e, tampouco, que a escolha de uma<br />
profissão não possa ser, a qualquer momento, alterada.<br />
REFERÊNCIAS<br />
ARRUDA, A. Adolescente não cresce sem conflito com os pais. Folha de São<br />
Paulo. São Paulo, 4 de julho de 2002, Folha Equilíbrio, p.8 a 10.<br />
40<br />
BALTAZAR, J. A. O desenvolvimento afetivo do adolescente e suas implicações.<br />
(Texto). 1990.<br />
BOCK, A. M. B; FURTADO O.; TEIXEIRA M. L. T. Uma introdução ao estudo de<br />
psicologia. São Paulo: Saraiva, 2001.<br />
BOCK, S. A escolha profissional: uma tentativa de compreensão da questão na<br />
perspectiva da relação indivíduo/sociedade. (Texto), 1987.<br />
BOHOSLAVSKY, R. Orientação vocacional: a estratégia clínica. São Paulo: Martins<br />
Fontes, l977.<br />
D ANDREA, F. F. Desenvolvimento da personalidade. Rio de Janeiro: Bertrand<br />
Brasil, 1984.<br />
FREIRE, P. Pedagogia da esperança. 3.ed. Rio de Janeiro: Paz e <strong>Terra</strong>, 1992.<br />
RAPPAPORT, C. R. Escolhendo a profissão. São Paulo: Ática, 1998.<br />
______________ .Psicologia do desenvolvimento. V.4. São Paulo: EPU, 1981/1982.<br />
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I<br />
S<br />
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A<br />
TIBA, I. Seja feliz, meu filho! São Paulo: Gente, 1995.<br />
VIORST, J. Perdas necessárias. (Trad. Aulyde Soares Rodrigues). São Paulo:<br />
Melhoramentos, 1988.<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS COM FAMILIARES SOBRE O<br />
DESENVOLVIMENTO BIO-PSICO-SOCIAL DE PORTADORES DE<br />
SÍNDROME DE DOWN<br />
*Fábio Aparecido Sperandio<br />
**José Antônio Baltazar<br />
RESUMO<br />
Neste estudo, participaram 15 famílias de portadores da Síndrome de Down,<br />
estudantes na escola especial APAE de Arapongas – PR. Responderam a questões<br />
sobre a caracterização de suas famílias, do membro portador da Síndrome<br />
de Down e de suas características sociais, através de um instrumento fechado<br />
composto por 34 questões. A interpretação dos depoimentos sugere um perfil<br />
do meio social do portador da Síndrome de Down.<br />
Palavras-chave: Síndrome de Down; Família; APAE.<br />
ABSTRACT<br />
In this study, 15 families of Down Syndrome-holder studies in the special<br />
school APAE of Arapongas city in PR state, responding questions about<br />
characteristics of yours families, from the member Down Syndrome-holder and<br />
from the yours socials characteristics, making use of questionnaire with 34<br />
questions. The reports’ interpretation suggests a profile of the social field of the<br />
Down Syndrome-holder.<br />
Key-words: Down Syndrome; Family; APAE.<br />
INTRODUÇÃO<br />
“O modo como a sociedade equaciona os problemas criados<br />
pela presença de minorias deficientes e desfavorecidas<br />
reflete a sua concepção fundamental da natureza e valor<br />
do homem e seus pressupostos básicos sobre as suas obrigações<br />
comunitárias para com o cidadão individual.”<br />
(CABRAL, 1974).<br />
No decorrer da nossa história descobrimos que a uniformidade de oportunidades<br />
não significa uma igualdade de oportunidades. São necessárias alternativas<br />
para os indivíduos deficientes, e tais alternativas devem ser apropriadas<br />
às suas características especiais.<br />
Sabe-se que o nascimento de um filho com alguma excepcionalidade traz<br />
consigo decepção e traumas inesperados, seguindo-se crises familiares, ambição<br />
frustrada e tensões.<br />
O problema da excepcionalidade está contido na família e segue até a sociedade,<br />
partindo do indivíduo. Isto nos imputa a responsabilidade social sobre o<br />
fato.<br />
*Acadêmico do Curso de Psicologia do Centro Universitário Filadélfia – UNIFIL<br />
E-mail:fseperandio@logocenter.com.br<br />
**Docente do Curso de Psicologia da <strong>UniFil</strong>. Mestre em Educação pela UNOESTE – Presidente Prudente.<br />
Psicólogo clínico.<br />
E-mail: jabaltazar@uol.com.br<br />
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A família desempenha um papel primordial no desenvolvimento da criança,<br />
mas isto não exclui a sociedade de fazer a sua parte. As ações da família e da<br />
sociedade incidem no desenvolvimento das potencialidades da criança excepcional.<br />
Portanto, as oportunidades devem ser apropriadas às suas características<br />
especiais.<br />
Sabe-se que conhecer as relações sociais e suas características é um primeiro<br />
passo para uma melhor compreensão destas pessoas e do seu desenvolvimento<br />
bio-psico-social.<br />
Concluiu-se com a presente pesquisa que o papel da família é fundamental<br />
no desenvolvimento da criança; as ações da sociedade se revelam, muitas vezes,<br />
com o auxílio necessário que a família e o portador da Síndrome de Down necessitam.<br />
Foi verificado que 36% das famílias receberam algum tipo de acompanhamento<br />
psicológico.<br />
A escola especial e o médico desempenham papel primordial na tarefa de<br />
suprir as famílias com informações pertinentes à Síndrome de Down, assertiva<br />
que foi apontada em 31% e 25% dos questionários, respectivamente.<br />
As respostas acerca do contexto interpessoal dos relacionamentos apresentaram<br />
um padrão comum ao longo dos depoimentos. Quando questionados sobre<br />
a “existência de amigos”, “relacionamento com amigos” e “relacionamento<br />
com irmãos”, os pais revelaram que seus filhos possuem amigos e se relacionam<br />
bem em sua maioria com amigos e irmãos. Um outro fator que merece atenção é<br />
a afetividade, destacada em 24% das respostas, revelada no item “relacionamento<br />
com irmãos” sob o titulo de “amoroso”, demonstrando a forma com que<br />
ocorre o relacionamento.<br />
Uma mãe relatou em questão aberta que questiona as expectativas usuais<br />
durante a gestação, “Acho que toda mãe deveria esperar o filho que Deus confiou<br />
a ela, e não aquele que tem que ser perfeito...”. Sabemos que o nascimento<br />
de um filho com alguma excepcionalidade trás consigo expectativas e frustrações,<br />
podendo gerar crises e tensões dentro da família.<br />
A dificuldade de aprendizado é apontada pelos pais como o fator que mais<br />
os aborrece, e 45% destes buscam ajuda profissional para solucionar o problema.<br />
Foi revelado que os limites, ou seja, a teimosia foi apontada em 40% dos<br />
questionários, representam a principal dificuldade do portador de Síndrome de<br />
Down, sentida pelos pais.<br />
O problema da excepcionalidade está contido na família mas projeta-se até<br />
a sociedade, partindo do indivíduo. Isto gera inequívoca responsabilidade social<br />
sobre o fato.<br />
RESULTADOS<br />
Os depoimentos obtidos nos instrumentos revelaram características do<br />
núcleo social a que o portador da Síndrome de Down pertence.<br />
Dentre estas características destaca-se o papel da mãe. A influência da<br />
mãe revelou-se imensa na vida do seu filho portador de Síndrome de Down.<br />
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DISCUSSÃO DOS RESULTADOS<br />
O papel da família é fundamental no desenvolvimento da criança. As ações<br />
da sociedade se revelam, muitas vezes, trazendo o auxílio necessário que a família<br />
e o portador da Síndrome de Down necessita. É oportuno considerar aqui<br />
que 36% das famílias receberam algum acompanhamento psicológico.<br />
A escola especial e o médico desempenham papel primordial na tarefa de<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
suprir as famílias com informações pertinentes à Síndrome de Down, conforme<br />
é perfeitamente sabido.<br />
As respostas acerca do contexto interpessoal dos relacionamentos apresentaram<br />
um padrão comum através dos depoimentos. Uma mãe relata em questão<br />
aberta que questiona as expectativas durante a gestação, “Acho que toda mãe<br />
deveria esperar o filho que Deus a confiou e não aquele que tem que ser perfeito...”.<br />
Sabemos que o nascimento de um filho com alguma excepcionalidade trás<br />
consigo expectativas e frustrações, podendo gerar crises e tensões dentro da<br />
família.<br />
REFERÊNCIAS<br />
AMARAL, R. P. Síndrome de Down, e agora Dr.? Rio de Janeiro: WVA, 1996.<br />
BLASCOVI-ASSIS, S. M. Lazer e deficiência mental. Campinas: Papirus, 1997.<br />
COELMAN, JAMES COVINGTON. A psicologia do anormal e a vida contemporânea.<br />
São Paulo: Pioneira, 1973.<br />
DANNA, M. F.; MATOS, M. A. Ensinando observação: uma introdução. São Paulo:<br />
Edicon, 1984.<br />
LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Técnicas de pesquisa. São Paulo: 1982.<br />
VASH CAROLYN L. Enfrentando a deficiência: a manifestação, a psicologia , a<br />
reabilitação. São Paulo: Pioneira, 1988.<br />
WERNECK, C. Muito prazer, eu existo: um livro sobre as pessoas com síndrome<br />
de Down. Rio de Janeiro: WVA, 1993.<br />
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ANGÚSTIA E SEXUALIDADE: A DESCOBERTA FREUDIANA<br />
*Denise Maria Lopes Dal-Cól<br />
RESUMO<br />
Este trabalho é o resultado das elaborações recolhidas em uma dissertação<br />
de mestrado que teve como principais, as seguintes questões: quais os fatos<br />
clínicos e teóricos que conduziram o interesse do fundador da Psicanálise pela<br />
Angústia; em que direção desenvolveu sua pesquisa e quais as conclusões a<br />
que chegou (descobertas que fez).<br />
A oportunidade do presente estudo se deve à consideração da importância<br />
da angústia na clínica psicanalítica; isto porque o que se entende que é possível<br />
fazer com ela, depende do que se entende que ela significa, isto é concebida: o<br />
que é a angústia, qual a sua causa, como reconhecê-la.<br />
Palavras-chave: Angústia; Sexualidade; Freud.<br />
44<br />
ABSTRACT<br />
This work is the result of elaborations collected from a Master’s Degree<br />
dissertation which approached the following important questions: what were<br />
the clinical and theoretical facts that guided the interest of the Anguish<br />
Psychoanalysis founder; in which direction did he develop his research to and<br />
which were the conclusions he arrived at?<br />
The importance of the present study is due to the concern about the<br />
importance of anguish in psychoanalytical clinic; that is because what is<br />
understood to be possible to do with it depends on what is understood by its<br />
meaning: what anguish is, what its causes are and how to recognize it.<br />
Key-words: Anguish; sexuality; Freud.<br />
É somente a partir do século XIX que a angústia foi colocada em questão e<br />
investigada com a finalidade de buscar uma explicação para suas causas – conforme<br />
aponta BASS (2000, p.249, p. 263). A experiência de angústia foi tomada<br />
como um fenômeno a ser conceituado pelos filósofos, e estudada pela medicina<br />
acadêmica com um pressuposto organicista.<br />
Paralelamente, Freud foi levado, a partir da experiência com casos clínicos<br />
e na constituição progressiva da teoria psicanalítica a formular um conceito<br />
sobre a causa da angústia e a conceder-lhe um lugar cada vez mais importante<br />
para a compreensão dos processos psíquicos e de formação das neuroses.<br />
Freud elaborou em dois períodos, com um período intermediário, a descoberta<br />
do que é a angústia e sua causa.<br />
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* Docente da Universidade Estadual de Londrina – UEL.<br />
Mestre em Psicologia Clínica pela UNESP-SP<br />
E-mail: fpp@uel.br<br />
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No primeiro período (1893-1895), sua pesquisa sobre a angústia esteve no<br />
contexto de suas investigações sobre as neuroses, cujo protótipo é a histeria.<br />
Estabeleceu as neuroses de angústia como um quadro diferenciado porque nestas,<br />
a angústia que tem como núcleo a expectativa pessimista e a inclinação<br />
para idéias antitéticas aflitivas. É o sintoma central, diferente do que se chama<br />
neurose de defesa. A investigação da causa do fenômeno de angústia se inicia<br />
pela investigação das atividades sexuais do sujeito afetado por ela, isto é, investiga<br />
a vida sexual atual; isto porque, além do próprio paciente se reportar à sua<br />
sexualidade vinculada às expressões de angústia, há o contexto de suas descobertas<br />
acerca do papel fundamental e determinante que a sexualidade foi assumindo<br />
na causação da histeria.<br />
Os estados de angústia constituíam um enigma diferente dos sintomas neuróticos,<br />
embora a angústia parecesse estar presente nas neuroses, pois os sintomas<br />
de angústia -estados- não representavam um conteúdo inconsciente.<br />
Dessa primeira pesquisa Freud estabeleceu a sintomatologia da angústia,<br />
ou seja, suas modalidades de manifestação e elaborou uma teoria sobre a sua<br />
causa.<br />
Sintomatologia (FREUD, 1987, p.92-98).<br />
Das formas de expressão de angústia, Freud estabeleceu três grupos que<br />
são, o estado crônico, o ataque de angústia e a depressão periódica. Esta última,<br />
um ataque de duração longa. As duas primeiras formas podem combinar-se e o<br />
ataque só surge a partir dos sintomas crônicos, que são: expectativa ansiosa<br />
(apreensão) com o corpo-hipocondria; expectativa ansiosa em relação ao funcionamento<br />
do corpo – agorafobia, claustrofobia, vertigem de lugares altos; expectativa<br />
ansiosa relacionada às decisões e à memória – fantasias a respeito de seu<br />
próprio funcionamento psíquico (mania de duvidar, ruminações obsessivas).<br />
A irritabilidade geral e a expectativa angustiada, na forma rudimentar ou<br />
desenvolvida, compõem o quadro mais geral da neurose de angústia, sendo a<br />
segunda, base das expressões que aparecem de um modo crônico (latente, à<br />
espreita). Há nestes casos, um ‘quantum’ de angústia em estado de livre flutuação<br />
que se liga a qualquer conteúdo representativo adequado para explicar ou justificar<br />
racionalmente o medo, embora se note o exagero e a falta de fundamento<br />
específico para as possibilidades de que aconteça o que está sendo esperado<br />
pelo sujeito angustiado. A expectativa, portanto, controla a escolha das representações.<br />
Aparece sob a forma de uma tendência para adotar uma visão pessimista<br />
das coisas até o exagero desse pessimismo, uma espécie de compulsão.<br />
Outra forma é a angústia moral como o escrúpulo, o pedantismo que vai desde<br />
o considerado normal até a forma de ‘mania de duvidar’.<br />
O ataque de angústia acontece quando esta irrompe à consciência, sem ter<br />
sido despertada por uma seqüência de representações. Tem como núcleo, a<br />
expectativa angustiada, sendo que a falta de seqüência de associações dá a sua<br />
‘expressão de urgência’.<br />
São duas as formas de ataque: o sentimento de angústia sem representação<br />
associada e o sentimento de angústia acompanhado por representações de<br />
extinção de vida ou ameaça de loucura, parestesias (distúrbios da sensação) e<br />
distúrbios das funções corporais, como respiração, atividade cardíaca, inervação<br />
vasomotora ou atividade glandular.<br />
No ataque acompanhado de distúrbios do corpo, muitas vezes, o sentimento<br />
de angústia recua para um segundo plano, sendo freqüentemente<br />
irreconhecível ou apenas mencionado como um sentir-se mal.<br />
Os ataques acompanhados pelos distúrbios corporais se manifestam<br />
como: distúrbios da atividade cardíaca na forma de palpitação com arritmia<br />
transitória ou taquicardia de duração mais longa, o que pode provocar grave<br />
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enfraquecimento do coração; distúrbios respiratórios como dispnéia nervosa ou<br />
acessos semelhantes à asma e similares; acessos de suor; acessos de tremores<br />
e calafrios; acessos de fome devoradora, acompanhados de vertigem; diarréia<br />
sobrevindo em acessos; acessos de vertigem locomotora; acessos de congestões;<br />
acessos de parestesia. No ataque, os elementos apontados misturam-se em um<br />
grau variável ou cada um deles pode aparecer no ataque isoladamente, podendo<br />
haver só o sentimento desacompanhado de representações ou distúrbios corporais.<br />
Outros sintomas de angústia são: o aumento da sensibilidade à dor (distúrbios<br />
reumáticos), tendência a alucinações; a vertigem e a diarréia podem<br />
aparecer sob a forma crônica , podendo ser substituídas por uma sensação<br />
permanente de fraqueza e lassidão.<br />
Primeira teoria sobre a causa da angústia (a insatisfação<br />
sexual) (FREUD, 1990b; 1987).<br />
Nesta sua primeira investigação, Freud parece querer saber principalmente<br />
de que era feita a angústia – qual é sua ‘matéria’, uma vez que não é feita da<br />
mesma matéria ideativa do sintoma histérico. Chega à conclusão que a origem<br />
(a causa) deve ser buscada na esfera física da vida sexual, ou seja, nas excitações<br />
físicas. Entretanto, ver-se-á, concebe que as excitações não são somente<br />
físicas. Nos casos que atende, verifica que os fatores, como o coito interrompido,<br />
que perturbam o desempenho e a consecução adequada do ato sexual (da função<br />
sexual), produzem uma abstinência sexual, porque promovem uma descarga<br />
insuficiente da excitação sexual física produzida, isto é, a interrupção do ato,<br />
provoca a interrupção da descarga – refreamento – que produz um acúmulo e<br />
uma deflecção da excitação. Com isso, a excitação ou tensão física se transformaria<br />
em afeto de angústia. O resultado é uma satisfação sexual insuficiente<br />
devido a uma descarga também insuficiente. Até então parece que propõe um<br />
mecanismo sexual meramente fisiológico.<br />
Ao interrogar como ocorreria esta transformação da excitação em afeto, Freud<br />
demonstra uma outra concepção do mecanismo sexual que inclui o fator psíquico:<br />
as excitações de dentro do corpo, normalmente devem se ligar a representações<br />
– grupo de idéias - para produzir atos que são específicos à descarga dessas<br />
excitações, constituindo-se em atos psiquicamente significativos, com descarga<br />
mais satisfatória. No mecanismo da sexualidade, o grupo de idéias sexuais exerce<br />
um trabalho de transformação e distribuição da tensão sexual física, manejando-a<br />
psiquicamente, ou seja, as excitações que chegam ao psiquismo, exigem<br />
dele um trabalho de transformação/manejo, exercido pelas idéias. Assim,<br />
na sexualidade, a ação específica para descarregar a excitação sexual não é a<br />
realização do coito em si; a ação específica é a ligação das excitações às idéias. A<br />
tensão nesse enlace é físico-psíquica, chamada afeto sexual, libido sexual ou<br />
desejo. A tensão sexual, sendo físico-psíquica (libidinal), se transforma em angústia<br />
nos casos em que há o desenvolvimento da tensão física, mas esta não<br />
pode ser convertida em desejo pela sua representação ideativa, isto é, quando<br />
não há elaboração psíquica das excitações provenientes do corpo.<br />
Essa consideração dá nova dimensão à questão da causa da angústia uma<br />
vez que Freud associa a causa física à causa psíquica, demonstrando que uma<br />
não vai sem a outra: no processo que conduz à formação de angústia o acúmulo<br />
de tensão sexual física é acompanhado da diminuição da participação psíquica<br />
nos processos sexuais – a descarga é evitada no sentido psíquico. Sendo assim,<br />
a satisfação é evitada.<br />
A angústia é, portanto, uma forma da expressão da excitação acumulada e<br />
deflectida, apreendida como afeto na consciência.<br />
Freud admite a hipótese de que os fatores que impossibilitam que a descarga<br />
seja realizada (que a satisfação se produza), são todos aqueles que<br />
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impedem a excitação física de ser representada, a saber, o sujeito não tem<br />
um saber sexual suficiente ou tem esse saber, evita-o, ou, ainda, renuncia à<br />
satisfação no ato interrompido.<br />
Entende-se que se há renúncia ou evitação, há a intenção de desviar-se de<br />
algo. Sendo assim, os fatores que impedem a elaboração psíquica da sexualidade,<br />
seriam todos eles, afinal, uma tentativa do sujeito de tentar abster-se dela.<br />
As descobertas realizadas posteriormente por Freud confirmam essa interpretação<br />
na medida em que através delas verificamos que a satisfação da pulsão<br />
aponta para o impasse que o sujeito fica frente à satisfação e à perda de satisfação<br />
– que é a formação do desejo; isto, desde a infância. Esse impasse, representado<br />
simbolicamente como falo-castração.<br />
Entretanto, fica a questão de que nas neuroses atuais – neuroses de angústia,<br />
só há possibilidade de formar representações mínimas do desejo. Conforme<br />
entendido das elaborações freudianas, na neurose de angústia, a excitação física<br />
nem consegue penetrar no âmbito psíquico, mantendo-se no trajeto físico,<br />
embora transformada, convertida em afeto e nas neuroses histéricas, é a excitação<br />
psíquica que se converte em direção à área somática, mas a excitação já<br />
estava ligada a representações.<br />
Como conclusão, destaca-se como importante nas elaborações deste período<br />
o fato de Freud ter situado a fonte da angústia como pulsional – o real do<br />
corpo, a vertente real (pulsional) do encontro com o próprio sexo. Além disso, da<br />
extensa descrição da sintomatologia da angústia legou-nos um valoroso<br />
referencial para seu reconhecimento, ainda fiel nos dias atuais.<br />
O segundo período da investigação freudiana acerca da angústia (1900-<br />
1920), distante do primeiro, uma vez que somente em 1917 declina seu texto<br />
teórico principal sobre o assunto, deve-se ao fato de que ele desviou seu interesse<br />
pela angústia e ocupou-se neste tempo, com o aprofundamento das questões<br />
que a clínica das neuroses de defesa lhe impuseram, ampliando e aprofundando<br />
os conceitos psicanalíticos fundamentais.<br />
Se, inicialmente, Freud questiona qual a causa (fonte) da angústia e encontra<br />
as quantidades de excitação e/ou satisfação pulsional, neste período faz um<br />
desdobramento da questão sobre a causa, partindo da questão sobre sua função,<br />
encaminhando-se com isso, para a causa ou fundamento simbólico (inconsciente)<br />
da angústia, aproximando-se do fato de que sua lógica se fundamenta<br />
na sexualidade infantil (FREUD, 1990c).<br />
Indaga inicialmente, sobre sua função geral, uma vez que é encontrada nos<br />
estados não patológicos, visando encontrar meios para responder sobre a função<br />
psíquica da angústia nas neuroses. Identifica a angústia em sua função de<br />
defesa: reação através de um sinal subjetivo, a um perigo de dano vindo de um<br />
objeto externo. Com isso lança a hipótese de que na angústia neurótica deve<br />
haver algo que se teme, deve ser uma reação de medo. Faz uma conexão entre a<br />
angústia neurótica e o perigo, e, apoiando-se na teoria da libido que tinha na<br />
época, a saber, a oposição entre o ego e a libido, conclui que a angústia é uma<br />
reação do ego que promove a tentativa de fuga das exigências da libido, e sabemos<br />
que essa exigência é de satisfação. A tentativa de fuga se dá pela adoção de<br />
medidas de defesa, de afastamento, através da formação de sintomas que substituem<br />
a geração de angústia.<br />
No exame que faz das características da angústia nos estados não patológicos<br />
(que chama realística), apresenta um quadro que designa de maneira<br />
incontestável, o estatuto da angústia: é um estado afetivo – um estado, não<br />
um sintoma.<br />
Expõe que a angústia é um estado subjetivo (afeto) do qual se é tomado ao<br />
perceber o surgimento do perigo, sendo este estado uma composição de descargas<br />
motoras, acompanhadas de sensações de desprazer, aumento da atenção<br />
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sensória e da tensão motora. É uma reação que se dá no sujeito à percepção de<br />
um perigo, manifestando-se como estado de preparação expectante – apenas<br />
um sinal, início meramente frustrado - ou como geração de angústia propriamente<br />
dita. Como sinal, a angústia avisa o sujeito da aproximação do perigo e<br />
permite que tome providências para sua proteção. Como geração, a angústia<br />
paralisa a ação. É essa constatação, da angústia-sinal, que permite outra vertente<br />
de investigação da causa da angústia (FREUD, 1990c, p.471-476)<br />
A ação de defesa cujo sinal a angústia dispara, envolve o reconhecimento<br />
de um perigo e a ação sobre esse perigo que é a fuga ou a luta. Se, envolve reconhecimento,<br />
significa que já há um saber prévio, que é o sujeito que define o<br />
que é temível.<br />
A hipótese de que a angústia é medo cuja causa está no próprio sujeito, ou<br />
seja, de que a causa da angústia é a própria sexualidade do sujeito, cuja exigência<br />
de satisfação é percebida como perigo pelo ego (o ego trata o perigo interno<br />
como se fosse um perigo externo) leva Freud a considerar os motivos dessa<br />
recusa da sexualidade. Por que as exigências da libido são consideradas um<br />
perigo pelo ego, já que a sexualidade faz parte do próprio sujeito?<br />
Para responder esta questão, Freud investiga a origem do medo na infância,<br />
nos estados de apreensão infantil, através da análise da angústia realística<br />
nas crianças e da análise do primeiro temor infantil. Neste exame constata que<br />
a criança nova não demonstra temor de objetos e situações externas; ao contrário,<br />
colocando-se em risco por aproximar-se do fogo, peitoril de janela, objetos<br />
cortantes, etc. O primeiro temor, apreensão ou fobia infantis manifestam-se<br />
freqüentemente em três situações: diante de pessoas estranhas, escuro e solidão<br />
(FREUD, 1990c, p.473-475).<br />
À luz dos achados psicanalíticos, interpreta esse temor da seguinte forma:<br />
a criança está habituada à vista da figura familiar da mãe, com a qual faz um<br />
laço amoroso, e a ausência deste objeto de amor (inicialmente ausente do campo<br />
do olhar) produz um desapontamento na criança e um concomitante anseio<br />
– desejo intenso, resultando, também, na não significação interna da falta, em<br />
função da ausência de representações internas suficientes para ancorar a libido<br />
infantil. A lógica do primeiro temor está então, no fato de que a ausência da<br />
pessoa amada produz um anseio e, um anseio sentido no escuro se torna medo<br />
de escuro; a situação ou objeto externo é o perigo que substitui o perigo a que a<br />
ausência do objeto amado conduz. A angústia infantil, introduz sob a forma de<br />
um perigo externo insignificante, um objeto ou situação para representar as<br />
exigências da libido.<br />
Com isso, o complexo em virtude do qual a angústia infantil se constitui,<br />
está indicado. A libido exige satisfação – descarga – e essa libido quer se satisfazer<br />
em conexão com o objeto amado; a ausência do objeto produz falta de satisfação<br />
que se registra como perda, em que está implícito um excesso de excitação;<br />
com isso cresce o desejo de se satisfazer através do objeto – o único com o<br />
qual a criança sabe se satisfazer.<br />
O medo da libido, é o medo da vivência de uma pressão à satisfação sob a<br />
forma de um desejo intenso, vinculado à ausência da pessoa amada, aquela<br />
com a qual empregava sua libido (olhar, cuidados).<br />
Neste segundo período, portanto, Freud situa a angústia como um efeito da<br />
experiência de separação, apontando o desejo e a falta que aí se constitui,<br />
como causa da angústia. Os apontamentos de Freud indicam que a separação<br />
da mãe produz um símbolo de uma divisão, marcada psiquicamente e a excitação<br />
é temível porque o sujeito fica em falta (desamparo simbólico), fica sozinho<br />
com o desejo intenso e a pressão a satisfazê-lo. Pode-se elaborar um outro<br />
aspecto que estas conclusões nos ensina: o amor encobre a satisfação, sendo<br />
sua falta, uma aproximação à satisfação e, nesta primeira condição infantil, a<br />
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tendência à satisfação demonstra a falta, de maneira inexorável.<br />
Freud indica, neste período intermediário a causa lógica da angústia, que<br />
irá desenvolver melhor posteriormente: a sexualidade é representada psiquicamente<br />
desde a infância e a constituição subjetiva segue o protótipo da ausência<br />
que implica uma perda e uma falta no sujeito. Em outras palavras, a inscrição<br />
mental da excitação supõe uma inscrição mental de perda e de anseio de satisfação<br />
no sujeito – o desejo – o que o coloca em falta. Sendo assim, a falta em que<br />
fica a criança, não é falta do objeto, como também não é esta a causa do medo,<br />
mas a falta que se forma no próprio sujeito pelo fato de que o humano se orienta<br />
por referências simbólicas ou imaginárias que conduzem sua excitação e nomeiam<br />
(significam) seu desejo e que isto vem do outro.<br />
Se no primeiro período Freud indica a angústia do eu frente à pulsão, neste,<br />
inclui o medo frente ao desejo.<br />
A segunda teoria sobre a causa da angústia (a castração)<br />
(FREUD, 1976).<br />
No terceiro período da pesquisa de Freud que situamos entre 1917 e 1926,<br />
a nova elaboração conceitual do aparelho psíquico na segunda tópica, proporciona<br />
algumas questões e conclusões acerca dos sintomas, da angústia e da relação<br />
entre eles. Uma de suas conclusões mais importantes referente à questão<br />
de como é possível a transformação da descarga da pulsão de prazer em desprazer,<br />
será exposta a seguir. A satisfação da pulsão (descarga) só é prazer dentro de<br />
uma economia – o princípio do prazer –, (o qual rege o ego) isto é, um limite de<br />
descarga da excitação; se ultrapassar este limite para mais ou para menos,<br />
conduz ao desprazer.<br />
Essas elaborações fazem pensar também que tanto a perda de satisfação,<br />
quanto o aumento de satisfação são igualmente perigosos para o ego porque<br />
fazem sair do princípio do prazer ou equilíbrio subjetivo (de idéias), equilíbrio<br />
este, visado pelo eu, conduzindo ao processo de defesa (recalque) e a posterior<br />
formação de sintomas.<br />
Reconhece que no recalque secundário não há transformação da excitação<br />
em afeto, pois o que se dá aí é a reprodução do afeto, em forma de sinal, reprodução<br />
do estado. Com isso, resolve uma questão anterior, sobre o fato da angústia<br />
(como matéria pulsional) ser a causa ou a conseqüência do recalque, ou seja,<br />
causa da defesa que leva ao sintoma. A angústia é a causa do recalque.<br />
Freud retoma a situação de separação da mãe, articulando-a com a situação<br />
original de angústia que postula – o ato do nascimento –, uma vez que<br />
descobre que a angústia é sinal de desprazer (quantidade pulsional limitada,<br />
reduzida) reproduzido no ego a partir de experiências anteriores. Freud articula,<br />
aprofunda e insere novos elementos aos momentos históricos do surgimento da<br />
angústia na vida do sujeito.<br />
No nascimento, o aumento da tensão libidinal é vivenciado como um<br />
desprazer, sendo que sua descarga faz uma marca de satisfação, porém sem<br />
significação. A excitação, transformada em afeto de desprazer, é reproduzida no<br />
eu posteriormente, como sinal cada vez que uma condição de aumento de tensão<br />
se estabelece. Freud entende que este estado de excitação, marca uma condição<br />
de perigo (desamparo psíquico) ao qual o ego reage com angústia sempre<br />
que um estado dessa espécie se repete, estado este, reproduzido posteriormente<br />
como um afeto. A situação de perigo é significada somente a posteriori, quando<br />
da separação do objeto de amor (FREUD, 1976, p.158-161).<br />
A separação da mãe constitui o anseio, produzindo um símbolo mnêmico<br />
da falta (imagem), sendo este um fator psíquico – o símbolo ou representação da<br />
falta – de objeto e de satisfação. O sinal de angústia indica a repetição de uma<br />
separação. A libido inaplicável que exige satisfação pela ausência do objeto de<br />
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amor, transforma, introduz a exigência interna de satisfação (estado de excitação<br />
aumentado), marcado no inconsciente como expectativa ou desejo, em um<br />
estado de perigo. A separação da mãe produz um símbolo que dá significação ao<br />
estado e produz o deslocamento do perigo como o estado de excitação aumentado,<br />
para a situação de perda da mãe: o perigo é deslocado da situação econômica<br />
para a condição que determinou essa situação – a perda do objeto. A mãe<br />
assume essa função porque primeiro responde à satisfação, parcialmente, e cria<br />
o dom, uma demanda de amor, mas nunca responde a isso por inteiro, nunca<br />
dá a significação última e nem faz acabar as excitações, constituindo, com sua<br />
falta, o desejo.<br />
Freud insere como novo que a angústia é originalmente um estado de excitação<br />
libidinal não significado, apenas marcado, e que a separação (ausência)<br />
da mãe produz o deslocamento do estado para uma significação de perigo: a<br />
situação de perigo, de perda do objeto, dá significado de perigo ao estado de<br />
excitação e ao desejo que daí deriva. Há nessa elaboração, nos parece, uma<br />
lógica dialética circular, uma vez que a experiência do momento inicial se desloca<br />
para o ‘final’, mas é o momento posterior que dá significado ao anterior.<br />
A angústia é, pois, sinal afetivo em face de uma perda – é sinal de uma<br />
separação, de uma experiência de perda, e o que é repetido é o estado em forma<br />
de sinal. A ameaça, o perigo, é a repetição desse estado subjetivo – desamparo<br />
psíquico – ficar só, com o desejo que cresce e a dificuldade de dar significação a<br />
isso (elaborar simbolicamente) (FREUD, 1976, p.161).<br />
A situação de angústia e de perigo de castração para o ego que Freud<br />
localiza na base do recalque e da posterior formação de sintomas, em todas as<br />
formas de neurose, é o passo fundamental seguinte que permite formular a<br />
lógica simbólica do perigo que a sexualidade representa ao ego; isto é, a face<br />
simbólica do perigo sexual. Para expor e discutir isso, Freud realiza o reexame<br />
dos sintomas, principalmente das fobias, notadamente o caso Hans.<br />
Articula, então, as situações de angústia do ato do nascimento e da separação<br />
da mãe, com a situação de angústia de castração.<br />
O novo elemento com o qual Freud trabalha é a castração (e o falo) como a<br />
experiência de perda central e o perigo psiquicamente mais significativo que resignifica<br />
os anteriores e conduz ao sinal de angústia e ao recalque: “...o significado<br />
de medo da separação, da perda do objeto, se estende além do ponto da<br />
separação da mãe, pois a transformação seguinte do conteúdo da situação perigosa<br />
e da angústia, que pertence à fase fálica, também constitui o medo da<br />
separação e está ligada ao mesmo determinante – nesse caso, o perigo de se<br />
separar de seus órgãos genitais (Freud, 1976, p.162). A angústia diante da separação<br />
dos genitais é o deslocamento da situação de perigo como perda do<br />
objeto-mãe para a situação de perigo como perda do falo. O determinante de<br />
angústia nesta fase é a ameaça de perda do falo.<br />
Freud explica que há uma ligação entre o medo de se separar de seus<br />
órgãos genitais e o medo contido nas situações anteriores de perigo. Essa ligação<br />
está no alto valor narcísico que o pênis possui por proporcionar ao possuidor<br />
poder ficar mais uma vez unido à mãe – a um substituto dela, no ato da<br />
copulação. O perigo de ficar privado do órgão equivale ao perigo de renovar a<br />
separação da mãe e, com isso, ficar desamparadamente exposto a uma tensão<br />
decorrente da necessidade pulsional. Entretanto, a necessidade atual cujo aumento<br />
se teme, aponta, pertence à libido genital e não mais indeterminada,<br />
como aconteceu no período da primeira infância (FREUD, 1976, p.163).<br />
Procurar-se-á esclarecer melhor a lógica da castração – o medo de se separar<br />
de seus órgãos genitais e o perigo que ela representa ao ego – valendo-nos do<br />
que nos ensina Freud desde sua clínica, quando da discussão do caso de Hans,<br />
e, com isso, esclarecer o perigo simbólico que a sexualidade representa para o<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
sujeito: qual a importância da libido genital e não indeterminada? Qual a maneira<br />
de entender o valor narcísico do pênis?<br />
Embora em Inibições, sintomas e ansiedade, Freud não deixe explícito que,<br />
do ponto de vista do inconsciente, o significado de desamparo simbólico que a<br />
perda do objeto (o pênis) representa seja uma interrogação e uma falta de resposta<br />
sobre a própria sexualidade, em 1909, quando da discussão do caso de<br />
Hans, apresenta os elementos que possibilitam essa leitura.<br />
As considerações de Freud em Inibições, sintomas e ansiedade sobre a primeira<br />
angústia da criança na separação da mãe e o deslocamento para a angústia<br />
de castração esclarecem que o significado de perda aí encontrado faz parte<br />
de um complexo que encontra um ‘desfecho’, um ‘momento crucial’, quando na<br />
fase fálica.<br />
A discussão que FREUD, 1987, p.109-159) faz do caso do pequeno Hans, à<br />
época de sua publicação, possibilita o entendimento de que a chamada fase<br />
fálica diz respeito tanto à modalidade de satisfação genital – a tensão do desejo,<br />
no que se refere à excitação no órgão genital – quanto ao fato de que, nessa fase,<br />
simbolicamente, a sexualidade está sob a primazia do falo: a premissa da universalidade<br />
do órgão sexual masculino. Em outras palavras, as crianças representam<br />
psiquicamente o sexo como apenas um (FREUD, 1987, p.117). Além<br />
disso, os pais são os objetos aos quais se dirige a catexia libidinal – a satisfação<br />
dos impulsos amorosos – e das perguntas que demonstram o interesse que a<br />
criança tem de saber da sexualidade, principalmente no que se refere à questão<br />
sobre a origem dos bebês.<br />
É nessa mesma fase que se põem novas representações a serem elaboradas<br />
pela criança: o outro sexo, para ambos o feminino. Essas novas representações<br />
ocorrem em função da pergunta da criança sobre seu órgão – o falo, o outro<br />
na criança que se excita independente dele, e devido ao problema que a sexualidade<br />
do pais coloca para a criança : as relações sexuais, principalmente em<br />
decorrência da pergunta sobre a origem dos bebês.<br />
Sigamos os recortes do caso de Hans para melhor esclarecer esses apontamentos.<br />
O nascimento da irmã de Hans legou-lhe perdas em virtude das quais<br />
agitou-se seu pensamento, colocando-lhe interrogações. Hans queria saber da<br />
função do pai no nascimento de Hanna e dele próprio, já que os chamava de<br />
filhos (FREUD, 1987, p.139). É a gravidez da mãe e, na seqüência, o órgão sexual<br />
feminino da irmã, que propiciam a Hans a percepção da diferença sexual e<br />
que geram nele uma busca – como compreender a si próprio, se existe outro<br />
sexo? Além disso, a constatação da diferença sexual gera o ‘pensamento’ de que<br />
há algo que os dois sexos fazem para que nasçam os bebês; havendo, assim,<br />
uma questão subjacente sobre o fator copulatório da sexualidade (FREUD, 1987,<br />
p.118, p.139).<br />
Da parte da mãe, Hans vivenciou a perda da satisfação amorosa (por exemplo,<br />
o contato no ato de dormir e os cuidados gerais) juntamente com a perda da<br />
premissa de que ela tinha um pênis (FREUD, [1987], p.121; p.135).Da parte do<br />
pai também houve perda em duas direções – sua presença diminuía as oportunidades<br />
de satisfação de Hans com sua mãe e sua resposta às questões de Hans<br />
sobre a sua participação no nascimento de bebês foi insuficiente e gerou descrédito.<br />
A resposta do pai segundo a qual é a cegonha que traz os bebês gera<br />
incredulidade em Hans, pois ele verifica suas hipóteses – viu a barriga da mãe<br />
crescer, ouviu seus gemidos, viu Hanna e viu a mãe magra novamente – sabe,<br />
portanto, que os bebês nascem da mãe. E o pai, qual sua participação, qual sua<br />
função no nascimento dos bebês, já que os chama de filhos? Hans acha que ele<br />
tem algo a ver com isso, mas não tem elementos intelectuais e simbólicos para<br />
resolver essa questão, apenas ‘intui’ que é preciso um pênis grande e talvez<br />
forçar uma passagem (FRED, [1987], p.140-41).<br />
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Qual era a perda que ameaçava Hans e gerava angústia? A perda da qual<br />
Hans tem medo faz parte de um complexo, do qual se destaca um elemento – a<br />
perda da premissa fálica:<br />
A privação da mãe em dois sentidos – Hans perde a satisfação narcísica que<br />
experimenta com a mãe e intui a falta do órgão sexual masculino nela. Além<br />
disso, observa o órgão sexual feminino na irmã.Com isso, perde a premissa da<br />
universalidade do pênis – há um outro sexo, o feminino.<br />
A privação do pai no sentido de uma resposta sobre a significação do seu<br />
sexo em relação ao outro sexo – a admissão de sua participação no nascimento<br />
de Hans e Hanna: ‘informação’ sobre o órgão sexual feminino e o ato copulatório.<br />
A percepção interna da pulsão (a exigência de satisfação representada pela<br />
ereção do “faz-pipi”): a exigência é interna – a excitação que pressiona ao ato de<br />
satisfação na masturbação e a impossibilidade de compreender isso. Essa<br />
experiência gera também, uma divisão entre a forma de satisfação proveniente<br />
do laço amoroso com a mãe e da nova forma de satisfação.<br />
Essas experiências representam um abalo, uma perda das premissas sexuais<br />
anteriores – a perda da premissa da significação do seu sexo – que é o amor<br />
de sua mãe, que é o falo de sua mãe; isso, juntamente com a perda da satisfação<br />
narcísica que experimenta com ela. Essa perda é vivida imaginariamente como<br />
a separação dos seus órgãos genitais. A castração é, pois, interpretada como:<br />
seu órgão sexual será cortado.<br />
Desse modo, para Hans, a gravidez da mãe (complexo do parto da mãe<br />
grávida) e o nascimento da irmã geraram interrogações que têm como núcleo a<br />
questão principal – que significado tem seu órgão, seu sexo e como articulá-lo<br />
com a relação que tinha à mãe e às novas questões que a presença de seu pai<br />
lhe impunha (intuição de que seu pai tinha algo a ver com o bebê).<br />
Pelo caso de Hans, entendemos que o complexo de castração é um complexo<br />
associativo que remete a uma questão sexual não respondida, em função do<br />
desamparo simbólico da criança (FREUD, [1987], p.142): qual a função do pai<br />
no nascimento dos bebês? Essa pergunta indica uma outra, subjacente, sobre a<br />
diferença sexual: o que é o homem, o que é a mulher e o que é a cópula. O<br />
desamparo simbólico é, pois, gerado pela perda das premissas sexuais anteriores<br />
– a perda da significação que a criança tinha de si – quando o sujeito fica<br />
diante de novos elementos da sexualidade : a existência do outro sexo, o feminino,<br />
para ambos os sexos, e a cópula que não pode ser simbolizada devido à<br />
‘incompreensão dos fatos’ pela criança. A perda da significação que a criança<br />
tinha de si – um só sexo, ele é feito para ser amado como falo (objeto) da mãe –<br />
é o perigo que a sexualidade representa: a divisão entre os dois sexos.<br />
Com Freud, principalmente pelo caso Hans, aprendemos que a angústia é<br />
o sinal do retorno de uma questão sexual pendente, que ficou recalcada, esquecida,<br />
evitada: questão relacionada ao desejo de saber da própria sexualidade e<br />
que corresponde à elaboração simbólica das perdas que o sujeito experienciou<br />
– a perda no sujeito gerada pela separação do objeto-mãe, o que constitui o<br />
desejo; e a perda no sujeito gerada pela perda da premissa fálica pela constatação<br />
da diferença sexual, o que impõe uma nova interpretação ao desejo.<br />
Por isso, a neurose se sustenta na constituição da sexualidade infantil –<br />
quando as perdas podem ser apenas imaginariamente elaboradas (fantasias inconscientes),<br />
produzindo sintomas, e, por vezes, angústia.<br />
Portanto, na fase fálica há uma outra separação a ser simbolizada, outra forma de<br />
desejo a ser representada e interpretada. A fase fálica é a entrada na simbolização da<br />
diferença sexual. Se o desamparo simbólico experimentado por uma criança nova está<br />
em correspondência com a representação de existência – é vivo, tem necessidades, é<br />
desejante, na fase posterior é a diferença sexual e a divisão que ela impõe.<br />
Compreende-se a lógica do perigo para a criança, o temor da perda dos<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
genitais(do falo) como o perigo de perda da premissa fálica que é primeiramente<br />
um princípio de existência, um significado do desejo; sendo experimentada uma<br />
perda simbólica, quando da queda dessa premissa, primordialmente quando<br />
constata a falta na mãe. A perda do falo coloca uma interrogação para a criança<br />
e uma falta de resposta sobre a sexualidade (desejo) no que diz respeito a sua<br />
expressão adulta, uma divisão quanto à manutenção do amor (mãe fálica – criança<br />
falo da mãe)) e a nova experiência que se impõe que é a percepção interna<br />
da excitação no órgão genital: a perda do falo é a perda da sua própria significação<br />
como falo da mãe, feito para tamponar suas faltas e velar a separação dos<br />
sexos em duas polaridades. Há, portanto, um complexo que arma a castração e<br />
que é o ‘nó’ onde o desejo é re-significado. A experiência da castração opera a<br />
produção de um novo significado para o sujeito, de seu desejo.<br />
A última elaboração sobre a angústia é assim resumida: a angústia é o<br />
medo que o sujeito tem de seu próprio desejo, constituído por último, pela experiência<br />
da castração. Essa elaboração interpreta a tese inicial de que a causa da<br />
angústia é a insatisfação sexual, porque suas articulações fazem concluir que o<br />
desejo é a falta de satisfação sexual, é a insatisfação que se dá por estrutura –<br />
pelo fato de ser inscrita psiquicamente; por isso o desejo é a expectativa de<br />
satisfação e ao mesmo tempo é um saber que não se satisfaz por completo. Esse<br />
saber está em dialética com tendência à satisfação, às ‘investidas’ da pulsão que<br />
podem expor o sujeito à ‘experiência de uma morte’.<br />
CONCLUSÃO<br />
Como conclusão, para o clínico importa saber sobre a significação da angústia,<br />
que tem um sentido para o sujeito que sofre dela, que é medo de algo de<br />
dentro que toca em uma verdade inconsciente no medo que sente. A verdade do<br />
inconsciente é a verdade da pulsão e da castração, recalcada pelo eu.<br />
REFERÊNCIAS<br />
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n.4/5, p.249-281, 2000.<br />
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BUENO, M. A. T. O mal-estar na contemporaneidade: conversas de Freud com<br />
Hipócrates. Latusa: Rev. Esc. Brás. Psic. Rio de Janeiro, n.4/5, 2000.<br />
DAL-CÓL, D.M.L. Um estudo sobre a teoria da angústia na obra de Sigmund<br />
Freud: caminhos de construção e de descoberta. 2002. 232f. Dissertação (Mestrado<br />
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das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. 3.ed.,v.1. Rio de Janeiro<br />
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síndrome específica denominada ‘neurose de angústia’. Edição standard brasileira<br />
das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. 2.ed., v3. Rio de Janeiro:<br />
Imago, 1987.<br />
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obras psicológicas completas de Sigmund Freud. V.20. Rio de Janeiro: Imago,<br />
1976.<br />
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A ESTRATÉGIA DA CONVENIÊNCIA NOS<br />
POSTOS DE COMBUSTÍVEIS DE LONDRINA<br />
*Alexandre Brandalize<br />
** Adalberto Brandalize<br />
RESUMO<br />
Cada vez mais, os postos de serviços se transformam em agradáveis centros<br />
de compras. A idéia é agregar a maior variedade possível de produtos, para que<br />
o consumidor estacione graciosa e confortavelmente seu veículo e leve para<br />
casa alguns gêneros de primeira necessidade. Há algumas particularidades e<br />
nuances deste ramo, tais como: 80% dos clientes da loja de conveniência são os<br />
mesmos do posto e 60% das lojas não são auto-suficientes financeiramente.<br />
Estas e outras informações estão expressas e analisadas neste estudo.<br />
Palavras-chave: Atendimento; Conveniência; Preço; Produtos e Serviços.<br />
ABSTRACT<br />
More and more, service stations have become pleasant centers of purchases.<br />
The idea is to put together as great a variety of products as possible, so that<br />
consumers can park their vehicles comfortably and take home some basic goods.<br />
There are some particularities and nuances to this area of business, such as:<br />
80% of the customers of convenience stores are the same costumers coming for<br />
fuel and 60% of the stores are not financially self-sufficient. These and other<br />
information is shown and analyzed in this study.<br />
Key-words: Service; Convenience; Price; Products and Services.<br />
55<br />
INTRODUÇÃO<br />
No início, o posto de combustíveis era formado apenas por bombas. As lojas<br />
de conveniência têm se expandido no Brasil desde o início da década de 90. Seu<br />
sucesso é inegável e se deve ao fato de que uma crescente parcela da população<br />
economicamente ativa necessita do horário noturno para fazer suas compras.<br />
(SEBRAE, 1996:11). Tanto tem crescido esse negócio, que diversas redes de<br />
supermercados e postos de combustíveis estão inaugurando unidades de 24<br />
horas de atendimento.<br />
A maioria das lojas de conveniência se concentra nos postos de combustíveis;<br />
muitas unidades estão se expandindo em outras áreas comerciais de fácil<br />
acesso para os consumidores.<br />
Apesar da concorrência dos supermercados noturnos e das ruas 24 horas,<br />
as lojas de conveniência têm seu lugar garantido porque seus clientes dão valor<br />
à comodidade, praticidade e agilidade no atendimento prestado por estas lojas.<br />
*Acadêmico do Curso de Administração de Empresas da Universidade Estadual de Londrina - UEL.<br />
**Professor Orientador. Mestre em Administração, área de Finanças e mestrando em Administração, área<br />
Gestão Empresarial. Docente de Administração de Empresas na <strong>UniFil</strong> e na FANORPI. Professor e coordenador<br />
de pós-graduação. Consultor empresarial. Ex-executivo. Pesquisador e palestrante sobre Administração.<br />
E-mail: branda@sercomtel.com.br, home page: www.professorbrandalize.hpg.com.br<br />
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O trabalho busca ajudar a entender: de que maneira pode se desenvolver a<br />
formulação de uma estratégia de conveniência que atenda aos interesses dos<br />
potenciais consumidores do município de Londrina. O que é importante ao se<br />
montar uma loja de conveniências? Buscar-se-á, concomitantemente, comprovar,<br />
ou não, as seguintes hipóteses:<br />
a) A loja de conveniência que, geralmente, inicia-se como<br />
um apêndice do negócio principal, comércio de combustíveis,<br />
continua sendo, ou vem se consolidando como negócio,<br />
possuindo estratégias próprias?<br />
b) Quais as informações básicas para instalar uma loja de<br />
conveniência em um posto de combustíveis.<br />
c)Quando um consumidor que opta pela conveniência, “vai<br />
às compras” o que este mais valoriza é o atendimento e<br />
sua idade situa-se entre 15 e 30 anos.<br />
Realizou-se então a pesquisa junto aos empresários de lojas de conveniência<br />
localizadas em postos de combustíveis, que forneceram algumas informações<br />
pertinentes a este tipo de negócio.<br />
O presente trabalho traz em seu bojo, um estudo breve de como montar<br />
uma loja de conveniências. Em uma breve pesquisa bibliográfica não foi localizado<br />
outro estudo nesta área, para possibilitar uma comparação.<br />
DESENVOLVIMENTO<br />
1. O QUE É CONVENIÊNCIA<br />
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1.1.Uma breve abordagem sobre conveniência<br />
Poucos empresários e executivos desse setor de atividades têm discutido a<br />
importância da conveniência. Usam conveniência como um termo genérico que<br />
sempre engloba a localização e pode, eventualmente, incluir aspectos como distribuição<br />
e variedade de produtos, conhecimentos do pessoal de vendas, rapidez<br />
para pagar, horários de atendimento, qualidade do atendimento, layout da<br />
loja e necessidade de amplo espaço para estacionamento.<br />
Segundo a Star Mart (Texaco): “Efetivamente o sucesso é maior nos locais<br />
em que há um grande número de pessoas que trabalham “fora” e que valorizam<br />
a conveniência de ter um local para abastecimento, fácil de estacionar, e<br />
comercializando marcas líderes a um preço justo e com segurança.”<br />
O presente trabalho pretende ajudar a compreender melhor e, particularmente,<br />
orientar como montar uma empresa de conveniências, formular estratégias<br />
integradas de conveniência para aumentar a competitividade e melhorar o<br />
relacionamento com os clientes.<br />
Obviamente as empresas sempre deverão procurar a competitividade em<br />
relação aos preços e conveniência, uma vez que essa variável é importante para<br />
os consumidores. No entanto, acreditamos que essa competitividade deve ser<br />
conseqüência da eficiência e da produtividade, sem necessariamente sacrificar<br />
cada vez mais suas margens de lucro.<br />
Por exemplo, no início de 2001, a rede Star Mart e Star Coffee (Texaco)<br />
contava com 168 lojas e a Star Video com 29 lojas, e com planos de expansão,<br />
incluindo mudanças no layout das lojas para um padrão mais arrojado.<br />
Em 11 de janeiro de 2002 a Lei 13.463 do Governo do Estado do Paraná,<br />
proibiu a venda de bebidas alcoólicas nas lojas dos postos de combustíveis do<br />
Estado. Segundo o Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis do Paraná<br />
(Sindicombustíveis) a queda no faturamento pode ter chegado a 40%.<br />
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1.2.Dimensões da conveniência<br />
(BERRY e cols./HSM: 2001, p.2.001) cita:<br />
“Para os clientes, conveniência no varejo representa facilidade<br />
e rapidez nas compras. Os varejistas que têm desempenho<br />
superior entendem a perspectiva do cliente e vão<br />
além disso. Eles vêem a experiência de compra como um<br />
todo integrado, composto por partes distintas porém relacionadas<br />
entre si. Aumentam a conveniência de suas ofertas<br />
de mercado de quatro formas, que englobam toda a<br />
experiência de ir às compras”.<br />
As quatro formas ou dimensões são:<br />
1. É fácil chegar às lojas (conveniência do acesso);<br />
2. As lojas permitem que os clientes identifiquem e selecionem os produtos<br />
que desejam (conveniência da procura);<br />
3. As lojas fazem com que seja fácil o cliente obter o que deseja (conveniência<br />
da posse);<br />
4. As lojas aceleram e simplificam a compra e a devolução de produtos<br />
(conveniência nas transações).<br />
Reforça (BERRY e cols./HSM: 2001, p.2.001):<br />
“Ao entender melhor as formas de conveniência e como<br />
funcionam juntas, os varejistas podem formular estratégias<br />
de conveniência que sustentem relacionamentos duradouros<br />
com os clientes e coloquem a sua competitividade<br />
em patamares mais elevados”.<br />
1.3.Informações sobre os empresários de lojas de conveniência nos<br />
postos de combustíveis da cidade de Londrina<br />
O estudo aqui relatado efetuou pesquisa com alguns empresários do ramo<br />
de conveniências em postos de combustíveis. As perguntas foram breves e objetivas,<br />
devido ao fato de os envolvidos não dispuserem de muito tempo, ou<br />
paciência, para responder questionários longos.<br />
Foi utilizado o Teste do Qui-Quadrado; este teste não-paramétrico é, particularmente,<br />
um dos mais adaptados ao estudo das ciências do comportamento,<br />
razão pela qual foi escolhido para este estudo. Por tratar-se de uma pesquisa<br />
não-probabilística, as informações obtidas não se destinam a uma globalização,<br />
mas são aplicáveis à amostra, servindo como um indicativo de comportamento e<br />
tendências.<br />
Utilizou-se as modalidades de pesquisa a seguir relacionadas: bibliográfica,<br />
etnográfica, na Internet, de campo, descritiva e de opinião.<br />
1.3.1.Dados Informativos sobre a pesquisa<br />
As sondagens foram efetuadas junto aos estabelecimentos que possuem<br />
lojas de conveniência e que se dispuseram a responder ao questionário. Foram<br />
aplicados cinco questionários.<br />
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1.3.2.Análise das pesquisas e o perfil do negócio de conveniência<br />
As informações fornecidas pelas pesquisas resultaram nas seguintes conclusões:<br />
- 60% têm controles separados da loja em relação ao abastecimento;<br />
- 100%: o faturamento é somado ao do posto de abastecimento;<br />
- 100%: o proprietário da loja de conveniência é o mesmo<br />
do posto;<br />
- 80% dos clientes da loja de conveniência são os mesmos<br />
do posto;<br />
- 60% das lojas não são auto-suficientes financeiramente;<br />
- 80% das lojas funcionam 24 horas;<br />
- 80% das promoções da loja são independentes do posto<br />
de abastecimento;<br />
- 40% das lojas têm funcionários próprios;<br />
- 80% das lojas têm layout que permite fácil movimentação<br />
dos clientes;<br />
- 100% das lojas são franquia da distribuidora de combustíveis;<br />
58<br />
- o faturamento médio das lojas apurado, foi de R$<br />
19.000,00, e o faturamento individual é: 20% delas faturam<br />
até R$ 10.000,00; 40% das lojas faturam entre R$ 10.001,00<br />
e 20.000,00; outros 40% entre R$ 20.001, 00 e 40.000,00.<br />
Estes dados estão estampados no Gráfico 1;<br />
- 60% das lojas de conveniência têm de 2 a 5 funcionários<br />
e 40% têm um único funcionário.<br />
- Para 40% dos proprietários trata-se de “um novo negócio”<br />
e/ou porque os concorrentes têm; para 20% a loja existe<br />
para aproveitar o espaço ocioso, e/ou porque a distribuidora<br />
exige. Nenhum proprietário entrevistado encarou<br />
como, efetivamente, um novo negócio.<br />
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Gráfico 1 - Faturamento médio mensal das lojas de conveniência.<br />
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Horários de maior movimento segundo os proprietários entrevistados. (Gráfico 2).<br />
Gráfico 2 - Horários de maior movimento nas lojas de conveniência.<br />
- Os dados apurados nos postos de Londrina e os dados da<br />
AMPM mostram resultados semelhantes quanto à idade<br />
média dos clientes. Em levantamento em duas das lojas foi<br />
apurada a faixa etária dos clientes, conforme o Gráfico 3.<br />
59<br />
Gráfico 3 - Faixa etária dos clientes.<br />
Para a maioria dos proprietários de lojas de conveniência entrevistados,<br />
este não se trata de um negócio com vida própria, mas um apêndice do negócio<br />
principal.<br />
1.4.Como pode ser uma loja de conveniência<br />
Pode ser um negócio independente ou uma franquia. Algumas distribuidoras,<br />
oferecem um know-how , marca conceituada e consultoria que podem ser<br />
interessantes e devem ser cuidadosamente analisados pelo interessado. Em<br />
caso de franquia deve ser observado o contido na Lei nº 8.955, de 15/12/94,<br />
que dispõe sobre franquia empresarial.<br />
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1.5.Identificação da oportunidade<br />
As lojas de conveniência são conhecidas por venderem bebidas e produtos<br />
alimentícios 24 horas por dia. Situadas na sua maioria em postos de gasolina,<br />
atraem, não somente pessoas que procuram algo para comer no meio da madrugada,<br />
como também quem passa para abastecer o automóvel no posto a<br />
qualquer hora do dia.<br />
1.6.ESTRUTURAÇÃO<br />
1.6.1.Recursos humanos<br />
Essas lojas possuem, em geral, 1 a 3 funcionários em cada turno, que cuidam<br />
basicamente do caixa e da organização da loja. O perfil destes funcionários<br />
é a aptidão para um atendimento irrepreensível.<br />
1.6.2.Operações e espaço lógico<br />
60<br />
O ambiente é organizado de modo que o cliente efetue um auto-atendimento,<br />
entrando em contato com um funcionário apenas na hora do pagamento. Em<br />
muitos postos, o cliente que deseja pagar o abastecimento com cartão ou cheque,<br />
deve fazê-lo dentro da loja. Em outros, clientes do posto têm direito a um<br />
cafezinho grátis. Com um ambiente aconchegante e atraente, a loja acaba por<br />
conquistar também esses clientes que não pretendiam utilizá-la, e sim apenas<br />
abastecer o carro. Portanto, os negócios se complementam, uma vez que, em<br />
busca da loja de conveniências, alguns clientes acabarão por aproveitar para<br />
abastecer o veículo.<br />
É essencial manter os padrões de conforto e facilidade de circulação nos<br />
espaços da loja. A loja deve ser organizada em departamentos que compõem os<br />
grandes grupos de produtos da loja, e as mercadorias devem ficar dispostas de<br />
tal forma que o consumidor perceba todos os produtos com as características<br />
que ele procura agrupados na estante. Exemplo: bebidas, biscoitos e bolachas,<br />
congelados, bombonière, tabacaria, etc.<br />
Para organizar o espaço lógico deve-se observar alguns conceitos:<br />
a) Compra programada: o consumidor tomou a decisão de<br />
comprar algum produto antes de entrar na loja (tabacaria,<br />
não alimentícios, mercearia);<br />
b) Compra por impulso: são aqueles casos em que o consumidor<br />
toma a decisão da compra no ato (snacks,<br />
bombonière, bebidas geladas, sorvetes);<br />
c) Compra relacionada: são aquisições complementares a<br />
outro produto, ou seja, podem ser adquiridos dentro de<br />
uma dualidade: queijos e vinhos, massas e molhos, snacks<br />
e bebidas;<br />
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d) Pontos de destaque: são a entrada, o check out porque<br />
todos têm que passar por ele para pagar, e as geladeiras,<br />
porque a venda de produtos refrigerados encontra-se acima<br />
da média. Portanto são geradores de fluxo;<br />
Efetivamente, para organizar a loja deve-se levar em conta o fluxo de compra:<br />
o consumidor à procura de algo específico precisa ser seduzido por outros<br />
produtos; produtos de venda programada devem ser dispostos de forma que o<br />
consumidor tenha que atravessar a loja; os produtos de compra de impulso<br />
devem estar no caminho para os produtos planejados; produtos de venda relacionada<br />
devem estar próximos uns dos outros ou em frente. Existem técnicas de<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
arrumação que ajudam as gôndolas a venderem mais:<br />
a) Rótulo voltado para o consumidor;<br />
b) Empilhamento: não exceder a altura da gôndola;<br />
c) Produtos correlatos juntos;<br />
d) Prateleiras preenchidas totalmente;<br />
e) Nunca empilhar diretamente no chão; e,<br />
f) O objetivo é vender, não decorar.<br />
1.6.3.Produtos e serviços<br />
As lojas de conveniência de maior sucesso, trabalham com lanches rápidos,<br />
fast food, produtos alimentares, bebidas e salgadinhos, higiene e limpeza, sorvetes,<br />
bomboniére, cigarros, revistas, cartões comemorativos, gelo, carvão, CDs/<br />
DVDs/Fitas VHS, e muitas outras que variam de loja para loja. Entre as comodidades<br />
para o cliente estão, em alguns casos, ar condicionado, forno microondas,<br />
além de se poder obter os produtos prontos para o consumo imediato com<br />
agilidade.<br />
Para definir o mix de produtos deve-se observar:<br />
a) Produtos absolutos: líderes de marca, ou seja, os geradores<br />
de fluxo.<br />
b) Produtos relativos: produtos que variam de região para<br />
região.<br />
c) Produtos transparentes: sem marca definida – produtos<br />
diferenciados, na maioria das vezes itens de impulso.<br />
d) A escolha de um produto deve ser baseada na sua demanda<br />
e não somente na negociação com o fornecedor,<br />
além de: verificar se o produto está dentro das características<br />
do negócio, a associação deste produto com outros, e<br />
se não existe duplicidade.<br />
A apresentação dos produtos é básica, portanto:<br />
a) Os produtos devem estar sempre limpos e arrumados;<br />
61<br />
b) As embalagens devem estar em perfeitas condições e os<br />
produtos intactos;<br />
c) Prazos de validade devem ser constantemente verificados.<br />
Segundo a revista Conveniência News de março/99 a Shell foi a primeira<br />
no segmento de lojas de conveniência e conta com cerca de 3.000 lojas em 114<br />
países, sendo 260 delas no Brasil. Nestes dez anos de experiência, a rede Select<br />
cresceu e tem hoje como seu ponto forte a constante pesquisa junto ao mercado<br />
para saber quais os produtos que o consumidor está procurando. “Podemos<br />
dizer que as lojas Select têm dois pontos fortes para destacar. O primeiro é o fato<br />
de ficar aberta 24 horas e o segundo é que a Shell mantém um contrato de<br />
pesquisa com a Nielsen, que nos envia relatórios informando os produtos mais<br />
vendidos no mercado, ou seja, os top de vendas nos supermercados. Isto faz<br />
com que as lojas Select tenham sempre um mix com os produtos mais consumidos<br />
e procurados”, diz Carlos Augusto Zanuto, chefe de treinamento das lojas<br />
de conveniência Select.<br />
O desafio é encontrar o equilíbrio do mix de produtos e marcas para atender<br />
melhor o cliente.<br />
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1.6.4.Precificação<br />
O preço deve ser atrativo para a compra por impulso e deve estar marcado<br />
de modo claro e visível.<br />
Para formar preços deve-se levar em conta:<br />
- Que nos mercados competitivos existe uma tendência das<br />
margens diminuírem;<br />
- Maximizar o faturamento por m² através de franquias próprias<br />
ou de terceiros;<br />
- Que a redução de preços eleva o risco de guerra de preços<br />
no mercado e o aumento de preços provoca reação dos consumidores;<br />
- Deve-se adotar uma das três metodologias para fixação<br />
de preço: Preço baseado no custo, preço baseado no valor,<br />
e preço baseado na concorrência.<br />
- A percepção de valor pelo cliente ocorre de acordo com o<br />
Gráfico 2 a seguir:<br />
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Gráfico 2 - Percepção de valor pelo cliente.<br />
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Flávio Franceschetti, assessor de marketing/Esso/Stop & Stop/Hungry Tiger<br />
com mais de 300 lojas espalhadas por todo o país comenta: “Nosso primeiro<br />
diferencial é o posicionamento estratégico de preços. Nós entendemos e acreditamos<br />
que na equação: preço baixo x margens modestas x turn over alto, é igual<br />
a lucro”.<br />
1.6.5.Finanças<br />
Uma boa venda começa com uma boa compra. A negociação e seleção de<br />
fornecedores são fundamentais. Para a compra deve-se: ter em mãos relatórios<br />
de vendas e giro, cadastro de produtos, balizadores de margens, participação<br />
ideal por departamento, conhecer a participação na curva ABC, prazos de entrega<br />
e perfil dos fornecedores.<br />
Observar: a) legislação tributária: Municipal referente ao INSS; Estadual<br />
referente ao ICMS, Federal referente ao PIS/Cofins; b) legislação trabalhista:<br />
vale transporte, ticket alimentação, adicional noturno, adicional de periculosidade,<br />
INSS, FGTS.<br />
Formar os preços de venda mediante um Mark up (margem de contribuição<br />
compreendendo: lucro + custos) ideal para cada produto. A seguir representaremos<br />
o cálculo hipotético de um produto:<br />
Preço de custo: R$ 8,20; mark up previsto: 30%; tributação: 18%.<br />
PV s/imp.= 8,20 / [1 –(30 / 100)] = R$ 11,71; e<br />
PV c/imp.= 11,71 / [ 1 – ( 18 / 100)] = R$ 14,28.<br />
Portanto, o preço de venda ideal seria R$ 14,28.<br />
1.6.6.Estratégia de marketing<br />
A loja deve explorar basicamente as conveniências da facilidade, proximidade<br />
e rapidez, além de um pronto atendimento e de qualidade. Explorar a<br />
identidade visual do estabelecimento como logotipo, símbolos, cores, alfabeto<br />
visual, bem como, o layout da loja, design, materiais, mix de produtos e campanhas<br />
promocionais.<br />
Outro ponto importante é o marketing de ponto de venda que salienta: a)<br />
ambiente: som, temperatura, odores, luz e cores (cores quentes: compras por<br />
impulso); b) Atendimento: cortesia e eficiência; c) Preço: justo; d) Localização:<br />
perto ou no caminho; e) Qualidade e variedade: conveniente. Um ambiente percebido<br />
como agradável motiva o consumidor a gastar mais tempo explorando<br />
outras ofertas, falar com os funcionários, gastar mais do que o planejado e voltar<br />
à loja.<br />
O processo de sedução começa fora da loja com: placa de aproximação,<br />
aspecto geral do posto e letreiro. A comunicação deve ser explorada em 3 tipos<br />
de mensagens: institucionais da empresa, ou seja, a marca; promocionais, produtos<br />
e serviços; informativas, comunicados obrigatórios.<br />
As promoções têm os seguintes objetivos: incrementar as vendas, aumentar<br />
a rentabilidade, trabalhar a imagem, melhorar o relacionamento com fornecedores<br />
e atrair novos clientes. Devem ter um planejamento prévio estabelecendo:<br />
objetivo, público-alvo, tipo, preços e margens, itens, período e forma de con-<br />
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trole. Os tipos de promoção são: a) Promoção de preço para aumentar: tráfego,<br />
faturamento, vendas relacionadas e imagem da loja; b) Promoções com parceiria<br />
com fornecedor para: preços melhores; fixar marca, comunicação do ponto de<br />
venda; c) Promoções de novos produtos para: introduzir produtos e criar o hábito<br />
de consumo, trabalhar marcas líderes, criar imagem de inovação; d) Promoções<br />
contínuas: brindes, cupons de desconto, campanhas; e) Promoções com<br />
compras relacionadas: sanduíches e bebidas/café, pão com queijo/snaks, refrigerantes<br />
com preços únicos.<br />
A metodologia a ser utilizada é fundamental. A estratégia de preço baixo<br />
proporciona os seguintes riscos: a) não cria a fidelização do cliente, e pode ser<br />
um “caminho sem volta”; se adotada, deve ser para apenas alguns itens; b) é<br />
perigosa caso não ocorra um trabalho forte na redução de custos; c) uma margem<br />
reduzida de lucro limita o reinvestimento.<br />
Os objetivos devem priorizar para os clientes os cinco pontos que se<br />
seguem:<br />
1) Ambiente agradável e acolhedor;<br />
2) Associar a imagem da loja com preços baixos;<br />
3) Gerenciar os preços de, pelo menos, 5 produtos (formadores<br />
de imagem de preço) e comunicar aos consumidores<br />
através de cartazes;<br />
4) Associar a imagem da loja com preços justos;<br />
64<br />
5) Gerenciar os preços de aproximadamente 40 produtos<br />
(líderes de mercado) e comunicar aos consumidores através<br />
de “splash” de preços.<br />
Estes objetivos geram os seguintes benefícios:<br />
- No curto prazo: gera imagem positiva e desperta a atenção<br />
de novos clientes;<br />
- No longo prazo: gera tráfego na loja e fidelidade (o consumidor<br />
passa a lembrar da loja).<br />
1.6.7.Atendimento<br />
O atendimento é um dos pontos-chave de sucesso, também nas lojas de<br />
conveniência. No conteúdo exposto na Tabela 1, vemos que o atendimento<br />
inadeqüado é responsável direto por 68% das perdas de clientes.<br />
Um empregado bem selecionado e bem treinado constitui um recurso crítico<br />
e escasso hoje em dia. O atendimento a clientes não custa, se paga através do<br />
próprio cliente a longo prazo.<br />
Quanto custa a perda de um cliente? Segundo a AMPM, cada cliente gasta,<br />
em média, R$ 7,10 por semana; projetando tem-se R$ 28,50 por mês, R$ 340,80<br />
por ano e R$ 6.816,00 na quantidade de anos que um cliente freqüenta a loja,<br />
baseando-se na teoria de que a idade média dos consumidores situa-se entre 21<br />
e 40 anos.<br />
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Tabela 1 – Adaptado de AMPM (Recrutamento e Seleção, p.2).<br />
A empresa tem sob seu controle 96% das razões pelas quais os clientes<br />
deixam de fazer negócios com ela, e apenas 4% fogem totalmente ao controle da<br />
empresa.<br />
Segundo a AMPM: “...conquistar um novo cliente custa 5 vezes mais que<br />
fidelizar um cliente atual”. O atendimento é a via mais consistente para se conquistar<br />
o cliente. Carinho e organização, que é a essência do atendimento ajudam<br />
muito nessa conquista do cliente.<br />
1.7.Relatórios gerenciais<br />
O sistema ideal é a remuneração por resultados, priorizando-se o<br />
gerenciamento de perdas, treinamento efetivo do atendimento, limpeza e qualidade.<br />
Desenvolvendo, no mínimo, os seguintes relatórios: vendas diárias por<br />
departamento e produto; vendas no período, por departamento e produto; margens<br />
por produto e departamento; relatório para identificar picos de vendas;<br />
fluxo de caixa; fluxo de clientes; escala de trabalho; compras.<br />
65<br />
1.8.Análise dos riscos<br />
O grau de risco avaliado pelo Sebrae é baixo e equivalente a um comércio<br />
varejista qualquer. Devido ao crescente índice de criminalidade nos grandes<br />
centros urbanos existe o risco de assaltos, principalmente no horário noturno.<br />
1.9.Investimento<br />
A Rede Star Mart/Texaco estima o investimento inicial em torno de U$<br />
105.000,00. O Sebrae estima um investimento de, aproximadamente, R$<br />
60.000,00 e um faturamento de, aproximadamente, R$ 50.000,00.<br />
O investimento em uma loja de conveniência depende de vários fatores, tais<br />
como: tipo de loja, mix de produtos, área fixa disponível, grau de sofisticação do<br />
negócio, classe predominante de clientes dentre outros fatores.<br />
CONCLUSÕES<br />
Transformar uma visita de seu cliente à sua loja em uma experiência agradável<br />
dá muito trabalho. Qualquer um de nós sabe o que se espera de uma loja<br />
de conveniência: produtos e serviços rápidos além de experiência em varejo,<br />
que se compõe de duas partes: produtos e serviços.<br />
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66<br />
Produtos, aqui, são levados na sacola (em alguns casos no estômago). Serviços,<br />
na cabeça e no coração. Comprar bem os seus produtos é o orgulho da<br />
maioria dos varejistas. Todos se gabam de comprar muito bem. Todos são excelentes<br />
negociadores e excelentes planejadores de linhas. Mas isso não é suficiente.<br />
Ter mercadoria e ter produtos competentes é só metade do caminho. A<br />
parte mais importante da experiência, no entanto, tem muito mais a ver com<br />
como nosso produto chega aos olhos, às mãos, à cabeça e ao coração do cliente.<br />
Temos que construir a experiência do cliente ao lado dos serviços. Serviços competentes<br />
envolvem algumas variáveis conhecidas. Em outras, ainda não pensamos.<br />
Mas temos que pensar. E, principalmente, elaborar o passo-a-passo de<br />
como faremos para que os clientes adorem comprar de nós, e mais: nos recomendem<br />
para seus amigos e conhecidos. Produto certo, na hora certa, com o<br />
preço certo, com o custo certo, é quase sempre o porquê da vinda do cliente ao<br />
seu negócio. O serviço para que o cliente queira voltar começa por design, passa<br />
por conveniência, mergulha em atendimento, evolui para entretenimento e chega<br />
no ápice com fidelização.<br />
Somente empresas com lideranças altamente motivadoras terão pessoas<br />
que pratiquem atendimento com prazer, de coração. Alavancar a fidelidade do<br />
cliente é fazê-lo sentir-se muito bem, querer vir; ao chegar, ao estar, ao sair irá<br />
querer voltar. Simples? Quase. Depende muito de quem está liderando o processo.<br />
O líder que você contrataria para gerar experiências no seu negócio é<br />
parecido com você? Sim? Mude de líder. Ou logo você terá que mudar de ramo.<br />
Os varejistas que desenvolvem estratégias de conveniência duradouras fazem<br />
uma coreografia de conveniência de acesso. Procuram posse e transação, no<br />
intuito de maximizar seus benefícios e compartilhá-los com os consumidores.<br />
Afirma, Berry e cols. na revista HSM-Management, 24 jan/fev-2001: “Se os<br />
executivos não atenderem a todas as quatro dimensões, a estratégia de conveniência<br />
ficará incompleta. O primeiro passo nesse processo de atendimento é avaliar<br />
o desempenho atual. Os varejistas de mais sucesso têm uma visão completa<br />
da conveniência”.<br />
REFERÊNCIAS<br />
ANGELO, Cláudio Felisoni de; SILVEIRA, José Augusto Giesbrecht da. Varejo<br />
competitivo. v.2. São Paulo: Atlas, 1997.<br />
ANGELO, Cláudio Felisoni de; CASAGRANDE, Vera. Marketing de relacionamento<br />
no varejo. São Paulo: Atlas, 2000.<br />
CHIAVENATO, Idalberto. Administração nos novos tempos. Rio de Janeiro:<br />
Campus, 1998.<br />
DAY, Georges S. A. Empresa orientada para o mercado. Porto Alegre: Bookman,<br />
2001.<br />
ENGEL, James; WARSHAW, M.; KINNEAR, T. Promotional strategy. 8.ed. Irwin<br />
Publishing, 1994.<br />
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I<br />
S<br />
T<br />
A<br />
KOTLER, Philip. Administração de marketing: análise, planejamento,<br />
implementação e controle. 5.ed. São Paulo: Atlas, 1998.<br />
LAS CASAS, Alexandre L. Marketing de varejo. São Paulo: Atlas, 2000.<br />
MICHAEL Levy; BARTON A. Weitz. Administração de varejo. São Paulo: Atlas,<br />
2000.<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
MINTZBERG, Henry; AHLSTRAND, Bruce; LAMPEL, Joseph. Safári de estratégia.<br />
Porto Alegre: Bookman, 2000.<br />
BERRY, Leonard L; SEIDERS, Kathleen; GRESHAM, Larry G. A estratégia da<br />
conveniência total. Revista HSM- Management. São Paulo: Savana, 2001, p.96 a<br />
108.<br />
ROBBINS, Stephen Paul. Administração: mudanças e perspectivas. São Paulo:<br />
Saraiva, 2000.<br />
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 20.ed. São Paulo:<br />
Cortez,1998.<br />
TACHINIZAWA, Takeshi; CRUZ JÚNIOR, João Benjamin da; ROCHA, João Antonio<br />
de O. Gestão de negócios. São Paulo: Atlas, 2001.<br />
QUESTIONÁRIO – PESQUISA<br />
Este questionário tem finalidade cientifica; a empresa e o entrevistado não<br />
serão identificados. Portanto, pede-se a maior sinceridade e correção nos dados<br />
fornecidos; serão utilizadas somente as médias e não os dados individuais. Sendo<br />
assim, não há nenhuma possibilidade de identificação do entrevistado por<br />
parte do leitor da pesquisa, ao final.<br />
1) A Loja de conveniência neste estabelecimento de comércio de combustíveis:<br />
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2) Qual o faturamento médio da loja em Reais?<br />
( ) Até 10.000,00 ( ) de 10.001,00 a 20.000,00<br />
( ) de 20.001,00 a 40.000,00 ( ) De 40.001,00 a 60.000,00<br />
( ) mais de 60.001,00.<br />
3) Qual o número de funcionários?<br />
( ) 1 ( ) de 2 a 5<br />
( ) de 5 a 8 ( ) mais de 8 funcionários.<br />
4) A loja de conveniência é:<br />
( ) Chamariz de clientes para o posto ( ) Um novo negócio<br />
( ) Para aproveitar um espaço ocioso ( ) Um negócio para o futuro.<br />
( ) Porque os concorrentes também têm.<br />
( ) Porque a distribuidora exige.<br />
68<br />
5) Qual o período de maior movimento?<br />
( ) 8:00h. às 16:00h. ( ) 16:00h. às 00:00h.<br />
( ) 00:00h. às 8:00h.<br />
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A EVOLUÇÃO DOS DIREITOS AUTORAIS NA INTERNET<br />
*Rogério Martins de Paula<br />
Simone Vinhas de Oliveira<br />
Yeza Bozo Tonin<br />
Renata Silveira de Paiva<br />
Carlos Francisco Borges Ferreira Pires<br />
Fernanda Dias Franco<br />
Cláudio Antônio de Paiva Simon<br />
** Valkíria Aparecida Lopes Ferraro<br />
RESUMO<br />
Através da criatividade humana nasceram as obras intelectuais e<br />
com o desenvolvimento cultural e tecnológico da humanidade surgiu a necessidade<br />
de proteger essas criações do intelecto, razão pela qual nasceram os direitos<br />
de Propriedade Intelectual, que se subdividem em direitos autorais e direitos<br />
de propriedade industrial. Com o crescimento desenfreado da Internet, observa-se<br />
um descaso com os Direitos Autorais das obras veiculadas na rede,<br />
desrespeitando a tutela que as legislações vêm dando aos criadores destas obras.<br />
Assim, o presente ensaio pretende demonstrar uma breve análise feita sobre o<br />
surgimento dos Direitos Autorais e sua aplicação na Grande Rede.<br />
Palavras-chave: Evolução Histórica; Internet; Propriedade Intelectual; Direitos<br />
Autorais; Indenização; Danos Materiais.<br />
ABSTRACT<br />
The intellectual works were born from human creativity and from the<br />
humanity’s cultural and technological development arose the necessity of<br />
protecting those intellect creations and that is the reason why the rights to<br />
intellectual property were born, which are subdivided into copyrights and rights<br />
to industrial property. With the wild growth of Internet, negligence is observed<br />
concerning the copyrights of the works available on the web, disrespecting the<br />
protection given by the legislation to the creators of those works. Thus, the<br />
present essay intends to present a brief analysis of the appearance of the<br />
copyrights and its application in the Great Web.<br />
69<br />
Key-words: Historical Evolution; Internet; Intellectual Property; Copyright;<br />
Compensation; damages.<br />
1 - SURGIMENTO DAS PRIMEIRAS LEIS DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS<br />
AUTORAIS<br />
A civilização humana, como hoje se conhece, deve-se ao desenvolvimento<br />
da chamada comunicabilidade, característica que trouxe também a sociabilidade.<br />
A história da comunicação é “...a história do pensamento e da sua expressão<br />
para organizar e fundamentar a atividade coletiva”; assim já entendia Nuno<br />
Crato.<br />
* Acadêmicos do curso de graduação em Direito da UEL<br />
* * Docente da Unifil.<br />
Doutora em Direito das Relações Sociais pela PUC-SP. Mestre em Direito das Relações Sociais pela UEL.<br />
Professora Adjunto-B do Curso de Direito Civil nos Cursos de Graduação em Direito e Mestrado em Direito<br />
Negocial da UEL.<br />
E-mail: valkiria@sercomtel.com.br<br />
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Os principais fatos que deram origem às verdadeiras evoluções no processo<br />
comunicativo tornaram-se, todos a seu tempo, reais revoluções históricas. A<br />
primeira delas, em meados do século XV, foi, com toda certeza, o desenvolvimento<br />
da linguagem. Depois, o segundo fato marcante, a invenção da escrita.<br />
A terceira, a imprensa de Gutemberg, entre 1444 e 1445. Assim, com a chegada<br />
desta inovação, houve uma verdadeira explosão cultural que começou a se<br />
alastrar.<br />
Com a facilidade de se adquirir livros e o advento da imprensa, também<br />
surgiu a concorrência das edições abusivas. Antes, o autor conseguia fiscalizar<br />
materialmente a multiplicações de exemplares de sua obra, mas após esta<br />
invenção, cada indivíduo que adquirisse um exemplar poderia facilmente reproduzi-lo.<br />
Na época do Renascimento, usava-se conceder o privilégio de publicações<br />
de obras famosas pelo Estado a determinados editores. Autores contentavam-se<br />
com sua reprodução intelectual, sem perspectiva de lucro, e os editores dado o<br />
fato de não sofrerem concorrência, através deste sistema de monopólio, tornavam-se<br />
os mais privilegiados, já que muitas obras ficavam como sua propriedade<br />
exclusiva, que eles podiam as legar a seus sucessores.<br />
No entanto, com o passar do tempo, a sociedade começou a modificar seus<br />
pensamentos. Impulsionados pelo advento do Estado de Direito, pela Revolução<br />
Francesa e pela Reforma, os autores começaram a demandar uma real recompensa<br />
por seus trabalhos.<br />
A primeira Lei de Direito Autoral de que se tem notícia surgiu na Grã-<br />
Bretanha, sancionada pela Rainha Ana, no dia 14 de abril de 1710, com o objetivo<br />
de “...encorajar os homens instruídos a compor e escrever obras úteis”,<br />
mediante o reconhecimento de um direito exclusivo de reprodução de obras por<br />
eles criadas. A seguir, a Dinamarca, por meio de um decreto que data de 07 de<br />
janeiro de 1741 veio a reconhecer o referido direito. Na França, o processo de<br />
reconhecimento foi mais lento e complicado. No decorrer do século XVII, um<br />
longo debate toma conta do país, escritores não mais admitem o monopólio dos<br />
editores e, em meados de 1793, o país admite estender a proteção de um decreto<br />
promulgado seis meses antes, do direito exclusivo dos autores para permitir a<br />
encenação de seus textos dramáticos, a todas as outras obras literárias. Assim,<br />
o criador passa a ser também detentor de um direito exclusivo: o direito autoral,<br />
que posteriormente, viria a se consolidar em diversas legislações e tratados internacionais.<br />
Com o passar dos anos, tornou-se cada vez mais necessário, um regulamento<br />
o qual todos os países pudessem seguir, para que o direito autoral fosse<br />
uniformemente protegido fora das fronteiras dos Estados.<br />
Assim, no ano de 1858 realizou-se em Bruxelas um Congresso Internacional<br />
sobre propriedade intelectual. Tal evento teve o mérito de ser a base para a<br />
apreciação internacional dos direitos autorais; todavia, não teve continuidade<br />
nem conseqüências imediatas. Em 1878, o escritor francês Victor Hugo presidiu<br />
um congresso literário mundial. Surgiu daí a Associação Literária Internacional,<br />
que passou a trabalhar em prol de um documento em defesa dos direitos<br />
universais do autor.<br />
Em setembro de 1886 realizou-se em Berna a terceira conferência diplomática<br />
sobre direitos autorais. A ata dessa conferência veio a ser, finalmente, a<br />
“Convenção de Berna para a Proteção das Obras Literárias e Artísticas”, o tratado<br />
internacional mais antigo em vigor, aplicado à proteção dos direitos autorais<br />
patrimoniais e morais dos autores. Essa Convenção foi revisada inúmeras vezes,<br />
e a última que se tem notícia, data de 28 de setembro de 1979, vigorando<br />
até hoje e sendo o suporte de diversas legislações sobre estes direitos. Interessante<br />
ressaltar, ainda, que este diploma legal estabelece, entre outras coisas, o<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
que vem a ser obra literária e artística, os critérios para a proteção, o que é obra<br />
publicada, dividindo os direitos em patrimoniais e morais.<br />
A Convenção de Berna foi um dos tratados internacionais assinados pelo<br />
Brasil, dentre outros como: a Convenção de Roma, de 26 de outubro de 1961;<br />
Convenção Universal, de 24 de julho de 1971 e a Convenção de Genebra, de 29<br />
de outubro de 1986.<br />
2 - OS DIREITOS AUTORAIS NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA<br />
No Brasil, o período colonial estava subordinado à legislação portuguesa,<br />
que garantia, na Constituição de 1838, a propriedade dos escritos a quem os<br />
produzia. A Magna Carta Imperial não cita direito autoral, bem como o Ato Adicional<br />
de 1834, ou o diploma de 10 de novembro de 1937. Porém, as Constituições<br />
subseqüentes de 1891, 1934 e de 1969, consideram-no expressamente.<br />
A primeira Lei Pátria que se refere à matéria data de 11 de agosto de 1827,<br />
enquanto cria cursos de Ciências Jurídicas e Sociais, os professores dizem ser<br />
os compêndios feitos para suas aulas, objetos de proteção de direito autoral por<br />
dez anos a partir da data de suas confecções. O Código Criminal (Lei de<br />
16.12.1830) tipificou a reprodução sem autorização de escritos e estampas feitos<br />
pelos cidadãos brasileiros durante toda a vida dos mesmos e dez anos após<br />
sua morte.<br />
A partir daí, no Brasil, a proteção jurídica deste direito concretizou-se e<br />
aperfeiçoou-se, sendo regulamentado primeiramente pela Lei 5.988 de 14 de<br />
dezembro de 1993. Posteriormente, entrou em vigor em 19 de junho de 1998 a<br />
nova Lei dos Direitos Autorais, a Lei 9.610.<br />
3 - OS DIREITOS AUTORAIS E A INTERNET<br />
Assim, como a referida lei protege a veiculação das obras intelectuais nas<br />
mídias impressa, eletrônica, radiodifundida, também goza de proteção a obra<br />
difundida e distribuída através da Grande Rede, conhecida como Internet.<br />
Em 1994, a Internet, com apenas seis anos de existência, apresentava 71<br />
paises interligados através de 25.706 redes. No Brasil, em outubro de 1995,<br />
pouco mais de três meses após ter sido permitida a exploração comercial dos<br />
serviços de acesso à Internet, já se encontravam 24 provedores de acesso privado<br />
(Provedores de acesso são empresas que, tendo seus computadores interligados<br />
à Internet 24 horas por dia, permitem a outros acessar a Internet ao estabelecer<br />
conexão com um dos seus computadores).<br />
Devido a essa imensa proliferação da Rede, criou-se mais um grande desafio<br />
no que tange à proteção dos direitos autorias, assim como ocorreu com a<br />
invenção de técnicas de reprodução de livros e discos. Só que tudo acontecendo<br />
em uma dimensão gigantesca, dado ao volume do fluxo de informações, que se<br />
propagam segundo uma progressão geométrica.<br />
Dessa forma, difícil se torna a determinação de critérios espaciais e temporais<br />
de ocorrência de fatos, como a reprodução indevida de uma obra, pelo fato<br />
de se tratar de um espaço público, no qual podem ser postas à disposição de<br />
qualquer pessoa que acesse a rede, informações, arquivos, fotos, filmes, enfim,<br />
várias obras que gozam de proteção dos direitos autorais.<br />
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3.1.Música Digital<br />
O setor da Internet que tem registrado o maior número de violação aos<br />
direitos autorais é o da música digital. A indústria fonográfica vem se rebelando<br />
contra a idéia do livre tráfego de gravações pela Internet. Há sites que estão<br />
transmitindo músicas, possibilitando ao usuário não só escutá-la como gravar o<br />
arquivo em um diretório que encontra-se on-line. Um dos sites que disponibilizam<br />
tais arquivos é o Napster, software norte-americano desenvolvido em maio de<br />
1999.<br />
O maior problema desse arquivo é sua gratuidade, uma das características<br />
mais fortes na Internet, na qual a sustentação econômica advém, principalmente,<br />
das propagandas que são veiculadas juntamente com as notícias. Não existindo<br />
pagamento pelos usuários dos valores correspondentes pelo serviço, são<br />
feridos os direitos autorais patrimoniais dos autores da obra, que, conseqüentemente,<br />
nada recebem pelas suas criações.<br />
Da mesma forma que os direitos autorais patrimoniais são desrespeitados,<br />
acontece com os direitos morais, dado que diversas obras são veiculadas sem<br />
sequer, ser dada a devida menção ao seu criador, identificando apenas seu intérprete,<br />
e, às vezes, nem mesmo este é mencionado.<br />
O resultado destas liberdades e gratuidades é a ilusão de que na Internet<br />
não vigorariam os direitos de propriedade intelectual. A imponderável leveza do<br />
não ser coagido permeia toda a Grande Rede, como uma miragem da Anomia,<br />
ou falta de regras.<br />
Infelizmente, nota-se que alguns tribunais também repelem a proteção dada<br />
aos criadores de obras disponibilizadas na Internet. Como ocorreu em decisão<br />
de 4 de maio de 2000, o Juízo Federal do Distrito Sul de Nova York entendeu<br />
que o ato de dar acesso livre a obras musicais através da Internet não estaria<br />
abrigado sob a isenção dos usos permitidos pela lei autoral. No dia seguinte, o<br />
Juízo Federal do Distrito Central da Califórnia entendeu de forma análoga no<br />
tocante a um fabricante de software e mantedor de um site de distribuição não<br />
autorizada de obras musicais digitalizadas.<br />
Embora ainda existam julgadores desprezando os direitos autorais dos titulares<br />
das obras veiculadas na Grande Rede, já há normas sendo regulamentadas<br />
nos Estados Unidos, como um documento denominado “Digital Millennium<br />
Copyright Act”, publicado em 27 de janeiro de 1998, no qual são discutidas as<br />
espécies de violação, as proteções devidas e as responsabilidades dos provedores<br />
e usuários da Internet. Mesmo não sendo um documento definitivo, várias<br />
decisões proferidas são baseadas nele, punindo os prestadores de serviços de<br />
fornecimento gratuito de arquivos musicais, e dessa forma defendendo os criadores<br />
das obras veiculadas.<br />
Confirmando a informação acima, tem-se o caso ocorrido no dia 06 de setembro<br />
de 2000, no qual a justiça federal americana condenou a empresa<br />
MP3.com a indenizar a Universal Music Group (a maior empresa de gravação e<br />
comercialização de discos do mundo), no montante de US$ 250.000.000,00 (duzentos<br />
e cinqüenta milhões de dólares norte-americanos). Esta decisão foi proferida<br />
sob fundamento de que a empresa MP3.COM agiu de forma falha, ao<br />
disponibilizar na rede mundial de computadores arquivos de músicas sem adquirir<br />
a prévia licença das indústrias fonográficas.<br />
Igualmente ocorreu com a empresa Napster, condenada pela corte norteamericana<br />
a indenizar a “Recording Industry Association of América”, empresa<br />
que trabalha na proteção da propriedade intelectual, no montante de US$<br />
5.000.000,00 (cinco milhões de dólares norte-americanos), alegando que: os<br />
danos causados aos autores, até a data do julgamento, eram irreparáveis, sendo<br />
a única forma de restabelecimento da situação jurídica anterior o pagamento da<br />
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indenização; a forma de funcionamento do Napster infringe diretamente a lei<br />
dos direitos autorais, ao abster-se de pagar quaisquer valores pecuniários relativos<br />
aos direitos dos autores das obras; e também, que o Napster proporciona<br />
vantagens econômicas aos seus usuários, que nada pagam para adquirir as<br />
músicas que desejem, em detrimento dos interesses econômicos dos autores. É<br />
certo que sem estes o funcionamento do site sequer seria possível. Ante o exposto,<br />
parece que se está próximo um grande conflito entre a Internet e a indústria<br />
fonográfica.<br />
Porém, outra tendência norte-americana é a assinatura de acordos e parcerias<br />
entre os sites que disponibilizam as músicas no formato digital e as empresas<br />
fonográficas. Empresas como Sony Corporation, Time Warner Incorporation,<br />
EMI Group e Bertelsmann estão firmando acordos com os sites provedores de<br />
músicas, autorizando que a música seja veiculada no formato MP3, mediante<br />
uma contraprestação monetária.<br />
Ao que tudo indica, terá que ocorrer uma composição amigável entre esses<br />
dois gigantes da comunicação, em razão do avanço constante da Internet, que<br />
tende a se integrar ou a dominar a indústria fonográfica. Desejando, ambas, a<br />
pacificação, a fim de possibilitar a perpetuação do uso eletrônico de informações,<br />
sem privar os autores dos direitos morais e patrimoniais a eles inerentes.<br />
Como ocorreu na fusão da América On-Line (AOL), maior provedora de serviços<br />
do mundo, com a Time Warner, deverá concretizar a convergência das indústrias<br />
de meios de comunicação e a Internet.<br />
Enquanto não se encontra um denominador comum, os direitos autorais<br />
das gravadoras, dos cantores e autores devem ser respeitados.<br />
3.2.Obras Literárias<br />
Assim como as obras musicais são violadas pela livre circulação sem que<br />
haja o pagamento dos direitos autorais correspondentes, as obras literárias também<br />
o são, sendo sua fiscalização quase sempre mais difícil do que as obras<br />
musicais.<br />
Essa dificuldade se deve ao fato de não ser necessário qualquer programa<br />
especial para veicular e adquirir obras literárias, dado que estas circulam em<br />
forma de texto, sendo possível sua leitura e cópia apenas com o acesso a um<br />
site.<br />
Torna-se impossível o controle efetivo do número de cópias reproduzidas<br />
por cada usuário dos textos, assim como também dificulta a identificação das<br />
pessoas que os colocam na rede.<br />
Outros problemas que também ocorrem são as citações irregulares, nas<br />
quais usuários inserem informações e trechos literários na rede, sem mencionar<br />
o autor correspondente. Isso além do grande problema em relação a textos<br />
em que há dúvidas quanto à autenticidade da obra, literária ou científica, em<br />
virtude da facilidade de adulterá-la pelos meios técnicos colocados à disposição<br />
do operador de qualquer computador. Esta violação aos direitos morais do autor<br />
pode vir a ser combinada com danos morais puros porque a alteração poderá vir<br />
a atingir o autor, como pessoa, em sua honra subjetiva.<br />
3.3.Obras Audiovisuais<br />
Também tem sido prejudicado o direito dos criadores de obras audiovisuais,<br />
que são aquelas que resultam da fixação de imagens com ou sem som, tendo a<br />
finalidade de criar por meio de sua reprodução, a impressão de movimento.<br />
Essas também só podem transitar pelo espaço virtual com a aquiescência do<br />
autor do argumento, literário ou musical, do diretor, e, se houver contrato de<br />
cessão, também do seu produtor, ou organizador.<br />
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CONCLUSÕES<br />
Diante desse quadro sombrio que a Internet trouxe para os direitos autorais,<br />
várias iniciativas estão surgindo para resguardar os princípios basilares da<br />
propriedade intelectual. Assim, segundo Eliane Yachouh Abrão, “...no que diz<br />
respeito às utilizações legais de obras intelectualmente protegidas por lei ou por<br />
decisões judiciais veiculadas na Internet, dependem sobretudo do controle de<br />
cópias, o que pode ser, e, em alguns casos já é, resolúvel por meio de um programa<br />
de computador adequado às especificidades de cada obra e do modo próprio<br />
de utilização dela. A grande questão, no entanto, que extrapola os limites desse<br />
novo direito, e que é raramente questionada por especialistas, reside na grande<br />
contribuição dada pela Rede no modo de acesso pelas pessoas aos bens culturais<br />
que as leis autorais tanto restringem; ao invés, a sua finalidade sempre foi<br />
a de colocar à disposição da sociedade todas as suas manifestações culturais<br />
através da música, da literatura, da representação teatral, e de outros meios,<br />
protegendo econômica e moralmente autores e artistas, por um certo período de<br />
tempo, garantindo-lhes ganhos que merecem auferir. Isso implica a coragem e a<br />
determinação de enfrentar o sistema internacional de proteção aos direitos autorais,<br />
introduzindo-lhes alterações em benefício da coletividade.”<br />
Contudo, observa-se que existirá uma maneira de incorporar o avanço da<br />
Internet à necessidade de se obter controle sob o grande volume de informações<br />
que circulam pela rede, reservando direitos fundamentais como a privacidade, a<br />
liberdade de informação e os direitos autorais, sem afrontar o Estado de Direito.<br />
A única certeza é que os direitos autorais não podem ser postergados considerando-se<br />
apenas o simples fundamento de que ‘a fixação de limites à liberdade<br />
de conexão e de expressão impedem o progresso da Internet’.<br />
74<br />
REFERÊNCIAS<br />
ABRÃO, Eliane Yachouh. A Internet e sua inserção no sistema de direitos autorais.<br />
http://www2.uol.com.br/direitoautoral/artigo211003_a.htm Acesso em 08/<br />
03/04.<br />
BARBOSA, Denis Borges. Direitos Autorais na Obra Musical transmitida via<br />
Internet. www.moreauadv.com.br/portugues/public/autorais.html Acesso em<br />
07/03/04.<br />
MONTENEGRO, Antônio Lindberg. A Internet em suas relações contratuais e<br />
Extracontratuais. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2003.<br />
SANTOS, LÍgia Carvalho Gomes dos. O Direito na era virtual – Direitos autorais na<br />
Internet. 2.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003.<br />
WASLAWICK, Daniele. Os direitos autorais na Internet www.ijuris.org/<br />
experienciadocente/presencial/tecnologiainfojuridica/biblioteca/artigos/<br />
artigodaniele.pdf> Acesso em 14/03/2004.<br />
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A IMPLEMENTAÇÃO DE PROGRAMAS OU AÇÕES PARA A<br />
INTEGRAÇÃO REGIONAL: REFLEXÕES PARA UM DEBATE<br />
*Jandir Ferrera de Lima<br />
RESUMO<br />
O objetivo deste artigo é sugerir alguns programas para a implementação<br />
da integração e da formação de uma identidade regional. Por isso, são analisados<br />
os objetivos e os elementos da integração, supondo que as regiões a serem<br />
integradas fazem parte da economia nacional. Dentre os programas sugeridos<br />
estão o fomento às atividades produtivas, programas de assistência social, de<br />
incentivo à agricultura, transformação educacional, preservação ambiental e<br />
melhorias na infra-estrutura urbana e regional.<br />
Palavras-chave: Desenvolvimento Regional; Integração; Espaço; Programas.<br />
ABSTRACT<br />
The objective of this article is to suggest programs for the implementation<br />
of the integration and formation of a regional identity. Therefore, the objectives<br />
and the elements of the integration are analyzed, assuming that the regions to<br />
be integrated make part of the national economy. Amongst the suggested<br />
programs are encouragement of productive activities, social assistance programs,<br />
agriculture incentive, educational transformation, environmental preservation<br />
and urban and regional infrastructure improvements.<br />
Key-words: Regional Development; Integration; Space; Programs.<br />
INTRODUÇÃO<br />
O Objetivo deste trabalho é sugerir e analisar alguns programas para a<br />
implementação da integração regional. Essas ações tornam-se pertinentes frente<br />
ao debate, surgido nos últimos anos no Brasil, sobre a necessidade de uma<br />
Política Nacional de Desenvolvimento Regional.<br />
Esse debate e essa temática não são novos no Brasil. No entanto, no período<br />
que vai de 1980 até 1994, os problemas ligados à estabilização da economia<br />
e a crise nos mercados emergentes ocuparam a agenda das discussões e dos<br />
interesses dos agentes econômicos.<br />
Com o ajuste macroeconômico implantado com o Plano Real (1994) e as<br />
mudanças no cenário internacional, há o retorno das questões acerca do desenvolvimento<br />
regional e da sustentabilidade do crescimento econômico. Essas<br />
questões ficam patentes com dois fatos que marcam o final do século XX, quais<br />
sejam: a guerra fiscal e a crise energética.<br />
A guerra fiscal, entre os principais estados federados, para a atração de<br />
novos investimentos industriais veio demonstrar a fragilidade do governo brasileiro<br />
para promover a distribuição das atividades produtivas de forma eqüitativa<br />
no espaço nacional.<br />
*Docente do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da Universidade Estadual do Oeste do Paraná<br />
(UNIOESTE)/Campus de Toledo.<br />
Ph.D. em Desenvolvimento Regional pela Université du Québec à Chicoutimi (UQAC).<br />
Pesquisador do Grupo de Pesquisas em Desenvolvimento Regional e Agronegócio (GEPEC).<br />
E-mail: jandir@unioeste.br<br />
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Já a crise energética, que diminuiu as perspectivas de crescimento para o<br />
período 2001-2003, apontou a carência e a necessidade do planejamento integrado<br />
do crescimento da economia.<br />
Esses fatos demonstram que o planejamento do desenvolvimento deve ser<br />
encarado como uma das grandes prioridades nacionais. Por isso, o presente<br />
artigo analisa o elemento mais importante do desenvolvimento regional, ou seja,<br />
a integração entre as diversas sub-regiões, fazendo algumas sugestões de programas<br />
que podem ser implementados para a sua execução.<br />
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1.INTEGRAÇÃO REGIONAL: OBJETIVOS E ELEMENTOS<br />
Geralmente, quando se fala em integração regional há uma confusão quanto<br />
ao papel do comércio nesta integração. Uma boa parte dos agentes econômicos,<br />
e até mesmo da opinião pública, associam a integração regional com tratados<br />
de livre-comércio. Isso se deve à falta de uma visão mais clara do que vem a<br />
ser região.<br />
Para SANTOS (2003) a região é marcada pelo fenômeno social. Ela é a resultante<br />
de um processo social-natural no qual não existem apenas elementos<br />
sociais, mas também naturais, cuja lógica é dada pelas “leis” que governam os<br />
processos sociais. Nesse sentido, o autor afirma que todo processo social tem<br />
uma espacialidade própria.<br />
Diferente de SANTOS (2003), NORTH (1977) analisa o dinamismo das regiões<br />
aquém dos fenômenos sociais, mas a partir da base econômica. Para NORTH<br />
(1977), as exportações regionais são o fator determinante do crescimento de<br />
uma região e de sua interação com o resto do mundo. Sendo assim, para compreender<br />
uma região é preciso entender as suas relações com os demais espaços<br />
que compõem o território nacional e com outros países. Nesse sentido, o<br />
foco de interesse está voltado para os fluxos inter-regionais de produtos e serviços,<br />
capital, mão-de-obra e população. No entanto, o ponto de partida para a<br />
existência dos fluxos comerciais está na especialização regional e na forma como<br />
os agentes econômicos se integram na sua lógica de produção.<br />
Deve-se ressaltar que o processo de integração regional aqui discutido implica<br />
na existência da integração com uma economia nacional. Ou seja, o objetivo<br />
da integração é a padronização e melhoria no desenvolvimento através da<br />
união das economias locais.<br />
Assim, a idéia de integração transcende o aspecto puramente econômico e<br />
envolve questões sociais e culturais. A forma como estas questões são tratadas<br />
no âmbito das políticas públicas é que vai indicar o quanto os agentes econômicos<br />
estão dispostos e capazes de se integrar.<br />
Quanto às questões sociais, estas envolvem as disparidades de renda e<br />
qualidade de vida ao longo do espaço. Se houverem disparidades muito grandes<br />
de renda, haverá tendências de migrações intra-regionais e a queda na qualidade<br />
de vida das áreas mais abastadas. Isso significa uma mudança significativa<br />
nas rotas de comércio, de investimentos e de localização da mão-de-obra. Notase,<br />
então, que melhorias na renda e na qualidade de vida estão altamente associados.<br />
Uma é reflexo da outra e ambas se refletem no espaço.<br />
Com isso, um dos principais focus da discussão em torno da integração é a<br />
padronização das sub-regiões. Essa padronização envolve a transferência de<br />
recursos das áreas mais ricas, a criação de programas sociais, a elaboração de<br />
metas de desenvolvimento e incentivo á cultura.<br />
A transferência de recursos é o imposto negativo intra-regional. As áreas<br />
mais ricas destinam parte do seu excedente para a melhoria da qualidade de<br />
vida nas áreas mais pobres. Essa transferência é a garantia contra uma mobili-<br />
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dade indesejada da mão-de-obra. Além disso, vai possibilitar a construção do<br />
capital social básico, ou seja, a construção de escolas, rodovias, hospitais, etc. e<br />
a formação de um mercado consumidor mais amplo nas sub-regiões.<br />
Já a criação de programas sociais vem complementar a transferência de<br />
recursos em infra-estrutura e garantir que a população tenha acesso a ela. Com<br />
os programas sociais criam-se os incentivos à escolaridade, à garantia da renda<br />
mínima, à garantia da nutrição, à proteção contra o desemprego e à melhoria na<br />
qualificação.<br />
Quanto às metas do desenvolvimento, estas envolvem o planejamento das<br />
atividades e da criação de mecanismos contra a corrupção. Com isso, o desenvolvimento<br />
regional fica acima dos interesses locais e passam a ser da coletividade.<br />
Assim, o planejamento é central, mas com interesses locais.<br />
Já o incentivo à cultura envolve questões de identidade regional. Essa identidade<br />
se constrói ao longo dos anos, pois englobam o folclore, a história, as<br />
tradições e o empreendedorismo das populações. Sabe-se que nas regiões mais<br />
desenvolvidas a população valoriza e respeita o local onde vive. Esse respeito e<br />
essa valorização advêm do orgulho e da admiração pela sua região. Com o tempo,<br />
isso transforma o desenvolvimento e a qualidade de vida em valores intocáveis<br />
e que devem ser mantidos pelos grupos políticos.<br />
Sendo assim, a identidade é elemento fundamental para a formação de um<br />
espírito empreendedor e desenvolvimentista. O indivíduo só vai empreender sobre<br />
algo que ele confia e estima. Essa confiança surge da sua história na região e da<br />
forma como o poder público administra o espaço local.<br />
A forma de colonização e o papel do individuo, como fator de desenvolvimento,<br />
está ilustrado na história da colonização das Américas. Enquanto nas<br />
colônias de povoamento (América do Norte) o objetivo foi construir uma nova<br />
pátria ou a extensão da pátria de origem, nas de exploração houve apenas o<br />
interesse ligado à acumulação e exportação das riquezas. Com isso, a forma de<br />
desenvolvimento das colônias de povoamento foi diferenciada das de exploração,<br />
garantindo nas primeiras, uma melhor qualidade de vida e progresso.<br />
Por outro lado, os movimentos mais recentes de migração e de colonização<br />
na América do Sul demonstram que os assentamentos humanos do século XX,<br />
intra-regiões, provocaram um surto de desenvolvimento regional bem melhor<br />
que em outras regiões cuja ocupação não aconteceu de forma planejada. Assim,<br />
a organização do espaço e sua forma de ocupação também influem sobre a<br />
integração e a identidade regional.<br />
77<br />
2.INTEGRAÇÃO REGIONAL E IDENTIDADE<br />
Os traços comuns, além da língua e das tradições, as origens são elementos<br />
centrais para um processo de integração. Esses traços em comum incluem o<br />
grau de educação, o nível de progresso e as condições de bem-estar social.<br />
Como foi analisada anteriormente, a melhoria na qualidade de vida e na<br />
distribuição da renda são elementos norteadores da integração e indicadores do<br />
desenvolvimento humano. Nenhuma sub-região tem interesse em se integrar<br />
com outra de qualidade de vida inferior. É uma tendência psicológica do ser<br />
humano em querer estar próximo da riqueza e não da pobreza. De apresentar e<br />
falar das coisas bonitas e ricas da sua terra e não dos seus problemas sociais.<br />
Da mesma forma, no desenvolvimento regional, os homens querem se integrar<br />
com a possibilidade do progresso.<br />
Neste sentido, antes de qualquer processo de integração, deverá ocorrer a<br />
organização e o planejamento da distribuição da riqueza e do bem-estar social<br />
ao longo do espaço.<br />
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A falta da distribuição do bem-estar social e do acesso à riqueza tornam-se<br />
um obstáculo à integração, pois não dão uma noção de identidade, mas sim de<br />
subdesenvolvimento e dependência.<br />
Por isso, o que deve nortear a integração não é a idéia de dependência ou<br />
exploração, mas de que os povos podem progredir mais e melhor de forma conjunta.<br />
Assim, o processo de integração envolve um conceito de identidade que<br />
engloba a educação, o progresso e o bem-estar social.<br />
A educação deve atender desde a qualificação da mão-de-obra até a valorização<br />
cultural do espaço e da própria integração. A qualificação da mão-de-obra<br />
dará a todos condições similares de competir no mercado de trabalho e acabará<br />
com a idéia de exclusão induzida ou marginalidade. A exclusão e marginalização<br />
são um dos grandes obstáculos para a melhoria da qualidade de vida. Os estudos<br />
de MYRDAL (1965) apontaram isso claramente, ao analisar a situação do<br />
negro americano no período de 1950 a 1960.<br />
O mesmo ocorre com a qualidade de vida. O acesso a ela dá ao indivíduo<br />
uma consciência política da sua necessidade e manutenção. O homem passa a<br />
ver o bem-estar como um direito universal. Assim, o processo de educação não<br />
é apenas um processo de alfabetização e de tecnificação da mão-de-obra. É,<br />
antes de tudo, um processo de cidadania e de criação de um espírito coletivo<br />
que formará a identidade regional.<br />
Por isso, todo plano de desenvolvimento regional integrado passa por uma<br />
padronização e melhoria no acesso à educação nas sub-regiões. Quanto a isso,<br />
pode-se afirmar que não existe desenvolvimento e melhoria na qualidade de<br />
vida sem melhorias na educação. Os estudos de SEN (1999) e SCHULTZ (1981)<br />
demonstram este fato claramente. Melhorar o nível de escolaridade é melhorar<br />
as condições de produtividade e, com ela, garantir a sustentabilidade do crescimento<br />
no longo-prazo (KRUGMAN, 1994). A própria realidade empírica tem comprovado<br />
esses fatos. A melhoria na qualificação incentiva o empreendedorismo<br />
e com ela a produção de inovações. Essas inovações seguem as orientações<br />
definidas por SCHUMPETER (1985), ou seja, inovações no sentido de novas<br />
técnicas de produção, na criação de novos produtos, no desenvolvimento e descoberta<br />
de novas matérias-primas. E na abertura de novos mercados.<br />
Assim, mais do que integrar, a identidade produzida para a integração deve<br />
ser capaz de tornar a mão-de-obra qualificada agente da inovação, e de adaptarse<br />
a ela facilmente.<br />
Em suma, qualquer programa de desenvolvimento regional passa pela<br />
integração do espaço e pela criação de uma identidade coletiva nas regiões. Para<br />
isso, há a necessidade de uma revolução na educação, objetivando a melhoria<br />
da qualidade de vida e a criação das condições necessárias à sustentabilidade<br />
do progresso.<br />
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3.PROGRAMAS PARA A IMPLEMENTAÇÃO DA INTEGRAÇÃO<br />
REGIONAL E DA CRIAÇÃO DE UMA IDENTIDADE COLETIVA<br />
Teoricamente, a implementação de políticas de integração regional e de criação<br />
de uma identidade coletiva parece algo fácil. No entanto, sua implementação<br />
encontra os interesses políticos locais como principal obstáculo.<br />
Conforme já foram mencionadas, a integração e a melhoria nas condições<br />
de educação e qualidade de vida implicam na criação de consciência política e<br />
mudança no centro de poder das regiões.<br />
Evidentemente, a mudança no centro do poder está diretamente relacionada<br />
com a organização política das regiões. O que pode ser um obstáculo em<br />
alguns processos, pode ser um elemento balizador em outros. Assim, a questão<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
política muda de acordo com as características de cada região e das diretrizes<br />
necessárias para implementar a integração.<br />
O processo de integração regional e a formação de uma identidade própria<br />
implicam em reformas. Estas induzem a negociação com os grupos políticos<br />
locais e os representantes da sociedade civil, envolvendo tanto questões ligadas<br />
à transferência de renda e riqueza, como a organização social da região. A forma<br />
como essas questões vão ser implementadas depende da coesão dos interesses<br />
destes grupos.<br />
Para implementar a integração, e facilitar o processo de discussão e negociação<br />
com os grupos e agentes econômicos, podem ser criadas câmaras, programas<br />
ou agências, conforme segue:<br />
a) Criação de Programas ou Câmaras de Fomento Regional.<br />
Isso implica na gestão centralizada dos recursos financeiros<br />
destinados às melhorias e fortalecimento das empresas<br />
locais por um conselho regional. As transferências<br />
de investimentos para melhorar as condições de emprego<br />
e renda exigem a definição e localização dos investimentos<br />
mais produtivos e competitivos. Aqui vale um velho ditado:<br />
“Capital se faz em casa”. Assim, um programa de fomento<br />
deve priorizar a formação de um capital regional por agentes<br />
locais. Essa formação de capital vai desde o fortalecimento<br />
e implementação de micros e pequenas empresas<br />
até a capitalização das empresas de grande porte.<br />
Os programas de fomento, através da atuação de uma agência,<br />
são os responsáveis pela dinamização da economia regional.<br />
Conseqüentemente, a prioridade dos seus investimentos<br />
deve levar em conta a capacidade de inserção da<br />
economia regional na economia nacional, ou até mesmo<br />
mundial, dependendo do alcance dos seus negócios. Com<br />
isso, o indicador das melhores oportunidades e dos setores<br />
mais rentáveis é dado pelo mercado, ou seja, pelas tendências<br />
da economia.<br />
Deve-se ressaltar que os programas de fomento regional<br />
são um elemento de formação de capital e de apoio ao crescimento<br />
das atividades produtivas. Por isso, seu fim último<br />
é a dinamização, o aumento da competitividade e a<br />
geração de emprego e renda na estrutura de produção regional.<br />
Sendo assim, a transferência de recursos pode ser<br />
a “fundo perdido”, pois não visam necessariamente lucro,<br />
mas criar condições favoráveis à acumulação do capital;<br />
b) Criação de Programas de Integração Social. Os programas<br />
de integração social visam a melhoria da qualidade de<br />
vida, a segurança alimentar e o acesso a serviços sociais<br />
básicos.<br />
De certa forma, o objetivo dos programas será padronizar a<br />
melhoria das condições sociais, ou pelo menos dar aos cidadãos<br />
condições de aumentar sua qualidade de vida no<br />
decorrer do tempo. Deve-se ter em mente que este tipo de<br />
programa é um agente, tanto contra migrações desnecessárias<br />
e maciças de mão-de-obra, quanto de qualificação e<br />
melhoria na competitividade dos trabalhadores no merca-<br />
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do de trabalho. Por isso, o seu elemento balizador é o preceito<br />
de que nenhuma região se integra para disseminar<br />
ou criar pobreza, mas para aumentar, distribuir e melhorar<br />
as condições de acesso à riqueza.<br />
As melhorias nas condições de vida tornam o homem mais<br />
produtivo, além de lhe garantir o direito a uma vida digna,<br />
que deve ser o elemento central das ações sociais.<br />
Dentre as ações e atividades a serem desenvolvidas, podese<br />
citar: projetos de melhorias nas habitações, ações de<br />
segurança alimentar, atividades de integração comunitária,<br />
ações de atendimento a idosos e crianças, atividades<br />
de qualificação e re-qualificação da mão-de-obra, ações de<br />
saúde coletiva, de atendimento psicológico, etc.<br />
Deve-se ressaltar que mais do que assistência aos indivíduos,<br />
essas ações devem ser capazes de transformar e<br />
melhorar a vida dos cidadãos. Por isso, o seu objetivo é<br />
tornar o homem um agente transformador da sua própria<br />
história. Portanto, deve engajar as comunidades em um<br />
compromisso coletivo com a integração regional;<br />
c) Programas de Transformação Educacional. O compromisso<br />
com a educação deve ser um elemento primordial em todo e<br />
qualquer plano de desenvolvimento. Educar é dar ao homem<br />
consciência da sua cidadania. Junto a isso, faz-se o<br />
processo de qualificação para o mercado de trabalho.<br />
A geração de emprego e renda demanda mão-de-obra eficiente<br />
e capaz de produzir mais e melhor no decorrer do<br />
tempo, além de poder se adaptar facilmente a novas<br />
tecnologias, processos de trabalho e novos produtos. Ou<br />
seja, a mão-de-obra deve ter capacidade de se adaptar às<br />
inovações.<br />
Deve-se ressaltar que isso exige, não apenas ações voltadas<br />
para mudanças na grade curricular ou na construção<br />
de escolas, mas a atitude de contemplar o incentivo e o<br />
estímulo à educação. Pois, em comunidades de baixa renda,<br />
os jovens tendem a deixar a escola para trabalhar. O<br />
compromisso das famílias com a escola é um dever, mas<br />
está também atrelado ao direito à qualidade de vida. Por<br />
isso, as famílias devem estar monitoradas pela assistência<br />
social.<br />
Assim, todo programa educacional deve estar em sintonia<br />
com os programas sociais. Para isso, o acesso à assistência<br />
passa pelo compromisso da família com a educação de<br />
seus filhos.<br />
d) Programas de Desenvolvimento da Infra-Estrutura Urbana<br />
e Regional. Diferente dos programas de fomento, os<br />
objetivos destes programas são com a infra-estrutura e a<br />
urbanização. Por isso, suas ações são um instrumento na<br />
melhoria da logística, nas condições de sustentabilidade<br />
do crescimento econômico e na modernização das áreas<br />
urbanas. Seu objetivo é sanar os “gargalos” produtivos e<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
obstáculos ao desenvolvimento, acarretados por problemas<br />
ou carências na infra-estrutura. Seus investimentos vão<br />
garantir a eficiência na produção e distribuição da energia<br />
e no escoamento da produção.<br />
e) Programas de Fortalecimento da Agricultura. A melhoria<br />
nas condições de produção agropecuária e de fixação do<br />
homem no campo é primordial. Nenhum país desenvolvido<br />
do globo possui uma agropecuária fraca e carente. Além<br />
disso, o apoio à agricultura familiar e às melhorias na produção<br />
agropecuária implicam no controle do êxodo rural e<br />
na criação de excedentes exportáveis. Isso envolve a necessidade<br />
de garantir o acesso à terra, disseminar novas<br />
técnicas de produção, garantir o acesso a “pacotes”<br />
tecnológicos e sanar os “dualismos” entre as atividades<br />
agropecuárias das diferentes sub-regiões.<br />
Por outro lado, deve-se ter em mente a necessidade de uma<br />
agricultura menos poluente, mais eficiente e com o menor<br />
impacto ambiental possível.<br />
f) Criação de Programas de Proteção e Preservação<br />
Ambiental. Qualquer tipo de desenvolvimento implica em<br />
sustentabilidade. Não se concebe ou aceita o crescimento<br />
econômico que deteriora e depreda os recursos naturais.<br />
Por isso, todos os programas sociais, educacionais e as<br />
ações ligadas à melhoria da infra-estrutura e à<br />
competitividade das empresas devem ser norteadas pela<br />
proteção e preservação do meio ambiente.<br />
Por isso, a produção com técnicas e tecnologias limpas<br />
devem ser uma exigência para a implementação de novos<br />
investimentos, tanto na indústria quanto na agricultura.<br />
Sendo assim, o acesso aos financiamentos das atividades<br />
só será possível com a garantia da preservação dos recursos<br />
naturais.<br />
81<br />
Por fim, deve-se salientar que a implementação dessas seis ações e/ou programas<br />
deve ser balizada pelo livre acesso à informação. Como um processo de<br />
integração implica em mudanças políticas e sociais, a transparência das ações<br />
torna-se o principal instrumento para superar as desconfianças e engajar os<br />
agentes econômicos nas transformações regionais.<br />
4.CONCLUSÕES<br />
Somente a implementação de programas não será capaz de promover a<br />
integração regional. Na realidade, a integração deve ser um compromisso assumido<br />
por todos os agentes econômicos. Por isso, os mesmos devem fazer parte,<br />
junto com a sociedade organizada, do gerenciamento de todos os programas.<br />
Isso implica no planejamento participativo das ações e do direcionamento dos<br />
recursos.<br />
A forma como essa participação vai ser implementada deve ser discutida no<br />
âmbito das comunidades, dando a elas, desde já, uma lição de democracia e<br />
cidadania.<br />
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Conforme mencionado, um processo de integração não é uma tarefa fácil,<br />
mas possível. No âmbito das economias regionais, esse processo se torna mais<br />
penoso, pois as mesmas têm que se enquadrar na legislação e na distribuição<br />
dos recursos nacionais. Além disso, as economias regionais não têm poder sobre<br />
a política macroeconômica do Estado.<br />
Já no âmbito da integração entre economias nacionais, os programas de<br />
fomento podem ter características diferenciadas, dado à quantidade de grupos e<br />
interesses ligados ao processo. Nesse caso, as ações são mais lentas e negociadas.<br />
Vê-se o caso da União Européia, cujas discussões começaram em meados<br />
de 1950 e a implementação com a adoção definitiva da moeda única como meio<br />
de troca aconteceu em 2002.<br />
Em todo caso, todo o processo de crescimento e desenvolvimento conjunto<br />
tende a fortalecer as economias locais, tanto no aspecto puramente econômico<br />
quanto político. E isso, sem dúvida, é bom para a população local e para os<br />
agentes econômicos.<br />
REFERÊNCIAS<br />
KRUGMAN, Paul. A era da incerteza: as expectativas econômicas frustadas. São<br />
Paulo: Campus, 1994.<br />
MYRDAL, Gunnar. Teoria econômica e regiões subdesenvolvidas. Rio De Janeiro:<br />
Saga, 1965.<br />
NORTH, Douglas C. A. Agricultura no crescimento econômico regional. In:<br />
SCHWARTZMAN (Org.). Economia regional: textos escolhidos. Belo Horizonte:<br />
CEDEPLAR, p.290-313, 1977.<br />
82<br />
SCHULTZ, Theodore W. Investindo no povo: o segredo econômico da qualidade<br />
da população. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1981.<br />
SCHUMPETER, Joseph A. Teoria do desenvolvimento econômico: uma investigação<br />
sobre lucros, capital, crédito, juro e o ciclo econômico. 2.ed. São Paulo: Nova<br />
<strong>Cultura</strong>l. (Os Economistas), 1985.<br />
SANTOS, Milton. Economia espacial. 2.ed. São Paulo: Edusp, 2003.<br />
SEN, Amartya. Sobre ética e economia. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.<br />
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A IMPORTÂNCIA DO BRINQUEDO E DO BRINCAR PARA O<br />
DESENVOLVIMENTO BIOPSICOSOCIAL DA CRIANÇA<br />
* Valeska Macarini Celestino<br />
* *José Antônio Baltazar<br />
RESUMO<br />
O trabalho aqui publicado tem o objetivo de destacar a importância do<br />
brinquedo e do brincar para o desenvolvimento bio-psico-social da criança. Os<br />
dados foram levantados por meio de um questionário, através de 16 psicólogos.<br />
Foi possível verificar que o brinquedo é um meio de expressão da criança;<br />
é através dele que se desenvolve a socialização, coordenação motora e estruturas<br />
cognitivas, onde ela trabalha seus medos, conflitos, aprende papéis que vão<br />
auxiliá-la mais tarde nas relações pessoais e aprende também a exercer a<br />
criatividade.<br />
Palavras-chave: Brinquedo; Brincar.<br />
ABSTRACT<br />
This work has the objective of emphasize the importance of toys and of<br />
playing in a child’s bio-psycho-social development. The data were gathered by<br />
means of questionnaires and 16 psychologists.<br />
It was possible to verify that toys are means to a child’s expression; it is<br />
through them that sociability, motor coordination and cognitive structures are<br />
developed; through them a child learns to face its fears and conflicts; learns<br />
roles that will help it later with its personal relationships and they also teach it<br />
to exercise creativity.<br />
Key-words: Toy; Playing.<br />
83<br />
INTRODUÇÃO<br />
O brincar não é perda de tempo; é através dele que a criança aprende que<br />
existem regras, aprende a respeitá-las, aprende a ganhar, a perder, a lidar com<br />
a separação, com limites. Através do brinquedo a criança mostra o que está<br />
sentindo, como é o seu mundo.<br />
Froebel foi o primeiro a colocar os jogos e brinquedos como parte essencial<br />
do trabalho pedagógico. Este autor entende que, nas brincadeiras, a criança<br />
tenta compreender seu mundo ao reproduzir situações da vida.<br />
Através das brincadeiras são desenvolvidos: fluência, codificação, vocabulário,<br />
decodificação auditiva, associação visual, memória auditiva, compreensão,<br />
conhecimento da localização das partes do corpo, motricidade, organização<br />
do corpo no espaço, equilíbrio e ritmo, lateralidade e sentido de direção, reações<br />
rápidas e destrezas, respostas antecipatórias, orientação no tempo, conhecimento<br />
do meio e aceitação social.<br />
*Acadêmica do curso de Psicologia da <strong>UniFil</strong><br />
E-mail: vanuzamacarini@onda.com.br<br />
**Docente do Curso de Psicologia da <strong>UniFil</strong>.<br />
Mestre em Educação pela UNOESTE – Presidente Prudente.<br />
Psicólogo clínico.<br />
E-mail: jabaltazar@uol.com.br<br />
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O brincar fantasiosamente ou “faz-de-conta” é uma forma das crianças trabalharem<br />
seus medos, lidarem com conflitos emocionais e satisfazerem suas<br />
necessidades de domínio de situações de vida. Isso é muito importante para o<br />
desenvolvimento intelectual.<br />
Brincando com outra criança, ela aprende a colaborar com o outro, dividir,<br />
a obedecer regras de jogos.<br />
Os pais devem proporcionar uma infância saudável e estimular seus filhos<br />
a brincar, pois quando privados dessa atividade, eles podem apresentar distúrbios<br />
comportamentais, como: problemas de sono; irritabilidade excessiva;<br />
agressividade; dificuldades de relacionamento em geral.<br />
“Inúmeras vezes os próprios pais inibem as brincadeiras dos<br />
seus filhos, exigindo organização e acreditando que os estão<br />
ajudando, acelerando a aquisição de comportamentos<br />
desejáveis: manter tudo organizado e limpo. Estão na verdade,<br />
queimando uma etapa muito importante do desenvolvimento<br />
infantil (LEVY, 2004)<br />
A criança precisa aprender a identificar, generalizar, classificar, agrupar,<br />
ordenar, combinar, raciocinar, etc. Precisa também aprender a lidar com idéias<br />
tais como conceitos e qualidades de objetos, características de substâncias como:<br />
forma, cor, textura, permeabilidade, elasticidade, etc.<br />
O brinquedo deve estimular a curiosidade e imaginação da criança, levando-a<br />
a descobrir coisas novas e diferentes, podendo, ainda, fantasiar sobre elas<br />
quanto o seu mundo lhe permitir.<br />
O brinquedo sofisticado perde grande parte de suas qualidades lúdicas,<br />
pelo fato de ser um objeto acabado, opõe uma barreira à criatividade e à imaginação.<br />
É preferível que a criança brinque com um objeto rudimentar, como uma<br />
pedra, pedaço de pano, ou de pau. Os brinquedos muito elaborados brinquedos<br />
levam a uma saciação rápida porque não deixam a criança tentar novas alternativas,<br />
fazer algo diferente com eles.<br />
A importância do brinquedo ou jogo como veículo para o desenvolvimento<br />
social, emocional e intelectual tem sido reconhecida há muitos anos por pesquisadores<br />
educacionais. Brincando, a criança se inicia na representação de papéis<br />
do mundo adulto que ela irá desempenhar mais tarde. Desenvolve, assim,<br />
capacidades físicas, verbais e intelectuais, tornando capaz de se comunicar. O<br />
brinquedo ou jogo é, portanto, um fator de comunicação mais amplo que a linguagem,<br />
pois propicia diálogo entre pessoas de alturas diferentes.<br />
O brincar é uma preparação para o mundo adulto. Ao brincar, reproduzindo<br />
as atividades dos pais, a criança” faz de conta” que é grande e realiza seu<br />
ideal infantil de ser grande.<br />
O brinquedo tem uma função purificadora. Como função purificadora, o<br />
brinquedo tende a canalizar as tendências consideradas nocivas à vida coletiva.<br />
Os impulsos agressivos e sexuais, que se manifestam tão precocemente na criança,<br />
adquirem através do brinquedo, as mais variadas formas de expressão,<br />
como: combates simulados; os ataques às mentiras; o brinquedo de boneca; os<br />
brinquedos de família, etc.<br />
KISHIMOTO (1998), afirma que o brinquedo estimula a representação, a<br />
expressão de imagens que evocam aspectos da realidade. O brinquedo coloca a<br />
criança na presença de reproduções: tudo o que existe no cotidiano, a natureza<br />
e as construções humanas. Pode-se dizer que um dos objetivos do brinquedo é<br />
dar à criança um substituto dos objetivos reais, para que possa manipulá-los.<br />
“O brinquedo propõe um mundo imaginário da criança e do adulto, criador do<br />
objeto lúdico”.<br />
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METODOLOGIA<br />
A metodologia empregada nesse estudo foi baseada na pesquisa de campo<br />
através da aplicação de questionário.<br />
CONCLUSÕES<br />
Adultos que não brincaram em sua infância podem apresentar problemas<br />
como: falta de socialização, individualização, dificuldades em frustrar-se,<br />
egocentrismo, agressividade, competitividade, dificuldades em elaborar seus<br />
conflitos.<br />
Foi possível perceber, através da análise dos questionários, que o brinquedo<br />
e o brincar, têm relação com a maturação, com o desenvolvimento da<br />
motricidade, com aspectos cognitivos (curiosidade, criatividade, raciocínio) e com<br />
a motivação.<br />
O comportamento lúdico leva ao desenvolvimento da socialização, da aprendizagem<br />
de normas e regras, resistência a frustrações, desenvolvimento de lideranças,<br />
descoberta de capacidades, desenvolvimento de noções espaciais e temporais.<br />
É importante na aquisição lingüística e na comunicabilidade.<br />
O conhecimento de etapas características e interesses infantis quanto ao<br />
aos aspectos lúdicos é importante da pré-escola até a juventude.<br />
Com o brinquedo a criança pode se expressar. Uma criança com pouca<br />
idade não se expressa verbalmente; então a técnica do brincar é um meio pela<br />
qual ela pode comunicar-se. O brincar é uma projeção de seus conteúdos.<br />
Hoje em dia as crianças têm deixado cada vez mais cedo de brincar devido<br />
ao amadurecimento precoce, o que as tornam adolescentes antes de terem uma<br />
estrutura psíquica. São vários fatores que contribuem para este amadurecimento<br />
precoce, como a “agenda” repleta de atividades extra–escola, a mídia, que<br />
cada vez mais estimula a “adultização” das crianças com modismos de adulto;<br />
há um estímulo também social e familiar, uma supervalorização às mudanças<br />
de interesses.<br />
Há uma falta de incentivo para o brincar por parte dos próprios pais devido<br />
a diversos motivos, como falta de tempo, falta de tolerância, falta de espaço<br />
físico, etc. e isso tem prejudicado o desenvolvimento dos aspectos cognitivo e<br />
emocional das crianças.<br />
85<br />
REFERÊNCIAS<br />
AXLINE, Virgínia M. Dibs à procura de si mesmo. São Paulo: Círculo do Livro,1983.<br />
BARROS, Célia Guimarães. Pontos de psicologia do desenvolvimento. São Paulo:<br />
Ática, 1995.<br />
BOMTEMPO Edda; et al. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo:<br />
Cortez, 1986.<br />
BOMTEMPO, Edda. Psicologia do brinquedo – aspectos teóricos e metodológicos.<br />
São Paulo: Nova Stella, 1986.<br />
KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira,<br />
1998.<br />
WITTER, G. P.; LOMÔNACO, José F. B. Psicologia da Aprendizagem. São Paulo:<br />
Editora Pedagógica e Universitária, 1987.<br />
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DA APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR<br />
NOS CONTRATOS ELETRÔNICOS<br />
*Fernanda Dias Franco<br />
Rogério Martins de Paula<br />
Simone Vinhas de Oliveira<br />
Yeza Bozo Tonin<br />
Renata Silveira de Paiva<br />
Carlos Francisco Borges Ferreira Pires<br />
* * Valkíria Aparecida Lopes Ferraro<br />
RESUMO<br />
O trabalho aqui divulgado, pretende mostrar que as normas dispostas no<br />
Código de Defesa do Consumidor são aplicáveis aos contratos celebrados através<br />
da Internet, nos quais uma das partes é o fornecedor estrangeiro, e a outra,<br />
o consumidor domiciliado no território brasileiro, tendo em vista a falta de legislação<br />
específica no ordenamento jurídico nacional.<br />
Palavras-chave: Código de Defesa do Consumidor; Contratos Virtuais de<br />
Consumo.<br />
ABSTRACT<br />
The following work intends to show that the rules of the Consumer Defense<br />
Code are applicable to contracts celebrated through the Internet, in which one<br />
of the parts is a foreign supplier, and the other a consumer living in the Brazilian<br />
territory, due to the lack of specific legislation in the national legal system.<br />
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Key-words: Consumer Defense Code; Consumer’s Virtual Contract.<br />
INTRODUÇÃO<br />
Com o advento da Internet, facilitou-se o comércio internacional,<br />
abolindo-se os limites territoriais, e, conseqüentemente, aumentaram as relações<br />
de consumo entre nacionais, e, entre nacionais e estrangeiros. Tal como os<br />
contratos escritos, os contratos virtuais de consumo também necessitam de<br />
uma regulamentação, ou seja, de um ordenamento jurídico aplicável para garantir-lhe<br />
legalidade, segurança, proteção ao consumidor, bem como para sanar<br />
conflitos que deles poderá surgir.<br />
Muita discussão surge quando a contratação, via eletrônica, é realizada<br />
entre consumidor domiciliado no Brasil e fornecedor estrangeiro, já que, no<br />
Brasil, não há uma legislação específica que regule as transações realizadas no<br />
ambiente virtual, tendo-se que recorrer às legislações já existentes e então adaptando-as<br />
a estas inovações trazidas pela era da informação.<br />
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* Acadêmicos(as) do Curso de Direito da UEL<br />
* * Docente do Centro Universitário Filadélfia - <strong>UniFil</strong>.<br />
Mestre em Direito das Relações Sociais pela Universidade Estadual de Londrina - UEL.<br />
Doutora em Direito das Relações Sociais pela PUC-SP.<br />
Professora Adjunto-B de Direito Civil nos Cursos de Graduação em Direito e Mestrado em Direito Negocial da UEL.<br />
E-mail: valkiria@sercomtel.com.br<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
1 – APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR NOS<br />
CONTRATOS ELETRÔNICOS<br />
Em função da Constituição Federal em seu art. 5º, inc. XXXII, que prevê a<br />
proteção do consumidor por lei ordinária, em 1990, entrou em vigor o Código de<br />
Defesa do Consumidor, Lei nº 8.078/90, com a finalidade de dar guarida à parte<br />
hipossuficiente na relação consumerista, disciplinando sobre os direitos do consumidor,<br />
obrigações e responsabilidades dos fornecedores, bem como a reparação<br />
dos danos que sobrevierem para o consumidor.<br />
Como o Código de Defesa do Consumidor não especifica, e muito menos<br />
restringe os tipos de contratos; é possível sua aplicação nos contratos virtuais<br />
de consumo, posto que um dos contratantes seja consumidor, e o outro, fornecedor,<br />
incidindo assim em qualquer tipo de oferta.<br />
De acordo com o art. 2º do CDC, consumidor “...é toda pessoa física ou<br />
jurídica que adquire ou utiliza produto de serviço como destinatário final, e já o<br />
art. 3º do mesmo Codex, diz que fornecedor “...é toda pessoa física ou jurídica,<br />
pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes<br />
despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação,<br />
construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou<br />
comercialização de produtos ou prestação de serviços”. Desse modo, entende-se<br />
que para a aplicação do referido diploma legal, é necessário verificar as características<br />
dos contratantes.<br />
Quanto à verificação da regularidade do estabelecimento virtual, este deverá<br />
cumprir os requisitos exigidos do art. 31 do CDC: “A oferta e apresentação de<br />
produtos ou serviços devem assegurar informações corretas claras e precisas,<br />
ostensivas e em língua portuguesa, sobre suas características, qualidade, quantidade,<br />
composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros<br />
dados; bem como, sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos<br />
consumidores”; e também cumprir os requisitos do art. 33, o qual obriga a constar<br />
o nome do fabricante e endereço na embalagem, nas publicidades e em todos<br />
os impressos utilizados na transação comercial, considerando o comércio eletrônico,<br />
como sendo apenas um outro meio qualquer de venda e oferta, assim<br />
como o telefone.<br />
É próprio também do comércio eletrônico de consumo, como qualquer compra<br />
realizada à distância, uma vez que o consumidor adquire o produto ou serviço<br />
fora do estabelecimento físico comercial do fornecedor, possui este o direito<br />
de arrependimento, conforme o disposto no artigo 49 do diploma consumerista,<br />
podendo desistir da contratação no prazo de 07 (sete) dias, contando-se a partir<br />
do dia da conclusão do negócio ou da entrega do produto, ou ainda dos serviços<br />
contratados, devendo requerer a devolução da quantia paga e devolver o produto<br />
adquirido.<br />
Grande polêmica é identificar em que momento começa a contar o prazo:<br />
quando há a recepção da mensagem pelo provedor ou no momento em que o<br />
provedor descarrega a mensagem no e-mail do consumidor. O melhor entendimento<br />
é quando ocorre a descarga do arquivo no computador para onde o e-mail<br />
foi enviado e recebido. Assim, se o negócio ocorreu no dia 1º, terá o consumidor<br />
07 (sete) dias para efetivar a sua desistência, enviando e-mail ao fornecedor,<br />
mesmo que este só tome conhecimento posteriormente, pois o direito de arrependimento<br />
ocorreu dentro do prazo legal.<br />
O consumidor também é protegido quando recebe correspondência eletrônica<br />
não autorizada, lotando a sua caixa postal, como propagandas de serviços<br />
ou produtos, apresentando atraentes vantagens, convidando-o a aderir aos mais<br />
variados planos, produtos, grupos, jogos, serviços, conhecidos como SPAM, fa-<br />
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zendo com que o receptor perca tempo abrindo, lendo, e apagando mensagens<br />
de serviços ou produtos que não solicitou. Tais atitudes invadem o espaço virtual do<br />
usuário, configurando-se como abusos praticados pelos emitentes. O CDC considera<br />
estas condutas desrespeitosas, coibindo-as, bem como protegendo o consumidor,<br />
conforme se depreende do seu art. 39, mais especificamente no seu inciso III, o qual<br />
proíbe o fornecedor de produtos e serviços de enviar ou entregar ao consumidor, sem<br />
solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço.<br />
Contudo, as práticas abusivas elencadas em seu texto não são exaustivas,<br />
mas, exemplificativas, podendo qualquer conduta que seja ilegal ser enquadrada<br />
em sua sistemática. Além do mais, este mesmo diploma legal não podia especificar<br />
estas condutas, tendo em vista que o mercado de consumo sofre alterações<br />
constantes e de modo veloz, ficando inviável uma regulamentação detalhada. Poderão,<br />
ainda, aqueles que enviam SPAM, sofrer sanções, como reparação pelos<br />
danos causados, inclusive os morais (art. 6º do CDC) 1 , ter suas licenças cassadas<br />
(art. 84 do CDC), entre outras sanções, eventualmente determinadas pelo juiz.<br />
Os produtos e serviços obtidos, via Internet, também podem apresentar<br />
vícios ou defeitos, como, por exemplo, não corresponder às informações que<br />
foram prestadas pelo “vendedor”, prejudicando consideravelmente o consumidor.<br />
Prevendo este tipo situação, o CDC em seu art. 18, § 1º 2 , dispõe: “...em<br />
relação aos produtos, caberá ao consumidor exigir o saneamento desses vícios,<br />
e se não for solucionado, poderá escolher, alternativamente a substituição do<br />
produto por outro da mesma espécie, ou restituição imediata da quantia paga,<br />
ou o abatimento proporcional do preço”. Já quanto aos vícios de serviços (art. 20<br />
do CDC) 3 , o consumidor poderá optar, alternativamente, a reexecução dos serviços,<br />
ou a restituição da quantia paga, ou o abatimento proporcional do preço.<br />
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1 Art 6º do CDC: “São direitos básicos do consumidor:<br />
I – a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos<br />
e serviços considerados perigosos ou nocivos;<br />
II – a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, assegurados a liberdade de<br />
escolha e a igualdade nas contratações;<br />
III – a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de<br />
quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentam;<br />
IV – a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem<br />
como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;<br />
V – a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em<br />
razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;<br />
VI – a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos;<br />
VII – o acesso aos órgãos judiciários e administrativos, com vistas à prevenção ou reparação de danos<br />
patrimoniais e morais, individuais, coletivos, ou difusos, assegurada a proteção jurídica, administrativa e<br />
técnica aos necessitados;<br />
VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no<br />
processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação, ou quando for ele hipossuficiente, segundo<br />
as regras ordinárias de experiências;<br />
IX – (vetado);<br />
X – a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.”<br />
2 Art. 18 do CDC: “Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente<br />
pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que<br />
se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como respondem também por aqueles decorrentes da disparidade,<br />
com as indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas<br />
as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.”<br />
§ 1º Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à<br />
sua escolha:<br />
I – a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso;<br />
II – a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e<br />
danos;<br />
III – o abatimento proporcional do preço.<br />
3 Art. 20 do CDC: “O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao<br />
consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações<br />
constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente, e à sua<br />
escolha:<br />
I – a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível;<br />
II – a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;<br />
III – o abatimento proporcional do preço.”<br />
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2 – FORO COMPETENTE<br />
Após ter sido certificado que a relação concretizada virtualmente se enquadra<br />
no Código de Defesa do Consumidor, é relevante verificar o lugar competente<br />
para propositura de eventual demanda. Primeiramente, deve-se verificar o<br />
locus do estabelecimento físico do fornecedor, pois será onde prevalecerá a fixação<br />
da competência.<br />
Por outro lado, sendo o consumidor a parte mais vulnerável frente ao fornecedor,<br />
o CDC, em seu art. 101, inciso I, deixa expresso a possibilidade de opção,<br />
pelo consumidor, de sua ação ser proposta onde situar seu domicílio.<br />
Portanto, se uma compra for realizada sendo o ofertante estrangeiro e o<br />
adquirente com sede no território brasileiro, terá este dois caminhos, quais sejam,<br />
mover a ação judicial no país sede da empresa, ou propô-la no Brasil,<br />
conforme assegurado por aquele código.<br />
3 – RESPONSABILIDADE DO PROVEDOR<br />
O provedor, também, como qualquer anunciante ou intermediário, terá sua<br />
responsabilidade perante o contratante, de acordo com a quantidade e intensidade<br />
de violações às regras básicas de venda de produtos e fornecimento de<br />
serviços, ou seja, responde por qualquer vício ou defeito, como o gerenciamento<br />
da caixa postal, o fornecimento de programas, a lentidão nos acessos, a venda<br />
direta de softwares por parte do provedor, etc., aplicando-se os dispositivos do<br />
Código de Defesa do Consumidor anteriormente expostos.<br />
CONCLUSÕES<br />
Assim, fica evidente que não se pode escusar a aplicação do Código de<br />
Defesa do Consumidor às relações virtuais consumeristas, por falta de legislação<br />
específica, e muito menos deixar o consumidor desprotegido na relação jurídica<br />
de consumo estabelecida no ambiente virtual, enquanto não houver regulamentação<br />
legal.<br />
O Código de Defesa do Consumidor é perfeitamente aplicável, uma vez que<br />
não exaure todas as formas de contratação, bem como devido ao fato de possuir<br />
descrições genéricas que se adeqüam às constantes alterações eletrônicas,<br />
trazidas pela informática. Além disso, como se depreende do exposto anteriormente,<br />
ele também consagra relevantes princípios como o da boa-fé e o dever de<br />
informação.<br />
Cabe agora, aos julgadores, adaptarem estes tipos de contratação aos dispositivos<br />
do diploma consumerista, para que haja a efetiva proteção e segurança<br />
à parte hipossuficiente, visto que a criação do Código de Defesa do Consumidor<br />
é, ainda, considerada uma grande inovação na legislação brasileira.<br />
REFERÊNCIAS<br />
BRUNO, Marcos Gomes da Silva. Aplicação do Código do Consumidor aos contratos<br />
eletrônicos nacionais e internacionais. Disponível em: http://<br />
www.ibpbrasil.com.br/comercioeletronico/com002.htm>. Acesso em: 10/03/<br />
2004.<br />
GICO JÚNIOR, Ivo Teixeira. Direito do consumidor: mercado global, responsabilidade.<br />
Disponível em: http://www.procon.goias.gov.br/artigodoutrinario/<br />
artigo_dout_91.htm. Acesso em: 14/03/2004.<br />
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HAYASHI, Felipe Eduardo Hideo. Aplicabilidade do ordenamento jurídico brasileiro<br />
face aos contratos eletrônicos. Disponível em: http://<br />
www.mundojuridico.adv.br/html/artigos/documento/textos.439.htm>. Acesso<br />
em : 14/03/2004.<br />
RELVAS, Marcos. O contrato eletrônico nas relações comerciais e de consumo.<br />
Disponível em: http/www.forense.com.br/Atualidad/Artigos DCOM/<br />
contrato.htm>. Acesso em: 13/03/04.<br />
SANTOS, Jonábio Barbosa dos. Comércio Eletrônico e as Relações de Consumo.<br />
Disponível em: http://www.met.gov.br/legis/consultoria_jurídica/artigos/<br />
e_comercio_relaçoes_consumo.htm>. Acesso em: 10/03/2004.<br />
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ESTUDO DE PADRÕES UTILIZANDO UM ESTUDO DE CASO<br />
* Sérgio Akio Tanaka<br />
* *Shirley Hitomi Mitsunaga de Oliveira<br />
***Rodolfo Miranda de Barros<br />
RESUMO<br />
Dirigir um negócio hoje é mais competitivo do que foi em qualquer momento da<br />
história dos negócios. O que a globalização provocou no mercado mundial, através de<br />
tecnologia e da Internet, requer, em particular, das pessoas de negócios, a necessidade<br />
de se adaptar à nova lógica. Sistemas de Informação se tornaram a coluna vertebral do<br />
moderno empreendimento e são cruciais para o seu funcionamento. Uma organização,<br />
com as ferramentas de informação apropriadas, pode tirar proveito mais rapidamente<br />
das oportunidades e se adaptar às exigências do mundo dos negócios. A reutilização é<br />
uma técnica importante na arquitetura de negócios. Neste intuito de reduzir esforços,<br />
agilizar e otimizar os processos, insere-se o conceito de aplicação de padrões. Busca-se,<br />
então, soluções extraídas do melhor da prática que os projetistas experientes aplicam na<br />
criação de sistemas. Uma arquitetura de aplicação baseada em padrões de negócios é<br />
proposta como uma forma de construir sistemas de informação, para melhorar essas<br />
necessidades. O presente trabalho tem por finalidade o estudo e a aplicação de padrões<br />
de arquiteturas de negócios, utilizando os mecanismos de extensibilidade estabelecidos<br />
pela UML e a forma que isso pode melhorar na modelagem de processos empresariais.<br />
Como estudo de caso foi utilizado o Sistema de Controle Acadêmico, de uma escola<br />
prestadora de serviços na área educacional. O objetivo é constatar adaptação dos padrões<br />
generalizados a um sistema específico, comprovando se os mesmos podem ser<br />
reutilizados repetidamente e podem ser combinados e adaptados de várias formas e<br />
situações diferentes, independente do escopo do problema.<br />
Palavras-chave: Negócios, Globalização.<br />
ABSTRACT<br />
Running a business today is more competitive than it was in any other moment<br />
in the history of business. What was caused by globalization in the world market,<br />
through technology and the internet, requires, particularly of businesspeople, the<br />
adaptation to the new logic. Systems of Information have become the spine of the<br />
modern enterprise and they are crucial for its operation. An organization, with the<br />
appropriate information tools, can take advantage of the opportunities more quickly<br />
and adapt to the demands of the world of business. The reutilization is an important<br />
technique in the architecture of business and it contributes to this context. With<br />
this intention of reducing efforts, activating and optimizing the processes, the<br />
concept of application of pattern is applied. There is a search then for solutions<br />
provided by the best methods that expert designers use in the creation of systems.<br />
A business-pattern-based application architecture is proposed as a form of building<br />
systems of information to meet those needs. This work has as its purpose the study<br />
and the application of patterns of business architecture, using the standard extension<br />
mechanisms established by UML and the way it can improve the modeling of<br />
managerial processes. As a case study, the System of Academic Control at a private<br />
school was used. The objective is to verify the adaptation of the widespread patterns<br />
to a specific system and prove that they can be reused repeatedly, combined and<br />
adapted to several forms and different situations, whatever the problem may be.<br />
Key-words: businesses, globalization.<br />
* Docente do Centro Universitário Filadélfia - <strong>UniFil</strong> - Departamento de Computação E-mail: tanaka@dc.unifil.br<br />
** Cooperativa Integrada – Departamento de Tecnologia - E-mail: shirley.oliveira@integrada.coop.br<br />
*** UEL - Departamento de Computação - E-mail: rodolfo@uel.br<br />
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Introdução<br />
Sistemas de informação de negócios têm se tornado uma parte integrante<br />
de empreendimentos modernos, sendo tais sistemas indispensáveis para habilitar<br />
o empreendedor a adaptar-se à dinâmica e complexidade das necessidades<br />
de negócios. Um problema comum em sistemas de software é não suportar corretamente<br />
os negócios do qual eles são uma parte integrante. Há várias razões<br />
para isto: uma correta especificação de requisito não está disponível, falta de<br />
compreensão do negócio pelos envolvidos ou as freqüentes mudanças empresariais<br />
[6]. Neste contexto, uma técnica importante, é a reutilização de soluções.<br />
Conceitos como padrões de negócios estão sendo estudados e aprimorados para<br />
que possam ser aplicados em diversos domínios.<br />
Este trabalho tem por finalidade o estudo e a aplicação de padrões de arquiteturas<br />
de negócios, utilizando os próprios mecanismos de extensibilidade estabelecidos<br />
pela UML [5, 14] e a forma como isso pode melhorar a modelagem de<br />
processos empresariais. Como estudo de caso foi utilizado o Sistema de Controle<br />
Acadêmico (SCA), de uma escola prestadora de serviços na área educacional.<br />
O objetivo é constatar a adaptação dos padrões generalizados a um sistema<br />
específico, comprovando se os mesmos podem ser reutilizados repetidamente e<br />
se podem ser combinados e adaptados de várias formas e situações diferentes,<br />
independente do escopo do problema.<br />
Este artigo está organizado da seguinte forma: a Seção 2 apresenta uma<br />
visão geral sobre alguns dos processos de desenvolvimento de software. A Seção<br />
3 apresenta a arquitetura de negócios. A Seção 4 apresenta padrões de negócios.<br />
A Seção 5 apresenta o estudo de caso do SCA e, finalmente, na Seção 6 são<br />
apresentadas as conclusões e visualizados os trabalhos futuros.<br />
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2. Processo de Desenvolvimento do Software<br />
Um processo de desenvolvimento de software é um conjunto de métodos,<br />
fases de projeto, técnicas e práticas que são empregados para desenvolver e<br />
manter o software e seus artefatos associados [10], especificando as atividades<br />
a serem executadas, os resultados de cada atividade, a sua ordem e a sincronização<br />
das mesmas. Os mais avançados incluem listas de verificação, diretrizes,<br />
métricas, padrões de documentação e recomendações de ferramentas, sendo,<br />
freqüentemente, configuráveis e adaptados a tipos diferentes de organizações<br />
ou projetos [6]. Alguns processos de desenvolvimento de software foram estudados<br />
neste trabalho, a saber: o Ágili Modeling-AM [1], o eXtreme Programming-XP<br />
[3, 9] e o Rational Unified Process-RUP [10]. Nas seções seguintes, são apresentados<br />
os estudos realizados sobre estes processos.<br />
2.1. Agile Modeling<br />
Agile Modeling (AM), é um processo de desenvolvimento de software baseado<br />
em práticas que visam aumentar a eficiência da equipe dentro de um projeto<br />
de desenvolvimento de software, ao contrário dos processos “tradicionais” como<br />
o RUP, por exemplo, que requer basicamente os mesmos artefatos para todos os<br />
tipos de projetos. AM busca a construção e manutenção eficiente de artefatos,<br />
criando-os apenas quando agregarem valor real ao projeto e focando, principalmente,<br />
os esforços no desenvolvimento do software que é o objetivo principal do<br />
processo. AM não é um processo de software completo, seu foco está na modelagem<br />
e na documentação gerada, não inclui atividades de programação, embora<br />
sugira que sejam efetuados testes dos modelos através de código. Não inclui<br />
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atividades de prova, embora considere importante a realização de testes quando<br />
da modelagem. Não cobre administração de projeto, desenvolvimento de sistema,<br />
operações de sistema, apoio de sistema ou outros assuntos, porque o seu<br />
foco é em uma parte dentro do processo de software global, ou seja, é aplicado<br />
com outro processo de desenvolvimento, podendo ser tanto metodologias ágeis,<br />
como o XP, como prescritivas como o RUP.<br />
AM é uma metodologia de modelagem ágil e não prescritiva, ou seja, não<br />
define procedimentos detalhados de como criar um dado tipo de modelo; não<br />
visa a eliminação da documentação; simplesmente estabelece que a documentação<br />
deve ser feita do modo mais racional. AM não visa a eliminação de ferramentas<br />
CASE’s, pelo contrário, AM prega que a melhor ferramenta para criar<br />
um modelo é a mais simples. Se um modelo for mais fácil de ser desenhado em<br />
uma ferramenta CASE do que no papel, então a ferramenta CASE deve ser utilizada<br />
para a criação desse modelo.<br />
2.2. Extreme Programming<br />
O Extreme Programming (XP) é uma metodologia ágil para equipes pequenas<br />
e médias, que desenvolvem software com requisitos vagos e em constante mudança<br />
[4] e que não estejam espalhadas geograficamente, já que a comunicação<br />
é um valor fundamental do XP. Outras situações onde: não se tem o controle<br />
sobre o código, onde o feedback é demorado, testes muito difíceis, arriscados e<br />
que levam tempo, também não deve ser indicado o uso do XP.<br />
O XP baseia-se em: revisão permanente do código, testes freqüentes, participação do usuário<br />
final, melhoria contínua (refactoring), refinação contínua da arquitetura, integração contínua, planejamento,<br />
design e redesign a todo o momento.<br />
O XP não é uma forma livre, tudo tem uma disciplina - ele trata estritamente<br />
de um aspecto particular do desenvolvimento do software de forma a liberar<br />
um valor e é bastante prescritivo. Inclui quatro atividades básicas: codificação,<br />
teste, execução e projeto.<br />
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2.3. Rational Unified Process<br />
O RUP captura algumas das melhores práticas atuais de desenvolvimento de<br />
software, podendo ser adaptado para uma ampla variedade de projetos de software<br />
e empresas de pequeno a grande porte, diferentemente dos processos AM e XP.<br />
Sua meta é assegurar a produção de software de mais alta qualidade que satisfaça<br />
às necessidades de seus usuários finais dentro de cronograma e orçamento<br />
previsíveis, através da integração das fases do desenvolvimento de software.<br />
As atividades do RUP dão ênfase à criação e manutenção de modelos no<br />
lugar de documentos impressos, visando minimizar a sobrecarga associada à<br />
geração e manutenção de documentos e maximizar o conteúdo das informações<br />
relevantes [5, 8, 10].<br />
2.4. Considerações Finais<br />
Em termos de modelagem de negócios, o processo de desenvolvimento de<br />
software é um processo de negócios, e o RUP é um processo de negócios genérico<br />
para engenharia de software orientada a objetos, pois descreve uma família<br />
de processos de engenharia de software relacionados que compartilham uma<br />
estrutura e uma arquitetura de processos comuns.<br />
O RUP captura muitas das melhores práticas do desenvolvimento de software<br />
moderno, de forma que possam ser adaptadas para uma grande variedade de<br />
projetos e de organizações, além de empregar a UML como a sua notação comum<br />
e de ser comercialmente disponível.<br />
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Considerando que AM é um complemento aos processos existentes, não<br />
sendo uma metodologia completa, podendo ser empregada para aumentar a<br />
eficiência da modelagem e documentação, tanto em processos prescritivos, como<br />
o RUP, quanto em processos ágeis como o XP, e tendo em vista que o XP não<br />
contempla em suas disciplinas questões relacionadas à modelagem de negócios,<br />
concluímos que o RUP é o processo mais aderente ao estudo de caso deste<br />
projeto, apesar do não cobrir tudo em um processo de desenvolvimento de<br />
software, como, por exemplo, as exigências de alguns padrões de processo de<br />
software internacionais como ISO 15504 [15], que trata de aspectos relacionados<br />
à aquisição de software e administração de recursos humanos. É a tecnologia<br />
selecionada para ser aplicada neste trabalho.<br />
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3. Arquitetura de Negócios<br />
A arquitetura de software é o estudo da organização global dos sistemas de<br />
software bem como do relacionamento entre seus subsistemas e componentes.<br />
Ela serve como uma estrutura que permite o entendimento de componentes de<br />
um sistema e seus inter-relacionamentos [12].<br />
Define-se a arquitetura de negócios de forma similar à arquitetura de<br />
software, como um conjunto organizado de elementos com relacionamentos transparentes<br />
uns com os outros que, juntos, formam um todo definido pela correspondente<br />
funcionalidade. Os elementos representam a estrutura organizacional<br />
e comportamental de um negócio e mostram abstrações dos processos e estruturas<br />
do negócio [6].<br />
Um negócio, em uma empresa, é um sistema complexo que tem um propósito<br />
específico ou meta. Todas as funções do negócio interagem para alcançar<br />
esta meta. O sistema de negócio também pode ser encadeado e pode ser afetado<br />
pelas decisões e eventos que ocorram com outros sistemas. Assim não podem<br />
ser analisados isoladamente. Os conceitos usados para definir o sistema de<br />
negócios são: recursos, processos, metas e regras.<br />
3.2. Extensão de Negócios Eriksson-Penker<br />
Sistemas de negócios têm muitos conceitos que nunca são planejados para<br />
serem executados em um programa, como as pessoas que trabalham no processo<br />
de negócio. Como a UML foi projetada para descrever aspectos de um sistema<br />
de software inicialmente, teve que ser estendida para identificar mais claramente<br />
e visualizar os conceitos importantes de processo, metas, recursos e regras de<br />
um sistema de negócio. Para tratar este assunto, foram criadas extensões baseadas<br />
nos elementos existentes no modelo da UML, chamadas, simplesmente de<br />
extensão de negócios de Ericksson-Penker, e cria símbolos para modelagem de<br />
processos, recursos, regras e metas de um sistema de negócio. O mecanismo de<br />
extensão padrão da UML, permite adaptar a UML para acomodar novos conceitos.<br />
Os mecanismos de extensão são: estereótipo, valor rotulado e restrição.<br />
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3.2.1. Processos de Negócio<br />
Processos de negócios são parte das atividades dos negócios. Eles descrevem<br />
as funções do negócio e envolvem recursos que são usados, transformados<br />
ou produzidos. Um processo de negócio é uma abstração que mostra a cooperação<br />
entre recursos e a transformação dos recursos nos negócios. Um processo<br />
tem uma meta e é afetado através de eventos. A extensão de negócio de Eriksson-<br />
Penker representa um processo com um diagrama de classe da UML.<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
3.2.2. Eventos de Negócio<br />
Eventos de negócio corresponde a uma mudança de estado que notifica que<br />
algo aconteceu no negócio. Um processo é afetado por eventos que acontecem<br />
no ambiente circunvizinho. Eventos de negócio são gatilhos de atividades iniciadas<br />
ou aquele controle que executa as atividades. Na notação de negócio de<br />
Eriksson-Penker, um evento de negócio é representado como uma classe (o tipo<br />
de evento) e objetos (exemplos do tipo de evento).<br />
3.2.3.Recursos<br />
Recursos são os objetos que agem ou são usados no negócio. Eles são consumidos,<br />
produzidos, transformados ou usados durante o processo de negócio.<br />
As extensões de negócios de Eriksson-Penker representam os tipos de recursos<br />
em classes e a instâncias de recursos; são representadas como objetos nos quais<br />
os estereótipos indicam diferentes categorias de tipos de recursos.<br />
3.2.4. Metas<br />
Uma meta descreve o estado de desejo de um ou mais recursos. São declaradas<br />
metas em condições que indicam otimização, como aumento do resultado,<br />
aumento da qualidade ou diminuição do tempo para comercialização. A soma<br />
de todos os esforços dos processos, recursos e regras deveriam alcançar as metas.<br />
A solução usada na extensão de negócio de Eriksson-Penker é representar<br />
as metas como objetos e usar um diagrama de objeto para apresentar as dependências<br />
entre metas e submetas.<br />
3.2.5. Regras de Negócio<br />
Um modelo de negócio contém regras de negócios que definem limitações,<br />
condições e políticas para entender como os processos de negócios são executados.<br />
Na extensão de negócio de Eriksson-Penker é usado o estereótipo intitulado<br />
“nota” para definir uma regra.<br />
3.3.Considerações Finais<br />
Cada vez mais as empresas convivem com ambientes de negócios que requerem<br />
mudanças freqüentes em seus processos, as quais afetam os projetos de<br />
software. Muitos empreendimentos dependem da capacidade do sistema de<br />
processamento de informações. Este processamento, muitas vezes, tem baixa<br />
performance, pode ser inflexível, complexo e dependente de outros processos que<br />
podem retardar as capacidades de processamento do sistema de informação. Vários<br />
produtos e tecnologias foram desenvolvidos para ajudar a superar estes problemas<br />
que podem ser críticos para o sucesso dos empreendimentos. A reutilização<br />
é uma técnica importante na arquitetura de negócios e que contribui neste contexto.<br />
Neste intuito de reduzir esforços, agilizar e otimizar os processos, insere-se<br />
o conceito de aplicação de padrões, comunicando idiomas e as soluções extraídas<br />
do melhor da prática que os projetistas experientes aplicam na criação de sistemas<br />
[11] e, cujo tema, é o assunto apresentado na próxima seção.<br />
4. Padrões de Negócios<br />
Padrões de arquitetura de negócios são soluções generalizadas que podem<br />
ser implementadas e aplicadas em uma situação-problema (um contexto) e assim<br />
eliminar um ou mais problemas inerentes para satisfazer um ou mais objetivos.<br />
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Padrões podem ser considerados como protótipos para produção. Eles podem<br />
ser usados repetidamente, podem ser combinados e adaptados nos mais<br />
diferentes modos. É importante perceber que padrões não são inventados, eles<br />
são encontrados em modelos existentes que descrevem sistemas empresariais<br />
da vida real. Em outras palavras, padrões realmente são os resultados de experiências<br />
de modelagens que identificaram soluções gerais a problemas comuns<br />
[6]. Os padrões de negócios descrevem de uma forma comum um modelo de<br />
solução para se usar ao negociar: recursos, organizações, metas, processos e<br />
regras. Assim, por que resolver tudo novamente? Padrões tornam possível capturar<br />
e descrever estes problemas de modelagem de negócios e as suas soluções<br />
correspondentes de forma que as soluções possam ser usadas novamente.<br />
4.4. Considerações Finais<br />
Apesar de serem pouco difundidos, os padrões de modelagem de negócios<br />
tendem a ganhar espaço. Considerando que dirigir um negócio, hoje, é mais<br />
competitivo do que foi em qualquer momento da história dos negócios, o uso de<br />
padrões em arquiteturas de negócios, agiliza a tomada de decisão propiciando<br />
ganhos de produtividade, permitindo ao empreendedor tirar proveito mais rapidamente<br />
das oportunidades de negócios que surgem no mercado e se adaptar<br />
às exigências do mundo dos negócios. Uma arquitetura de aplicação baseada<br />
em padrões de negócios é proposta na próxima seção, como uma forma de construir<br />
sistemas de informação para atender a essas necessidades.<br />
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5. Estudo de Caso<br />
Esta seção apresenta a modelagem do SCA, objeto de estudo nas aulas do<br />
Curso de Pós Graduação em Engenharia de Software com UML, do Centro Universitário<br />
Filadélfia - <strong>UniFil</strong>. A modelagem de negócio inicia-se expressando as<br />
visões e metas do negócio, e definindo a terminologia empresarial. Depois que<br />
as visões, metas e terminologia estiverem claramente definidas e compreendidas,<br />
são modelados os processos empresariais, organização, recursos e regras.<br />
O último passo é avaliar e ajustar os resultados do projeto.<br />
O foco deste trabalho é baseado no caso de uso mural, cujos artefatos de<br />
modelagem de negócio e requisitos podem ser visualizados no endereço:<br />
www.dc.unifil.br/pos/grupo5.<br />
5.1. Sistema de Controle Acadêmico<br />
O SCA automatiza os processos básicos do Centro de Qualificação, que é<br />
uma das unidades organizacionais da escola prestadora de serviços na área<br />
educacional, responsável pela realização de treinamentos. Uma das funcionalidades<br />
a serem implementadas e apresentadas neste estudo de caso refere-se a<br />
um painel da turma com envio automático de e-mails para todos, de tal forma<br />
que a turma seja avisada sobre alguma novidade ou comunicado em relação à<br />
mesma.<br />
Este estudo de caso de modelagem de negócio aplica os conceitos previamente<br />
discutidos, visando demonstrar como o SCA pode superar este problema<br />
estratégico do negócio e atualizar seu sistema de apoio adeqüadamente. A intenção<br />
deste estudo de caso de modelagem de negócio é demonstrar a modelagem<br />
do mesmo e especificar as exigências do sistema de software, ao invés de se<br />
construir um sistema de software. O resultado do modelo empresarial neste<br />
estudo de caso é uma especificação de exigência que irá apoiar a construção do<br />
sistema de software.<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
5.1. Modelagem de Negócio<br />
A disciplina de modelagem de negócios define os processos, os papéis e as<br />
responsabilidades dessa organização em um modelo de caso de uso de negócios<br />
e em um modelo de objetos de negócios.<br />
5.1.1. Modelo de Caso de Uso de Negócios<br />
O modelo de caso de uso de negócios é um modelo das funções pretendidas<br />
pelo negócio. É usado como base para identificar papéis e produtos liberados na<br />
organização. Na Figura 1 pode-se visualizar o diagrama de caso de uso de negócio<br />
do SCA – mural. No diagrama é apresentado o caso de uso de negócio<br />
“PublicarMural”, o qual define um conjunto de instâncias do caso de uso de<br />
negócio e, no qual, cada instância é uma seqüência de ações realizada no negócio<br />
que produz um resultado de valor observável para um determinado ator de<br />
negócio. Os atores de negócios representam um papel desempenhado em relação<br />
ao negócio (mural), podendo ser identificados no diagrama como:<br />
“bSecretária”, “bAlunos” e “bProfessores. A associação de comunicação entre as<br />
classes de atores de negócios e a classe de caso de uso de negócio mural, indica<br />
haver interação entre suas instâncias e estes atores de negócio , ou seja, o ator<br />
de negócio “bSecretária” efetua o controle das publicações no mural e “bAlunos”<br />
e “bProfressores”, interagem com o mural apenas como leitores.<br />
97<br />
Figura 1 - Diagrama de caso de uso de negócio do “PublicarMura”<br />
5.1.2. Modelo de Objetos de Negócios<br />
A Figura 2 demonstra a realização do caso de uso de negócio “PublicarMural”.<br />
O relacionamento de dependência estereotipada é indicado através do estereótipo<br />
, demonstrando a rastreabilidade do caso de uso de negócio para a<br />
realização do caso de uso de negócio “rPublicarMural”, de forma a identificar a<br />
origem dos elementos do projeto.<br />
Figura 2 - Diagrama realização do caso de uso de negócio “rPublicarMural”.<br />
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No modelo de objetos de negócios apresentado na Figura 3, é descrita a<br />
realização de casos de uso de negócios, cujas entidades de negócios “eMural” e<br />
“eTurma”, representam o próprio mural, ou seja, os objetos que os trabalhadores<br />
de negócio “wSecretária” (uma classe que representa uma abstração de uma<br />
pessoa que atua no sistema) acessa, inspeciona, manipula e produz um resultado,<br />
para que seja disponibilizado aos atores de negócio “bAlunos” e “bProfessores”.<br />
A indicação {Locate from SCA} denota que a entidade de negócio é proveniente<br />
de outro sistema existente.<br />
Figura 3 - Modelo de objeto de negócio “PublicarMural<br />
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5.2. Visão e Metas<br />
A visão de um negócio no documento visão de negócios contém a idéia<br />
empresarial, e a sua meta é expressa em uma declaração de visão e um modelo<br />
de meta. A visão de negócio do SCA compreende a implementação de um painel<br />
da turma (como um mural de recados), com envio automático de e-mails para<br />
todos, de forma que eles sejam avisados sobre alguma novidade ou comunicado<br />
em relação à turma.<br />
5.2.1. Modelo de Meta<br />
Na Figura 4 é apresentado o modelo de meta referente à implementação do<br />
painel da turma. Há duas classes de metas predefinidas: meta qualitativa e<br />
meta quantitativa, ambas com o estereótipo . Os objetos (Desenvolvimento<br />
do Mural, Tempo Treinamento, Satisfação Cliente, Interface Gráfica, Via<br />
Web, Disponibilidade e Performance) apresentados no diagrama de objeto de<br />
meta, são instâncias das duas classes de metas predefinidas e as setas de dependências<br />
entre os objetos mostram que eles dependem um do outro. O problema<br />
“Fornecedor de Serviços” é apresentado com uma nota estereotipada com<br />
o estereótipo e descritos através de um texto formal. À nota anexada<br />
à meta para a qual o problema é relatado, indica futuras submetas, como<br />
por exemplo, “Revisão de Contrato”, como uma forma de garantir contratualmente<br />
a disponibilidade do serviço e performance junto ao seu fornecedor de<br />
telecomunicações.<br />
Quando as dependências entre uma meta e suas submetas são construídas<br />
para estarem completas, como é o caso da meta “Desenvolvimento do Mural” e<br />
as submetas “Tempo Treinamento”, “Satisfação Cliente”, “Interface Gráfica” e<br />
“Via Web”, o cumprimento de todas as submetas garantirá o cumprimento da<br />
meta. Contudo, se a construção da meta estiver incompleta, como é o caso da<br />
meta “Satisfação do Cliente”, o cumprimento de todas as suas submetas, “Disponibilidade”<br />
e “Performance”, não garantirá cumprimento da meta superior.<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
Figura 4 - Modelo de Meta do Sistema de Controle Acadêmico.<br />
5.3. Processos de Negócio<br />
O foco da visão do processo negócio é finalizar a visão e as metas esboçadas<br />
na declaração de visão e modelo de meta.<br />
Na Figura 5 pode-se visualizar o modelo de processo de negócio do SCA,<br />
com seus recursos, processos e metas. A seta de dependência estereotipada<br />
com o estereótipo indica que o processo “Publicar Mural” possui<br />
uma meta alocada ao seu processo: a classe estereotipada “Comunicação”, que<br />
utiliza o estereótipo . O mesmo ocorrendo entre a classe “Treinamento”<br />
e a classe “Lucro”, a seta de dependência estereotipada com o estereótipo<br />
. O processo “Treinamento” controla a camada “Publicar Mural”. Os<br />
estereótipos , e , nas classes “Material Didático”,<br />
“Professor”, “Hardware” e “Sala”, indicam tipos de recursos consumidos<br />
na realização do processo “Treinamento”, gerando o recurso “Certificados”.<br />
O processo do SCA apresentado na Figura 5 foi modelado aplicando-se os<br />
padrões de processo de controle de camada e processo de provisão de camada.<br />
O padrão processo de controle de camada ajuda a estruturar um negócio<br />
complexo, com a finalidade de reengenharia ou entendê-lo. Seu princípio fundamental<br />
é que todos os negócios podem ser divididos em camadas de processos,<br />
onde cada camada controla a camada abaixo.<br />
O padrão de processo de provisão de camada organiza a estrutura de organizações<br />
complexas e apóia o processo empresarial, dividindo a organização<br />
abaixo e, posteriormente, apoiando os processos, permitindo entender melhor a<br />
organização inteira e prover uma fundação estável para esforços futuros de<br />
reengenharia.<br />
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Figura 5 - Modelo de Processo do Sistema de Controle Acadêmico.<br />
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5.4. Recursos e Organização<br />
São modelados recursos e organização na visão de estrutura de negócios. O<br />
modelo de organização mostra a estrutura dos recursos humanos e os modelos<br />
dos recursos apresentam a estrutura e o comportamento de outros recursos,<br />
como produtos, documentos e máquinas.<br />
5.4.1. Modelo de Recursos<br />
Na Figura 6 é apresentado o diagrama de classe onde é aplicada a estrutura<br />
do padrão localização geográfica - “Padrões de Recursos e Regras”, que previne<br />
a modelagem de endereços ou locais que usam formatos que podem ficar obsoletos<br />
em um curto período de tempo, onde “Informação” é a classe que descreve<br />
a entidade com um local. A classe “Localização Geográfica” é a posição geográfica<br />
da informação. A posição geográfica se refere ao endereço da Internet onde a<br />
informação está armazenada e é construído com hierarquias, neste caso<br />
diretórios, subdiretórios e pastas. A classe “Local” é um conceito lógico, um<br />
local geográfico ou conceito físico. Um local é uma delimitação, neste caso uma<br />
página Web. A classe “Localização” representa uma posição sem igual dentro de<br />
um local. Cada informação pode estar sujeita a uma ou mais localizações em<br />
um local. Dentro de um Web site um local pode especificar, por exemplo, a<br />
primeira página ou certo canto superior da página.<br />
Figura 6 - Estrutura da localização geográfica da informação<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
5.4.2. Modelo Organizacional<br />
A estrutura organizacional é importante para se entender, não apenas como<br />
o propósito de reestruturação da organização, mas também para esclarecer as<br />
responsabilidades de cada unidade organizacional.<br />
Figura 7 - Diagrama de classes do quadro organizacional do Centro de Qualificação<br />
A seção 5.4.3. mostra como as unidades organizacionais interagem entre si<br />
e como as responsabilidades entre elas podem ser estabelecidas.<br />
5.4.3. Análise de Interação<br />
A visão de comportamento do negócio usa a análise de interação para alocar<br />
responsabilidades às unidades organizacionais e ao processo empresarial que<br />
cruza com eles. Os diagramas de seqüência são usados para apresentar a<br />
interação entre as unidades organizacionais do Centro de Qualificação. Uma<br />
interação é uma sucessão ou um tema que começam com um evento empresarial,<br />
como uma pergunta ou uma ordem, e termina com um resultado.<br />
A Figura 8 apresenta o diagrama de seqüência da interação das unidades<br />
organizacionais do Centro de Qualificação, no qual o departamento de marketing<br />
realiza a divulgação de um curso aos clientes. O departamento de vendas efetua<br />
o contato com os prováveis alunos, enviando uma proposta ao cliente. Havendo<br />
interesse por parte do cliente, o mesmo efetua a pesquisa da carga horária,<br />
conteúdo programático e data de realização dos cursos. Havendo possibilidade<br />
de negociação o departamento de vendas efetua uma oferta, oferecendo melhores<br />
condições de pagamento e prazos. O cliente analisa a oferta e, após a negociação,<br />
efetua a reserva e aguarda o fechamento da turma. Assim que a turma é<br />
fechada, o cliente é informado e efetua a matrícula e o pagamento, o qual é<br />
repassado ao departamento financeiro, que por sua vez confirma a compensação<br />
financeira e informa ao departamento de vendas, que emite o recibo e entrega-o<br />
ao cliente. O departamento de vendas informa ao departamento administrativo<br />
os nomes dos alunos que realizarão o curso, que por sua vez elabora a<br />
pauta encaminhando a mesma para o departamento de treinamento, que através<br />
do plano de treinamento realizará o curso. Finalizado o curso, o departamento<br />
de treinamento informa ao departamento administrativo os nomes dos<br />
alunos, para elaboração do certificado que será entregue ao cliente. A Figura 8<br />
é baseada no padrão Workflow de ação, que é um padrão útil para modelagem<br />
de interações, pois demonstra claramente como elas ocorrem.<br />
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Figura 8 - Diagrama de Seqüência da Interação das Unidades Organizacionais,<br />
Baseado no padrão Workflow de Ação<br />
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6.Conclusões<br />
Com o tempo, a dinâmica e a complexidade crescente das necessidades dos<br />
negócios, os hábitos de trabalho evoluem e novas soluções são descobertas para<br />
se fazer o trabalho mais rápido ou com mais segurança e qualidade. O mesmo<br />
ocorre com a modelagem da arquitetura de negócios, que vem se adaptando e se<br />
renovando para sempre disponibilizar as melhores soluções, contribuir, difundir<br />
e generalizá-las a toda comunidade.<br />
Para tirar proveito mais rapidamente das oportunidades de negócios e se<br />
adaptar às exigências do mercado, uma organização pode fazer uso da reutilização<br />
de soluções, através da aplicação dos padrões, como foi apresentado neste projeto.<br />
Conceitos como padrões de negócios estão sendo estudados e aprimorados<br />
a cada dia, para que possam ser aplicados em diversos domínios.<br />
Embora a maioria destes padrões sejam utilizados há mais de 20 anos no<br />
processo de modelagem de negócios [6], conforme Christopher Alexander afirma:<br />
“...cada padrão descreve um problema no nosso ambiente e o núcleo da sua<br />
solução, de tal forma que você possa usar esta solução mais de um milhão de<br />
vezes, sem nunca fazê-lo da mesma maneira” [2].<br />
A existência de um catálogo de padrões de negócio, facilita e agiliza a sua<br />
aplicação, reduzindo o esforço e otimizando o processo de modelagem da arquitetura<br />
de negócios.<br />
Constata-se que padrões são um ponto de partida onde se deve procurar<br />
soluções para seus problemas. Não são um ponto de destino, ou seja, não se<br />
deve desenvolver aplicativos pensando em criar padrões, eles vêm em conseqüência<br />
de sua experiência.<br />
Tendo uma melhor compreensão da estrutura, recursos, processos, metas<br />
e regras de uma organização, fica mais fácil levantar os requisitos do sistema a<br />
ser desenvolvido; uma linguagem comum sobre o negócio é estabelecida de forma<br />
bem mais efetiva, bem como os problemas de interpretação de requisitos<br />
tornam-se bastante reduzidos.<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
Foi possível averiguar a aderência e adaptação da aplicação de padrões de<br />
arquiteturas de negócios, utilizando também os mecanismos de extensibilidade<br />
estabelecidos pela UML através das extensões de negócios de Erickson - Penker,<br />
dentro de um contexto específico, como o SCA, comprovando que os mesmos<br />
podem ser reutilizados repetidamente e podem ser combinados e adaptados de<br />
várias formas e em situações diferentes, independendo do escopo.<br />
As técnicas de modelagem de negócio ainda estão em evolução. A técnica de<br />
Penker e seus estereótipos apresentam um modelo com mais riqueza de informações<br />
sendo adequada a projetos de alta complexidade.<br />
Conclui-se que as organizações aplicam de forma empírica o uso de padrões<br />
em suas atividades diárias, que vão desde um simples contrato de trabalho<br />
até uma complexa representação de estruturas de dados de produto; porém<br />
desconhecem a sua origem, o seu conceito, a sua estrutura e até mesmo a sua<br />
correta aplicação. Através de um estudo aprofundado de padrões de negócios, a<br />
sua utilização poderia ser aprimorada e os benefícios seriam plenos.<br />
Em um projeto elaborado sistematicamente, com base nas técnicas apresentadas,<br />
percebe-se claramente o desacoplamento das regras de negócios, das<br />
complexidades arquiteturais e tecnológicas, facilitando a evolução e a manutenção,<br />
ou seja, o que Jacobson define como arquitetura robusta [8].<br />
Como trabalhos futuros, este grupo pretende explorar a aplicação e adaptação<br />
de novos padrões na utilização e desenvolvimento de aplicativos para a<br />
Internet. A crescente utilização da Internet faz com que as aplicações Web aumentem<br />
na mesma proporção, ficando cada dia mais complexas e difíceis de se<br />
administrar.<br />
REFERÊNCIAS<br />
Agile Alliance. http://www.agilealiance.org/home. Data do último acesso em:<br />
08/11/2003.<br />
103<br />
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1977.<br />
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1999.<br />
BECK, Kent; FOWLER, Martin. Planning extreme programming. Grã<br />
Bretanha:Addison-Wesley, 2000.<br />
BOOCH, Grady; RUMBAUGH, James; JACOBSON, Ivair. Unified modeling<br />
language user guide. Massachusetts: Addison Wesley, 1999.<br />
ERIKSSON, Hans-Erik; PENKER, Magnus. Business modeling with UML: business<br />
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GAMMA, Erich; HELM, Richard; JOHNSON, Ralph; VLISSIDES, John. Design<br />
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Wesley, 1994.<br />
JACOBSON, Ivar; BOOCH, Grady.; RUMBAUGH, James. The unified software<br />
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JEFFRIES, Ron; ANDERSON, Ann; HENDRICKSON, Chet. Extreme programming<br />
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KRUCHTEN, Philippe. The rational unified process - introduction second edition.<br />
USA: Series Editors, 2000.<br />
LARMAN, C. Applying UML and patterns: an introduction to object-oriented analysis<br />
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MENDES, Antonio. Arquitetura de software: desenvolvimento voltado para a arquitetura.<br />
Rio de Janeiro: Campus, 2002.<br />
MURRAY, R. Cantor. Object-oriented project management with UML. Nohn Wiley<br />
& Sons, Inc., 1998.<br />
RAMBAUGH, James; JACOBSON, Ivar; BOOCH, Grady. Unified modeling<br />
language reference manual. Massachussetts: Addison Wesley, 1999.<br />
Spice (Software Process Improvement and Capability Determination). http://<br />
www.isospice.com. Data do último acesso: 08/11/2003.<br />
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EVOLUÇÃO DE FIRMAS EM LONDRINA<br />
* Maria Eduvirge Marandola<br />
RESUMO<br />
A presente pesquisa analisa a evolução de firmas e empregos em Londrina,<br />
no período de dezembro de 1997 a dezembro de 2002, em termos de ramo de<br />
atividade, porte e impacto na oferta de emprego. Os resultados mostram que<br />
uma razoável quantidade de firmas é criada e fechada a cada ano, com taxas de<br />
natalidade e mortalidade maiores para as empresas de menor porte. As firmas<br />
micro representam 92,46% do total e, no período em estudo, foram responsáveis<br />
pelo aumento de 1.757 estabelecimentos com um impacto de 7.022 novos<br />
postos de trabalho. O crescimento médio total dos estabelecimentos e empregos<br />
foi de 4,29% e de 3,73%, respectivamente. Dentre os ramos de atividade, os que<br />
mais contribuiram para o aumento do número de firmas foram os de transporte,<br />
armazenagem e comunicação. O maior aumento de postos de trabalho foi constatado<br />
em atividades imobiliárias, aluguéis e serviços. Houve redução de firmas<br />
na construção civil, administração pública, defesa e seguridade. Ocorreu impacto<br />
negativo na oferta de emprego, na produção e distribuição de eletricidade,<br />
gás e água. Conclui-se que políticas públicas que reduzam a mortalidade naquelas<br />
unidades de menor porte podem ser favoráveis à criação e manutenção<br />
de empregos.<br />
Palavras-chave: Firmas; Desemprego; Criação de Empregos.<br />
ABSTRACT<br />
This work analyzes the development of companies in Londrina in the<br />
period from December 1997 to December 2002 in terms of business lines, size<br />
and impact on employment rate. The results show that a considerable amount<br />
of companies are opened and closed each year and the largest birth and death<br />
rate was present among the small-sized ones. Micro companies represent a total<br />
of 92.46% and in the period investigated they represented an increase of 1.757<br />
firms, which resulted in the creation of 7.022 new job posts. The average rises in<br />
firms and jobs were of 4.29% and 3.73% respectively. Among the lines of business,<br />
the one which most contributed to the creation of new firms was transport,<br />
storage and communication. The highest increase in job openings was computed<br />
in the field real state business, rentals and services. There was a reduction of<br />
companies in building engineering, public administration, defense and security,<br />
and also a negative impact on job offers in the areas of production and distribution<br />
of electricity, gas and water. In conclusion, public policies that decrease death<br />
rate in small-sized companies can be favorable to the creation and maintenance<br />
of jobs.<br />
105<br />
Key-words: Companies; Unemployment; Job Creation.<br />
* Docente do Centro Universitário Filadélfia (<strong>UniFil</strong>).<br />
Mestre em Teoria Econômica pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). A autora agradece às estagiárias<br />
Adriana Lopes Nogueira e Viviane Cristina Costa pela valiosa colaboração na coleta de dados.<br />
E-mail: mariaeduvirge@aol.com<br />
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1. INTRODUÇÃO<br />
O interesse pela criação e fechamento das firmas 1 , em uma análise comparativa<br />
aos seus tamanhos, tem aumentado diante das evidências da importância<br />
econômica das unidades de menor porte 2 . As micro e pequenas empresas<br />
representam a maioria dos estabelecimentos no Brasil e também em outros<br />
países, e são substancialmente responsáveis pela geração de empregos. NAJBERG<br />
e PUGA (2001, p.01) afirmam que tais firmas têm um papel relevante no processo<br />
de renovação da economia, pois “...entre os 2,1 milhões de estabelecimentos<br />
brasileiros empregadores existentes em dezembro de 1999, cerca de 48% (1,1<br />
milhão), não existiam em 1995”.<br />
A criação de firmas, além de contribuir com a geração de novos empregos e<br />
de oportunidades para a mobilidade social, contribui também para o aumento<br />
da competitividade e da eficiência econômica. Porém, no caso das unidades de<br />
menor porte, na óptica tradicional, impõem-se custos excessivos para a economia<br />
como resultado de escalas de produção ineficientes, que implicam em<br />
baixa produtividade e baixos salários para os trabalhadores. Em outra perspectiva,<br />
as pequenas firmas que nascem, podem ser vistas como agentes de mudança,<br />
à medida que representam um processo de inovação tecnológica. Além<br />
disso, é através desses estabelecimentos que milhões de trabalhadores conseguem<br />
chegar ao mercado de trabalho (NAJBERG, PUGA e OLIVEIRA, 2000).<br />
Na presente pesquisa, busca-se fazer a análise das firmas como agentes de<br />
mudança e, portanto, faz-se necessário tecer algumas considerações acerca do<br />
referencial teórico utilizado. SCHUMPETER (1985, p.49) publicou, em 1912, a<br />
Teoria do Desenvolvimento Econômico, que possibilitou um novo entendimento<br />
da dinâmica econômica ao colocar no seu centro, as inovações tecnológicas.<br />
Estas inovações tecnológicas podem ser entendidas como novas combinações:<br />
“Introdução de um novo bem (...) ou de uma nova qualidade de um bem; Introdução<br />
de um novo método de produção (...) ou em nova maneira de manejar<br />
comercialmente uma mercadoria; Abertura de um novo mercado; Conquista de<br />
uma nova fonte de oferta de matérias-primas ou de bens semimanufaturados;<br />
Estabelecimento de uma nova organização de qualquer indústria, como a criação<br />
de uma posição de monopólio (...) ou a fragmentação de uma posição de<br />
monopólio”. O responsável pelas novas combinações é o empresário inovador,<br />
que através das inovações consegue auferir lucros extraordinários e, conseqüentemente,<br />
colocar-se em vantagem. O empresário inovador é aquele que<br />
imprime uma essência pessoal à sua iniciativa, traduzida pela internalização de<br />
idéias inovadoras no processo de produção.<br />
Os aprofundamentos na Teoria Schumpeteriana deram origem aos Neo-<br />
Shumpeterianos, que geraram novas alternativas para o tratamento da inovação<br />
e do progresso técnico. Essas análises se processam no campo microdinâmico<br />
e macrodinâmico.<br />
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1 Unidade técnica que produz bens e serviços ( PASSOS e NOGAMI, 1998).<br />
2 No Brasil, foram encetadas poucas pesquisas acerca desse assunto. Porém, em países desenvolvidos elas<br />
são realizadas com freqüência.<br />
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Na perspectiva microdinâmica, o processo de mudança tecnológica foi objeto<br />
de estudo por parte de autores Neo-Schumpeterianos, denominados<br />
evolucionistas; há, nesse sentido, os trabalhos de NELSON E WINTER (1982)<br />
apud POSSAS (1989) e KUPFER (1996), que se inspiraram no mecanismo de<br />
evolução das espécies, (via mutações genéticas) e no processo de seleção<br />
ambiental (comportamentos). Ou seja, as firmas atuam no mercado em uma<br />
luta pela sobrevivência análoga à concorrência biológica, cujas atitudes são definidas<br />
através da capacidade de melhorar a rentabilidade. O processo de evolução<br />
seria desenvolvido, em cada firma, de acordo com a sua capacidade para<br />
enfrentar as adversidades do meio ambiente. A conduta de cada firma configuraria<br />
a sua rotina, ou gene. As rotinas podem ser entendidas como um conjunto<br />
de técnicas ou processos organizacionais que caracterizam o modo como as<br />
mercadorias e serviços são produzidos. Em cada empresa, a capacidade de crescimento<br />
se daria de acordo com o tipo de gene dominante e, a partir daí, se<br />
configurariam as possibilidades da mesma para a adaptação às novas circunstâncias<br />
e produção das mutações necessárias. Portanto, as rotinas acumuladas<br />
por uma firma e seus recursos humanos seriam a sua “herança genética” - a<br />
experiência passada - baseada no aprendizado e na competência, bem como nas<br />
soluções encontradas pelos indivíduos e pela firma, que “escreve” a sua história<br />
e acumula novas rotinas, amealhando mais capacitação para enfrentar fatores<br />
adversos.<br />
Os tais fatores adversos podem ser enfrentados através de estratégias<br />
tecnológicas, que conforme FREEMAN (1982) apud CAMARA (1993) e SHIKIDA<br />
e BACHA (1998), são classificadas em: ofensiva, defensiva, imitativa, dependente,<br />
oportunista e tradicional. Dependendo do tipo de estratégia tecnológica adotada,<br />
algumas firmas obterão maior proveito das oportunidades técnicas do que<br />
outras. Dessa forma, evidencia-se que a concorrência schumpeteriana tende a<br />
produzir vencedores e perdedores.<br />
Muito embora o ambiente em que as firmas adotam suas estratégias e tomam<br />
as suas decisões seja de incerteza, existem dois tipos de balizamentos<br />
estruturais: os paradigmas e as trajetórias tecnológicas 3 e um conjunto de<br />
instituições. Esse conjunto pode ser dividido em macro-instituições e microinstituições<br />
4 .<br />
BAPTISTA (1997) ressalta que, além dos balizamentos estruturais, a herança<br />
genética da firma, onde se entende os já discutidos genes na acepção de<br />
Nelson e Winter, também são elementos fundamentais ao revelar, de forma única,<br />
a competência nuclear de cada firma, que se traduz pelo seu potencial de<br />
explorar situações e gerar novas oportunidades, bem como de empreender um<br />
processo contínuo de aprendizado. As competências nucleares da firma estão<br />
resumidas no Quadro 1. As dimensões das capacitações das competências são<br />
divididas em: organizacionais e econômicas, e técnicas.<br />
As competências nucleares organizacionais e econômicas podem ser descritas<br />
como: Decisão alocativa, a decisão do que produzir e a que preço; Decisão<br />
transacional, quando produzir, isoladamente ou em parceria; Competência<br />
administrativa, como conceber as estruturas organizacionais e as políticas capazes<br />
de propiciar um desempenho eficiente. Por outro lado, as capacitações<br />
técnicas envolvem o projeto e desenvolvimento de novos produtos e processos,<br />
além da habilidade de operar as instalações produtivas eficientemente.<br />
3 Pacote de procedimentos que orientam a investigação sobre um problema tecnológico, definindo o contexto,<br />
os objetivos a serem alcançados, os recursos a serem utilizados; enfim, um padrão de solução de problemas<br />
técnico-econômicos selecionados (KUPFER, 1996).<br />
4 Macro-instituições: conjunto de agências públicas, seus padrões de interação com os organismos públicos<br />
que, de forma mais geral, definem os direitos de propriedade. Micro-instituições são todas as formas<br />
institucionalizadas de interação entre agentes, não mediadas diretamente pelo mercado, que se verificam<br />
no âmbito privado, (BAPTISTA, 1997).<br />
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A dimensão organizacional e econômica envolve um componente tácito<br />
extremamente relevante, apresentando uma especificidade de difícil imitação. O<br />
técnico/produtivo se constitui em um elemento parcial da capacitação da firma,<br />
à medida em que se subordina ao organizacional e econômico. Dessa forma,<br />
cabe salientar a importância que assumem essas competências, pois são fundamentais<br />
na tomada de decisão, ou seja, quando se traça um curso de ação na<br />
unidade produtora. Em um ambiente composto por experiências passadas e<br />
novas atitudes presentes, o aprendizado pode se constituir em um fator estratégico<br />
e crucial para o desempenho da firma a longo prazo, na medida em que<br />
propicia a geração e o aperfeiçoamento das capacitações individuais.<br />
QUADRO 1 - Competências Nucleares da Firma.<br />
DIMENSÕES DAS CAPACITAÇÕES<br />
TIPOS DE COMPETÊNCIAS<br />
ORGANIZACIONAIS E ECONÔMICAS<br />
TÉCNICAS<br />
• ALOATIVAS<br />
• TRANSACIONAIS<br />
• ADMINISTRATIVAS<br />
• DESENVOLVIMENTO/PROJETO<br />
(PRODUTO/PROCESSO)<br />
• EFICIÊNCIA PRODUTIVA<br />
• APRRENDIZADO<br />
Fonte: BAPTISTA, 1997, p. 1247<br />
108<br />
De fato, pesquisas realizadas pelo SEBRAE apontam que há fatores endógenos<br />
e exógenos determinantes do sucesso de uma empresa. Essas pesquisas indicam<br />
que a mortalidade está condicionada a quatro fatores, sem hierarquia, que na<br />
medida em que se somam, elevam as chances do negócio ser mal sucedido. São<br />
eles: a) Deficiência no planejamento prévio (não efetuaram um plano de negócios<br />
com identificação de estudo de demanda, aspectos legais, fornecedores, dentre<br />
outros); b) Gestão da empresa (falta de controle do fluxo de caixa, aperfeiçoamento<br />
de produtos/serviços, falta de dedicação exclusiva do proprietário, principalmente<br />
no primeiro ano de atividade da empresa); c) Fatores extra-econômicos<br />
(problemas pessoais, tais como desentendimento entre os sócios, acidentes pessoais,<br />
gravidez, doença, violência, etc.) Estes fatores atingem mais as micro e<br />
pequenas empresas, onde a figura do dono se confunde com a da empresa; d)<br />
Aspectos conjunturais (a adoção de determinadas políticas macroeconômicas como,<br />
por exemplo, a elevação da taxa de juros, variações no câmbio e políticas comerciais).<br />
Notadamente essas políticas resultam em retração no mercado consumidor,<br />
acirramento da concorrência e pressão de custos. Também há os<br />
condicionantes externos, tais como crise em outros países, como as crises asiática,<br />
russa, do petróleo, etc. (SEBRAE, 1999a; 1999b; 2003).<br />
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2. METODOLOGIA<br />
Os dados utilizados nesta pesquisa foram obtidos a partir da Relação Anual<br />
de Informações Sociais (RAIS), um questionário respondido pelas empresas<br />
do mercado formal. Esse instrumento fornece informações sobre o número de<br />
trabalhadores e a composição do emprego, em 31 de dezembro, de cada estabelecimento.<br />
5 Não foi incorporada a RAIS negativa, ou seja, firmas sem vínculos<br />
empregatícios, devido ao fato delas apresentarem um padrão de abertura e fechamento<br />
diferenciado daquele das empresas com trabalhadores remunerados.<br />
O ramo de atividade foi selecionado segundo a classificação do Cadastro<br />
Nacional de Empresas (CNAE – 95), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística<br />
(IBGE), em um total de 17 categorias, da seguinte forma: 1) Agricultura,<br />
Pecuária, Silvicultura e Exploração Florestal; 2) Pesca; 3) Indústrias Extrativas;<br />
4) Indústrias de Transformação; 5) Produção e Distribuição de Eletricidade,<br />
Gás e Água; 6) Construção; 7) Comércio Atacadista e Varejista; 8) Alojamento e<br />
Alimentação; 9) Transporte, Armazenagem e Comunicações; 10) Intermediação<br />
Financeira; 11) Atividades Imobiliárias, Aluguéis e Serviços: 12) Administração<br />
Pública, Defesa e Seguridade; 13) Ensino; 14) Saúde e Serviços Sociais; 15)<br />
Outras Atividades de Serviços Coletivos, Sociais e Pessoais; 16) Residências<br />
Particulares com Empregados e Organismos Internacionais e Instituições<br />
Extraterritoriais. Foram excluídas as seguintes categorias: Agricultura, Pecuária,<br />
Silvicultura, Exploração Florestal, Pesca, Serviços Domésticos, Organismos<br />
Internacionais e Outras Instituições Extraterritoriais.<br />
Foram analisadas informações de 1997 a 2002 do Município de Londrina,<br />
conforme a classificação por porte de estabelecimento, com base no número de<br />
trabalhadores formais e empregados, de acordo com NAJBERG e PUGA (2001):<br />
até 19 (micro), 20 a 99 (pequeno), 100 a 499 (médio) e mais de 500 (grande).<br />
Muito embora a RAIS tenha uma ampla cobertura, torna-se importante salientar<br />
suas limitações, tais como: omissões de declaração de estabelecimentos,<br />
erros no preenchimento do formulário, e declarações agregadas na matriz; o<br />
procedimento correto seria o fornecimento dessas informações pelo próprio estabelecimento.<br />
6<br />
Apesar de todo o cuidado no tratamento das informações, pode ocorrer algum<br />
viés oriundo de dados que não foram passíveis de mapeamento para exclusão,<br />
como, por exemplo, as empresas públicas, que devido à sua própria natureza<br />
apresentam dinâmicas diferentes para abertura e fechamento.<br />
109<br />
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />
3.1. Evolução de Firmas<br />
A Tabela 1 apresenta a evolução e variação líquida de firmas em Londrina<br />
no período de 1997 a 2002. A variação líquida corresponde ao número de firmas<br />
que foram abertas, subtraídas as que fecharam. A maioria dos estabelecimentos<br />
possui menos de 20 empregados (micro-estabelecimentos). Em dezembro de<br />
1997, tais unidades respondiam por 7.529 das 8.145 firmas existentes,<br />
correspondendo, portanto, a uma participação de 92,44%. Esse resultado, se<br />
comparado com os de outras pesquisas do gênero não surpreende, pois conforme<br />
apontado por NAJBERG e PUGA (2001), dos estabelecimentos existentes no<br />
Brasil em 1999, 92,8% eram micro.<br />
5 As bases de dados cobrem cerca de 95% do universo do mercado formal e foram obtidas através do site do<br />
MTE, www.mte.gov.br/sspe/rais<br />
6 Notas técnicas do arquivo, RAIS/MTE.<br />
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A variação líquida para o período de 1997 a 2002 foi de 1.898 estabelecimentos.<br />
Desse total, as micro foram responsáveis pelo saldo de 1.757, o que<br />
representa 92,57%. As firmas pequenas contribuíram com o acréscimo de 122<br />
unidades, o que corresponde à participação de 23,41%; seguido pelas “médio” e<br />
“grande”, com o acréscimo de 18 e 1 estabelecimentos, representando 23,08% e<br />
5,88%, respectivamente. Observa-se, nos anos de 98 e 99, variação líquida negativa<br />
para o número de estabelecimentos médios; Em 98, observa-se a mesma<br />
variação líquida negativa, conforme apontado na Tabela 1. Esse fato pode estar<br />
ligado à redução de porte através do processo de enxugamento ou terceirização<br />
de atividades. Fato semelhante foi observado na pesquisa realizada por NAJBERG<br />
e PUGA (2001). Esses autores apontam significativos movimentos de mudança<br />
de porte no que se refere à redução do tamanho das firmas, processos resultantes<br />
de demissão/desligamento. Apesar das variações negativas, apontadas em<br />
alguns anos, o total do número de firmas apresentou, ao final de 2002, resultado<br />
crescente, se comparado ao ano de 1997, para todos os portes.<br />
TABELA 1 – Evolução, variação líquida de firmas em Londrina, período 1997/2002.<br />
FIRMAS/PORTE<br />
MICRO<br />
(0-19)<br />
PEQUENO<br />
(20-99)<br />
MÉDIO<br />
(100-499)<br />
GRANDE<br />
(500+)<br />
TOTAL<br />
Número de firmas/97 7.529 521 78 17 8.145<br />
Variação Líquido 98 232 15 -5 -4 238<br />
Variação Percentual 3,08 2,88 -6,41 -23,53 2,92<br />
110<br />
Número de firmas/98 7.761 536 73 13 8.383<br />
Variação Líquida 99 405 16 -4 2 419<br />
Variação Percentual 5,22 2,99 -5,48 15,38 5,00<br />
Número de firmas/99 8.166 552 69 15 8.802<br />
Variação Líquida 00 542 34 15 0 591<br />
Variação Percentual 6,64 6,16 21,74 0 6,71<br />
Número de firmas/00 8.708 586 84 15 9393<br />
Variação Líquida 01 248 24 0 2 274<br />
Variação Percentual 2,85 4,09 0 13,33 2,92<br />
Número de firmas/01 8.956 610 84 17 9.667<br />
Variação Líquida 02 330 33 12 1 376<br />
Variação Percentual 3,68 5,41 14,29 5,88 3,89<br />
Número de firmas/02 9.286 643 96 18 10.043<br />
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Fonte: Dados Brutos – RAIS/MTE.<br />
* Corresponde ao número de firmas em dezembro/ano.<br />
Nota: O Número de firmas corresponde ao total existente em dezembro/ano.<br />
Variação líquida = Número de firmas em dez(ano-1) – Número de firmas<br />
no ano, o que corresponde a: natalidade – mortalidade.<br />
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O crescimento médio total no período dezembro de 1997 a dezembro 2002<br />
foi de 4,29%. Este resultado é significativo se comparado ao crescimento médio<br />
do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil para o mesmo período, que foi de 1,26%.<br />
O Gráfico 1 apresenta a taxa líquida de crescimento médio das firmas,<br />
para o Brasil e para a cidade de Londrina no período de 1998 a 2002. A taxa<br />
líquida de crescimento corresponde ao percentual de firmas criadas, subtraído<br />
o percentual de firmas que fecharam. As taxas de crescimento para esse município<br />
apresentam significativas oscilações em alguns momentos, superando a<br />
taxa de crescimento do Brasil. Em uma análise comparativa, observam-se comportamentos<br />
próximos para os portes micro, pequeno e grande, mas salta aos<br />
olhos as diferenças para o porte médio, que superou a taxa de crescimento<br />
apresentada pelo Brasil, em proporções significativas.<br />
GRÁFICO 1 – Taxa líquida média de crescimento dos estabelecimentos, de acordo<br />
com o porte, para o Brasil e para Londrina, no período de 1998 a 2002.<br />
111<br />
FONTE: Taxa líquida de crescimento para Londrina calculada a partir de<br />
Dados Brutos – RAIS/MTE. Taxa líquida de crescimento para o Brasil, nos<br />
anos de 1997 a 1999, dados re-elaborados pela autora, a partir de NAJBERG<br />
e PUGA (2001). Taxa líquida de crescimento de 2000 a 2002, médias dos<br />
anos anteriores.<br />
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3.2. Evolução do Emprego<br />
A Tabela 2 apresenta o parâmetro emprego de acordo com o porte e com a<br />
variação líquida, para o município de Londrina, no período de 1997 a 2002.<br />
Neste período, ocorreu aumento de 17.497 empregos, com um crescimento médio<br />
de 3,73%. A maior participação na geração desses empregos coube aos<br />
estabelecimentos classificados como micro, com o aumento 7.022 postos de<br />
trabalho, o que correspondeu a 40,13% do total. O emprego, nesses estabelecimentos,<br />
apresentou taxa média de crescimento de 4,19%, destacando-se o ano<br />
de 2000, cujo crescimento foi de 8,12%. Fazendo uma inferência entre esta taxa<br />
de crescimento com a evolução de estabelecimentos, naquele mesmo ano, observa-se<br />
que houve o acréscimo de 542 firmas, representando 6,64% 7 , conforme<br />
mostra a Tabela l. Os estabelecimentos pequenos e médios foram os responsáveis<br />
pelo acréscimo de 4.582 e 4.910 postos de trabalho, respectivamente.<br />
Estes números representaram participação de 26,19% e 28,06%, respectivamente.<br />
Porém, constatou-se oscilações negativas nos anos de 1999 e 2001, com<br />
perda de emprego, respectivamente (0,28%) e (1,65%), oriunda do fechamento<br />
de 4 empresas, conforme foi apontado na Tabela 1, e do enxugamento no quadro<br />
de pessoal em 200l. As firmas grandes apresentaram a menor participação,<br />
apenas 1,14%, totalizando apenas 983 novos empregos.<br />
TABELA 2 - Emprego por porte do estabelecimento e variação líquida,<br />
para o município de Londrina no período de 1997 a 2002.<br />
112<br />
EMPREGO/PORTE<br />
DA FIRM A<br />
MICRO<br />
(0-19)<br />
PEQUENO<br />
(20-99)<br />
MÉDIO<br />
(100-499)<br />
GRANDE<br />
(500+)<br />
TOTAL<br />
Emprego em/97* 30.938 20.421 14.866 21.847 88.072<br />
Variação líquida 98 1.004 706 528 -2.529 -291<br />
Variação percentual 3,24 3,46 3,55 -11,57 -0,33<br />
Emprego em/98 31.942 21.127 15.394 19.318 87.781<br />
Variação líquida 99 966 -18 -43 1.189 2.094<br />
Variação percentual 3,02 -0,08 -0,28 6,15 2,38<br />
Emprego em/99 32.908 21.109 15.351 20.507 89.875<br />
Variação líquida 00 2.671 1.827 2.879 -187 7.190<br />
Variação percentual 8,12 8,65 18,75 -0,91 8,00<br />
Emprego em/00 35.579 22.936 18.230 20.320 97.065<br />
Variação líquida 01 1.114 797 -300 1.738 3.353<br />
Variação percentual 3,13 3,47 -1,65 8,55 3,45<br />
Emprego em/01 36.639 23.733 17.930 22.058 100.418<br />
Variação líquida 02 1.267 1.270 1.846 772 5.151<br />
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Variação percentual 3,45 5,35 10,29 3,50 5,13<br />
Emprego em/02 37.960 25.003 19.776 22.830 105.569<br />
Fonte: Dados Brutos – RAIS/MTE.<br />
*Número de indivíduos empregados em dezembro/ano.<br />
** Variação líquida = indivíduos empregados em dezembro(ano-1) + empregos<br />
que foram gerados – desemprego.<br />
7 O resultado é expressivo se comparado ao crescimento do PIB brasileiro no ano de 2000, que foi de 4,36%.<br />
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3.3. Firmas e Emprego por Ramo de Atividade<br />
A Tabela 3 apresenta a evolução das firmas e empregos por ramo de atividade<br />
para Londrina em 1997 e 2002. Em um confronto entre ramos de atividade,<br />
observa-se que a maior evolução em estabelecimentos foi constatada para o<br />
setor de transportes, armazenagem e comunicações, com aumento de 53,39%,<br />
seguido por ensino, saúde e serviços sociais, com 42,21% e 31,89% , respectivamente.<br />
O aumento do emprego mais expressivo foi constatado no ramo de atividades<br />
imobiliárias, aluguéis e serviços, com 44,40%. Na seqüência, observam-se<br />
os dados dos setores saúde e serviços sociais, com 37,16% e 28,69%,<br />
respectivamente. A perda de estabelecimentos foi mais significativa para administração<br />
pública, defesa e seguridade (com 57,89%), seguido por construção<br />
(14,19%). O impacto negativo no emprego mais significativo atingiu o ramo de<br />
produção e distribuição de eletricidade, gás e água (com 19,74%), seguido por<br />
outras atividades de serviços coletivos, sociais e pessoais, (com 10,48%). A análise<br />
comparativa, aos extremos, indica que enquanto o número de estabelecimentos<br />
em 2002 foi 23,30% maior que em 1997, o emprego aumentou em<br />
apenas 19,87%. Este fato reforça a tese de que nos últimos anos tem ocorrido<br />
um processo de enxugamento nas empresas.<br />
TABELA 3 – Evolução de firmas e emprego por ramo de atividade, Londrina,<br />
1997 e 2002.<br />
RAMO DE ATIVIDADE*<br />
FIRMAS<br />
EMPREGO<br />
1997 2002 ÃÃ'ÃÈ 1997 2002 'ÃÈ<br />
Indústrias extrativas 11 12 9.09 63 65 3.17<br />
Indústrias de transformação 954 1.135 18.97 16.295 20.909 28.31<br />
Produção e distribuição de<br />
eletricidade, gás e água<br />
4 1 -0.75 76 61 -19.74<br />
113<br />
Construção 465 399 -14.19 5.507 5.179 -5.96<br />
Comércio atacadista e varejista 3.111 4.026 29.41 18.404 23.684 28.69<br />
Alojamento e alimentação 377 446 18.30 3.081 3.829 24.27<br />
Transporte, armazenagem e<br />
comunicações<br />
251 385 53.39 6.252 7.872 25.91<br />
Intermediação financeira 139 166 19.42 2.311 2.267 -1.90<br />
FONTE: Dados Brutos - RAIS/MTE.<br />
* Ramo de atividade segundo a classificação do CNAE-95/IBGE (17 categorias).<br />
** Exclui Rais negativa, Agricultura, Pecuária, Silvicultura e Exploração<br />
Florestal, Pesca, Serviços Domésticos, Organismos Internacionais e Outras<br />
Instituições Extraterritoriais.<br />
O Gráfico 2 apresenta as taxas de crescimento das firmas, do emprego e PIB<br />
– Brasil, de 1998 a 2002. Constata-se a mesma tendência para as três variáveis<br />
observadas, mostrando que em momentos de conjuntura favorável a economia<br />
local apresentou desempenho semelhante ao nacional, porém com taxas de crescimento<br />
e emprego superiores ao PIB do Brasil. O emprego cresceu segundo<br />
taxas menores às do número de firmas até 1999. De 2000 a 2002 a taxa de<br />
crescimento do emprego superou a taxa de crescimento de firmas.<br />
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GRAFICO 2 – Taxas de crescimento das firmas, do emprego e PIB Brasil, 1998<br />
a 2002.<br />
Fonte: Dados Brutos, RAIS/MTE. FIEP/CIESP, 2004.<br />
114<br />
4. CONCLUSÕES<br />
A análise comparativa dos resultados revelou que há uma constante movimentação<br />
na economia de Londrina no que tange ao número de firmas que são<br />
criadas e fechadas, resultando em impactos significativos no emprego. No período<br />
em estudo, observou-se o aumento de 1.898 estabelecimentos e 17.497<br />
postos de trabalho. O crescimento médio total de estabelecimentos e postos de<br />
emprego foi de 4,29% e 3,73%, respectivamente. Este resultado superou o<br />
crescimento do PIB no mesmo período, que foi de 1,26%. Em uma análise<br />
segundo o porte, constatou-se que aqueles classificados como micro foram responsáveis<br />
pela maior dinâmica, tanto para o quesito estabelecimentos, como<br />
para a geração de empregos. Nesse porte, ocorreu um aumento de 1.757<br />
firmas, correspondendo a 92,57% do total, tendo gerado 7.022 novos postos de<br />
trabalho, representando 44,13% do total. Dentre os ramos de atividade, o que<br />
mais contribuiu para o aumento do número de firmas foi o de transporte, armazenagem<br />
e comunicação. O maior aumento de postos de trabalho foi constatado<br />
no ramo de atividades imobiliárias, aluguéis e serviços. Houve redução do número<br />
de firmas no ramo de construção civil e administração pública, defesa e<br />
seguridade. Ocorreu impacto negativo no emprego, no ramo de produção e<br />
distribuição de eletricidade, gás e água. Conclui-se, portanto, que políticas públicas<br />
que reduzam a mortalidade nas unidades de menor porte podem ser favoráveis<br />
à criação e manutenção do emprego.<br />
REFERÊNCIAS<br />
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www.canae.ibge.gov.br > Acesso em 18.09.2004.<br />
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_______. Estudo da mortalidade das empresas paulistas. Sebrae, dez. 1999b.<br />
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SCHUMPETER, J. A. Teoria do desenvolvimento econômico. São Paulo: Nova<br />
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Fundo, v.5, n.10, p.107-126, maio, 1988.<br />
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GESTÃO DE CUSTOS: O OBZ - ORÇAMENTO BASE ZERO E A<br />
GESTÃO DO CONHECIMENTO COMO VERTENTES DO SUCESSO<br />
EMPRESARIAL<br />
*Alexandre Chirnev Pedotti<br />
**Andreia de Ávila Batista<br />
***Ilvili Andréa Werner<br />
RESUMO<br />
Este trabalho consiste na elaboração de um modelo de controle gerencial<br />
de custos e orçamento utilizando como base os conceitos do OBZ - Orçamento<br />
Base Zero, adaptado ao funcionamento das empresas brasileiras dos setores<br />
comerciais e atacadistas de pequeno e médio porte. Implantado em 4 empresas<br />
nas regiões norte e oeste do Paraná, priorizando recursos e a qualidade, descentralizando<br />
operações e decisões, esclarecendo processos e promovendo a mudança<br />
da cultura organizacional, envolvendo toda a empresa e refletindo no<br />
desenvolvimento dos funcionários, descobrindo novos talentos, aprimorando o<br />
trabalho em equipe, criando assim, um ambiente de aprendizagem coletiva e<br />
pensamento sistêmico, utilizando-os como ferramenta de gestão de negócios e<br />
de pessoas para o desenvolvimento de um ambiente de inovação, propício à<br />
criação de novos e/ou melhoria de seus produtos e serviços, seguindo os preceitos<br />
da gestão do conhecimento. Este projeto é um “instrumento vivo” de<br />
gerenciamento que se ajusta às novas tendências, proporciona ao administrador<br />
um controle rígido dos gastos operacionais. Uma ferramenta de controle<br />
estratégico extremamente flexível que realiza previsões de acontecimentos e prepara<br />
a empresa para resolvê-los.<br />
116<br />
Palavras-chave: OBZ, flexibilidade, Custos, Orçamento, Desenvolvimento.<br />
ABSTRACT<br />
This work consists of the elaboration of a management control model of<br />
expenses and budget, using as a base, the concepts of Zero Base Budget (ZBB),<br />
adapted to the Brazilian Companies operation in medium and small wholesale<br />
trade. Implanted in 4 companies in Northern and Western Paraná prioritizing<br />
resources and quality, decisions and operations decentralized, clearing processes<br />
and promoting an organizational culture change, involving the whole company<br />
and reflecting the functionaries developing, finding new talents, improving team<br />
work so creating a collective learning environment and systemic thoughts, using<br />
them as a business management tool and people for developing an environment<br />
of innovation proper for the creation of new and/or improvement of its products<br />
and services, following the precepts of the knowledge management. This project<br />
is a “living instrument” of the management that is adjusted to the new tendencies<br />
that affords to the manager a hard control of the operational expenses. A strategic<br />
control tool, extremely flexible that can predicts the events and prepares the<br />
company to solve them.<br />
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Key-words: Zero Base Budget, flexibility, Expenses, Budget, Developing.<br />
* Acadêmico do Curso de Pós-Graduação em Gestão Estratégica Empresarial do Centro Universitário Filadélfia<br />
– <strong>UniFil</strong>. - E-mail: alecpedotti@pop.com.br<br />
** Acadêmica do Curso de Administração do Centro Universitário Filadélfia – <strong>UniFil</strong>.<br />
E-mail: andreiaavila@hotmail.com<br />
*** Professora Orientadora, docente do Curso de Administração do Centro Universitário Filadélfia – <strong>UniFil</strong><br />
E-mail: prof.ilvili@gmail.com<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
1. INTRODUÇÃO<br />
A administração nunca sofreu tantas mudanças como nos dias atuais. As<br />
economias profundamente globalizadas, produtos e serviços cada vez mais<br />
comoditizados, consumidores muito mais exigentes e margens cada vez menores,<br />
forçam as empresas a se prepararem para um novo contexto organizacional<br />
e administrativo. Isso exige produtos e serviços inovadores, de alta qualidade e<br />
performance, alto grau de flexibilidade na gestão e tomada de decisões e redução<br />
de custos. Essas são as metas a serem alcançadas pelas empresas que<br />
buscam um lugar de destaque no atual cenário empresarial.<br />
Porém, para trilhar este caminho são necessárias novas técnicas de gestão,<br />
novos métodos de comunicação, tecnologias, estruturas renovadas e novos vínculos.<br />
Isso quer dizer que a tão sonhada vantagem competitiva auto-suficiente<br />
só será atingida através da inteligência empresarial, como e de que forma é<br />
utilizada esta sabedoria e com que rapidez se aprende algo novo.<br />
Essa é a base da empresa moderna, baseada na Gestão do Conhecimento,<br />
fruto das experiências organizacionais (vivência; raciocínio; observação; memórias),<br />
que tanto sua criação quanto mutação são provenientes das próprias pessoas<br />
que fazem parte da organização, obtida pela forma que as pessoas enxergam<br />
a empresa e a si próprias, levando a alcançar um pensamento sistêmico<br />
(ANGELONI, 2002, p. XVI).<br />
Para tal, o OBZ-b (Orçamento Base Zero) propõe uma nova abordagem na<br />
área da Gestão Orçamentária e Controle de Custos. Um modelo de trabalho<br />
pautado nas bases da gestão do conhecimento, visando acima de tudo à aprendizagem<br />
compartilhada e difusão de novos conhecimentos.<br />
Parte-se do princípio que, para o desenvolvimento de suas atividades:<br />
As empresas agrupam pessoas e utilizam tecnologias para<br />
alcançar seus objetivos. [...] Essa conduta é guiada pelas<br />
crenças, princípios, posturas, formas de agir, organizar,<br />
coordenar e controlar o trabalho [...], manifestando-se no<br />
desenho de grupos de ação, códigos de conduta e na criação<br />
de meios para se alcançar os objetivos, reproduzindo<br />
assim, a organização como entidade, criando dessa forma,<br />
a base para a disseminação do conhecimento (ANGELONI,<br />
2002, p.41).<br />
Na metodologia do OBZ (Orçamento Base Zero) é de suma importância à<br />
análise do ambiente organizacional, já que este tem grande influência no comportamento<br />
e nas ações dos membros das organizações, bem como as variáveis<br />
que a compõem, pois, somente analisando-as, poderá ser traçado o comportamento<br />
do indivíduo face suas atividades na organização, a realidade é interpretada<br />
segundo experiências dos indivíduos, conceitos e valores estabelecidos,<br />
que são incorporados no decorrer do processo de socialização que ocorre dentro<br />
e fora da empresa (Angeloni, 2002).<br />
117<br />
2. DESCRITIVO DO PROBLEMA<br />
As empresas vêm se empenhando cada vez mais na busca de soluções para<br />
os problemas financeiros, para isso procuram um modo de alocação e<br />
gerenciamento de recursos e pessoas.<br />
A maior parte das empresas dos setores comercial e atacadista tem problemas<br />
financeiros e operacionais, despesas inchadas, gastos desnecessários, vícios<br />
administrativos, re-trabalhos, falta de treinamento. Com isso acabam ficando<br />
impossibilitadas de fazer investimentos no mercado, ações de marketing. Os<br />
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118<br />
funcionários acabam ficando sem motivação pessoal e profissionalmente, é a<br />
chamada “escassez em meio à abundância”; uma solução para estes problemas<br />
seria a implantação de um controle de custos e o orçamento empresarial, proporcionando<br />
motivação e treinamento aos funcionários; visando analisar e padronizar<br />
as operações na busca de melhores práticas, redução e adequação das<br />
despesas; para isso é necessário quebrar alguns paradigmas, pois os empresários<br />
destes setores tendem, talvez por falta de informações, acreditar que a implantação<br />
de um orçamento empresarial “engessa” a empresa, apresentando-se<br />
resistentes às mudanças e a abertura de procedimentos administrativos. Outras<br />
vezes podem optar pela elaboração de um orçamento baseado nos dados do<br />
ano anterior; erram ao monitorar esses gastos e prever somente um percentual<br />
de aumento. Estes empresários devem entender que trabalhar desta forma só<br />
vem a manter os vícios administrativos, vindo a perder a funcionalidade e esconder<br />
a falta de agilidade para se adaptar às novas circunstâncias. Os Gastos<br />
são diminuídos, mas não eliminados. Outra problemática encontrada é a implantação<br />
de um orçamento que somente será analisado no final de cada período<br />
para verificação do desvio orçamentário, não realizando qualquer tipo de<br />
controle de metas e tendências, e a falta de planejamento para a introdução do<br />
orçamento.<br />
A princípio, a adoção da ferramenta OBZ desenvolvida nos EUA por volta<br />
dos anos 80 para controle administrativo e financeiro em indústrias e no governo,<br />
dificilmente poderia ser aplicada em empresas brasileiras. O problema concentra-se<br />
na cultura do empresariado brasileiro e no funcionamento das empresas<br />
brasileiras, diferente da realidade das empresas americanas; onde as despesas<br />
informadas a contabilidade estão corretas, e não existem vícios e problemas<br />
que são normalmente encontrados em empresas de pequeno e médio porte e de<br />
administração familiar. Teoricamente, essa ferramenta, só poderia ser aplicada<br />
com êxito em grandes empresas, devido a sua complexidade e a dificuldade de<br />
se adaptar a legislação e principalmente à cultura dos médios e pequenos empresários<br />
brasileiros; no entanto a implantação do OBZ (Orçamento Base Zero)<br />
como ferramenta gerencial estratégica traria para as empresas de pequenos e<br />
médios portes vários benefícios, proporcionando uma visão holística, e um alto<br />
conhecimento do funcionamento das empresas. Senge (2001, p. 40) apresenta<br />
em sua primeira disciplina, o “Pensamento Sistêmico”, que as ações e atitudes<br />
organizacionais só são compreendidas quando da visão sistêmica, ou seja, a<br />
partir do momento que se investiga e rastreia todas as ligações e interconexões<br />
decorrentes da ação ou efeitos decorrentes da mesma em questão.<br />
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3. IMPLANTAÇÃO DO ORÇAMENTO EMPRESARIAL<br />
A implantação de um projeto de controle de custos e orçamento cria um<br />
modelo de controle gerencial, onde os responsáveis pelos departamentos se comprometam<br />
com metas. É esta descentralização das responsabilidades, onde se<br />
procura disponibilizar mais tempo para que os gerentes possam se concentrar<br />
na tomada de decisões importantes.<br />
Faz-se um Diagnóstico para verificar o real estado financeiro e operacional<br />
da organização, a seguir estabelece-se um planejamento estratégico para a empresa,<br />
contendo Missão, Visão, Valores e um conjunto de estratégias para cada<br />
uma de suas perspectivas: mercado, finanças, processos e pessoas.<br />
O planejamento envolve toda a empresa desde os diretores, gerentes e<br />
supervisores até o pessoal do operacional na elaboração de um “Orçamento”;<br />
que prioriza os recursos existentes, segundo as estratégias traçadas na etapa<br />
anterior.<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
Peter M. Senge (2001, p.43) em sua quinta disciplina diz que: “Aprendizagem<br />
em equipe” reporta-se ao fato de que a expertise das equipes organizacionais<br />
devem transcender as individuais de seus membros. Senge refere-se ao fato de<br />
que as organizações só se desenvolvem quando suas equipes aprendem, gerando<br />
dessa forma, um ciclo auto-suficiente de conhecimento organizacional, que<br />
se configura como um dos principais fatores de sucesso das organizações modernas.<br />
Por isso é preciso iniciar os processos de reestruturação das áreas e executar<br />
todos os programas, todas as áreas devem ser reestruturadas em um período<br />
máximo de um ano, o ponto mais importante é a atitude de cada um diante<br />
do processo: comportamento, limites e equilíbrio, criatividade, prontidão, trabalho<br />
em equipe e quebra de paradigmas, entre outros.<br />
Existem vários pontos a serem analisados e várias etapas a serem compridas<br />
para a implantação de um controle de custos e de um orçamento: realizar<br />
diagnóstico da situação atual da empresa; definir regras para gastos e alocações<br />
de despesas – premissas; definição de um plano de contas correto; histórico de<br />
gastos corretos; definição de agrupamentos de contas e donos de agrupamentos<br />
de contas “pacotes de decisões” ; definição de um cronograma; planejamento<br />
estratégico anual; identificar e resolver pontos de conflitos, pessoas responsáveis<br />
por fazer, acompanhar, gerenciar e justificar os desvios das contas relacionados<br />
ao seu “pacote de contas”; delegação de tarefas, tempo gasto; disponibilidade<br />
e confiabilidade de informação; funcionários; redistribuição de tarefas;<br />
política de qualidade; posição da gerência e da diretoria.<br />
Após a reorganização dos gastos, é preciso que cada um deles tenha a sua<br />
necessidade questionada e justificada. É feito uma projeção do resultado anual<br />
da empresa, onde verificamos se as despesas estão de acordo com o planejamento<br />
de resultados da empresa, o “ corte orçamentário” é estimado a partir<br />
dessa análise; separadamente - por conta e por centro de custos, analisando em<br />
cada atividade a possibilidade de ser reduzida.<br />
119<br />
Figura 1: Mapa do estado do Paraná – região das empresas onde o projeto<br />
está implantado - Revendas da AMBEV - American Beverage company –<br />
(Brahma / Antarctica / Skol)<br />
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Empresa A – Comércio de Bebidas Paccola Ltda - Área de atuação : 52 municípios<br />
Região Norte do estado do Paraná – Cambe - Brasil<br />
Empresa B – Área de atuação : 57 municípios - Região Oeste do estado do<br />
Paraná – Umuarama - Brasil<br />
Empresa C – Comércio de Bebidas Tolemar Ltda - Área de atuação : 57 municípios<br />
Região Oeste do estado do Paraná – Toledo - Brasil.<br />
Empresa D – Comércio de Bebidas Tolemar Ltda - Área de atuação : 57 municípios<br />
– Filial de Umuarama -Paraná – Brasil.<br />
120<br />
Figura 2: Fluxograma das Etapas de implantação do projeto – Análises<br />
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4.1. Diagnóstico<br />
Fazer o diagnóstico da empresa e identificar e resolver os conflitos; treinar<br />
e preparar os funcionários para a implantação do controle de metas e<br />
orçamento.<br />
Analisar a estratégia da empresa: Missão, Visão, Valores; capacidades<br />
instaladas; planejamento estratégico, crescimento da empresa; desenvolvimento<br />
gerencial; treinamento de administradores; resistência a situações de<br />
mudanças.<br />
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4.2. Análises do planejamento<br />
Perspectivas: pessoas, processos, finanças, mercado e planejamento: todos<br />
os diretores, gerentes e supervisores e equipe operacional.<br />
4.2.1. Análise de funcionários e das funções<br />
Capacidade; conhecimento; substitutos; relações humanas; tempo gasto;<br />
confiabilidade; comportamento; polivalência e flexibilidade.<br />
Funções: Distribuição de tarefas; grau de dificuldade; recursos; tempo gasto;<br />
grau de necessidade.<br />
4.2.2. Processos<br />
Padronização das operações, implantação de novos sistemas, revisão de<br />
processos antigos, definição de premissas: regras para a alocação de despesas.<br />
4.2.3. Análises financeiras e de níveis de gastos, por conta contábil e<br />
por centro de custos<br />
Previsão de investimentos para atender o programa de vendas, recursos<br />
para os investimentos necessários; recursos próprios; capital dos acionistas;<br />
novos acionistas; financiamento de longo e médio prazo e justificativas; uma<br />
avaliação por setor; estudar o plano de contas e as despesas que estão sendo<br />
realizadas e verificar a real necessidade da existência de cada despesa e padronizar<br />
as operações.<br />
4.2.4. Análises de mercado<br />
Alavancagem das vendas; perspectivas de mercado, novos produtos, preços,<br />
publicidade, concorrência.<br />
121<br />
5. DIVISÕES ADOTADAS PARA DEFINIÇÃO DE PACOTES DO PLANO<br />
DE CONTAS<br />
As contas contábeis são agrupadas em “pacotes” de contas com funções<br />
parecidas; e estes pacotes são distribuídos aos funcionários, que passam a ser<br />
os “gerentes” destes pacotes, e todas as decisões relativas a estas contas passam<br />
diretamente por eles; a idéia é aproveitar ao máximo a capacidade do funcionário<br />
e engajá-lo no trabalho, buscando assim melhores resultados; A segunda<br />
disciplina de Peter M Senge (2001, p.41), “Domínio Pessoal” é apresentada<br />
como um dos alicerces desse sistema, propõe as pessoas e organizações que<br />
domínio pessoal é a disciplina de continuamente esclarecer e aprofundar nossa<br />
visão pessoal, de concentrar nossas energias, de desenvolver paciência e de ver<br />
a realidade objetivamente. O autor ainda reforça que somente dessa forma as<br />
organizações poderão aproveitar verdadeiramente o potencial de seus colaboradores<br />
e dessa forma, gerando um processo de auto-conhecimento e aprendizagem<br />
duradouro.<br />
§ Plano de Contas: O plano de contas é dividido em 4 grandes<br />
grupos formados por sub-grupos de menores de contas;<br />
§ Pessoal: Formado por 7 sub-grupos de contas que contém<br />
22 contas contábeis.<br />
§ Transportes: Formado por 10 sub-grupos de contas que<br />
contém 22 contas contábeis.<br />
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§ Despesas gerais: Formado por 8 sub-grupos de contas<br />
que contém 19 contas contábeis<br />
§ Instalações: Formado por 6 sub-grupos de contas<br />
contábeis que contém 18 contas contábeis.<br />
6. FATORES QUE INFLUENCIAM DIRETAMENTE NO PROCESSO<br />
6.1 Comportamento da Gerência<br />
Um dos fatores que mais podem contribuir para o fracasso de um projeto de<br />
controle de custos e orçamento é o comportamento dos gerentes e dos diretores<br />
da empresa. Peter M Senge trata deste assunto em sua terceira disciplina, “Modelos<br />
Mentais” trabalha com a idéia de que as ações e atitudes perante os episódios<br />
organizacionais são frutos da forma de como os membros da organização<br />
vêem e interpretam o mundo a sua volta. Senge trabalha com o modelo de “olharse<br />
para dentro”, analisando as imagens internas do mundo, trabalhando-as sob<br />
rigorosa análise pessoal e organizacional (SENGE, 2001 p. 42).<br />
É necessário que o gerente da empresa compreenda a importância do trabalho<br />
em grupo e da descentralização das operações, para que o potencial e o processo<br />
criativo dos funcionários possa ser aproveitado e desenvolvido ao máximo.<br />
122<br />
6.2. Planejamento de Vendas<br />
Se a estimativa de vendas for baixa, poderá influenciar diretamente na programação<br />
de outros itens que dependem diretamente da área de vendas. O mesmo<br />
ocorrerá principalmente nos itens diretamente ligados ao processo, onde as<br />
despesas são maiores. Será preciso analisar o crescimento das vendas em relação<br />
ao crescimento dos anos anteriores.<br />
6.3. Outros<br />
Máquinas, instalações, armazéns, estoques, programação de manutenção;<br />
adequação de mão de obra: contratações, demissões, remanejamentos, treinamentos,<br />
estímulos salariais, prêmios.<br />
7. DEFINIÇÕES<br />
7.1. Despesas Gerais<br />
São itens fixos, isto é, a empresa vai desembolsar o valor dos aluguéis independentemente<br />
do volume de vendas: Pessoal e encargos sociais, Aluguéis e<br />
despesas de locação (condomínios, impostos, etc.), Energia elétrica, Telefone,<br />
Informática, etc.<br />
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7.2. Despesas Financeiras<br />
Pode-se prever pelos contratos existentes de financiamento de capital de<br />
giro, nível médio de desconto de duplicatas no passado, e contratos de longo<br />
prazo. De forma mais complexa, pode-se estimar o fluxo de caixa mensal e calcular<br />
as necessidades de empréstimos caso a caso.<br />
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7.3. Despesas Estimadas pela Contabilidade da Empresa<br />
Estimadas pela contabilidade da empresa: (IPI, ICMS, ISS, PIS, COFINS) e<br />
os diretos, Imposto de Renda e Contribuição Social.<br />
Outros itens contábeis: depreciação do imobilizado (desgaste dos bens na<br />
produção).<br />
7.4. Análises Diversas<br />
Acompanhamento do previsto: as reuniões de desvios, ou seja, o acompanhamento<br />
do orçamento deve ser feito mensalmente pela diretoria; a reunião<br />
deve ser feita de preferência até o 5º (quinto) dia útil após o fechamento do<br />
período, e devem estar presentes alem da diretoria, os gerentes de área, os donos<br />
de agrupamentos de contas “pacotes”, o responsável pelo orçamento; o controle<br />
é feito em planilhas e separado por centros de custos, contas e agrupamentos<br />
de contas.<br />
8. PLANILHAS DE CONTROLE USADAS NO PROCESSO<br />
8.1. Planilhas de Regras para Gastos em Contas – Premissas<br />
As regras serão diferentes para cada conta em cada centro de custos.<br />
8.2. Planilhas de Orçamento<br />
Cada centro de custos possui sua planilha separada que ao final será consolidada<br />
em uma só planilha com todas as informações sobre todos os centros<br />
de custos; a planilha possui históricos dos anos anteriores, metas e memória de<br />
cálculo contendo: histórico de manutenção de veículos, programação de férias,<br />
previsão de trocas de pneus, óleo e lubrificantes, despesas com diárias e viagens,<br />
investimentos, manutenção de equipamentos de marketing, e outros; cada<br />
projeção em cada conta e em cada centro de custos é feita de maneira complexa<br />
e diferente. São levados em conta o planejamento de vendas, compras de produtos,<br />
condições do veículo, rota a ser seguida, limpeza, manutenção do prédio,<br />
gastos com segurança, etc.<br />
123<br />
8.3. Planilhas de caixa (mensal)<br />
Onde são lançadas as despesas por dia e consolidado ao final da planilha; a<br />
planilha possui também campos para lançamentos de débitos diretos em contas<br />
e bonificações de produtos; todas as contas possuem descritivos dos gastos que<br />
podem ser lançados.<br />
8.4. Planilhas de desvios (mensal)<br />
A planilha tem um “farol de justificativas de desvios“ que aponta todas as<br />
contas onde existem desvios, bem como a existência ou não de justificativas<br />
realizadas pelos “gerentes de conta“; gráficos comparativos separados por centro<br />
de custos com diferenças apuradas em reais e em percentuais %; e apura os<br />
desvios mensais, por contas, centro de custos, agrupamentos de contas, e tem o<br />
histórico dos anos anteriores, e apura o desvio meta x real em reais e em<br />
percentuais %; a planilha possui campos para as justificativas dos desvios (que<br />
devem ser preenchidas pelos donos de agrupamentos de contas antes da reunião<br />
mensal).<br />
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8.5. Planilha de Desvio Geral (anual)<br />
A planilha possui todos os dados necessários para facilitar o controle da<br />
gerência; gastos gerais (reais) dos anos anteriores consolidados; orçamento do<br />
ano separado por centro de custos e consolidado; histórico básico dos anos<br />
anteriores, metas versus real; histórico das diferenças apuradas (mensalmente);<br />
comparativo metas versus real separado semestralmente; gráfico dos desvios<br />
mensais em percentual; gráfico dos desvios mensais em valores; gastos reais<br />
separados por centro de custos, com o histórico de gastos reais do ano anterior<br />
do centro de custos; as planilhas apuram as diferenças entre o real e o planejado<br />
em reais e em percentual; comparativo anual de meta x real separado por<br />
centro de custos.<br />
124<br />
8.6. Planilha de Flash de fechamento de custos<br />
Essa planilha é de projeção de resultado, contém receita, PIS, COFINS,<br />
Bonificações, CMV (separados por produtos), receita Liquida, custo variável,<br />
custo fixo, margem de contribuição, Lucro operacional, investimentos, ponto de<br />
equilíbrio e lucro líquido - serve para que o gerente possa “simular o resultado<br />
do mês” adaptando os gastos as novas tendências de receita e CMV; que se<br />
alteram devido a fatores externos como variação climática, aumento de volume,<br />
modificando assim a projeção feita anteriormente quando as despesas foram<br />
planejadas. Auxilia a gerência a não ter surpresas desagradáveis no final do<br />
mês. A partir dessa análise são feitos “cortes” ou aprovações de despesas e<br />
novas despesas; exemplo: se a análise der um resultado ruim são cortadas algumas<br />
despesas e algumas contas e se o resultado for melhor do que o esperado<br />
na época em que projetamos as despesas, são autorizadas: reformas, compras<br />
de móveis, investimentos, etc.<br />
8.7. Planilha de DRE – Demonstrativo do Resultado do Exercício<br />
Essa planilha apura o resultado da empresa. Mensal e anual.<br />
9. Fatores de Máxima Importância<br />
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§ Bom senso: os participantes do processo devem ver a<br />
empresa como um “todo” e brigar pelo necessário para andamento<br />
de suas atividades.<br />
§ Flexibilidade: o controle de metas deve ser flexível, permitindo<br />
correções diversas; avaliação de desempenho: deve<br />
ser avaliado a participação de todos, inclusive da gerência;<br />
tendências mercadológicas: a tendência deve ser levada em<br />
conta e serve de parâmetro para apuração de resultados<br />
de melhorias propostas.<br />
§ Desvios: todos os desvios devem ser justificados; deve<br />
ser feito um plano de ação para os desvios; caso haja grandes<br />
desvios ou as regras básicas que fundamentam o orçamento<br />
tiverem sido profundamente alteradas por fatos externos<br />
(por exemplo, variação da taxa de dólar) ou internos<br />
(novas encomendas, questões técnicas, novos produtos),<br />
os controle são revistos; o acompanhamento de gastos e<br />
metas é um dos melhores termômetros para que possamos<br />
orientar mudanças de percurso ao longo do exercício.<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
§ Fontes de erros: distância entre o tempo de construção<br />
e implementação; resistência ao fluxo de informação; dificuldades<br />
técnicas; existência de processo inflacionário; falta<br />
de histórico de gastos; resistência a mudanças; centralização<br />
de decisões; gerência pouco flexível; falta de conhecimento<br />
do processo; diferenças pessoais; falta de preparo;<br />
falta de sistemas.<br />
§ Características e benefícios: busca-se obter melhores<br />
práticas, aperfeiçoamento da equipe, crescimento profissional<br />
e pessoal, busca constante de informações, disseminação<br />
destas informações, crescimento da capacidade<br />
criativa e do trabalho em equipe. Caracteriza-se por ser<br />
um processo contínuo, e tende a gerar uma nova cultura.<br />
Utiliza melhor os recursos existentes no cumprimento das<br />
metas. Gera simulações de resultados, antecipa as tendências<br />
e se prepara para resolvê-las da melhor forma<br />
possível.<br />
10. Resultados obtidos com a implantação do projeto<br />
Os gráficos a seguir apresentam as simulações do que teriam sido as despesas<br />
das empresas nos anos de 2002, 2003 e 2004; para fazer a simulação dos<br />
gastos das empresas foi utilizado como indexador o IPCA - Índice de preços ao<br />
consumidor amplo utilizado pelo banco central do Brasil para o acompanhamento<br />
dos objetivos estabelecidos no sistema de metas da inflação - Fonte: IBGE.<br />
E compara essa simulação com os resultados obtidos com a implantação do<br />
projeto.<br />
125<br />
Empresa A: redução no primeiro ano de implantação: -22,08%<br />
Figura 3: Empresa A – Comercio de Bebidas Paccola Ltda - Gastos projetados<br />
– Gastos reais e redução de gastos - volume de vendas - IPCA<br />
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Empresa B: redução no primeiro ano de implantação: -9,73%<br />
Figura 4: Empresa B – Umuarama - Gastos projetados Gastos reais e redução<br />
de gastos - volume de vendas - IPCA<br />
126<br />
A empresa B, tem uma gerencia muito centralizadora, nesta empresa o projeto<br />
não pôde ser implantando em sua totalidade, ficando alguns pontos básicos<br />
fora da implantação, como por exemplo:<br />
a) os pacotes não foram distribuídos aos funcionários que<br />
seriam os donos de pacotes; o gerente da empresa decidiu<br />
confeccionar o orçamento de todas as contas e de todos os<br />
centros de custos, sem a ajuda dos funcionários;<br />
b) os pacotes foram divididos entre: o gerente administrativo<br />
financeiro (gerente-sócio), o gerente comercial (gerente-sócio)<br />
e a encarregada do setor administrativo;<br />
c) não foram realizados os cortes orçamentários após a simulação<br />
do resultado do exercício;<br />
d) houveram despesas fora do programado e grandes<br />
distorções orçamentárias durante o ano, apesar do desvio<br />
anual ter fechado com um resultado de - 0,67%;<br />
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e) os funcionários não participaram diretamente do processo,<br />
o que dificultou a sua confecção e o seu controle<br />
após a implantação;<br />
O que reforça a visão de Senge (2001, p.43) em sua quarta disciplina, a<br />
“Construção de uma visão compartilhada” é a importância de se ter uma imagem<br />
de futuro compartilhada entre os membros da organização, pois quando existe<br />
uma visão compartilhada genuína, os membros da organização ficam altamente<br />
comprometidos com essa visão, somente essas ações impulsionam verdadeiramente<br />
as organizações modernas.<br />
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Empresa C: redução no primeiro ano de implantação: -21,80%<br />
Figura 5: Empresa C – Comercio de Bebidas Tolemar Ltda – TOLEDO – PR -<br />
Gastos projetados – Gastos reais e redução de gastos - volume de vendas –<br />
IPCA<br />
Empresa D: redução no primeiro ano de implantação: -11,54%<br />
127<br />
Figura 6: Empresa D – Comercio de Bebidas Tolemar Ltda – UMUARAMA – PR<br />
- Gastos projetados – Gastos reais e redução de gastos - volume de vendas -<br />
IPCA<br />
O resultado foi menor que o da média das outras empresas devido ao fato<br />
de que no mês de Outubro/04 a empresa adquiriu a marca Antarctica, aumentando<br />
assim o volume de gastos.<br />
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11. Índice de Correção para Análises<br />
Foi adotado o IPCA - Índice de Preços ao Consumidor Amplo utilizado pelo<br />
Banco Central do Brasil para o acompanhamento dos objetivos estabelecidos no<br />
sistema de metas da inflação (IBGE, 2004, em http://www.ibge.gov.br/). A despesa<br />
do ano anterior é corrigida para ser comparada com a despesa do ano<br />
atual, versus o volume de vendas. Conseguindo assim, mensurar o valor por<br />
hectolitros vendidos e os custos de distribuição. Tomando-se como base de<br />
análises acima, será apresentado na tabela abaixo as variações de reduções<br />
com gastos por hectolitros vendidos, referentes aos seguintes anos: 2002, 2003<br />
e 2004.<br />
Figura 7: Empresa A – Comércio de Bebidas Paccola Ltda - Tabela de demonstrativo<br />
de correção de despesas e R$ por Hl vendidos – comparativo anual<br />
12. Dificuldades<br />
128<br />
Figura 8: Principais dificuldades da implantação do projeto de controle Orçamentário<br />
– OBZ<br />
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13. Benefícios<br />
Figura 9: Principais Benefícios da implantação do projeto de controle Orçamentário<br />
– OBZ<br />
14. CONCLUSÃO<br />
O controle de custos e metas orçamentárias tem como características básicas,<br />
prever comportamentos e acontecimentos operacionais e se preparar para<br />
resolvê-los, a prevenção e a otimização dos recursos já existentes, bem como os<br />
princípios do OBZ, tendo se destacado como forma eficaz de controle de custos<br />
e metas e desenvolvimento da capacidade de criação.<br />
Mudando a “cultura” da empresa e criando novas formas de análise de<br />
gastos e distribuição de verbas, proporcionando ao administrador; além de uma<br />
visão ampla do funcionamento geral da empresa, uma forma de analisar as<br />
tendências e “salvar” os resultados. Desenvolve a criatividade e o espírito de<br />
equipe dos funcionários, trabalhando com grupos multi-diciplinares, esclarece<br />
todos os processos e descentraliza as operações. Faz com que o administrador<br />
tenha uma visão sistêmica do funcionamento da empresa, utilizado como principal<br />
fonte de informação e redução de custos as experiências dos funcionários;<br />
trabalhando em equipe para o desenvolvimento da própria equipe e da capacidade<br />
criativa dos funcionários.<br />
É necessário que o administrador entenda que o modo de alocação e distribuição<br />
de despesas é de extrema importância para o desenvolvimento e “sobrevivência”<br />
da empresa.<br />
REFERÊNCIAS<br />
AMBEV – American Beverage Company – MANUAL ORÇAMENTO BASE ZERO<br />
(OBZ) AUTO-IMPLEMENTÁVEL PARA REVENDAS – Diretoria de Revendas – Junho<br />
2001 - EAD-436 ORÇAMENTO EMPRESARIAL II.<br />
BEVILAQUA, Afonso; WERNECK, Rogério. The quality of the federal net debt in<br />
Brazil. Texto para Discussão, n. 385. Rio de Janeiro: PUC, 1998.<br />
GIAMBIAGI, Fabio. Os inativos da União e o gasto público. REVISTA CONJUN-<br />
TURA ECONÔMICA, v. 53, n. 12, dez. 1999.<br />
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GIAMBIAGI, Fabio. Uma estratégia para reduzir o déficit fiscal. REVISTA CON-<br />
JUNTURA ECONÔMICA, v. 52, n. 8, ago. 1998.<br />
MINISTÉRIO DA FAZENDA. Programa de estabilidade fiscal. out. 1998.<br />
OHANA, Felipe. The Brazilian 1994 stabilization plan: an analytical view; texto<br />
apresentado no seminário da Fundação Colosio, México, “Economic strategies<br />
for the new millenium - Globalization with social justice”; publicado no Brasil<br />
como EPGE- Ensaios Econômicos, n. 307. 1997.<br />
PREMCHAND, A. Temas e questões sobre a gestão da despesa pública. REVISTA<br />
DO SERVIÇO PÚBLICO, a. 49, n. 2, abr./jun. 1998.<br />
PREMCHAND, A. e ANTONAYA, A. Aspectos del presupuesto público. Fundo<br />
Monetário Internacional-FMI. Washington DC. 1988.<br />
PYHRR, Peter. Orçamento base zero. Rio de Janeiro: Editora Interciência, 1981.<br />
SENGE, Peter M. A quinta disciplina. São Paulo: Editora Best Seller, 2001<br />
TANZI, Vito. Fiscal policy and economic reconstruction in Latin America. IMF<br />
Working Paper, 89/94.<br />
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O PSICÓLOGO E A EDUCAÇÃO SEXUAL 1<br />
*Mary Neide Damico Figueiró<br />
RESUMO<br />
O artigo aqui publicado resulta da participação da autora na mesa-redonda<br />
“Sexualidade: Questões Atuais” acontecida na V Jornada de Psicologia da <strong>UniFil</strong><br />
(04/06 de out. de 2004). Aborda a temática da atuação do profissional psicólogo<br />
na especialidade de Educação Sexual. Baseando-se em sua larga vivência com<br />
este assunto, a autora esquadrinha separadamente os quatro campos de participação<br />
do psicólogo dentro do tema sexualidade: clínica, educação, políticas<br />
públicas ou projetos educacionais/sociais e pesquisa.<br />
Palavras-chave: Educação Sexual; Sexualidade; Atuação do Psicólogo.<br />
ABSTRACT<br />
The present article results from the participation of the author in the round<br />
table “Sexuality: Current questions”, which took place at the V Jornada de Psicologia<br />
da <strong>UniFil</strong> (June, 4-6, 2004). It approaches the psychologist’s professional<br />
action on sexual education. Based on her large experience on the subject, the<br />
author discusses separately on the four fields of a psychologist’s participation<br />
in sexuality: clinics, education, public policies or social/educational projects<br />
and research.<br />
Key-words: Sexual Education, sexuality, psychologist’s work<br />
INTRODUÇÃO<br />
Antes da chegada dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), o que se<br />
deu por volta de 1997, ao se pensar em Educação Sexual, a idéia que predominava<br />
era a de aulas sobre Biologia e Fisiologia da Sexualidade, ministradas por<br />
um professor, ou professora, preferencialmente, de Ciências. A partir daí, muita<br />
coisa mudou e os profissionais ligados à Educação começaram a compreender<br />
que esta é uma tarefa que necessita envolver todos os professores, assim como<br />
os demais profissionais preocupados com a formação integral e o bem-estar da<br />
criança e do jovem.<br />
Penso que o psicólogo esteja demorando para se aproximar do campo da<br />
Educação Sexual e reconhecer quais são as possibilidades de contribuição que<br />
pode efetivamente oferecer. Isto se deve, muito certamente, à falhas nos currículos<br />
dos cursos de Psicologia que pouco ou nada contemplam sobre o tema<br />
sexualidade e, quando o fazem, geralmente, é na vertente de atuação clínica,<br />
abordando as parafilias sexuais.<br />
131<br />
1 Texto apresentado na V Jornada de Psicologia da Unifil, como parte da mesa-redonda intitulada: “Sexualidade:<br />
Questões Atuais”. Período do evento: 4 a 6 de outubro de 2004.<br />
*Psicóloga e docente da UEL. Mestre em Psicologia Escolar pela USP/SP e Doutora em Educação (UNESP/<br />
Marília, SP). Especialista em Educação Sexual pela Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana (SBRASH).<br />
E-mail: figueiro@onda.com.br<br />
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Uma das primeiras indagações que o psicólogo faz a si próprio, ou que<br />
fazem a ele, quando decide atuar no campo da sexualidade, diz respeito à necessidade<br />
de estar com sua “sexualidade bem resolvida”. Acredito que o fundamental,<br />
pelo menos para atuar como educador sexual, é que tenha uma visão positiva<br />
da sexualidade e, para isto, é necessário que tenha tido oportunidades de<br />
repensar seus valores, tabus, sentimentos, preconceitos e atitudes, ou seja, que<br />
tenha se reeducado sexualmente. Certamente, se tiver também uma vivência<br />
sem transtornos sexuais, isto contribuirá para potencializar sua atuação.<br />
Quando e de que maneira é possível ao psicólogo atuar como educador<br />
sexual? O que significa educar sexualmente? Esta intervenção está, obrigatoriamente,<br />
vinculada ao campo da Psicologia Escolar, ou pode-se pensar na possibilidade<br />
de uma vinculação com a Psicologia como um todo? São de questões<br />
como estas que este texto tratará.<br />
Com atividades profissionais ligadas à Educação Sexual, desde 1995, como<br />
professora universitária e supervisora do Estágio em Psicologia Escolar, em uma<br />
Universidade pública, tenho identificado a possibilidade de organização de quatro<br />
campos de atuação do psicólogo no tema sexualidade: clínica, educação, políticas<br />
públicas ou projetos educacionais/sociais e pesquisa. A seguir, procurarei<br />
abordar cada um deles, separadamente.<br />
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Atuação no trabalho clínico<br />
Sem que necessariamente precise desenvolver um trabalho de terapia sexual,<br />
é importante que o psicólogo aborde questões ligadas à vida sexual de seu<br />
paciente, se desejar ter êxito no tratamento, da mesma forma que um educador<br />
só terá êxito completo na formação de seu aluno, se olhar para ele como um ser<br />
humano na sua totalidade, criando oportunidades para que o mesmo aprenda e<br />
reflita sobre a sexualidade.<br />
Considerando que a sexualidade é, segundo MELO (2001, p.132), uma “[...]<br />
dimensão existencial, parte inseparável da condição humana, histórica, processual<br />
e mutável [...]”, não abordar tal aspecto da vida, no processo de terapia,<br />
mesmo que a queixa seja de outra natureza, significa seccionar o paciente e<br />
ignorar um elemento que é de fundamental importância, tanto em seu desenvolvimento<br />
psicológico, quanto para sua saúde mental. O médico e psicoterapeuta<br />
Gérson Lopes (informação verbal) 2 afirma que o terapeuta, assim como o ginecologista,<br />
deve perguntar ao paciente como anda a sua vida sexual e afetiva e se<br />
deseja conversar sobre ela. Em que momento introduzir a questão, fica a cargo<br />
da sensibilidade de cada terapeuta. Pode, no entanto, ter efeito potencializador<br />
se acontecer na fase inicial do atendimento.<br />
Educar sexualmente é criar espaço para a pessoa rever seus preconceitos e<br />
tabus, apreender os conhecimentos e as informações necessários e, especialmente,<br />
oportunizar a expressão de sentimentos, angústias e dúvidas acerca da<br />
sexualidade, o que pode ser feito, tanto no espaço escolar, com estratégias apropriadas,<br />
como no espaço da clínica. Educar sexualmente é, sobretudo, ajudar<br />
as pessoas a reeducarem-se, uma vez que a grande maioria delas recebe influências<br />
negativas no decorrer de seu desenvolvimento, tanto na família, quanto<br />
na escola e na sociedade, o que as conduz à construção de uma visão e de uma<br />
vivência pobres e, muitas vezes negativas, da sexualidade.<br />
2 LOPES, Gérson. Sexualidade humana: a investigação sexológica. In: I CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM<br />
SEXUALIDADE CLÍNICA. Londrina: SOGIPA, 2002.<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
A própria intervenção em terapia sexual, além das medidas voltadas diretamente<br />
para as dificuldades ou disfunções sexuais, precisa ter como base o processo<br />
de reeducação sexual, pois segundo Dr. Moacir COSTA (1997):<br />
“Livrar-se dos tabus sexuais e redescobrir o prazer do corpo<br />
são os primeiros passos para uma sexualidade sadia.<br />
Não adianta sair correndo atrás de milagres momentâneos<br />
[...] Os homens [eu diria: as pessoas] não podem buscar,<br />
às escondidas uma solução mágica para a sexualidade.<br />
Precisam rever passo a passo sua trajetória pessoal e encontrar<br />
uma nova forma de aproximação consigo mesmo e<br />
com a figura feminina [e eu diria: feminina e/ou masculina].<br />
A mudança exige novas atitudes. Tocar, acariciar e,<br />
envolver-se por inteiro, em lugar de atacar e investir no<br />
sexo genital. Buscar proteção e conforto, em lugar de<br />
descompromisso e performance.” (p.169).<br />
Vale a pena registrar uma situação que acompanhei como supervisora do<br />
Estágio em Psicologia Escolar. Uma aluna do 4º ano, de 20 anos, aproximadamente,<br />
que participava, semanalmente, de supervisões em equipe, onde debatíamos<br />
os temas relativos à sexualidade, como forma de preparação para sua<br />
intervenção junto a um grupo de pais (a fim de ajudá-los a aprender a conversar<br />
sobre sexualidade com seus filhos), demonstrava acentuado retraimento ao expressar<br />
sua opinião e seus sentimentos. À medida em que avançamos nas supervisões,<br />
começou a participar e a desabafar a respeito da forte repressão que<br />
sofria por parte de sua mãe que, sendo católica praticante, incutia-lhe valores<br />
morais tradicionais, como por exemplo, a importância de se casar virgem. Uma<br />
atitude comum também, era a de proibir a filha de assistir a novela das 20h.,<br />
veiculada pela Rede Globo, por considerá-la um programa amoral; da mesma<br />
forma, não permitia que a filha assistisse a filmes, com as amigas, sem que<br />
antes ela, a mãe, assistisse, liberando somente os que não trouxessem cena de<br />
sexo. Foi sendo possível perceber o progresso da aluna nas discussões subseqüentes,<br />
à medida em que as oportunidades de reflexão em grupo, com as colegas<br />
de turma, foram acontecendo. Comentou, durante uma supervisão, que<br />
fazia terapia há um ano e que não falava sobre questões ligadas à sexualidade,<br />
nem sequer ao namorado e que, após o trabalho no Estágio em Psicologia Escolar,<br />
começou a abordar tais assuntos na terapia, o que fez com que a mesma<br />
evoluísse.<br />
Este fato é um bom exemplo de um terapeuta que não consegue tratar seu<br />
paciente por inteiro e, neste caso, mais um depoimento vem ilustrar as implicações<br />
de tamanha omissão profissional. No mesmo evento em que esta mesaredonda<br />
aconteceu, logo em seguida, no período da tarde, quando ministrei um<br />
mini-curso onde tratei do tema: “O papel do psicólogo diante da homossexualidade”,<br />
o depoimento de uma professora que participava do mini-curso nos conduziu<br />
a uma reflexão semelhante. Ela contou sobre um aluno que vinha freqüentando<br />
terapia, aproximadamente, há um ano, e que apresentava dificuldades<br />
escolares devido a problemas de ordem psicológica. Percebendo que ele estava<br />
triste, perguntou se queria conversar. Ao lhe falar pessoalmente, o aluno<br />
disse que vinha sofrendo muito porque desconfiava ser homossexual. Assim,<br />
ela pôde constatar que seu aluno vinha vivenciando angústias, insegurança e<br />
medo. Quando lhe perguntou se falava sobre isto com a sua terapeuta, ele disse<br />
que não, pois tratava apenas das questões que o levaram à busca da terapia. A<br />
educadora, certamente, mostrou ter maior abertura afetiva para o aluno como<br />
pessoa, que a própria terapeuta.<br />
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É possível, então, que dúvidas a respeito da própria orientação sexual estejam<br />
sendo um empecilho para uma vida feliz e saudável e somando-se a outros<br />
fatores causadores de distúrbios psicológicos, o que confirma a necessidade de<br />
se tratar o indivíduo de forma holística. O próprio Conselho Federal de Psicologia<br />
(CPF), ao estabelecer normas para a atuação dos psicólogos em relação à<br />
questão da orientação sexual (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 1999)<br />
reconhece que “...a forma como cada um vive sua sexualidade faz parte da identidade<br />
do sujeito, a qual deve ser compreendida na sua totalidade.”<br />
É comum que adolescentes tenham dúvidas sobre o crescimento do seu<br />
corpo e o desenvolvimento de sua sexualidade, assim como sobre questões ligadas<br />
ao próprio relacionamento afetivo-sexual e, tudo isto pode gerar fantasias,<br />
angústias, inseguranças e medos. Apesar de estarmos em uma época onde muitas<br />
informações são veiculadas pela mídia, vários autores são unânimes em afirmar<br />
que nossos jovens desconhecem muito sobre seu corpo e sua sexualidade. Entre<br />
esses autores, citam-se, por exemplo, AFONSO (2001), ARRUDA (1992),<br />
PERES ( 2000) e SAYÃO (1997).<br />
Faltam, aos nossos adolescentes, oportunidades para conversarem aberta<br />
e positivamente sobre o assunto, em casa e na escola, trocarem idéias e desenvolverem<br />
autonomia. E por que o psicólogo não poderia estar abrindo espaço,<br />
durante a terapia, para educar sexualmente?<br />
Trabalhando com crianças, por exemplo, independente da queixa, o psicólogo<br />
pode introduzir livros que expliquem sobre o corpo, sobre de onde vêm os<br />
bebês, etc. Não é preciso esperar a criança perguntar, nem pedir; pode-se instigar<br />
para que ela aprenda e reflita sobre estas questões. Se a criança mostrar-se<br />
disposta e aceitar o desafio, certamente, haverá um ganho paralelo no sentido<br />
de se conquistar uma maior aproximação afetiva terapeuta-paciente, semelhante<br />
ao que acontece com os professores que conversam sobre este tema, na salade-aula,<br />
conforme constatei em minha pesquisa (FIGUEIRÓ, 2001a) e conforme<br />
apontam, também, os PCN. Poderá haver ainda uma melhora no desempenho<br />
escolar do educando, em seu relacionamento com os colegas e, provavelmente,<br />
com as demais pessoas. (BRASIL, 2000).<br />
Já que a Educação Sexual é muito mais que trabalhar informações e é,<br />
acima de tudo, trabalhar sentimentos e atitudes, o espaço de terapia é bastante<br />
válido. É também um espaço oportuno para contribuir para a revisão de crenças,<br />
tabus, sentimentos negativos e preconceitos que o paciente possa trazer<br />
consigo. Todo o trabalho, nesta linha, estará favorecendo o auto-conhecimento<br />
e a auto-aceitação, que são alguns dos eixos fundamentais do processo<br />
terapêutico.<br />
Segundo PATTO (1987), [...] a verdadeira cura deve produzir no paciente<br />
um esclarecimento ideológico sobre o sistema social que o enfermou e<br />
interseccionar-se com uma prática política transformadora deste sistema. (p.195).<br />
O que foi acima pontuado sobre a atuação do psicólogo clínico como educador<br />
sexual é extensivo para a terapia de adulto e de pessoa idosa. Por exemplo,<br />
criar espaço para que a pessoa reflita sobre como foi sua Educação Sexual,<br />
como se deu seu processo pessoal de construção daquilo que pensa e sente<br />
sobre questões ligadas à sexualidade, ao relacionamento amoroso e afetivo-sexual,<br />
pode ter um efeito educativo e terapêutico, conforme demonstrou PIRES<br />
(2003), em seu estudo com senhoras da terceira idade.<br />
Finalmente, devo dizer que, mesmo que o psicólogo opte por não atuar como<br />
educador sexual no espaço da clínica, ou se recuse a fazê-lo, estará atuando<br />
como tal, apesar de não se dar conta, pois, todos somos educadores sexuais,<br />
uma vez que todos influenciamos as pessoas em seu processo de construção<br />
(que perdura ao longo de toda a vida) da visão da sexualidade, da visão de corpo<br />
e de relacionamento afetivo-sexual. Influenciamos com nossas atitudes, com-<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
portamento verbal e não-verbal e até com as mensagens subliminares que passamos,<br />
nos momentos em que nos esquivamos ou fugimos de falar no assunto.<br />
(FIGUEIRÓ, 1999)<br />
Atuação no campo educacional<br />
Aqui se trata de pensar, especificamente, no trabalho de ensino das questões<br />
de sexualidade no espaço escolar, ou em instituições ou órgãos que prestam<br />
serviços de natureza educacional/social, como por exemplo, creches e orfanatos<br />
3 . O que pode o psicólogo fazer? Em que consistiria precisamente sua<br />
função? Seria ele o responsável por coordenar oficinas com adolescentes, porque<br />
está apto a trabalhar com dinâmicas de grupo? Primeiramente penso que o<br />
psicólogo conseguirá potencializar sua intervenção, se atuar “preparando” os<br />
educadores para que eles próprios desenvolvam o trabalho junto a crianças e<br />
adolescentes. É também sua função auxiliar a instituição, como um todo, envolvendo<br />
a direção e a equipe pedagógica nas várias etapas de formação; é importante<br />
que participe da elaboração do planejamento conjunto e de reuniões de<br />
estudo e debate sobre os fundamentos da Educação Sexual. Pode ter, também,<br />
efetiva participação na coordenação da intervenção junto aos pais, tanto no<br />
sentido de informá-los sobre o trabalho a ser desenvolvido pela instituição, quanto<br />
no sentido de coordenar encontros que os ajudem a assumir a tarefa de educar<br />
sexualmente seus filhos.<br />
O trabalho de “preparação” de educadores sexuais não é tarefa simples,<br />
que se resolve com algumas reuniões de estudo. É um trabalho a ser desenvolvido<br />
de forma sistemática e prolongada, para que o educador tenha oportunidade<br />
de repensar seus valores, suas atitudes e seus sentimentos em relação à<br />
sexualidade, além de aprender estratégias de ensino para atuar junto aos seus<br />
alunos. É fundamental que ele tenha espaços para reflexão e troca de idéias<br />
com seus colegas, parceiros de profissão; sem rever seus tabus, fica difícil abordar<br />
o assunto com seus alunos.<br />
Esta “preparação” necessita estar inserida na perspectiva de formação continuada<br />
e seguir o modelo reflexivo de formação, no qual se tem como base a<br />
prática pedagógica do professor, o saber construído por ele próprio e o exercício<br />
de reflexão em grupo, conforme pressupostos teóricos preconizados por ALARCÃO<br />
(1998), CANDAU (1996), NÓVOA (1997), PERRENOUD (1999) e SCHÖN (1997).<br />
Não vejo como exclusivo do psicólogo este tipo de trabalho e considero que<br />
também pedagogos, biólogos ou filósofos, por exemplo, podem fazer semelhante<br />
trabalho, desde que tenham sólida formação a respeito do tema Educação Sexual.<br />
Na Universidade Estadual de Londrina (UEL), desde 1995, desenvolvo um<br />
projeto de extensão universitária, que consiste em Grupos de Estudos sobre<br />
Educação Sexual (GEES), que tem como objetivo preparar profissionais, especialmente<br />
educadores de crianças e adolescentes, para atuarem na área da Educação<br />
Sexual. Esta experiência, que culminou em minha Tese de Doutorado<br />
(FIGUEIRÓ, 2001a), intitulada: “A Formação de Educadores Sexuais: Possibilidades<br />
e Limites”, pode constituir-se em uma das referências para profissionais<br />
que aceitam o desafio de coordenarem um trabalho desta natureza.<br />
3 LOPES, Gérson. Sexualidade humana: a investigação sexológica. In: I CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM<br />
SEXUALIDADE CLÍNICA. Londrina: SOGIPA, 2002.<br />
135<br />
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136<br />
Considero que o psicólogo é um dos profissionais aptos a coordenar a formação<br />
de educadores sexuais, porque este trabalho envolve o saber ouvir, a<br />
capacidade de empatia e a capacidade de lidar com atitudes e sentimentos<br />
construídos pelos educadores (assim como pelo próprio psicólogo) em um processo<br />
longo de formação pessoal. Envolve ter que trabalhar com atitudes, revendo<br />
e ajudando a construir novas, como por exemplo, a convicção pessoal de que<br />
é função da escola envolver-se com a Educação Sexual de seus alunos. Além de<br />
ajudar os profissionais a compreenderem a importância da participação da escola<br />
na formação sexual do aluno, o psicólogo precisa trabalhar, estrategicamente,<br />
para motivá-lo a “abraçar”, de forma efetiva, a Educação Sexual. Há<br />
também que se trabalhar sentimentos como o medo: medo da reação dos pais,<br />
que muitos trazem consigo; medo de pensar que, ao falar, vão estar incentivando<br />
os alunos a fazer sexo.<br />
Quanto a atuar diretamente com crianças e adolescentes, coordenando oficinas<br />
com dinâmicas de grupo e outras estratégias, penso que o psicólogo até<br />
pode desenvolver trabalhos desta natureza e isto lhe dará um know-how para<br />
formar educadores. Caso tenha tempo e condições, pode, paralelamente, fazer<br />
este tipo de trabalho, mas não deverá deixar de lado a formação dos educadores,<br />
pois, como determinam os PCN (BRASIL, 1998), são eles os principais agentes<br />
da Educação Sexual.<br />
Tem sido visto criticamente, por vários estudiosos, como por exemplo, GUZZO<br />
(1999) e NOVAES (2003), a necessidade de redefinir os tipos de intervenção,<br />
assim como a formação, em especial a formação continuada, dos que atuam na<br />
Psicologia Escolar.<br />
“É preciso que a Psicologia Escolar seja priorizada como<br />
uma especialidade e que os profissionais que se interessam<br />
em atuar junto ao sistema educacional reconheçam a<br />
necessidade de uma formação reflexiva contínua e crítica,<br />
deixando de lado um modelo ultrapassado e ineficaz de<br />
atuação para uma proposta de trabalho que dê conta de<br />
um envolvimento maior com a comunidade educacional e<br />
sua dinâmica.” (GUZZO, 1999, p. 136).<br />
Atuação em políticas públicas ou projetos educacionais e sociais<br />
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Considero primordial que a Educação Sexual esteja comprometida com a<br />
perspectiva política ou, também denominada, emancipatória. Nesta perspectiva,<br />
além da preocupação com a formação do educando, para que este viva bem<br />
sua sexualidade, de forma feliz e saudável (o que é assegurado pela Abordagem<br />
Pedagógica de Educação Sexual 4 ), a intervenção do educador deve estar voltada,<br />
sobretudo, para a transformação social das normas e valores controvertidos<br />
ligados à sexualidade. Neste processo, procura-se desenvolver, nos educandos,<br />
uma postura crítica em relação às questões que envolvem relações de poder e<br />
formá-los eticamente para a aceitação das diferenças e para o respeito pelas<br />
minorias. Procura-se, ainda, reconstruir as relações de gênero, sob a base do<br />
enfoque sócio-histórico-cultural, assim como também resgatar o erotismo, ou<br />
seja, a visão positiva do prazer e da sexualidade na vida das pessoas, não só<br />
adultas, mas também jovens e crianças. (FIGUEIRÓ, 1996, 2001a, 2201b).<br />
4 Tomarei como base a escola e os professores, nos apontamentos que faço neste item, mas eles são extensivos,<br />
também, às demais instituições e a seus referidos profissionais, como por exemplo, ao assistente social e<br />
ao pedagogo.<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
Desta forma, fica clara a possibilidade de engajamento em políticas públicas<br />
e programas vinculados à educação, intervenção ou prevenção. Como exemplo,<br />
no campo da AIDS, é possível citar a atuação da Associação Brasileira<br />
Interdisciplinar de Aids (ABIA), que conta com o apoio da Fundação Ford e realiza<br />
trabalhos de pesquisa e de intervenção relacionados à questão da diversidade<br />
sexual, incluindo a luta por direitos das pessoas homossexuais.<br />
Um outro exemplo, que vale a pena ser referenciado, é o Programa de Inclusão<br />
do Pai Adolescente, desenvolvido em Belo Horizonte, com o apoio da Fundação<br />
McArthur e da PUC de Minas Gerais. Tem como objetivo geral “...contribuir<br />
para dar visibilidade à questão da paternidade na adolescência por meio de<br />
intervenções que apresentam a dupla finalidade de educar e produzir/disseminar<br />
conhecimento, em vista de uma revisão crítica e da transformação da realidade<br />
masculina e da paternidade.” (p.5) A metodologia de trabalho é a realização<br />
de oficinas com grupos de pais adolescentes, onde, através da pesquisaação,<br />
faz-se, ao mesmo tempo, um trabalho de intervenção e de produção de<br />
conhecimento. (RENA e NASCIMENTO, 2000).<br />
Estar aberto para projetos de caráter social é estar atento a necessidades<br />
socioeducativas emergentes. Ao falar sobre essas necessidades, NOVAES (1999)<br />
chama atenção para a urgência da renovação da prática do psicólogo escolar,<br />
propõe que ele seja um “[...] aliado constante da transformação social, e dos<br />
interesses da maioria da população.” (p.97) e afirma que:<br />
“Como perspectivas para a Psicologia Escolar surge a necessidade<br />
de ampliar projetos integrados com as demandas<br />
sociais a fim de garantir a continuidade e sistematização<br />
de sua atuação e da pesquisa, em todos os níveis de<br />
escolaridade, estimulando a troca intergeracional e trabalho<br />
em equipes interdisciplinares.” (p.100.)<br />
137<br />
Atuação no setor de pesquisas<br />
Desenvolver investigações que vão ao encontro da construção do conhecimento<br />
sobre sexualidade e Educação Sexual é uma tarefa que compete também,<br />
e especialmente, ao psicólogo. Há uma grande variedade de temas que<br />
podem ser pesquisados, entre eles: gravidez na adolescência, homossexualidade,<br />
prostituição, aborto, AIDS e DST, masturbação, atuação da escola e/ou dos<br />
pais na Educação Sexual, sexualidade na terceira idade, prostituição, abuso<br />
sexual, relações de gênero, etc.<br />
Especialmente por serem assuntos bastante ligados a relacionamento,<br />
afetividade, sexualidade e cultura, penso que a abordagem qualitativa de pesquisa<br />
deve ser privilegiada, pois nela há a preocupação:<br />
“...com o processo dos fenômenos estudados e, não simplesmente,<br />
com os resultados e tem como característica<br />
básica a “interpretação” dos fenômenos, pelo pesquisador.<br />
O pesquisador é tido como instrumento essencial da pesquisa,<br />
e seu quadro de referência, seus valores e sua postura<br />
estão presentes na análise feita dos dados, o que assegura<br />
uma margem de subjetividade na mesma.”<br />
(FIGUEIRÓ, 2001a, p.25).<br />
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Conclusões<br />
A partir dos elementos apresentados neste texto, é possível verificar quão<br />
grande é o leque de possibilidades de atuação do psicólogo, no campo da Educação<br />
Sexual. E como consta na Resolução do CFP, “[...] na prática profissional,<br />
independente da área em que esteja atuando, o psicólogo é freqüentemente<br />
interpelado por questões ligadas à sexualidade.” (CONSELHO FEDERAL DE<br />
PSICOLOGIA, 1999).<br />
Considerando que o psicólogo deve ser detentor de uma identidade única e<br />
uma especificidade de ação independente de sua área de atuação, como defende<br />
PATTO (1987) e, considerando que o campo da sexualidade está imbricado com<br />
o processo de construção social de valores e normas, e que normas culturais<br />
repressoras e negativas exercem efeito deletério sobre a vida e o bem-estar das<br />
pessoas, deve o psicólogo auxiliá-las a identificar as influências repressoras.<br />
Tendo em vista todo o compromisso social do psicólogo com as questões<br />
que envolvem o bem-estar dos indivíduos e da sociedade, penso que, além de<br />
produzir conhecimentos científicos, cabe a ele estar atento para também participar<br />
dos debates e reflexões a respeito de tudo o que é ligado ao relacionamento<br />
humano e à vida afetivo-sexual dos indivíduos. Neste campo, no que se refere,<br />
especialmente, à sexualidade, tenho percebido um distanciamento grande dos<br />
referidos profissionais. Se tomarmos como exemplo as temáticas recentes que<br />
mais têm vindo à baila na mídia, que são o casamento de homossexuais e o<br />
aborto, veremos que o psicólogo tem se mantido alheio e o espaço de<br />
posicionamento crítico tem cabido, geralmente, a advogados, filósofos e médicos,<br />
entre outros.<br />
Finalizando, desejo chamar a atenção para o fato de que é preciso buscar<br />
medidas para que, durante o processo formativo dos psicólogos, tanto na graduação,<br />
como na pós-graduação, sejam-lhes assegurados os meios para que possam,<br />
com comprometimento e competência, intervir no contínuo processo de<br />
construção cultural da sexualidade.<br />
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Dissertação (Mestrado em Educação e <strong>Cultura</strong>) - Universidade do Estado de<br />
Santa Catarina, Florianópolis.<br />
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REEDIÇÃO, NEGAÇÃO OU CONSTATAÇÃO FAMILIAR E SOCIAL EM<br />
INDIVÍDUOS PESQUISADOS EM LONDRINA<br />
*Michelle Gonçalves Moreschi<br />
* *José Antônio Baltazar<br />
RESUMO<br />
O objetivo desta pesquisa foi levar as pessoas a perceberem como elas têm<br />
funcionado perante suas vidas como ser humano, e verificar o seu grau de satisfação.<br />
A metodologia que norteou o presente estudo insere-se na metodologia de<br />
pesquisa de campo, através de questionário, ficha e entrevista. A análise dos<br />
dados foi feita de forma quantitativa e qualitativa. A amostra foi composta por<br />
20 indivíduos casados, de ambos os sexos, pais, idades de 26 a 73 anos. A<br />
pesquisa foi desenvolvida aleatoriamente na cidade de Londrina, durante o ano<br />
de 2003. Concluímos que o núcleo familiar é o principal formador estrutural de<br />
cada indivíduo, pois é no âmbito familiar que as figuras serão internalizadas.<br />
Iniciando no relacionamento da criança com seus pais, porque, no futuro, o<br />
mesmo reeditará formas antigas de relacionamentos vivenciadas e experienciadas<br />
com seus pais, mas agora aplicadas com seu esposo(a) e filhos. É nesse sentimento<br />
que o amor conjugal, de homem e mulher, junto com o amor que receberam<br />
em suas famílias de origem, vai proporcionar condições para o casal passar<br />
adiante o que cada um recebeu, em forma de amor por seus filhos. É fato que ao<br />
longo da vida passa-se por quatro papéis: filho(a), esposo(a), pai/mãe e pessoa,<br />
e ao vivenciar cada um destes papéis, poderá ocorrer uma fixação maior no<br />
papel de pai/mãe.<br />
Palavras-chave: Reedição; Família; Relacionamento Conjugal e Familiar.<br />
ABSTRACT<br />
The objective of this research was to make people think about how they have<br />
been living their lives as human beings, and verifying their degree of satisfaction.<br />
The methodology that oriented the present study was the same methodology of<br />
field research: through questionnaires, forms and interviews. The analysis of the<br />
data was made in a quantitative and qualitative way. The sample of the research<br />
was composed of 20 married individuals, of both sexes, with children, ranging in<br />
age from 26 to 73 years old. The research was developed in an random way in the<br />
city of Londrina, State of Paraná, during the year of 2003. We concluded that the<br />
family nucleus is each individual’s main structural shaper, for it is in the family<br />
circle that the illustrations will be ingrained. The individual’s relationship with<br />
their parents in the present will later evolve into the old form of relationship the<br />
individual lived with his or her parents, but now reedited with a husband, a wife<br />
or children. It is in that feeling that the matrimonial love, of man and woman,<br />
added to the love they received from their origin families, that conditions will be<br />
provided so that an individual can pass on what he or she received as a child, in<br />
the form of love for his or her children. It was noticed that along the lifetime of an<br />
individual, he or she goes through four roles: son/daughter, husband/wife, father/<br />
mother, and person, and when passing through these roles, a greater fixation in<br />
the father´s or mother’s role can develop.<br />
Key-words: Re-edition; Family; Family and Matrimonial Relationships.<br />
* Acadêmica do 4º ano de Psicologia do Centro Universitário Filadelfia - <strong>UniFil</strong><br />
**Docente do Curso de Psicologia da <strong>UniFil</strong>.<br />
Mestre em Educação pela UNOESTE – Presidente Prudente.<br />
Psicólogo clínico. - E-mail: jabaltazar@uol.com.br<br />
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INTRODUÇÃO<br />
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Neste trabalho, pesquisamos o desenvolvimento dos quatros papéis do indivíduo<br />
no âmbito familiar. Ao desenvolver os papéis de filho(a), esposo(a), pai/<br />
mãe e pessoa, ele se modifica e é modificado continuamente desde o nascer.<br />
A criança, ao ingressar como sujeito na família, sente necessidade do relacionamento,<br />
que é proporcionado pelos pais ou por quem cuida do infante, através<br />
da afetividade e cuidados básicos.<br />
Mediante esses cuidados, o indivíduo vai internalizando figuras, que serão<br />
fundamentais para a realização de suas escolhas amorosas. Essas figuras internas<br />
se formam em nossa imaginação, primeiramente, com a mãe; depois, com o<br />
pai, parentes, professores e amigos, na medida em que o indivíduo vai se socializando.<br />
Assim, essa imagem interna será projetada posteriormente no parceiro.<br />
Os pais são seres que ajudam a configurar o mundo interno de cada pessoa,<br />
determinam grande parte do modelo de vida de cada indivíduo. E esses<br />
modelos constituem a identidade do sujeito.<br />
Quando somos pequenos, os pais nos levam a criar figuras internas de<br />
homens e mulheres que irão motivar, em boa parte, a atração que sentimos por<br />
alguém. As imagens nascem, de início, do tipo de relacionamento que vivenciamos<br />
com a mãe.<br />
Para FREUD (1921), o estado amoroso representa um caso no qual o objeto<br />
exterior, a pessoa amada, vai ocupar o lugar do ideal de ego, no próprio ponto<br />
onde o sujeito projeta seu ego ideal. O ideal de ego está totalmente ligado à<br />
questão do amor, é guiado pelo superego e pelas questões narcísicas; ele representa<br />
aquilo que o indivíduo deseja e se empenha a ter; é o que o leva à procura<br />
de alguém para se agregar, tanto no trabalho, na busca de um amigo, em uma<br />
relação de amor, de afeto, um namorado(a), e um esposo(a). O objeto serve de<br />
substituto para algo inatingível, ideal de ego de nós mesmos. O indivíduo ama<br />
por causa das perfeições que ele se esforça para conseguir, visando o seu próprio<br />
ego, e que agora deseja de adquirir, dessa maneira indireta, como meio de<br />
satisfazer o seu narcisismo. Ou seja, não amamos a beleza que existe nas pessoas,<br />
mas sim a nossa beleza que nelas aparece refletida. A outra pessoa é bela à<br />
medida em que nos vemos belos.<br />
É através da realização conjugal, onde se espera uma aliança forte e duradoura,<br />
que se estabelece a formação dos filhos e, a partir do nascimento, reativamse<br />
formas antigas vivenciadas por cada um dos conjugues.<br />
O casamento não se constitui em um processo exclusivo do noivo e da<br />
noiva. Ao contrário, nele estão implicadas, fortemente, as famílias de origem de<br />
cada cônjuge, como transmissoras de um sistema mítico que precisa ser examinado<br />
e devidamente considerado na formação do casal. Muitos casais, elegem<br />
um(a) ou outro(a) parceiro(a), por motivações inconscientes ou conscientes, através<br />
da introjeção dos modelos parentais ou pela repetição de padrões familiares.<br />
Portanto, as experiências com a família de origem representam um fenômeno<br />
freqüentemente considerado como a base dessa escolha.<br />
Verifica-se, então, que desde a atração amorosa e sexual, até o estabelecimento<br />
de vínculos afetivos, provavelmente, estão entrelaçadas as influências<br />
desse sistema familiar.<br />
Segundo a citação de BOWEN (1979):<br />
“Sem se dar conta, o indivíduo se casa com a recriação perfeita<br />
da própria família de origem. Cada cônjuge passa a<br />
tentar coagir o outro, inconscientemente, de modo a fazê-lo<br />
responsável pelas injustiças sofridas e pelos méritos acumulados<br />
na sua própria família de origem.” (WAGNER e<br />
FALCKE, 2001, p.160).<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
Sendo assim, observa-se que cada parceiro torna-se um meio de transmissão<br />
e elaboração do mito familiar, tendo como base problemas não resolvidos na<br />
família de origem, essencialmente relacionados com conteúdos de perda, separação,<br />
abandono, identificação, alimentação e privação.<br />
Com relação à escolha do parceiro, verifica-se a tendência à repetição de<br />
padrões de relacionamentos afetivos experienciados durante a infância. Essa<br />
reedição ocorre devido ao fato de que, ao se relacionar com seu parceiro, o indivíduo<br />
vivencia essas dificuldades experimentadas nas relações pais-filho, fazendo<br />
com que o sujeito tente encontrar, nas sucessivas relações com seus<br />
parceiros, uma solução para o problema apresentado na relação de origem.<br />
Segundo a citação bibliográfica de Framo (1990):<br />
“Em muitos casos ambos os cônjuges conhecem a experiência<br />
de perda ou ruptura de laços em suas respectivas famílias<br />
de origem, associados a um profundo sentimento de<br />
abandono, que os leva a buscar no outro um pai ou uma<br />
mãe de substituição.” (WAGNER e FALCKE, 2001, p.17).<br />
O casamento, em nossa estrutura político-econômica, é uma resultante<br />
social que satisfaz necessidades básicas do indivíduo como entidade que integra<br />
a sociedade. Tende a concretizar a satisfação mútua de dois seres maduros,<br />
como conseqüência de um processo natural, espontâneo e sincero.<br />
A família forma uma totalidade muito específica, na qual cada membro tem<br />
firmado um papel, uma determinada função que desempenha, queira ou não<br />
queira, consciente ou inconsciente e, na maioria das vezes, dessa última forma.<br />
Assim cada componente do núcleo vê-se comprometido em algo que transcende<br />
os limites de sua própria individualidade e que implica o participar de uma<br />
responsabilidade coletiva. Em um núcleo familiar harmônico, o pai e a mãe<br />
sabem e aceitam suas funções e cumprem-nas, complementando-se.<br />
Assim sendo, a família é uma estrutura social básica, com entrejogos diferenciados<br />
de papéis, integrada por pessoas que convivem por tempo prolongado,<br />
em uma inter-relação recíproca com a cultura e a sociedade, dentro da qual<br />
se vai desenvolvendo a criatura humana, premida pela necessidade de limitar a<br />
situação narcísica e transformar-se em um adulto capaz.<br />
O interesse pelo tema foi motivado ao perceber durante o Curso de Psicologia<br />
que as pessoas, ao longo de suas vidas, desenvolvem papéis de filho(a),<br />
esposo(a), pai ou mãe, e muitas vezes esquecem de suas necessidades pessoais<br />
como indivíduo único que carece de ser constantemente ouvido e atendido em<br />
suas expectativas e desejos. O que não implica em deixar de lado outros papéis<br />
e atividades que dele exigem; espera-se um equilíbrio e estabilidade que representarão<br />
a maturidade de sua personalidade. Lidar com as perdas e ganhos<br />
desses papéis, possivelmente levará a um ajustamento emocional, psicológico,<br />
social e uma boa saúde mental.<br />
143<br />
OBJETIVOS<br />
GERAL: Levar as pessoas a perceberem como elas tem funcionado no<br />
contexto de suas vidas como seres humanos, e verificar o grau de satisfação.<br />
ESPECÍFICOS:<br />
- Constatar quais desses papéis o indivíduo desenvolve melhor;<br />
- Perceber em quais desses papéis ele sente dificuldade em estar desenvolvendo;<br />
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- Perceber o quanto o exercício o auxiliou a pensar nos papéis que está<br />
desenvolvendo em sua vida;<br />
- Verificar quais as causas de suas dificuldades em desenvolver determinados<br />
papéis;<br />
- Constatar o papel mais importante para cada indivíduo;<br />
- Constatar se houve anulação de algum desses papéis;<br />
- Perceber sucedeu essa anulação;<br />
- Constatar qual característica o indivíduo pode atribuir a si próprio.<br />
METODOLOGIA<br />
POPULAÇÃO AMOSTRADA<br />
Participarão dessa pesquisa indivíduos casados, de ambos os sexos que<br />
sejam pais, em idades de 26 a 73 anos, da cidade de Londrina.<br />
LOCAL DE REALIZAÇÃO<br />
A pesquisa foi desenvolvida aleatoriamente na cidade de Londrina – PR.<br />
PROCEDIMENTO DE COLETA E ANÁLISE DOS DADOS<br />
Essa pesquisa insere-se na metodologia de pesquisa de campo, através da<br />
aplicação de questionário, ficha e entrevista, de forma quantitativa e qualitativa.<br />
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RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />
Ao analisarmos a tabela de adjetivos relacionada às atitudes correspondentes<br />
ao papel de filho(a), observa-se 60% dos indivíduos alegaram serem obedientes,<br />
pois a convivência vem acompanhada de limites e padrões morais impostos<br />
pelos pais. Constata-se que 45% acreditam ter desenvolvido atitudes de<br />
companheirismo, no desempenho do papel de filho(a).<br />
No desenvolvimento do papel de pai/mãe, observa-se a importância dos<br />
entrevistados manifestarem o carinho frente ao infante, já que 60% são<br />
declaradamente carinhosos. Mostra-se novamente a importância dos pais imporem<br />
leis, limites e dar noção de realidade para seus filhos, já que 40% da<br />
amostra apontou atitudes de autoritarismo.<br />
Na amostra 45% dos indivíduos disseram ter atitude de fidelidade frente ao<br />
seu cônjugue. O carinho e a flexibilidade aparecem em 40% da amostra. Isso<br />
demonstra a importância do respeito que deve existir em um relacionamento<br />
conjugal. Este respeito decorre da importância da fidelidade, do carinho e a<br />
flexibilidade que os mesmos devem ter frente ao cotidiano. Percebe-se o quanto<br />
o núcleo familiar interfere e auxilia na maturação do indivíduo, pois é nessa<br />
interação com os pais e com o meio onde esse indivíduo está inserido que irá lhe<br />
proporcionar desde uma sensação de felicidade plena até uma enorme angústia<br />
e sofrimento. Pois desde seu nascer o indivíduo já é movido pelo desejo que<br />
parte de outra pessoa, e não dele. Ele ainda não aprendeu a falar, mas é falado<br />
constantemente pelo meio em que está inserido. Sendo assim, percebe-se que<br />
ao desenvolver o papel de pessoa, os indivíduos da amostra acreditam serem<br />
50% honestos e 35% prestativos. Ao perceber esta importância da família na<br />
formação do indivíduo, observa-se que muitos conflitos neuróticos podem estar<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
correlacionados à patologia do sistema familiar, sendo este indivíduo, muitas<br />
vezes, o “bode expiatório” do contexto familiar.<br />
Na segunda etapa da entrevista, observa-se que 40% da amostra apontam<br />
que o melhor papel desenvolvido ao longo de suas vidas, é o de pai/mãe. É de<br />
extrema importância que a criança seja desejada pelo casal e, principalmente,<br />
pela mãe. A mãe tranqüiliza-se e liga-se melhor ao bebê quando ela é, por sua<br />
vez, assistida econômica e psiquicamente pelo pai, já que o mesmo torna-se o<br />
principal provedor do lar.<br />
Ao analisar o papel no qual o indivíduo sente dificuldade para desenvolver,<br />
50% da amostra apontou o de esposo(a). Percebe-se o quanto é difícil desenvolver<br />
o papel de esposo(a), já que 30% acreditam que as causas dessa dificuldade<br />
estão relacionadas com a forma como cada indivíduo foi educado; ao se casarem,<br />
os cônjuges carregam consigo a bagagem do antigo lar dos pais, onde as<br />
normas e padrões, muitas vezes, não coincidem com as do esposo ou esposa.<br />
Ao computar o papel no qual os entrevistados se identificaram completamente,<br />
55% da amostra apontou o papel de pai/mãe.<br />
Observa-se que 100% dos indivíduos entrevistados acreditam terem no<br />
momento feito uma análise crítica dos papéis exercidos ao longo de suas vidas,<br />
seja ele de filho(a), esposo(a), pai/mãe ou pessoa.<br />
Quando ocorre a constituição familiar, e esse indivíduo que até então era<br />
apenas filho, resolve casar-se e ter seus filhos, conseqüentemente ocorrerá o<br />
processo de anulação, pois o mesmo não tem mais a mesma disponibilidade de<br />
tempo como anteriormente. Esse indivíduo que hoje é esposo(a), que é pai ou<br />
mãe, depara-se com muitas atividades. Sendo assim, observa-se que 60% dos<br />
indivíduos entrevistados passaram por este processo de anulação, e 42% apontam<br />
que o processo de anulação ocorreu de forma natural. Observou-se também,<br />
no decorrer das entrevistas, que 33% apontaram o processo de anulação<br />
como frustrante, pois acreditavam não estarem preparados.<br />
Dos indivíduos entrevistados, 30% acreditam terem como característica<br />
principal o fato de serem batalhadores, e 15% o de serem honestos e<br />
determinados.<br />
145<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Ao desenvolver esta pesquisa, pudemos verificar que ao desempenhar cada<br />
papel de filho(a), pai/mãe , esposo(a) ou pessoa, o indivíduo movimenta a sua<br />
vida, devido a um desejo; ele se move por um desejo desde seu nascer, e esse<br />
movimento inicia-se no âmbito familiar com toda a carga afetiva que este carrega<br />
ao longo de sua vida, onde os pais foram agentes na formação estrutural<br />
desse infante. E que tudo que é internalizado, grita o tempo todo dentro desse<br />
indivíduo, e é através das figuras internas que ele escolherá seu par amoroso. E<br />
é nesse contexto familiar que ele reeditará formas antigas de relacionamento,<br />
iniciando com a esposa e depois com os filhos e, inconscientemente, procurará<br />
solucionar o que havia sido mal solucionado.<br />
Pode-se constatar, que ao desenvolverem os quatro papéis ao longo da vida,<br />
esses indivíduos percebem a necessidade da obediência perante aos pais. Exercendo<br />
atitudes próprias do papel de pai/mãe, são carinhosos e acreditam na<br />
importância de serem autoritários com seus filhos para impor limites e auferir<br />
obediência. Verifica-se a importância da fidelidade e da flexibilidade do casal<br />
frente aos acontecimentos diários. Foi constatado também na pesquisa que o<br />
papel onde os indivíduos encontram mais dificuldades é de esposo(a), e que a<br />
causa dessa dificuldade reside na demanda que cada indivíduo carrega de seu<br />
antigo lar; contudo, a constituição do novo núcleo familiar torna-se plena com<br />
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a chegada dos filhos.<br />
Com o aumento das atividades profissionais visando dar satisfação plena<br />
à família ocorre um processo de anulação; para alguns entrevistados isso aconteceu<br />
de forma natural e outros se frustraram, pois acabaram se esquecendo<br />
de desempenhar atividades que satisfizessem os seus desejos, para satisfazer<br />
os desejos da esposa e dos filhos. A manipulação dessas perdas e ganhos<br />
nesses papéis, possivelmente, auxiliará o indivíduo para caminhar na direção<br />
da maturidade.<br />
REFERÊNCIAS<br />
AGOSUNNO, L. M.; SANCHEZ, M. T. Família: conflitos, reflexões e intervenções.<br />
São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.<br />
COSTA, P. G. A cena conjugal. Porto Alegre: Artmed, 2000.<br />
DOR, J. Introdução à leitura de Lacan: estrutura do sujeito. Porto Alegre: Artes<br />
Médicas, 1995.<br />
KNOBEL, M. Orientação familiar. Campinas, SP: Papirus,1992.<br />
MEYE, L. Família: dinâmica e terapia - Uma abordagem psicanalítica. São Paulo:<br />
Casa do Psicólogo, 2002.<br />
PRADO, L. Famílias e terapeutas construindo caminhos. Porto Alegre: Artes Médicas,<br />
1996.<br />
146<br />
ROUDINESCO, E. Esboço de uma vida, história de um sistema de pensamento.<br />
São Paulo: Companhia das Letras, 1994.<br />
SOIFER, R. Psicodinamismos da família com crianças: terapia familiar com técnicas<br />
de jogo. Petrópolis: Vozes, 1994.<br />
VALORE, A. M. S. Habitarás a casa do teu pai. In: Anais da Biblioteca Freudiana<br />
de Curitiba, 1993.<br />
WAGNER, A. e FALCKE, D. In: Psicologia Clínica - Rio de Janeiro. Pontifícia Universidade<br />
Católica do Rio de Janeiro. Centro de Teologia e Ciências Humanas.<br />
Departamento de Psicologia, v.13, n.2, 2001.<br />
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TRANSTORNOS PSICOSSOMÁTICOS E RESILIÊNCIA<br />
* Denise Hernandes Tinoco<br />
RESUMO<br />
São analisados os principais fatores relacionados com afecções<br />
psicossomáticas e as possibilidades terapêuticas disponíveis. É destacada a relação<br />
mãe-bebê desde o período intra-uterino e discutidas as conseqüências<br />
que podem resultar para a saúde física e mental da criança. O fenômeno da<br />
resiliência é também caracterizado e discutido.<br />
Palavras-chave: Resiliência; Transtornos Psicossomáticos; Psicoterapia.<br />
ABSTRACT<br />
The main factors related to psychosomatic affections and the available<br />
therapeutic possibilities are analysed. It emphasizes the mother-child relationship<br />
since the intrauterine period and discusses the consequences that may result<br />
to a child’s mental and physical health. The resilience phenomenon is also defined<br />
and discussed.<br />
Key-words: Resilience, psychosomatic disturbs, psychotherapy.<br />
INTRODUÇÃO<br />
O objetivo do curso aqui explicitado foi mostrar a importância da relação<br />
mãe-filho, dado o fato dela ser a matriz de outros relacionamentos e apresentar<br />
relação com a saúde, a resiliência e as doenças em geral.<br />
Winnicott, através de seus estudos, mostrou que a relação mãe-bebê é importantíssima<br />
no primeiro ano de vida, e que não se pode estudar o bebê separado<br />
de sua mãe. Chamou esta relação de simbiótica, referindo-se sempre à<br />
díade mãe-filho. Constatou que a criança precisa dos cuidados de sua mãe para<br />
se desenvolver bem, corporalmente e emocionalmente, e que a partir do segundo<br />
ano de vida, o bebê saudável começará, espontaneamente, a procurar se<br />
separar da mãe, dissolvendo a simbiose. A pai ajudará neste processo.<br />
Bowlby, pesquisador em desenvolvimento infantil e etologia, a pedido da<br />
Organização Mundial da Saúde, estudou os efeitos da separação mãe-bebê e da<br />
institucionalização de crianças, no final da década de 40 e nos anos 50, mostrando<br />
os problemas sérios no desenvolvimento da personalidade provenientes<br />
destas situações e também a importância dos cuidados maternos para a saúde<br />
mental. Concluiu que o principal alimento para a criança é o amor materno e<br />
quanto mais cedo ocorrer a separação, mais séria será a lesão afetivo-emocional<br />
e mais provável o surgimento de doenças emocionais comprometedoras.<br />
Spitz pesquisou bebês hospitalizados, constatando que a ausência da mãe<br />
e de seus cuidados, levava a um quadro de depressão anaclítica, que ainda<br />
poderia ser reversível se a criança voltasse a ser cuidada pela projenitora ou por<br />
alguém que exercesse a função materna, recebendo amor. Caso contrário, a<br />
criança entraria em marasmo e morreria. Constatou que 90% das crianças em<br />
depressão anaclítica iam a óbito.<br />
* Docente no Curso de Psicologia do Centro Universitário Filadélfia – <strong>UniFil</strong>.<br />
Mestre e doutora em Psicologia Clínica pela PUC/SP. e UEL.<br />
Psicoterapeuta e Psicossomatista.<br />
E-mail: psicologia@filadelfia.br<br />
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Hoje em dia, através de estudos do psiquismo pré-natal, feitos através de<br />
ultra-sonografia e outros aparelhos, sabemos que o feto não é algo estático, sem<br />
reações e que alguns órgãos sensoriais já se mostram desenvolvidos e em desenvolvimento,<br />
favorecendo o contato entre feto, mãe e ambiente, levando à<br />
aprendizagem e ao registro das experiências vivenciadas.<br />
O feto já escuta na vigésima semana da gravidez de sua mãe; já há registro<br />
de dor na décima sétima semana de vida intra-uterina. Com 23 semanas há<br />
registro de sono com sonhos. Reage quando alguém toca ou pressiona a barriga<br />
da mãe; reage ao sabor do líquido amniótico se é injetado algum líquido doce ou<br />
amargo, e muitas outras reações foram detectadas.<br />
O feto é sensível também aos hormônios liberados pela mãe. Sendo assim,<br />
na liberação de catecolaminas, quando a mãe estiver em reação de alarme, o<br />
feto também mostrará reação semelhante. Quando estas liberações são constantes<br />
vão incidir sobre o desenvolvimento do feto de forma nefasta. A liberação<br />
de encefalinas e endorfinas contribui para o desenvolvimento fetal, mas este<br />
reage mal ao álcool e à nicotina, quando consumidos pela mãe, tendo o seu<br />
crescimento e desenvolvimento comprometidos.<br />
Szejer, psicanalista francesa, estudou o lugar que é dado à criança durante<br />
o período de gravidez e mesmo antes: as idealizações, angústias, culpas, enfim<br />
as expectativas depositadas no futuro ser e que vão influenciar sobremaneira a<br />
construção da pessoa que está sendo forjada. Estudou também a importância<br />
da linguagem na relação com o feto e no período perinatal e sua relação com a<br />
saúde, com a doença e com o desenvolvimento.<br />
Todas as experiências pré-natais irão influenciar no quantum de pulsão de<br />
vida e morte que estará presente por ocasião do nascimento. Sabemos que estas<br />
pulsões influenciam a percepção de mundo da criança e sua interação com este.<br />
Uma criança amada, com pais disponíveis para cuidar dela, terá mais chances<br />
de ter um bom contato com a realidade e lidar melhor com esta. Apresentará<br />
mais recursos para enfrentar as adversidades que surgirão em sua vida; mais<br />
otimismo por acreditar em suas potencialidades, devido ao fato de ter se formado<br />
mais segura, sentindo-se amparada, tendo na sua família um continente.<br />
Isto faz com que crie uma relação de confiança com as pessoas e com o mundo,<br />
de uma forma geral.<br />
Chamamos de fatores de proteção este bom relacionamento familiar, e temos<br />
evidências, através de pesquisas, que a plasticidade do ser humano depende<br />
muito destes fatores. Por isto a importância dos trabalhos preventivos junto<br />
aos futuros pais e depois, junto à criança.<br />
Há uma integração desde o período fetal entre ambiente, sistema límbico,<br />
córtex cerebral, hipotálamo, hipófise, supra-renal e sistema imunológico, e que<br />
vai se tornando com o processo de desenvolvimento cada vez mais contundente,<br />
podendo favorecer o surgimento de doenças quando as situações são adversas e<br />
a capacidade de enfrentamento é frágil, com poucas defesas. Apesar de, nestes<br />
casos encontrarmos uma personalidade mais rígida, com dificuldades de adaptação,<br />
medos paralisantes e muita desconfiança, é possível tratá-los utilizando<br />
o método psicanalítico com algumas modificações sugeridas por Winnicott, Marty,<br />
Sifneos, Epstein e outros. É necessário o estabelecimento de um vínculo<br />
simbiótico com estes pacientes para que possam editar na psicoterapia o que<br />
não havia sido editado nos primeiros anos de vida e reeditar o que havia sido<br />
mal editado, revivendo na transferência, as suas relações primordiais para<br />
elaborá-las, estabelecendo representações mentais que estavam faltando, ampliando<br />
assim a possibilidade de fazer as ligações necessárias entre o material<br />
inconsciente e a linguagem, evitando assim a simbolização no corpo, podendo<br />
pensar sobre as situações que se apresentam, escolher caminhos conscientemente,<br />
adquirindo forças para enfrentar a vida como esta se apresenta.<br />
TERRA E CULTURA - Nº 40 - Ano 21
Voltando um pouco à teoria, para se entender a proposta acima de tratamento,<br />
retornamos à Freud, que em 1913, explicou que o inconsciente fala diversos<br />
dialetos. Psicanalistas posteriores descobriram a simbolização no corpo<br />
de sensações e emoções que não possuíam representações mentais para poderem<br />
ser entendidas e elaboradas. Esta falta de representações mentais nos remete<br />
às relações primordiais mãe-filho e também à impossibilidade de termos<br />
representações para todos os fenômenos vividos. A doença apresentada pelo<br />
paciente nos conta sobre qual angústia não está podendo ser pensada pelo fato<br />
de estar em sua forma primitiva (coisa) e a simbolização no corpo passa a ser a<br />
forma de expressão.<br />
Através de técnicas psicanalíticas, de relaxamentos, visualizações e modificações<br />
no método psicanalítico, que favoreçam a reedição das relações primordiais,<br />
ressignificando-as, levamos o paciente a se livrar dos sintomas orgânicos,<br />
retirando-os do corpo, levando-os para a mente, permitindo assim resolver as<br />
suas angústias. Com isto, ele passa a se conhecer melhor, tendo mais domínio<br />
de seus impulsos e desejos, sabendo lidar melhor consigo mesmo e com o ambiente<br />
onde vive, tendo mais recursos de enfrentamento, podendo se tornar um<br />
resiliente.<br />
Resiliência é um termo usado para designar pessoas, que mesmo em situações<br />
de doença terminal, de holocausto, de adversidades extremas, conseguem<br />
superar a situação, não sendo apenas um sobrevivente, mas aprendendo com a<br />
experiência, tornando-se uma pessoa mais completa, com um alto nível de vida,<br />
saindo-se muito bem.<br />
As pesquisas mostram que 10% da população são resilientes, pois superaram,<br />
muito bem, as suas adversidades. As características encontradas nestas<br />
pessoas foram: flexibilidade e capacidade de adaptação em situações limites;<br />
capacidade de negociação; criatividade; alto grau das inteligência ou habilidades;<br />
otimismo frente à vida; alta produtividade nas artes, ciência e outras áreas;<br />
fé em Deus e em si mesmo.<br />
Atualmente procuramos trabalhar com os pacientes psicossomáticos desenvolvendo<br />
estas características através do método e técnicas citadas acima.<br />
Além dos estudos desenvolvidos por psicanalistas, tivemos estudos importantíssimos<br />
desenvolvidos por psicólogos existencialistas e sociais sobre a<br />
resiliência.<br />
Frankl, fundador da Logoterapia, contribuiu muito com suas técnicas de<br />
Derreflexão, Paradoxal e outras, e com o exemplo que deu, utilizando suas técnicas<br />
para sobreviver ao holocausto na segunda guerra mundial, sentindo-se<br />
bem consigo mesmo e com seus companheiros de infortúnio, ajudando-os a<br />
sobreviver também.<br />
Epstein, psiquiatra radicado nos Estados Unidos, Panozzo, sobrevivente de<br />
um câncer em estado terminal e fundadora de uma instituição que trata de<br />
pessoas com câncer, desenvolveram técnicas de visualização importantíssimas<br />
na cura de doenças, testadas em laboratórios experimentais como o de Thorndike,<br />
nos Estados Unidos. Estas técnicas associadas à psicoterapia focada na reedição<br />
das fases fetal e pré-fálicas, são eficazes, ajudando no processo de cura e no<br />
desenvolvimento de características de resiliência.<br />
Quando não há mais possibilidade de cura, trabalha-se com o paciente<br />
preparando-o para a morte, resolvendo questões pendentes para que possa “morrer<br />
curado”. Trabalha-se também com a família do paciente, orientando e preparando-a<br />
para o desenlace.<br />
Segundo Kübler-Ross, as pessoas que vivem plenamente nunca terão medo<br />
de viver nem de morrer.<br />
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REFERÊNCIAS<br />
BOLWBY, J. Cuidados maternos e saúde mental. São Paulo: Martins Fontes,<br />
1995.<br />
EPSTEIN, G. Imagens que curam. Rio de Janeiro: Xenon, 1990.<br />
FRANKL, V. E. Em busca de sentido. Petrópolis: Vozes, 2003.<br />
FREUD, S. Esboço de Psicanálise. Obras Completas. São Paulo: Imago, 1970. v.<br />
XXIII, 1938.<br />
—————— A disposição à neurose obsessiva. Obras completas. São Paulo:<br />
Imago, v. XII, 1913.<br />
KÜBLER-ROSS, E. O túnel e a luz. Reflexões essenciais sobre a vida e a morte.<br />
Campinas: Verus, 2003.<br />
PANOZZO, G. O sol semearei em minhas terras. São Paulo: Ed. Agora, 2000.<br />
SZEJER, M; STEWART, R. Nove meses na vida da mulher. São Paulo: Casa do<br />
Psicólogo, 1997.<br />
SPITZ, R. O primeiro ano de vida. São Paulo: Martins Fontes, 1979.<br />
TINOCO, D. H. Jardim secreto: transtornos psicossomáticos e resiliência. A<br />
transgeracionalidade vista através do estudo psicanalítico de um caso. Tese de<br />
Doutorado. São Paulo: PUC, 2003.<br />
150<br />
WINNICOTT, D. W. A família e o desenvolvimento individual. São Paulo: Martins<br />
Fontes, 1997.<br />
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AOS COLABORADORES<br />
A Revista TERRA E CULTURA é uma<br />
publicação semestral da Unifil. Tem por finalidade<br />
divulgar artigos científicos e/ou<br />
culturais que possam contribuir para o conhecimento,<br />
o desenvolvimento e a discussão<br />
nos diversos ramos do saber. Um artigo<br />
encaminhado para publicação deve obedecer<br />
às seguintes normas:<br />
1- Estar consoante com as finalidades<br />
da Revista.<br />
2- Ser escrito em língua portuguesa e<br />
digitado em espaço duplo, papel tamanho<br />
ofício, mantendo margens laterais<br />
de 3 cm (de acordo com a<br />
ABNT). Recomenda-se que o número<br />
de páginas não ultrapasse a 10 (dez).<br />
3- Tabelas e gráficos devem ser numerados<br />
consecutivamente e endereçados<br />
por seu título, sugerindo-se a não<br />
repetição dos mesmos dados em gráficos<br />
e tabelas conjuntamente.<br />
4- Fotografias poderão ser publicadas.<br />
Publicar-se-ão trabalhos originais que se<br />
enquadrem em uma das seguintes categorias:<br />
4.1- Relato de Pesquisa: apresentação de<br />
investigação sobre questões direta ou<br />
indiretamente relevantes ao conhecimento<br />
científico, através de dados analisados<br />
com técnicas estatísticas pertinentes.<br />
4.2- Artigo de Revisão Bibliográfica:<br />
destinado a englobar os conhecimentos<br />
disponíveis sobre determinado tema, mediante<br />
análise e interpretação da bibliografia<br />
pertinente.<br />
4.3- Análise Crítica: será bem-vinda,<br />
sempre que um trabalho dessa natureza<br />
possa apresentar especial interesse.<br />
4.4- Atualização: destinada a relatar informações<br />
técnicas atuais sobre tema de<br />
interesse para determinada especialidade.<br />
4.5- Resenha: não poderá ser mero resumo,<br />
pois deverá incluir uma apreciação<br />
crítica.<br />
4.6- Atualidades e informações: texto<br />
destinado a destacar acontecimentos<br />
contemporâneos sobre áreas de interesse<br />
científico.<br />
5- Redação – No caso de relato de pesquisa,<br />
embora permitindo liberdade<br />
de estilos aos autores, recomenda-se<br />
que, de um modo geral, sigam à clássica<br />
divisão:<br />
Introdução – proposição do problema<br />
e das hipóteses em seu contexto<br />
mais amplo, incluindo uma análise<br />
da bibliografia pertinente;<br />
Metodologia-descrição dos passos<br />
principais de seleção da amostra, escolha<br />
ou elaboração dos instrumentos,<br />
coleta de dados e procedimentos<br />
estatísticos de tratamento de dados;<br />
Resultados e Discussão – apresentação<br />
dos resultados de maneira clra<br />
e concisa,seguidos de interpretação<br />
dos resultados e da análise de suas<br />
implicações e limitações. Nos casos<br />
de Revisão Bibliográfica, Análises<br />
Críticas, Atualizações e Resenhas, recomenda-se<br />
que os autores observem<br />
às tradicionais etapas: Introdução,<br />
Desenvolvimento e Conclusões.<br />
6- O artigo deverá apresentar resumo<br />
em português e abstract em inglês.<br />
7- Deve ser entregue na forma de<br />
disquete.<br />
8- Deverá também conter as palavraschaves<br />
e os Key-words.<br />
9- As referências Bibliográficas deverão<br />
ser listadas por ordem alfabética do<br />
último sobrenome do primeiro autor.<br />
10-Indicar, por uma chamada de asterisco,<br />
em nota de rodapé, a qualificação<br />
técnico-profissional do(s)<br />
autor(es).<br />
11-Informar o E-mail do autor ou do<br />
coautor que deverá ser contatado pelo<br />
público leitor.<br />
12-A publicação do trabalho nesta Revista<br />
dependerá da observância das<br />
normas acima sugeridas, da apreciação<br />
por parte do conselho Editorial<br />
e dos pareceres emitido pelos Consultores.<br />
Serão selecionados os artigos<br />
apresentados de acordo com a<br />
relevância a atualidade do tema, com<br />
o n° de artigos por autor, e com a<br />
atualidade do conhecimento dentro<br />
da respectiva área.<br />
Conselho Editorial de<br />
TERRA E CULTURA.<br />
Av Juscelino Kubitscheck,1626<br />
86020-000 – Londrina-PR.<br />
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