mulheres e crack - Unifesp

Please purchase PPT to Flash on http://www.verydoc.com to remove this watermark. 

MULHERES E CRACK 

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO 

DEPARTAMENTO DE PSICOBIOLOGIA 

CEBRID – Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas 

Psicotrópicas 

CRACK: ÚLTIMOS 20 ANOS 

I Forum Internacional 

Please purchase PPT to Flash on http://www.verydoc.com to remove this watermark.




Solange Nappo 




Histórico do Crack 

• Surge na década de 80 nos USA 

• Popularidade pelas características 

• Aparentemente “barato” 

• USA – epidemia de sífilis ( 85 – 89 ) 61% 

• Atividade sexual típica do usuário de Crack 





• Até início de 1990 (USA) perfil do usuário – homem 

jovem 

• Após 1990 (USA) perfil do usuário -incluem-se mulheres 

com comportamento de risco (sexo-por-droga) 

• Inciardi et al. (2001): Miami-851mulheres usuárias de 

crack- 708 (83,2%) sexo-droga 

• Roos et al. (1999): mulheres usuárias de crack, sexodroga: 

11,3% HIV; 14,9 sífilis; 53,3% hepatite B 



• Brasil- início de 1990 



• Perfil do usuário – homem jovem, UDI’s de cocaína 

aderem via pulmonar, mulheres prevalência baixa. 

• 2000- usuário de crack relata existência de mulheres com 

comportamento de risco 



OBJETIVO 


Indentificar o comportamento de risco, 

dessas usuárias de crack, frente às 

DST/AIDS. 

(N = 76 mulheres) 




DIFERENÇAS 

Profissionais do sexo 

X 

Prostituição por droga 

• Sobrevivência 

• Socialização 

• Troca de informação 

• Prostituição com 

conhecimento 

• Poder de negociação para 

sexo seguro 

• Droga 

• Sem vínculo 

• Troca de informação 

inexistente 

• Prostitutas neófitas 

• Negociação sob efeito de 

fissura 




DIFERENÇAS 

Profissionais do sexo 

• Nº de parceiros 

• Frequência 

X 

Prostituição por droga 

• Nº de parceiros 

• Frequência 

• Local mais adequado 

• Preço acertado 

anteriormente 

• Uso de preservativo 

• Qualquer lugar 

• Preço irrisório por 

programa 

• Inconsistência no uso de 

preservativo 



FAIXA ETÁRIA 


9% 

23% 

32% 

36% 

Menos de 20 21 a 30 

31 a 40 Mais de 40 



FILHOS 


16% 

28% 

13% 

11% 

7% 

15% 

1% 

1 2 3 4 5 6 9 13 Não tem Aborto 



FILHOS 


“Tenho 3 filhos. Esse último “peguei” com um traficante.Cada 

um tá num canto, não moram comigo. Eu tava fumando droga e 

fui presa. Pegaram meus filhos para não ficarem jogados na 

rua.” 

(R30) 

“Eu tenho 9 filhos e estou esperando o 10º. Conheci um cara no 

ponto, aí aconteceu. Quando eu fui ver já não descia mais a 

menstruação e eu estou grávida de novo. É, a criança é de um 

programa, eu nem sei quem é o cara, eu não vi mais, ele sumiu. 

Eu vou ser mãe dele e o pai é Deus.” 

(C30) 




ESTRATÉGIAS PARA CONSEGUIR O CRACK 

çRoubar: estratégia perigosa, só praticam em casa 

çProstituição: Recursos conseguidos através da venda do corpo 

“É só se prostituindo, é o jeito que a mulher consegue o 

crack. A gente sai na rua prá isso. Acaba de fumar, já 

pensa no programa prá conseguir mais grana. Faz 

programa e pensa em fumar...e é assim a nossa vida.” 

(AM27) 




CORPO X DROGA/DINHEIRO 

çPrática comum estimulada por amigas e traficantes 

çConsideram mais segura (legal) e rendosa 

“Toda mulher descobriu que dá mais dinheiro na rua 

transando do que roubando, porque transando você não 

está fazendo mal a ninguém, os caras não vão te pegar, 

entendeu? Eles podem dizer “sai daqui”, mas polícia não 

pode fazer nada. Você está ganhando o que é seu, o seu 

dinheiro. Roubar não, você está roubando o que é dos 

outros, se os cara te pegarem você vai para a cadeia.” 

(A24) 




TROCA DO CORPO POR DINHEIRO OU DROGA ? 

Pedra: (Consideram mais fácil) 

“É menos trabalho. Eu não tenho que ir buscar a droga e correr o risco de 

perder, porque se a polícia tiver passando nessa hora eu tenho que engolir 

a pedra.” (N24) 

Dinheiro: 

Dignidade 

“Meu corpo não vale pedra, vale dinheiro, não importa quanto.” (L21) 

Confiabilidade: 

“Com dinheiro eu mesma vou buscar, eu mesma vou na boca. Trocar pela 

droga eu não sei o que o cabra é, não sei o que ele tá me passando.” (K22) 




USO DE CRACK POR SEMANA 

93% 

7% 

Diariamente 

3 vezes 




PEDRAS CONSUMIDAS POR DIA 

40 

35 

30 

USUÁRIAS 

25 

20 

15 

10 

5 

0 

£ 5 6 a 10 11 a 15 ³ 16 

PEDRAS 




NÚMERO DE PROGRAMAS POR DIA (média) 

25 

20 

N o de usuárias 

15 

10 

5 

0 

1 2 3 4 5 6 7 8 9 

N o de programas 




NÚMERO DE PROGRAMAS POR DIA 

“O tanto de homem que aparecer eu vou. Já 

cheguei a fazer 9 programas numa noite.” 

(F17) 

“Eu não sei quantas pessoas por noite, às vezes eu 

saio de um carro e já vem outro. Às vezes tem 

homem que fica 10 minutos “arrgg”, tem uns que 

com 5 minutos eu já resolvo, têm outros que com 2 

já está bom e aí eu digo Graças as Deus.” (M33) 




PREÇO MÉDIO COBRADO POR PROGRAMA (R$) 

35 

30 

USUÁRIAS 

25 

20 

15 

10 

5 

0 

£ 10 11 a 20 21 a 30 31 a 40 41 a 50 ³ 50 Só droga 

PREÇO 




PREÇO COBRADO POR PROGRAMA 

“Eu digo pro cara que cobro R$ 30,00. Aí o cara fala 

- Quê? trinta conto? Eu dou vinte se você quiser, se 

não ciao. Aí eu virava pelos vinte mesmo, às vezes até 

por cinco.” 

(C22) 

“Eu cobro R$ 50,00. Mas se eu tiver bem na vontade 

de fumar, vai por 10 mesmo. Eu já fiz até por 5.” 

(M33) 




FASE INTENSIVA-FISSURA 

çMomento de maior exposição a risco 

çPerdem a possibilidade de negociação 

çRegras de segurança não são respeitadas 

“Não dá prá controlar a fissura, não tem quem segura. 

Se eu tiver presa, assim num quarto, eu arrebento tudo, 

mas saio prá fumar”.(FC21) 

“Durante a fissura faço quaquer coisa para ganhar 

dinheiro, ficar sem o crack é que eu não fico.” (ZG19) 




USO DE PRESERVATIVO 

Nunca Usaram: 

“Nunca usei camisinha. Acho que a droga sobe na cabeça e eu não 

ligo prá camisinha. Nunca me liguei em camisinha.” 

(S21) 

Decisão do Parceiro: 

“Se o cara chegar em mim e falar: eu não quero usar ou eu não 

tenho onde arrumar, eu vou do mesmo jeito. Do jeito que der eu 

vou.” 

(M37) 

Dinheiro 

“Se o cara chegar e disser – Olha sem camisinha eu te pago o dobro 

– Eu aceito porque eu quero é usar a minha pedra.” 

(P25) 




USO DE PRESERVATIVO 

Crenças: Sexo oral e anal acreditam não necessitar de preservativo. 

“Não dá. eles não vão querer, com fricção não dá. 

Fico até com vergonha de falar, mas é assim.” (R35) 

“Agora eu não uso mais camisinha, eu só uso remédio...Microvlar. 




TIPO DE SEXO PRATICADO 

Todas as modalidades são solicitadas: vaginal, oral anal. Afirmam decidir o 

tipo de sexo, mas o discurso mostra outra realidade. 

“Eu digo o que eu vou fazer. Mas se ele falar eu vou só dar isso...eu 

vou pelos R$ 10, agora se ele ainda pedir sexo oral, apesar de odiar 

eu vou fazer para poder pegar o dinheiro ..prá usar minha pedra.” 

(A21) 

Sexo oral: Repulsa 

Sexo Anal: descartado por todas porém é o mais solicitado. Fetiche entre os 

clientes. 



Unanimidade: Não há como escolher 


ESCOLHA DO PARCEIRO 

“Não, não escolho não, quando é assim para usar droga, não tem escolha.” (A19) 

Concorrência: 

“Não escolho. Parou alí, ou você agarra ou chega outra no seu lugar e pega. È 

assim. E aí eu ficava sem pedra, sem dinheiro e sem nada..sai fora.” (M20) 

Aparência: 

“Eu escolho sim, o carro, como a pessoa está vestida, isso é importante.” (A24) 

Subjetividade: 

“Tem que sacar na hora, porque isso aí é técnica de visualização assim, vale dizer, 

você tem que sacar a personalidade da pessoa.” (M19) 




ESCOLHA DO PARCEIRO 

Idade: Os mais velhos são os preferidos porque pagam e são menos violentos 

“Os velhos são mais devagar, os mais novos são mais violentos, eles querem forças 

a gente a fazer sexo anal. Eu nunca deixei.” (M19). 

Tipo Físico: Preferem os mais franzinos 

“Sempre escolho os mais magrinhos, fraquinhos. Os mais fortes batem, maltratam 

a gente. Os fraquinhos se vier prá cima de mim, leva porrada.” (F14) 

Doença: 

“Para saber se a pessoa tem alguma doença eu olho nos olhos dela e a roupa que 

ela está usando.” (C23) 

Não se interessam: 

“Eu só me interesso pela droga ou pelo dinheiro, nada mais.” (M38) 




LOCAL DO PROGRAMA 

çMotel: preferido, mais seguro 

çCasa do cliente: perigoso 

çTerreno baldio: Não gostam mas é mais rápido e econômico 

“Eu faço em qualquer lugar que eu estiver...dá pra eu fazer em 

qualquer lugar. Principalmente quando eu estou na nóia ou 

fissura, eu vou em qualquer lugar. Saio dalí e já vou fumar.” 

(V29) 

çCarro: menor de idade (perigo), mais rápido (vantagem) 




Local de Programas 

• Inexistência de crack houses 

• Crack house: local mais “seguro” 

Risco de DST-AIDS – maior n° de parceiros, 

maior acesso à droga 

q Usuárias brasileiras – qualquer local, necessitam 

“buscar” os clientes, falta de higiene, 

contaminação de sêmen 



VIOLÊNCIA 


ATOS VIOLENTOS SILENCIOSOS 

“Era de madrugada, esse cara falou que a gente ía pro 

motel. Foi pela rodovia quando chegou num certo lugar 

ele parou e não teve conversa. Catou meu cabelo, me 

arrastou até a cerca, bateu em mim prá valer. Me deixou 

sem roupa e me estuprou, pensei que ía morrer. Precisei 

ir embora enrolada em jornal e toda machucada. Vou 

onde reclamar, eles dizem prá gente. Bem feito, drogada 

tem que levar mesmo.” 

(M37) 



CACHIMBO 


Material utilizado: 

çQualquer aparato, raramente é cachimbo tradicional 

çLata de cerveja, copo plástico de água, embalagem 

de Yakult, etc. 

çMaterial inapropriado para proteção do calor da 

temperatura alta 






CACHIMBO 


Proteção da boca 

Relatos de queimaduras 

“Esquenta, queima toda a boca, sai bolha.” (G19) 

Não sentem dor e essa desaparece à medida que continuam 

fumando 

“Chega a queimar, na hora não sente, no outro dia é 

que vai ver.” (D27) 



CACHIMBO 


Proteção da boca 

Queimaduras não se restringem à boca (dedos e nariz). Sinais 

identificadores do usuário de crack. 

“Queima a boca e eu já queimei várias vezes o nariz de 

ficar aquela coisa horrorosa, ficar duas semanas com 

aquilo. Aí não dá prá sair de casa porque todo mundo 

percebe que a gente usa crack porque cigarro não 

queima desse jeito.” (L32) 



CACHIMBO 

Utilização do mesmo cachimbo: 


çMotivos mais comuns para troca de cachimbos: falta de cachimbo 

e/ou droga, complicação na confecção, em programas trocam com o 

cliente. 

çNão há preocupação sobre a possibilidade de contrair alguma doença. 

“Se tem alguém na roda com essas bolhas na boca eu não 

me incomodo de pegar o cachimbo dessa pessoa. Na hora 

nem penso nisso.” (G20) 




Sexo oral, cachimbo, transmissão de HIV 

• Cachimbos improvisados permitem queimadura, 

cortes 

• Sexo oral prevalência alta, sem preservativo 

• Wallace at al. (1997) – 21% dessas mulheres 

soropositivas para HIV 




Programa com usuário de Crack 

• Pagamento em “pedra” (usuário e ou traficante) 

• Disfunções sexuais com uso crônico (demora em alcançar 

orgasmo, inabilidade em ejacular, falta de lubrificação vaginal, 

impotência, diminuição do desejo, etc...) 

• Estratégias: Estimulação sexual prolongada (tempo maior de 

penetração vaginal, estimulação oral, masturbação vigorosa) 

• Resultante: Ruptura da pele do pênis, do canal vaginal, da boca 

• Fricçao do pênis na vagina com a falta de lubrificação – ato mais 

doloroso, ferimentos 

• Usuário de Crack hoje = UDI ontem 



CONCLUSÕES 


• Mulheres usuárias de crack são grupo importante de risco frente às DST’s/AIDS. 

• O fenômeno é recente, sem visibilidade, característico de mulheres e não é só 

brasileiro. 

• A condição de serem: mulheres, usuárias de droga, crack, prostitutas, dificulta o 

acesso e a busca de ajuda por parte delas. 

• São incentivadas a se prostituirem e atuam sob fissura. 

• Cachimbo agravante da situação por provocar ferimentos 

• O problema tem desdobramento com a prole indesejável que produzem. 

• Enfrentamento do problema pode ser dificultado por preconceitos como: fenômeno 

sexo-por-crack nasce de uma falha moral, julgamento pobre ou depravação das 

participantes não se levando em conta as forças sociais que contribuem para sua 

existência. 




SOLANGE NAPPO 

SOLANGE@PSICOBIO.EPM.BR 

FIM

mulheres e crack - Unifesp

Create successful ePaper yourself

Delete template?

Save as template?