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perda de água - Unama

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1<br />

REVISTA DO CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA<br />

v. 11, n. 24 • <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2009<br />

ISSN 1516-0025<br />

TRAÇOS<br />

Belém v.11 n.24 p. 1-149 <strong>de</strong>z. 2009


2<br />

REVISTA DO CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA<br />

C 2009, UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA<br />

REITOR<br />

Antonio <strong>de</strong> Carvalho Vaz Pereira<br />

VICE-REITOR<br />

Henrique Guilherme Carlos Heidtmann Neto<br />

PRÓ-REITOR DE ENSINO<br />

Mário Francisco Guzzo<br />

PRÓ-REITORA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO<br />

Núbia Maria <strong>de</strong> Vasconcelos Maciel<br />

DIRETOR DO CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA E<br />

COORDENADOR DO CURSO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL<br />

EVARISTO CLEMENTINO REZENDE DOS SANTOS<br />

COORDENADOR DO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO<br />

JOSÉ AKEL FARES FILHO<br />

COORDENADOR DO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL<br />

SELÊNIO FEIO DA SILVA<br />

COORDENADOR DO CURSO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO<br />

ANDRÉ CRISTIANO SILVA MELO<br />

COORDENADOR DO CURSO DE TECNOLOGIA EM PROCESSAMENTO DE DADOS<br />

CLÁUDIO OTÁVIO MENDONÇA DE LIMA<br />

COORDENADOR DO CURSO DE BACHARELADO EM CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO<br />

MAURO MARGALHO COUTINHO<br />

COORDENADORA DO CURSO DE ARTES VISUAIS E TECNOLOGIA DA IMAGEM<br />

ANA DEL TABOR VASCONCELOS MAGALHÃES<br />

COORDENADOR DO CURSO DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA<br />

MIGUEL CHAQUIAM<br />

EXPEDIENTE<br />

EDIÇÃO: Editora UNAMA<br />

RESPONSÁVEL: João Carlos Pereira<br />

SUPERVISÃO: Hel<strong>de</strong>r Leite<br />

NORMALIZAÇÃO: Maria Miranda<br />

FORMATAÇÃO GRÁFICA: Elailson Santos<br />

REVISÃO DE TEXTO: Luis F. Branco<br />

PROJETO DA CAPA: Fernanda Beliche<br />

ILUSTRAÇÃO DA CAPA: Emanuel Franco<br />

IMPRESSÃO:<br />

“Campus” Alcindo Cacela<br />

Av. Alcindo Cacela, 287<br />

66060-902 - Belém-Pará<br />

Fone geral: (91) 4009-3000<br />

Fax: (91) 3225-3909<br />

“Campus” BR<br />

Rod. BR-316, km3<br />

67113-901 - Ananin<strong>de</strong>ua-Pa<br />

Fone: (91) 4009-9200<br />

Fax: (91) 4009-9308<br />

“Campus” Quintino<br />

Trav. Quintino Bocaiúva, 1808<br />

66035-190 - Belém-Pará<br />

Fone: (91) 4009-3300<br />

Fax: (91) 4009-0622<br />

“Campus” Senador Lemos<br />

Av. Senador Lemos, 2809<br />

66120-901 - Belém-Pará<br />

Fone: (91) 4009-7100<br />

Fax: (91) 4009-7153<br />

Catalogação na fonte<br />

www.unama.br<br />

T759t Traços: revista do Centro <strong>de</strong> Ciências Exatas e Tecnologia - Belém: UNAMA, v. 11, n. 24,<br />

2009<br />

149 p.<br />

ISSN: 1516-0025<br />

1. Ciências exatas. 2. Ciências exatas - pesquisa. 3. Ciências exatas-estudos <strong>de</strong> caso.<br />

1. Periódicos.<br />

CDD: 507.2


3<br />

REVISTA DO CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA<br />

v. 11 n. 24 2009<br />

EDITORIAL ................................................................................................................................. 5<br />

ARTIGOS .................................................................................................................................... 7<br />

MAPA ACÚSTICO DE BELÉM ACTUALIZADO POR PROGRAMA<br />

MATEMÁTICO DE PREDICCIÓN .................................................................................................... 9<br />

ACOUSTIC MAP OF BELÉM UPGRADED FOR MATHEMATICAL PROGRAM<br />

OF PREDICTION<br />

Elcione Moraes<br />

Francisco Simón<br />

Luis Henrique Guimarães<br />

INFLUÊNCIA DOS RESÍDUOS DE DICOTILEDÔNEAS NA RESISTÊNCIA À<br />

COMPRESSÃO DE COMPÓSITOS CIMENTO-MADEIRA ............................................................... 19<br />

INFLUENCE OF DICOTILEDOEAE RESIDUES IN TENSILE STRENGTH OF<br />

WOOD-CEMENT COMPOSITES<br />

Alexandre Martins <strong>de</strong> Lima<br />

AVALIAÇÃO ECONÔMICO-FINANCEIRA DE UMA MICROINDÚSTRIA DE<br />

COSMÉTICOS NO ESTADO DO AMAPÁ ...................................................................................... 33<br />

ECONOMIC-FINANCIAL EVALUATION OF A MICRO COSMETICS<br />

INDUSTRY IN THE STATE OF AMAPÁ.<br />

Léony Luis Lopes Negrão<br />

Pedro Henrique Lamarão Souza<br />

UMA MODIFICAÇÃO AO MÉTODO PSEUDO-ESTÁTICO ATRAVÉS DE UMA<br />

APROXIMAÇÃO ANALÍTICA PROPOSTA À PRESSÃO HIDRODINÂMICA ....................................... 47<br />

A MODIFICATION OF PSEUDO-STATIC METHOD THROUGH AN ANALYTICAL<br />

APPROACH FOR THE HYDRODYNAMIC PRESSURE.<br />

Selênio Feio da Silva<br />

Evaristo dos Santos Junior<br />

Alexandre Andra<strong>de</strong> Brandão Soares<br />

Felipe Rodrigues Ribeiro<br />

TRAÇOS<br />

Belém v.11 n.24 p. 1-149 <strong>de</strong>z. 2009


4<br />

AVALIAÇÃO DE MÉTODOS DE DIMENSIONAMENTO DE REDE DE ABASTECIMENTO<br />

DE ÁGUA E ESTUDO DAS CONDIÇÕES DE SANEAMENTO<br />

DO BAIRRO NOVO HORIZONTE EM BARCARENA – PA .............................................................. 61<br />

EVALUATION OF METHODS OF DESIGN OF NETWORK OF WATER SUPPLY AND<br />

STUDY OF CONDITIONS OF SANITATION OF NEIGHBORHOOD IN NEW<br />

HORIZON BARCARENA - PA.<br />

Júnior Hiroyuki Ishihara<br />

Lin<strong>de</strong>mberg Lima Fernan<strong>de</strong>s<br />

Alberto Carlos <strong>de</strong> Melo Lima<br />

André A. A. Montenegro Duarte<br />

Marcos <strong>de</strong> Almeida Farias<br />

A INFLUÊNCIA DA ZONA DE TRANSIÇÃO NAS PROPRIEDADES DO CONCRETO .......................... 75<br />

THE INFLUENCE OF TRANSITION ZONE IN THE PROPERTIES OF CONCRETE.<br />

José Zacarias Rodrigues da Silva Junior<br />

Mariana Domingues von Paumgartten<br />

IDENTIFICAÇÃO DOS MUNICÍPIOS DINÂMICOS NA CRIAÇÃO DE BOVINOS<br />

E DESDOBRAMENTO DE MADEIRA DO ESTADO DO PARÁ NO ANO DE 2007 .............................. 89<br />

IDENTIFYING DYNAMIC COUNTIES IN THE LOG/WOOD PROCESSING AND<br />

FARMING BUSINESS THROUGH 2007 IN THE STATE OF PARÁ.<br />

Isaias <strong>de</strong> Oliveira Barbosa Júnior<br />

Heriberto Wagner Amnajás Pena<br />

Leonardo Augusto Lobato Bello<br />

ESTUDO SOBRE OS ÍNDICES DE ASSALTOS A ÔNIBUS INTERMUNICIPAIS E SUAS<br />

RELAÇÕES COM AS CONDIÇÕES DA RODOVIA: PA-150 .......................................................... 103<br />

STUDY ON THE NUMBER OF ASSAULTS THE INTERCITY BUSES AND ITS<br />

RELATIONSHIP THE CONDITIONS OF THE HIGHWAY: PA 150<br />

Thalita Cristina Brito Nascimento<br />

Benedito Coutinho Neto<br />

AVALIAÇÃO DA OPERAÇÃO E ESTIMATIVA DAS PERDAS DE ÁGUA E DE ENERGIA<br />

ELÉTRICA NO 3º SETOR DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA REGIÃO<br />

METROPOLITANA DE BELÉM .................................................................................................. 123<br />

EVALUATION OF THE OPERATION AND THE ESTIMATES OF THE LOSS OF WATER AND<br />

ENERGY OF THE 3 RD SECTOR OF WATER SUPPLYING OF BELÉM METROPOLITAN REGION.<br />

Gilberto Cal<strong>de</strong>ira Barreto<br />

José Almir Rodrigues Pereira<br />

UTILIZAÇÃO DO AMBIENTE MOODLE PARA A REALIZAÇÃO DE COMPETIÇÕES<br />

ESCOLARES DE MATEMÁTICA ................................................................................................. 139<br />

USING MOODLE ENVIRONMENT FOR THE CONDUCT OF SCHOOL<br />

MATHEMATICS COMPETITIONS.<br />

Márcio Goes do Nascimento<br />

Janne Y. Y. Oeiras


EDITORIAL5<br />

Bons profissionais e pesquisadores em<br />

gran<strong>de</strong>s Ciências & Tecnologia<br />

Em recente visita ao Pará a comissão <strong>de</strong> avaliação do Ministério da Educação<br />

conce<strong>de</strong>u média 4 (em uma escala <strong>de</strong> 1a 5) para a Universida<strong>de</strong> da Amazônia. Os<br />

pontos avaliados foram focados em gestão organizacional, corpo docente e<br />

técnico-administrativo, infraestrutura, política <strong>de</strong> ensino, responsabilida<strong>de</strong> social,<br />

sustentabilida<strong>de</strong> financeira e comunicação. Com isso, a <strong>Unama</strong>, não só po<strong>de</strong> como<br />

<strong>de</strong>ve continuar oferecendo seus serviços educacionais como instituição universitária.<br />

A avaliação do MEC se tornou algo <strong>de</strong> extrema importância no mundo acadêmico<br />

e empresarial, <strong>de</strong>vido ao vírus que se alastrou com o surgimento <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado <strong>de</strong> instituições<br />

<strong>de</strong> ensino superior no estado do Pará. O mercado <strong>de</strong> trabalho se torna cada<br />

vez mais exigente, competitivo e seletivo, logo a qualificação e a certificação tornaram-se<br />

o diferencial que o universitário procura para se <strong>de</strong>stacar em meio à tempesta<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> formandos.<br />

Para se manter um alto padrão <strong>de</strong> ensino voltado para a aca<strong>de</strong>mia e para a empresa,<br />

torna-se necessário o investimento na Ciência e Tecnologia (C&T) <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong><br />

pesquisa. Pesquisar <strong>de</strong>ve ser um ato <strong>de</strong> pensar em equipe, para a instituição e para a<br />

socieda<strong>de</strong>, as questões po<strong>de</strong>m e <strong>de</strong>vem ser levantadas, analisadas e respondidas superando<br />

dificulda<strong>de</strong>s, através <strong>de</strong> um bom vínculo <strong>de</strong> comprometimento entre pesquisador,<br />

instituição e empresa.<br />

Dentre as várias formas <strong>de</strong> se buscar a motivação para o ingresso e a permanência<br />

na pesquisa científica, que consiste em formular, coletar e analisar dados, e, tirar conclusões,<br />

o que correspon<strong>de</strong> a uma forma fantástica <strong>de</strong> lidar com o <strong>de</strong>sconhecido e a<br />

encontrar novos conhecimentos, formando assim bons profissionais e pesquisadores<br />

em gran<strong>de</strong>s ciências, <strong>de</strong>staca-se, a Revista TRAÇOS, do Centro <strong>de</strong> Ciências Exatas e<br />

Tecnologia, ofertando ao leitor, nesta edição, 10 (<strong>de</strong>z) novas publicações.<br />

Selênio Feio da Silva - D. Sc.<br />

Coor<strong>de</strong>nador do Curso <strong>de</strong> Engenharia Civil<br />

Núcleo <strong>de</strong> Estudos e Pesquisas em Qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vida e Meio Ambiente


7<br />

REVISTA DO CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA<br />

EDIÇÃO Nº 24<br />

CADERNO DE ARTIGOS<br />

TÉCNICOS E CIENTÍFICOS<br />

CONSELHO EDITORIAL:<br />

Alberto Carlos <strong>de</strong> Melo Lima<br />

Ana Del Tabor Vasconcelos Magalhães<br />

André Cristiano Silva Melo<br />

Antônio Erlindo Braga Júnior<br />

Cláudio Alex Jorge da Rocha<br />

Cláudio Otávio Mendonça <strong>de</strong> Lima<br />

Débora Ban<strong>de</strong>ira Moraes Trinda<strong>de</strong> (Secretária)<br />

Elzelis <strong>de</strong> Aguiar Müller<br />

Evaristo Clementino Rezen<strong>de</strong> dos Santos<br />

(Presi<strong>de</strong>nte)<br />

Filomena Mata Vianna Longo<br />

Janice Shirley <strong>de</strong> Souza Lima<br />

José Akel Fares Filho<br />

José Augusto Furtado Real<br />

Maisa Sales Gama Tobias<br />

Miguel Chaquiam<br />

Natanael Freitas Cabral<br />

COMITÊ CIENTÍFICO INTERNO:<br />

Benedito Coutinho Neto<br />

Elcione Maria Lobato <strong>de</strong> Moraes<br />

Fábio José da Costa Alves<br />

Hélio Raymundo Ferreira Filho<br />

Leonardo Augusto Oliveira Bello<br />

Marco Aurélio Arbage Lobo<br />

Marisa <strong>de</strong> Oliveira Mokarzel<br />

Mauro Margalho Coutinho<br />

Pedro Franco <strong>de</strong> Sá<br />

Ruy Guilherme <strong>de</strong> Castro Almeida<br />

Selênio Feio da Silva<br />

Sérgio Castro Gomes<br />

COMITÊ CIENTÍFICO EXTERNO:<br />

Édison da Silva Farias - UFPA<br />

Eliane Gonçalves Gomes - EMBRAPA-DF<br />

Iran Abreu Men<strong>de</strong>s - UFRN<br />

Lin<strong>de</strong>mberg Lima Fernan<strong>de</strong>s - UFPA<br />

Marcelo Câmara dos Santos - UFPE<br />

Maria Seráfico Pinheiro - UFPA<br />

Simaia do Socorro Sales das Mercês - UFPA<br />

Thienne Mesquita Johnson - USP-SP


9<br />

MAPA ACÚSTICO DE BELÉM ACTUALIZADO POR<br />

PROGRAMA MATEMÁTICO DE PREDICCIÓN<br />

Drª Elcione Moraes *<br />

Drª Francisco Simón **<br />

Luis Henrique Guimarães ***<br />

RESUMEN<br />

El mapa acústico <strong>de</strong> Belém ha sido elaborado mediante mediciones in situ. Sin embargo,<br />

este método exige un laborioso y costoso trabajo. Con el objetivo <strong>de</strong> minimizar la labor en<br />

la toma <strong>de</strong> datos, se ha actualizado el referido mapa con el uso <strong>de</strong> un mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> cálculo<br />

matemático <strong>de</strong> simulación, teniendo en consi<strong>de</strong>ración, como única fuente sonora, el tráfico<br />

rodado. No obstante, el programa utilizado requiere la introducción <strong>de</strong> datos precisos <strong>de</strong>l<br />

tráfico <strong>de</strong> vehículos. En este sentido, la información disponible sobre el flujo <strong>de</strong> tráfico en la<br />

ciudad es escasa, con excepción <strong>de</strong>l flujo <strong>de</strong> autobuses. Así, para la estimación <strong>de</strong>l tráfico<br />

total se ha consi<strong>de</strong>rado el flujo <strong>de</strong> autobuses como principal fuente sonora, y el nivel sonoro<br />

medido, como variable don<strong>de</strong> el parámetro <strong>de</strong> ajuste era el tráfico general en cada calle.<br />

A<strong>de</strong>más, se ha consi<strong>de</strong>rado, aún, la arquitectura <strong>de</strong>l lugar y la jerarquía <strong>de</strong> la vía. En el<br />

presente artículo se expone el MAB calculado a partir <strong>de</strong> la estrategia arriba <strong>de</strong>scrita.<br />

Palabras-Llave: Mapa Acústico. Ruido Urbano. Simulación <strong>de</strong>l Ruido.<br />

ABSTRACT<br />

ACOUSTIC MAP OF BELÉM UPGRADED FOR<br />

MATHEMATICAL PROGRAM OF PREDICTION<br />

Acoustic Map of Belém has been elaborated by means of in situ measurements in situ.<br />

However, the adopted method is a very laborious and expensive work. With the aim of<br />

the effort of mathematical simulation where road traffic has been taken is consi<strong>de</strong>ration<br />

as the only sound source. Nevertheless, the programs used require the input of precise<br />

data road traffic. In this sense, the available information on the traffic flow in the city is<br />

scarce, except for the flow of buses. So, to estimate the total traffic flow it has been<br />

consi<strong>de</strong>red the flow of buses as the main sound source, the sound pressure level measured.<br />

In addition, has been use also the urban <strong>de</strong>sign and the hierarchy of the road. In the<br />

present paper presented the calculated AMB the strategy estimation.<br />

Keywords: Acoustic Map. Urban Noise. Noise Simulation.<br />

* Professora titular do Curso <strong>de</strong> Arquitetura e Urbanismo da <strong>Unama</strong>; elcione@unama.br<br />

** Pesquisador titular do Instituto <strong>de</strong> Acústica <strong>de</strong> Madrid do CSIC; psimon@ia.cetef.csic.es<br />

*** Arquiteto; luishenrique_@hotmail.com<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 9-17, <strong>de</strong>z. 2009


10<br />

1 INTRODUCCIÓN<br />

La gestión <strong>de</strong>l ruido ambiental urbano, y la adopción <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> ámbito<br />

general, involucra el diagnóstico <strong>de</strong>l panorama sonoro local, mediante la elaboración<br />

<strong>de</strong> mapas <strong>de</strong> ruido, y la adopción <strong>de</strong> planes <strong>de</strong> acción, con medidas <strong>de</strong> amplio alcance.<br />

(Directiva, 2002).<br />

Sin embargo la política <strong>de</strong>l ruido ambiental en Brasil, todavía es bastante<br />

incipiente, necesita pasar por profundas transformaciones, especialmente en lo tocante<br />

a la normativa. Las normas actuales son superficiales y <strong>de</strong> poco alcance. La elaboración<br />

<strong>de</strong> mapas <strong>de</strong> ruido, la implantación <strong>de</strong> planes <strong>de</strong> acción para la prevención y el control<br />

<strong>de</strong>l ruido es <strong>de</strong> carácter voluntario, asíel problema <strong>de</strong> la contaminación sonora alcanza<br />

límites casi intolerables en las gran<strong>de</strong>s ciuda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>l país.<br />

La ciudad <strong>de</strong> Belém tiene ya, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> el 2004, el mapa acústico <strong>de</strong> la ciudad (MAB)<br />

elaborado por el método <strong>de</strong> medición “in situ”. El MAB ha tenido un gran alcance político<br />

y social en el país, a<strong>de</strong>más, el diagnostico <strong>de</strong> los niveles <strong>de</strong> ruido en los barrios <strong>de</strong> la 1ª<br />

Legua Patrimonial <strong>de</strong> Belém, ha provocado el reconocimiento <strong>de</strong> su importancia para la<br />

preservación <strong>de</strong>l ambiente urbano.<br />

No obstante, la elaboración <strong>de</strong>l MAB no ha sido una tarea sencilla. El alto costo<br />

y el laborioso método <strong>de</strong> mediciones adoptado no hacen viable su actualización o<br />

ampliación. Por este motivo se lo ha actualizado a través <strong>de</strong>l método <strong>de</strong> cálculo <strong>de</strong><br />

predicción. En este artículo se presenta dicho método.<br />

1.1 ÁREA DE ESTUDIO<br />

La ciudad <strong>de</strong> Belém es la capital <strong>de</strong>l Estado <strong>de</strong>l Pará, está situada en la región<br />

Norte <strong>de</strong> Brasil en la parte septentrional <strong>de</strong> la Amazonía brasileña, a 1 o 28" latitud sur,<br />

48 o 27" longitud oeste y 24 metros <strong>de</strong> altitud por encima <strong>de</strong>l nivel <strong>de</strong>l mar. Segundo<br />

Nascimento (1995), <strong>de</strong>bido a que Belém está en la zona ecuatorial húmeda su clima se<br />

caracteriza por altas temperaturas, vientos con poca velocidad, intercalados con calmas<br />

frecuentes, altos índices <strong>de</strong> humedad relativa <strong>de</strong>l aire y abundantes precipitaciones.<br />

A<strong>de</strong>más, <strong>de</strong>bido a su baja latitud, la radiación solar inci<strong>de</strong> en planos prácticamente<br />

verticales durante todo el año, elevando, así, el calor. No hay gran<strong>de</strong>s variaciones<br />

estacionaria térmicas, es <strong>de</strong>cir, la amplitud térmica es tan pequeña que casi no <strong>de</strong>termina<br />

diferencias entre el periodo cálido y frío.<br />

La población total <strong>de</strong> la ciudad es <strong>de</strong> aproximadamente 1.4007, 000 habitantes.<br />

El área <strong>de</strong> estudio <strong>de</strong>l MAB ha sido 1ª Legua Patrimonial <strong>de</strong> Belém, el área involucra los<br />

barrios céntricos <strong>de</strong> la ciudad y correspon<strong>de</strong> a la mitad <strong>de</strong> la población total <strong>de</strong> municipio,<br />

teniendo alre<strong>de</strong>dor <strong>de</strong> 800.000 personas.<br />

La figura 1, abajo, ilustra la Región Metropolitana <strong>de</strong> Belém y <strong>de</strong>staca el área <strong>de</strong><br />

estudio, la 1ª Legua Patrimonial <strong>de</strong> la ciudad.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 9-17, <strong>de</strong>z. 2009


11<br />

Figura 1: Mapa <strong>de</strong> la Región Metropolitana <strong>de</strong> Belém con la<br />

<strong>de</strong>marcación <strong>de</strong> la 1ª Legua Patrimonial.<br />

2 MÉTODO DE CÁLCULO DEL MAPA ACÚSTICO DE BELÉM<br />

Para el <strong>de</strong>sarrollo <strong>de</strong>l proyecto se han revisado los métodos <strong>de</strong> previsión<br />

adoptados en estudios científicos en España y en otros países.<br />

Para el cálculo predictivo se ha utilizado el Software Predictor V. 5.4 (Brüel &<br />

Kjaer), diseñado para la evaluación y predicción <strong>de</strong> la contaminación acústica generada<br />

por diferentes fuentes <strong>de</strong> ruido. El software está diseñado para investigar el resultado<br />

<strong>de</strong> varias hipótesis sobre las medidas <strong>de</strong>l control <strong>de</strong>l ruido y para organizar los datos <strong>de</strong><br />

forma que se facilite su uso efectivo y continuado.<br />

Se ha adoptado el método ISO 9613.1/2 (Road Traffic) por ser el que mejor se<br />

adapta a las necesida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>l estudio que se ha realizado, y por permitir la introducción<br />

<strong>de</strong> los valores <strong>de</strong> las variables climáticas (temperatura <strong>de</strong> aire, humedad relativa y<br />

presión atmosférica), algo muy importante en nuestro caso. Las normas usadas en el<br />

módulo <strong>de</strong> tráfico rodado son:<br />

la ISO 9613.1/2 (Road Traffic) el Predictor calcula el nivel sonoro a partir <strong>de</strong> la fórmula:<br />

L lt,per<br />

= L dw<br />

– C m<br />

(1)<br />

L dw<br />

= L w<br />

– r – A (2)<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 9-17, <strong>de</strong>z. 2009


12<br />

L lt,per<br />

= Nivel, en 1/3 <strong>de</strong> octava, a largo plazo en dB(A) durante el o periodo <strong>de</strong> evaluación.<br />

C m<br />

= Corrección <strong>de</strong>bido a las variables meteorológica en dB.<br />

L dw<br />

= Nivel continuo equivalente por acción <strong>de</strong>l viento, en 1/3 <strong>de</strong> octava. NPS en dB.<br />

L w<br />

= Nivel <strong>de</strong> potencia acústica sonoro <strong>de</strong> la fuente en dB por 1/3 <strong>de</strong> octava.<br />

r = Reducción <strong>de</strong>finida por el usuario en dB por 1/3 <strong>de</strong> octava.<br />

A = Atenuación en dB por banda <strong>de</strong> 1/3 <strong>de</strong> octava.<br />

La atenuación A es calculada a partir <strong>de</strong>:<br />

A = D c<br />

+ A d<br />

(3)<br />

D c<br />

= Corrección por directividad en dB.<br />

A d<br />

= Atenuación sonora <strong>de</strong>bida a distintos efectos geográficos, como distancia; absorción<br />

en el seno <strong>de</strong>l aire; presencia <strong>de</strong> obstáculos; efecto <strong>de</strong>l suelo; etc. D por 1/3 <strong>de</strong> octava.<br />

2.1 MODELO UTILIZADO<br />

Para la realización <strong>de</strong> la predicción se ha introducido, en un mo<strong>de</strong>lo virtual 3D<br />

(Figura 2), todos los elementos relevantes en la propagación <strong>de</strong>l sonido en el espacio<br />

abierto. Para ello se ha importado la base cartográfica <strong>de</strong> área <strong>de</strong> actuación <strong>de</strong>s<strong>de</strong> el<br />

programa Autocad al software Predictor consi<strong>de</strong>rando todos los elementos que dan<br />

lugar a la ciudad: la topografía <strong>de</strong>l terreno; las edificaciones (introduciendo la altura <strong>de</strong><br />

los edificios); la fuente <strong>de</strong> ruido por categoría <strong>de</strong> vehículos (en este caso el ruido <strong>de</strong><br />

tráfico rodado), a<strong>de</strong>más <strong>de</strong> otros factores importantes como el tipo <strong>de</strong> asfalto y las<br />

variables meteorológicas.<br />

Respecto a la introducción <strong>de</strong> la topografía <strong>de</strong>l terreno se ha utilizado las curvas<br />

<strong>de</strong> nivel representadas en la cartografía original facilitada por la Compañía <strong>de</strong><br />

Administración <strong>de</strong> la Región Metropolitana <strong>de</strong> Belém - CODEM.<br />

Para la inserción <strong>de</strong> las edificaciones, la forma y la altura <strong>de</strong> cada edificio ha sido<br />

<strong>de</strong>finida a partir <strong>de</strong> la base cartográfica indicada anteriormente. La referida base ha sido<br />

actualizada a partir <strong>de</strong> las fotografías generadas por satélite, disponibles en la página<br />

web <strong>de</strong>l Google Earth y <strong>de</strong> visitas “in situ”.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 9-17, <strong>de</strong>z. 2009


13<br />

Figura 2: Mo<strong>de</strong>lo 3D <strong>de</strong> la ciudad <strong>de</strong> Belém.<br />

Respecto a la <strong>de</strong>terminación <strong>de</strong> los aforos <strong>de</strong>l tráfico (fuente <strong>de</strong> ruido consi<strong>de</strong>rada),<br />

<strong>de</strong>bido a la escasa información sobre el número <strong>de</strong> vehículos, por calles, en la ciudad, se<br />

ha tenido en cuenta el conteo realizado por el Plan para el Desarrollo <strong>de</strong>l Transporte<br />

Urbano <strong>de</strong> Belém (PDTU 2001), en algunas <strong>de</strong> las principales vías <strong>de</strong> tráfico, y el conteo<br />

llevado a cabo por la Compañía <strong>de</strong> Trasportes Urbano <strong>de</strong> Belém (CTBEL) en ciertas esquinas<br />

<strong>de</strong> gran flujo <strong>de</strong> vehículos. En ambos casos los datos no eran suficientes para caracterizar<br />

toda la zona <strong>de</strong> estudio, <strong>de</strong> modo que, se ha <strong>de</strong>sarrollado una estrategia <strong>de</strong> extrapolación<br />

<strong>de</strong> los datos a las zonas carentes <strong>de</strong> la información necesaria.<br />

La extrapolación consiste en utilizar el valor <strong>de</strong>l nivel <strong>de</strong> presión sonora en los<br />

puntos medidos como el parámetro <strong>de</strong> ajuste. Es <strong>de</strong>cir, en las calles en que se conocía el<br />

nivel <strong>de</strong> presión sonora, el número <strong>de</strong> coches, las características físicas (ancho, tipo <strong>de</strong><br />

asfalto, altura media <strong>de</strong> los edificios) y el tipo <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> la vía (resi<strong>de</strong>ncial, comercial,<br />

mixta) se ha estipulado una categoría <strong>de</strong> calle, con lo cual, otras calles con características<br />

similares se les ha asignado un número <strong>de</strong> coches similares.<br />

A parte <strong>de</strong> lo expuesto, y para comprobar la fiabilidad <strong>de</strong> la extrapolación, han<br />

sido realizados nuevos conteos manuales en algunos puntos importantes <strong>de</strong> la ciudad.<br />

El cálculo <strong>de</strong> los niveles <strong>de</strong> ruido en las calles don<strong>de</strong> están los puntos <strong>de</strong> medición<br />

ha sido ajustado procurando que el error, con respecto a las medidas, estuviese acotado<br />

en ± 2 dBA.<br />

La estrategia <strong>de</strong> extrapolación ha sido probada en todos los puntos <strong>de</strong> medición<br />

localizados en las vías públicas. El resultado <strong>de</strong> la extrapolación ha sido muy satisfactorio,<br />

o sea, un 95% <strong>de</strong> los locales consi<strong>de</strong>rados tienen niveles sonoros medidos y calculados<br />

que no difieren <strong>de</strong> ± 2 dBA.<br />

En la figura 3, abajo, se pu<strong>de</strong> ver el grado resumen con los resultados <strong>de</strong> la<br />

extrapolación.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 9-17, <strong>de</strong>z. 2009


14<br />

Figura 3: Gráfica con las diferencias (en dB) entre niveles medidos y calculados.<br />

Para el cálculos <strong>de</strong> la absorción <strong>de</strong>l aire, en función <strong>de</strong> la influencia <strong>de</strong> las<br />

condicionantes meteorológicas, se ha consi<strong>de</strong>rado una temperatura <strong>de</strong>l aire media <strong>de</strong><br />

301 K (28ºC), humedad relativa <strong>de</strong> 85% y presión atmosférica <strong>de</strong> 101,33 kPa. El cálculo ha<br />

sido realizado consi<strong>de</strong>rando un radio máximo <strong>de</strong> búsqueda <strong>de</strong> fuente a 500 metros <strong>de</strong>l<br />

punto <strong>de</strong> cálculo (micrófono).<br />

Para la realización <strong>de</strong>l cálculo el nivel <strong>de</strong> ruido consi<strong>de</strong>rado ha sido el Nivel<br />

Equivalente Día L D<br />

(7–20h) en dB, es <strong>de</strong>cir, los niveles sonoros medidos entre las 7 <strong>de</strong> la<br />

mañana y las 8 <strong>de</strong> la noche. Se ha elegido una malla <strong>de</strong> 20X20 metros, amuestra, lo que<br />

ofrece una gran <strong>de</strong>finición <strong>de</strong>l campo <strong>de</strong> niveles calculados dado el tamaño <strong>de</strong> la ciudad.<br />

El micrófono ha sido situado a una altura <strong>de</strong> 1,50 metros <strong>de</strong>l suelo, igualmente a la altura<br />

<strong>de</strong> los micrófonos <strong>de</strong> medición in situ.<br />

3 RESULTADOS<br />

Debido a la gran<strong>de</strong> dimensión <strong>de</strong>l área <strong>de</strong> estudio y el tiempo <strong>de</strong>l cálculo, se ha<br />

tenido que dividir la ciudad por zonas, para la mejor interpretación <strong>de</strong> los datos se la ha<br />

divido por barrios y se han calculados un a uno por separado. Se ha obtenido, así, el<br />

mapa <strong>de</strong> ruidos <strong>de</strong> curvas isofónicas para cada barrio <strong>de</strong> la ciudad <strong>de</strong> Belém.<br />

Así, han sido creados 18 mapas acústicos, correspondientes a cada barrio<br />

analizado, con los niveles equivalentes Día L Day(7-20),<br />

adoptado como el periodo diurno.<br />

El barrio <strong>de</strong> Nazaré ha sido diagnosticado cómo el que tienen los mayores niveles<br />

<strong>de</strong> ruido <strong>de</strong> tráfico. La ubicación <strong>de</strong>l barrio, añadido al hecho <strong>de</strong> estar cortado por el eje<br />

que conecta el centro con las vías <strong>de</strong> entrada y salida <strong>de</strong> la ciudad, son algunos <strong>de</strong> los<br />

motivos que lo llevan a tener altos niveles sonoros.<br />

En la figura 4 se ilustra el mapa acústico calculado por el software Predictor <strong>de</strong>l<br />

barrio <strong>de</strong> Nazaré, en formato 3D.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 9-17, <strong>de</strong>z. 2009


15<br />

Figura 4: Mapa acústico calculado <strong>de</strong>l barrio <strong>de</strong> Nazaré, en 3D.<br />

El barrio <strong>de</strong> Montese (Terra Firme), es un barrio periférico <strong>de</strong> Belém, aunque<br />

tenga la gran<strong>de</strong> mayoría <strong>de</strong> las vías pavimentadas, el flujo <strong>de</strong> vehículos es<br />

predominantemente local y los vehículos circulan en baja velocidad, lo que contribuye<br />

para la conservación <strong>de</strong> los bajos niveles <strong>de</strong> ruido <strong>de</strong> tráfico.<br />

La figura 5 abajo ilustra el mapa acústico <strong>de</strong>l barrio <strong>de</strong> Montese (Terra Firme),<br />

calculado por el Predictor y presentado en formato 3D.<br />

Figura 5: Mapa acústico calculado <strong>de</strong>l Montese, en 3D.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 9-17, <strong>de</strong>z. 2009


16<br />

Con los mapas <strong>de</strong> los barrios calculados se ha podido generar el mapa acústico<br />

general <strong>de</strong> Belém. Para eso, se ha vuelto a unir los mapas <strong>de</strong> los barrios calculados a<br />

través <strong>de</strong> un sistema <strong>de</strong> información geográfica (SIG), el resultado se pue<strong>de</strong> ver ilustrado<br />

en la figura 6 a continuación.<br />

Figura 6: Mapa Acústico <strong>de</strong> Belém calculado en Predictor y creado en rqview.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 9-17, <strong>de</strong>z. 2009


17<br />

REFERÊNCIAS<br />

DIRETIVA 2002/49/CE <strong>de</strong>l Parlamento Europeo y <strong>de</strong>l Consejo <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> junio <strong>de</strong> 2002<br />

sobre evaluación y gestión <strong>de</strong>l ruido ambiental, y la posterior recomendación <strong>de</strong> la<br />

comisión <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2003 relativa a las orientaciones sobre los métodos <strong>de</strong><br />

cálculo provisionales. Bruselas: Parlamento Europeo, 2002.<br />

MORAES, Elcione; LARA, Neyla. Mapa acústico <strong>de</strong> Belém. Belém: Fi<strong>de</strong>sa, 2004. Relatório<br />

<strong>de</strong> Pesquisa.<br />

NASCIMENTO, Cicerino Cabral do. Clima e morfologia urbana em Belém. Belém: UFPA.<br />

NUMA, Centro Tecnológico, 1995. 160p. (Dissertação <strong>de</strong> Mestrado).<br />

PLANO DIRETOR PARA O TRANSPORTE URBANO DE BELÉM. Belém: Companhia <strong>de</strong><br />

Habitação do Estado do Pará, 2001.<br />

Software Predictor Versión 5.4 y 6. Brüel & Kjaer.<br />

Software ArcGis, ArcMap, versión 9.2. Desktop.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 9-17, <strong>de</strong>z. 2009


18<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 23, p. 17-31, jun. 2009


19<br />

INFLUÊNCIA DOS RESÍDUOS DE DICOTILEDÔNEAS NA RESISTÊNCIA<br />

À COMPRESSÃO DE COMPÓSITOS CIMENTO-MADEIRA<br />

Alexandre Martins <strong>de</strong> Lima *<br />

RESUMO<br />

No presente trabalho <strong>de</strong> pesquisa analisou-se o efeito da presença <strong>de</strong> resíduos <strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ira provenientes <strong>de</strong> argamassas à base <strong>de</strong> cimento Portland. As partículas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira<br />

empregadas na presente pesquisa são resíduos <strong>de</strong> várias espécies <strong>de</strong> dicotiledôneas,<br />

coletados em serrarias da Zona Metropolitana <strong>de</strong> Belém. Adotou-se no programa<br />

experimental a secagem em estufa como único tratamento para os resíduos. O aporte<br />

inicial da pesquisa foi o levantamento do referencial teórico como suporte para o programa<br />

experimental. Em seguida, os materiais constituintes do compósito foram caracterizados<br />

segundo métodos prescritos pelas Normas Brasileiras; e, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> homogeneizados,<br />

foram conduzidos ensaios no estado fresco. Os ensaios no estado endurecido<br />

foram conduzidos <strong>de</strong> forma tal que a característica mecânica observada para a avaliação<br />

do efeito dos referidos tratamentos foi a resistência à compressão. Os resultados <strong>de</strong><br />

tensão na compressão indicaram que os resíduos utilizados são bastante inibitórios à<br />

hidratação da matriz <strong>de</strong> cimento, bem como influenciam negativamente na resistência<br />

à compressão.<br />

Palavras-Chave: Resíduos. Compósito. Cimento. Compressão.<br />

INFLUENCE OF DICOTILEDOEAE RESIDUES IN TENSILE STRENGTH<br />

OF WOOD-CEMENT COMPOSITES<br />

ABSTRACT<br />

In the present research work the effect of the presence of coming wood residues was<br />

analyzed in mortars the base of cement portland. The employed wood particles in the<br />

present research are residues of several hardwood species, collected at sawmills of the<br />

Metropolitan Area of Belém. It was adopted in the experimental program the drying in<br />

greenhouse as only treatment for the residues. The initial contribution of the research<br />

was the rising of the theoretical references as support for the experimental program.<br />

Soon afterwards, the constituent materials of the composite were characterized according<br />

to methods prescribed by the Brazilian Norms; and after having homogenized, rehearsals<br />

were driven in the fresh state. The rehearsals in the har<strong>de</strong>ned state were driven in<br />

a such way that the mechanical characteristic observed for the evaluation of the effect of<br />

* Arquiteto e Urbanista - UFPA. Msc. em Engenharia Civil - PPGEC-UFPA. Doutorando do Programa <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />

Sustentável no Trópico Úmido – PDTU-NAEA-UFPA (alexandre_lima@unama.br). Bolsista da FIDESA<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 19-31, <strong>de</strong>z. 2009


20<br />

the referred treatments was the resistance to the compression. The tension results in the<br />

compression indicated that the used residues inhibits to the hydration of the cement<br />

head office, as well as they influence the resistance negatively to the compression.<br />

Keywords: Residues. Composites. Cement. Compression.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

A utilização <strong>de</strong> biomassa vegetal permeou o <strong>de</strong>senvolvimento da gran<strong>de</strong> maioria<br />

das socieda<strong>de</strong>s humanas, mesmo naquelas em que a situação geográfica não era<br />

favorável a sua obtenção. Em verda<strong>de</strong>, o uso <strong>de</strong>ste insumo data <strong>de</strong> muito tempo. A<br />

historiografia é pródiga em evi<strong>de</strong>nciar que os povos egípcios já utilizavam fibras, como<br />

a palha e o papiro, para reduzir a presença <strong>de</strong> fissuras em tijolos <strong>de</strong> adobe e torná-los<br />

mais resistentes e leves. No cenário contemporâneo nacional, a biomassa vegetal encontra<br />

gran<strong>de</strong> aplicabilida<strong>de</strong>, como na construção civil (em fôrmas para concreto, pontaletes,<br />

escoras, peças estruturais das mais variadas or<strong>de</strong>ns, revestimento <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>,<br />

piso e forro, esquadrias etc.), e na indústria moveleira (mobiliários <strong>de</strong> sala, dormitórios,<br />

cozinhas etc.).<br />

Nas indústrias <strong>de</strong> beneficiamento das ma<strong>de</strong>iras extraídas (serrarias, indústrias<br />

moveleiras e indústrias <strong>de</strong> transformação) o baixo nível <strong>de</strong> aproveitamento do material<br />

é preocupante, pois a média <strong>de</strong> rendimento das serrarias gira em torno <strong>de</strong> 50% em<br />

volume, e o restante é transformado em resíduos, tornando-se verda<strong>de</strong>iros transtornos<br />

para a operacionalida<strong>de</strong> nos pátios <strong>de</strong> serrarias e empresas ma<strong>de</strong>ireiras (UHL et al,<br />

1991). A <strong>de</strong>speito <strong>de</strong>ste quadro geral não muito favorável ao reaproveitamento dos<br />

resíduos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, atualmente no Brasil, trabalhos <strong>de</strong>senvolvidos por pesquisadores<br />

como Beraldo et al (1996) e Savastano (2000) apontam a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uso da ma<strong>de</strong>ira<br />

mesmo na forma <strong>de</strong> resíduo.<br />

Com efeito, o resíduo <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira po<strong>de</strong> ser utilizado para fabricação <strong>de</strong> painéis<br />

prensados, ou mesmo como reforço, quando associado a aglomerantes minerais (SAR-<br />

MIENTO e FREIRE, 1996). Quando esta associação <strong>de</strong> fibras ou partículas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira é<br />

feita com uma matriz <strong>de</strong> cimento Portland, produz-se um material compósito comumente<br />

<strong>de</strong>nominado cimento-ma<strong>de</strong>ira. O compósito cimento-ma<strong>de</strong>ira é um dos poucos<br />

materiais estruturais efetivamente resistentes a incêndios e à <strong>de</strong>gradação por influência<br />

do meio ou por ação <strong>de</strong> xilófagos, uma vez que a matriz cimentante envolve a parte<br />

frágil, que é a ma<strong>de</strong>ira. Seu peso relativamente mais baixo e suas capacida<strong>de</strong>s como<br />

isolante termo-acústico (características oriundas, basicamente, dos vazios encontrados<br />

nos lumens das células vegetais) tornam este material potencialmente atraente ao uso<br />

na construção civil, seja para uso em painéis divisórios, placas, enchimentos, telhas, ou<br />

mesmo em argamassas.<br />

Contudo, mesmo apresentando potencial <strong>de</strong> uso, para se obter uma boa interação<br />

entre a biomassa vegetal e o aglomerante, é <strong>de</strong> fundamental importância consi<strong>de</strong>rar<br />

não só a espécie botânica dos resíduos, sua morfologia, arquitetura, comportamen-<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 19-31, <strong>de</strong>z. 2009


21<br />

tos físicos e químicos, mas também o tipo <strong>de</strong> cimento utilizado. Assim, nos últimos<br />

anos, pesquisas, produção e utilização <strong>de</strong> compósitos à base <strong>de</strong> resíduos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira<br />

têm sido fomentadas no Brasil, proporcionando avanço notável no <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong>ste novo material, já que o interesse neste compósito não é mais tão restrito ao<br />

âmbito científico–acadêmico. Partindo <strong>de</strong>stas condições <strong>de</strong> contorno, o presente trabalho<br />

atenta para o potencial aproveitamento dos resíduos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>iras da Região Amazônica,<br />

através da verificação da <strong>de</strong>preciação no comportamento mecânico à compressão<br />

do compósito cimento-ma<strong>de</strong>ira.<br />

2 MATERIAIS E MÉTODOS<br />

2.1 AGLOMERANTE MINERAL<br />

O aglomerante mineral utilizado no presente programa experimental é, segundo<br />

a NBR 11578 (ABNT, 1991), classificado como cimento Portland composto com pozolana<br />

(CP II – Z), com mediana resistência a sulfatos, da classe <strong>de</strong> resistência à compressão<br />

32, que representa a resistência mínima à compressão que o aglomerante atinge,<br />

em MPa, aos 28 dias <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. O cimento utilizado apresenta-se <strong>de</strong> conformida<strong>de</strong> com<br />

a NBR 11578.<br />

2.2 RESÍDUO (MADEIRA)<br />

Os resíduos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira foram coletados em pátio <strong>de</strong> marcenaria da zona metropolitana<br />

<strong>de</strong> Belém, especificamente no bairro do Guamá, em três gran<strong>de</strong>s sacas plásticas<br />

<strong>de</strong> 50kg. Os resíduos produzidos pelas máquinas são dispostos em montes <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nados<br />

ao longo da própria área <strong>de</strong> trabalho, fazendo com que os resíduos produzidos<br />

sejam variegados, tanto por espécie quanto por sua granulometria. Os resíduos coletados<br />

foram classificados nos Laboratórios da Empresa Brasileira <strong>de</strong> Pesquisas Agropecuárias<br />

(EMBRAPA-PA), e as espécies encontradas estão apresentadas na tabela 1.<br />

Tabela 1: Relação das espécies botânicas dos resíduos coletados (EMBRAPA, 2005).<br />

Espécies<br />

Nome Científico<br />

Simarouba Amara<br />

Euxilophora Paraensis<br />

Hymenolobuim cf. Excelsum<br />

Cedrela Odorata<br />

Astronium sp.<br />

Carapa guianensis<br />

Diplotropis sp.<br />

Nectandra Rubra<br />

Sextonia Rubra<br />

Espécies<br />

Nome Vulgar<br />

Marupá<br />

Pau-amarelo<br />

Angelim-pedra<br />

Cedro<br />

Muiracatiara<br />

Andiroba<br />

Sucupira<br />

Louro-rosa<br />

Louro-vermelho<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 19-31, <strong>de</strong>z. 2009


22<br />

Após coleta e classificação, os resíduos foram secos em estufa por 24 horas sob<br />

temperatura controlada <strong>de</strong> 90ºC, como po<strong>de</strong> ser visto na figura 1. Este tipo <strong>de</strong> tratamento<br />

tem por finalida<strong>de</strong> básica diminuir a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água, e eventualmente alguma<br />

parcela dos extrativos presentes nos lumens celulares dos resíduos, <strong>de</strong> forma tal que<br />

seu teor <strong>de</strong> umida<strong>de</strong> tenha atingido seu ponto <strong>de</strong> equilíbrio. Após secagem em estufa,<br />

proce<strong>de</strong>u-se sua caracterização granulométrica, observada pela tabela 1, e sua curva<br />

granulométrica, observada na figura 2.<br />

Figura 1: Retirada do resíduo <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira da estufa após<br />

secagem sob temperatura controlada.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 19-31, <strong>de</strong>z. 2009


23<br />

Tabela 2: Distribuição granulométrica do resíduo <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira após secagem em estufa.<br />

Figura 2: Curva granulométrica do resíduo <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira seco em estufa (SE).<br />

2.3 AREIA<br />

O programa experimental da presente pesquisa utilizou uma areia oriunda do<br />

município <strong>de</strong> Ourém, distante aproximados 140 km da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Belém; a mesma foi<br />

fracionada em sacos <strong>de</strong> 25kg e conduzida ao Laboratório <strong>de</strong> Engenharia Civil da UFPA. Os<br />

ensaios <strong>de</strong> caracterização da areia estão apresentados na tabela 3, bem como suas respectivas<br />

normas.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 19-31, <strong>de</strong>z. 2009


24<br />

Tabela 3: Resultado dos Ensaios <strong>de</strong> Caracterização da areia utilizada no programa<br />

experimental.<br />

Ensaios <strong>de</strong> Caracterização – Areia <strong>de</strong> Ourém-PA<br />

Módulo <strong>de</strong> finuraNBR 7217 (ABNT, 1987)<br />

2,30Areia fina<br />

Massa específicaNBR 9776 (ABNT, 1987) 2,65 kg/dm 3<br />

Massa unitáriaNBR 7251 (ABNT, 1982) 1,52 kg/dm 3<br />

Umida<strong>de</strong> críticaNBR 6467 (ABNT, 1987) 2,95%<br />

Teor <strong>de</strong> resíduo orgânicoNBR 7220 (ABNT, 1987)<br />

Aceitável<br />

A caracterização granulométrica da areia está apresentada na tabela 4, e a curva<br />

granulométrica po<strong>de</strong> ser vista na figura 3.<br />

Tabela 4: Granulometria da areia proveniente <strong>de</strong> Ourém-PA.<br />

Figura 3: Curva granulométrica da areia utilizada no programa experimental.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 19-31, <strong>de</strong>z. 2009


25<br />

2.4 ADITIVO<br />

O aditivo utilizado no programa experimental é uma tipologia <strong>de</strong> acelerador<br />

sem cloretos, formulado para acelerar o tempo <strong>de</strong> pega e aumentar as resistências<br />

iniciais e finais <strong>de</strong> concretos e pastas <strong>de</strong> cimento; o aditivo utilizado apresenta, conforme<br />

especificação do fabricante, <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1,39 a 1,43 g/cm 3 .<br />

3 PROGRAMA EXPERIMENTAL<br />

Para os ensaios preliminares com o compósito cimento-ma<strong>de</strong>ira, foi necessário,<br />

em primeira instância, estabelecer as proporções dos materiais constituintes. Para tanto,<br />

a pesquisa com compósito cimento-ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>senvolvida por Fonseca e Lima (2002)<br />

apresentou vasto referencial, principalmente no que se refere à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uso <strong>de</strong><br />

aditivo acelerador e adição <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira em massa, em substituição a igual massa <strong>de</strong><br />

areia. A tabela 5 apresenta as proporções adotadas para os materiais constituintes do<br />

compósito.<br />

Tabela 5: Resumo da composição dos traços moldados<br />

Para cada um dos traços consi<strong>de</strong>rados foram moldados 6 conjuntos com 4 corpos<br />

<strong>de</strong> prova cada, e cada conjunto foi rompido em ida<strong>de</strong>s específicas <strong>de</strong> 1, 3, 7, 14, 21 e 28<br />

dias. A moldagem dos CPC’s <strong>de</strong> 50mm x 100mm, para execução dos ensaios <strong>de</strong>strutivos<br />

dos compósitos no ensaio endurecido, foi realizada <strong>de</strong> acordo com a NBR-7215 (ABNT,<br />

1996); foi utilizado o processo <strong>de</strong> cura úmida, por imersão dos corpos <strong>de</strong> prova em<br />

solução <strong>de</strong> água e cal. O rompimento dos corpos <strong>de</strong> prova foi feito aos 28 dias <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>,<br />

com capeamento <strong>de</strong> enxofre.<br />

4 RESULTADOS<br />

4.1 RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO<br />

Para melhor analisar a <strong>de</strong>preciação no comportamento à compressão dos compósitos<br />

cimento-ma<strong>de</strong>ira, fez-se necessária a confecção <strong>de</strong> uma mistura <strong>de</strong> referência,<br />

fixando variáveis como quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aditivo, traço e relação a/c, que também foram<br />

empregadas na mistura cimento-ma<strong>de</strong>ira. A tabela 6 mostra as tensões <strong>de</strong> ruptura para<br />

os corpos <strong>de</strong> prova moldados com o traço TP. A tabela 7 mostra a tensão média <strong>de</strong><br />

ruptura para cada data <strong>de</strong> rompimento.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 19-31, <strong>de</strong>z. 2009


26<br />

Tabela 6: Valores das tensões <strong>de</strong> ruptura para ida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> rompimento da mistura TP.<br />

Tabela 7: Valores das médias das tensões <strong>de</strong> ruptura para ida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> rompimento da mistura TP.<br />

A tabela 8 mostra os valores das tensões <strong>de</strong> ruptura para a mistura SE, e a tabela<br />

9 mostra a tensão média <strong>de</strong> ruptura para cada uma das ida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> rompimento do traço<br />

SE. A figura 4 apresenta o gráfico <strong>de</strong> tensão <strong>de</strong> ruptura para a mistura para o traço TP.<br />

Observa-se um crescente aumento <strong>de</strong> resistência durante as primeiras 24 horas <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> o TP já apresenta bom nível <strong>de</strong> resistência à ruptura. A partir da ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 21<br />

dias as tensões <strong>de</strong> ruptura ten<strong>de</strong>nciam a uma estabilização. A média <strong>de</strong> tensão <strong>de</strong> ruptura<br />

para 28 dias <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, para o TP, foi <strong>de</strong> 41,00 MPa, com variância da amostra <strong>de</strong><br />

5,49%. O gráfico mostra barras verticais, correspon<strong>de</strong>ndo ao <strong>de</strong>svio padrão dos valores<br />

obtidos para cada ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> rompimento.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 19-31, <strong>de</strong>z. 2009


27<br />

Figura 4: Gráfico <strong>de</strong> tensão <strong>de</strong> ruptura para a mistura TP.<br />

O gráfico <strong>de</strong> tensão <strong>de</strong> ruptura para o traço TP apresenta uma curva logarítmica<br />

que <strong>de</strong>screve, teoricamente, o comportamento <strong>de</strong> variação da tensão <strong>de</strong> ruptura em<br />

função das ida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> rompimento observado na curva do mo<strong>de</strong>lo experimental do<br />

fenômeno em questão. A curva logarítmica é o mo<strong>de</strong>lo que apresenta maior proximida<strong>de</strong><br />

com o comportamento <strong>de</strong> aumento <strong>de</strong> resistência à compressão observado na argamassa,<br />

uma vez que após 28 dias, é possível assumir que o aumento <strong>de</strong> resistência é<br />

ínfimo, o que faz a curva <strong>de</strong>screver um comportamento relativamente estável.<br />

A tabela 8 mostra os valores das tensões <strong>de</strong> ruptura para a mistura SE, e a tabela 9<br />

mostra a tensão média <strong>de</strong> ruptura para cada uma das ida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> rompimento do traço SE.<br />

Tabela 8: Valores das tensões <strong>de</strong> ruptura para ida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> rompimento da mistura SE.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 19-31, <strong>de</strong>z. 2009


28<br />

Tabela 9: Valores das médias das tensões <strong>de</strong> ruptura para<br />

ida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> rompimento da mistura SE.<br />

A figura 5 apresenta o gráfico gerado a partir dos valores das tensões <strong>de</strong> ruptura<br />

do traço SE. A curva observada no gráfico mostra o aumento das tensões <strong>de</strong> ruptura da<br />

argamassa compósita, e, o <strong>de</strong>svio padrão das tensões <strong>de</strong> ruptura para cada ida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

rompimento. A mo<strong>de</strong>lagem do fenômeno, como função logarítmica, é bastante próxima<br />

do comportamento experimental, o que é ratificado pelo coeficiente <strong>de</strong> correlação,<br />

que atingiu valor próximo à unida<strong>de</strong>, exceto para as tensões <strong>de</strong> ruptura aos 14 dias.<br />

Figura 5: Gráfico <strong>de</strong> tensão <strong>de</strong> ruptura para a mistura SE.<br />

4.2 COMPARATIVO DOS TRAÇOS MOLDADOS<br />

Torna-se mais perceptível, através da figura 6, o efeito nocivo das partículas <strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ira na resistência à compressão do compósito, on<strong>de</strong> se observa existência <strong>de</strong> duas<br />

faixas distintas <strong>de</strong> comportamento, on<strong>de</strong> uma faixa concerne ao TP, e a outra, referente<br />

ao traço compósito.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 19-31, <strong>de</strong>z. 2009


29<br />

Figura 6: Gráfico comparativo <strong>de</strong> tensão <strong>de</strong> ruptura para os traços moldados.<br />

Existem algumas possíveis razões que explicam a <strong>perda</strong> <strong>de</strong> resistência à compressão<br />

em compósitos cimento-ma<strong>de</strong>ira, geralmente ligadas à absorção <strong>de</strong> água pelas<br />

fibras e partículas e posterior liberação na argamassa. Conforme relatado por Savastano<br />

(SAVASTANO et al, 1994), a água, após contato com as fibras ou partículas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, é<br />

liberada na matriz <strong>de</strong> cimento juntamente com extrativos, <strong>de</strong>ntre eles, fenóis, taninos<br />

e açúcares, que contribuem sobremaneira para o retardo na reação <strong>de</strong> pega e endurecimento<br />

da matriz.<br />

Esta mesma água, ao ser liberada <strong>de</strong> volta à matriz, sendo envolvida por uma<br />

película <strong>de</strong> água (efeito pare<strong>de</strong>), aumentando a porosida<strong>de</strong> da zona <strong>de</strong> transição, o que<br />

favorece o acúmulo <strong>de</strong> cálcio nesta mesma zona, tornando-a mais frágil e suscetível a<br />

fissuras. A referida pesquisa segue verificando que as fibras <strong>de</strong> maiores dimensões<br />

exercem maior atração sobre a água da pasta. Por conseguinte, a relação a/c nas imediações<br />

das fibras <strong>de</strong> maior dimensão é gran<strong>de</strong>, o que aponta para zonas <strong>de</strong> transição<br />

menos <strong>de</strong>nsas.<br />

Associado ao exposto existe ainda o fenômeno do enfenamento, causando não<br />

só uma sensível variação dimensional nas fibras e partículas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, mas também<br />

gerando vazios na matriz, o que reduz sua resistência mecânica. As pesquisas <strong>de</strong>senvolvidas<br />

por Agopyan e Savastano (1998) mostraram que os vazios entre a matriz e as fibras,<br />

em conjunto com uma zona <strong>de</strong> transição porosa e frágil, acabam direcionando a evolução<br />

das fissuras em função <strong>de</strong> sua baixa resistência.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 19-31, <strong>de</strong>z. 2009


30<br />

5 CONCLUSÕES<br />

5.1 TRAÇO TP<br />

Os resultados obtidos para o traço piloto já eram esperados, pois o comportamento<br />

verificado no aumento <strong>de</strong> tensões <strong>de</strong> ruptura para o referido traço é bastante<br />

característico <strong>de</strong> argamassas <strong>de</strong> cimento-areia. O efeito do aditivo acelerador <strong>de</strong> pega é<br />

observado pelos valores <strong>de</strong> resistência à ruptura nas primeiras ida<strong>de</strong>s (1 dia), o que<br />

torna esta tipologia <strong>de</strong> argamassa produzida particularmente atraente à indústria <strong>de</strong><br />

peças e perfis pré-moldados, uma vez que bons níveis <strong>de</strong> resistência à ruptura nas<br />

primeiras ida<strong>de</strong>s aceleram a produção, pois que diminuem o tempo <strong>de</strong> permanência da<br />

peça, ou perfil, em mol<strong>de</strong>s. Os valores observados para as tensões <strong>de</strong> ruptura aos 28<br />

dias também não se mostraram diferentes do esperado.<br />

5.2 TRAÇO SE<br />

Os resultados verificados para o traço compósito SE corroboraram as expectativas<br />

da presente pesquisa. Observou-se que o efeito da adição <strong>de</strong> resíduos foi particularmente<br />

nocivo à resistência à compressão. Comparativamente ao traço TP, os valores<br />

obtidos para as primeiras ida<strong>de</strong>s foram bastante baixos, bem como para a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 28<br />

dias, on<strong>de</strong> a média (22.13 MPa) atingiu valor mais baixo que a média mínima atingida<br />

pela argamassa piloto aos 28 dias (32 MPa).<br />

Consi<strong>de</strong>rando efeitos negativos observados na resistência à compressão do compósito<br />

SE, além da avaliação à compressão ter sido realizada até 28 dias <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, não<br />

proporcionando margem para maiores afirmações sobre o comportamento do compósito,<br />

é possível apontar compósito SE como um material alternativo potencialmente<br />

utilizável pela construção civil, contribuindo para minimizar os impactos ambientais<br />

pelo uso dos resíduos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira. Junto com este potencial <strong>de</strong> uso, vem a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> redução do consumo <strong>de</strong> agregado miúdo pela substituição pelos resíduos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira,<br />

mitigando assim, os impactos ambientais ocasionados por estes resíduos.<br />

O compósito do tipo SE apresenta relativa potencialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uso para a produção<br />

<strong>de</strong> peças <strong>de</strong>corativas e artefatos correlatos que não estejam submetidos a esforços<br />

acentuados quando em serviço. Segundo a média das tensões <strong>de</strong> ruptura observadas<br />

aos 28 dias, o traço SE também apresenta relativo potencial para utilização em argamassas<br />

<strong>de</strong> reboco, contrapisos, enchimentos e para a fabricação <strong>de</strong> bloquetes pré-moldados<br />

para revestimento <strong>de</strong> pisos <strong>de</strong> baixo tráfego. Contudo, para ratificar tal uso, tornam-se<br />

necessários estudos mais específicos, como estudos <strong>de</strong> durabilida<strong>de</strong> e resistência<br />

à abrasão.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 19-31, <strong>de</strong>z. 2009


31<br />

REFERÊNCIAS<br />

AGOPYAN, V.; SAVASTANO JUNIOR, H. Fibras naturais para a produção <strong>de</strong> componentes<br />

construtivos. In III Simpósio Ibero-Americano <strong>de</strong> Telhados para Habitação, 1998, Anais<br />

do III Simpósio Ibero-Americano <strong>de</strong> Telhados para Habitação, 1998, p. 11-59.<br />

BERALDO, A. L. et al. Viabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fabricação <strong>de</strong> compósitos rejeitos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>iras e<br />

cimento Portland (CBC). In: Workshop Reciclagem e Reutilização <strong>de</strong> Rejeitos como Materiais<br />

<strong>de</strong> Construção Civil, 1996, Anais do Workshop Reciclagem e Reutilização <strong>de</strong> Rejeitos<br />

como Materiais <strong>de</strong> Construção Civil. São Paulo, 1996. p. 77-82.<br />

SARMIENTO, C. S. R.; FREIRE, W. J. Tratamentos aplicados ao bagaço <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar<br />

visando sua utilização para fins <strong>de</strong> material <strong>de</strong> construção. In: Workshop Reciclagem e<br />

Reutilização <strong>de</strong> Rejeitos como Materiais <strong>de</strong> Construção Civil, 1996, Anais do Workshop<br />

Reciclagem e Reutilização <strong>de</strong> Rejeitos como Materiais <strong>de</strong> Construção Civil. São Paulo,<br />

1996. p. 131-136.<br />

SAVASTANO JUNIOR, H., DANTAS, F. A. S.; AGOPYAN, V. Materiais reforçados com fibras:<br />

correlação entre a zona <strong>de</strong> transição fibra matriz e proprieda<strong>de</strong>s mecânicas. São Paulo:<br />

Instituto <strong>de</strong> Pesquisas Tecnológicas, 1994.<br />

SAVASTANO JUNIOR, H. Materiais à Base <strong>de</strong> Cimento Reforçados com Fibra Vegetal:<br />

reciclagem <strong>de</strong> rejeitos para a construção <strong>de</strong> baixo custo. São Paulo, 2000. Tese (Livre<br />

Docência). Departamento <strong>de</strong> Engenharia <strong>de</strong> Construção Civil da Escola Politécnica, Universida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> São Paulo.<br />

UHL, C. et al. Seleção Predatória. Revista Ciência Hoje. Especial Amazônia, Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

p. 108-115, 1991.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 19-31, <strong>de</strong>z. 2009


33<br />

AVALIAÇÃO ECONÔMICO-FINANCEIRA DE UMA<br />

MICROINDÚSTRIA DE COSMÉTICOS NO ESTADO DO AMAPÁ<br />

Léony Luis Lopes Negrão *<br />

Pedro Henrique Lamarão Souza **<br />

RESUMO<br />

O presente estudo apresenta a análise <strong>de</strong> investimento <strong>de</strong> uma proposta <strong>de</strong> entrada <strong>de</strong><br />

uma indústria produtora <strong>de</strong> cosméticos naturais em uma incubadora <strong>de</strong> empresas na<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Macapá, no Amapá. Serão <strong>de</strong>talhados o método <strong>de</strong> custeio da produção, os<br />

quadros financeiros da empresa e a viabilida<strong>de</strong> do projeto industrial a partir dos métodos<br />

<strong>de</strong> Valor Presente Líquido - VPL, Método da Taxa Interna <strong>de</strong> Retorno - TIR, além do<br />

Ponto <strong>de</strong> Equilíbrio - PE, permitindo com que se tenha uma visão da viabilida<strong>de</strong> econômico-financeira<br />

do projeto, <strong>de</strong> forma que os sócios possam tomar <strong>de</strong>cisões sobre os<br />

rumos do empreendimento.<br />

Palavras-Chave: Análise <strong>de</strong> Projetos Industriais. Custos. Engenharia Econômica. Cosméticos.<br />

ECONOMIC-FINANCIAL EVALUATION OF A MICRO COSMETICS<br />

INDUSTRY IN THE STATE OF AMAPÁ<br />

ABSTRACT<br />

This study presents an analysis of investment of a proposal for entry of a industry producing<br />

natural cosmetics in an incubator companies in the city of Macapá in Amapá. Will be<br />

<strong>de</strong>tailed the method of cost of production, the company’s financial and industrial viability<br />

of the project from the methods of Net Present Value NPV, Method of Internal Rate of<br />

Return IRR, Point of Balance EP, so that they have a vision of economic and financial<br />

viability of the project, so that sharehol<strong>de</strong>rs can make <strong>de</strong>cisions about the direction of the<br />

venture.<br />

Keywords: Analysis of Industrial Projects. Costs. Economical Engineering. Cosmetic.<br />

* Professor da Universida<strong>de</strong> da Amazônia - UNAMA (leonynegrao@gmail.com)<br />

** Engenheiro <strong>de</strong> Produção (pedro@unama.br)<br />

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34<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

As micro e pequenas empresas encontram muitas dificulda<strong>de</strong>s ao entrar no<br />

mercado, sendo gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>las financeiras. A usual falta <strong>de</strong> conhecimentos dos<br />

empresários sobre avaliações <strong>de</strong> investimentos, métodos <strong>de</strong> custeio e planejamento<br />

resultam em projetos mal estruturados, e que, com isso, só fazem aumentar as estatísticas<br />

<strong>de</strong> empresas que fecham as portas nos primeiros anos. É verda<strong>de</strong> que esta realida<strong>de</strong><br />

no Brasil está mudando, graças a projetos <strong>de</strong> incentivo à capacitação empresarial por<br />

parte <strong>de</strong> instituições como o Serviço <strong>de</strong> Apoio às Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE,<br />

mas ainda assim, as dificulda<strong>de</strong>s relatadas pelos empresários são muitas no que diz<br />

respeito aos planos financeiros.<br />

Por isso, existe esta gran<strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se avaliar projetos industriais, pois<br />

isto permite ao empresário traçar metas, prever cenários e, principalmente, ter informações<br />

para tomar <strong>de</strong>cisões sobre os rumos do seu negócio.<br />

Segundo o SEBRAE (2008) no Brasil existem 5,1 milhões <strong>de</strong> empresas, <strong>de</strong>stas<br />

98% são Micro e Pequenas Empresas - MPEs. Estas são responsáveis também por 67%<br />

das ocupações, sejam empregos formais ou informais, além <strong>de</strong> serem geradoras <strong>de</strong> 20%<br />

do PIB nacional.<br />

A pesar do alto número observado <strong>de</strong> MPEs no Brasil, isto não indica que as<br />

condições para a manutenção <strong>de</strong>sses negócios sejam simples, porém, como tem sido<br />

observados fatores como melhor ambiente econômico e qualida<strong>de</strong> empresarial, têm<br />

diminuído as taxas <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> entre as MPEs com até 2 anos, cujas taxas reduziram<br />

<strong>de</strong> 49,4% em 2002 para 22% em 2005 e das empresas com até 4 anos, cuja mortalida<strong>de</strong><br />

caiu <strong>de</strong> 59,9% para 35,9% (SEBRAE, 2007).<br />

Ainda que se possa observar uma melhora significativa nos últimos anos, o Brasil<br />

ainda é um dos países que mais oneram as ativida<strong>de</strong>s empresariais, segundo uma<br />

pesquisa realizada com empresários (PRICEWATERHOUSE, 2003 apud ALVES e BEZERRA,<br />

2004, p.4) se pô<strong>de</strong> observar os principais fatores percebidos por eles no que diz respeito<br />

às dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> se gerenciar e manter um negócio. São eles: alta carga tributária,<br />

85,7%; redução <strong>de</strong> margens <strong>de</strong> lucro, 69%; e custos financeiros, 61,9%.<br />

No que diz respeito à carga tributária, segundo João Carlos Basílio, presi<strong>de</strong>nte<br />

da Associação Brasileira da Indústria <strong>de</strong> Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos -<br />

ABIHPEC, ela já chegou a ser <strong>de</strong> 154% e, hoje, graças a mudanças inerentes ao mercado<br />

e cobranças pelos empresários sobre a União, governos e Congresso Nacional, essas<br />

taxas estão caindo. Mesmo assim ainda existem produtos com 96% <strong>de</strong> carga tributária,<br />

o que impe<strong>de</strong> com que o mercado tenha acesso a uma base maior <strong>de</strong> consumidores.<br />

2 OBJETIVOS DO ESTUDO<br />

Os objetivos pretendidos com a realização do trabalho estão divididos em geral<br />

e específicos, conforme <strong>de</strong>scritos a seguir.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 33-46, <strong>de</strong>z. 2009


35<br />

2.1 OBJETIVO GERAL<br />

Avaliar a viabilida<strong>de</strong> econômico-financeira do projeto industrial <strong>de</strong> uma microempresa<br />

produtora <strong>de</strong> cosméticos no estado do Amapá, consi<strong>de</strong>rando os gastos <strong>de</strong><br />

investimento e produção.<br />

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS<br />

• Organizar dados do processo operacional do projeto;<br />

• Estruturar os planos <strong>de</strong> investimento e exploração do projeto;<br />

• Montar o fluxo <strong>de</strong> caixa da empresa;<br />

• Mensurar os indicadores <strong>de</strong> viabilida<strong>de</strong> econômico-financeira do projeto.<br />

3 ESTUDO DE CASO<br />

O caso estudado trata <strong>de</strong> uma empresa do setor <strong>de</strong> cosméticos, segmento que<br />

vem crescendo cada vez mais nos últimos anos e que transformou o Brasil no 4º país em<br />

consumo mundial <strong>de</strong> produtos cosméticos, com exportações crescendo 120,7% nos últimos<br />

5 anos (SEBRAE, 2008). Esses números cre<strong>de</strong>nciam o setor <strong>de</strong> cosméticos como um<br />

dos mais aquecidos do mercado, e <strong>de</strong>monstra que existe uma gran<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

geração <strong>de</strong> emprego e renda. O empresariado já percebeu isso, e no mercado nacional,<br />

ainda segundo o SEBRAE (1998), 98,9% do parque industrial <strong>de</strong> cosméticos é composto<br />

por MPEs.<br />

A importância do estado do Amapá, situado na Região Amazônica e geograficamente<br />

privilegiado, em investir no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s empreen<strong>de</strong>doras e<br />

também no mercado <strong>de</strong> cosméticos, um negócio em plena expansão e com forte potencial<br />

para geração <strong>de</strong> emprego e renda. Outro fator prepon<strong>de</strong>rante é a recente utilização<br />

<strong>de</strong> essências, perfumes, cremes e outros cosméticos baseados na flora da Região Norte<br />

por gran<strong>de</strong>s empresas nacionais e internacionais, que têm utilizado essências <strong>de</strong> cupuaçu,<br />

açaí, da andiroba, castanha-do-pará e vários outros itens em potencial, po<strong>de</strong>ndo<br />

trazer, assim o fator inovação com mais facilida<strong>de</strong>.<br />

A empresa objeto do estudo localiza-se no estado do Amapá, on<strong>de</strong> o setor público<br />

é responsável por gran<strong>de</strong> maioria da renda do estado. Contudo, segundo o Instituto<br />

Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística (2008) - IBGE, no estado a taxa <strong>de</strong> criação <strong>de</strong><br />

empresas em relação ao mercado local foi uma das mais altas no Brasil, 30%, porém seu<br />

índice <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> é <strong>de</strong> 37%, o terceiro maior <strong>de</strong> todo o país.<br />

É importante ressaltar que existem fatores geográficos que facilitam o escoamento<br />

da produção pelo Porto <strong>de</strong> Santana, porto com capacida<strong>de</strong> para navios <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

calado, além <strong>de</strong> este porto ter fácil acesso ao oceano Atlântico.<br />

É fundamental, para o empresário, ter ciência <strong>de</strong> quanto seus gastos po<strong>de</strong>rão<br />

influenciar no retorno do seu investimento, e mesmo quanto será necessário ser vendido<br />

da produção para se obter lucrativida<strong>de</strong>, afinal os custos são um dos fatores <strong>de</strong><br />

sucesso nos projetos, <strong>de</strong>terminar técnicas como o ponto <strong>de</strong> equilíbrio, que permite<br />

i<strong>de</strong>ntificar a quantida<strong>de</strong> vendida on<strong>de</strong> não existirá lucro ou prejuízo para a empresa,<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 33-46, <strong>de</strong>z. 2009


36<br />

indicadores e taxas atrativas ao retorno sobre seus investimentos, fatores como estes<br />

só têm a tornar elevada a qualida<strong>de</strong> das <strong>de</strong>cisões sobre o futuro do negócio. Analisar a<br />

viabilida<strong>de</strong> econômica <strong>de</strong> uma empresa permitirá planejar toda ativida<strong>de</strong> financeira da<br />

mesma e prever quais problemas po<strong>de</strong>rão influenciar na sua competitivida<strong>de</strong>, em suma<br />

permitirá com que seja possível uma melhor tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão em cenários possíveis.<br />

Com efeito, a ausência <strong>de</strong> projeções financeiras que agreguem valor, sem controles<br />

financeiros confiáveis, a falta <strong>de</strong> uma prática e eficiente tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões<br />

financeiras, nenhuma organização conseguirá o que se espera <strong>de</strong>la, que é oferecer o<br />

produto certo, no preço certo, no momento <strong>de</strong>mandado, <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e quantida<strong>de</strong>s<br />

requeridas. Sabemos que isso <strong>de</strong>nota, naturalmente, que a organização, sem este domínio<br />

per<strong>de</strong>rá espaço para a concorrência por falta <strong>de</strong> vantagem competitiva. De fato o<br />

aspecto financeiro não é o único <strong>de</strong>terminante para o sucesso da empresa, e toda vantagem<br />

competitiva é temporária, mas todas as <strong>de</strong>cisões gerenciais precisam ser respaldadas<br />

por análises financeiras e econômicas.<br />

A avaliação apresenta o impacto dos custos <strong>de</strong> produção na viabilida<strong>de</strong> do projeto<br />

industrial. É importante afirmar que a literatura disponível fornece uma ampla<br />

varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ferramentas para análise <strong>de</strong> projetos industriais, contudo, o presente<br />

trabalho dará um enfoque nos mais frequentemente utilizados e consagrados, como o<br />

método do Valor Presente Líquido - VPL, método da Taxa Interna <strong>de</strong> Retorno - TIR, além<br />

da <strong>de</strong>terminação do ponto <strong>de</strong> equilíbrio - PE.<br />

4 CENTRO DE INCUBAÇÃO DE EMPRESAS (CIE/IEPA)<br />

O estado do Amapá tem avançado em pesquisas envolvendo a flora da Região<br />

Amazônica, por meio da criação do Instituto <strong>de</strong> Pesquisas Científicas e Tecnológicas do<br />

Estado do Amapá - IEPA, e em especial ao programa criado em 1997, o Centro <strong>de</strong> Incubação<br />

<strong>de</strong> Empresas - CIE, do IEPA, o qual tem como objetivo <strong>de</strong>senvolver empresas que<br />

atuem no estado do Amapá, visando o fortalecimento e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ias<br />

produtivas regionais <strong>de</strong> forma competitiva e sustentável.<br />

Segundo dados da Associação Nacional <strong>de</strong> Entida<strong>de</strong>s Promotoras <strong>de</strong> Empreendimentos<br />

<strong>de</strong> Tecnologias Avançadas - ANPROTEC, as incubadoras são ambientes dotados<br />

<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> técnica, gerencial, administrativa e infraestrutura para amparar o<br />

pequeno empreen<strong>de</strong>dor. Elas apoiam a transformação <strong>de</strong> empresas potenciais em empresas<br />

crescentes e lucrativas. Ou seja, é uma iniciativa <strong>de</strong>stinada a abrigar e fortalecer<br />

novas empresas, por um período <strong>de</strong> tempo limitado.<br />

Seu objetivo <strong>de</strong>ve ser sempre proporcionar condições necessárias para que as<br />

empresas, <strong>de</strong>ntro do processo <strong>de</strong> incubação, possam se preparar e se fortalecer para o<br />

mercado através <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> tecnologia e conhecimento. Além disso, elas <strong>de</strong>vem<br />

oferecer capacitação, assistência técnica e gerencial para que possam superar as<br />

barreiras existentes nos primeiros anos <strong>de</strong> existência.<br />

O Centro <strong>de</strong> Incubação <strong>de</strong> Empresas <strong>de</strong> Base Tecnológica do Estado do Amapá foi<br />

implantado <strong>de</strong>vido a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> tecnologia do IEPA e como estímulo<br />

ao empreen<strong>de</strong>dorismo local. É uma iniciativa voltada ao apoio e à consolidação <strong>de</strong><br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 33-46, <strong>de</strong>z. 2009


37<br />

micro e pequenos empreendimentos <strong>de</strong> base tecnológica e empreendimentos solidários,<br />

com ênfase inicial ao segmento do agroextrativismo, cujo negócio é “oferecer e<br />

transferir soluções <strong>de</strong> gestão tecnológica e empresarial à ambientes empreen<strong>de</strong>dores,<br />

através <strong>de</strong> ações estruturadas e inovadoras, visando o fortalecimento e/ou <strong>de</strong>senvolvimento<br />

das ca<strong>de</strong>ias produtivas regionais <strong>de</strong> forma competitiva e sustentável”.<br />

Sua missão é promover, incentivar e <strong>de</strong>senvolver a criação <strong>de</strong> micro e pequenos<br />

negócios, competitivos em tecnologia que utilizem produtos naturais da Floresta Amazônica.<br />

(IEPA, 2008).<br />

5 AVALIAÇÃO DO PROJETO<br />

Este item apresenta as características da empresa do estudo <strong>de</strong> caso, mostrando<br />

produtos, instalações, regime fiscal, quadros financeiros entre outros subitens <strong>de</strong> maneira<br />

que se possa enten<strong>de</strong>r, <strong>de</strong> forma geral, seu funcionamento, os fatores internos na<br />

produção e os resultados operacionais que possam ser avaliados econômica-financeiramente,<br />

subsidiando os empreen<strong>de</strong>dores no processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão quanto à<br />

sustentabilida<strong>de</strong> do projeto.<br />

5.1 CARACTERÍSTICAS DA EMPRESA<br />

A empresa estudada é do setor <strong>de</strong> cosméticos, atualmente produzindo sabonetes<br />

<strong>de</strong> andiroba, copaíba e castanha-do-pará. Todos estes produtos são naturais fabricados<br />

a partir <strong>de</strong> extratos da flora amazônica.<br />

Como a maioria das empresas do setor, é classificada como microempresa, com<br />

um faturamento, segundo o BNDES, <strong>de</strong> até R$ 1.200.000,00 (um milhão e duzentos mil<br />

reais). É uma empresa do tipo familiar, controlada por 3 sócios, os quais participam<br />

ativamente da rotina interna da empresa, sendo da administração <strong>de</strong> contas a pagar até<br />

o processo produtivo.<br />

A empresa encontra-se lotada no Parque <strong>de</strong> Incubação <strong>de</strong> Empresas do IEPA. O<br />

prédio cedido apresenta padrões estruturais que permitiram gran<strong>de</strong> flexibilida<strong>de</strong> para<br />

o processo produtivo. O arranjo físico sofreu poucas alterações para se adaptar às necessida<strong>de</strong>s<br />

da empresa.<br />

No início <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s, a empresa atuava somente no mercado local, competindo<br />

em supermercados, ven<strong>de</strong>ndo seus produtos na própria loja, em espaços cedidos<br />

pelo Projeto <strong>de</strong> Incubação <strong>de</strong> Empresas e em re<strong>de</strong>s hoteleiras. A empresa também<br />

conta com participações em feiras, on<strong>de</strong> consegue ven<strong>de</strong>r satisfatoriamente seus produtos.<br />

Quanto ao processo produtivo, o mesmo é bem simples e quase que artesanal e<br />

segue apresentado na figura 1. Esta é uma característica que a empresa faz questão <strong>de</strong><br />

manter, pois, para os sócios, é uma das principais formas <strong>de</strong> promover o produto: o<br />

apelo natural e ambiental.<br />

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38<br />

5.2 FLUXO DE CAIXA LÍQUIDO DO PROJETO<br />

A situação financeira da empresa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o investimento inicial necessário para<br />

implantação do empreendimento até o funcionamento do mesmo, está <strong>de</strong>scrita neste<br />

subitem, e que foram divididos em planos <strong>de</strong> investimento e planos <strong>de</strong> exploração, <strong>de</strong><br />

on<strong>de</strong> será possível obter o fluxo <strong>de</strong> caixa operacional, que será a base para avaliação<br />

através dos métodos <strong>de</strong> Valor Presente Líquido (VPL), Taxa Interna <strong>de</strong> Retorno (TIR),<br />

Ponto <strong>de</strong> Equilíbrio (PE) e Pay-Back time (PB).<br />

Figura 1: Processo produtivo da empresa<br />

Fonte: Dos autores.<br />

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39<br />

Os planos <strong>de</strong> investimento subdivi<strong>de</strong>m-se em: investimento fixo e <strong>de</strong>preciação<br />

anual sobre investimento fixo. Perfazendo um total <strong>de</strong> investimento fixo <strong>de</strong> R$ 27.369,58<br />

no instante 0 para implantação do projeto e R$ 1.500,00 e R$ 1.800,00 dos períodos 1 a 4,<br />

alternadamente. Esses investimentos compreen<strong>de</strong>m a aquisição <strong>de</strong> móveis, equipamentos,<br />

ferramentas e utensílios em geral.<br />

Os planos <strong>de</strong> exploração foram divididos em: <strong>de</strong>spesas fixas mensais, custo <strong>de</strong><br />

materiais diretos, e receita operacional mensal.<br />

As <strong>de</strong>spesas fixas mensais são os gastos previstos para o funcionamento da empresa,<br />

vi<strong>de</strong> tabela 1. É importante ressaltar, neste caso, que os itens 1.3 e 1.4 do referido<br />

plano <strong>de</strong> exploração, são consi<strong>de</strong>rados como <strong>de</strong>spesas fixas mensais, por se tratar do<br />

projeto <strong>de</strong> uma empresa incubada, sendo pagos valores fixos mensais à incubadora.<br />

Os custos mensais <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> materiais diretos, tabela 2, estão apresentados<br />

nas projeções <strong>de</strong> materiais necessários para uma produção mensal <strong>de</strong> 5000 unida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> sabonetes, sendo eles <strong>de</strong> copaíba, andiroba e castanha-do-pará.<br />

A receita operacional mensal correspon<strong>de</strong> ao valor gerado, no caso mensalmente,<br />

pelas vendas dos produtos. Po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>terminar a receita operacional mensal multiplicando-se<br />

as quantida<strong>de</strong>s vendidas pelo preço <strong>de</strong> venda, como na tabela 3, on<strong>de</strong> é<br />

consi<strong>de</strong>rada a venda <strong>de</strong> toda a produção.<br />

Tabela 1: Plano <strong>de</strong> <strong>de</strong>spesas fixas mensais.<br />

ITEM DESCRIÇÃO VALOR<br />

1.1 Depreciação mensal R$ 306,75<br />

1.2 Aluguel R$ 350,00<br />

1.3 Energia elétrica/água R$ 220,00<br />

1.4 Telefone R$ 120,00<br />

1.5 Material <strong>de</strong> escritório R$ 60,00<br />

1.6 Outros custos R$ 60,00<br />

1.7 Pró-labore R$ 3.000,00<br />

1.8 Internet R$ 25,00<br />

1.9 Auxiliar administrativo R$ 817,92<br />

1.10 Auxiliar <strong>de</strong> produção R$ 817,92<br />

1.11 Propaganda R$ 600,00<br />

TOTAL 1.12 Transporte R$ 6.877,59<br />

R$ 500,00<br />

TOTAL R$ 6.877,59<br />

Fonte: Dos autores<br />

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40<br />

Tabela 2: Plano <strong>de</strong> materiais diretos<br />

ITEM DESCRIÇÃO QUANT. V.UNIT. V.TOTAL<br />

2.1 Base ITEM glicerinada (kg) DESCRIÇÃO 500 R$ QUANT. 9,12 R$ 4.560,00 V. UNIT.<br />

V. 2.2TOTAL<br />

Essência 1,5 R$ 133,79 R$ 200,69<br />

2.3 Óleo <strong>de</strong> andiroba (l) 7 R$ 12,00 R$ 84,00<br />

6.232,49<br />

2.4 Óleo <strong>de</strong> copaíba (l) 5,5 R$ 18,00 R$ 99,00<br />

2.5 Óleo <strong>de</strong> castanha (l) 3 R$ 21,60 R$ 64,80<br />

2.6 Rótulo/embalagem (unid.) 5100 R$ 0,21 R$ 1.071,00<br />

2.7 Filme PVC (unid.) 5100 R$ 0,03 R$ 153,00<br />

TOTAL R$ 6.232,49<br />

Fonte: Dos autores<br />

Tabela 3: Receita <strong>de</strong> vendas<br />

ITEM DESCRIÇÃO P. VENDA VENDAS RECEITA<br />

3.1 ITEM Sabonete <strong>de</strong> andiroba R$ DESCRIÇÃO 4,14 P. 2300 VENDA VENDAS R$ 9.522,00<br />

RE<br />

3.2 Sabonete <strong>de</strong> copaíba R$ 4,41 1700 R$ 7.497,00<br />

3.3 Sabonete <strong>de</strong> castanha R$ 4,41 1000 R$ 4.410,00<br />

TOTAL R$ 21.429,00<br />

Fonte: Dos autores<br />

A avaliação do projeto consiste em calcular as necessida<strong>de</strong>s do capital <strong>de</strong> giro,<br />

apresentar o fluxo <strong>de</strong> caixa do projeto e utilizar <strong>de</strong> métodos <strong>de</strong>terminísticos para averiguar<br />

a viabilida<strong>de</strong> do projeto industrial.<br />

O capital <strong>de</strong> giro é o investimento necessário para manter a empresa funcionando,<br />

<strong>de</strong> forma a pagar suas necessida<strong>de</strong>s mensais. Este financiamento paga duplicatas,<br />

encargos e financia vendas a prazo. A tabela 4 <strong>de</strong>monstra os elementos envolvidos no<br />

capital <strong>de</strong> giro, consi<strong>de</strong>rando um período <strong>de</strong> 30 dias a movimentação <strong>de</strong>sse capital. O<br />

item 4.4 da tabela 4 foi calculado por meio do produto entre o faturamento e a proporção<br />

da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dias do capital <strong>de</strong> giro e o total <strong>de</strong> dias no ano contábil (360 dias).<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 33-46, <strong>de</strong>z. 2009


41<br />

Tabela 4: Elementos do capital <strong>de</strong> giro.<br />

ITEM DESCRIÇÃO VALOR<br />

4.1 Compra mensal R$ 6.232,49<br />

4.2 Despesas do mês R$ 6.877,59<br />

4.3 Faturamento R$ 21.429,00<br />

4.4 Financiamento <strong>de</strong> vendas R$ 1.785,75<br />

Fonte: Dos autores.<br />

Consi<strong>de</strong>rando um ciclo financeiro ajustado à venda - CFA, <strong>de</strong> 19,15 dias conforme<br />

o período do capital <strong>de</strong> giro <strong>de</strong> 30 dias, calcula-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> capital <strong>de</strong> giro -<br />

NCG, no valor R$ 13.678,85, conforme expressão (1).<br />

(1)<br />

O fluxo <strong>de</strong> caixa foi projetado para 5 anos, pois é o período <strong>de</strong> incubação previsto<br />

(com renovação).<br />

O fluxo <strong>de</strong> caixa é representado com os períodos <strong>de</strong> zero (0) a cinco (5) anos,<br />

sendo zero o período presente e 5 um período futuro. Os itens do fluxo <strong>de</strong> caixa começam<br />

como uma <strong>de</strong>monstração do resultado do exercício, porém contendo mais informações<br />

sobre entradas e saídas monetárias.<br />

No período zero (0) do fluxo <strong>de</strong> caixa apenas os itens: capital <strong>de</strong> giro líquido e<br />

investimentos fixos formando uma resultante negativa, que simboliza as saídas necessárias<br />

à implantação do projeto. O que está ilustrado na tabela 5.<br />

5.3 INDICADORES DE VIABILIDADE<br />

O método do Valor Presente Líquido é o primeiro método a ser empregado para<br />

análise, com ele, sabe-se que um investimento é rentável caso seu resultado seja positivo.<br />

Tal método utiliza-se do fluxo <strong>de</strong> caixa resultante juntamente a uma taxa, <strong>de</strong>terminada<br />

<strong>de</strong> taxa mínima <strong>de</strong> atrativida<strong>de</strong>.<br />

Conforme Woiler e Mathias (1997), a equação do VPL das receitas líquidas po<strong>de</strong><br />

ser escrita conforme expressão 2, assim como a regra <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão é:<br />

On<strong>de</strong>:<br />

I = investimento requerido no projeto.<br />

FCt = fluxo <strong>de</strong> caixa no período “t”.<br />

t = prazo <strong>de</strong> vida do ativo.<br />

r = taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto.<br />

Se VPL > 0; Investe.<br />

Se VPL < 0; Não Investe.<br />

Se VPL = 0; Indiferente entre investir ou não.<br />

(2)<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 33-46, <strong>de</strong>z. 2009


42<br />

Tabela 05: Fluxo <strong>de</strong> caixa líquido do projeto<br />

FLUXO DE CAIXA DO PROJETO<br />

COMPONENTES<br />

PERÍODOS<br />

0 1 2 3 4 5<br />

Receita bruta R$ 0,00 R$ 257.148,00 R$ 257.148,00 R$ 257.148,00 R$ 257.148,00 R$ 257.148,00<br />

(-) Impostos simples R$ 0,00 (R$ 59.915.48) (R$ 59.915.48) (R$ 59.915.48) (R$ 59.915.48) (R$ 59.915.48)<br />

(=) Receita líquida R$ 0,00 R$ 197.232,52 R$ 197.232,52 R$ 197.232,52 R$ 197.232,52 R$ 197.232,52<br />

(-) Custos operacionais R$ 0,00 (R$ 92.784,06) (R$ 92.784,06) (R$ 92.784,06) (R$ 92.784,06) (R$ 92.784,06)<br />

(=) Lucro bruto R$ 0,00 R$ 104.448,46 R$ 104.448,46 R$ 104.448,46 R$ 104.448,46 R$ 104.448,46<br />

(-) Despesas operacionais R$ 0,00 (R$ 84.166,92) (R$ 84.166,92) (R$ 84.166,92) (R$ 84.166,92) (R$ 84.166,92)<br />

(+) Receita financeira R$ 0,00 R $0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 13.678,85<br />

(=) Lucro operacional R$ 0,00 R$ 20.281,54 R$ 20.281,54 R$ 20.281,54 R$ 20.281,54 R$ 33.960,40<br />

(-) Capital <strong>de</strong> giro (R$ 13.678,85) R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00 R$ 0,00<br />

(-) Investimento fixo (R$ 27.369,58) (R$ 1.500,00) (R$ 1.800,00) (R$ 1.500,00) (R$ 1.800,00) R$ 0,00<br />

(=) Fluxo <strong>de</strong> caixa líquido (R$ 41.045,75) R$ 18.781,54 R$ 18.481,54 R$ 18.781,54 R$ 18.481,54 R$ 33.960,40<br />

Fonte: Dos autores<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 33-46, <strong>de</strong>z. 2009


43<br />

Tabela 5: Fluxo <strong>de</strong> caixa líquido do projeto.<br />

FLUXO DEFonte: Dos autores.<br />

Existem várias formas <strong>de</strong> se <strong>de</strong>terminar qual será a taxa mínima <strong>de</strong> atrativida<strong>de</strong><br />

ou taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto para a empresa. A taxa mínima <strong>de</strong> atrativida<strong>de</strong> para o referido<br />

projeto será <strong>de</strong>terminada como sendo o somatório do custo <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> (ca<strong>de</strong>rneta<br />

<strong>de</strong> poupança), remuneração <strong>de</strong> capital (taxa TBF) e o grau <strong>de</strong> risco conforme os cenários<br />

pessimista, neutro e otimista que alteram o grau <strong>de</strong> risco. Ilustrada no quadro 1.<br />

Quadro 1: TMA para o projeto conforme cenários.<br />

Fonte: www.investshop.com.br/mer/cot/ind<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 33-46, <strong>de</strong>z. 2009


44<br />

O grau <strong>de</strong> risco está na figura 2. Os níveis <strong>de</strong> risco permitem projetar ao valor<br />

presente líquido por meio <strong>de</strong> cenários: otimista, neutro e pessimista.<br />

Os VPLs, conforme os cenários, estão apresentados na tabela 6.<br />

Tabela 6: VPL conforme cenários.<br />

CENÁRIOS<br />

VPL<br />

Figura 2: Nível <strong>de</strong> risco<br />

Fonte: Adaptado <strong>de</strong> ZENI, A.<br />

Contudo, é preciso avaliar os investimentos necessários a um projeto também<br />

consi<strong>de</strong>rando uma Taxa Interna <strong>de</strong> Retorno, que é a taxa a qual torna o valor presente<br />

líquido zero. Comparando com a Taxa Mínima <strong>de</strong> Atrativida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>cidindo a favor do<br />

projeto quando àquela taxa for maior que esta.<br />

A TIR para o referido projeto foi calculada no valor <strong>de</strong> 40% inferior à TMA somente<br />

no cenário pessimista, sendo viável no cenário neutro e otimista.<br />

O terceiro indicador, não necessariamente <strong>de</strong> viabilida<strong>de</strong> econômico-financeira,<br />

mas que apresenta informações úteis <strong>de</strong> viabilida<strong>de</strong> operacional é o cálculo do ponto<br />

<strong>de</strong> equilíbrio, que apresentou um valor elevado, <strong>de</strong> 89%, este valor não con<strong>de</strong>na o<br />

projeto em questão, mas indica que sempre será necessário um <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> vendas<br />

elevado para que exista lucro.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 33-46, <strong>de</strong>z. 2009


45<br />

Por último temos uma análise do pay-back simples da empresa, que mostra um<br />

pagamento do investimento em pouco mais <strong>de</strong> dois anos.<br />

6 CONCLUSÃO<br />

O trabalho atingiu os objetivos propostos, fazendo uma exposição <strong>de</strong> forma<br />

clara e objetiva do projeto, expondo seus quadros financeiros e a avaliação do empreendimento.<br />

Po<strong>de</strong>-se afirmar que o projeto é viável econômico-financeiramente do ponto<br />

<strong>de</strong> vista do VPL nos cenários neutro e otimista, com valores <strong>de</strong> R$ 3.160,84 e R$ 5.354,17,<br />

respectivamente. Sendo que em um cenário <strong>de</strong> alto grau <strong>de</strong> risco o projeto se torna<br />

inviável conforme o VPL <strong>de</strong> (R$ 4.893,71).<br />

O mesmo se resume quando se analisa a TIR. Apresentando o projeto inviável<br />

no cenário pessimista com TMA <strong>de</strong> 51,46%a.a superior à TIR <strong>de</strong> 40%a.a. Quanto aos<br />

cenários neutro e otimista as TMAs são 34,46%a.a e 31,46%a.a, respectivamente, inferiores<br />

à TIR, viabilizando o projeto nessas condicionantes.<br />

Entretanto, o ponto <strong>de</strong> equilíbrio do projeto no valor <strong>de</strong> 89% chama a atenção<br />

para as condições <strong>de</strong> eficácia operacionais do empreendimento. Empresas que apresentam<br />

um ponto <strong>de</strong> equilíbrio baixo são mais seguras, pois enfrentam com maior facilida<strong>de</strong><br />

fatores como quedas <strong>de</strong> vendas. Já as com ponto <strong>de</strong> equilíbrio elevado, como é o<br />

caso, serão <strong>de</strong>masiadamente sensíveis a variações no mercado. Vale ressaltar que se<br />

consi<strong>de</strong>ra neste projeto, uma avaliação para 100% da capacida<strong>de</strong> produtiva da empresa.<br />

A empresa oferece um preço equivalente ou abaixo do preço <strong>de</strong> mercado <strong>de</strong><br />

seus competidores, assim como apresenta serviços <strong>de</strong> venda via internet, através <strong>de</strong><br />

sua própria página, e apresenta resultados projetados positivos. O quadro organizacional<br />

é pequeno e a capacida<strong>de</strong> produtiva observada só é viável graças à participação dos<br />

sócios no processo produtivo.<br />

A mo<strong>de</strong>rnização da produção da empresa é um caminho para alcançar maiores<br />

retornos, visto que a aquisição <strong>de</strong> novos equipamentos em busca <strong>de</strong> um aumento da<br />

escala <strong>de</strong> produção é uma alternativa para alcançar maior rentabilida<strong>de</strong>, pois, um incremento<br />

na capacida<strong>de</strong> produtiva <strong>de</strong>slocaria o elevado ponto <strong>de</strong> equilíbrio <strong>de</strong> 89% para<br />

um patamar mais a<strong>de</strong>quado para o mercado.<br />

Enfim, o trabalho aten<strong>de</strong>u a <strong>de</strong>manda empresarial no que tange à tomada <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> investir ou não no instante 0. Entretanto, se consi<strong>de</strong>rou os parâmetros como<br />

receitas operacionais, taxas <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontos e gastos operacionais como sendo uma constante<br />

em todo o período do ciclo <strong>de</strong> vida do fluxo <strong>de</strong> caixa, não aten<strong>de</strong>ndo a importância<br />

<strong>de</strong> variáveis externas que po<strong>de</strong>m interferir nos valores <strong>de</strong>sses parâmetros. O que motivaria<br />

a resultados dinâmicos em todos os períodos, retratando uma adaptabilida<strong>de</strong> do<br />

real para o referido projeto subsidiando o empresário em tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões futuras.<br />

Sugere-se que para <strong>de</strong>cisões futuras é preciso incluir as incertezas que atingem<br />

certos parâmetros do fluxo <strong>de</strong> caixa e da taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconto ou que se adaptem esses<br />

parâmetros no fluxo <strong>de</strong> caixa no momento em que estiver sendo analisada, novamente,<br />

a viabilida<strong>de</strong> do projeto.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 33-46, <strong>de</strong>z. 2009


46<br />

REFERÊNCIAS<br />

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em: http://www.abihpec.org.br/dadosdomercado_panorama_setor.php. Acesso em:<br />

10 ago. 2008.<br />

IBGE. Demografia das empresas. 2007. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/<br />

presi<strong>de</strong>ncia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1041. Acesso em: 10 out. 2008.<br />

IEPA. Centro <strong>de</strong> Incubação <strong>de</strong> Empresas. 2008. Disponível em: http://<br />

www.iepa.ap.gov.br/centro<strong>de</strong>pesquisas.php. Acesso em: 5 set. 2008.<br />

MAXIMIANO, M. Análise <strong>de</strong> projetos industriais. Notas <strong>de</strong> aulas. Belém: 2006.<br />

SEBRAE. As micro e pequenas empresas na economia. São Paulo, 2007. Disponível em:<br />

h t t p : / / w w w. s p . s e b r a e . c o m . b r / c o n h e c e n d o _ m p e / m p e _ n u m e r o /<br />

pequena_empesa_economia. Acesso em: 20 ago. 2008.<br />

SEBRAE. Fatores condicionantes e taxas <strong>de</strong> sobrevivência e mortalida<strong>de</strong> das micro e<br />

pequenas empresas no Brasil 2003-2005. Brasília: SEBRAE, 2007. Disponível em: http://<br />

www.biblioteca.sebrae.com.br/bds/bds.nsf/8F5BDE79736CB99483257447006CBAD3/<br />

$File/NT00037936.pdf. Acesso em: 20 ago. 2008.<br />

SEBRAE. Indústria <strong>de</strong> cosméticos: Beleza que gera riqueza. Coronário, 2007. Disponível em:<br />

http://www.biblioteca.sebrae.com.br/bds/bds.nsf/69DD7254220015DF832573D7004CB7AC/<br />

$File/NT0003747A.pdf. Acesso em: 10 ago. 2008.<br />

WOILER, Samsão; MATHIAS, Washington. Projetos: planejamento, elaboração, análise.<br />

1. ed. São Paulo: Atlas, 1996. 296p.<br />

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47<br />

UMA MODIFICAÇÃO AO MÉTODO PSEUDO-ESTÁTICO ATRAVÉS DE UMA<br />

APROXIMAÇÃO ANALÍTICA PROPOSTA À PRESSÃO HIDRODINÂMICA<br />

Selênio Feio da Silva *<br />

Evaristo dos Santos Junior **<br />

Alexandre Andra<strong>de</strong> Brandão Soares ***<br />

Felipe Rodrigues Ribeiro ****<br />

RESUMO<br />

As avaliações sísmicas <strong>de</strong> segurança <strong>de</strong> barragens são conduzidas em fases progressivas;<br />

cada fase sucessiva po<strong>de</strong> requerer um nível diferente <strong>de</strong> análise. O nível apropriado<br />

da análise <strong>de</strong>ve ser baseado na classificação da consequência <strong>de</strong> uma falha na barragem,<br />

na severida<strong>de</strong> do movimento <strong>de</strong> terra, e na configuração da barragem. Este artigo<br />

apresenta uma modificação proposta ao Método do Coeficiente Sísmico, através <strong>de</strong><br />

uma aproximação analítica proposta para o cálculo da pressão hidrodinâmica, para uma<br />

avaliação sísmica preliminar <strong>de</strong> segurança em barragens <strong>de</strong> concreto gravida<strong>de</strong>. O método<br />

consiste na <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> forças <strong>de</strong> inércia na barragem e do efeito das pressões<br />

hidrodinâmicas do reservatório. Os resultados obtidos são utilizados na análise da<br />

estabilida<strong>de</strong> sísmica <strong>de</strong> uma seção típica <strong>de</strong> barragem.<br />

Palavras-Chave: Interação Barragem-Reservatório. Análise <strong>de</strong> Tensões em Barragens.<br />

Método Pseudo-Estático. Pressão Hidrodinâmica. Coeficientes <strong>de</strong> Estabilida<strong>de</strong> Sísmica.<br />

A MODIFICATION OF PSEUDO-STATIC METHOD THROUGH AN<br />

ANALYTICAL APPROACH FOR THE HYDRODYNAMIC PRESSURE<br />

ABSTRACT<br />

Seismic safety assessments are normally conducted in progressive phases; each successive<br />

phase may require a different level of analysis. The appropriate level of analysis should<br />

be based on the consequence classification of the dam, the severity of ground motion,<br />

* Graduado em Engenharia Civil - UFPA; Mestrado em Estruturas - UnB; Doutorado em Estruturas e Construção<br />

Civil - UnB; Professor Titular - UNAMA; Pesquisador <strong>de</strong> Projeto <strong>de</strong> Pesquisa (FIDESA/UNAMA).<br />

** Graduado em Engenharia Civil - UNAMA; Mestrado em Estruturas e Construção Civil - UnB; Professor nos<br />

Cursos <strong>de</strong> Graduação em Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, Engenharia <strong>de</strong> Produção, Engenharia<br />

Sanitária e Ambiental - UNAMA; Pesquisador <strong>de</strong> Projeto <strong>de</strong> Pesquisa (FIDESA/UNAMA).<br />

*** Acadêmico do Curso <strong>de</strong> Graduação em Engenharia Civil - UNAMA; Bolsista do Projeto <strong>de</strong> Pesquisa (FIDESA/<br />

UNAMA).<br />

**** Acadêmico do Curso <strong>de</strong> Graduação em Engenharia Civil - UNAMA; Bolsista do Projeto <strong>de</strong> Pesquisa (FIDE-<br />

SA/UNAMA).<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 47-59, <strong>de</strong>z. 2009


48<br />

and the dam configuration. This paper presents a modified approach to the Seismic<br />

Coefficient Method, a through an analytical approach proposed for calculating the hydrodynamic<br />

pressure including water compressibility, for a simplified seismic safety evaluation<br />

in concrete dams. Its consist of <strong>de</strong>termination of inertia forces on the dam and the<br />

effect of hydrodynamic pressures from the reservoir. The results are used in the analysis<br />

of the seismic stability of a typical section of the dam.<br />

Keywords: Dam-Reservoir Interaction. Analysis of Stresses in Dams. Pseudo-Static Method.<br />

Hydrodynamic Pressure. Coefficient of Seismic Stability.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

O Método Pseudo-Estático ou Método do Coeficiente Sísmico correspon<strong>de</strong> a<br />

uma das formas <strong>de</strong> análise sísmica <strong>de</strong> barragens. Neste nível <strong>de</strong> análise as forças <strong>de</strong><br />

inércia induzidas pelo sismo são calculadas como o produto entre a massa e a aceleração<br />

da estrutura (suposta uniforme ao longo da altura da barragem). A amplificação<br />

dinâmica das forças <strong>de</strong> inércia ao longo da altura da barragem, <strong>de</strong>vido à flexibilida<strong>de</strong> da<br />

estrutura, não é consi<strong>de</strong>rada. O sistema Barragem–Reservatório–Fundação (BRF) é consi<strong>de</strong>rado<br />

rígido, com um período <strong>de</strong> vibração igual a zero [1]. Estas consi<strong>de</strong>rações permitem<br />

<strong>de</strong>terminar o campo <strong>de</strong> pressões hidrodinâmicas que surgem <strong>de</strong>vido ao movimento<br />

<strong>de</strong> corpo rígido da barragem. Westergaard [2] <strong>de</strong>monstrou analiticamente, através da<br />

solução da equação <strong>de</strong> Laplace, a distribuição <strong>de</strong> pressões ao longo da interface fluidoestrutura,<br />

para um movimento translacional <strong>de</strong> uma fronteira rígida em um fluido incompressível<br />

(Figura 1). Seus resultados levaram a uma distribuição parabólica <strong>de</strong> pressões,<br />

proporcional à aceleração do sismo, e atuante na interface fluido-estrutura ao<br />

longo da altura da barragem. Este procedimento ficou conhecido como Massa Adicional<br />

e caracteriza uma forma simples <strong>de</strong> abordagem do problema <strong>de</strong> interação entre a barragem<br />

e o reservatório (IBR). As forças que surgem <strong>de</strong>vido ao sismo (forças hidrodinâmicas<br />

e <strong>de</strong> inércia) po<strong>de</strong>m então ser combinadas para uma análise estática equivalente <strong>de</strong><br />

tensões e estabilida<strong>de</strong> sísmica.<br />

Figura 1: Barragem Rígida em um Fluido Incompressível.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 47-59, <strong>de</strong>z. 2009


49<br />

As principais limitações <strong>de</strong>ste método surgem da não consi<strong>de</strong>ração: da elasticida<strong>de</strong><br />

da estrutura, da variação da aceleração da fundação com o tempo, da capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> amortecimento da estrutura e da alternância e características <strong>de</strong> curta<br />

duração da carga sísmica [3]. Adicionalmente este método não leva em consi<strong>de</strong>ração<br />

os efeitos <strong>de</strong> compressibilida<strong>de</strong> do fluido. Por <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar a elasticida<strong>de</strong> da<br />

estrutura, uma análise Pseudo-Estática torna-se a<strong>de</strong>quada caso a barragem possa<br />

ser tratada como um corpo rígido. Ghrib et al. [4] consi<strong>de</strong>ra que para períodos fundamentais<br />

inferiores a 0.03s (33 Hz) tornam esta hipótese verda<strong>de</strong>ira. A <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração<br />

da variação da aceleração da fundação com o tempo limita o método a<br />

análises através <strong>de</strong> coeficientes sísmicos, que <strong>de</strong>finem a aceleração local a ser utilizada<br />

em projeto. Este procedimento torna as análises in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes das características<br />

particulares <strong>de</strong> cada sismo. A alternância e característica <strong>de</strong> curta duração da<br />

carga sísmica são consi<strong>de</strong>radas apenas em níveis <strong>de</strong> análise dinâmica, que possam<br />

representar variações da resposta ao longo do tempo. A <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração da capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> amortecimento da estrutura impe<strong>de</strong> uma representação mais realista do<br />

sistema físico envolvido. Entretanto, segundo Priscu [3], apesar <strong>de</strong> todas estas <strong>de</strong>svantagens<br />

o método ainda continua sendo empregado <strong>de</strong>vido ao seu caráter simplificado<br />

e rotineiro.<br />

O Método Pseudo-Estático, em sua versão preliminar, <strong>de</strong>senvolvido para aplicações<br />

manuais (planilhas) envolvendo esforços, tensões e avaliação <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong>, é<br />

objeto <strong>de</strong> alguns trabalhos efetuados pelo Grupo <strong>de</strong> Dinâmica e Fluido-Estrutura da<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília [5], [6] e [7]) e no Projeto <strong>de</strong> Pesquisa Análise Estrutural em<br />

Barragens Gravida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Concreto, realizado na Universida<strong>de</strong> da Amazônia.<br />

Em aplicações práticas, inicialmente se faz uma análise com mo<strong>de</strong>los lineares<br />

simplificados para avaliação <strong>de</strong> forças <strong>de</strong> inércia, interação Barragem–Reservatório–<br />

Fundação (BRF) e mecanismos resistentes da barragem, <strong>de</strong> modo a verificar as exigências<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho. Nesta fase procura-se avaliar o aumento relativo das tensões com<br />

a adição das cargas sísmicas e uma estimativa refinada da distribuição <strong>de</strong> tensões não é<br />

necessária. Nestas condições o primeiro método <strong>de</strong> análise geralmente utilizado é o<br />

pseudo-estático (coeficiente sísmico).<br />

Este estudo faz uma adaptação, através da utilização <strong>de</strong> uma formulação aproximada<br />

proposta para o cálculo da pressão hidrodinâmica, ao Método do Coeficiente<br />

Sísmico. Com efeito, o presente estudo é baseado em estudos anteriores [8] e mais<br />

recentes [9] relativos ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> metodologias <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> risco sísmico<br />

<strong>de</strong> barragens a partir <strong>de</strong> análises progressivas <strong>de</strong> abordagem da questão.<br />

Portanto, este trabalho tem por objetivo ilustrar <strong>de</strong> uma forma simples, através<br />

<strong>de</strong> um estudo <strong>de</strong> caso (perfil típico aproximado da Barragem <strong>de</strong> Tucuruí [10]), as<br />

alterações introduzidas na barragem (em termos <strong>de</strong> tensões) e a <strong>de</strong>terminação dos<br />

coeficientes <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> sísmica, quando um sismo se faz presente, mostrando<br />

as modificações introduzidas nas gran<strong>de</strong>zas características do problema por este<br />

tipo <strong>de</strong> solicitação.<br />

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50<br />

2 MÉTODO PSEUDO-ESTÁTICO (COEFICIENTE SÍSMICO)<br />

Uma metodologia utilizada e bem apropriada ao caso é <strong>de</strong>scrita no USBR Design<br />

of Small Dams [11], assim como em outras normas estrangeiras [12], [13], [14] e [15].<br />

Neste método as forças inerciais e hirodinâmicas induzidas por terremoto são representadas<br />

por cargas estáticas efetivas. A análise supõe para a barragem um movimento<br />

<strong>de</strong> corpo rígido e a água como incompressível.<br />

Não são também levados em conta a interação BRF e o efeito <strong>de</strong> absorção pelo<br />

fundo do reservatório. As forças <strong>de</strong> inércia são calculadas usando a aceleração do solo<br />

numa direção apropriada e são aplicadas no centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> da barragem. As forças<br />

hidrodinâmicas são estimadas e distribuídas usando uma formulação proposta por Westergaard<br />

[16]. A estabilida<strong>de</strong> da barragem é verificada supondo que o pico dos movimentos<br />

horizontal e vertical do solo ocorre simultaneamente.<br />

As forças do terremoto são combinadas com as forças <strong>de</strong>vido ao silte a gravida<strong>de</strong> e as<br />

forças hidrostáticas do reservatório. Estas forças são aplicadas à barragem como uma carga<br />

estática equivalente; as tensões são calculadas pela teoria elementar <strong>de</strong> viga e a verificação<br />

dos critérios <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> efetuados pelas expressões clássicas <strong>de</strong>stas verificações [17].<br />

Portanto, a análise pseudo-estática é conservativa no que diz respeito às seguintes<br />

suposições: i) a continuida<strong>de</strong> do carregamento sísmico, ii) a <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração do<br />

amortecimento e da energia absorvida pela barragem e fundação, iii) a aplicação simultânea<br />

das acelerações horizontais e verticais máximas e iv) a amplificação das vibrações<br />

na barragem (que po<strong>de</strong> ser importante mesmo numa pequena barragem).<br />

Estas simplificações são fonte <strong>de</strong> erros uma vez que não levam em conta certos<br />

aspectos importantes do sistema completo a ser consi<strong>de</strong>rado. Estudos anteriores <strong>de</strong>scritos<br />

por Chopra [18] e outros autores [19] <strong>de</strong>monstraram que o efeito da interação entre a<br />

BRF têm efeitos importantes na resposta da barragem durante terremotos; assim como os<br />

efeitos <strong>de</strong> compressibilida<strong>de</strong> da água [20], [21] po<strong>de</strong>m ter um papel significativo no caso<br />

da interação barragem-reservatório, e não há nenhum mecanismo no método <strong>de</strong> análise<br />

pseudo-estático que permita esclarecer corretamente estes efeitos.<br />

2.1 APROXIMAÇÃO ANALÍTICA PROPOSTA PARA O CÁLCULO DA PRESSÃO HIDRODINÂ-<br />

MICA NO MÉTODO PSEUDO-ESTÁTICO<br />

O problema geral <strong>de</strong> mecânica dos fluidos que envolve a questão possui três<br />

variáveis a serem <strong>de</strong>terminadas: a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> (r), a pressão (p) e a velocida<strong>de</strong> (V). Para<br />

a solução do problema são necessárias três equações fundamentais: equação da continuida<strong>de</strong>,<br />

equação <strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimento e equação <strong>de</strong> estado. A solução<br />

<strong>de</strong>stas equações gerais, no entanto, é difícil e algumas hipóteses simplificadoras <strong>de</strong>vem<br />

ser utilizadas para se obter uma solução fechada para o problema, sendo elas:<br />

fluido não viscoso, homogêneo e incompressível; escoamento irrotacional; pequenos<br />

<strong>de</strong>slocamentos em torno da posição <strong>de</strong> equilíbrio (fluido acústico); pequenas<br />

inclinações das ondas <strong>de</strong> superfície; não há <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> do meio (fontes e sumidouros);<br />

reservatório <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>s rígidas.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 47-59, <strong>de</strong>z. 2009


51<br />

Aplicando-se estas hipóteses às equações gerais e eliminando-se a velocida<strong>de</strong>,<br />

chega-se à equação da onda dada em termos das pressões (p):<br />

. (1)<br />

On<strong>de</strong>:<br />

p é a pressão hidrodinâmica,<br />

c é a velocida<strong>de</strong> do som no meio fluido,<br />

é o operador <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivada espacial.<br />

No caso <strong>de</strong> incompressibilida<strong>de</strong> do fluido c<br />

<br />

, a Equação (1) se torna a<br />

equação <strong>de</strong> Laplace [24].<br />

. (2)<br />

Baseando-se na i<strong>de</strong>ia proposta por Westergaard [2], <strong>de</strong> uma formulação aproximada<br />

para o cálculo da pressão hidrodinâmica, e através da experiência <strong>de</strong> outras pesquisas<br />

com traçados <strong>de</strong> gráficos <strong>de</strong> funções e ainda da observação do comportamento gráfico<br />

da pressão hidrodinâmica exata na face da barragem ao longo da altura, Silva [22] propôs<br />

uma função <strong>de</strong> aproximação para a pressão hidrodinâmica na face da barragem:<br />

. (3)<br />

A Equação (3) correspon<strong>de</strong> à aproximação analítica proposta para o cálculo da<br />

pressão hidrodinâmica na face da barragem.<br />

2.2 FORÇA DE INÉRCIA<br />

A força <strong>de</strong> inércia, em uma seção qualquer, po<strong>de</strong> ser obtida por meio do produto<br />

entre a massa da seção consi<strong>de</strong>rada e a sua respectiva aceleração. A hipótese <strong>de</strong> movimento<br />

<strong>de</strong> corpo rígido da barragem faz com que a aceleração da estrutura tenha o mesmo<br />

valor ao longo <strong>de</strong> toda a sua altura, e com que o ponto <strong>de</strong> aplicação da força <strong>de</strong><br />

inércia coincida com o centrói<strong>de</strong> da seção. No caso <strong>de</strong> uma aceleração horizontal do<br />

terreno, a barragem será submetida a uma aceleração horizontal, uniformemente distribuída,<br />

<strong>de</strong> valor igual à V g<br />

. Tem-se então:<br />

F<br />

IH<br />

m . V<br />

(4)<br />

seção<br />

g<br />

On<strong>de</strong>:<br />

F é a força <strong>de</strong> inércia e m<br />

IH<br />

seção é a massa da seção consi<strong>de</strong>rada.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 47-59, <strong>de</strong>z. 2009


52<br />

3 RESULTADOS<br />

O perfil <strong>de</strong> barragem estudado possui altura <strong>de</strong> 86.865 m e largura da base <strong>de</strong><br />

71.427 m, tendo, portanto, uma relação base altura <strong>de</strong> 82%, com uma crista <strong>de</strong> 20.851 m<br />

<strong>de</strong> largura. A barragem é <strong>de</strong> concreto gravida<strong>de</strong>. Essas dimensões aproximam-se do<br />

perfil típico da Usina Hidrelétrica <strong>de</strong> Tucuruí.<br />

Figura 2: Perfil teórico da barragem em estudo.<br />

Os parâmetros <strong>de</strong> resistência utilizados no cálculo do Coeficiente <strong>de</strong> Segurança<br />

ao Deslizamento estão apresentados na tabela 1. Estes valores foram extraídos da literatura<br />

[19] e [23].<br />

Tabela 1: Proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> resistência dos materiais na base da barragem<br />

(interface com a fundação).<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 47-59, <strong>de</strong>z. 2009


53<br />

Para a <strong>de</strong>terminação dos carregamentos atuantes (peso próprio, força hidrostática<br />

e subpressão) é necessária a adoção <strong>de</strong> valores médios para <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s do concreto<br />

e da água, além da posição do dreno, assim como a lei <strong>de</strong> distribuição das pressões<br />

nas juntas <strong>de</strong> fissuração e interface barragem-fundação.<br />

Tabela 2: Sumário dos principais parâmetros para o cálculo das forças estáticas.<br />

3.1 ANÁLISE ESTÁTICA<br />

Utilizando os parâmetros <strong>de</strong>scritos anteriormente, tabelas 1 e tabela 2, po<strong>de</strong>mse<br />

obter analiticamente os esforços atuantes na seção horizontal da base da barragem<br />

(interface barragem-fundação). Esses valores estão apresentados na tabela 3 e são resultados<br />

da utilização <strong>de</strong> um procedimento manual passo a passo [6].<br />

Tabela 3: Esforços na seção da base.<br />

A partir <strong>de</strong>sses dados e dos parâmetros <strong>de</strong> resistência, tabela 2, po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>terminar<br />

alguns indicadores que caracterizam a estabilida<strong>de</strong> da estrutura, tais como as<br />

tensões estáticas e coeficientes <strong>de</strong> segurança ao <strong>de</strong>slizamento (CSD), tombamento (CST)<br />

e flutuação (CSF). Esses valores estão apresentados <strong>de</strong> acordo com a combinação <strong>de</strong><br />

carregamentos, tabela 6 e tabela 7.<br />

3.2 APLICAÇÃO DO MÉTODO PSEUDO-ESTÁTICO<br />

A análise sísmica pseudo-estática consiste em se calcular duas forças que ocorrem<br />

na barragem: a força hidrodinâmica (massa adicional) do reservatório e a força <strong>de</strong><br />

inércia da estrutura. A partir <strong>de</strong>sse cálculo novos parâmetros <strong>de</strong> segurança são calculados<br />

<strong>de</strong>vido à nova configuração <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> da estrutura. Os dados do terremoto<br />

estudado nessa estrutura estão <strong>de</strong>scritos na tabela 4.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 47-59, <strong>de</strong>z. 2009


54<br />

Tabela 4: Dados do sismo estudado.<br />

As acelerações <strong>de</strong> pico são utilizadas na análise <strong>de</strong> tensões enquanto a acelerações<br />

<strong>de</strong> sustentação são usadas na análise <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> global. A força hidrodinâmica<br />

no reservatório é calculada, no Método Pseudo-Estático, em função da aceleração horizontal<br />

do solo (A H<br />

) e da altura da barragem (h), através <strong>de</strong> manipulações algébricas na<br />

Equação (3) e utilizando-se do princípio da Segunda Lei <strong>de</strong> Newton, <strong>de</strong>termina-se:<br />

H d<br />

= 5.12 A H<br />

h 2<br />

(5)<br />

Utilizando a altura <strong>de</strong> 86.865 m e as acelerações <strong>de</strong>scritas, tabela 4, tem-se os<br />

seguintes valores da força hidrodinâmica horizontal:<br />

H d<br />

pico<br />

= 6 033 kN; H d<br />

sustentação<br />

= 3 016 kN.<br />

A força <strong>de</strong> inércia horizontal da barragem (EQH), por metro <strong>de</strong> barragem, é calculada<br />

com sendo o peso do perfil vezes a aceleração horizontal do sismo, ou seja:<br />

EQH = V y c<br />

A H<br />

EQV = V y c<br />

A V<br />

(6)<br />

(7)<br />

On<strong>de</strong> “V” é o volume do perfil da barragem; g c<br />

é o peso específico do concreto;<br />

e A H<br />

é a aceleração horizontal do sismo e A V<br />

é a aceleração vertical do sismo. Utilizando<br />

os valores apresentados na tabela 2 e na tabela 4, a forca horizontal <strong>de</strong> inércia vale:<br />

EQH pico = 12 737 kN; EQH sustentação = 6 369 kN<br />

EQV pico = 8 492 kN; EQV sustentação = 4 246 kN<br />

As forças H d<br />

, EQH e EQV possuem natureza oscilatória, o método Pseudo-Estático<br />

não consi<strong>de</strong>ra este efeito. Na prática o que é feito é uma combinação das forças<br />

usuais (peso próprio, força hidrostática e subpressão) com as forças provocadas pelo<br />

sismo (H d<br />

, EQH e EQV). Os coeficientes <strong>de</strong> combinação entre as forças sísmicas horizontais<br />

(H d<br />

e EQH) e as forças sísmicas verticais (EQV) são “1.0 e 0.3”, respectivamente, [19].<br />

No presente trabalho é feita a combinação <strong>de</strong> carregamentos para mostrar os<br />

efeitos das forças sísmicas sobre a estrutura. As combinações utilizadas e os coeficientes<br />

utilizados estão <strong>de</strong>talhados na tabela 5, on<strong>de</strong> as setas indicam o sentido <strong>de</strong> aplicação<br />

das forças sísmicas na barragem da figura 1.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 47-59, <strong>de</strong>z. 2009


55<br />

Tabela 5: Combinações <strong>de</strong> carregamentos<br />

O efeito das forças sísmicas na estrutura po<strong>de</strong> ser computado no cálculo das<br />

novas tensões e parâmetros <strong>de</strong> segurança. Um comparativo entre os resultados estáticos<br />

e dinâmicos está na tabela 6 e na tabela 7. O sinal positivo antes das forças sísmicas<br />

horizontais indica força aplicada na direção da barragem para o reservatório, enquanto<br />

o sinal negativo indica o sentido contrário. Para a força sísmica vertical (EQV) o sinal<br />

positivo indica força na mesma direção da força peso da barragem (para baixo), enquanto<br />

que o sinal negativo o sentido contrário.<br />

Tabela 6: Avaliação da Segurança Sísmica – Análise das Tensões.<br />

aH<br />

aV<br />

a H<br />

Tabela 7: Avaliação da Segurança Sísmica – Análise das Estabilida<strong>de</strong>s<br />

aH<br />

aV<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 47-59, <strong>de</strong>z. 2009


56<br />

Os gráficos da figura 3: (a), (b), (c), (d) e (e) ilustram e comparam os coeficientes<br />

<strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> sísmica calculados utilizando tanto a aproximação proposta por<br />

Westergaard [2] quanto a aproximação proposta por Silva [22], Equação (3), para o cálculo<br />

da pressão hidrodinâmica e consequentemente da força hidrodinâmica (H d<br />

) na<br />

<strong>de</strong>terminação dos referidos coeficientes.<br />

Figura 3: Coeficientes <strong>de</strong> Estabilida<strong>de</strong> Sísmica<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 47-59, <strong>de</strong>z. 2009


57<br />

4 CONCLUSÕES<br />

A partir dos resultados obtidos nesta aplicação, alguns comentários e conclusões<br />

po<strong>de</strong>m ser evi<strong>de</strong>nciados:<br />

O critério <strong>de</strong> uma avaliação preliminar (Nível 0) é importante para avaliar a severida<strong>de</strong><br />

das cargas sísmicas. Uma análise pseudo-estática é a<strong>de</strong>quada se a barragem po<strong>de</strong><br />

ser consi<strong>de</strong>rada como um corpo rígido, o que significa ter em geral um período <strong>de</strong> vibração<br />

fundamental inferior a 0.03 s.<br />

Ao compararem-se os resultados da tabela 7 com os coeficientes <strong>de</strong> segurança<br />

dados pelo CDA-1999, verifica-se que o perfil adotado aten<strong>de</strong> na maioria dos casos as<br />

exigências das normas, caracterizando com isto um perfil corretamente projetado, aspecto<br />

que po<strong>de</strong>ria preliminarmente (sob reservas) permitir inferências positivas para<br />

um caso como o da Barragem <strong>de</strong> Tucuruí.<br />

Através dos gráficos da figura 3, observa-se que os coeficientes <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong><br />

sísmica que são obtidos através da aproximação analítica proposta para a pressão hidrodinâmica<br />

no Método Pseudo-Estático estão em perfeita concordância com os coeficientes<br />

obtidos quando se faz uso da formulação <strong>de</strong> Westergaard.<br />

4 AGRADECIMENTOS<br />

Os autores agra<strong>de</strong>cem à FIDESA-Pará/Brasil e à UNAMA pelos recursos materiais<br />

(equipamentos) e financeiros (bolsas) colocados à disposição <strong>de</strong>sta pesquisa.<br />

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Pedro-SP, 2003.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 47-59, <strong>de</strong>z. 2009


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[6] SILVA, S.F. & PEDROSO, L.J. Desenvolvimento Passo a Passo do Método Pseudo-<br />

Estático para uma Análise Sísmica Preliminar em Barragens Gravida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Concreto.<br />

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[8] PEDROSO, L.J. Fluid-Structure Interaction and Earthquake Analysis In Concrete Dams.<br />

Relatório <strong>de</strong> Estudos <strong>de</strong> Pós-Doutorado, University of Montreal, École Polytechnique,<br />

Civil Engineering Department, Structural Division, 2000.<br />

[9] SILVA, S.F. & PEDROSO, L.J. Avaliação Preliminar da Segurança Símica <strong>de</strong> um Perfil<br />

Típico em Barragem <strong>de</strong> Concreto Gravida<strong>de</strong>. XXVI Seminário Nacional <strong>de</strong> Gran<strong>de</strong>s Barragens,<br />

Goiânia-GO, 2005.<br />

[10] PEDROSO, L.J. Metodologias para o Tratamento <strong>de</strong> Problemas Hidrotécnicos em<br />

Engenharia <strong>de</strong> Barragens. Projeto <strong>de</strong> Pesquisa Eletronorte/UnB, Brasília, 2004.<br />

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[15] CDSA (CANADIAN DAM SAFETY ASSOCIATION). Dam Safety Gui<strong>de</strong>lines and Commentaries.<br />

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[16] WESTERGAARD, H.M. Water pressures on dams during earthquakes. Transactions<br />

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3 Gravity Dam, Comptes rendus <strong>de</strong> la Tenth World Conference on Earthquake Engineering,<br />

6, Madrid, Espagne, 1992.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 47-59, <strong>de</strong>z. 2009


59<br />

[19] LÉGER, P. E TINAWI, R. Lecture Notes of the Seminars on Research and Development<br />

of Security and Structural Integrity of Concrete Dams.-UM/Poly –Montreal, 2000.<br />

[20] PEDROSO,L.J. & MORAIS, M.V.G. Compressibility Effects in Water-Dam Interaction.VII<br />

Congresso Panamericano <strong>de</strong> Mecanica Aplicada-PACAM VII.Temuco, Chile, 2002.<br />

[21] PEDROSO, L.J. Fluid-Structure Interaction and Earthquake Analysis In Concrete Dams.<br />

Relatório <strong>de</strong> Estudos <strong>de</strong> Pós-Doutorado, University of Montreal, École Polytechnique,<br />

Civil Engineering Department, Structural Division, 2000.<br />

[22] SILVA, S.F. Interação Dinâmica Barragem-Reservatório: Mo<strong>de</strong>los Analíticos e Numéricos.<br />

Tese <strong>de</strong> Doutorado em Estruturas e Construção Civil. E.TD - 005 A/07. UnB-FT/ENC,<br />

Brasília-DF, 2007.<br />

[23] SILVA, S.F. & Pedroso, L.J. Avaliação Preliminar da Segurança Símica <strong>de</strong> um Perfil<br />

Típico em Barragem <strong>de</strong> Concreto Gravida<strong>de</strong>. In: XXVI Seminário Nacional <strong>de</strong> Gran<strong>de</strong>s<br />

Barragens, Goiânia-GO, 2005.<br />

[24] LAMB, H. Hydrodinamics-6 th Ed. Dover, New York, 1945.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 47-59, <strong>de</strong>z. 2009


61<br />

AVALIAÇÃO DE MÉTODOS DE DIMENSIONAMENTO DE REDE DE<br />

ABASTECIMENTO DE ÁGUA E ESTUDO DAS CONDIÇÕES DE<br />

SANEAMENTO DO BAIRRO NOVO HORIZONTE EM BARCARENA - PA<br />

Júnior Hiroyuki Ishihara *<br />

Lin<strong>de</strong>mberg Lima Fernan<strong>de</strong>s **<br />

Alberto Carlos <strong>de</strong> Melo Lima ***<br />

André A. A. Montenegro Duarte ****<br />

Marcos <strong>de</strong> Almeida Farias *****<br />

RESUMO<br />

O presente trabalho faz uma abordagem quantitativa e qualitativa <strong>de</strong> diversos aspectos<br />

que influenciam, através do sistema <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água, a comunida<strong>de</strong> resi<strong>de</strong>nte<br />

no bairro Novo Horizonte, localizado no município <strong>de</strong> Barcarena-PA. Primeiramente<br />

foi proposto um estudo operacional tanto da re<strong>de</strong> existente quanto da re<strong>de</strong> proposta<br />

pelo presente trabalho, utilizando dois diferentes métodos <strong>de</strong> dimensionamento, um<br />

tradicional (método do Seccionamento Fictício), muito utilizado pela maioria dos projetistas<br />

e outro que tem por objetivo dimensionar a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma que proporcione o<br />

menor custo possível (método PNL 2000 modificado); avaliando-se a eficácia <strong>de</strong>stes<br />

através do programa simulador EPANET 2.0, no qual se verificou as condições <strong>de</strong> conformida<strong>de</strong><br />

com as normas brasileiras, <strong>de</strong>stacando-se as pressões e velocida<strong>de</strong>s nos condutos.<br />

E, por fim, são mostrados os resultados do diagnóstico das condições em que se<br />

encontra a população resi<strong>de</strong>nte no referido bairro, observando-se os aspectos sociais,<br />

econômicos e ambientais, dando ênfase na relação existente entre um sistema <strong>de</strong> abastecimento<br />

<strong>de</strong> água e a saú<strong>de</strong> individual e coletiva.<br />

Palavras-Chave: Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Distribuição <strong>de</strong> Água. Métodos <strong>de</strong> Dimensionamento <strong>de</strong> Re<strong>de</strong>s.<br />

Simulação Hidráulica. EPANET 2.0. Saneamento Ambiental.<br />

* Engenheiro Sanitarista. Mestrando do Programa Pós-Graduação em Engenharia Civil (PPGEC) na área <strong>de</strong><br />

concentração em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Pará (UFPA)<br />

** Doutor em Ciências: Desenvolvimento Socioambiental, Professor Adjunto da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Engenharia<br />

Sanitária e Ambiental - FAESA/ITEC - Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Pará (UFPA)<br />

*** Doutor em Hidráulica e Saneamento (EESC-USP). Professor Titular do Centro <strong>de</strong> Ciências Exatas e Tecnologia<br />

(UNAMA). Professor da Universida<strong>de</strong> do Estado do Pará (UEPA)<br />

**** Doutor em Geociências pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Pará. Professor Adjunto da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Engenharia<br />

Civil - FAEC/ ITEC - Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Pará (UFPA)<br />

***** Engenheiro Sanitarista<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 61-73, <strong>de</strong>z. 2009


62<br />

EVALUATION OF METHODS OF DESIGN OF NETWORK OF WATER<br />

SUPPLY AND STUDY OF CONDITIONS OF SANITATION OF<br />

NEIGHBORHOOD IN NEW HORIZON BARCARENA - PA.<br />

ABSTRACT<br />

This paper makes a quantitative and qualitative approach to various aspects that influence,<br />

through a system of water supply, community resi<strong>de</strong>nt in the neighborhood Novo<br />

Horizonte, located in Barcarena-PA. It was first proposed as an operational review of the<br />

existing network as the network proposed by this study using two different methods of<br />

scaling, a traditional (method of sectioning Dummy), wi<strong>de</strong>ly used by most <strong>de</strong>signers and<br />

others that aims to scale the network manner that provi<strong>de</strong>s the lowest possible cost (NLP<br />

method 2000 modified); evaluating the effectiveness of the program through mortgage<br />

EPANET 2.0, which observed the conditions in accordance with auditing standards, highlighting<br />

the pressures and velocities in the ducts. Finally the results are shown in the<br />

diagnosis of conditions in which he is the resi<strong>de</strong>nt population in that district, observing<br />

the social, economic and environmental issues, emphasizing the relationship between a<br />

system of water supply and individual and collective health.<br />

Keywords: Distribution Network Water. Methods Sizing Networks. Hydraulic Simulation.<br />

EPANET 2.0. Environmental Sanitation.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

A escassez <strong>de</strong> recursos financeiros, sobretudo nas concessionárias públicas <strong>de</strong><br />

serviços <strong>de</strong> saneamento, tem sido o fator limitante para o bom atendimento à população,<br />

por isso, para a alocação a<strong>de</strong>quada e racional <strong>de</strong>sses recursos, tornam-se necessários,<br />

estudos <strong>de</strong> viabilida<strong>de</strong> econômica e <strong>de</strong> simulações dos possíveis cenários otimizados,<br />

sobretudo <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água.<br />

Com o aumento populacional urbano e a falta <strong>de</strong> saneamento básico, surge a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um gerenciamento racional e integrado dos recursos hídricos, ainda<br />

mais quando os mananciais <strong>de</strong> abastecimento estão cada vez mais distantes dos centros<br />

das cida<strong>de</strong>s em <strong>de</strong>corrência da poluição ocasionada pelos <strong>de</strong>spejos indiscriminados <strong>de</strong><br />

resíduos líquidos nos corpos hídricos, principalmente nos superficiais. Historicamente,<br />

a distribuição <strong>de</strong> água potável à população tem se mostrado como um problema constante,<br />

já que os mananciais estão cada vez mais escassos e não existem gran<strong>de</strong>s aportes<br />

<strong>de</strong> recursos financeiros <strong>de</strong>stinados à manutenção dos mesmos.<br />

Dentro <strong>de</strong>ste contexto, os sistemas <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água potável <strong>de</strong>sempenham<br />

um importante papel na manutenção da qualida<strong>de</strong> da água a ser distribuída, e seu<br />

correto dimensionamento proporciona sua durabilida<strong>de</strong> e confiabilida<strong>de</strong>. No dimensionamento,<br />

por exemplo, <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água, <strong>de</strong>ve-se pon<strong>de</strong>rar todos<br />

os fatores intervenientes que ocasionarão o seu bom funcionamento ao longo dos anos,<br />

uma vez que são responsáveis pelo transporte e distribuição <strong>de</strong> um bem cada vez mais<br />

escasso e essencial (SOARES, 2003).<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 61-73, <strong>de</strong>z. 2009


63<br />

No entanto, como as obras <strong>de</strong> saneamento são muito onerosas, um dos objetivos<br />

da engenharia é justamente projetar com segurança, eficiência e viabilida<strong>de</strong> econômica,<br />

mas muitas vezes isto é ignorado, visando somente à eficiência do sistema, negligenciando<br />

os critérios <strong>de</strong> segurança, confiabilida<strong>de</strong> e custo. Neste contexto, com o<br />

advento da informática aplicada ao saneamento, melhorou-se bastante nos últimos<br />

anos no campo das pesquisas <strong>de</strong> novos métodos e técnicas <strong>de</strong> projeto, mo<strong>de</strong>lagem e<br />

simulação dos fenômenos naturais e matematicamente in<strong>de</strong>terminados, como é o caso<br />

do dimensionamento <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água, processados com maior facilida<strong>de</strong><br />

e em menor tempo.<br />

Este trabalho expõe os resultados <strong>de</strong> uma pesquisa operacional simulada, na<br />

qual se utilizou uma metodologia tradicional muito difundida na área <strong>de</strong> abastecimento<br />

<strong>de</strong> água e outra que gera a melhor solução econômica, ainda pouco conhecida pela<br />

maioria dos projetistas. Também são objeto <strong>de</strong>sta pesquisa, as condições <strong>de</strong> saneamento<br />

em que a população do bairro Novo Horizonte se encontra. Mensurando-se essas<br />

condições, po<strong>de</strong>r-se-á diagnosticar com clareza os principais fatores que contribuem<br />

para a má qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos moradores do referido bairro.<br />

2 METODOLOGIA UTILIZADA<br />

O presente trabalho foi dividido em 5 ETAPAS, sendo:<br />

• ETAPA 1: Concepção do sistema para aplicação dos métodos <strong>de</strong> dimensionamento<br />

<strong>de</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água.<br />

• ETAPA 2: Dimensionamento da re<strong>de</strong> pelos métodos do Seccionamento Fictício e PNL<br />

2000 modificado.<br />

• ETAPA 3: Simulação hidráulica das re<strong>de</strong>s dimensionadas e a existente, com o auxílio<br />

do software EPANET 2.0.<br />

• ETAPA 4: Comparação hidrodinâmica da re<strong>de</strong>, com os resultados gerados na simulação<br />

com o software EPANET.<br />

• ETAPA 5: Avaliação das condições do sistema <strong>de</strong> abastecimento existente, caracterizando<br />

as formas <strong>de</strong> uso da água na comunida<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> se levantar outros aspectos<br />

sociais, econômicos e ambientais.<br />

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

A área da pesquisa foi o bairro Novo Horizonte, localizado no município <strong>de</strong> Barcarena-PA,<br />

com aproximadamente 3.600 pessoas, com uma taxa <strong>de</strong> crescimento populacional<br />

do município <strong>de</strong> 2,7% ao ano (IBGE, 2007). Local constituído basicamente <strong>de</strong><br />

residências unifamiliares e poucos pontos comerciais.<br />

O sistema <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água que se encontra disponível para o Bairro<br />

Novo Horizonte é administrado pela Prefeitura Municipal <strong>de</strong> Barcarena, através do órgão<br />

municipal responsável pelo abastecimento <strong>de</strong> água no município, a Águas <strong>de</strong> Barcarena.<br />

Este sistema é classificado como simplificado, pois apresenta apenas as seguintes<br />

unida<strong>de</strong>s: manancial, captação, adução, estação elevatória, reservação e distribuição.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 61-73, <strong>de</strong>z. 2009


64<br />

ETAPA 1:<br />

Os parâmetros utilizados para a concepção do sistema e para aplicação dos métodos<br />

<strong>de</strong> dimensionamento Seccionamento Fictício e PNL 2000 Modificado da re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

abastecimento <strong>de</strong> água foram os seguintes:<br />

Tabela 1: Parâmetros adotados no projeto (Seccionamento Fictício e PNL 2000 Modificado).<br />

PARÂMETROS DE PROJETO SECCIONAMENTO PNL 2000<br />

FICTÍCIO MODIFICADO<br />

Horizonte <strong>de</strong> Projeto (anos) 20 20<br />

População Final <strong>de</strong> Plano (2028) (hab.) 6299 6299<br />

*Demanda especial - Bairro Laranjal (L/s) 43,10 43,10<br />

Consumo per capita (L/hab.dia) 200 200<br />

Coeficiente K1 1,2 1,2<br />

Coeficiente K2 1,5 1,35<br />

Vazão Total <strong>de</strong> Projeto (L/s) 69,35 69,35<br />

Vazão Efetiva <strong>de</strong> Projeto (L/s) 26,25 26,25<br />

Comprimento Total <strong>de</strong> Re<strong>de</strong> (m) 3999,80 3999,80<br />

Comprimento <strong>de</strong> Re<strong>de</strong> Efetivo(m) 1956,20 1956,20<br />

Vazão Específica (L/s.m) 0,0134 -<br />

Área Total (ha) - 0,49<br />

Vazão Específica (L/s.ha) - 54,10<br />

*A <strong>de</strong>manda especial citada na tabela refere-se à vazão <strong>de</strong>stinada a outro bairro localizado<br />

após o bairro em estudo, que também é abastecido pelo mesmo sistema.<br />

ETAPA 2:<br />

• Dimensionamento pelo Método do Seccionamento Fictício.<br />

O método do seccionamento fictício consiste em supor situações em uma <strong>de</strong>terminada<br />

re<strong>de</strong> <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> água, on<strong>de</strong> os trechos da re<strong>de</strong> serão seccionados, <strong>de</strong><br />

forma que se tenha uma situação fictícia para sua aplicação. Com este método é possível<br />

dimensionar re<strong>de</strong>s malhadas, transformando-as para re<strong>de</strong>s ramificadas fictícias, verificando-se<br />

as hipóteses dos seccionamentos adotados, confrontando os valores calculados<br />

com condições relacionadas às pressões resultantes nos pontos <strong>de</strong> seccionamento pelos<br />

trajetos possíveis da água da re<strong>de</strong> ramificada fictícia que <strong>de</strong>vem ter valores aproximados.<br />

Filho (2008) afirma que este método é mais indicado para cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pequeno<br />

porte e o dimensionamento consiste na transformação <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s em malha em<br />

re<strong>de</strong>s ramificadas com o artifício do seccionamento fictício em pontos estratégicos<br />

da re<strong>de</strong>, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se facilitar o processo <strong>de</strong> cálculo e resolução do problema<br />

em questão.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 61-73, <strong>de</strong>z. 2009


65<br />

O dimensionamento da re<strong>de</strong> através <strong>de</strong>ste método foi realizado com o auxílio<br />

do Software Excel. E observou-se que todos os elementos preconizados pela<br />

norma NBR 12218 foram obe<strong>de</strong>cidos, a velocida<strong>de</strong> nos trechos ficou entre os limites<br />

<strong>de</strong> 0,30 a 3,50 m/s e a pressão mínima e máxima entre 10 m.c.a. e 50 m.c.a. respectivamente.<br />

Destaca-se também, a cota <strong>de</strong> soleira do reservatório elevado que foi<br />

<strong>de</strong> 16,09 metros <strong>de</strong> altura.<br />

• Dimensionamento pelo Método PNL 2000 Modificado.<br />

Este método tem como objetivo <strong>de</strong>terminar a solução que proporcione o custo<br />

mínimo global, tanto <strong>de</strong> operação quanto <strong>de</strong> implantação do sistema <strong>de</strong> distribuição e<br />

está baseado nas técnicas <strong>de</strong> otimização econômica (GOMES, 2002).<br />

Para a execução do método, faz-se necessária a utilização <strong>de</strong> planilhas eletrônicas<br />

e algoritmo <strong>de</strong> otimização. A Planilha Excel oferece um suplemento <strong>de</strong>nominado<br />

“SOLVER”, que traz em seu núcleo o algoritmo <strong>de</strong> otimização GRG2 (Gradiente Reduzido<br />

Generalizado 2), <strong>de</strong>senvolvido por Lasdon e Warren (1984), e baseia-se na programação<br />

não linear (PNL), i<strong>de</strong>al para a solução <strong>de</strong> problemas não <strong>de</strong>terminados e que admitam<br />

múltiplas soluções, como é o caso das re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> água. A Figura 1 mostra<br />

a janela, em ambiente Windows, do suplemento SOLVER.<br />

Figura 1: Janela do SOLVER.<br />

O dimensionamento da re<strong>de</strong> com este método também foi realizado através do<br />

Software Excel, com o auxílio da ferramenta Solver do próprio programa, responsável<br />

pela minimização do valor do projeto neste trabalho, através <strong>de</strong> uma função objetiva.<br />

Neste sentido, a função a ser minimizada durante o processo <strong>de</strong> cálculo é certamente<br />

o menor valor possível <strong>de</strong>ntre as várias soluções admitidas para o sistema <strong>de</strong><br />

abastecimento <strong>de</strong> água em estudo. Além do fator econômico, foi observado que todas<br />

as restrições impostas ao dimensionamento foram obe<strong>de</strong>cidas, <strong>de</strong>stacando-se os limites<br />

<strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>, a continuida<strong>de</strong> nos nós e a conservação da energia nos anéis. As<br />

pressões ficaram nos limites preestabelecidos e a cota <strong>de</strong> fundo do reservatório elevado<br />

foi <strong>de</strong> 34,36 metros, o que remete a uma altura, do nível do solo até a laje <strong>de</strong> fundo,<br />

<strong>de</strong> 14,70 metros.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 61-73, <strong>de</strong>z. 2009


66<br />

O método PNL 2000 modificado po<strong>de</strong> ser aplicado tanto em re<strong>de</strong>s ramificadas<br />

quanto a re<strong>de</strong>s malhadas, sem restrições <strong>de</strong> dimensão e extensão <strong>de</strong> re<strong>de</strong>.<br />

O método PNL 2000 modificado é <strong>de</strong>vido a uma adaptação feita a partir do método<br />

PNL 2000 tradicional (GOMES, 2002), e este também é uma variante do método<br />

Hardy-Cross, no qual os diâmetros encontrados são <strong>de</strong>sdobrados em dois diâmetros<br />

comercialmente disponíveis, um imediatamente superior e outro imediatamente inferior<br />

ao calculado, no PNL 2000 modificado o diâmetro encontrado é simplesmente aproximado<br />

ao mais a<strong>de</strong>quado disponível no mercado.<br />

ETAPA 3:<br />

O software utilizado para simulação hidráulica das re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong><br />

água em estudo foi o EPANET 2.0, que é um programa <strong>de</strong> informática <strong>de</strong> distribuição livre<br />

(gratuito) <strong>de</strong>senvolvido pela USEPA (Environmental Protection Agency of United States).<br />

Este programa permite simular o comportamento hidráulico <strong>de</strong> sistemas pressurizados<br />

<strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> água, assim também como possibilita obter valores <strong>de</strong> vazão em cada<br />

trecho, da pressão em cada nó e do nível <strong>de</strong> água nos reservatórios (ROSSMAN, 2000). A<br />

Figura 2 ilustra a janela <strong>de</strong> trabalho do programa no ambiente Windows.<br />

O EPANET é um simulador das condições reais <strong>de</strong> funcionamento <strong>de</strong> um sistema<br />

<strong>de</strong> abastecimento. Nele po<strong>de</strong>m-se reproduzir com fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> todas as partes constituintes<br />

do sistema físico, incluindo válvulas, bombas, tubulações e reservatórios, e também<br />

as características não-físicas, como as <strong>de</strong>mandas nodais, parâmetros <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />

da água e as características peculiares <strong>de</strong> cada sistema.<br />

Figura 2: Interface do software EPANET 2.0.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 61-73, <strong>de</strong>z. 2009


67<br />

Para a simulação hidráulica com este software, foi consi<strong>de</strong>rada a situação mais<br />

<strong>de</strong>sfavorável para o perfeito funcionamento da re<strong>de</strong>, ou seja, admitiu-se o consumo<br />

máximo <strong>de</strong> dimensionamento e este ocorrerá ao final do período consi<strong>de</strong>rado para o<br />

projeto, ou seja, após 20 anos <strong>de</strong> implantação do sistema 2028.<br />

- Na simulação da re<strong>de</strong> dimensionada pelo Método do Seccionamento Fictício<br />

foi observado que a maior pressão encontrada após 20 anos, na área do bairro Novo<br />

Horizonte, foi <strong>de</strong> 14,80 m.c.a., e a menor 10,55 m.c.a. Estando, <strong>de</strong>sta forma, <strong>de</strong>ntro dos<br />

padrões mínimos (10 m.c.a) e máximos (50 m.c.a) estabelecidos pela ABNT. A Figura 3 a<br />

seguir mostra os resultados das pressões ao longo <strong>de</strong> toda a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> abastecimento,<br />

incluindo a re<strong>de</strong> secundária.<br />

Figura 3: Distribuição das pressões (por classes) na re<strong>de</strong> principal esecundária dimensionada<br />

pelo método do Seccionamento Fictício.<br />

- Na simulação da re<strong>de</strong> dimensionada pelo Método PNL 2000 Modificado, as pressurizações<br />

encontradas na re<strong>de</strong> também mostraram-se satisfatórias. Mínimo <strong>de</strong> 10,10<br />

m.c.a e máximo <strong>de</strong> 14,60 m.c.a. A Figura 4 a seguir mostra os resultados das pressões<br />

ao longo <strong>de</strong> toda a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> abastecimento, incluindo a re<strong>de</strong> secundária.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 61-73, <strong>de</strong>z. 2009


68<br />

Figura 4: Distribuição das pressões (por classes) na re<strong>de</strong> principal e secundária<br />

dimensionada pelo método PNL 2000 modificado.<br />

Observa-se que a pressurização na re<strong>de</strong> dimensionada pelo método PNL 2000<br />

modificado apresenta-se mais a<strong>de</strong>quada, no sentido <strong>de</strong> encontrar o dimensionamento<br />

mais econômico, tendo em vista a a<strong>de</strong>quação das pressões próximas ao mínimo <strong>de</strong> 10<br />

m.c.a., uma vez que ocorrerão menores gastos nos custos <strong>de</strong> materiais, pois o mo<strong>de</strong>lo<br />

proporciona ao dimensionamento encontrar os diâmetros <strong>de</strong> tubulações mínimos, mas<br />

que sejam suficientes para suprir as exigências do sistema.<br />

- Já na simulação da re<strong>de</strong> existente, mostrou que o consumo <strong>de</strong> final <strong>de</strong> projeto<br />

está totalmente fora dos padrões mínimos <strong>de</strong> 10 m.c.a, o que po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>ixar o sistema<br />

fragilizado. O resultado está expresso na Figura 5 a seguir:<br />

Figura 5: Distribuição das pressões (por classes) na re<strong>de</strong> existente<br />

(Consumo <strong>de</strong> final <strong>de</strong> plano, 20 anos).<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 61-73, <strong>de</strong>z. 2009


69<br />

Observa-se na Figura 6 a seguir, simulada para 10 (<strong>de</strong>z) anos após a implantação<br />

do sistema, que a re<strong>de</strong> já estará comprometida, com pressões ao longo da re<strong>de</strong> abaixo<br />

<strong>de</strong> 10 m.c.a., indicando a fragilida<strong>de</strong> do sistema e em pouco tempo não conseguirá<br />

aduzir a água até aos pontos <strong>de</strong> consumo, tornando-se insustentável.<br />

Figura 6: Distribuição das pressões (por classes) na re<strong>de</strong> existente<br />

(Consumo após <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong> implantação do sistema).<br />

Para efeito <strong>de</strong> constatação, simulou-se a re<strong>de</strong> existente no momento da implantação<br />

do sistema. O resultado mostrou que pelo menos a re<strong>de</strong> não está comprometida<br />

no início da implantação, pois as pressões estão no primeiro momento <strong>de</strong>ntro do<br />

mínimo estabelecido pela ABNT. Na Figura 7 a seguir as pressões que ocorrem na re<strong>de</strong><br />

e po<strong>de</strong>m ser melhor visualizadas.<br />

Figura 7: Distribuição das pressões (por classes) na re<strong>de</strong> existente<br />

(Consumo na implantação do sistema).<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 61-73, <strong>de</strong>z. 2009


70<br />

ETAPA 4:<br />

Nesta etapa serão apresentadas as comparações, tanto hidráulica quanto <strong>de</strong><br />

custos. Para a comparação hidráulica dos dois métodos <strong>de</strong> dimensionamento, utilizouse<br />

as tabelas geradas pelo software EPANET, expressando os valores, para os trechos da<br />

re<strong>de</strong>, <strong>de</strong> comprimento, diâmetro, vazão, velocida<strong>de</strong> e <strong>perda</strong> <strong>de</strong> carga. Para os nós da<br />

re<strong>de</strong> foram listados os dados <strong>de</strong> cota, consumo e pressão. O Quadro 1 a seguir apresenta<br />

a comparação dos dados referentes aos nós da re<strong>de</strong>, obtidos pelos dois métodos <strong>de</strong><br />

dimensionamento da re<strong>de</strong>.<br />

Quadro 1: Comparação dos dados dos nós da re<strong>de</strong> pelos dois métodos <strong>de</strong><br />

dimensionamento.<br />

O Quadro 2 apresenta a comparação das proprieda<strong>de</strong>s referentes às tubulações,<br />

confrontando os dois métodos <strong>de</strong> dimensionamento.<br />

Quadro 2: Comparação dos dados <strong>de</strong> tubulações nos dois métodos <strong>de</strong><br />

dimensionamento utilizados.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 61-73, <strong>de</strong>z. 2009


71<br />

Nota-se que é evi<strong>de</strong>nte a economia nos diâmetros das tubulações no método<br />

PNL 2000 modificado em relação ao método do seccionamento fictício, constatando que<br />

realmente o primeiro mo<strong>de</strong>lo citado, que foi <strong>de</strong>senvolvido para dimensionar os sistemas<br />

<strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água – especificamente a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> água, com o<br />

objetivo <strong>de</strong> obter o menor preço – é evi<strong>de</strong>ntemente mais eficaz em termos <strong>de</strong> custos<br />

que o mo<strong>de</strong>lo tradicional, que tem como principal objetivo apenas estar enquadrado<br />

nas pressurizações mínimas requeridas.<br />

ETAPA 5:<br />

Por se tratar <strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong> saneamento, é imprescindível que haja um levantamento<br />

das condições do local on<strong>de</strong> o projeto está sendo ou já foi implantado, com o<br />

objetivo <strong>de</strong> verificar as características locais, e assim propor medidas que possam proporcionar<br />

o bem estar dos usuários, prevenir doenças e proporcionando saú<strong>de</strong> à população<br />

resi<strong>de</strong>nte.<br />

Neste trabalho, o diagnóstico foi procedido através <strong>de</strong> entrevistas com moradores<br />

locais. Foram escolhidas 110 residências, representando pouco mais <strong>de</strong> 10% do total<br />

<strong>de</strong> residências do local no ano <strong>de</strong> 2008 (900 residências).<br />

Como resultado <strong>de</strong>stas entrevistas, constatou-se os seguintes resultados:<br />

1. O número médio <strong>de</strong> habitantes por domicílio no bairro é <strong>de</strong> 4 habitantes, abaixo da<br />

média anual que é <strong>de</strong> aproximadamente 5 pessoas;<br />

2. Aproximadamente 49% dos domicílios utilizam apenas o sistema público <strong>de</strong> abastecimento<br />

<strong>de</strong> água para o seu consumo; 11% utilizam apenas sistema particular, ou<br />

seja, poços particulares; 40% utilizam ambos os sistemas. Desta forma, percebe-se<br />

que mais da meta<strong>de</strong> das residências utilizam sistema particular, pois foi relatada<br />

que ocorre muita falta <strong>de</strong> água no sistema público.<br />

3. No caso da pressão d’água que chega até as torneiras das residências que se utilizam<br />

do sistema público, quase a meta<strong>de</strong> <strong>de</strong>clarou que a pressão chega forte; 40%<br />

disseram que a pressão é média e pouco mais <strong>de</strong> 13% disseram que é fraca e que a<br />

água nem chega em sua residência.<br />

4. Em relação à qualida<strong>de</strong> da água fornecida pelo sistema público, os relatos mostraram<br />

que a maioria das pessoas encontram-se satisfeitas, pois 70% <strong>de</strong>las <strong>de</strong>clararam<br />

que a qualida<strong>de</strong> da água estava boa ou excelente. E 30% estariam insatisfeitas,<br />

<strong>de</strong>clarando regular ou ruim a qualida<strong>de</strong> da água fornecida.<br />

5. As ocorrências <strong>de</strong> doenças <strong>de</strong> veiculação hídrica já haviam atingido 16% das residências,<br />

sendo que 50% <strong>de</strong>stes casos teria sido a diarréia.<br />

6. O <strong>de</strong>stino final do esgoto sanitário no bairro é feito em 96,36% dos casos em fossas<br />

particulares, e em 3,54% para outras fontes, como um pequeno córrego que passa às<br />

proximida<strong>de</strong>s do bairro. E a <strong>de</strong>stinação final do lixo foi <strong>de</strong>clarada por 100% dos moradores,<br />

cuja coleta é feita regularmente por parte do serviço público municipal.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 61-73, <strong>de</strong>z. 2009


72<br />

Em relação aos resultados das entrevistas expostos anteriormente, é importante<br />

ressaltar que não é cobrada nenhuma taxa pelo serviço público <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong><br />

água no bairro em estudo, sendo que não há nenhum tratamento da água bruta subterrânea<br />

provinda do poço <strong>de</strong> 100 metros <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong> do sistema público. Além disso,<br />

muitas ligações clan<strong>de</strong>stinas <strong>de</strong> água também têm comprometido o sistema <strong>de</strong> abastecimento<br />

<strong>de</strong> água, o que foi constatado durante a pesquisa in loco.<br />

4 CONCLUSÕES/RECOMENDAÇÕES<br />

A partir dos resultados encontrados durante este trabalho, po<strong>de</strong>-se concluir que:<br />

• O método do Seccionamento Fictício resultou em um dimensionamento satisfatório<br />

do ponto <strong>de</strong> vista hidráulico, aten<strong>de</strong>ndo a todos os requisitos das normas brasileiras,<br />

no entanto, apresentaram dimensionamentos menos viáveis economicamente, em<br />

termos <strong>de</strong> diâmetro das tubulações, acarretando maiores custos com materiais.<br />

• O método PNL 2000 modificado mostrou-se como uma boa alternativa para o dimensionamento<br />

econômico, proporcionando uma economia consi<strong>de</strong>rável em materiais,<br />

se comparado com o método do Seccionamento Fictício e sua simulação não acusou<br />

nenhuma anormalida<strong>de</strong>.<br />

• A re<strong>de</strong> que foi implantada pela companhia apresenta sérios problemas operacionais,<br />

comprovados na simulação e na visita <strong>de</strong> campo, caracterizando-se a fragilida<strong>de</strong> da<br />

mesma.<br />

• Os softwares Excel e EPANET são excelentes programas e minimizam consi<strong>de</strong>ravelmente<br />

o tempo <strong>de</strong> projeto, permitindo analisar diversos cenários e auxiliando no<br />

processo <strong>de</strong>cisório da escolha do sistema mais econômico e confiável.<br />

• A população do bairro Novo Horizonte está, em geral, satisfeita com o sistema <strong>de</strong><br />

abastecimento <strong>de</strong> água, no que diz respeito à quantida<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong> da água fornecida.<br />

- Para melhorar as condições <strong>de</strong> fornecimento e qualida<strong>de</strong> da água fornecida, recomendam-se:<br />

• Investir no sistema existente, implantando pelo menos o tratamento biológico <strong>de</strong><br />

cloração.<br />

• Investir na re<strong>de</strong> <strong>de</strong> distribuição, trocando <strong>de</strong>terminados trechos <strong>de</strong> tubulações por<br />

diâmetros maiores, a fim <strong>de</strong> se aumentar a pressão na re<strong>de</strong>.<br />

• Consertar vazamentos existentes na re<strong>de</strong> e nos cavaletes das residências, constatados<br />

nas visitas in loco.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 61-73, <strong>de</strong>z. 2009


73<br />

REFERÊNCIAS<br />

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Estudos <strong>de</strong> concepção <strong>de</strong> sistemas<br />

públicos <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água. NBR: 12211 – Rio <strong>de</strong> Janeiro, 1994.<br />

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Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 61-73, <strong>de</strong>z. 2009


75<br />

A INFLUÊNCIA DA ZONA DE TRANSIÇÃO NAS<br />

PROPRIEDADES DO CONCRETO<br />

José Zacarias Rodrigues da Silva Junior *<br />

Mariana Domingues von Paumgartten **<br />

RESUMO<br />

O presente trabalho tem como finalida<strong>de</strong> estabelecer aprofundamentos sobre a importância<br />

da zona <strong>de</strong> transição na interface nas proprieda<strong>de</strong>s do concreto, como a influência<br />

que a mesma exerce na durabilida<strong>de</strong> e resistência do mesmo, levando em consi<strong>de</strong>ração<br />

a precipitação da etringita, hidróxido <strong>de</strong> cálcio e o C-S-H. Também é falado da<br />

influência das adições minerais, da <strong>de</strong>nsificação da matriz <strong>de</strong> pasta e do resultado da<br />

reação pozolânica que ocorre entre o Ca(OH) 2<br />

e a sílica ativa da mistura, on<strong>de</strong> as micrografias<br />

<strong>de</strong>monstram a evolução da hidratação do cimento juntamente com a <strong>de</strong>nsificação<br />

da matriz <strong>de</strong> pasta. Discute-se ainda, a importância da composição dos produtos <strong>de</strong><br />

hidratação e sua participação no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> patologias, como a corrosão provocada<br />

pela carbonatação.<br />

Palavras-Chave: Zona <strong>de</strong> Transição. Interface. Concreto. Reação Pozolânica. Adições<br />

Minerais.<br />

ABSTRACT<br />

THE INFLUENCE OF TRANSITION ZONE IN<br />

THE PROPERTIES OF CONCRETE<br />

This work aims to provi<strong>de</strong> insights into the importance of the transition zone at the interface<br />

on the properties of concrete, such as the influence it has on the durability and<br />

strength of it, taking into account the precipitation of ettringite, calcium hydroxi<strong>de</strong> and<br />

C-S-H. It is also spoken of the influence of mineral addition, of the <strong>de</strong>nsification of the<br />

matrix fol<strong>de</strong>r and the result of pozzolanic reaction that occurs between the Ca(OH) 2<br />

and<br />

silica fume mix, where the micrographs show the evolution of cement hydration with the<br />

<strong>de</strong>nsification of the matrix fol<strong>de</strong>r. We also discuss the importance of the composition of<br />

the hydration products and their participation in the <strong>de</strong>velopment of pathologies, such<br />

as corrosion caused by carbonation.<br />

Keyords: Transition Zone. Interface. Concrete. Pozzolanic Reaction. Mineral Addition.<br />

* Prof. M.Sc. UNAMA. Diretor Concreteste. Diretor regional do IBRACON - zacajunior@unama.br<br />

** Aluna <strong>de</strong> graduação do Curso <strong>de</strong> Engenharia Civil e monitora da disciplina Materiais <strong>de</strong> Construção II -<br />

mari.paumgartten@gmail.com<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 75-87, <strong>de</strong>z. 2009


76<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

O conhecimento da zona <strong>de</strong> transição (ZT) do concreto envolve o estudo da<br />

microestrutura das misturas, e assim sendo consegue-se dirimir várias dúvidas e questionamentos<br />

no que diz respeito a aspectos <strong>de</strong> durabilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> características mecânicas<br />

do concreto, como sendo:<br />

• Por que a resistência à compressão é maior que à <strong>de</strong> tração?<br />

• Por que a resistência à compressão diminui com o aumento do diâmetro máximo do<br />

agregado?<br />

• E a fragilida<strong>de</strong> do concreto à tração?<br />

Entre outras.<br />

2 CONCEITO<br />

Segundo MEHTA (1994) conceitua-se como zona <strong>de</strong> transição (ZT) a interface<br />

existente entre as partículas gran<strong>de</strong>s do agregado e a pasta. Ainda que seja constituída<br />

dos mesmos elementos que a pasta, a estrutura da zona <strong>de</strong> transição e suas proprieda<strong>de</strong>s<br />

diferem da matriz da pasta.<br />

3 ESTRUTURA DA ZT<br />

Primeiramente, no concreto fresco, filmes <strong>de</strong> água se formam em torno do grão<br />

do agregado, contribuindo para uma maior relação água/cimento na área mais próxima<br />

das partículas maiores <strong>de</strong> agregado do que longe <strong>de</strong>le.<br />

Por segundo, os íons <strong>de</strong> cálcio, sulfato, hidroxila e aluminato combinam-se para<br />

a formação da etringita e do hidróxido <strong>de</strong> cálcio. Devido à elevada relação a/c, esses<br />

componentes cristalinos, nas áreas próximas ao agregado graúdo, apresentam cristais<br />

maiores, consequentemente formando uma estrutura mais porosa do que a encontrada<br />

na matriz da pasta.<br />

Finalmente, com a hidratação, o C-S-H pouco cristalino e uma segunda geração<br />

<strong>de</strong> pequenos cristais <strong>de</strong> etringita e hidróxido <strong>de</strong> cálcio iniciam o preenchimento do<br />

espaço vazio que existe entre a estrutura criada pelos gran<strong>de</strong>s cristais <strong>de</strong> etringita e <strong>de</strong><br />

hidróxido <strong>de</strong> cálcio que sempre se formam com eixo perpendicular à superfície do<br />

agregado, como mostra a figura 1. Esse preenchimento ajuda a melhorar a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> e,<br />

consequentemente, a resistência da zona <strong>de</strong> transição na interface.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 75-87, <strong>de</strong>z. 2009


77<br />

Figura 1: Representação diagramática da zona <strong>de</strong> transição e da matriz da pasta <strong>de</strong><br />

cimento no concreto.<br />

Fonte: Mehta et al., 2008.<br />

4 RESISTÊNCIA DA ZT<br />

A resistência da zona <strong>de</strong> transição na interface, em qualquer região, irá <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r<br />

do volume e tamanho dos vazios presentes. Mesmo para baixa relação água/cimento,<br />

nas primeiras ida<strong>de</strong>s, o volume e o tamanho dos vazios na zona <strong>de</strong> transição serão<br />

maiores do que os da matriz <strong>de</strong> argamassa, portanto, a zona <strong>de</strong> transição possui menor<br />

resistência. Porém, com o aumento da ida<strong>de</strong>, a resistência da zona <strong>de</strong> transição po<strong>de</strong>rá<br />

se tornar igual à resistência da matriz <strong>de</strong> argamassa. Isso ocorre como consequência da<br />

cristalização <strong>de</strong> novos produtos nos vazios da zona <strong>de</strong> transição na interface pelas lentas<br />

reações químicas entre os componentes da pasta <strong>de</strong> cimento e o agregado, formando<br />

silicatos <strong>de</strong> cálcio hidratados, no caso <strong>de</strong> agregados silicosos, ou formando carboaluminatos<br />

hidratados, no caso <strong>de</strong> calcário. Essas interações contribuem para a resistência,<br />

pois, ten<strong>de</strong>m a reduzir a concentração <strong>de</strong> hidróxido <strong>de</strong> cálcio na zona <strong>de</strong> transição.<br />

Cristais <strong>de</strong> hidróxido <strong>de</strong> cálcio <strong>de</strong> tamanho gran<strong>de</strong> possuem menor capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a<strong>de</strong>rência,<br />

não apenas pela baixa área superficial, mas também por possuírem planos <strong>de</strong><br />

clivagem preferenciais <strong>de</strong>vido à sua tendência <strong>de</strong> formar uma estrutura orientada.<br />

Um fator importante responsável pela baixa resistência da zona <strong>de</strong> transição,<br />

além do gran<strong>de</strong> volume <strong>de</strong> vazios capilares e cristais <strong>de</strong> hidróxido <strong>de</strong> cálcio orientados,<br />

é a presença das microfissuras. A quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> microfissuras existentes <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

muitos fatores, por exemplo, o tamanho do agregado e sua distribuição granulométrica,<br />

consumo <strong>de</strong> cimento, relação água/cimento, grau <strong>de</strong> a<strong>de</strong>nsamento do concreto no<br />

estado fresco, condições <strong>de</strong> cura, umida<strong>de</strong> ambiente e histórico térmico do concreto.<br />

Po<strong>de</strong>mos constatar que, uma dosagem <strong>de</strong> concreto que possui má distribuição granulo-<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 75-87, <strong>de</strong>z. 2009


78<br />

métrica do agregado é mais propensa à segregação durante o a<strong>de</strong>nsamento; contudo,<br />

filmes <strong>de</strong> água espessos po<strong>de</strong>m se formar em volta do agregado graúdo, especialmente<br />

<strong>de</strong>baixo da partícula. O tamanho do agregado influi, pois, quanto maior o diâmetro,<br />

mais espesso será o filme <strong>de</strong> água.<br />

A zona <strong>de</strong> transição na interface formada sob essas condições será suscetível à<br />

fissuração quando sujeita à influência <strong>de</strong> tensões <strong>de</strong> tração induzidas por movimentos<br />

diferenciais entre o agregado e a pasta <strong>de</strong> cimento hidratada. Tais movimentos diferenciais<br />

costumam surgir tanto na secagem quanto no resfriamento do concreto. (MEHTA, 2008)<br />

Portanto, o concreto po<strong>de</strong> sofrer microfissuras na zona <strong>de</strong> transição antes mesmo<br />

<strong>de</strong> receber qualquer carregamento. Também, cargas <strong>de</strong> impacto <strong>de</strong> curta duração,<br />

retração por secagem e cargas mantidas em altos níveis <strong>de</strong> tensão propiciarão o aumento<br />

do tamanho e quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> microfissuras.<br />

5 INFLUÊNCIA DA ZT NAS PROPRIEDADES DO CONCRETO<br />

A zona <strong>de</strong> transição na interface é consi<strong>de</strong>rada a limitante da resistência do<br />

concreto. É por causa <strong>de</strong>la que o concreto rompe com resistências menores do que as<br />

existentes nos outros dois componentes principais. Não são necessários níveis muito<br />

altos <strong>de</strong> energia para aumentar as fissuras já existentes na zona <strong>de</strong> transição na interface,<br />

on<strong>de</strong> maiores incrementos <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação po<strong>de</strong>m ser obtidos por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> carga<br />

aplicada. Esse comportamento explica o fenômeno em que os componentes do concreto<br />

normalmente permanecem elásticos até a ruptura em um ensaio <strong>de</strong> compressão<br />

uniaxial, quanto o concreto em si apresenta comportamento inelástico.<br />

Em elevados níveis <strong>de</strong> tensão superiores a 70% da resistência última, o acúmulo<br />

<strong>de</strong> tensão nos gran<strong>de</strong>s vazios na matriz <strong>de</strong> argamassa se tornam gran<strong>de</strong>s o suficiente<br />

para iniciar a fissuração do concreto. Devido a essa elevada tensão, as fissuras começam<br />

a se espalhar pela matriz e com o tempo se juntam às fissuras na zona <strong>de</strong> transição da<br />

interface. Quando as fissuras se tornam contínuas, o concreto se rompe. É preciso uma<br />

quantida<strong>de</strong> alta <strong>de</strong> energia para a formação e extensão das fissuras na matriz sob ação<br />

<strong>de</strong> cargas <strong>de</strong> compressão. O contrário acontece nos esforços <strong>de</strong> tração, pois é preciso<br />

uma quantida<strong>de</strong> pequena <strong>de</strong> energia para que o material se rompa. É por causa <strong>de</strong>ste<br />

comportamento frágil na resistência à tração que são usadas armaduras para reforçar o<br />

concreto, o aço irá compensar essa fragilida<strong>de</strong>.<br />

O volume <strong>de</strong> vazios e as microfissuras existentes na microestrutura da zona <strong>de</strong><br />

transição da interface têm gran<strong>de</strong> influência no módulo <strong>de</strong> elasticida<strong>de</strong> e na rigi<strong>de</strong>z do<br />

concreto. A zona <strong>de</strong> transição serve como uma ponte para a matriz <strong>de</strong> argamassa e para<br />

o agregado graúdo. Mesmo os componentes do concreto possuindo alta resistência, a<br />

rigi<strong>de</strong>z do mesmo é reduzida por causa <strong>de</strong>ssas zonas <strong>de</strong> fragilida<strong>de</strong>, que não permitem<br />

que as tensões sejam transferidas.<br />

6 A INFLUÊNCIA DA POROSIDADE<br />

As características da zona <strong>de</strong> transição na interface também têm influência na<br />

durabilida<strong>de</strong> do concreto. Estruturas <strong>de</strong> concreto protendido e concreto armado facil-<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 75-87, <strong>de</strong>z. 2009


79<br />

mente se rompem por causa <strong>de</strong> corrosão na armadura e a porosida<strong>de</strong> é um dos principais<br />

parâmetros que facilita a entrada <strong>de</strong> substâncias no concreto. A taxa <strong>de</strong> corrosão do<br />

aço está diretamente ligada à permeabilida<strong>de</strong> do concreto. A existência das microfissuras<br />

na zona <strong>de</strong> transição da interface com o aço e a argamassa é a principal razão pela<br />

qual o concreto é mais permeável do que a pasta <strong>de</strong> cimento hidratada. A penetração <strong>de</strong><br />

ar e água no concreto é o pré-requisito para iniciar o processo <strong>de</strong> corrosão. Os principais<br />

fatores que <strong>de</strong>terminam a porosida<strong>de</strong> do concreto são as adições usadas, a relação<br />

água/cimento e as condições <strong>de</strong> execução e cura.<br />

Portanto, quanto maior o tamanho do agregado, mais alta será a relação água/<br />

cimento localizada na zona <strong>de</strong> transição da interface e, consequentemente, menos<br />

resistente e mais permeável seria o concreto.<br />

7 CORROSÃO DE ARMADURAS<br />

A carbonatação é a condição essencial para o início da corrosão das armaduras.<br />

Segundo Cascudo (1999), nas superfícies expostas das estruturas <strong>de</strong> concreto, a alta<br />

alcalinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hidratação do cimento po<strong>de</strong> ser reduzida com o tempo. Esta redução<br />

ocorre essencialmente pela ação do CO 2<br />

do ar, além <strong>de</strong> outros gases ácidos tais como<br />

SO 2<br />

e H 2<br />

S. Esse processo é chamado <strong>de</strong> carbonatação (ver figura 2) e, felizmente, dá-se<br />

a uma velocida<strong>de</strong> lenta, atenuando-se com o tempo. Sua reação básica é a seguinte:<br />

Ca(OH) 2<br />

+ CO 2<br />

H2O<br />

CaCO 3<br />

+ H 2<br />

O<br />

Uma das características do processo <strong>de</strong> carbonatação é a existência da “frente <strong>de</strong><br />

carbonatação” que separa duas zonas com pH muito diferentes e é medida em relação<br />

à espessura do concreto <strong>de</strong> cobrimento da armadura. Portanto, a carbonatação <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vários fatores, tais como: técnicas construtivas: transporte, lançamento, a<strong>de</strong>nsamento<br />

e cura; condições ambientais; tipo <strong>de</strong> cimento; umida<strong>de</strong> do ambiente.<br />

Figura 2: Representação esquemática do processo <strong>de</strong> carbonatação.<br />

Fonte: Cascudo et al., 1999.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 75-87, <strong>de</strong>z. 2009


80<br />

Uma vez que a armadura foi <strong>de</strong>passivada, seja pela frente <strong>de</strong> carbonatação ou<br />

por outro processo, ela fica vulnerável à corrosão. A corrosão acontece quando é formada<br />

uma película <strong>de</strong> eletrólito sobre a superfície dos fios ou barras <strong>de</strong> aço, representada<br />

na figura 3. Esta película é causada pela presença <strong>de</strong> umida<strong>de</strong> no concreto. Este tipo <strong>de</strong><br />

corrosão é também responsável pelo ataque que sofrem as armaduras antes <strong>de</strong> seu<br />

emprego, quando ainda armazenadas no canteiro.<br />

Figura 3: Pilha eletroquímica da corrosão no concreto armado.<br />

Fonte: Cascudo et al., 1999.<br />

O mecanismo <strong>de</strong> corrosão do aço no concreto é eletroquímico, tal qual a maioria<br />

das reações corrosivas em presença <strong>de</strong> água ou ambiente úmido (U.R. > 60%).<br />

Esta corrosão conduz à formação <strong>de</strong> óxidos/hidróxidos <strong>de</strong> ferro, produtos <strong>de</strong><br />

corrosão avermelhados, pulverulentos e porosos, <strong>de</strong>nominados ferrugem, e só ocorre<br />

nas seguintes condições:<br />

• <strong>de</strong>ve existir um eletrólito;<br />

• <strong>de</strong>ve existir uma diferença <strong>de</strong> potencial;<br />

• <strong>de</strong>ve existir oxigênio;<br />

• po<strong>de</strong>m existir agentes agressivos.<br />

O concreto, por natureza e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que bem executado, protege a armadura da<br />

corrosão. Essa proteção baseia-se no impedimento da formação <strong>de</strong> células eletroquímicas,<br />

através <strong>de</strong> proteção física e proteção química. Um bom cobrimento das armaduras,<br />

com um concreto <strong>de</strong> alta compacida<strong>de</strong>, sem “ninhos”, com teor <strong>de</strong> argamassa a<strong>de</strong>quado<br />

e homogêneo, garante, por impermeabilida<strong>de</strong>, a proteção do aço ao ataque <strong>de</strong> agentes<br />

agressivos externos.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 75-87, <strong>de</strong>z. 2009


81<br />

8 EXEMPLO DE TRAÇOS DE CONCRETO USADOS NO ESTUDO DA ZT ATRAVÉS DE MI-<br />

CROSCOPIA<br />

Foram realizados experimentos <strong>de</strong> laboratório em quatro traços com dois tipos<br />

<strong>de</strong> cimento e com adições <strong>de</strong> sílica ativa. Foi usado um traço <strong>de</strong> referência com concreto<br />

simples e com relação a/c <strong>de</strong> 0,5, um traço C1 com a/c <strong>de</strong> 0,5, um traço C2 com a/c <strong>de</strong> 0,3<br />

e um traço C3 com a/c <strong>de</strong> 0,3, conforme tabela 1:<br />

Tabela 1: Traços utilizados no experimento.<br />

Após o experimento, foram feitas microscopias nos corpos-<strong>de</strong>-prova referentes<br />

a cada traço, como mostram as figuras a seguir:<br />

Figura 4: Concreto <strong>de</strong> referência a 1 dia – 1000x.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 75-87, <strong>de</strong>z. 2009


82<br />

Figura 5: Concreto <strong>de</strong> referência a 1 dia – 2000x.<br />

Figura 6: Concreto <strong>de</strong> referência a 1 dia – 2000x.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 75-87, <strong>de</strong>z. 2009


83<br />

Figura 7: Concreto <strong>de</strong> referência a 1 dia – 2000x.<br />

Figura 8: Concreto <strong>de</strong> referência a 28 dias – 750x.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 75-87, <strong>de</strong>z. 2009


84<br />

Figura 9: Concreto <strong>de</strong> referência a 28 dias – 1500x.<br />

Figura 10: Concreto C1 a 1 dia – 1500x.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 75-87, <strong>de</strong>z. 2009


85<br />

Figura 11: Concreto C1 a 28 dias – 1500x.<br />

Figura 12: Concreto C2 a 1 dia – 500x.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 75-87, <strong>de</strong>z. 2009


86<br />

Figura 13: Concreto C2 a 28 dias – 3500x.<br />

Figura 14: Concreto C3 a 1 dia – 2000x.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 75-87, <strong>de</strong>z. 2009


87<br />

Figura 15: Concreto C3 a 28 dias – 2000x.<br />

9 CONCLUSÃO<br />

• A microfissuração do concreto é um dos fatores que implicam na baixa resistência<br />

da ZT;<br />

• A microfissuração <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> dos vazios capilares, dos cristais orientados <strong>de</strong> Ca(OH) 2<br />

,<br />

do tamanho do agregado e do teor <strong>de</strong> cimento;<br />

• As adições do cimento, como pozolana e sílica ativa, melhoram a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> da ZT;<br />

• Reduzidas as relações água/cimento, <strong>de</strong>nsificam a ZT, reduzindo a microfissuração e<br />

aumentam a resistência da ZT;<br />

• A forma e dimensão máxima do agregado induzem a diferentes relações água/cimento<br />

na ZT provocando aumento <strong>de</strong> porosida<strong>de</strong> do concreto.<br />

REFERÊNCIAS<br />

MEHTA, P.; MONTEIRO, P. Concreto: microestrutura, proprieda<strong>de</strong>s e materiais. São<br />

Paulo: Ed. Ibracon, 2008.<br />

CASCUDO, O. O controle da corrosão <strong>de</strong> armaduras em concreto: inspeção e técnicas<br />

eletroquímicas. Goiânia, GO: Ed. UFG, 1999.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 75-87, <strong>de</strong>z. 2009


89<br />

IDENTIFICAÇÃO DOS MUNICÍPIOS DINÂMICOS NA CRIAÇÃO DE<br />

BOVINOS E DESDOBRAMENTO DE MADEIRA DO ESTADO DO PARÁ<br />

NO ANO DE 2007<br />

Isaias <strong>de</strong> Oliveira Barbosa Júnior *<br />

Heriberto Wagner Amnajás Pena **<br />

Leonardo Augusto Lobato Bello ****<br />

RESUMO<br />

Este artigo tem por objetivo a construção e análise <strong>de</strong> alguns indicadores, que fornecem<br />

as classificações sobre a dinâmica econômica da estrutura produtiva dos municípios do<br />

estado do Pará e com isto po<strong>de</strong>r i<strong>de</strong>ntificar quais os municípios que se <strong>de</strong>stacam nas<br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Criação <strong>de</strong> Bovinos e Desdobramento <strong>de</strong> Ma<strong>de</strong>ira, que são as duas principais<br />

ativida<strong>de</strong>s econômicas do estado do Pará. Para isso, utiliza-se <strong>de</strong> indicadores como<br />

Quociente Locacional (QL), o Índice <strong>de</strong> Concentração <strong>de</strong> Hirschman-Herfindahl (IHH) e o<br />

Índice <strong>de</strong> Participação Relativa (PR), empregando para cada um todas as ativida<strong>de</strong>s<br />

formais existentes no estado e tendo como variável o número <strong>de</strong> empregos formais <strong>de</strong><br />

cada ativida<strong>de</strong> naquele município no período analisado que será em 2007. Estes três<br />

índices foram cruzados e classificaram as ativida<strong>de</strong>s quanto ao seu dinamismo na<br />

estrutura produtiva. Com os resultados <strong>de</strong>ste estudo obteve-se um mapa do estado<br />

i<strong>de</strong>ntificando os municípios dinâmicos nestas duas ativida<strong>de</strong>s.<br />

Palavras-Chave: Dinâmica Econômica. Ativida<strong>de</strong>s Formais. Indicadores Estatísticos.<br />

IDENTIFYING DYNAMIC COUNTIES IN THE LOG/WOOD PROCESSING<br />

AND FARMING BUSINESS THROUGH 2007 IN THE STATE OF PARÁ<br />

ABSTRACT<br />

This paper aims in the construction of an in<strong>de</strong>x that will help classifying the economical<br />

dynamics of some productive chains of Pará state counties and, therefore, make it possible<br />

to perform analysis to i<strong>de</strong>ntify which counties stand out in farming and wood processing<br />

which, in turn, are two state of Pará main economical activities. In or<strong>de</strong>r to achieve this<br />

*<br />

Acadêmico do 8º semestre do curso <strong>de</strong> Engenharia <strong>de</strong> Produção da UNAMA; Bolsista <strong>de</strong> Iniciação Científica<br />

UNAMA 2008/2009. E-mail: isaiasbjunior@yahoo.com.br<br />

**<br />

Mestre em Economia; Prof. adjunto da UNAMA e assessor técnico da Secretária <strong>de</strong> Estado <strong>de</strong> Governo – SEGOV.<br />

***<br />

Doutor em Engenharia Civil – Geotécnica (PUC-Rio); Professor titular dos Cursos <strong>de</strong> Engenharia Civil, <strong>de</strong> Engenharia<br />

Sanitária e Ambiental e do Programa <strong>de</strong> Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano da<br />

UNAMA; Coor<strong>de</strong>nador do Programa <strong>de</strong> Iniciação Científica UNAMA. E-mail: leonardobello@unama.br<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 89-102, <strong>de</strong>z. 2009


90<br />

goal the methodology presented here makes use of three parameters known Local<br />

Quociente (QL), Hirschman-Herfindahl (IHH) concentration in<strong>de</strong>x, and Relative<br />

Participation (PR) that are analyzed consi<strong>de</strong>ring all formal activities in the state.<br />

Keywords: Economical Dynamics. Formal Activities. Statistics In<strong>de</strong>xes.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

A população do Pará já ultrapassou 6,6 milhões <strong>de</strong> habitantes. O estado possui<br />

1.248.042 quilômetros quadrados, que representam 16,66% do território brasileiro e<br />

26% da Amazônia. Cortado pela linha do Equador, no seu extremo norte, é dividido em<br />

143 municípios, sendo Altamira, conhecido como o maior município do mundo, em<br />

termos <strong>de</strong> extensão. O artesanato paraense é rico e diversificado, com raízes na cultura<br />

dos grupos indígenas. As cerâmicas Marajoara e Tapajônica são, indiscutivelmente, a<br />

manifestação mais forte, sendo reproduzidas até hoje pelos artesãos (SIPAN, 2006).<br />

Como o território paraense é muito extenso, há gran<strong>de</strong>s diferenças continentais,<br />

o que leva a um <strong>de</strong>senvolvimento diferenciado <strong>de</strong> municípios, predispondo regiões<br />

com maior dinâmica como é o caso do oeste do Pará, que é um polo atrativo <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>obra,<br />

principalmente a especializada. Devido à gran<strong>de</strong> massa <strong>de</strong> sua população ter baixo<br />

nível <strong>de</strong> estudos ocorre uma intensa migração <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong> outros estados para a<br />

região. Segundo IBGE/PNAD (2001) A taxa <strong>de</strong> analfabetismo – população <strong>de</strong> 15 anos ou<br />

mais não alfabetizada, é <strong>de</strong> 11,15%. Por outro lado, a região su<strong>de</strong>ste do Pará foi se<br />

<strong>de</strong>senvolvendo com a chegada <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s indústrias <strong>de</strong> extração e também com o<br />

aumento da agropecuária, aumentando sua renda média muito mais do que a região<br />

sudoeste do estado, gerando assim gran<strong>de</strong>s disparida<strong>de</strong>s entre as regiões quanto ao<br />

número <strong>de</strong> empregos formais do estado.<br />

O Pará é um estado com gran<strong>de</strong>s riquezas naturais e tem um potencial enorme<br />

<strong>de</strong> minérios, ocupando o 1º lugar na extração do minério <strong>de</strong> ferro no Brasil. No município<br />

<strong>de</strong> Barcarena ocorre uma transformação para a produção <strong>de</strong> alumínio e este é responsável<br />

por uma gran<strong>de</strong> parte das exportações do estado.<br />

Sua economia se baseia no extrativismo mineral (ferro, bauxita, manganês,<br />

calcário, ouro e estanho) e vegetal (ma<strong>de</strong>ira), na agricultura, na pecuária e nas criações,<br />

na indústria e no turismo (Pará, 2000). O estado do Pará apresenta um baixo nível <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento econômico visto que seus gran<strong>de</strong>s polos industriais ainda estão na<br />

área <strong>de</strong> extração <strong>de</strong> minério que <strong>de</strong>pois é exportado com baixo valor agregado, pois não<br />

obtém tecnologia para verticalizar a produção e, em contrapartida, compra <strong>de</strong> volta um<br />

bem muito mais caro <strong>de</strong>vido sua industrialização.<br />

Segundo a Embrapa (2006), o Estado do Pará possui o 5º maior rebanho bovino<br />

do país, com 17 milhões <strong>de</strong> cabeças e em crescimento acelerado, apresenta uma pecuária<br />

<strong>de</strong> corte baseada em pastagens cultivadas <strong>de</strong> boa produtivida<strong>de</strong>, principalmente nas<br />

regiões sul e su<strong>de</strong>ste. Mantido o crescimento relativo atual, o Pará <strong>de</strong>verá ser <strong>de</strong>tentor<br />

do maior rebanho bovino do país, até o ano 2010.<br />

Po<strong>de</strong>-se dizer que a economia regional brasileira é bastante heterogênea, ou<br />

mesmo fragmentada, existindo áreas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> dinamismo convivendo com numerosas<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 89-102, <strong>de</strong>z. 2009


91<br />

regiões caracterizadas pela pobreza, estagnação e retrocesso (ARAÚJO,1997 apud<br />

QUEIROZ & CEZAR, 2000).<br />

O estado do Pará também se encontra nesta realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s diferenciações<br />

entre seus municípios. Hoje, tem-se municípios com um gran<strong>de</strong> potencial <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento, mas existem outros que se encontram parados no tempo e sua fonte<br />

<strong>de</strong> emprego formais resume-se aos serviços públicos do estado e do município.<br />

Com base nestas informações é que se optou por realizar esta metodologia com<br />

o propósito <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar quais são esses municípios dinâmicos para as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

criação <strong>de</strong> bovinos e <strong>de</strong>sdobramento <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira.<br />

2 REFERENCIAL TEÓRICO<br />

2.1 ECONOMIA REGIONAL<br />

Para Haddad & Andra<strong>de</strong> (1989, p. 207), A teoria econômica regional fornece os<br />

elementos analíticos básicos que servem para orientar a linha <strong>de</strong> raciocínio a ser seguida<br />

nos estudos, cujas preocupações são questões atinentes ao processo <strong>de</strong> crescimento e<br />

<strong>de</strong>senvolvimento das regiões. Entretanto, a análise teórica do relacionamento das<br />

variáveis relevantes não é o bastante. Há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> passar ao trabalho empírico<br />

para não só testar os diversos mo<strong>de</strong>los alternativos existentes no campo teórico e<br />

verificar qual <strong>de</strong>les melhor se aproxima na explicação <strong>de</strong> uma dada realida<strong>de</strong> observada,<br />

como também para fazer uso da maior riqueza <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes analíticos existentes nos<br />

mo<strong>de</strong>los empíricos.<br />

Os mo<strong>de</strong>los analíticos que são fundamentados em inúmeras teorias buscam<br />

uma melhor solução <strong>de</strong> como se estudar possíveis mudanças para o melhor<br />

<strong>de</strong>senvolvimento das regiões, mas tem-se que levar em consi<strong>de</strong>ração todas as causas<br />

aleatórias que po<strong>de</strong>m surgir ou até mesmo <strong>de</strong>vido ao fato <strong>de</strong> todas as regiões terem<br />

suas características e peculiarida<strong>de</strong>s diferentes uma das outras, por isto é interessante<br />

fazer um estudo empírico para cada região e observar qual melhor se a<strong>de</strong>quou à realida<strong>de</strong>.<br />

2.2 DINÂMICA ESPACIAL DO EMPREGO E RENDA NO BRASIL<br />

A dinâmica espacial e setorial do emprego no Brasil po<strong>de</strong> ser explicada a partir<br />

<strong>de</strong> três fatores principais: políticas públicas <strong>de</strong> incentivos fiscais, <strong>de</strong> investimentos<br />

produtivos e <strong>de</strong> infraestrutura; difusão <strong>de</strong> novas tecnologias eletrônicas e a consequente<br />

reestruturação dos processos produtivos; e mudanças na composição da oferta <strong>de</strong><br />

produtos regionais <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> variações ocorridas no lado da <strong>de</strong>manda<br />

(FOCHEZATTO, p.3).<br />

Estes três fatores citados acima são <strong>de</strong> fundamental importância para o<br />

crescimento do índice <strong>de</strong> emprego no Brasil como um todo e em suas regiões, pois<br />

quando o governo age maciçamente na área <strong>de</strong> investimentos consegue aumentar os<br />

números <strong>de</strong> empregados formais do seu território, um exemplo disso é a política do<br />

“Meu primeiro emprego”, on<strong>de</strong> o governo oferece algumas vantagens fiscais para<br />

aquelas empresas que a<strong>de</strong>rem a este projeto <strong>de</strong> oferecer condições para um jovem<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 89-102, <strong>de</strong>z. 2009


92<br />

conseguir seu emprego mesmo sem experiência. Quando há o surgimento <strong>de</strong> novas<br />

tecnologias o processo produtivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas empresas irá se a<strong>de</strong>quar e gerar<br />

novas necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> contratações e o que po<strong>de</strong> acontecer também é <strong>de</strong> se perceber<br />

uma possível <strong>de</strong>manda que tem um potencial e implementá-la <strong>de</strong> forma a gerar novos<br />

empregos nesta nova área <strong>de</strong> produção.<br />

Fochezatto (2004, p.4) explica que os dados recentes do produto e do emprego<br />

regional mostram que a localização da produção no Brasil, embora ainda seja bastante<br />

concentrada, está gradualmente se dispersando no espaço nacional. A estrutura<br />

produtiva, embora ainda relativamente diversificada, está-se tornando cada vez mais<br />

especializada.<br />

Uma tendência nacional que também se ajusta à realida<strong>de</strong> do Pará é a<br />

<strong>de</strong>sconcentração da população em busca <strong>de</strong> novos postos <strong>de</strong> trabalho mais<br />

especializados. Diferentemente <strong>de</strong> como acontecia na década <strong>de</strong> 70, on<strong>de</strong> as pessoas<br />

se <strong>de</strong>slocavam em direção às indústrias, hoje estas buscam melhores condições <strong>de</strong><br />

trabalho e melhores salários, ou seja, está cada vez mais se intensificando a busca por<br />

melhor competitivida<strong>de</strong> para po<strong>de</strong>r se incluir na dinâmica global. Quanto a isto Harvey<br />

(1992, p.266) enten<strong>de</strong> que:<br />

A produção ativa <strong>de</strong> lugares dotados <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>s especiais se torna um<br />

trunfo na competição espacial entre as localida<strong>de</strong>s, cida<strong>de</strong>s, regiões e nações<br />

[...] criando uma atmosfera <strong>de</strong> lugar <strong>de</strong> tradição que aja como atrativo para o<br />

capital como para pessoas ‘do tipo certo’( isto é, abastadas e influentes).<br />

Seguindo esta linha <strong>de</strong> raciocínio as regiões dinâmicas absorvem os migrantes<br />

qualificados para se tornarem cada vez mais especializadas. Estudos apontam que a<br />

migração provoca um aumento das rendas médias das regiões, estados e do país. No<br />

âmbito do estado do Pará po<strong>de</strong>-se citar Parauapebas que, <strong>de</strong>vido sua industrialização<br />

especializada, se tornou um ponto <strong>de</strong> atração <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra e com isso aumentou a<br />

renda média do município e do estado.<br />

Para Santos & Ferreira (2006), os movimentos <strong>de</strong> migração <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra<br />

mudam para on<strong>de</strong> a renda é maior, contudo a região expulsora <strong>de</strong>tém um aumento na<br />

produtivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho, <strong>de</strong>vido à maior escassez <strong>de</strong> fator trabalho e obtendo uma<br />

elevação na renda. Já para a região receptora ocorrerá um inchaço <strong>de</strong> trabalhadores e a<br />

renda média po<strong>de</strong> baixar. Com isso, po<strong>de</strong>-se observar que a migração provoca<br />

convergência <strong>de</strong> renda entre as regiões.<br />

De acordo com o passado histórico os rendimentos da população brasileira ainda<br />

sofrem alguns preconceitos <strong>de</strong> que o homem ganha mais que a mulher, os “brancos”<br />

ganham mais que “negros” e “indígenas”; trabalhador da zona rural ganha menos que<br />

um da zona urbana. Isto se verificará nos estudos dos coeficientes <strong>de</strong> renda dos<br />

municípios do Pará (SANTOS & FERREIRA, 2006).<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 89-102, <strong>de</strong>z. 2009


93<br />

3 METODOLOGIA<br />

3.1 FONTES DE DADOS EMPREGADOS<br />

Para analisar a dinâmica da estrutura produtiva dos municípios do estado do<br />

Pará, este estudo tem como base os dados o Registro Anual <strong>de</strong> Informação Social (RAIS),<br />

instituída pelo <strong>de</strong>creto nº 76900 <strong>de</strong> 23/12/1975 como gestão governamental do setor do<br />

trabalho, produzido pela Secretaria <strong>de</strong> Emprego e Salário, do Ministério do Trabalho e<br />

Emprego (MTE).<br />

De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego fundamentalmente, a RAIS é<br />

um registro administrativo, <strong>de</strong> âmbito nacional, com periodicida<strong>de</strong> anual, obrigatório<br />

para todos os estabelecimentos, inclusive aqueles sem ocorrência <strong>de</strong> vínculos<br />

empregatícios no exercício, tendo esse tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>claração a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> RAIS<br />

Negativa.<br />

Esta pesquisa se utilizará <strong>de</strong> tais informações, que se tornam então fontes<br />

secundárias para esta pesquisa, porém oficiais da escala do governo fe<strong>de</strong>ral e aqui<br />

representativas da dinâmica da estrutura produtiva do estado pelo grau <strong>de</strong> abrangência,<br />

assim como da característica <strong>de</strong> periodicida<strong>de</strong> anual da coleta <strong>de</strong> informações.<br />

3.2 ÁREA DE ESTUDO<br />

A área <strong>de</strong> estudo a ser abordada por este trabalho serão os 143 municípios do<br />

estado do Pará, i<strong>de</strong>ntificando o potencial <strong>de</strong> todos esses municípios e compreen<strong>de</strong>ndo<br />

as razões para este <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

3.3 INDICADORES ESTATÍSTICOS<br />

A metodologia para <strong>de</strong>limitar geograficamente os municípios classificados quanto<br />

ao dinamismo <strong>de</strong> sua estrutura produtiva, e com isto alcançar os objetivos <strong>de</strong>sta<br />

pesquisa, foi a utilização daqueles indicadores, levando em conta três características<br />

principais:<br />

a) A especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma região (município).<br />

b) O piso da ativida<strong>de</strong> ou setor em relação à estrutura da região (município).<br />

c) A importância da ativida<strong>de</strong> ou setor no Pará com um todo.<br />

De acordo com Santana (2004, p.21), o Índice <strong>de</strong> Quociente Locacional (QL) serve<br />

para <strong>de</strong>terminar se o município em particular possui especialização em dada ativida<strong>de</strong><br />

ou setor específico e é calculado com base na razão entre duas estruturas econômicas.<br />

No numerador tem-se a economia em estudo, referente a um dado município do Pará<br />

que se ponha em tela, e no <strong>de</strong>nominador tem-se a economia <strong>de</strong> referência, em que<br />

constam todos os municípios do Pará. De fato, QL faz uma correlação entre os empregos<br />

em um dado município e no estado<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 89-102, <strong>de</strong>z. 2009


94<br />

Segundo Santana (2004, p.21) a apresentação algébrica é <strong>de</strong>scrita da seguinte forma:<br />

QL =<br />

E A M E M<br />

....[Eq. 01]<br />

E A P<br />

E P<br />

em que:<br />

E A M<br />

E M<br />

E A P<br />

E P<br />

= é o emprego da ativida<strong>de</strong> ou setor no município;<br />

= é o emprego referente a todas as ativida<strong>de</strong>s que constam no município;<br />

= é o emprego da ativida<strong>de</strong> ou setor no Pará;<br />

= é o emprego <strong>de</strong> todas as ativida<strong>de</strong>s ou setores i no Pará.<br />

Para Santana (2004), existe especialização na ativida<strong>de</strong> ou setor no município,<br />

caso seu QL seja superior a 1 (um). Se QL é menor que 1 (um), então isso indica que a<br />

especialização do município na ativida<strong>de</strong> ou setor é inferior à especialização do Pará no<br />

referido setor.<br />

O QL é um índice muito simples, contudo a sua interpretação <strong>de</strong>ve ser realizada<br />

com atenção para evitar inicorreções como, por exemplo, apresentar um valor elevado<br />

dando a enten<strong>de</strong>r que aquele município é especializado naquela ativida<strong>de</strong>, mas se esta<br />

ativida<strong>de</strong> for a única no município ela estará apenas dando uma falsa impressão <strong>de</strong><br />

especialida<strong>de</strong>. Em <strong>de</strong>corrência disto, calcular-se-á o Índice <strong>de</strong> Hirschman-Herfindahl<br />

(IHH) que irá fornecer o real peso da ativida<strong>de</strong> em relação ao estado do Pará.<br />

Este índice apresenta a seguinte <strong>de</strong>finição:<br />

IHH =<br />

(<br />

E A M E<br />

E A M<br />

(<br />

M<br />

E P<br />

....[Eq. 02]<br />

Santana (2004, p.22), <strong>de</strong>fine IHH como sendo o índice que permite comparar o<br />

peso da ativida<strong>de</strong> ou setor do município no setor do Pará ao peso da estrutura produtiva<br />

do município na estrutura do Pará como um todo. Um valor positivo indica que a ativida<strong>de</strong><br />

em um município do Pará está, ali, mais concentrada e, portanto, com maior po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

atração econômica, dada sua especialização em tal ativida<strong>de</strong><br />

O terceiro e último indicador proposto pela metodologia para análise da dinâmica<br />

da estrutura produtiva é a participação relativa da ativida<strong>de</strong> em relação ao total <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s no Pará, representado pela equação 3 a seguir.<br />

(<br />

E A M<br />

PR =<br />

....[Eq. 03]<br />

E A P<br />

Este indicador apresenta como leitura uma variação <strong>de</strong> 0 a 1. Neste caso, quanto<br />

mais próximo da unida<strong>de</strong>, mais importância <strong>de</strong>terminada ativida<strong>de</strong> terá em relação ao estado.<br />

Os três indicadores estatísticos apresentados acima contemplam a etapa <strong>de</strong> ajuste<br />

e tratamento dos dados para o estudo abordado a seguir.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 89-102, <strong>de</strong>z. 2009


95<br />

3.4 METODOLOGIA DE ANÁLISE<br />

3.4.1 Análise Consolidada<br />

A metodologia apresenta como primeiro critério uma análise agregada das<br />

ativida<strong>de</strong>s, buscando i<strong>de</strong>ntificar tendências <strong>de</strong> longo prazo e <strong>de</strong>stacando os pormenores<br />

<strong>de</strong> cada um dos índices estimados.<br />

Os indicadores propostos nesta metodologia irão compor, <strong>de</strong> acordo com suas<br />

variantes, instâncias <strong>de</strong> classificação combinadas à composição <strong>de</strong> quatro quadrantes,<br />

<strong>de</strong> acordo com as seguintes variáveis: especialização local, atrativida<strong>de</strong> econômica e<br />

significativa participação relativa.<br />

A análise consolidada avalia <strong>de</strong> forma agregada o que as mudanças na composição<br />

das estruturas produtivas das ativida<strong>de</strong>s econômicas têm a dizer em relação à<br />

combinação das três variáveis acima citadas. O Quociente Locacional (QL) está<br />

relacionado com o grau <strong>de</strong> especialização, municipal numa <strong>de</strong>terminada ativida<strong>de</strong>, caso<br />

haja especialização seu QL é superior à unida<strong>de</strong> (recebe tratamento positivo).<br />

O índice <strong>de</strong> concentração Hirschman-Herfindahl, quando apresenta um valor<br />

positivo (recebe tratamento positivo), indica algum tipo <strong>de</strong> concentração e assim <strong>de</strong><br />

atrativida<strong>de</strong> econômica. O terceiro indicador é a participação relativa da ativida<strong>de</strong> e,<br />

quanto mais próxima <strong>de</strong> um, maior a importância daquela ativida<strong>de</strong> do município para<br />

o estado do Pará (recebe tratamento positivo).<br />

3.4.1.1 Matriz agregada da estrutura produtiva<br />

Definida a área <strong>de</strong> estudo que, neste caso, serão os 51 municípios, a etapa<br />

seguinte é a <strong>de</strong> classificação matricial apresentada nesta seção, o que permite uma<br />

análise agregada das informações e uma visualização <strong>de</strong> cada ativida<strong>de</strong> do município e<br />

possibilitando uma caracterização <strong>de</strong>ste quanto ao seu dinamismo econômico com base<br />

no número <strong>de</strong> empregos formais.<br />

A seguir é <strong>de</strong>scrito em resumo como serão classificados os prováveis resultados<br />

dos indicadores a serem estimados na pesquisa. A leitura faz-se da esquerda para a<br />

direita, observando sempre na coluna da direita qual o tratamento recebido <strong>de</strong> acordo<br />

com os resultados esperados dos indicadores (Tabela 1).<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 89-102, <strong>de</strong>z. 2009


96<br />

Tabela 1: Metodologia <strong>de</strong> Ajuste e Critérios para Classificação Matricial<br />

Fonte: Autores (2009)<br />

A tabela 1 já revela uma aproximação das ativida<strong>de</strong>s econômicas do estado. A<br />

característica <strong>de</strong> análise da dinâmica da estrutura produtiva está em oferecer um<br />

referencial quantitativo, que seja capaz <strong>de</strong> consolidar as informações e promover sua<br />

espacialização.<br />

Os possíveis resultados levam a um ajuste quantitativo e este, por sua vez,<br />

obe<strong>de</strong>ce a uma lógica teórica <strong>de</strong> correlação entre as variáveis que <strong>de</strong>finem a dinâmica<br />

das estruturas produtivas do estado. Na combinação entre os prováveis resultados,<br />

estabeleceram-se quatro setores ou quadrantes matriciais, que teoricamente justificam<br />

as variações nas dinâmicas econômicas dos municípios, entre eles tem-se:<br />

a) Setor Dinâmico: caracterizado pelo alto grau <strong>de</strong> especialização local, com alguma<br />

concentração estabelecida no setor que impulsiona a atrativida<strong>de</strong> e com a<br />

presença <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s importantes ou participação relativa maior que 10%.<br />

b) Setor Estagnado: apresenta ausência <strong>de</strong> especialização local da ativida<strong>de</strong>, com<br />

ausência <strong>de</strong> concentração e reduzida ativida<strong>de</strong> do setor, combinado com baixa<br />

participação relativa no estado do Pará;<br />

c) Setor em Expansão: apresenta alto grau <strong>de</strong> especialização das ativida<strong>de</strong>s locais<br />

no município, com concentração já estabelecida e com forte atrativida<strong>de</strong>, mas<br />

ainda não se consolidou enquanto polo <strong>de</strong> dominância, ou seja, baixa<br />

participação relativa;<br />

d) Setor em Declínio: apresenta acentuada participação relativa, mas não é<br />

especializado no setor e não oferece atrativida<strong>de</strong> e nenhum estímulo pela<br />

ausência <strong>de</strong> concentração produtiva.<br />

Assim os indicadores estatísticos, <strong>de</strong>pois dos ajustes e tratamentos, consolidam<br />

a matriz da seguinte forma, <strong>de</strong> acordo com a figura 1:<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 89-102, <strong>de</strong>z. 2009


97<br />

MATRIZ DA DINÂMICA DA ESTRUTURA PRODUTIVA<br />

SETOR EM<br />

DECLÍNIO<br />

SETOR DINÂMICO<br />

PR=0,1<br />

SETOR<br />

ESTAGNADO<br />

SETOR EM<br />

EXPANSÃO<br />

QL=1<br />

IHH=0<br />

Figura 1: Matriz da Dinâmica da Estrutura Produtiva.<br />

Fonte: Autores (2009).<br />

Esta matriz sintetiza a análise agregada ou consolidada para os resultados e<br />

correspon<strong>de</strong> a uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem representativa da estrutura produtiva<br />

dos municípios em diferentes momentos, po<strong>de</strong>ndo inclusive, ainda que em termos<br />

agregados, i<strong>de</strong>ntificar as tendências sobre o processo <strong>de</strong> aglomeração produtiva, do<br />

nível <strong>de</strong> remuneração do setor e do número <strong>de</strong> estabelecimentos.<br />

As mudanças <strong>de</strong> quadrantes indicam algumas medidas <strong>de</strong> variação nas ativida<strong>de</strong>s<br />

produtivas. A análise horizontal revela o grau <strong>de</strong> especialização e o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> atrativida<strong>de</strong><br />

local das ativida<strong>de</strong>s, o que significa que quanto mais à direita do eixo as ativida<strong>de</strong>s se<br />

posicionarem, mais especializadas estarão e bem mais próximas da situação <strong>de</strong>sejada<br />

(setores dinâmicos).<br />

A matriz também revela que as ativida<strong>de</strong>s econômicas po<strong>de</strong>m transitar <strong>de</strong> um<br />

quadrante a outro, o que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das condições <strong>de</strong> mercado, <strong>de</strong> políticas públicas a<br />

<strong>de</strong>terminados setores, dos investimentos privados, entre outros. Na análise vertical, é<br />

possível relacionar a dinâmica da estrutura produtiva das ativida<strong>de</strong>s econômicas com a<br />

participação relativa, ou seja, o peso representativo da ativida<strong>de</strong> em relação ao estado<br />

do Pará.<br />

A análise vertical também relaciona a evolução entre períodos das ativida<strong>de</strong>s<br />

econômicas do município, com os ganhos <strong>de</strong> mercado, ou seja, setores nos quais um<br />

município ou região aumenta sua participação na parcela <strong>de</strong> mercado e classificam-se<br />

como competitivos. Na medida em que os dados forem plotados na matriz é possível<br />

i<strong>de</strong>ntificar, se os setores que apresentam maior concentração <strong>de</strong> estabelecimentos são<br />

também os que mais remuneram ou admitem empregados formalmente.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 89-102, <strong>de</strong>z. 2009


98<br />

4 RESULTADOS<br />

Foram realizados os cálculos dos referentes Indicadores Estatísticos para todos<br />

os municípios que apresentam a Criação <strong>de</strong> Bovino e o Desdobramento como ativida<strong>de</strong>s<br />

expressivas para o estado. Após estes cálculos, classificaram-se suas ativida<strong>de</strong>s em<br />

Dinâmicas, Expansão, Declínio e Estagnadas. Com esta base <strong>de</strong> estudo consolidada<br />

obteve-se uma caracterização do município e observou-se se ele oferecia Ativida<strong>de</strong>s<br />

Dinâmicas em relação ao estado do Pará.<br />

As figuras 2 e 3 representam os municípios que são classificados como Dinâmicos<br />

<strong>de</strong> acordo com a Criação <strong>de</strong> Bovinos e o Desdobramento <strong>de</strong> Ma<strong>de</strong>ira, respectivamente.<br />

Para se enten<strong>de</strong>r melhor esta metodologia, estes municípios são os que<br />

apresentaram um QL maior que 1, portanto estes municípios têm certo grau <strong>de</strong><br />

especialização nas ativida<strong>de</strong>s que estão sendo analisadas, apresentam um IHH positivo<br />

que fornece a informação que estes são atrativos e concentram estas ativida<strong>de</strong>s e, por<br />

ultimo, eles têm um PR maior que 10%, isto representa que estes municípios têm uma<br />

participação nesta ativida<strong>de</strong> representativa para o estado. Cruzando estas informações,<br />

estes municípios foram localizados na matriz da Dinâmica Econômica e classificados<br />

como Dinâmicos <strong>de</strong> acordo com a variável dos empregos formais existentes.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 89-102, <strong>de</strong>z. 2009


99<br />

Figura 2: Municípios dinâmicos com relação à Criação <strong>de</strong> Bovinos.<br />

Fonte: Autores (2009).<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 89-102, <strong>de</strong>z. 2009


100<br />

Figura 3: Municípios dinâmicos com relação ao Desdobramento <strong>de</strong> Ma<strong>de</strong>ira.<br />

Fonte: Autores (2009).<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 89-102, <strong>de</strong>z. 2009


101<br />

5 CONCLUSÃO<br />

O presente estudo i<strong>de</strong>ntificou aqueles municípios que são consi<strong>de</strong>rados “chaves”<br />

para a estrutura produtiva do estado do Pará através da metodologia proposta. Enten<strong>de</strong>se<br />

que, para uma análise mais precisa e abrangente é necessário, ainda, consi<strong>de</strong>rar<br />

outras variáveis como, por exemplo, o número <strong>de</strong> estabelecimentos que geram estes<br />

empregos, em relação à renda média <strong>de</strong> cada ativida<strong>de</strong> e também po<strong>de</strong> adotar <strong>de</strong> acordo<br />

com o número <strong>de</strong> empregos informais. Entretanto, esta abordagem será alvo <strong>de</strong><br />

continuida<strong>de</strong> da pesquisa em andamento, com vistas a traçar o perfil da dinâmica<br />

produtiva no estado do Pará.<br />

Notou-se que, dos 143 municípios paraenses em estudo, 27 se mostraram<br />

Dinâmicos quanto à Criação <strong>de</strong> Bovinos e 23 para o Desdobramento <strong>de</strong> Ma<strong>de</strong>ira. Sendo<br />

que muitos <strong>de</strong>sses municípios são Dinâmicos para ambas as ativida<strong>de</strong>s. Este estudo<br />

teve como objetivo i<strong>de</strong>ntificar tais municípios para que o po<strong>de</strong>r público possa induzir<br />

projetos <strong>de</strong> incentivo <strong>de</strong> fortalecimento e verticalização naqueles locais. Quanto ao<br />

termo “fortalecimento” das ativida<strong>de</strong>s, não se <strong>de</strong>seja induzir práticas relacionadas ao<br />

<strong>de</strong>smatamento ou queimadas, mas se faz referência aos incentivos <strong>de</strong> reflorestamento<br />

e <strong>de</strong> maior apoio à pecuária, <strong>de</strong> maneira sustentável, que, apesar <strong>de</strong> apresentar uma<br />

gran<strong>de</strong> importância para a economia do estado, ainda pratica exportação do gado vivo,<br />

comercializando o produto a preços muito baixos. Certamente se esta ativida<strong>de</strong> fosse<br />

verticalizada os benefícios para o estado seriam bem maiores.<br />

Políticas governamentais têm que ser direcionadas para esta área, pois esses<br />

municípios que se apresentam Dinâmicos para estas ativida<strong>de</strong>s são os mais <strong>de</strong>smatados.<br />

E uma das conclusões que se po<strong>de</strong> tomar é que nossas florestas não <strong>de</strong>vem ser intocáveis,<br />

mas sim trabalhadas <strong>de</strong> maneira sustentável e consciente, <strong>de</strong> modo que se possa<br />

promover o <strong>de</strong>senvolvimento das regiões com ativida<strong>de</strong>s potenciais com o mínimo<br />

impacto possível ao meio ambiente.<br />

Quando se fala <strong>de</strong> política governamental, não é a que está sendo praticada<br />

atualmente que teve uma operação em Nova Esperança do Piriá, município da região<br />

nor<strong>de</strong>ste paraense, que tinha uma tradição <strong>de</strong> praticamente toda a cida<strong>de</strong> sobreviver<br />

da extração e do Desdobramento <strong>de</strong> Ma<strong>de</strong>ira direta e indiretamente, operação esta<br />

que fechou todas as serrarias da cida<strong>de</strong> e hoje o <strong>de</strong>semprego é total no município; a sua<br />

população está basicamente tirando seu sustento do Bolsa Família, programa do governo<br />

fe<strong>de</strong>ral; o comércio da cida<strong>de</strong> está falindo, pois o que movimentava a economia era o<br />

setor ma<strong>de</strong>ireiro. Então estas políticas <strong>de</strong>vem ser pensadas <strong>de</strong> uma maneira que se<br />

possa proteger o meio ambiente dando condições básicas para que surjam outras<br />

alternativas economicamente viáveis.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 89-102, <strong>de</strong>z. 2009


102<br />

REFERÊNCIAS<br />

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Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 89-102, <strong>de</strong>z. 2009


103<br />

ESTUDO SOBRE OS ÍNDICES DE ASSALTOS A ÔNIBUS<br />

INTERMUNICIPAIS E SUAS RELAÇÕES COM AS CONDIÇÕES<br />

DA RODOVIA PA-150<br />

Thalita Cristina Brito Nascimento *<br />

Benedito Coutinho Neto **<br />

RESUMO<br />

O transporte rodoviário por ônibus intermunicipais representa o principal meio <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento<br />

da população do sul e su<strong>de</strong>ste do Pará, sendo a PA-150 uma das rodovias<br />

mais solicitadas nesta região. Seu estado <strong>de</strong> conservação precário em <strong>de</strong>terminados<br />

trechos representa não só uma redução da qualida<strong>de</strong> das viagens como também um<br />

aumento dos riscos <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes e <strong>de</strong> assaltos. Diante <strong>de</strong>ssa realida<strong>de</strong>, este trabalho<br />

tem como objetivo o levantamento dos pontos críticos em relação a assaltos ao longo<br />

<strong>de</strong>ssa rodovia, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se conhecer as áreas que necessitam <strong>de</strong> maiores<br />

investimentos <strong>de</strong> infraestrutura e segurança. Para tanto foram entrevistados 125 usuários<br />

e <strong>de</strong>ste estudo po<strong>de</strong>-se concluir que os trechos críticos da PA-150 encontram-se<br />

entre as cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Jacundá e Marabá.<br />

Palavras-Chave: PA-150. Assaltos. Pavimento. Transporte Rodoviário. Sul do Pará.<br />

STUDY ON THE NUMBER OF ASSAULTS THE INTERCITY BUSES AND<br />

ITS RELATIONSHIP THE CONDITIONS OF THE HIGHWAY: PA 150<br />

ABSTRACT<br />

The road transport by intercity buses represents the main transportation to the south<br />

and southeast population in Pará. Being the PA-150 one of the most used roads in this<br />

region. Its precarious conservational state in some parts represent not only a reduction in<br />

the quality of the trips but also a boost in the risk level of acci<strong>de</strong>nts and thefts. Facing this<br />

reality this paper has as object the survey of the critical points about the thefts alongsi<strong>de</strong><br />

this road with the scope to know the areas which need major investments in infrastructure<br />

and safety. To do so, had been interviewed 125 users and can be conclu<strong>de</strong>d that the<br />

critical stretches are between the cities Jacundá and Marabá.<br />

Keywords: PA-150. Assaults. Paving. Highway Transportation. South of Pará.<br />

* thalita.2005@hotmail.com - Acadêmica do curso <strong>de</strong> Engenharia Civil da UNAMA<br />

** bcoutin@unama.br - Doutor em Engenharia Civil com ênfase em Infraestrutura <strong>de</strong> Transportes Professor do<br />

curso <strong>de</strong> Engenharia Civil da Universida<strong>de</strong> da Amazônia (UNAMA) e da Construção Civil do Instituto Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />

Educação, Ciência e Tecnologia do Estado do Pará (IFPA)<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 103-122, <strong>de</strong>z. 2009


104<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

Até julho <strong>de</strong> 2009, a PA-150 era a maior rodovia em extensão do estado do Pará,<br />

integrando vários municípios cujo modal rodoviário representa sua principal forma <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>slocamento, já que o modal aéreo, além <strong>de</strong> ser menos acessível financeiramente,<br />

não abrange todas as cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssa região e o hidroviário, diferentemente do norte do<br />

estado, praticamente inexiste. Hoje, em virtu<strong>de</strong> da aprovação pelo presi<strong>de</strong>nte da República<br />

em exercício na epoca, José <strong>de</strong> Alencar, do projeto <strong>de</strong> lei do <strong>de</strong>putado paraense<br />

Zequinha Marinho, parte <strong>de</strong>sta rodovia foi fe<strong>de</strong>ralizada com o propósito <strong>de</strong> receber<br />

maiores investimentos do governo fe<strong>de</strong>ral.<br />

Devido à intensificação do tráfego, especialmente <strong>de</strong> caminhões com cargas<br />

acima do permitido e às dificulda<strong>de</strong>s para se realizar as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> manutenção e<br />

reabilitação ao longo <strong>de</strong> toda a sua extensão, a estrutura física <strong>de</strong>sta rodovia se encontra<br />

comprometida em <strong>de</strong>terminados trechos, apresentando pavimento bastante danificado,<br />

falta <strong>de</strong> sinalização e principalmente pontes em condições alarmantes e inseguras,<br />

que representam não só um aumento dos riscos <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes, mas também dos<br />

riscos <strong>de</strong> assaltos. Pois, diante <strong>de</strong> algumas <strong>de</strong>ssas pontes, os motoristas necessitam <strong>de</strong><br />

um cuidado maior <strong>de</strong>vido, <strong>de</strong>ntre outros, à gran<strong>de</strong> diferença <strong>de</strong> nível entre estas e o<br />

pavimento, forçando-os à redução da velocida<strong>de</strong> do veículo, <strong>de</strong> forma a quase parar e<br />

dando margem assim, à ação <strong>de</strong> bandidos que se aproveitam <strong>de</strong>ssa situação para assaltar.<br />

As maiores vítimas <strong>de</strong>sses assaltos são os ônibus intermunicipais, por possuírem<br />

uma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manobra menor em relação aos carros <strong>de</strong> passeios e transportarem<br />

um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> pessoas, portanto, mais lucrativos para os meliantes.<br />

Em vista disso, este estudo visa analisar os dados obtidos por meio <strong>de</strong> um questionário<br />

a respeito das opiniões e experiências vividas pelos motoristas e passageiros<br />

da PA-150, partindo da hipótese <strong>de</strong> que as condições ruins da pista <strong>de</strong> rolamento representam<br />

um facilitador e um local propício para a ocorrência <strong>de</strong> assaltos nessa rodovia.<br />

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA<br />

O transporte é uma ativida<strong>de</strong> básica e imprescindível a todas as relações econômicas,<br />

ao intercâmbio entre os povos e ao comércio, e sua evolução se faz presente nas<br />

diversas fases vividas pela humanida<strong>de</strong>. Devido à estrutura industrial que o veículo<br />

automotor encontrou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> seu aparecimento, seu aperfeiçoamento foi muito mais<br />

rápido que o das ferrovias, que precisaram fazer nascer a indústria antes <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

utilizá-la. Por esse motivo, <strong>de</strong>ntre outros, os transportes rodoviários cresceram <strong>de</strong>masiadamente,<br />

prova disso é a imensa malha rodoviária que o país possui. O transporte<br />

rodoviário caracteriza-se, principalmente, por apresentar serviço relativamente rápido,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e <strong>de</strong>sembaraçado, <strong>de</strong> porta a porta, po<strong>de</strong>ndo ser feito na hora que<br />

melhor convir (quando as rodovias estiverem menos congestionadas, por exemplo). É<br />

mais a<strong>de</strong>quado para distâncias pequenas e médias, sendo usado também a gran<strong>de</strong>s<br />

distâncias, especialmente no transporte <strong>de</strong> cargas, em virtu<strong>de</strong> dos problemas encontrados<br />

em outros modais (FRAENKEL, 1980).<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 103-122, <strong>de</strong>z. 2009


105<br />

Quanto ao transporte rodoviário interestadual e internacional <strong>de</strong> passageiros, <strong>de</strong><br />

acordo com a ANTT (2008), no Brasil há uma movimentação superior a 140 milhões <strong>de</strong><br />

usuários/ano. O transporte rodoviário por ônibus é a principal modalida<strong>de</strong> na movimentação<br />

coletiva <strong>de</strong> usuários (figura 1), o serviço interestadual é responsável por quase 95%<br />

do total <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos realizados no país. Assume um faturamento anual superior a<br />

R$ 2,5 bilhões na prestação dos serviços regulares prestados pelas empresas permissionárias,<br />

on<strong>de</strong> há 13.400 ônibus. A existência <strong>de</strong> um sólido sistema <strong>de</strong> transportes rodoviário<br />

<strong>de</strong> passageiros é vital, visto que o país possui uma malha rodoviária <strong>de</strong> aproximadamente<br />

1,8 milhão <strong>de</strong> km, sendo 146 mil asfaltados (rodovias fe<strong>de</strong>rais e estaduais).<br />

Figura 1: Rodovia PA-150 entre Eldorado dos Carajás e Sapucaia.<br />

Estes números mostram a importância do transporte rodoviário <strong>de</strong> passageiros<br />

para um país com dimensões continentais, como o Brasil. Portanto, como afirmam Ferraz<br />

e Torres (2004), o passageiro <strong>de</strong>ve ser visto como cliente, tendo direito a um serviço<br />

que lhe proporcione satisfação e motivação para continuar usando. Afinal, um sistema<br />

<strong>de</strong> transporte eficiente, como diz Morales (2007), representa um dos indicadores <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento econômico e social <strong>de</strong> um país.<br />

2.1 CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS DAS RODOVIAS<br />

Segundo Pimenta e Oliveira (2004), os elementos básicos que compõem uma<br />

rodovia são:<br />

• faixa <strong>de</strong> tráfego: meio por on<strong>de</strong> corre o fluxo <strong>de</strong> veículos;<br />

• pista <strong>de</strong> rolamento: conjunto <strong>de</strong> faixas <strong>de</strong> tráfego;<br />

• acostamentos: servem para paradas <strong>de</strong> emergência;<br />

• talu<strong>de</strong>s laterais: po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong> corte e/ou aterro e suas inclinações <strong>de</strong>vem acompanhar<br />

suavemente o terreno;<br />

• plataforma: contém as pistas, acostamentos, espaços para drenagem e separador central;<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 103-122, <strong>de</strong>z. 2009


106<br />

• separador central: utilizado em pistas duplas, serve entre outros, para evitar que<br />

veículos invadam a outra pista, no caso <strong>de</strong> uma saída aci<strong>de</strong>ntal;<br />

• guias: servem para <strong>de</strong>linear e proteger as bordas do pavimento, diminuindo os custos<br />

da manutenção;<br />

• espaços para a drenagem: espaços <strong>de</strong>stinados a eliminar as águas do pavimento.<br />

Estes elementos po<strong>de</strong>m ser visualizados na figura 2, que ilustra o corte transversal<br />

<strong>de</strong> uma rodovia <strong>de</strong> pista dupla.<br />

Figura 2: Rodovia <strong>de</strong> pista dupla – seção tipo (PIMENTA e OLIVEIRA, 2004).<br />

Muitas vezes, os aspectos técnicos que irão conferir a qualida<strong>de</strong> final <strong>de</strong> uma<br />

rodovia acabada não são levados em consi<strong>de</strong>ração durante sua implantação. Algumas<br />

rodovias, por uma questão <strong>de</strong> custo, não apresentam sequer acostamentos para as<br />

paradas <strong>de</strong> emergência e nem uma drenagem a<strong>de</strong>quada.<br />

Para Morales (2003), o recurso da drenagem é <strong>de</strong> fundamental importância para<br />

a vida útil do pavimento. Os dispositivos <strong>de</strong> drenagem <strong>de</strong>vem fazer com que as águas<br />

pluviais escorram para fora da rodovia (drenagem superficial), além <strong>de</strong> impedir que as<br />

águas subterrâneas cheguem à camada da base do pavimento (drenagem subterrânea)<br />

e ainda permitir a passagem da água <strong>de</strong> um lado para o outro através <strong>de</strong> dispositivos<br />

como as pontes e os bueiros (transposição <strong>de</strong> talvegues), como mostra a figura 3.<br />

Figura 3: Ponte e bueiro entre as cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Xinguara e Rio Maria na PA-150.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 103-122, <strong>de</strong>z. 2009


107<br />

A pavimentação é o item mais visível e mais importante para o usuário,<br />

pois, como afirma Bernucci et al. (1985), representa a garantia <strong>de</strong> trafegabilida<strong>de</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />

das condições climáticas e a proporção <strong>de</strong> conforto e segurança. O<br />

pavimento construído sobre o subleito suporta as cargas dos veículos, distribuindo-as<br />

às suas diversas camadas, que <strong>de</strong>vem ser projetadas para ter uma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suporte<br />

e durabilida<strong>de</strong> compatível com o padrão da obra e o tipo <strong>de</strong> tráfego.<br />

Segundo Medina (1997), a função do pavimento é o melhoramento das<br />

estradas <strong>de</strong> terra, protegendo-as, tornando-as mais cômodas e seguras ao tráfego, além<br />

<strong>de</strong> mais duráveis. No caso da PA-150, são classificados como flexíveis, ou seja, constituído<br />

por revestimento betuminoso sobre uma base granular ou <strong>de</strong> solo estabilizado<br />

granulometricamente.<br />

As fotos da figura 4 são <strong>de</strong> trechos da PA-150, entre as cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Eldorado<br />

dos Carajás e Sapucaia. Na foto à esquerda percebe-se uma rodovia com o pavimento<br />

em boas condições e sinalizado, enquanto na outra o asfalto encontra-se bastante danificado,<br />

precisando <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> manutenção e reabilitação.<br />

Com importância equivalente à construção da rodovia, está a sua manutenção,<br />

segundo Senço (2001, pg. 445): “[...] conservar é manter na rodovia as condições<br />

iniciais existentes, logo após a construção e pavimentação”. As ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> manutenção<br />

e reabilitação se fazem necessárias, uma vez que os <strong>de</strong>feitos e irregularida<strong>de</strong>s<br />

encontrados na superfície <strong>de</strong> rolamento são facilmente percebidos pelos motoristas,<br />

afetando diretamente a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas viagens.<br />

Figura 4: Rodovia PA-150 entre as cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Eldorado dos Carajás e Sapucaia.<br />

2.2 RODOVIA PA-150<br />

A PA-150 é uma rodovia estadual longitudinal, que até julho <strong>de</strong> 2009, tinha uma<br />

extensão <strong>de</strong> 762 km que interligava o nor<strong>de</strong>ste ao sul do Pará (figura 5). Começava no<br />

entroncamento da PA-475 com a PA-256 em Moju e passava pelos municípios <strong>de</strong> Tailândia,<br />

Goianésia, Jacundá, Nova Ipixuna, Marabá, Eldorado dos Carajás, Sapucaia, Xinguara,<br />

Rio Maria, Pau D’Arco e terminava em Re<strong>de</strong>nção. O trecho que vai <strong>de</strong> Marabá a<br />

Re<strong>de</strong>nção, com a aprovação do projeto <strong>de</strong> lei n o 11.968/2009, pertence ao governo fe<strong>de</strong>-<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 103-122, <strong>de</strong>z. 2009


108<br />

ral, continuando sob jurisdição do estado do Pará, portanto PA-150, o trecho <strong>de</strong> Moju<br />

até Marabá. Consi<strong>de</strong>rando toda a extensão inicial, essa via possui 92 pontes, sendo<br />

650m <strong>de</strong>stas <strong>de</strong> concreto, com largura <strong>de</strong> 8,60m e duas faixas <strong>de</strong> tráfego (pista simples),<br />

além <strong>de</strong> passarelas para pe<strong>de</strong>stres. Apresenta pista <strong>de</strong> rolamento <strong>de</strong> 7m, acostamento<br />

variando <strong>de</strong> 0,5m a 1m e uma plataforma <strong>de</strong> 8 a 9 metros. Seu traçado insere-se em áreas<br />

antropizadas, ou seja, <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> agrária, urbana e vegetação secundária, exceto por<br />

um segmento <strong>de</strong> 50 km (trecho Moju/Tailândia), em que os terrenos apresentam vegetação<br />

nativa da Floresta Ombrófila das Terras Baixas (SETRAN, 2008).<br />

A PA-150 foi implantada na década <strong>de</strong> 70, tendo como revestimento AAUQ<br />

(Areia Asfáltica Usinada a Quente). Entre 1998 e 1999, ocorreu seu primeiro recapeamento.<br />

Os serviços emergenciais e <strong>de</strong> restauração atuais na PA-150 são os tapa buracos,<br />

pontos críticos, fresagem, reciclagem e revestimento em CBUQ (Concreto Betuminoso<br />

Usinado a Quente). Forma um importante eixo <strong>de</strong> integração com algumas rodovias<br />

fe<strong>de</strong>rais, como a BR-153 (Marabá/São Geraldo do Araguaia) e BR-158 (Re<strong>de</strong>nção/Santana<br />

do Araguaia). Além <strong>de</strong> proporcionar acesso a Conceição do Araguaia através da PA-<br />

287, a Tomé-Açu, através das PA-256/475, ao Acará, pelas PA-475/252, a Abaetetuba, via<br />

PA-252 e ao Arapari, por intermédio da PA-151 (SENNA, 2008).<br />

Figura 5: Mapa do Pará com a PA-150 antes da mudança em <strong>de</strong>staque (SKYS CRAPER CITY, 2008).<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 103-122, <strong>de</strong>z. 2009


109<br />

Todas essas ligações rodoviárias integram todo o leste paraense, trazendo vários<br />

benefícios, como a integração com a Região Metropolitana <strong>de</strong> Belém, além <strong>de</strong> impulsionar<br />

o turismo dos estados vizinhos (Tocantins, Maranhão e Mato Grosso) atraídos<br />

pelas praias nas temporadas <strong>de</strong> veraneio. Além do mais, a região leste do Pará caracteriza-se<br />

pelas ativida<strong>de</strong>s agrícolas, pecuárias, agroindustriais e mineradoras, que geram<br />

riquezas para o estado que precisam ser escoadas.<br />

Várias cida<strong>de</strong>s do sul e su<strong>de</strong>ste do estado tiveram uma explosão em seu Produto<br />

Interno Bruto (PIB), motivados pelos setores citados supracitados. Segundo dados do<br />

IBGE, em 2007, Marabá possuía 196.468 habitantes e um PIB per capita <strong>de</strong> R$ 13.055,00.<br />

Parauapebas no mesmo ano apresentou um PIB per capita <strong>de</strong> R$ 31.320,00. Quanto à<br />

pecuária, Re<strong>de</strong>nção e Conceição do Araguaia possuíam em 2007, respectivamente,<br />

181.384 e 258.876 cabeças <strong>de</strong> bovinos efetivos <strong>de</strong> rebanhos.<br />

De acordo com Senna (2008), o Estudo <strong>de</strong> Fluxo Rodoviário <strong>de</strong> Cargas do Pará -<br />

2006 apontou que o volume <strong>de</strong> caminhões que transitaram na PA-150 em 2005 foi <strong>de</strong><br />

241.698 na região <strong>de</strong> Carajás, 110.333 na região do Araguaia, 133.332 na região do lago <strong>de</strong><br />

Tucuruí e 225.000 na região do Tocantins, estimando um valor <strong>de</strong> carga <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> R$<br />

22.320.827,00. Devido à intensificação <strong>de</strong> tráfego <strong>de</strong> passageiros e <strong>de</strong> cargas nas últimas<br />

décadas, a atual estrutura física e geométrica da PA-150 não é suficiente para aten<strong>de</strong>r a<br />

<strong>de</strong>manda. Este fator acaba por agravar as precárias condições <strong>de</strong> trafegabilida<strong>de</strong> em<br />

muitos trechos <strong>de</strong>vidos aos pontos críticos que apresentam. Seu traçado apresenta um<br />

acostamento insuficiente, precários sistemas <strong>de</strong> drenagem (quando existentes), ina<strong>de</strong>quadas<br />

pontes em ma<strong>de</strong>ira e a <strong>de</strong>terioração das sinalizações verticais e horizontais.<br />

Tudo isso contribui para ser consi<strong>de</strong>rada a rodovia que mais tem causado aci<strong>de</strong>ntes nos<br />

últimos anos. Em 2007, foram 464 aci<strong>de</strong>ntes com 94 vítimas fatais.<br />

3 METODOLOGIA DA PESQUISA<br />

Este trabalho tem como elemento central um questionário, elaborado com intuito<br />

<strong>de</strong> se obter o maior número <strong>de</strong> informações possíveis sobre a percepção dos<br />

passageiros/motoristas que trafegam pela PA-150. Desta forma, procurou-se conhecer<br />

o usuário (ida<strong>de</strong>, profissão, on<strong>de</strong> mora, <strong>de</strong>ntre outros), as experiências vivenciadas, no<br />

que diz respeito a assaltos, e as suas opiniões sobre as condições <strong>de</strong> trafegabilida<strong>de</strong><br />

oferecidas pela via.<br />

O questionário utilizado para esta pesquisa contém 23 perguntas (objetivas em<br />

sua maioria), das quais algumas serão abordadas neste artigo:<br />

• Com que frequência você utiliza a rodovia PA-150?<br />

• Qual o motivo das viagens?<br />

• Você viaja na condição <strong>de</strong> passageiro ou motorista?<br />

• Há outra rota para chegar ao seu <strong>de</strong>stino que não passe pela PA-150?<br />

• O que você acha da PA-150 (no trecho em que você percorre) quanto a:<br />

- Condições do pavimento<br />

- Sinalização<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 103-122, <strong>de</strong>z. 2009


110<br />

- Pontes<br />

- Acostamento<br />

- Drenagem<br />

• Você já foi assaltado alguma vez na PA-150?<br />

• Em que trecho?<br />

• Como os assaltantes agiram?<br />

• O que você acha que facilita/propicia a ação dos assaltantes?<br />

• Que providência você acha que <strong>de</strong>ve ser tomada para que os assaltos na PA-150 diminuam?<br />

• Qual horário <strong>de</strong> viagem você consi<strong>de</strong>ra mais perigoso?<br />

• Quando vai viajar pela PA-150, você toma alguma medida cuidadosa pensando nos<br />

assaltos? Qual?<br />

• No geral, como você classifica a PA-150?<br />

Após a revisão da bibliografia estudada, o projeto <strong>de</strong> pesquisa foi submetido<br />

para a aprovação do Comitê <strong>de</strong> Ética em Pesquisa (CEP) da Universida<strong>de</strong> da Amazônia.<br />

Com a aprovação do CEP, iniciou-se a pesquisa <strong>de</strong> campo em julho <strong>de</strong> 2008.<br />

No município <strong>de</strong> Conceição do Araguaia, durante uma semana, os passageiros e<br />

motoristas <strong>de</strong> ônibus intermunicipais, com rota pela PA-150, foram abordados no terminal<br />

rodoviário para a aplicação do questionário. A abordagem era feita individualmente, apresentando-se<br />

a proposta da pesquisa, os motivos <strong>de</strong> sua realização e convidando os mesmos<br />

a participarem. As pessoas que aceitavam, antes <strong>de</strong> começarem a respon<strong>de</strong>r oralmente às<br />

perguntas, liam e assinavam o Termo <strong>de</strong> Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), autorizando<br />

suas participações. Menores <strong>de</strong> 18 anos não foram entrevistados. A participação foi<br />

voluntária, não ensejando qualquer tipo <strong>de</strong> remuneração. Deste modo, foi realizada também<br />

nas <strong>de</strong>mais cida<strong>de</strong>s, porém, em Re<strong>de</strong>nção e Parauapebas a pesquisa foi feita durante<br />

apenas dois dias, dos meses <strong>de</strong> setembro e outubro <strong>de</strong> 2008, respectivamente.<br />

No entanto, a pesquisa não se limitou aos terminais rodoviários, abrangendo<br />

assim, uma parcela das pessoas dos ônibus em que eram feitas as viagens e outras que,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do ambiente físico em que se encontravam (em Belém), já trafegaram<br />

ou trafegam pela PA-150. Assim, chegou-se ao número <strong>de</strong> 125 entrevistas, realizadas<br />

no 2° semestre <strong>de</strong> 2008 e 1° semestre <strong>de</strong> 2009.<br />

As cida<strong>de</strong>s foram escolhidas por suas localizações, que permitem abranger <strong>de</strong>mandas<br />

oriundas <strong>de</strong> diversas regiões do estado: Re<strong>de</strong>nção e Conceição do Araguaia (sul<br />

do Pará), Parauapebas (su<strong>de</strong>ste) e Belém (nor<strong>de</strong>ste).<br />

De posse dos dados, a tabulação foi feita no Microsoft Excel (versão 2007), cujos<br />

resultados serão apresentados no próximo item.<br />

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS<br />

A tabela 1 apresenta as perguntas que foram feitas aos entrevistados, o número<br />

<strong>de</strong> respostas que cada item obteve e seus respectivos percentuais. A pergunta 5 mostra<br />

que dos 125 entrevistados 19%, ou seja, 24 usuários, já foram assaltados em viagens<br />

realizadas em ônibus intermunicipais na PA-150.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 103-122, <strong>de</strong>z. 2009


111<br />

Tabela 1: Conteúdo do questionário<br />

Perguntas do questionário Respostas N° <strong>de</strong> entrevistados %<br />

1. Com que frequência você utiliza<br />

a rodovia PA-150? Por semana (1 a 4 vezes) 39 31<br />

Por mês (1 a 7 vezes) 14 11<br />

Por ano (1 a 6 vezes) 72 58<br />

Total 125 100<br />

2. Qual o motivo das viagens? Trabalho 36 29<br />

Estudo 25 20<br />

Passeio 36 29<br />

Saú<strong>de</strong> 6 5<br />

Motivos Pessoais 22 18<br />

Total 125 100<br />

3. Você viaja na condição <strong>de</strong> Passageiro 107 86<br />

passageiro ou motorista? Motorista 18 14<br />

Total 125 100<br />

4. Há outra rota para chegar ao seu Não há 67 54<br />

<strong>de</strong>stino que não passe pela Sim,Belém-Brasília (BR-010) 30 24<br />

PA-150? Qual? Sim, Via Rondon (BR-222) 10 8<br />

Não sabe 18 14<br />

Total 125 100<br />

5. Você já foi assaltado alguma Sim 24 19<br />

vez na PA-150? Não 101 81<br />

Total 125 100<br />

6. Em qual trecho? Moju-Tailândia 0 0<br />

Tailândia-Goianésia 1 4<br />

Goianésia-Jacundá 5 19<br />

Jacundá-Marabá 9 33<br />

Marabá-Eldorado 7 26<br />

Eldorado-Xinguara 2 7<br />

Xinguara-Rio Maria 2 7<br />

Rio Maria-Re<strong>de</strong>nção 1 4<br />

Total* 27 100<br />

7. Como os assaltantes agiram? Entraram como passageiros. 7 26<br />

Abordaram em cabeceira <strong>de</strong> ponte. 12 44<br />

Abordaram na pista. 8 30<br />

Total* 27 100<br />

8. O que você acha que A falta <strong>de</strong> policiamento. 44 35<br />

facilita/propicia a ação As condições ruins da rodovia.60 48<br />

dos assaltantes? A impunida<strong>de</strong>. 13 10<br />

Paradas dos ônibus para pegar 8 6<br />

passageiros fora dos terminais.<br />

Total 125 100<br />

9. Que providência você acha Melhorar as condições do pavimento<br />

que <strong>de</strong>ve ser tomada para que e das pontes. 34 43<br />

os assaltos na PA-150 diminuam?<br />

Aumentar o policiamento. 31 25<br />

Fazer constantes operações policiais 48 38<br />

nos trechos. consi<strong>de</strong>rados perigosos.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 103-122, <strong>de</strong>z. 2009


112<br />

Perguntas do questionário Respostas N° <strong>de</strong> entrevistados %<br />

Outras** 3 2<br />

Total 125 100<br />

10. O que você acha da PA-150 Não há 0 0<br />

(no trecho em que você percorre) Ruim 83 66<br />

Regular 26 21<br />

Bom 11 9<br />

Ótimo 0 0<br />

Não opinou 5 4<br />

Total 125 100<br />

Não há 4 3<br />

11. O que você acha da PA-150 Ruim 73 58<br />

(no trecho em que você percorre) quanto Regular 42 34<br />

às condições do pavimento? Bom 4 3<br />

Ótimo 0 0<br />

Não opinou 2 2<br />

Total 125 100<br />

12. O que você acha da PA-150 Não há 16 13<br />

(no trecho em que você percorre) Ruim 83 66<br />

quanto à sinalização? Regular 20 16<br />

Bom 0 0<br />

Ótimo 0 0<br />

Não opinou 6 5<br />

Total 125 100<br />

13. O que você acha da PA-150 Não há 50 40<br />

(no trecho em que você percorre) Ruim 45 36<br />

quanto aos acostamentos? Regular 21 17<br />

Bom 2 2<br />

Ótimo 0 0<br />

Não opinou 7 6<br />

Total 125 100<br />

14. O que você acha da PA-150 Não há 24 19<br />

(no trecho em que você percorre) Ruim 51 41<br />

quanto à drenagem? Regular 23 18<br />

Bom 13 10<br />

Ótimo 0 0<br />

Não opinou 14 11<br />

Total 125 100<br />

15. Qual horário <strong>de</strong> viagem você Madrugada 49 39<br />

consi<strong>de</strong>ra mais perigoso? Manhã 1 1<br />

Tar<strong>de</strong> 3 2,4<br />

Noite 70 56<br />

Não opinou 2 1,6<br />

Total 125 100<br />

16. Quando vai viajar pela PA-150, Sim, viajar com pouco dinheiro. 53 42<br />

você toma alguma medida Sim, não levar objetos caros. 18 14<br />

cuidadosa pensando nos Sim, viajar em horários<br />

assaltos? Qual? que consi<strong>de</strong>ra mais seguro. 32 26<br />

Nenhuma providência. 10 8<br />

Outras 12 10<br />

Total 125 100<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 103-122, <strong>de</strong>z. 2009


113<br />

Perguntas do questionário Respostas N° <strong>de</strong> entrevistados %<br />

17. No geral, como você classificaa PA-150? Péssima 45 36<br />

Ruim 48 38<br />

Regular 28 22<br />

Boa 3 2<br />

Ótima 1 1<br />

Total 125 100<br />

A frequência das viagens mostra o grau <strong>de</strong> solicitação que a PA-150 possui, que<br />

vai variar significativamente da pessoa que visita a família em outra cida<strong>de</strong> nas férias<br />

para uma pessoa que precisa se <strong>de</strong>slocar diariamente para trabalhar em uma cida<strong>de</strong><br />

vizinha, por exemplo, apesar <strong>de</strong> que, para ambos a importância <strong>de</strong> se ter uma rodovia<br />

em bom estado <strong>de</strong> conservação não muda.<br />

No gráfico da figura 6, po<strong>de</strong> se verificar que 58% da amostra entrevistada utiliza<br />

a PA-150 <strong>de</strong> uma a seis vezes por ano; 31% utiliza <strong>de</strong> uma a quatro vezes por mês e a<br />

minoria (11%) <strong>de</strong> uma a sete vezes por semana, apresentando assim, um público mais<br />

esporádico e menos assíduo.<br />

Figura 6: Frequência com que os usuários utilizam a via.<br />

O motivo das viagens revela a finalida<strong>de</strong> dos <strong>de</strong>slocamentos que são feitos,<br />

informando quais são as maiores <strong>de</strong>mandas da via. No gráfico da figura 7, po<strong>de</strong>-se<br />

observar que 29% dos usuários utilizam a PA-150 por motivo <strong>de</strong> trabalho, sendo <strong>de</strong> 29%<br />

também a <strong>de</strong>manda que viaja a passeio, seguido <strong>de</strong> 20% que a utilizam por motivo <strong>de</strong><br />

estudo. Estes números mostram que as cida<strong>de</strong>s do leste paraense se interrelacionam<br />

pelo potencial turístico, econômico e educacional <strong>de</strong> algumas cida<strong>de</strong>s, que tem atraído<br />

turistas, trabalhadores e estudantes, em especial para as universida<strong>de</strong>s públicas que<br />

foram implantadas nos últimos anos em várias cida<strong>de</strong>s do interior do Pará.<br />

Figura 7: Motivos das viagens.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 103-122, <strong>de</strong>z. 2009


114<br />

Saber se existe outra rota que leve o usuário ao seu <strong>de</strong>stino, indica o grau<br />

<strong>de</strong> importância que esta rodovia possui para o mesmo, pois, utilizá-la tendo outra opção,<br />

mostra que, em comparação, a PA-150 possui características positivas que o levaram<br />

a preferi-la. Porém, se esta foi escolhida por falta <strong>de</strong> opção, a importância é ainda<br />

maior, já que a viagem precisa ser feita e não há outro meio para isto, como é o caso da<br />

maioria entrevistada (figura 8), on<strong>de</strong> para 54% dos usuários a PA-150 é a única via que<br />

faz a rota <strong>de</strong>sejada. A Belém-Brasília (BR-010) representa uma opção para 24% dos entrevistados,<br />

porém, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do local on<strong>de</strong> se queira chegar, se torna um caminho<br />

mais longo e mais caro. Para uma pessoa que sai <strong>de</strong> Belém, por exemplo, e queira<br />

chegar ao sul do Pará, terá que passar pelo estado do Tocantins e Maranhão para po<strong>de</strong>r<br />

entrar <strong>de</strong> novo no Pará, tornando-se este um percurso muito mais cansativo.<br />

Figura 8: Opção <strong>de</strong> rota <strong>de</strong> viagem.<br />

Quanto aos aspectos técnicos da PA-150 (condições do pavimento; sinalizações;<br />

pontes; acostamentos e drenagem), a opinião do usuário irá revelar como se<br />

encontram as condições físicas da rodovia, condições estas que são fundamentais para<br />

uma viagem satisfatória. Para esta pesquisa, estes dados são essenciais, visto que a<br />

hipótese formulada neste trabalho relaciona os assaltos que acontecem na PA-150 às<br />

condições da rodovia, consi<strong>de</strong>rando as ações dos assaltantes diretamente proporcionais<br />

aos trechos on<strong>de</strong> sua infraestrutura se encontra no pior estado.<br />

O estado <strong>de</strong> conservação da pista <strong>de</strong> rolamento do pavimento influi <strong>de</strong><br />

forma direta no conforto e rapi<strong>de</strong>z da viagem, porém, para 58% dos entrevistados (figura<br />

9) as condições do pavimento da PA-150 são ruins, seguidos <strong>de</strong> 34% que consi<strong>de</strong>ram<br />

regulares.<br />

As sinalizações, conforme o Manual <strong>de</strong> Sinalização Rodoviária do DNIT<br />

(1999), são os dispositivos que irão controlar o tráfego das vias, regular, advertir e orientar<br />

o usuário e por isso, são <strong>de</strong> extrema importância para a realização <strong>de</strong> uma viagem<br />

segura, mas, <strong>de</strong> acordo com o gráfico à direita da figura 9, as condições das sinalizações<br />

da PA-150 são ruins.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 103-122, <strong>de</strong>z. 2009


115<br />

Figura 9: Opinião dos usuários quanto às condições do pavimento e sinalização da PA-150.<br />

A drenagem da rodovia é o meio pelo qual as águas provenientes das chuvas<br />

irão ser escoadas para fora do pavimento, impedindo que esta penetre no mesmo e<br />

acelere a redução <strong>de</strong> sua vida útil e que se acumule na superfície ocasionando riscos <strong>de</strong><br />

aci<strong>de</strong>ntes para os motoristas. De acordo com a pesquisa, a drenagem da PA-150 é regular<br />

para 38% dos entrevistados (figura 10).<br />

Os acostamentos são fundamentais para a segurança do motorista que precise<br />

fazer uma parada <strong>de</strong> emergência, porém, conforme o gráfico à esquerda da figura 10, a<br />

maioria entrevistada (40%) respon<strong>de</strong>u que não há acostamento no trecho da PA-150 em<br />

que percorrem, sendo que os trechos que possuem acostamento receberam o conceito<br />

ruim da maioria (36%).<br />

Figura 10: Opinião dos usuários quanto à drenagem e acostamento da PA-150.<br />

As pontes são dispositivos <strong>de</strong> transposição <strong>de</strong> talvegue utilizados com frequência<br />

na região que a PA-150 abrange, por ser banhada por diversos rios, lagos e igarapés. Representam,<br />

também, <strong>de</strong> acordo com as hipóteses formuladas, um local propício aos assaltos,<br />

visto que as diferenças <strong>de</strong> nível entre as mesmas e a pista, e seus estados <strong>de</strong> conservação<br />

precários forçarem a redução <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> dos veículos <strong>de</strong> forma significativa, facilitando<br />

assim, a ação dos assaltantes. Conforme o gráfico da figura 11, a imensa maioria (66%)<br />

consi<strong>de</strong>ra as condições das pontes ruins, seguidos <strong>de</strong> 21% que consi<strong>de</strong>ram regulares.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 103-122, <strong>de</strong>z. 2009


116<br />

Figura 11: Opinião do usuário quanto às condições das pontes.<br />

O conhecimento das experiências dos usuários da via revela suas opiniões baseadas<br />

em acontecimentos reais e particulares, revelando os motivos que os levaram a<br />

avaliar a via <strong>de</strong> uma maneira positiva, se suas viagens foram bem sucedidas, ou negativas,<br />

caso contrário. Por isso, a importância <strong>de</strong> saber se o entrevistado já foi assaltado ou<br />

não. No gráfico da figura 12, observa-se que 24 usuários (19%) já foram assaltados na PA-<br />

150, sendo que <strong>de</strong>stes, três foram assaltados duas vezes.<br />

Já foi assaltado na PA-150?<br />

Figura 12: Entrevistados que sofreram assaltos na PA-150.<br />

Saber os locais on<strong>de</strong> ocorreram esses assaltos permite a análise estatística<br />

dos pontos críticos da rodovia. De acordo com a pergunta 6 da tabela 1, a maior<br />

parte dos assaltos aconteceu no trecho compreendido entre as cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Jacundá e<br />

Marabá (33%), seguidos <strong>de</strong> 26% entre Marabá e Eldorado e 19% entre Goianésia e<br />

Jacundá. Diante disso, po<strong>de</strong>-se inferir como área crítica para assaltos, o entorno <strong>de</strong><br />

Marabá, com Goianésia e Jacundá ao norte e Eldorado ao sul, como po<strong>de</strong> ser visualizado<br />

na figura 13, tendo em vista que esta região apresentou os maiores índices, como<br />

po<strong>de</strong> ser observado na figura 14.<br />

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117<br />

Figura 13: PA-150 com trecho crítico para assaltos em vermelho.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 103-122, <strong>de</strong>z. 2009


118<br />

M<br />

Figura 14: Trechos on<strong>de</strong> ocorreram os assaltos.<br />

Po<strong>de</strong>-se ainda, relacionar os assaltos com as causas que o originaram, tendo o<br />

conhecimento <strong>de</strong> como se proce<strong>de</strong>u a ação (como foi feita a abordagem dos bandidos).<br />

Dos 19% <strong>de</strong> usuários que sofreram assaltos, a maior parte, 44% (12 pessoas) foram em<br />

cabeceiras <strong>de</strong> pontes (figura 15). Tendo em vista que a região consi<strong>de</strong>rada crítica é a que<br />

possui as piores pontes, <strong>de</strong> acordo com os relatos dos motoristas entrevistados, o que<br />

permite concluir que as pontes representam locais propícios para assaltos.<br />

Figura 15: Gráfico que mostra como ocorreram os assaltos.<br />

Obter o conhecimento da opinião do usuário sobre o que facilita e/ou propicia<br />

os assaltos e sobre as providências que <strong>de</strong>vem ser tomadas para que estes diminuam,<br />

permitem a formulação <strong>de</strong> sugestões que possam atenuar este problema. A pergunta 8,<br />

da tabela 1, revela que para a maioria, 48%, as condições da rodovia são <strong>de</strong>terminantes,<br />

seguidos da falta <strong>de</strong> policiamento, com 35% das respostas. Quanto às providências que<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 103-122, <strong>de</strong>z. 2009


119<br />

<strong>de</strong>vem ser tomadas para que os assaltos diminuam, 38% acreditam que se <strong>de</strong>vem fazer<br />

constantes operações policiais nos trechos consi<strong>de</strong>rados perigosos e 34% acham que as<br />

condições dos pavimentos e das pontes <strong>de</strong>vem ser melhoradas. A opção Outras correspon<strong>de</strong><br />

a não parar fora dos terminais para pegar passageiros na estrada; não transportar<br />

mais do que a lotação <strong>de</strong> passageiros sentados permitida e submeter os passageiros a<br />

<strong>de</strong>tector <strong>de</strong> metais nos terminais. (Figura 16).<br />

Figura 16: Opinião do usuário sobre meios para diminuir os assaltos.<br />

A pergunta referente ao horário, consi<strong>de</strong>rado mais perigoso para viajar, revela<br />

uma questão que po<strong>de</strong> estar intimamente associada às causas dos assaltos, visto que,<br />

por mais que seja do conhecimento do usuário, os horários <strong>de</strong> maiores índices, estes,<br />

muitas vezes, não possuem opções, pois praticamente não existe concorrência <strong>de</strong> empresas<br />

com um quadro maior <strong>de</strong> escolha na região da pesquisa. Assim, o passageiro se<br />

submete a viajar em horários que são fixados por estas empresas, não po<strong>de</strong>ndo levar<br />

em consi<strong>de</strong>ração o fato <strong>de</strong> ser mais perigoso ou não. Isto gera uma facilida<strong>de</strong> para os<br />

assaltantes, visto que conhecem esta realida<strong>de</strong> e sabem exatamente a organização das<br />

viagens, horários dos ônibus, origem e <strong>de</strong>stino, entre outros, tendo preferência (segundo<br />

os motoristas entrevistados) pelos ônibus advindos <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s mais ricas economicamente.<br />

Nesta pesquisa, <strong>de</strong> acordo com a pergunta 15 da tabela 1, o horário consi<strong>de</strong>rado<br />

mais perigoso foi o da noite com 56%, seguido da madrugada, com 39%.<br />

A questão referente às medidas cuidadosas, que os passageiros e motoristas tomam<br />

ou não para viajarem, indica o nível <strong>de</strong> preocupação que a PA-150 representa para os<br />

mesmos (Figura 17). Quanto maior o índice <strong>de</strong> cuidados subenten<strong>de</strong>-se que mais crítica é<br />

a situação, justificando a abordagem do tema. E, finalmente, saber como o usuário classifica<br />

a rodovia, mostra o índice <strong>de</strong> satisfação dos mesmos para com a PA-150.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 103-122, <strong>de</strong>z. 2009


120<br />

Figura 17: Medidas tomadas pelos usuários ao viajar.<br />

Para concluir, foi perguntado ao usuário como no geral a PA-150 po<strong>de</strong> ser<br />

classificada. A figura 18 mostra que a maior parte das pessoas entrevistadas (48 pessoas)<br />

a classificam como uma rodovia ruim, seguida <strong>de</strong> péssima (45 pessoas). Esses resultados<br />

mostram a insatisfação dos passageiros e motoristas com o estado em que a via se<br />

encontra, provando a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que tragam melhorias e, consequentemente,<br />

um conforto maior nas viagens realizadas.<br />

5 CONCLUSÕES<br />

Figura 18: Gráfico do conceito que o usuário tem da PA-150.<br />

Tendo em vista a importância que a rodovia (em especial, a PA-150) tem para a<br />

população do leste paraense, que precisa se <strong>de</strong>slocar, na maioria das vezes gran<strong>de</strong>s<br />

distâncias, enfrentando cansativas viagens <strong>de</strong> ônibus, esta pesquisa abordou um problema<br />

que precisa ser trabalhado pelo estado em conjunto com as empresas <strong>de</strong> transportes<br />

<strong>de</strong> passageiros da região.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 103-122, <strong>de</strong>z. 2009


121<br />

O problema dos assaltos na PA-150 afeta o usuário psicologicamente, visto que<br />

a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong>stes gera medo e tensão. E se consumados, trazem<br />

prejuízos com a <strong>perda</strong> <strong>de</strong> bens e dinheiro, além <strong>de</strong> traumas, quando há violência. Talvez<br />

por isso este tema teve gran<strong>de</strong> aceitação por parte do público-alvo.<br />

Foram consi<strong>de</strong>rados como pontos críticos para assaltos a região compreendida<br />

entre os municípios <strong>de</strong> Goianésia e Eldorado dos Carajás, tendo entre Jacundá e Marabá<br />

seus maiores índices, com 33%. Este dado revela os locais que necessitam <strong>de</strong> maiores<br />

investimentos <strong>de</strong> efetivos <strong>de</strong> segurança, operações policiais e melhorias <strong>de</strong> infraestrutura,<br />

visto que 44% dos assaltos ocorreram em cabeceiras <strong>de</strong> pontes e que 66% dos<br />

entrevistados consi<strong>de</strong>ram as condições das pontes da PA-150 ruins.<br />

O horário <strong>de</strong> viagem consi<strong>de</strong>rado mais perigoso foi o noturno, revelando a importância<br />

<strong>de</strong> terem-se opções <strong>de</strong> escolhas e consequentemente, uma maior concorrência<br />

<strong>de</strong> empresas que busquem a melhoria constante dos serviços prestados. Pois, muitas<br />

vezes, essa qualida<strong>de</strong> é <strong>de</strong>ixada <strong>de</strong> lado, na medida em que certos cuidados não são<br />

tomados, acentuando-se ainda mais os riscos corridos pelos passageiros. Como exemplo,<br />

po<strong>de</strong>m-se citar as inúmeras vezes em que os ônibus utilizados nas viagens para a<br />

realização das entrevistas quebraram no caminho, sendo necessárias horas para o conserto<br />

e até mesmo a espera para a troca, quando o problema não tinha solução. Isto<br />

mostra o <strong>de</strong>srespeito que o passageiro está sujeito quando precisa viajar.<br />

Deve-se atentar ainda para hábitos que também acabam propiciando a ocorrência<br />

<strong>de</strong>sses assaltos. Como mostra o gráfico da figura 15, em 26% dos casos os assaltantes<br />

entraram como passageiros. Muitas vezes os ônibus param para pegar passageiros fora<br />

dos terminais, na estrada, até mesmo quando a lotação máxima permitida já está completa,<br />

acarretando <strong>de</strong>sconforto e maiores riscos.<br />

Faz-se necessário a complementação <strong>de</strong>ste estudo, levando em consi<strong>de</strong>ração<br />

uma <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> usuários maior, que servirá como fonte para que outras pesquisas<br />

sejam feitas. Novas informações que vierem a acrescentar ao tema po<strong>de</strong>m contribuir<br />

para a avaliação das mudanças ocorridas ao longo do tempo.<br />

Vale lembrar que a parceria entre o estado e as empresas <strong>de</strong> transportes <strong>de</strong> passageiros<br />

<strong>de</strong>ve existir, visto que este problema pertence a todos e que ambos possuem<br />

responsabilida<strong>de</strong>s para com os usuários das rodovias e consequentemente, para com a<br />

socieda<strong>de</strong>. Espera-se que a fe<strong>de</strong>ralização <strong>de</strong> parte da rodovia traga maiores investimentos<br />

<strong>de</strong> infraestrutura e benefícios para a população da região que a PA-150 abrange.<br />

REFERÊNCIAS<br />

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www.antt.gov.br/passageiro/apresentacaopas.asp. Acesso em: 5 abr. 2008.<br />

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DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES - DNIT. Manual <strong>de</strong><br />

sinalização rodoviária. Rio <strong>de</strong> Janeiro, 1999.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 103-122, <strong>de</strong>z. 2009


122<br />

FERRAZ, A. C. P.; TORRES, I. G. E. Transporte público urbano. São Carlos: Ed. Rima, 2004.<br />

FRAENKEL, B. B. Engenharia rodoviária. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ed. Guanabara Dois S. A., 1980.<br />

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE, 2008. Disponível em: http:/<br />

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MEDINA, J. D. Mecânica dos pavimentos. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ed. UFRJ, 1997.<br />

MORALES, P. R. D. Planejamento urbano. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Fundação Ricardo Franco, 2007<br />

MORALES, P. R. D. Manual prático <strong>de</strong> drenagem. Rio <strong>de</strong> Janeiro: IME, 2003.<br />

PIMENTA, C. R. T.; OLIVEIRA, M. P. Projeto Geométrico <strong>de</strong> Rodovias. São Carlos: Ed. Rima,<br />

2004.<br />

SECRETARIA DE ESTADO DE TRANSPORTES - SETRAN, 2008. Disponível em: http://<br />

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SENNA L. SECRETARIA DE ESTADO DE TRANSPORTES - SETRAN, 2008. Projeto <strong>de</strong> rea<strong>de</strong>quação<br />

da PA-150. Disponível em: http://www.setran.pa.gov.br/projetos/projetos.php.<br />

Acesso em: 6 abr. 2008.<br />

SENÇO, W. D. Manual <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> pavimentação. São Paulo: Ed. PINI, 2001.<br />

_______. Mapa do Estado do Pará: Belém - Pará. Disponível em: http://<br />

www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=481607&page=3. Acesso em: 8 abr. 2008.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 103-122, <strong>de</strong>z. 2009


123<br />

AVALIAÇÃO DA OPERAÇÃO E ESTIMATIVA DAS PERDAS DE ÁGUA E<br />

DE ENERGIA ELÉTRICA NO 3º SETOR DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA<br />

DA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM<br />

Gilberto Cal<strong>de</strong>ira Barreto *<br />

José Almir Rodrigues Pereira **<br />

RESUMO<br />

Avaliação da operação e a <strong>de</strong>terminação das <strong>perda</strong>s <strong>de</strong> água e energia do 3° setor <strong>de</strong><br />

abastecimento <strong>de</strong> água da Região Metropolitana <strong>de</strong> Belém. Essa pesquisa foi <strong>de</strong>senvolvida<br />

em três etapas: cálculos dos parâmetros operacionais, monitoramento das<br />

unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> reservação e <strong>de</strong> elevação <strong>de</strong> água e estimativas das <strong>perda</strong>s <strong>de</strong> água e <strong>de</strong><br />

energia elétrica. A falta <strong>de</strong> instrumentação para monitoramento e controle dos parâmetros<br />

operacionais, e a capacida<strong>de</strong> insuficiente do reservatório elevado, resultam<br />

em operações ina<strong>de</strong>quadas, provocando <strong>perda</strong>s <strong>de</strong> água e <strong>de</strong> energia elétrica. O volume<br />

<strong>de</strong> água perdido foi estimado em 423.847 m³/mês, o que representa 42,58% do<br />

volume total distribuído (989.580 m³/mês). O valor que a COSANPA <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> arrecadar<br />

mensalmente com essa <strong>perda</strong> é <strong>de</strong> R$ 508.616,00. A <strong>perda</strong> <strong>de</strong> energia referente ao<br />

volume <strong>de</strong> água perdido no 3° setor foi estimada em 105.962 kWh/mês, com um custo<br />

médio <strong>de</strong> R$ 21.192,4/mês ou R$ 254.308,8/ano.<br />

Palavras-Chave: Abastecimento <strong>de</strong> Água. Perda <strong>de</strong> Água. Perda <strong>de</strong> Energia Elétrica.<br />

Operação.<br />

EVALUATION OF THE OPERATION AND THE ESTIMATES OF THE LOSS<br />

OF WATER AND ENERGY OF THE 3 RD SECTOR OF WATER SUPPLYING<br />

OF BELÉM METROPOLITAN REGION<br />

ABSTRACT<br />

Evaluation of the operation and the estimates of the loss of water and energy of the<br />

3rd sector of water supplying of Belém Metropolitan Region. This search was <strong>de</strong>veloped<br />

in three phases: calculations of operating parameters, monitoring of reservoirs<br />

and pumping unit and estimates of lost water and electric energy in the 3rd sector. The<br />

lack of instrumentation for monitoring and controlling of operating parameters, and<br />

* Aluno <strong>de</strong> Programa <strong>de</strong> Doutorado em Engenharia <strong>de</strong> Recursos Naturais da Amazônia - PRODERNA/UFPA. E-mail:<br />

gilbertocbarreto@gmail.com<br />

** Professor Adjunto do Departamento <strong>de</strong> Hidráulica e Saneamento e do Mestrado em Engenharia Civil da UFPA.<br />

E-mail: rpereira@ufpa.br<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 123-137, <strong>de</strong>z. 2009


124<br />

the insufficient capacity of the elevated reservoir, results in inappropriate operations,<br />

what produces loss of water and electric energy. The volume of lost water was estimated<br />

in 423.847 m³/month, what represent 42,58% of the total volume distributed (989.580<br />

m³/month). The value that the COSANPA does not gain per month with this loss are R$<br />

508.616,00. The loss of energy referring to the volume of lost water in the 3° sector was<br />

estimated in 105.962 kWh/month, what represent a medium cost of R$ 21.192,4 per<br />

month or R$ 254.308,8 per yea.<br />

Keywords: Water Supplying. Loss of Water. Loss of Electric Energy. Operation.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

Com a instituição do Plano Nacional <strong>de</strong> Saneamento - PLANASA, em 1971, o<br />

aumento da oferta <strong>de</strong> serviços públicos <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água no Brasil ganhou<br />

impulso, o que permitiu avanços consi<strong>de</strong>ráveis ao setor <strong>de</strong> saneamento do país.<br />

Segundo Miranda (2002), o cenário na época do PLANASA era <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s obras <strong>de</strong><br />

abastecimento <strong>de</strong> água. Nesse sentido, a expansão absoluta da oferta <strong>de</strong> água ocorreu<br />

com ênfase nos sistemas <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> água (captação, adutora e tratamento). As unida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> distribuição (re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> água) e as ações <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento operacional receberam<br />

menor atenção, com recursos mais mo<strong>de</strong>stos e menor evolução tecnológica.<br />

Nessa época, a água doce era usada em abundância e entendida como bem<br />

inesgotável, e não havia a preocupação <strong>de</strong> conter <strong>de</strong>sperdícios e <strong>de</strong> promover o uso<br />

racional. O bem-estar da população estava diretamente relacionado ao aumento do<br />

consumo, inclusive o da água.<br />

Por causa da crise econômica da década <strong>de</strong> 80, os investimentos em obras <strong>de</strong><br />

saneamento diminuíram, apesar da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aumentar a oferta do serviço <strong>de</strong><br />

abastecimento <strong>de</strong> água, e assim aconteceu por meio <strong>de</strong> soluções pragmáticas a expansão<br />

indiscriminada <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> distribuição (MIRANDA, 2002).<br />

O pouco investimento no <strong>de</strong>senvolvimento operacional (e na manutenção), as<br />

expansões <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nadas das re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> distribuição e a cultura generalizada do <strong>de</strong>sperdício,<br />

associada às pressões urbanas resultantes do crescimento populacional <strong>de</strong>scontrolado,<br />

resultaram, com o passar dos anos, na <strong>de</strong>predação dos sistemas <strong>de</strong> abastecimento<br />

<strong>de</strong> água, configurando cenário i<strong>de</strong>al para o aumento das <strong>perda</strong>s nesses sistemas.<br />

Cheung e Reis (2006) ressaltam que infraestruturas <strong>de</strong>terioradas em sistemas<br />

<strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> água po<strong>de</strong>m provocar <strong>perda</strong>s por vazamentos, diminuição da capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> transporte <strong>de</strong> água, falhas nos componentes do sistema, elevação nos custos<br />

<strong>de</strong> manutenção e operação, constantes interrupções do funcionamento dos sistemas e<br />

diminuição da sua confiabilida<strong>de</strong>, com isso <strong>perda</strong> <strong>de</strong> água e energia elétrica.<br />

Atualmente, o índice <strong>de</strong> <strong>perda</strong>s <strong>de</strong> água no Brasil é muito elevado, com <strong>perda</strong>s<br />

nas concessionárias <strong>de</strong> saneamento <strong>de</strong> 44,66% do volume <strong>de</strong> água que é produzido. Das<br />

27 companhias estaduais <strong>de</strong> água e <strong>de</strong> esgotamento sanitário, apenas 5 <strong>de</strong>las conseguiram<br />

diminuir suas <strong>perda</strong>s para menos <strong>de</strong> 30%. Em 125 Concessionárias Municipais essas<br />

<strong>perda</strong>s variam entre 30% e 70% (BRASIL, 2006).<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 123-137, <strong>de</strong>z. 2009


125<br />

As <strong>perda</strong>s em sistemas públicos <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água são consi<strong>de</strong>radas<br />

como a totalida<strong>de</strong> dos volumes <strong>de</strong> água não contabilizados pela concessionária. Esses<br />

englobam tanto as <strong>perda</strong>s reais (físicas), que representam a parcela não consumida,<br />

como as <strong>perda</strong>s aparentes (não físicas), que correspon<strong>de</strong>m à água consumida e não<br />

registrada (BRASIL, 2004).<br />

Consi<strong>de</strong>rando que a <strong>perda</strong> <strong>de</strong> volume <strong>de</strong> água em sistemas <strong>de</strong> abastecimento<br />

<strong>de</strong> água implica diretamente em <strong>perda</strong> da energia utilizada no bombeamento, e que,<br />

segundo USEPA (1998), tais sistemas consomem entre 2 a 3% da energia distribuída no<br />

mundo; e consi<strong>de</strong>rando ainda que o <strong>de</strong>senvolvimento do Brasil encontra-se relativamente<br />

limitado à disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos para investimentos na produção da energia<br />

elétrica, necessária ao seu crescimento econômico, sendo observada a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> um planejamento para redução <strong>de</strong> <strong>perda</strong>s no setor, e que esse planejamento <strong>de</strong>ve<br />

consi<strong>de</strong>rar o binômio água e energia (BRASIL, 2006).<br />

Tsutiya (2004) comenta que o combate às <strong>perda</strong>s e ao <strong>de</strong>sperdício <strong>de</strong> água implica<br />

na redução do volume <strong>de</strong> água não contabilizado e exige adoção <strong>de</strong> medidas que<br />

reduzam as <strong>perda</strong>s reais e aparentes, para diminuir os custos <strong>de</strong> produção (consumo <strong>de</strong><br />

energia, <strong>de</strong> produtos químicos e outros) e melhorar a eficiência dos serviços prestados<br />

e viabilizar o equilíbrio financeiro das prestadoras <strong>de</strong> serviços.<br />

Portanto, avaliar a operação <strong>de</strong> cada unida<strong>de</strong> do sistema <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong><br />

água, estimando as <strong>perda</strong>s <strong>de</strong> água e energia elétrica (para o estabelecimento <strong>de</strong> metas),<br />

é estratégia importante nas ações para melhorar o <strong>de</strong>sempenho operacional da<br />

concessionária responsável pelo sistema.<br />

Nesse sentido, no trabalho procurou-se <strong>de</strong>terminar os valores <strong>de</strong> <strong>perda</strong>s <strong>de</strong><br />

água e <strong>de</strong> energia elétrica, no 3° setor <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água, localizado na Zona<br />

Central da Região Metropolitana <strong>de</strong> Belém e gerenciado pela Companhia <strong>de</strong> Saneamento<br />

do Pará (COSANPA).<br />

2 MATERIAIS E MÉTODOS<br />

2.1 ÁREA DE ESTUDO<br />

O 3º setor <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água da Região Metropolitana <strong>de</strong> Belém é constituído<br />

pelas unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> reservação, elevação e re<strong>de</strong> <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> água. Esse<br />

setor aten<strong>de</strong> a população <strong>de</strong> 94.289 habitantes e é gerenciado pela Companhia <strong>de</strong> Saneamento<br />

do Pará - COSANPA. Na figura 1 são mostradas algumas informações do sistema<br />

estudado.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 123-137, <strong>de</strong>z. 2009


126<br />

Figura 1: Unida<strong>de</strong>s elevatória do 3º setor <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água da RMB.<br />

No 3° setor <strong>de</strong> abastecimento, a água tratada da ETA <strong>de</strong> São Brás é armazenada<br />

em reservatório apoiado <strong>de</strong> concreto armado (8.600m³, altura útil <strong>de</strong> 5,60m), sendo<br />

recalcada por 3 CMBs, do tipo centrífuga com acoplamento (motor trifásico), <strong>de</strong> potência<br />

<strong>de</strong> 150 CV, vazão nominal <strong>de</strong> 868m³/h, altura manométrica <strong>de</strong> 35m e rotor <strong>de</strong> 11 ½”,<br />

para um reservatório elevado cilíndrico em concreto armado (320m³, altura do fundo <strong>de</strong><br />

20,40m e altura do copo <strong>de</strong> 7,50m).<br />

2.2 ETAPAS DA PESQUISA<br />

A pesquisa foi <strong>de</strong>senvolvida no período <strong>de</strong> janeiro a <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2006, tendo 3<br />

etapas. A primeira etapa teve como objetivo a <strong>de</strong>terminação teórica <strong>de</strong> parâmetros<br />

operacionais para possibilitar a comparação com os parâmetros obtidos na etapa 2, na<br />

qual foram <strong>de</strong>senvolvidas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> monitoramento das unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> reservação e<br />

<strong>de</strong> elevação <strong>de</strong> água. Na terceira foram estimadas as <strong>perda</strong>s <strong>de</strong> água e energia elétrica<br />

no 3° setor. No esquema 1 estão representadas as três etapas da pesquisa.<br />

p<br />

s<br />

Esquema 1: Etapas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da pesquisa.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 123-137, <strong>de</strong>z. 2009


127<br />

ETAPA 1 - DETERMINAÇÃO TEÓRICA DE PARÂMETROS OPERACIONAIS<br />

O termo teórico conota que o sistema <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água estaria operando<br />

sob as condições i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> projeto, sendo nessa etapa calculado: o “consumo efetivo teórico<br />

<strong>de</strong> água” (<strong>de</strong>manda média), o “consumo efetivo teórico <strong>de</strong> água” para o dia <strong>de</strong> maior <strong>de</strong>manda,<br />

o “consumo efetivo teórico <strong>de</strong> água” para o dia e hora <strong>de</strong> maior <strong>de</strong>manda, os volumes<br />

<strong>de</strong> reservação, a potência <strong>de</strong> operação dos CMBs e o consumo <strong>de</strong> energia teórica.<br />

No caso do “consumo efetivo <strong>de</strong> água”, foi consi<strong>de</strong>rado que para o 3° setor cada<br />

pessoa abastecida utilizaria 200 litros <strong>de</strong> água por dia. Em relação ao “consumo teórico<br />

<strong>de</strong> energia elétrica”, foram consi<strong>de</strong>rados: vazão <strong>de</strong> projeto, altura manométrica teórica<br />

e rendimento teórico das bombas e dos motores.<br />

Esses consumos foram utilizados como referência na avaliação dos dados e informações<br />

operacionais, primários ou secundários, obtidos das unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> reservação,<br />

elevação e distribuição do 3° setor <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água na etapa 2.<br />

ETAPA 2 - AVALIAÇÃO DA OPERAÇÃO DO 3° SAA<br />

A avaliação da operação do 3° Setor <strong>de</strong> Abastecimento <strong>de</strong> Água da Região Metropolitana<br />

<strong>de</strong> Belém foi dividida em 3 fases, sendo:<br />

Fase 1 - Monitoramento da operação do reservatório apoiado<br />

O objetivo <strong>de</strong>sta fase foi o acompanhamento, por 48 horas consecutivas, da<br />

operação do reservatório apoiado, sendo verificada a variação do nível d’água do reservatório<br />

apoiado, a reservação <strong>de</strong> água mantida rotineiramente na unida<strong>de</strong> e a instrumentação<br />

disponibilizada para controle do nível d’água e das vazões <strong>de</strong> entrada e saída<br />

do reservatório.<br />

Nessa fase também foram analisadas as planilhas <strong>de</strong> controle operacional da<br />

COSANPA referentes ao mês <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2006, especialmente os dados relacionados<br />

com o nível do reservatório apoiado.<br />

Fase 2 - Monitoramento da operação da estação elevatória<br />

O monitoramento das ativida<strong>de</strong>s operacionais da estação elevatória do 3° setor<br />

foi realizado durante 48 horas consecutivas, sendo verificado:<br />

a) O funcionamento dos CMBs a cada hora. Essa ativida<strong>de</strong> foi realizada registrando-se a<br />

hora <strong>de</strong> acionamento ou <strong>de</strong>sligamento dos motores;<br />

b) A tensão e corrente elétrica nos CMBs instalado analisador <strong>de</strong> energia tipo MI 2192<br />

METREL, configurado para registrar, <strong>de</strong> um em um minuto, os valores <strong>de</strong> tensão e <strong>de</strong><br />

corrente durante a operação;<br />

c) O consumo <strong>de</strong> energia elétrica a cada hora. Os dados <strong>de</strong> tensão e corrente foram<br />

convertidos em potência e energia kWh, e obtidos os valores médios para cada hora.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 123-137, <strong>de</strong>z. 2009


128<br />

Nessa fase também foram analisadas as planilhas <strong>de</strong> controle operacional da<br />

COSANPA referentes ao mês <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2006, especialmente as informações <strong>de</strong> horário<br />

<strong>de</strong> funcionamento dos CMBs.<br />

Finalizada essa fase, foram analisadas as planilhas <strong>de</strong> controle mensal da CO-<br />

SANPA referentes à distribuição <strong>de</strong> água e ao consumo <strong>de</strong> energia elétrica no 3º setor<br />

do período <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2005 a setembro <strong>de</strong> 2006.<br />

Fase 3 - Monitoramento da operação do reservatório elevado<br />

Nesta fase foi realizado o acompanhamento, por 48 horas consecutivas, da operação<br />

do reservatório elevado, sendo verificada a variação do nível da lâmina líquida, a<br />

reservação <strong>de</strong> água na unida<strong>de</strong> e a instrumentação disponibilizada para controle do<br />

nível d’água e das vazões <strong>de</strong> entrada e saída do reservatório. Também foi obtido o<br />

hidrograma <strong>de</strong> vazão.<br />

Nessa fase também foram analisadas as planilhas <strong>de</strong> controle operacional da<br />

COSANPA referentes ao mês <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2006, especialmente os dados relacionados<br />

com o nível do reservatório elevado.<br />

ETAPA 3 – ESTIMATIVA DA PERDA DE ÁGUA E ENERGIA NO 3° SAA<br />

Neste estudo, foi <strong>de</strong>finida como <strong>perda</strong> <strong>de</strong> água a diferença entre o “volume <strong>de</strong><br />

água distribuído” e o “consumo efetivo teórico <strong>de</strong> água”. O volume correspon<strong>de</strong>nte ao<br />

“consumo efetivo teórico <strong>de</strong> água” foi calculado com base na população abastecida no<br />

3° setor no ano <strong>de</strong> 2006, consi<strong>de</strong>rando um per capita líquido (consumo efetivo) <strong>de</strong> 200 L/<br />

hab.dia, conforme apresentado no esquema 2:<br />

PERDA DE ÁGUA<br />

VOLUME<br />

DE ÁGUA<br />

DISTRIBUÍDO<br />

(DEMANDA)<br />

PERDA DE<br />

ÁGUA<br />

CONSUMO<br />

EFETIVO<br />

DE ÁGUA<br />

(200L/hab.dia)<br />

Perda real, <strong>perda</strong><br />

aparente<br />

e exportação para<br />

outros setores.<br />

Esquema 2: Definição <strong>de</strong> <strong>perda</strong> <strong>de</strong> água em sistema <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 123-137, <strong>de</strong>z. 2009


129<br />

Os dados das vazões distribuídas foram obtidos do setor <strong>de</strong> pitometria da CO-<br />

SANPA, e foram referentes ao período <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2005 a setembro <strong>de</strong> 2006.<br />

O consumo <strong>de</strong> energia na estação elevatória foi <strong>de</strong>terminado por meio da instalação<br />

<strong>de</strong> um analisador <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia tipo MI 2192 METREL em um dos 3 CMBs,<br />

no caso o CMB-01. Os dados <strong>de</strong> tensão e corrente, obtidos para um período <strong>de</strong> 48 horas<br />

consecutivas <strong>de</strong> operação do CMB-01, possibilitaram o cálculo da energia consumida, a<br />

qual foi extrapolada para os dois outros conjuntos motor e bomba.<br />

O consumo <strong>de</strong> energia tem relação direta com o volume <strong>de</strong> água que é bombeado<br />

na estação elevatória. Nesse sentido, a <strong>perda</strong> <strong>de</strong> energia foi estimada em função do<br />

“volume <strong>de</strong> água perdido” no sistema <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água do 3° setor, e da relação<br />

“kWh/m³” obtida na segunda fase da Etapa 2 no monitoramento da operação da<br />

estação elevatória.<br />

Nesta etapa também foram estimados os custos com a produção <strong>de</strong> água, especialmente<br />

os custos com o consumo <strong>de</strong> energia elétrica. Esses valores foram calculados<br />

com base nos dados obtidos das planilhas <strong>de</strong> controle mensal da COSANPA<br />

3 RESULTADOS<br />

3.1 DETERMINAÇÃO TEÓRICA DE PARÂMETROS OPERACIONAIS<br />

Nessa etapa foram calculados o consumo efetivo teórico <strong>de</strong> água e consumo<br />

teórico <strong>de</strong> energia elétrica. Esses consumos foram <strong>de</strong>terminados consi<strong>de</strong>rando que o<br />

sistema <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água do 3º setor estaria operando sob as condições i<strong>de</strong>ais<br />

<strong>de</strong> projeto, sendo adotados os seguintes parâmetros:<br />

a) Abastecimento <strong>de</strong> toda população no ano <strong>de</strong> 2006: 94.289 habitantes;<br />

b) Consumo per capita efetivo: 200 L/hab.dia;<br />

c) Coeficiente do dia <strong>de</strong> maior <strong>de</strong>manda: K1 = 1,20;<br />

d) Coeficiente do dia e hora <strong>de</strong> maior <strong>de</strong>manda: K1 = 1,50<br />

e) Funcionamento dos CMBs: 16 horas diárias;<br />

f) Aceleração da gravida<strong>de</strong>: 9,80 m/s²;<br />

g) Operação dos CMBs: 2+1 (dois CMBs operando, e um CMB reserva);<br />

h) Coeficiente <strong>de</strong> Hazen Willans: C=100 (tubo velho) e C=140 (tubo novo).<br />

Vale observar que a soma dos valores do consumo efetivo e das <strong>perda</strong>s resulta<br />

na <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> água, que no plano diretor do sistema <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água da<br />

RMB, por exemplo, é <strong>de</strong> 250 l/hab.dia, conforme é representado no esquema 3.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 123-137, <strong>de</strong>z. 2009


130<br />

DEMANDA DE ÁGUA<br />

DEMANDA DE ÁGUA<br />

PERDA DE<br />

ÁGUA<br />

CONSUMO<br />

EFETIVO<br />

DE ÁGUA<br />

Plano Diretor do Sistema <strong>de</strong><br />

Abastecimento <strong>de</strong> Água da RMB<br />

DEMANDA DE ÁGUA<br />

250 L/habi.dia<br />

50 L/hab.dia<br />

200 L/hab.dia<br />

Esquema 3: Definição <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> água em sistema <strong>de</strong> abastecimento, segundo<br />

o plano diretor do sistema <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água da RMB.<br />

Fonte: Pereira (2006).<br />

No quadro 1 são apresentados os parâmetros operacionais teóricos calculados<br />

para o 3° setor.<br />

PARÂMETROS<br />

VALORES<br />

a) Consumo efetivo teórico <strong>de</strong> água médio, em m³/mês 565.733<br />

b) Volume total <strong>de</strong> reservação, em m³ 4.322,02<br />

- Volume do reservatório apoiado, em m³ (2/3 do volume total) 2.881,34<br />

- Volume do reservatório elevado, em m³ (1/3 do volume total) 1.440,67<br />

c) Potência do CMB (kW) 58<br />

d) Funcionamento dos CMBs (horas/dia) 16<br />

e) Consumo mensal <strong>de</strong> energia em kWh (consi<strong>de</strong>rando dois CMBs em operação) 55.680<br />

f) Custo mensal com energia, em R$ (consi<strong>de</strong>rando dois CMBs em operação) 11.136,00<br />

g) Consumo <strong>de</strong> energia em kWh/m³ 0,08<br />

Quadro 1: Parâmetros operacionais teóricos do 3° setor <strong>de</strong> abastecimento<br />

<strong>de</strong> água da Região Metropolitana <strong>de</strong> Belém.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 123-137, <strong>de</strong>z. 2009


131<br />

3.2 AVALIAÇÃO DA OPERAÇÃO DO 3° SETOR DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA<br />

Em relação à estrutura e à operação do reservatório apoiado, da estação elevatória<br />

e do reservatório elevado foram i<strong>de</strong>ntificadas as seguintes problemáticas:<br />

Reservatório apoiado<br />

A instrumentação disponível, além <strong>de</strong> insuficiente, é ina<strong>de</strong>quada para o<br />

efetivo monitoramento dos parâmetros operacionais, tais como o nível e<br />

as vazões <strong>de</strong> entrada e saída do reservatório;<br />

Apesar do volume do reservatório apoiado (8.600m³) ser quase 3 vezes<br />

superior à reservação necessária (2.881m³), 45% do seu volume não é utilizado<br />

na operação do 3° setor.<br />

Estação elevatória<br />

Não há instrumentação <strong>de</strong> controle dos parâmetros operacionais, tais como:<br />

vazão, pressão, consumo <strong>de</strong> energia elétrica etc.<br />

A operação dos CMBs não ocorre <strong>de</strong> acordo com o previsto no projeto do 3°<br />

setor, ou seja, não é do tipo “2+1”. Atualmente os 3 CMBs operam diariamente,<br />

ora, com operação do tipo “1+2” (funcionamento <strong>de</strong> apenas 1 CMB),<br />

ora, do tipo “2+1” (funcionamento <strong>de</strong> dois CMBs) e ora do tipo “3+0” (funcionamento<br />

<strong>de</strong> 3 CMBs, simultaneamente);<br />

Esses CMBs são operados com a seção <strong>de</strong> saída estrangulada por registro<br />

do tipo gaveta, tendo suas eficiências diminuídas;<br />

O acionamento dos conjuntos motor e bomba é do tipo Partida Direta,<br />

mais conhecida como “partida On/Off”. Nesse tipo <strong>de</strong> partida o motor<br />

parte a plena tensão, consumindo uma potência muito superior à potência<br />

nominal, aumentando o consumo e o custo com energia.<br />

Nos horários <strong>de</strong> ponta, em que o custo da energia elétrica no Pará é três<br />

vezes mais caros, não há paralisações dos CMBs, e em 20% das horas totais<br />

trabalhadas nesse horário ocorreu operação do tipo 3+0 (3 CMBs funcionando<br />

simultaneamente);<br />

Não há rotina operacional <strong>de</strong> funcionamento dos CMBs, sendo muito frequentes<br />

as operações do tipo 1+2, 2+1 e 3+0.<br />

Reservatório elevado<br />

A instrumentação para controle do reservatório elevado é insuficiente e<br />

ina<strong>de</strong>quada. O monitoramento do nível é realizada indiretamente por meio<br />

<strong>de</strong> manômetros, e a vazão <strong>de</strong> saída do reservatório elevado é medida por<br />

meio <strong>de</strong> tubo <strong>de</strong> Pitot, porém esse medição não é contínua, todos os dias;<br />

O volume do reservatório elevado é apenas 22,22% da reservação teórica<br />

calculada para o reservatório elevado do 3º setor, portanto a funcionalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sse reservatório é reduzida apenas à manutenção <strong>de</strong> pressão na re<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> água.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 123-137, <strong>de</strong>z. 2009


132<br />

3.3 PERDA DE ÁGUA E ENERGIA ELÉTRICA NO 3º SETOR DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA<br />

Com base no Relatório Operacional da COSANPA, no período <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2005<br />

a setembro <strong>de</strong> 2006, em média foram distribuídos 989.580 m³/mês <strong>de</strong> água, com valores<br />

máximo e mínimo <strong>de</strong> 1.076.400 m³/mês e 69.040 m³/mês, respectivamente, conforme<br />

apresentado na figura 2.<br />

´<br />

Figura 2: Volume <strong>de</strong> água distribuído no 3° setor <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água da RMB no<br />

período <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2005 a setembro <strong>de</strong> 2006.<br />

Consi<strong>de</strong>rando o volume médio <strong>de</strong> água distribuído no 3° setor <strong>de</strong> 989.580 m³/mês,<br />

e a população abastecida <strong>de</strong> 94.289 habitantes, obtém-se valor per capita médio <strong>de</strong> 349,84<br />

L/hab.dia. Esse valor exce<strong>de</strong> em 39,94% a <strong>de</strong>manda média <strong>de</strong> 250 L/hab.dia recomendada<br />

no Plano Diretor do sistema <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água da Região Metropolitana <strong>de</strong> Belém-PA<br />

(200L/hab.dia <strong>de</strong> consumo efetivo e 50L/hab.dia <strong>de</strong> <strong>perda</strong> aceitável).<br />

A estimativa da <strong>perda</strong> <strong>de</strong> água no 3º setor foi realizada consi<strong>de</strong>rando-se:<br />

a) volume médio <strong>de</strong> água distribuído por mês, do período <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2005 a setembro<br />

<strong>de</strong> 2006;<br />

b) <strong>de</strong>manda média <strong>de</strong> água do Plano Diretor do sistema <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água da RMB<br />

(250 L/hab.dia, sendo 200L/hab.dia <strong>de</strong> consumo efetivo e 50L/hab.dia <strong>de</strong> <strong>perda</strong> aceitável);<br />

c) <strong>perda</strong>, como sendo a diferença entre a vazão distribuída e o consumo efetivo <strong>de</strong><br />

água (200L/hab.dia).<br />

Assim, consi<strong>de</strong>rando o valor do consumo efetivo <strong>de</strong> 200L/hab.dia previsto no<br />

Plano Diretor do sistema <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água da RMB, e o volume <strong>de</strong> água distribuído<br />

no período <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2005 a setembro <strong>de</strong> 2006, a <strong>perda</strong> média do volume <strong>de</strong><br />

água foi <strong>de</strong> 423.847 m³/mês, ou seja, 42,58 %, conforme mostrado na figura 3.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 123-137, <strong>de</strong>z. 2009


133<br />

Figura 3: Perda média <strong>de</strong> água em percentual no 3° setor <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água da<br />

Região Metropolitana <strong>de</strong> Belém no período <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2005 a setembro <strong>de</strong> 2006<br />

Fonte: Companhia <strong>de</strong> Saneamento do Pará, 2006.<br />

CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA<br />

Na tabela 1 são apresentados os consumos <strong>de</strong> energia elétrica medidos na elevatória<br />

do 3º setor e o volume <strong>de</strong> água bombeado no período <strong>de</strong> 15h do dia 8/8/2006 às<br />

13h do dia 9/8/2006.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 123-137, <strong>de</strong>z. 2009


134<br />

Tabela 1: Informações do consumo <strong>de</strong> energia elétrica medido no período <strong>de</strong><br />

15h do dia 8/8/2006 às 13h do dia 9/8/2006 na elevatória do 3° setor.<br />

HORA VOLUME BOMBEADO(m³) TOTAL²(kWh) kWk/m³<br />

15h 1.704,83 483,57 0,28<br />

16h 1.674,19 479,91 0,29<br />

17h 1.633,31 476,61 0,29<br />

18h 1.576,34 326,98 0,21<br />

19h 1.498,59 325,92 0,22<br />

20h 1.340,70 327,36 0,24<br />

21h 1.338,02 324,00 0,24<br />

22h 1.012,76 158,62 0,16<br />

23h 660,76 158,62 0,24<br />

24h 596,91 158,62 0,27<br />

1h 627,04 158,62 0,25<br />

2h 632,82 158,62 0,25<br />

3h 637,64 158,62 0,25<br />

4h 679,67 158,62 0,23<br />

5h 907,02 317,25 0,35<br />

6h 1.267,72 317,25 0,25<br />

7h 1.529,75 317,25 0,21<br />

8h 1.589,31 317,25 0,20<br />

9h 1.661,16 317,25 0,19<br />

10h 1.704,51 377,55 0,22<br />

11h 1.705,89 495,33 0,29<br />

12h 1.759,28 485,94 0,28<br />

13h 1.768,03 479,31 0,27<br />

TOTAL 29.506,25 7.279,10 0,25<br />

O consumo total <strong>de</strong> energia elétrica no período avaliado foi 7.279,07 kWh. Consi<strong>de</strong>rando<br />

que nesse período o volume <strong>de</strong> água bombeado na elevatória foi <strong>de</strong><br />

29.506,25m³, foi calculado o consumo médio <strong>de</strong> energia elétrica <strong>de</strong> 0,25 kWk/m³.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 123-137, <strong>de</strong>z. 2009


135<br />

PERDA DE ENERGIA ELÉTRICA EM kWh E EM R$<br />

A <strong>perda</strong> <strong>de</strong> energia elétrica relativa ao volume <strong>de</strong> água perdido no 3° setor foi<br />

calculada multiplicando-se o volume médio <strong>de</strong> água perdido no 3° setor (423.847 m³/<br />

mês) pelo consumo médio <strong>de</strong> energia (0,25 kWh/m³):<br />

P 423.847m³<br />

/ mês (volume médio mensal <strong>de</strong> água perdida no 3° setor);<br />

E 0,25kWh<br />

/ m³<br />

(consumo médio <strong>de</strong> energia na EE do 3° setor)<br />

P E<br />

P<br />

E 423.847<br />

0,25<br />

105.962kWh/mês (<strong>perda</strong> mensal <strong>de</strong> energia).<br />

Na figura 4 é mostrado o valor da <strong>perda</strong> média mensal <strong>de</strong> energia elétrica no 3º<br />

setor <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água da RMB.<br />

Figura 4: Perda média mensal <strong>de</strong> energia elétrica no 3º setor <strong>de</strong><br />

abastecimento <strong>de</strong> água da RMB.<br />

O custo mensal com a energia elétrica consumida no bombeamento do volume <strong>de</strong><br />

água perdido no 3° setor foi estimado pela multiplicação da <strong>perda</strong> <strong>de</strong> energia elétrica (105.962<br />

kWh/mês) pelo custo unitário da energia (que no caso do 3º setor é <strong>de</strong> 0,20 R$/m³):<br />

custo<br />

unitário da energia<br />

<strong>perda</strong><br />

<strong>de</strong> energia<br />

0,20 105.962<br />

21.194,40 R$<br />

mês (custo mensal com energia perdida).<br />

C<br />

C /<br />

Portanto, a <strong>perda</strong> mensal com o custo da energia elétrica consumida no bombeamento<br />

da água perdida no 3° setor foi <strong>de</strong> R$ 21.194,40, conforme mostrado na figura 5.<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 123-137, <strong>de</strong>z. 2009


136<br />

Figura 5: Perda <strong>de</strong> energia elétrica no 3° setor <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água da RMB.<br />

Consi<strong>de</strong>rando o consumo e o custo médio mensal <strong>de</strong> energia elétrica utilizada<br />

no bombeamento do volume <strong>de</strong> água perdido na re<strong>de</strong> <strong>de</strong> distribuição no 3º setor <strong>de</strong><br />

abastecimento <strong>de</strong> água da RMB, a <strong>perda</strong> anual <strong>de</strong> energia elétrica foi estimada em<br />

1.271.544 kWh, o que representa prejuízo <strong>de</strong> R$ 254.308,80 ao ano.<br />

4 CONCLUSÕES<br />

Com a realização do trabalho, foi possível observar que a falta <strong>de</strong> instrumentação<br />

para monitoramento e controle dos parâmetros operacionais, e pelo volume insuficiente<br />

do reservatório elevado, a operação das unida<strong>de</strong>s do 3° setor é realizada empiricamente,<br />

<strong>de</strong> acordo com a experiência do operador. Isso acaba incorrendo em <strong>perda</strong>s<br />

<strong>de</strong> água e energia elétrica, <strong>de</strong>monstrando, portanto, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> planejamento<br />

<strong>de</strong> uma rotina <strong>de</strong> controle operacional.<br />

Atualmente no 3° setor são distribuídos mensalmente 989.580m³ <strong>de</strong> água. Desse<br />

volume, 57,42% é efetivamente consumido para aten<strong>de</strong>r a atual <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> água dos<br />

94.289 habitantes atendidos (consumo per capita efetivo <strong>de</strong> 200 L/hab.dia). Os 42,58%<br />

(423.847m³) restantes são consi<strong>de</strong>rados <strong>perda</strong>s <strong>de</strong> água <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> vazamentos, transbordamentos,<br />

ligações clan<strong>de</strong>stinas e/ou água exportada para outros setores, <strong>de</strong>vido às<br />

interligações na re<strong>de</strong> <strong>de</strong> distribuição. Essa água perdida implica em uma <strong>perda</strong> <strong>de</strong> energia<br />

elétrica estimada <strong>de</strong> 105.962 kWh/mês (custo estimado em R$ 21.192,4 mensais).<br />

Consi<strong>de</strong>rando R$ 1,20 o valor que <strong>de</strong>veria ser arrecadado para cada metro cúbico<br />

<strong>de</strong> água distribuído, tarifa mínima <strong>de</strong> acordo com a política tarifária praticada no estado<br />

do Pará, po<strong>de</strong>-se estimar que a <strong>perda</strong> <strong>de</strong> arrecadação referente ao volume perdido <strong>de</strong><br />

água no 3° setor é da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> R$ 508.616,00 ao mês. Essa <strong>perda</strong> é referente a vazamentos,<br />

a consumos clan<strong>de</strong>stinos e problemas <strong>de</strong> faturamento no 3º setor e/ou em seus<br />

setores adjacentes (1º, 2° e 8° setores).<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 123-137, <strong>de</strong>z. 2009


137<br />

Para redução <strong>de</strong>ssas <strong>perda</strong>s são recomendadas as seguintes ativida<strong>de</strong>s:<br />

setorização do sistema, substituição <strong>de</strong> trechos antigos da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> distribuição, automação<br />

das unida<strong>de</strong>s reservação e elevação. Também seria <strong>de</strong> fundamental importância<br />

a elaboração e a execução <strong>de</strong> um Plano <strong>de</strong> Ação para redução das <strong>perda</strong>s reais e aparentes<br />

no 3° setor <strong>de</strong> abastecimento da RMB.<br />

REFERÊNCIAS<br />

BRASIL. Curso <strong>de</strong> capacitação a distância em gestão eficiente <strong>de</strong> água e energia elétrica<br />

em saneamento. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ministério das Cida<strong>de</strong>s/Secretaria Nacional <strong>de</strong> Saneamento<br />

Ambiental/ Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Administração Municipal, 2006;<br />

BRASIL. Secretaria Especial <strong>de</strong> Desenvolvimento Urbano/ Secretaria <strong>de</strong> Política Urbana.<br />

Programa nacional <strong>de</strong> combate ao <strong>de</strong>sperdício <strong>de</strong> água: DTA-A2 Indicadores <strong>de</strong> Perdas<br />

nos Sistemas <strong>de</strong> Abastecimento <strong>de</strong> Água. Brasília, 2004;<br />

CHEUNG, P.B.; REIS, L.F.R. Estudo <strong>de</strong> objetivos mútiplos para reabilitação otimizada <strong>de</strong><br />

sistemas <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> água. In: VI SEREA - Seminário Iberoamericano sobre Sistemas<br />

<strong>de</strong> Abastecimento Urbano <strong>de</strong> Água. João Pessoa (Brasil), 2006;<br />

MIRANDA, E.C. Avaliação <strong>de</strong> <strong>perda</strong>s em sistemas <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água: indicadores<br />

<strong>de</strong> <strong>perda</strong>s e metodologias para análise <strong>de</strong> confiabilida<strong>de</strong>. Brasília, 2002. Dissertação<br />

(Mestrado em tecnologia ambiental recursos hídricos) - Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Brasília - Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Tecnologia - Departamento <strong>de</strong> Engenharia Civil e Ambiental,<br />

Brasília, 2002. 215p;<br />

TSUTIYA, T.M. Abastecimento <strong>de</strong> água. São Paulo: Departamento <strong>de</strong> Engenharia Hidráulica<br />

e Saneamento da Escola Politécnica da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, 2004;<br />

USEPA - Agência <strong>de</strong> Proteção Ambiental dos EUA. Guia <strong>de</strong> Planos para Conservação <strong>de</strong><br />

Água Tratada. Washington D.C. 1998.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Os autores agra<strong>de</strong>cem ao PROCEL SANEAR/Eletrobrás, à Companhia <strong>de</strong> Saneamento<br />

do Pará e ao Grupo <strong>de</strong> Pesquisa Hidráulica e Saneamento - GPHS/UFPA.<br />

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138


139<br />

UTILIZAÇÃO DO AMBIENTE MOODLE PARA A REALIZAÇÃO<br />

DE COMPETIÇÕES ESCOLARES DE MATEMÁTICA<br />

Márcio Goes do Nascimento *<br />

Janne Y. Y. Oeiras **<br />

RESUMO<br />

As competições escolares são ativida<strong>de</strong>s pedagógicas que possibilitam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da autonomia até o estímulo do trabalho em equipe. Todavia, a organização<br />

das competições não é uma tarefa fácil, já que <strong>de</strong>manda a utilização <strong>de</strong> recursos e<br />

coor<strong>de</strong>nação das ativida<strong>de</strong>s. Este trabalho apresenta um relato <strong>de</strong> experiência do uso<br />

do ambiente Moodle para a realização <strong>de</strong> competições escolares para o ensino fundamental,<br />

médio e superior. Relata também as ativida<strong>de</strong>s selecionadas para competições<br />

<strong>de</strong> matemática e os resultados obtidos com as competições realizadas.<br />

Palavras-Chave: Competições Escolares, ambiente virtual, ativida<strong>de</strong>s.<br />

ABSTRACT<br />

USING MOODLE ENVIRONMENT FOR THE CONDUCT OF<br />

SCHOOL MATHEMATICS COMPETITIONS<br />

Schools competitions are pedagogical activies that can help stu<strong>de</strong>nts to <strong>de</strong>velop their<br />

autonomy to engage in the learning process and to learn how to work in groups in case<br />

of teams competitions. This work <strong>de</strong>scribes an experience using a Moodle’s environment<br />

to conduct competitions in elementary school, high school and college. It also reports the<br />

activities selected to mathematics competitions and the results of the held ones.<br />

Keywords: Competitions School, virtual environment, activities<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

A educação por meios <strong>de</strong> jogos e competições vem se tornando uma alternativa<br />

metodológica bastante pesquisada, sendo abordada <strong>de</strong> diversas formas e com aspectos<br />

variados, como po<strong>de</strong> ser verificado em Alves (2006), Brenelli (1996) e Lopes (2001). Esse<br />

* Professor do Centro <strong>de</strong> Ciências Exatas e Tecnologia – Universida<strong>de</strong> da Amazônia - UNAMA.<br />

(marciogoes@unama.br).<br />

** Pós-Graduação em Ciência da Computação – Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Pará -UFPa. (joeiras@ufpa.br)<br />

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140<br />

tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> extracurricular <strong>de</strong>sempenha funções psicossocial, afetivas e intelectuais<br />

básicas, que satisfazem objetivos pedagógicos no contexto escolar (LOPES, 2005).<br />

Além disso, as competições escolares constituem um tipo <strong>de</strong> estratégia que<br />

po<strong>de</strong> ser utilizada para embasar, avaliar e pôr em prática conhecimentos trabalhados<br />

em sala <strong>de</strong> aula. Essas ativida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m ser promovidas em nível regional ou nacional,<br />

viabilizando o alcance e a participação <strong>de</strong> um número maior <strong>de</strong> alunos.<br />

No Brasil, existem diversas competições escolares nacionais em diferentes áreas<br />

<strong>de</strong> conhecimento (matemática, física, biologia etc.) que são organizadas por instituições<br />

<strong>de</strong> reconhecida importância pela socieda<strong>de</strong> e que buscam, por meio <strong>de</strong>ssas ativida<strong>de</strong>s,<br />

incentivar a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> novos talentos, abordar problemas relacionados ao<br />

cotidiano dos alunos e que tratem <strong>de</strong> situações para que estes se envolvam naturalmente<br />

com as disciplinas a fim <strong>de</strong> torná-las mais interessantes. Estas instituições buscam<br />

proporcionar também meios para que os alunos criem novos vínculos com a escola,<br />

além da mudança <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> com relação às disciplinas e a melhora dos valores afetivos<br />

como a autoconfiança e a autoestima do aluno, à medida que ele <strong>de</strong>senvolve sua capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> resolução <strong>de</strong> problemas.<br />

Além <strong>de</strong> todos esses resultados positivos, as competições também têm criado<br />

oportunida<strong>de</strong>s para o <strong>de</strong>senvolvimento pessoal, ocasionando impacto social positivo<br />

na vida <strong>de</strong> vários alunos carentes, como a concessão <strong>de</strong> bolsas <strong>de</strong> estudos para que<br />

estes alunos possam concluir o ensino médio em boas escolas e prestar vestibulares em<br />

conceituadas universida<strong>de</strong>s públicas.<br />

Com o objetivo <strong>de</strong> promover uma competição escolar no âmbito <strong>de</strong> diferentes<br />

instituições <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> verificar a viabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocorrência das mesmas na Internet<br />

como forma <strong>de</strong> flexibilizar o seu uso, foram construídas tarefas no ambiente Moodle<br />

para a disciplina <strong>de</strong> matemática sobre geometria euclidiana em três níveis <strong>de</strong> ensino:<br />

alunos do ensino fundamental, do ensino médio e do ensino superior e para as competições<br />

construídas. As tarefas utilizam as diversas ferramentas que estão disponíveis no<br />

referido ambiente e a matemática foi utilizada pela tradição que esta disciplina possui<br />

em realizar competições escolares em diversos níveis <strong>de</strong> ensino.<br />

A seção dois <strong>de</strong>ste trabalho apresenta um estudo das ativida<strong>de</strong>s presenciais<br />

que professores realizam na sala <strong>de</strong> aula. Na seção três, é <strong>de</strong>scrito o relato da organização<br />

e realização da competição nas aulas. Na seção quatro são <strong>de</strong>scritos os resultados<br />

obtidos e na seção cinco são realizadas as observações e consi<strong>de</strong>rações finais.<br />

2 COMPETIÇÕES ESCOLARES E AS ATIVIDADES PRESENCIAIS DE MATEMÁTICA<br />

Durante a pesquisa, com o intuito <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar como o ensino <strong>de</strong> matemática é<br />

trabalhado em sala <strong>de</strong> aula, foram selecionadas três turmas para que nas mesmas fosse<br />

realizada uma observação etnográfica (CASSIANI, 1996). Estas turmas foram: uma da sexta<br />

série do ensino fundamental, outra do terceiro ano do ensino médio e outra do segundo<br />

ano do ensino superior do curso <strong>de</strong> licenciatura em matemática, todas da mesma cida<strong>de</strong>.<br />

No primeiro momento, foi realizado um acompanhamento das aulas introdutórias<br />

<strong>de</strong> geometria, na qual po<strong>de</strong>m ser constatadas as diferenças metodológicas apresentadas<br />

no quadro 1.<br />

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141<br />

Turma Tipo <strong>de</strong> Instituição Metodologia empregada pelo professor<br />

6ª série do<br />

ensino fundamental<br />

Escola<br />

particular<br />

O professor inicia as aulas exibindo o conceito<br />

<strong>de</strong> ângulos e das figuras geométricas,<br />

explorando os instrumentos <strong>de</strong> medição,<br />

como o transferidor e a régua. Logo após esta<br />

etapa, são trabalhados <strong>de</strong> forma oral conceitos<br />

e formalida<strong>de</strong>s matemáticas. As ativida<strong>de</strong>s<br />

exploram principalmente o uso <strong>de</strong><br />

instrumentos e a resolução <strong>de</strong> questões.<br />

3º ano do<br />

ensino médio<br />

2º ano do<br />

curso <strong>de</strong><br />

licenciatura<br />

plena em<br />

matemática<br />

Escola<br />

particular<br />

Universida<strong>de</strong><br />

pública<br />

As aulas são iniciadas com a utilização <strong>de</strong><br />

formalismos matemáticos para as expressões<br />

<strong>de</strong> medidas, como áreas, volumes,<br />

entre outros. O foco das aulas é principalmente<br />

na resolução <strong>de</strong> questões, o que<br />

po<strong>de</strong> ser explicado pela necessida<strong>de</strong> que<br />

os alunos possuem <strong>de</strong> realizar os processos<br />

seletivos para o ensino superior.<br />

As aulas sempre possuem como foco maior<br />

axiomas e teoremas sobre geometria<br />

euclidiana. Em um <strong>de</strong>terminado momento,<br />

o professor prioriza a prova dos teoremas<br />

e pe<strong>de</strong> que os alunos façam trabalhos<br />

acadêmicos no formato <strong>de</strong> pesquisas, focando<br />

como são as metodologias <strong>de</strong> ensino<br />

<strong>de</strong>ste componente curricular no ensino<br />

fundamental e médio. As questões são<br />

obrigatórias para serem apresentadas<br />

como tarefa <strong>de</strong> final <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s.<br />

Quadro 1: Comparativo das metodologias utilizadas<br />

Em outro momento, foi solicitado aos professores <strong>de</strong> cada uma das turmas que<br />

explicassem quais eram as ativida<strong>de</strong>s normalmente solicitadas nas aulas. Essas ativida<strong>de</strong>s<br />

foram divididas em três gran<strong>de</strong>s grupos: questionários, pesquisas e problematização<br />

<strong>de</strong> situações do dia a dia. Na educação matemática, este último recebe o nome <strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>lagem matemática (D’AMBROSIO, 2003).<br />

Traços, Belém, v. 11, n. 24, p. 139-149, <strong>de</strong>z. 2009


142<br />

2.1 ATIVIDADE DE QUESTIONÁRIO<br />

Para as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> questionário, foi observado que para os alunos da sexta<br />

série do ensino fundamental o professor se preocupa em construir questionários simples,<br />

no qual os aprendizes exercitam o que foi estudado em sala <strong>de</strong> aula, como por<br />

exemplo, informar qual o nome <strong>de</strong> uma figura geométrica, o valor da medida <strong>de</strong> uma<br />

operação com ângulos, entre outras. As questões normalmente são bem parecidas,<br />

mudando <strong>de</strong> forma bem sensível o nível <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>. A quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> questões<br />

reflete a qualida<strong>de</strong> dos exercícios que o aluno já resolveu.<br />

No terceiro ano do ensino médio, as questões que os professores propõem são<br />

parecidas com as questões que são elaboradas nos diversos processos seletivos para o<br />

ensino superior. O exercício é importante, mas o principal é a estratégia que o aluno<br />

propõe para resolver a mesma, pois po<strong>de</strong> servir como base <strong>de</strong> resolução para outras<br />

questões <strong>de</strong> mesma característica.<br />

No ensino superior, o questionário proposto pelo professor é mais voltado para<br />

a aplicação <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrações e que possuem o intuito <strong>de</strong> aperfeiçoar a habilida<strong>de</strong> do<br />

aluno para este fim. O princípio <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstração prevê que o aluno é capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver<br />

os conceitos matemáticos que os alunos <strong>de</strong> outro nível educacional utilizam,<br />

favorecendo assim a melhor formação do profissional requerido no curso observado.<br />

2.2 ATIVIDADE DE PESQUISA<br />

No caso dos alunos do ensino fundamental, o professor solicitou pesquisas as<br />

quais os alunos trabalhavam como agentes investigadores e produziam um relatório<br />

<strong>de</strong>ste trabalho, como por exemplo, ao final do estudo <strong>de</strong> ângulos, com o seu transferidor,<br />

o aluno teria que procurar os diversos ângulos existentes em sua casa, fazer a<br />

aferição e os classificar. Os relatórios são entregues e comentados sempre nas aulas<br />

posteriores ao trabalho do conteúdo.<br />

No ensino médio não foi verificada a utilização da pesquisa, a qual, em uma<br />

entrevista feita com o professor não era possível pelo pouca carga horária <strong>de</strong>stinada às<br />

disciplinas e pelo compromisso que os alunos tinham no final <strong>de</strong>sta etapa <strong>de</strong> ensino em<br />

seleções para o ensino superior. O professor também respon<strong>de</strong>u que, caso fosse possível,<br />

utilizaria as pesquisas para a contextualização, uma das competências solicitadas<br />

pelo Plano Curricular Nacional da disciplina (MEC, 2001).<br />

No ensino superior, o uso das pesquisas é mais constante. O professor explora<br />

essa ativida<strong>de</strong> no intuito dos alunos produzirem levantamentos bibliográficos referente<br />

ao que está sendo trabalhado em sala <strong>de</strong> aula. No caso da geometria, como exemplo,<br />

o professor solicitou uma pesquisa em livros <strong>de</strong> história da matemática sobre os postulados<br />

<strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s, dos quais se originou a geometria euclidiana.<br />

2.3 ATIVIDADE DE MODELAGEM<br />

Nos três níveis <strong>de</strong> ensino observados na pesquisa, a mo<strong>de</strong>lagem matemática foi<br />

utilizada principalmente com o objetivo <strong>de</strong> fazer com que os alunos realizassem a con-<br />

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143<br />

textualização do que é visto <strong>de</strong> forma formal em sala <strong>de</strong> aula. Normalmente, no início<br />

<strong>de</strong> cada unida<strong>de</strong> são i<strong>de</strong>ntificados problemas os quais são resolvidos através da mo<strong>de</strong>lagem<br />

<strong>de</strong>les, como por exemplo, a <strong>de</strong>terminação da área total <strong>de</strong> uma casa partindo da<br />

medida <strong>de</strong> cada lado e do cálculo <strong>de</strong> cada fragmento <strong>de</strong> área.<br />

No ensino superior pesquisado, diferentemente dos outros níveis <strong>de</strong> ensino, a<br />

mo<strong>de</strong>lagem serve também como técnica para que os alunos que estão na formação para<br />

a carreira docente trabalhem a sua habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> propor novos mo<strong>de</strong>los matemáticos.<br />

Assim, esta ativida<strong>de</strong> também po<strong>de</strong> ser caracterizada como uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pesquisa.<br />

Dentre estes três grupos, po<strong>de</strong>-se observar que no ensino médio o professor<br />

explorava mais o último caso, pois fica mais cômodo trabalhar com mo<strong>de</strong>los que dão a<br />

i<strong>de</strong>ia do concreto para <strong>de</strong>pois trabalhar com o formalismo matemático.<br />

No ensino médio, o professor prefere o recurso do questionário, pois servem<br />

como treino para exames <strong>de</strong> qualificação para o ensino superior e no último caso existe<br />

tanto a utilização <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong> questões, as quais são mais voltadas para <strong>de</strong>monstrações,<br />

quanto os trabalhos <strong>de</strong> pesquisa, que refletem a necessida<strong>de</strong> do aluno exce<strong>de</strong>r o<br />

conteúdo trabalhado em sala <strong>de</strong> aula para po<strong>de</strong>r aprimorar o conhecimento adquirido.<br />

Em todos os três casos, existe a preocupação em mo<strong>de</strong>lar matematicamente os<br />

problemas do dia a dia, procurando encontrar equações ou expressões que <strong>de</strong>screvam<br />

o fenômeno estudado. Após estes estudos foi possível então construir a competição <strong>de</strong><br />

laboratório no Moodle.<br />

3 A COMPETIÇÃO ESCOLAR VIA MOODLE<br />

Para a realização das competições com as ativida<strong>de</strong>s que foram levantadas, no<br />

ambiente Moodle foi criado pelo proponente da pesquisa, um curso que possuía a<br />

duração <strong>de</strong> uma semana e o roteiro <strong>de</strong> cada ativida<strong>de</strong> que fizeram parte da competição<br />

escolar coletiva, ficando assim o curso disposto como se vê na figura 1. Este possuía<br />

ativida<strong>de</strong>s padrões, contudo o conteúdo <strong>de</strong> cada ativida<strong>de</strong> era ajustado <strong>de</strong> acordo com<br />

o nível <strong>de</strong> ensino e que foram construídas na tentativa <strong>de</strong> fazer com que o aluno não<br />

tivesse problemas em se adaptar ao ambiente <strong>de</strong> competição, simulando ações que<br />

realizaria na competição presencial.<br />

Figura 1: Figura do curso montado no ambiente Moodle<br />

para as competições <strong>de</strong> matemática<br />

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144<br />

As competições foram realizadas como tarefas extraclasse e tiveram o acompanhamento<br />

do professor da disciplina em todos os níveis <strong>de</strong> ensino. As inscrições eram<br />

feitas nos laboratórios <strong>de</strong> informática das instituições <strong>de</strong> ensino e todas as equipes<br />

foram organizadas durante a aula presencial. O professor fez o acompanhamento e a<br />

avaliação das resoluções dos alunos na própria instituição nos horários que antece<strong>de</strong>ram<br />

as aulas com as turmas envolvidas na pesquisa. No ensino superior a premiação<br />

ficou acertada como quatro livros <strong>de</strong> geometria, um para cada aluno da equipe, e no<br />

ensino médio e fundamental como bonificação <strong>de</strong> participação nas culminâncias <strong>de</strong><br />

avaliações.<br />

As turmas envolvidas tiveram a divisão em grupos, caracterizando assim as competições<br />

com o caráter coletivo. Os participantes po<strong>de</strong>m se caracterizados como mostra<br />

o quadro 2. O ambiente Moodle foi utilizado por dois motivos: A turma do ensino superior<br />

utilizava o ambiente em outras disciplinas do curso e os proponentes da pesquisa<br />

tinham experiência com o mesmo.<br />

Turma<br />

6ª série do ensino<br />

fundamental<br />

3º ano do ensino<br />

médio<br />

2º ano do curso <strong>de</strong> licenciatura<br />

plena em<br />

matemática<br />

Grupos / Participantes<br />

Turma com 38 alunos a qual foi dividida da seguinte forma:<br />

seis grupos com cinco alunos e dois grupos com quatro<br />

alunos. A ida<strong>de</strong> dos participantes variava <strong>de</strong> 10 a 13 anos.<br />

Turma com 29 alunos a qual foi dividida da seguinte forma:<br />

cinco grupos com cinco alunos e um grupo com quatro alunos,<br />

totalizando seis grupos. A ida<strong>de</strong> dos participantes variava<br />

<strong>de</strong> 16 a 21 anos.<br />

Turma com 23 alunos com quatro grupos com cinco alunos<br />

e um grupo com três alunos, totalizando cinco equipes.<br />

Ida<strong>de</strong> variando <strong>de</strong> 18 a 37 anos.<br />

Quadro 2: Participantes da Competição<br />

A escolha das ferramentas nas ativida<strong>de</strong>s foi realizada procurando uma metáfora<br />

<strong>de</strong> como os competidores se comportariam se estivessem realizando uma competição<br />

escolar presencial (ROCHA & BARANAUSKAS, 2003). Desta forma, foram elencadas<br />

três gran<strong>de</strong>s grupos <strong>de</strong> ferramentas: as <strong>de</strong> discussão para as reuniões das equipes,<br />

as <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> soluções para as discussões <strong>de</strong> resoluções e as <strong>de</strong> apoio, que<br />

servirão como suporte para a ativida<strong>de</strong> que estão sendo realizadas. Em todas as ativida<strong>de</strong>s,<br />

o professor realizará a sua avaliação, levando em consi<strong>de</strong>ração como maior<br />

peso as ativida<strong>de</strong>s assíncronas e, como menor peso, todas as outras ativida<strong>de</strong>s periféricas.<br />

As ferramentas escolhidas por categoria e o seu significado para a competição<br />

po<strong>de</strong>m ser visto no quadro 3.<br />

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145<br />

Categoria<br />

Discussão<br />

Construção <strong>de</strong><br />

soluções<br />

Apoio<br />

Ferramenta<br />

utilizada no Moodle<br />

Chat<br />

Fórum<br />

Wiki<br />

Glossário<br />

Finalida<strong>de</strong> para a competição<br />

Estabelecer a reunião entre os componentes<br />

das equipes.<br />

Favorecer a discussão e a resolução <strong>de</strong><br />

questões <strong>de</strong> forma cooperativa.<br />

Manter conceitos que po<strong>de</strong>m ser trabalhados<br />

em conjunto pelos integrantes<br />

das equipes e que po<strong>de</strong>m ser futuramente<br />

adicionados em uma pesquisa.<br />

Manter termos novos que um componente<br />

julgue ser interessante compartilhar<br />

com os <strong>de</strong>mais colegas.<br />

Quadro 3: Categoria e Ferramentas no Moodle para competições escolares<br />

A competição foi realizada em equipe sobre geometria, cada uma com o seu<br />

conjunto <strong>de</strong> ferramentas que ficaram disponíveis para facilitar a comunicação com o seu<br />

grupo. Para a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pesquisa que teve a duração <strong>de</strong> dois dias, os alunos contaram<br />

com uma ferramenta <strong>de</strong> fórum para a comunicação assíncrona para com o seu grupo o<br />

qual era utilizado para a construção das soluções.<br />

Para a comunicação síncrona, a ferramenta utilizada foi um chat que teve a periodicida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> todos os dias no turno subsequente ao <strong>de</strong> estudos dos alunos e também<br />

ficou disponível uma ferramenta <strong>de</strong> wiki para que os termos novos que fossem sendo<br />

explorados na equipe durante a pesquisa fossem disponibilizados e também alterados<br />

pelos seus componentes.<br />

Na ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> questionário, os componentes das equipes tinham disponíveis<br />

somente um fórum no qual era possível antes da resolução <strong>de</strong> cada questão trocar<br />

possíveis soluções até que fosse alcançada, por <strong>de</strong> um consenso do grupo a resposta<br />

correta. Para isso, nas orientações os alunos eram advertidos que fosse construído um<br />

código <strong>de</strong> encerramento da questão e que fizessem uma questão <strong>de</strong> cada vez, o objetivo<br />

da tarefa <strong>de</strong>ntro da competição.<br />

Na ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem (figura 2) que teve a duração <strong>de</strong> um dia, os alunos<br />

tinham as ferramentas <strong>de</strong> chat e <strong>de</strong> fórum com a finalida<strong>de</strong> semelhante ao da primeira<br />

ativida<strong>de</strong>, com a instrução <strong>de</strong> ser utilizada também como acessório a ferramenta <strong>de</strong><br />

construção <strong>de</strong> equações matemáticas disponíveis nas ferramentas <strong>de</strong> edição <strong>de</strong> texto<br />

do pacote <strong>de</strong> escritório que tivesse em seu computador.<br />

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146<br />

Figura 2: Ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mo<strong>de</strong>lagem<br />

No que diz respeito a local <strong>de</strong> utilização da ferramenta Moodle, todas as escolas<br />

possuíam laboratório <strong>de</strong> informática. Contudo, somente a turma <strong>de</strong> ensino fundamental<br />

explorou mais esse recurso <strong>de</strong> forma coletiva, já que eles possuíam horário durante<br />

a semana só para o uso <strong>de</strong>ste recurso. Com os alunos do ensino médio e superior não<br />

ficou um horário estabelecido para o uso coletivo do laboratório, o que não seria problema,<br />

pois cerca <strong>de</strong> 80% em cada turma possuía computador com Internet em casa, o<br />

que po<strong>de</strong> ser comprovado com a entrevista realizada com cada equipe ao final das<br />

competições.<br />

Dentre os três docentes envolvidos, o que ministra aula no ensino superior já<br />

possuía prática <strong>de</strong> utilização <strong>de</strong> uma ferramenta computacional, o que não ocorria<br />

com os outros dois profissionais dos outros dois níveis <strong>de</strong> ensino pesquisado. Isto<br />

influenciou também na construção do ambiente: o professor <strong>de</strong> ensino superior participou<br />

ativamente da construção da competição enquanto que os outros dois professores<br />

não se envolveram nesta tarefa, <strong>de</strong>signando para o proponente da pesquisa a<br />

realização da mesma.<br />

Com relação aos alunos, o envolvimento na competição foi completo no ensino<br />

fundamental, o que provavelmente foi um reflexo <strong>de</strong> todos participarem ao mesmo<br />

tempo e no mesmo local enquanto construíam as suas resoluções. Os prazos, o escopo<br />

e os horários das ativida<strong>de</strong>s foram ajustados para aten<strong>de</strong>r às especificida<strong>de</strong>s da competição<br />

que previamente foi i<strong>de</strong>alizada com os participantes a distância.<br />

Alguns alunos do ensino superior e médio participaram utilizando o laboratório<br />

<strong>de</strong> informática da sua instituição, contudo, a maioria acessou o ambiente da sua casa.<br />

Das seis equipes participantes no ensino médio, duas <strong>de</strong>sistiram e não completaram<br />

nenhuma das três ativida<strong>de</strong>s e das cinco equipes que participaram do ensino superior<br />

somente uma <strong>de</strong>sistiu.<br />

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147<br />

Com relação às <strong>de</strong>sistências, os componentes <strong>de</strong> um dos grupos do ensino médio<br />

informaram que a <strong>de</strong>sistência se <strong>de</strong>u pela falta <strong>de</strong> entrosamento entre eles, mas<br />

também foi verificado que presencialmente estes eram os alunos com menor freqüência<br />

nas aulas do que os outros alunos, o que também foi constatado no grupo do ensino<br />

superior que não completou a competição. O outro grupo <strong>de</strong>sistente da competição no<br />

ensino médio <strong>de</strong>sistiu alegando falta <strong>de</strong> tempo por causa das tarefas que já fazem fora<br />

do ambiente escolar, como práticas esportivas, aulas em curso <strong>de</strong> idiomas, entre outras,<br />

o que <strong>de</strong>ixou os componentes sem tempo para participar da competição.<br />

No que diz respeito à cooperação para a realização das ativida<strong>de</strong>s, os alunos do<br />

ensino superior foram mais ativos, com uma participação maior dos componentes das<br />

equipes nos fóruns e nos bate-papos abertos e os que menos participaram foram os<br />

alunos do ensino médio, o que po<strong>de</strong> ser comprovado ao ser verificado o relatório emitido<br />

pelo ambiente. As ferramentas que os alunos mais utilizaram foram os bate-papos para a<br />

pesquisa e para a mo<strong>de</strong>lagem, contudo, os fóruns foram mais <strong>de</strong>cisivos para que a resolução<br />

das ativida<strong>de</strong>s fosse concluída, fato apontado pelos próprios alunos envolvidos.<br />

Outro ponto em <strong>de</strong>staque foi que as ativida<strong>de</strong>s on-line correspon<strong>de</strong>ram às expectativas<br />

dos docentes e dos alunos, que acharam que esta estratégia <strong>de</strong> ensino po<strong>de</strong>ria<br />

ser utilizada mais vezes em outras aulas. Também foi requisitado por alguns discentes<br />

foi que houvesse uma flexibilida<strong>de</strong> maior para as comunicações síncronas, as quais<br />

po<strong>de</strong>riam ser marcadas por eles mesmos e não algo já pre<strong>de</strong>terminado na competição.<br />

No geral, todos os concluintes das competições apontaram que o que mais impressionante<br />

na competição foi que todos estavam motivados pela competição que estava<br />

ali sendo disputada. Para os docentes do ensino fundamental e superior os resultados<br />

surpreen<strong>de</strong>ram pela vitória <strong>de</strong> uma equipe que provavelmente não seria a aposta inicial<br />

<strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>les como vencedora, <strong>de</strong>ixando evi<strong>de</strong>nte a superação das equipes.<br />

4 RESULTADOS OBTIDOS<br />

Chagas (2008) realizou um estudo que verificou que alguns professores <strong>de</strong> matemática<br />

ao entrarem nas suas salas <strong>de</strong> aula, colocam-se imediatamente à frente da turma<br />

diante do quadro-branco. Observou também que estes docentes parecem encontrar, à<br />

frente do quadro-branco, seu ponto <strong>de</strong> apoio e <strong>de</strong> referência com relação à turma. Assim,<br />

estes professores passam a dissertar sobre seus conteúdos, propõem questões, formalizam<br />

algumas perguntas à classe e, seguros, po<strong>de</strong>m até efetuar algumas <strong>de</strong>monstrações,<br />

exposições, correções etc. Conclui também que a postura <strong>de</strong>stes professores po<strong>de</strong> ser<br />

classificada, sem sombra <strong>de</strong> dúvidas, como uma postura ou metodologia tradicional.<br />

O que foi constatado no trabalho realizado nesta pesquisa foi que os professores<br />

dos três níveis <strong>de</strong> ensino estavam antes com uma postura bem próxima à tradicional<br />

apontada por Chagas (2008), verificado nas observações das aulas e a falta <strong>de</strong> envolvimento<br />

na construção das ativida<strong>de</strong>s na ferramenta computacional, tarefa <strong>de</strong>legada aos<br />

proponentes da pesquisa. No final, foi observado que a solicitação dos alunos e o interesse<br />

dos professores para que houvesse mais ativida<strong>de</strong>s extraclasse semelhante a<br />

competição provavelmente fará com que o espaço geográfico do ensino não fique somente<br />

próximo ao quadro-branco.<br />

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Contudo os professores do ensino fundamental e médio nas escolas pesquisadas<br />

não possuem incentivo financeiro para os trabalhos que são realizados fora da sala<br />

<strong>de</strong> aula, o que para Carraher (2003) já é um gran<strong>de</strong> fator para que o professor não<br />

planeje ativida<strong>de</strong>s extraclasse. O uso dos laboratórios não condiz com a proposta <strong>de</strong> o<br />

computador ser uma ferramenta <strong>de</strong> ensino, mas sim como uma justificativa <strong>de</strong> ensino<br />

<strong>de</strong> informática baseado principalmente em aulas <strong>de</strong> microinformática, focado principalmente<br />

no ensino <strong>de</strong> sistema operacional e <strong>de</strong> softwares <strong>de</strong> edição <strong>de</strong> texto.<br />

Isso po<strong>de</strong> explicar a ociosida<strong>de</strong> que foi encontrada nos laboratórios das instituições<br />

<strong>de</strong> ensino fundamental e médio, as quais passam períodos semanais sem ter nenhum<br />

tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino nestas instalações, somente o uso da Internet pelos<br />

discentes, o que foi verificado através <strong>de</strong> entrevistas feitas com os professores que<br />

participaram da competição.<br />

Muitos autores como Chagas (2008), Carraher (2003) e Giardinetto (1999) apontam<br />

como um fator para um fracasso do ensino da matemática o distanciamento do que<br />

é ensinado com o que é vivido pelos alunos, mas nada mais distante do que <strong>de</strong>ixar o<br />

computador fora do contexto do ensino, o que provavelmente será a ferramenta mais<br />

utilizada pela geração <strong>de</strong> aprendizes atual e as que virão. A mudança <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> dos<br />

atores do processo <strong>de</strong> ensino já é um resultado positivo da pesquisa.<br />

Tradicionalmente, a disciplina <strong>de</strong> matemática não é motivadora para os alunos,<br />

por vários aspectos que são listados em Carraher (2003) e D’Ambrosio (2003), o que<br />

po<strong>de</strong> ser também colocado como um fator positivo nas competições que aconteceram<br />

nas três turmas: os alunos dos grupos que terminam as competições se mostraram<br />

extremamente motivados a participar <strong>de</strong> outras tarefas relacionadas à matemática,<br />

caso estas fossem semelhantes às que competiram.<br />

Nas entrevistas feitas com os professores após a competição também foi possível<br />

notar que vários alunos que não <strong>de</strong>monstravam interesse em suas aulas começaram<br />

a ser mais participativos, outros se mostraram mais corajosos para tentar resolver questões<br />

e alguns que integravam as equipes vencedoras e que não <strong>de</strong>monstravam um<br />

rendimento tão satisfatório na disciplina tiveram uma melhora significativa no seu <strong>de</strong>sempenho<br />

escolar na disciplina objeto do trabalho. Resultados semelhantes também<br />

foram <strong>de</strong>tectados no trabalho <strong>de</strong> Nascimento et al (2007) na realização <strong>de</strong> uma competição<br />

escolar presencial.<br />

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

A competição realizada com o ambiente Moodle mostrou que é possível realizar<br />

este tipo <strong>de</strong> estratégia <strong>de</strong> ensino em uma ferramenta computacional, além <strong>de</strong> ser mais<br />

um recurso que po<strong>de</strong> ser utilizado para as ativida<strong>de</strong>s extraclasses. No entanto, esta<br />

estratégia será potencializada se for integrada ao planejamento escolar, contando como<br />

carga horária ao professor, já que o trabalho existente no processo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong>sta<br />

ativida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>smotivador se isto não contar como uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino.<br />

Os resultados mostram que sentimentos que já estavam sendo aguardados foram<br />

alcançados, como a superação, a melhoria da atenção e a motivação, contudo, a<br />

<strong>de</strong>sistência <strong>de</strong> alguns alunos mostra que ainda <strong>de</strong>ve ser investigado como estas estra-<br />

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tégias <strong>de</strong> ensino po<strong>de</strong>m ser construídas <strong>de</strong> tal forma que consigam envolver os alunos<br />

para que as <strong>de</strong>sistências sejam ainda menores.<br />

Possivelmente, as ferramentas também <strong>de</strong>verão melhorar para aten<strong>de</strong>r ainda<br />

mais as competições além <strong>de</strong> um estudo mais específico para ativida<strong>de</strong>s que po<strong>de</strong>m ser<br />

construídas para outras áreas <strong>de</strong> conhecimento, contudo isso provavelmente não será<br />

muito diferente do que foi visto neste trabalho, já que as ativida<strong>de</strong>s também po<strong>de</strong>rão<br />

ser flexibilizadas, caso isso seja necessário.<br />

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