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Cleide de Lima Chaves - Uesb

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CONTROLE E VIGILÂNCIA: A CONVENÇÃO SANITÁRIA<br />

DE 1887 ENTRE BRASIL, ARGENTINA E URUGUAI.<br />

<strong>Clei<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Lima</strong> <strong>Chaves</strong><br />

clei<strong>de</strong>@uesb.br<br />

Universida<strong>de</strong> Estadual do Sudoeste da Bahia<br />

A Convenção Sanitária ocorrida no Rio <strong>de</strong> Janeiro, em 1887, firmada pelo Império do<br />

Brasil e pelas Repúblicas da Argentina e do Uruguai, significou uma tentativa <strong>de</strong> uniformizar<br />

políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e buscar soluções para o problema das epi<strong>de</strong>mias, especialmente a <strong>de</strong> cólera<br />

morbus e a <strong>de</strong> febre amarela, que atingiam os seus portos mais importantes e prejudicavam as<br />

relações comerciais entre essas nações.<br />

A fonte para esse estudo é a própria Convenção Sanitária <strong>de</strong> 1887, tendo sido publicada na<br />

Gazeta Médica da Bahia em <strong>de</strong>zembro do mesmo ano. Esse periódico, apesar <strong>de</strong> ser uma<br />

publicação in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, tinha uma vinculação com a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Bahia, pela<br />

presença <strong>de</strong> médicos e professores <strong>de</strong>sta Faculda<strong>de</strong>, e <strong>de</strong>monstrava gran<strong>de</strong> interesse no controle e<br />

divulgação das medidas <strong>de</strong> combate às epi<strong>de</strong>mias na Bahia e no território nacional.<br />

Segundo Lilia Schwarcz (1993), a Gazeta Médica nasceu a partir da congregação <strong>de</strong> alguns<br />

médicos da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina da Bahia que objetivavam a troca <strong>de</strong> experiências e dúvidas<br />

acerca da profissão, prática que contribuiu para a ampliação do saber médico na Bahia. O jornal<br />

começou a circular em 1866, <strong>de</strong>stacando-se como primeiro periódico médico brasileiro, até<br />

1931, com algumas interrupções neste período 1 , sendo retomado entre os anos <strong>de</strong> 1966 e 1976<br />

(Bastianelli, 2002).<br />

As temáticas publicadas no periódico foram variadas. A higiene pública durante todo o<br />

período entre 1866 e 1931 ocupou 36% do interesse dos médicos baianos, compreen<strong>de</strong>u assuntos<br />

como: epi<strong>de</strong>miologia, saneamento, higienização e <strong>de</strong>mografia (Schwarcz, 1993). Apesar <strong>de</strong><br />

serem temas urgentes, estando nas pautas <strong>de</strong> discussão da socieda<strong>de</strong> baiana, o alcance real <strong>de</strong>ssa<br />

publicação foi pequeno, como ressalta Renilda Barreto (2000), ao afirmar que, apesar da<br />

importância <strong>de</strong>ssa circulação do saber médico, o âmbito <strong>de</strong> propagação <strong>de</strong>ste material era<br />

pequeno e estava reservada à elite, especificamente a sua porção masculina que circulava e<br />

discutia nos espaços on<strong>de</strong> esse diálogo acontecia.<br />

A higiene já era tema majoritário nos primeiros periódicos brasileiros que circularam no<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, a exemplo da Revista Médica Fluminense (1835-41) e da Revista Médica<br />

Brasileira (1841-43) que objetivavam <strong>de</strong>spertar o interesse da comunida<strong>de</strong> leiga, como ressalta<br />

1<br />

Os anos em que a Gazeta não foi publicada foram os <strong>de</strong> 1870, 1874 a 1875 e 1880.


Ferreira:<br />

A eleição da higiene como campo <strong>de</strong> diálogo entre a medicina e a socieda<strong>de</strong> e campo<br />

privilegiado <strong>de</strong> produção científica possibilita a compreensão não só do modo como<br />

<strong>de</strong>terminadas doenças foram alçadas à condição <strong>de</strong> problema <strong>de</strong> relevância social, mas<br />

também da forma como se <strong>de</strong>u a implantação do <strong>de</strong>bate sobre os problemas sanitários do<br />

país (1999, p.333).<br />

A Convenção Sanitária, <strong>de</strong>sta forma, era consi<strong>de</strong>rada como pauta importante para o<br />

periódico, visto que havia uma seleção dos assuntos a serem abordados no jornal, e a Higiene,<br />

em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> temas muitas vezes mais preocupantes, estava sempre em <strong>de</strong>staque. Como<br />

afirma Gabriela Sampaio,<br />

o combate às epi<strong>de</strong>mias era a maneira <strong>de</strong> afirmar-se um grupo <strong>de</strong> médicos e sanitaristas<br />

que vinham lutando pelo reconhecimento <strong>de</strong> seu saber científico, muito embora doenças<br />

endêmicas como a tuberculose fossem responsáveis por muito maior número <strong>de</strong> mortes. Ao<br />

se encarar a urbanização como um problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública, seria inegável o aumento da<br />

influência e do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque que passam a ter os médicos na comunida<strong>de</strong><br />

científica.(2002, p. 42)<br />

Consi<strong>de</strong>ramos que as relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r entre esses países <strong>de</strong>terminaram gran<strong>de</strong> parte do<br />

acordo estabelecido, com uma predominância do Brasil. Essa convenção evi<strong>de</strong>ncia ainda as<br />

relações <strong>de</strong> saber, visto que neste momento já se podia i<strong>de</strong>ntificar as supostas causas <strong>de</strong>ssas<br />

doenças e suas formas <strong>de</strong> contágio, e a medicina começava a alcançar um status <strong>de</strong> ciência<br />

confiável e imprescindível para a sobrevivência dos povos. Na Convenção, estabeleceu-se a<br />

criação <strong>de</strong> instituições <strong>de</strong> controle sanitário nos portos e nas embarcações, exigiu-se a presença<br />

<strong>de</strong> médicos nos navios <strong>de</strong> transporte <strong>de</strong> passageiros, evi<strong>de</strong>nciando assim o aumento do controle e<br />

da vigilância <strong>de</strong>sses países no que se refere às doenças.<br />

Michel Foucault, analisando a relação entre saber e po<strong>de</strong>r na instituição médica e nas<br />

cida<strong>de</strong>s portuárias faz uma importante reconstituição do que significava a existência <strong>de</strong> portos,<br />

que além <strong>de</strong> servirem para a entrada e saída <strong>de</strong> pessoas e mercadorias, possibilitava a circulação<br />

das epi<strong>de</strong>mias.<br />

Um porto, e um porto militar é, como circuitos <strong>de</strong> mercadorias, <strong>de</strong> homens alistados por<br />

bem ou à força, <strong>de</strong> marinheiros embarcando e <strong>de</strong>sembarcando, <strong>de</strong> doenças e <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mias,<br />

um lugar <strong>de</strong> <strong>de</strong>serção, <strong>de</strong> contrabando, <strong>de</strong> contágio: encruzilhada <strong>de</strong> misturas perigosas,<br />

cruzamento <strong>de</strong> circulações proibidas. [...]A vigilância médica das doenças e dos contágios é<br />

aí solidária <strong>de</strong> toda uma série <strong>de</strong> outros controles: militar sobre os <strong>de</strong>sertores, fiscal sobre<br />

as mercadorias, administrativo sobre os remédios, os <strong>de</strong>saparecimentos, as curas, as<br />

mortes, as simulações. [...] (1987, p.123-124)<br />

O contexto em que surge essa Convenção Sanitária entre os três países é o do surgimento<br />

<strong>de</strong> mais uma epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> cólera na região platina. Essa doença chegou no Brasil em 1850, e<br />

reincidiu diversas vezes ao longo do século XIX, dificultando efetivamente as relações<br />

comerciais. Um documento imperial, datado <strong>de</strong> 1886, publicado na Gazeta Médica da Bahia,


proibia a “importação <strong>de</strong> carnes salgadas <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>ncia argentina ou oriental ... em que<br />

exceptua as carnes existentes em <strong>de</strong>posito nos sala<strong>de</strong>iros orientaes e preparadas antes do<br />

apparecimento do cholera na Republica Argentina” 2 .<br />

Na Bahia, o reflexo <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>creto foi o intenso controle nos portos, que impediam a<br />

entrada <strong>de</strong> qualquer navio vindo do Prata, mesmo, como ressaltou a Gazeta Médica, tendo nos<br />

seus cargos <strong>de</strong> cônsules e vice-cônsules do Prata gran<strong>de</strong>s comerciantes. Para aquela região isso<br />

significou uma crise <strong>de</strong> superprodução do gado e da carne <strong>de</strong> charque, pois perdia, ainda que<br />

temporariamente, um dos seus maiores mercados.<br />

Brasil, embarcado en la política proteccionista <strong>de</strong>l tasajo riogran<strong>de</strong>nse, va a aumentar<br />

los impuestos a su introducción llegando en 1887 a clausurar sus puertos al tasajo<br />

rioplatense com motivo <strong>de</strong> la aparición <strong>de</strong>l cólera en la Argentina. El 70% <strong>de</strong> la producción<br />

queda sin exportar. El impuesto aplicado luego <strong>de</strong> reiniciada la exportación se duplicó com<br />

creces llegando a significar el 27% <strong>de</strong>l precio. (Milot e Bertino, 1996, p.153)<br />

Consta nos estudos realizados para a assinatura da Convenção Sanitária a preocupação<br />

quanto à propagação da epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> cólera morbus através da carne <strong>de</strong> charque, produzida na<br />

Argentina e Uruguai e largamente consumida pelo Império brasileiro. Os médicos presentes na<br />

Convenção enviam amostras da carne para um laboratório na Alemanha no intuito <strong>de</strong> que se<br />

certifique a possibilida<strong>de</strong> da transmissão da doença pelo charque. O laboratório chegou a<br />

conclusão <strong>de</strong> que a carne não era transmissora <strong>de</strong> cólera.<br />

Esse relatório evi<strong>de</strong>nciava a consolidação <strong>de</strong> um saber médico e o difícil, porém vitorioso<br />

reconhecimento da medicina científica na última década do Império do Brasil. Foram nomeados<br />

médicos dos três países para fazerem parte da Comissão, no sentido <strong>de</strong> “proce<strong>de</strong>r a exames<br />

indispensáveis antes da negociação da Convenção Sanitária que se projecta” 3 .<br />

Além do contexto latino-americano <strong>de</strong> propagação das epi<strong>de</strong>mias, <strong>de</strong>ve-se situar o<br />

movimento na Europa para a constituição <strong>de</strong> um primeiro código sanitário internacional. Como<br />

afirma Rosen, a segunda meta<strong>de</strong> do século XIX esteve marcada pelas preocupações com o<br />

sanitarismo e a urbanização das gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s européias.<br />

o governo da França enfim tomou a iniciativa <strong>de</strong> organizar a primeira conferência<br />

sanitária internacional, inaugurada a 5 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1851 em Paris. Estavam representadas<br />

as seguintes nações: Áustria-Hungria, as duas Sicílias, Espanha, os Estados Papais, Grã-<br />

Bretanha, Grécia, Portugal, França, Rússia, Sar<strong>de</strong>nha, Toscana e Turquia. Cada estado se<br />

fazia representar por dois <strong>de</strong>legados, um diplomata e um médico, pois se reconhecia à<br />

conferência dizer respeito a problemas técnicos e médicos, e administrativos e diplomáticos.<br />

O objetivo da conferência era o <strong>de</strong> remover todos os atrasos <strong>de</strong>snecessários ao comércio<br />

internacional, salvaguardando-se a saú<strong>de</strong> geral. (1994, p.225)<br />

2<br />

Gazeta Médica da Bahia, n. 5, Novembro <strong>de</strong> 1886.<br />

3<br />

Annexo n. 1 do Relatório apresentado à Assembléa Geral Legislativa na terceira sessão da vigésima legislatura<br />

pelo ministro e secretário <strong>de</strong> Estado interino dos negócios estrangeiros Rodrigo Augusto da Silva. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Imprensa Nacional, 1888, p.12.


Portanto, a Convenção <strong>de</strong> 1887 ocorre numa época em que o saber médico se consolidava<br />

e ganhava o respaldo das autorida<strong>de</strong>s administrativas. Antes <strong>de</strong>ssa data, o documento faz menção<br />

a uma outra Convenção Sanitária, ocorrida em Montevidéu em 1873 e firmada entre o Brasil, a<br />

Argentina e o Uruguai, porém não ratificada, o que significa que as negociações para um código<br />

sanitário não eram totalmente novas. O protocolo da Convenção faz ainda referência às outras<br />

conferências <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ocorridas no mundo:<br />

Pareceu à Commissão technica, que as Conferencias <strong>de</strong> Vienna, em 1876, <strong>de</strong><br />

Washington, em 1881, <strong>de</strong> Roma, em 1885, <strong>de</strong> Antuérpia, ainda em 1885 e finalmente o<br />

recente Congresso do Havre, em 1887, tinham innovado muito em mátria <strong>de</strong> hygiene<br />

administrativa e <strong>de</strong> organização quarentenária; sendo aproveitável, portanto, para a<br />

elaboração scientifica do Convenio, que os três Governos sul-americanos projectam, a<br />

cópia riquissima e instrutiva <strong>de</strong> preceitos e arestos que as referidas Conferencias<br />

estabeleceram e firmaram.<br />

Preocupava ao Império os gastos com as epi<strong>de</strong>mias e com o fluxo comercial nas principais<br />

cida<strong>de</strong>s e na capital, o Rio <strong>de</strong> Janeiro. I<strong>de</strong>ntificar um navio suspeito ou infeccionado era<br />

fundamental para conter o avanço <strong>de</strong> doenças que dizimavam a população e retraía os negócios.<br />

Segundo José Murilo <strong>de</strong> Carvalho,<br />

Os gastos com saú<strong>de</strong> pública apresentam gran<strong>de</strong>s variações. Explica-se o fenômeno por<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rem dos surtos <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mias. O gran<strong>de</strong> pico da curva está na década <strong>de</strong> 1850,<br />

quando surgiram as primeiras gran<strong>de</strong>s epi<strong>de</strong>mias <strong>de</strong> febre amarela e <strong>de</strong> cólera. Ao final do<br />

período, novamente voltaram as epi<strong>de</strong>mias, exigindo gastos maiores do governo central. O<br />

gasto normal com saú<strong>de</strong> pública era absorvido pelo saneamento e assistência à saú<strong>de</strong> na<br />

Corte e pelas inspetorias <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> dos portos. (2003, p.282)<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista comercial, no final <strong>de</strong> 1887 e com o retrocesso da epi<strong>de</strong>mia, as<br />

províncias voltaram a reabrir seus portos para as embarcações vindas do Prata, tendo essa atitu<strong>de</strong><br />

causado um forte ressentimento na diplomacia platina.<br />

Antes <strong>de</strong> finalizar el año volvieron a reabrirse los puertos brasileños <strong>de</strong> acordo com la<br />

Convención Sanitária suscrita em Rio <strong>de</strong> Janeiro por los representantes diplomáticos <strong>de</strong>l<br />

Uruguay, <strong>de</strong> la Argentina e <strong>de</strong>l Brasil. Pero la crisis gana<strong>de</strong>ra no <strong>de</strong>sapareció <strong>de</strong>l todo y el<br />

tema abordado por la Associación Rural continuó por varios meses a la or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>l dia. 4<br />

As epi<strong>de</strong>mias vieram posteriormente acompanhadas <strong>de</strong> reformas urbanas realizadas em<br />

várias cida<strong>de</strong>s oci<strong>de</strong>ntais na segunda meta<strong>de</strong> do século XIX e nas primeiras décadas do século<br />

XX. A i<strong>de</strong>ologia que permeava essas mudanças era a <strong>de</strong> “civilizar os costumes”, ou no caso<br />

baiano “<strong>de</strong>safricanizar os costumes”, retirar da barbárie especialmente os povos colonizados,<br />

on<strong>de</strong> a presença negra e mestiça era predominante.<br />

No caso do Brasil, as reformas só chegariam no início do século XX, findada a escravidão<br />

4<br />

ACEVEDO, op. cit., p. 427.


e o sistema monárquico. Para o Prata, essas modificações vieram mais cedo, inspiradas<br />

diretamente nas reformas parisienses, quando a República seria tomada <strong>de</strong> exemplo <strong>de</strong><br />

civilização no final do século XIX, e também pelo forte fluxo migratório que se dirigiu para as<br />

cida<strong>de</strong>s platinas, especialmente Buenos Aires e Montevidéu. A Gazeta Médica da Bahia<br />

noticiava essas reformas, a exemplo da abertura da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> Montevidéu em<br />

1876, criada, não por acaso, no período das epi<strong>de</strong>mias naquela região, que exigia a formação <strong>de</strong><br />

médicos e práticos para o atendimento dos enfermos. 5<br />

O Brasil e os países do Prata disputariam a partir <strong>de</strong> 1870 o mercado <strong>de</strong> imigrantes.<br />

Enquanto a região platina buscava propagar uma imagem <strong>de</strong> repúblicas avançadas, <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s<br />

salubres e civilizadas, ao mesmo tempo noticiava o atraso vivido pelo Brasil, monárquico e<br />

escravista, classificando o Império como bárbaro e insalubre. Era uma disputa difícil, pois se os<br />

portos brasileiros estavam contaminados por doenças e escravos, os portos platinos não ficaram<br />

distantes das correntes epidêmicas.<br />

A concentração dos movimentos migratórios estava em São Paulo, Minas e Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Segundo Rafael Duarte Villa (1998), até o início <strong>de</strong>sse século haviam entrado na Argentina 2,4<br />

milhões <strong>de</strong> italianos e mais <strong>de</strong> 1,3 milhão com <strong>de</strong>stino ao Brasil. Segundo ele, a maior<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> imigrantes para a Argentina <strong>de</strong>veu-se pelo incipiente <strong>de</strong>senvolvimento industrial e<br />

pela gran<strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> terras. Apesar da Bahia não ter participado igualmente <strong>de</strong>sse<br />

fluxo <strong>de</strong> imigração, interessava aos baianos cuidar da imagem do seu porto, daí verificamos as<br />

transformações ocorridas nele no <strong>de</strong>senrolar do século XIX, especialmente nas últimas décadas.<br />

Ainda mais que o seu porto servia <strong>de</strong> ponto intermediário para as outras províncias. E ainda não<br />

po<strong>de</strong>mos negar que houve um fluxo migratório para a Bahia, porém se comparado às províncias<br />

do Sul, mais localizada e restrita.<br />

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