Anais - Territórios do PolÃtico - vol. 1 - Universidade Estadual de ...
Anais - Territórios do PolÃtico - vol. 1 - Universidade Estadual de ...
Anais - Territórios do PolÃtico - vol. 1 - Universidade Estadual de ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
45<br />
“Os estudantes em geral, e tão pouco, os estudantes universitários em<br />
particular, não constituem um to<strong>do</strong> monolítico, infensos à divisões<br />
políticas. São atravessa<strong>do</strong>s pelas questões que agitam a socieda<strong>de</strong>, e<br />
não po<strong>de</strong>m ser reduzidas à problemática <strong>de</strong> classe”<br />
Nesse senti<strong>do</strong>, os setores da esquerda estudantil que tentavam formar as<br />
frentes únicas nas entida<strong>de</strong>s estudantis, unin<strong>do</strong> os diversos grupos que possuíam<br />
algum ponto em comum, passaram a sofrer oposição acirrada em algumas faculda<strong>de</strong>s<br />
e em importantes entida<strong>de</strong>s estudantis, das quais algumas foram conquistadas pelas<br />
oposições 39 . Não raro, essas oposições traziam em seu discurso versões <strong>do</strong><br />
anticomunismo, como foi o caso <strong>do</strong> MSU no Rio <strong>de</strong> Janeiro, que além <strong>de</strong> ter venci<strong>do</strong><br />
rapidamente as eleições para diversos centros e diretórios acadêmicos na PUC-RJ, foi<br />
ativa na campanha que <strong>de</strong>rrotou as esquerdas na UME-RJ, em 1962 40 . Nesse senti<strong>do</strong>,<br />
po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar que o discurso e as formas <strong>de</strong> organização anticomunistas nos<br />
meios estudantis seguiram uma tendência similar ao anticomunismo mais geral que se<br />
<strong>de</strong>sen<strong>vol</strong>veu no Brasil. Segun<strong>do</strong> Sá Motta 41 , o anticomunismo comportava em seu<br />
interior formas diferenciadas <strong>de</strong> organização, assim como formas diferentes <strong>de</strong><br />
conceber o comunismo e combatê-lo. Em relação aos meios universitários, a FJD foi<br />
apenas uma <strong>de</strong>ssas organizações e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u apenas uma das muitas versões<br />
contrárias às práticas políticas da UNE.<br />
Durante praticamente todas as aparições na imprensa, a FJD manteve a mesma<br />
motivação, o anticomunismo. Des<strong>de</strong> 1956, quan<strong>do</strong> <strong>de</strong>nunciou o perigo que<br />
representava a chegada <strong>do</strong>s universitários da UIE ao Brasil, até 1980, quan<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong>nunciou que o XXXII Congresso da UNE era “uma monumental reunião <strong>de</strong><br />
agita<strong>do</strong>res” 42 , com a participação <strong>de</strong> terroristas, representantes <strong>do</strong> Imperialismo<br />
Soviético e <strong>de</strong> Havana. Em suma, a estratégia era qualificar os setores da esquerda<br />
estudantil como agita<strong>do</strong>res, sempre estabelecen<strong>do</strong> alguma ligação alarmante entre a<br />
agitação social, comunismo e ligações internacionais. Dentro <strong>de</strong>sse propósito geral, a<br />
39 MARTINS FILHO, João Roberto. Movimento estudantil e ditadura militar: 1964 – 1968. Campinas, SP:<br />
Papirus, 1987.<br />
40 A divulgação <strong>do</strong> manifesto <strong>do</strong> MSU recebeu ênfase da imprensa no que se referia a con<strong>de</strong>nação <strong>do</strong><br />
movimento ao comunismo, que além <strong>de</strong> encampar os <strong>de</strong>feitos <strong>do</strong> socialismo ainda é <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma<br />
filosofia atéia e materialista. Folha <strong>de</strong> São Paulo, 08/05/1963, primeiro ca<strong>de</strong>rno, p. 15.<br />
41 MOTTA, 2002, p. 19.<br />
42 Advertência da FJD. Folha <strong>de</strong> São Paulo, 14/10/1980, p. 12.