Anais - Territórios do PolÃtico - vol. 1 - Universidade Estadual de ...
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256<br />
(...) Vocês brasileiros parece que tem a mania <strong>de</strong> perfeição, em<br />
matéria <strong>de</strong> futebol. Eu senti, <strong>de</strong>pois da nossa vitória em Porto Alegre,<br />
uma preocupação <strong>de</strong>scabida <strong>de</strong> vocês em relação à sua seleção. Uma<br />
coisa é certa: o Brasil tem excepcionais joga<strong>do</strong>res e ainda o melhor<br />
futebol <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. É apenas uma questão <strong>de</strong> acerto. Afinal o time<br />
começou a treinar há apenas três semanas (...) 15 .<br />
Essa entrevista foi publicada em março <strong>de</strong> 1970 e nos mostra que o time mal tinha<br />
começa<strong>do</strong> a treinar e a população já estava preocupada com os possíveis problemas.<br />
Até que a equipe começou a disputar a Copa em três <strong>de</strong> junho, em Guadalajara,<br />
contra a Tchecoslováquia. Os políticos e a imprensa estavam anima<strong>do</strong>s com o <strong>de</strong>sempenho<br />
da seleção, mas os opositores da ditadura percebiam como o governo po<strong>de</strong>ria utilizar a<br />
vitória em proveito próprio, po<strong>de</strong>riam não pensar assim. Po<strong>de</strong>mos nos questionar então<br />
como estava a esquerda e respon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a pergunta Hilário Franco Júnior afirma que por<br />
estar reprimida e fragmentada, não se chegava a um consenso se os opositores <strong>do</strong> regime<br />
<strong>de</strong>veriam dar vazão ao sentimento nacionalista ou torcer contra o time brasileiro.<br />
Ocorreram muitas discussões nos aparelhos guerrilheiros sobre qual seria a postura i<strong>de</strong>al <strong>de</strong><br />
um verda<strong>de</strong>iro re<strong>vol</strong>ucionário diante da situação.<br />
A preocupação da esquerda tinha seus fundamentos e não foram somente eles que<br />
perceberam o quão benéfico seria para a ditadura se o Brasil ganhasse. A Folha <strong>de</strong> S. Paulo<br />
até chegou a comentar que:<br />
(...) Realmente, tu<strong>do</strong> leva a crer que, se a seleção brasileira levantar a<br />
Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>, o acontecimento terá repercussões profundas para<br />
o país, <strong>de</strong>ntro e fora <strong>de</strong>le. Na esfera interna, nem se fala. (...) As<br />
metas <strong>de</strong> uma administração <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m das metas nos campos<br />
esportivos (...) 16 .<br />
E então o Brasil chegou à semifinal contra o pesa<strong>de</strong>lo uruguaio. O Brasil não<br />
enfrentava o Uruguai numa Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a final da Copa <strong>de</strong> 1950. Nossa seleção<br />
era provavelmente a favorita, mas o fantasma da <strong>de</strong>rrota ainda cercava a população<br />
brasileira e principalmente os joga<strong>do</strong>res. Apesar disso, o Brasil venceu e se classificou para a<br />
final. Relatos da época contam que, nas comemorações pelas avenidas <strong>de</strong> São Paulo, quem<br />
não estivesse comemoran<strong>do</strong> efusivamente era chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> ‘uruguaio’ e intimida<strong>do</strong> a<br />
festejar 17 .<br />
15 Veja. 11/03/1970. Ed. 79. P. 20.<br />
16<br />
Folha <strong>de</strong> S. Paulo, 05/06/ 1970, p.3. Apud: GUTERMAN, Marcos. O futebol explica o Brasil. Uma história da<br />
maior expressão popular <strong>do</strong> país. São Paulo, SP: Ed. Contexto. P. 175.<br />
17 Ibi<strong>de</strong>m, 2009.