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Anais - Territórios do Político - vol. 1 - Universidade Estadual de ...

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Os brasileiros se perceberiam como gran<strong>de</strong>s mestres da bola, vivencian<strong>do</strong> o jogo<br />

como elemento <strong>de</strong> coesão e congraçamento. Dessa forma, o futebol passaria a ser elemento<br />

<strong>de</strong> pertencimento e a traduzir a essência <strong>do</strong> ser brasileiro nas narrativas oficias 10 .<br />

As características da seleção brasileira que temos hoje como sen<strong>do</strong> a <strong>do</strong> improviso,<br />

<strong>do</strong>s dribles, <strong>do</strong> “futebol bonito”, passou a se <strong>de</strong>finir em contraste com o futebol técnico e<br />

mecânico, sen<strong>do</strong> exemplo <strong>de</strong> nacionalida<strong>de</strong> e orgulho patriótico brasileiro, o que influenciou<br />

as futuras gerações. O Brasil então passou a enxergar o futebol como uma característica<br />

diferencia<strong>do</strong>ra em relação aos outros países, como algo que nos <strong>de</strong>finia realmente.<br />

Diante <strong>de</strong>sse cenário, a Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>, que havia si<strong>do</strong> criada em 1930, seria<br />

realizada no Brasil em 1950. A pressão nessa Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> foi a maior vista até então.<br />

Diante da <strong>de</strong>rrota, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> brasileira entrou em questionamento e marcou fortemente<br />

a história <strong>do</strong> futebol brasileiro, quase como um “fantasma” que <strong>de</strong> tempos em tempos<br />

<strong>vol</strong>tava para assombrar os joga<strong>do</strong>res e a socieda<strong>de</strong> como um to<strong>do</strong>. Nelson Rodrigues nos<br />

mostra a gran<strong>de</strong>za <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>rrota ao dizer que “Cada povo tem a sua irremediável catástrofe<br />

nacional, algo assim como uma Hiroshima. A nossa catástrofe, a nossa Hiroshima, foi a<br />

<strong>de</strong>rrota frente ao Uruguai em 1950” 11 .<br />

O primeiro título brasileiro veio no ano <strong>de</strong> 1958, quan<strong>do</strong> o mundial foi realiza<strong>do</strong> na<br />

Suécia. Pela primeira fez, um presi<strong>de</strong>nte brasileiro teve a chance <strong>de</strong> explorar o po<strong>de</strong>r<br />

mobiliza<strong>do</strong>r e transforma<strong>do</strong>r que uma conquista como a <strong>do</strong> Brasil possuía. Juscelino<br />

Kubitscheck, no cargo na época, chegou a afirmar para João Havelange, presi<strong>de</strong>nte da<br />

Comissão Brasileira <strong>de</strong> Desportos (CBD): “Durante a Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> na Suécia, substituí<br />

vários ministros e não houve uma única palavra a respeito nos jornais. Estou pensan<strong>do</strong> em<br />

fazer novas mudanças num futuro próximo. Qual é a data da próxima Copa <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>?” 12 .<br />

Outro Presi<strong>de</strong>nte que teve a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se aproveitar <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s da Copa<br />

<strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> foi João Goulart no mundial <strong>de</strong> 1962, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> principalmente a sua necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

sobrevivência política. O Correio Braziliense registrou o clima <strong>de</strong> euforia: “Vocês cumpriram<br />

10<br />

SALVADOR, Marco Antonio Santoro e SOARES, Antonio Jorge Gonçalves. A memória da copa <strong>de</strong> 1970:<br />

esquecimentos e lembranças <strong>do</strong> futebol na construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional. – Campinas, SP: Autores<br />

Associa<strong>do</strong>s, 2009. P. 22.<br />

11<br />

RODRIGUES, 1966. Apud: SALVADOR, Marco Antonio Santoro e SOARES, Antonio Jorge Gonçalves. A<br />

memória da copa <strong>de</strong> 1970: esquecimentos e lembranças <strong>do</strong> futebol na construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional. –<br />

Campinas, SP: Autores Associa<strong>do</strong>s, 2009. P. X.<br />

12 YALLOP, David. 1998. P.47. Apud: AGOSTINO, Gilberto. Vencer ou morrer: futebol, geopolítica e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

nacional. Rio <strong>de</strong> Janeiro: FAPERJ: Mauad, 2002.

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