Anais - Territórios do PolÃtico - vol. 1 - Universidade Estadual de ...
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E' incontestável que logo após o pôr <strong>do</strong> sol vêem-se nas ruas<br />
muito mais pessoas <strong>do</strong> que durante o dia; ficam as mesmas<br />
repletas <strong>de</strong> homens e <strong>de</strong> mulheres que andam à procura <strong>de</strong><br />
aventuras. Os indivíduos <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is sexos en<strong>vol</strong>vem-se em capotes<br />
<strong>de</strong> lã, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s golas que lhe encobrem a meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> rosto; as<br />
mulheres usam um chapéu <strong>de</strong> feltro preso atrás da cabeça; o <strong>do</strong>s<br />
homens é puxa<strong>do</strong> sobre os olhos. Em nenhuma parte <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />
por mim percorrida vi tamanho número <strong>de</strong> prostitutas; eram <strong>de</strong><br />
todas as cores; as calçadas ficavam, (...), cobertas <strong>de</strong> mulheres<br />
<strong>de</strong>ssa baixa espécie. 13<br />
Mas como po<strong>de</strong> ser explica<strong>do</strong> esse elevadíssimo índice <strong>de</strong> prostituição? Talvez<br />
a condição das mulheres esclareça a questão, submetidas num sistema escravocrata,<br />
as mulheres, principalmente as mais pobres, sofriam com a falta <strong>de</strong> trabalho, quan<strong>do</strong><br />
não realizavam pequenos serviços, encontravam na prostituição sua forma <strong>de</strong><br />
sustento. “ (...), sabia-se que quase 40% <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res da cida<strong>de</strong> eram mulheres sós,<br />
chefes <strong>de</strong> família, muitas <strong>de</strong>las concubinas e mães solteiras.” 14 Segun<strong>do</strong> Mesgravis:<br />
Já nos referimos à exploração sexual da mulher <strong>de</strong> cor, índia<br />
negra, pelo branco proprietário, propiciada e admitida pela escravidão,<br />
e que foi responsável pela multidão <strong>de</strong> bastar<strong>do</strong>s. Mesmo<br />
quan<strong>do</strong> livre, a mulher mestiça ou <strong>de</strong> cor não escapava <strong>de</strong>ssa<br />
<strong>de</strong>gradante exploração, uma vez que os costumes só a aceitavam<br />
como concubina temporária, numa união cuja duração <strong>de</strong>pendia<br />
tão-somente <strong>do</strong> capricho <strong>do</strong> homem. 15<br />
A maioria das mulheres paulistas sobreviviam sozinhas, aban<strong>do</strong>nadas pelos<br />
mari<strong>do</strong>s ou amantes, com filhos para criar. Tiravam seus parcos ganhos <strong>do</strong> trabalho<br />
artesanal, na venda <strong>de</strong> alimentos e <strong>de</strong> pequenos serviços. “Brancas pobres, escravas e<br />
forras faziam o comércio mais pobre e menos consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> que era o <strong>do</strong>s géneros<br />
alimentícios, hortaliças, toucinho e fumo, (...).” 16<br />
Então, a prostituição, miséria, a<br />
condição precária das mulheres, a falta <strong>de</strong> trabalho, o aban<strong>do</strong>no <strong>do</strong>s homens, to<strong>do</strong>s<br />
esses fatores reuni<strong>do</strong>s favoreciam o aumento <strong>do</strong> número <strong>de</strong> enjeita<strong>do</strong>s. Diante <strong>de</strong> tal<br />
calamina<strong>de</strong> social, on<strong>de</strong> os transeuntes encontravam corpos <strong>de</strong> crianças espalha<strong>do</strong>s pelas<br />
13 SAINT-HILAIRE, Auguste <strong>de</strong>. Viagem à província <strong>de</strong> S. Paulo e resumos das viagens ao Brasil, província<br />
Cisplatina e Missões <strong>do</strong> Paraguai. Tradução, prefácio e notas <strong>de</strong> Rubens Borba <strong>de</strong> Morais. 1ª edição. São<br />
Paulo: Editora Martins/Edusp, 1972, p.187<br />
14 DIAS, Maria Odila Leite da Silva. Quotidiano e po<strong>de</strong>r em São Paulo no século XIX. 2ª edição revisada.<br />
São Paulo: Brasiliense, 1995, p.20<br />
15 MESGRAVIS, Op. cit. p.175<br />
16 DIAS, Op. cit. p.14