Anais - Territórios do PolÃtico - vol. 1 - Universidade Estadual de ...
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levavam e traziam reca<strong>do</strong>s; carregavam pacotes, lenço, leque,<br />
vela, missal, guarda-chuva, guarda-sol, etc. 10<br />
Nas famílias pobres, o recurso <strong>de</strong> a<strong>do</strong>ção <strong>do</strong>s expostos foi mais utiliza<strong>do</strong>, pois<br />
além da bene<strong>vol</strong>ência, estariam garantin<strong>do</strong> o trabalho <strong>de</strong>las, mais fiel e menos<br />
problemático <strong>do</strong> que um escravo. O trabalho <strong>do</strong>s expostos enquadrava-se na<br />
economia familiar:<br />
Em uma socieda<strong>de</strong> escravista (...), os expostos incorpora<strong>do</strong>s a<br />
uma família po<strong>de</strong>riam representar um complemento i<strong>de</strong>al <strong>de</strong><br />
mão-<strong>de</strong>-obra gratuita. Por isso, criar um exposto po<strong>de</strong>ria trazer<br />
vantagens económicas; (...) teriam mão-<strong>de</strong>-obra suplementar, e<br />
gratuita, mais eficiente <strong>do</strong> que a <strong>do</strong> escravo, porque livre e<br />
ligada a laços <strong>de</strong> fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> afeição e <strong>de</strong> reconhecimento. 11<br />
Enfim, a entida<strong>de</strong> familiar, seja a gran<strong>de</strong> família patriarcal proprietária ou as<br />
pobres famílias <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> uma economia rudimentar foram às gran<strong>de</strong>s<br />
acolhe<strong>do</strong>ras <strong>do</strong>s expostos, junto com a Igreja Católica até mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> séc. XIX.<br />
2. As condições sociais das crianças expostas e a atuação da carida<strong>de</strong> pela Igreja<br />
Foi no <strong>de</strong>correr <strong>do</strong> século XIX que a questão da infância aban<strong>do</strong>nada tornou-se<br />
um grave problema social na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. Se até o final <strong>do</strong> século XVIII, a<br />
pacata vila paulista oferecia números insignificantes <strong>de</strong> expostos, sen<strong>do</strong> elas<br />
tranquilamente absorvidas pela carida<strong>de</strong> religiosa das famílias e pelas instituições<br />
religiosas, isso mu<strong>do</strong>u no século seguinte, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao crescimento populacional e<br />
urbano. As autorida<strong>de</strong>s políticas sempre negligeciaram o assunto, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> a solução para as<br />
iniciativas <strong>de</strong> particulares. As taxas <strong>de</strong> aban<strong>do</strong>no eram elevadíssimas. “(...), a taxa <strong>de</strong><br />
exposição <strong>de</strong> crianças na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, no início <strong>do</strong> século XIX, era das mais<br />
elevadas <strong>do</strong> Brasil. (...) 15,9% <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os nascimentos livres <strong>do</strong> perío<strong>do</strong>.” 12 Talvez, a<br />
hipótese mais forte e visível seja o eleva<strong>do</strong> nível <strong>de</strong> prostituição:<br />
10 MOTT, Maria Lúcia <strong>de</strong> Barros. Ser mãe: a escrava em face <strong>do</strong> aborto e <strong>do</strong> infanticídio. Revista <strong>de</strong><br />
História, São Paulo, n. 120, p. 85 – 96 jan. – jun. 1989, p.89<br />
11 MARCILIO, Op. cit. p.137<br />
12 MARCILIO, Op. cit. p.63