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Anais - Territórios do Político - vol. 1 - Universidade Estadual de ...

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tradição. Nenhuma criança encontrada na porta <strong>de</strong> uma casa <strong>de</strong>veria ser <strong>de</strong>ixada sem<br />

cuida<strong>do</strong>s.” 6 Além <strong>do</strong> acolhimento, havia a prática <strong>do</strong> compadrio, ou seja, a<strong>do</strong>ção <strong>do</strong>s<br />

expostos com afilha<strong>do</strong>. “Um enjeita<strong>do</strong> apadrinha<strong>do</strong> criava imediatamente vínculos <strong>de</strong><br />

parentesco com uma re<strong>de</strong> imensa <strong>de</strong> indivíduos.” 7 Segun<strong>do</strong> Venâncio:<br />

A socieda<strong>de</strong> brasileira <strong>de</strong> outrora atribuía gran<strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong><br />

aos padrinhos. O parentesco espiritual era reconheci<strong>do</strong><br />

socialmente, implicava respeito e obediência por parte <strong>do</strong><br />

afilha<strong>do</strong>, assim como proteção e auxílio por parte <strong>de</strong> padrinhos e<br />

madrinhas. (...) os senhores nunca apadrinhavam os próprios<br />

escravos. Acreditava-se que o compadrio e a escravidão eram<br />

instituições incompatíveis. (...). O compadrio criava laços <strong>de</strong><br />

respeito e proteção superiores às normas escravistas. 8<br />

No convívio das crianças resi<strong>de</strong>ntes nas casas-gran<strong>de</strong>s vigorava o princípio da<br />

igualda<strong>de</strong> e companheirismo nas brica<strong>de</strong>iras e jogos. Para Gilberto Freyre:<br />

Tanto o excesso <strong>de</strong> mimo <strong>de</strong> mulher na criação <strong>do</strong>s meninos e<br />

até <strong>do</strong>s mulatinhos, (...) a liberda<strong>de</strong> para os meninos brancos<br />

ce<strong>do</strong> vadiarem com os moleques safa<strong>do</strong>s na bagaceira,<br />

<strong>de</strong>florarem negrinhas, emprenharem escravas, abusarem <strong>de</strong><br />

animais - constituíram vícios <strong>de</strong> educação, talvez inseparáveis <strong>do</strong><br />

regime <strong>de</strong> economia escravocrata, <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> qual se formou o<br />

Brasil. 9<br />

As funções <strong>de</strong> trabalho exercidas pelas crianças nas casas-gran<strong>de</strong>s condiziam<br />

com a sua constituição física e psíquica, realizavam pequenas tarefas nos serviços<br />

<strong>do</strong>mésticos:<br />

Faziam às vezes <strong>de</strong> pagem, <strong>de</strong> moleque-<strong>de</strong>-reca<strong>do</strong>s, ou criada;<br />

iam buscar o jornal ou o correio nas vilas e cida<strong>de</strong>s da vizinhança;<br />

encilhavam os cavalos; arrumavam o quarto; ajudavam a vestir,<br />

<strong>de</strong>svestir e a banhar as pessoas da casa e os visitantes;<br />

engraxavam os sapatos; escovavam as roupas; serviam a mesa,<br />

espantavam mosquitos; balançavam a re<strong>de</strong>; abanavam o fogo;<br />

buscavam água no poço; limpavam a cozinha; faziam compras;<br />

6 I<strong>de</strong>m, p.137<br />

7 VENÂNCIO, Renato Pinto. Famílias aban<strong>do</strong>nadas: assistência à criança <strong>de</strong> camadas populares no Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro e em Salva<strong>do</strong>r – séculos XVIII e XIX. 1ª edição. Campinas: Papirus, 1999, p.138<br />

8 VENANCIO, Op. cit. p.138<br />

9 FREYRE, Gilberto. Casa-gran<strong>de</strong> & senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia<br />

patriarcal. Apresentação <strong>de</strong> Fernan<strong>do</strong> Henrique Car<strong>do</strong>so. 48ª edição revisada. São Paulo: Global, 2003,<br />

p.459

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