Anais - Territórios do PolÃtico - vol. 1 - Universidade Estadual de ...
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Durante o ban<strong>de</strong>irismo, época, em que não revela a <strong>do</strong>cumentação<br />
a menor informação a respeito <strong>de</strong> expostos mas muitas <strong>de</strong><br />
bastar<strong>do</strong>s, o problema era com certeza soluciona<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro da<br />
família patriarcal, com assimilação <strong>de</strong>sses elementos para<br />
integrarem o contingente das ban<strong>de</strong>iras, absorve<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> homens,<br />
ou para trabalharem nas pequenas lavouras <strong>de</strong> subsistência <strong>do</strong>s<br />
gran<strong>de</strong>s ban<strong>de</strong>irantes. (...). É nessas pequenas ou médias<br />
proprieda<strong>de</strong>s, exploradas com trabalho da "família <strong>do</strong> proprietário<br />
e seus agrega<strong>do</strong>s que encontramos pela primeira vez menção<br />
constante <strong>do</strong>s expostos. 2<br />
Até mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> séc. XIX, a questão <strong>do</strong> aban<strong>do</strong>no infantil estava incorporada<br />
nos <strong>do</strong>mínios das famílias e entida<strong>de</strong>s religiosas. Marcilio <strong>de</strong>fine o sistema social da<br />
carida<strong>de</strong>:<br />
Do perío<strong>do</strong> colonial até mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIX vigorou a fase (...)<br />
caritativa. O assistencialismo <strong>de</strong>ssa fase tem como marca<br />
principal o sentimento da fraternida<strong>de</strong> humana, <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong><br />
paternalista, sem pretensão a mudanças sociais. De inspiração<br />
religiosa, (...) privilegiam a carida<strong>de</strong> e a beneficência. Sua<br />
atuação se caracteriza pelo imediatismo, com os mais ricos e<br />
po<strong>de</strong>rosos procuran<strong>do</strong> minorar o sofrimento <strong>do</strong>s mais<br />
<strong>de</strong>svali<strong>do</strong>s, por meio <strong>de</strong> esmolas ou das boas ações (...),<br />
esperam receber a salvação <strong>de</strong> suas almas, (...), aqui na terra, o<br />
reconhecimento da socieda<strong>de</strong> e o status <strong>de</strong> beneméritos. 3<br />
A maioria da população paulista ainda era essencialmente rural e os enjeita<strong>do</strong>s<br />
eram absorvi<strong>do</strong>s pelas famílias patriarcais. Elas<br />
submetem-se aos laços <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>pendência. “A absorção natural <strong>do</strong>s expostos no meio rural explica o fato <strong>de</strong> não<br />
serem menciona<strong>do</strong>s como problema social nas vilas e na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, antes <strong>do</strong>s<br />
primeiros anos <strong>do</strong> século XIX.” 4 A presença <strong>de</strong> filhos <strong>de</strong> criação não estava limitada aos<br />
grupos patriarcais, todas as famílias tinham o costume <strong>de</strong> acolher enjeita<strong>do</strong>s. “O<br />
sistema informal ou priva<strong>do</strong> <strong>de</strong> criação <strong>do</strong>s expostos em casas <strong>de</strong> famílias foi o sistema<br />
<strong>de</strong> proteção à infância aban<strong>do</strong>nada mais amplo, e presente em toda a História <strong>do</strong><br />
Brasil.” 5<br />
O hábito <strong>de</strong> acolher expostos <strong>de</strong>ve-se a matriz cultural brasileira,<br />
fundada na solidarieda<strong>de</strong> cristã. “Há que consi<strong>de</strong>rar que a carida<strong>de</strong> cristã é uma<br />
2 MESGRAVIS, Op. cit. p.171<br />
3 MARCILIO, Maria Luiza. História social da criança aban<strong>do</strong>nada. 1ª edição. São Paulo: Hucitec, 1998,<br />
p.134<br />
4 MESGRAVIS, Op. cit. p.171<br />
5 MARCILIO, Op. cit. p.136