Anais - Territórios do PolÃtico - vol. 1 - Universidade Estadual de ...
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pesquisa e na exposição, seja tími<strong>do</strong> nas conclusões”. Novamente, percebe-se nos<br />
resenhistas o incômo<strong>do</strong> com a ausência <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sfecho programático explícito. 33<br />
Sergio Milliet, amigo <strong>de</strong> Sérgio Buarque <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os anos 1920 também não lhe<br />
poupa da crítica, no Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1936:<br />
Desejaríamos [...] encontrar numa obra tão bem pensada e<br />
escrita alguns princípios nortea<strong>do</strong>res, úteis para os que se<br />
preparam para o governo <strong>de</strong> amanhã, e no escritor <strong>de</strong> primeira<br />
gran<strong>de</strong>za, que o livro revela, uma <strong>de</strong>ssas almas <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>r que<br />
tanto carecemos. 34<br />
Robert Wegner propõe hipótese explicativa para a não-resolução das tensões<br />
<strong>de</strong> Raízes <strong>do</strong> Brasil. Sérgio Buarque indica a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formulação <strong>de</strong> um caminho<br />
próprio às singularida<strong>de</strong>s da formação histórica brasileira (“nosso ritmo<br />
espontâneo”). 35 Para Wegnero <strong>de</strong>sencontro <strong>do</strong> ensaio resultaria da impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
cruzamento entre iberismo e americanismo. Esses <strong>do</strong>is eixos são paralelos, nunca se<br />
cruzam: “tampouco [...] se po<strong>de</strong>ria esperar <strong>do</strong> lega<strong>do</strong> ibérico algum traço compatível<br />
com a socieda<strong>de</strong> burguesa, pois <strong>de</strong>sta tradição nasce a cordialida<strong>de</strong>, que dificulta a<br />
formação <strong>de</strong> uma esfera propriamente pública”. 36<br />
Destarte, este trabalho interessa-se por um aspecto específico da tensão <strong>de</strong><br />
Raízes <strong>do</strong> Brasil e das resenhas críticas acima observadas. Este aspecto se relaciona ao<br />
horizonte <strong>de</strong> espera <strong>do</strong>s leitores, on<strong>de</strong> “a literatura como acontecimento cumpre-se<br />
primordialmente [...], seus contemporâneos e pósteros, ao experienciar a obra” 37 .<br />
Helio Vianna, historia<strong>do</strong>r, intelectual militante <strong>do</strong> Integralismo nos anos 1930<br />
escreve uma “Nota sobre Raízes <strong>do</strong> Brasil” n’O Jornal, <strong>de</strong> primeiro <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />
1936. De início, acusa o ensaio <strong>de</strong> Sérgio Buarque <strong>de</strong> reunir “apreciações francamente<br />
errôneas com facilida<strong>de</strong>”, embora elas não necessariamente invali<strong>de</strong>m seus méritos.<br />
As apreciações errôneas são <strong>de</strong>correntes <strong>do</strong> fato <strong>de</strong> ser “amigo das generalizações, a<br />
exemplo <strong>do</strong> dirigente da coleção [Documentos Brasileiros], Sr. Gilberto Freyre”. Helio<br />
Vianna aponta em Raízes <strong>do</strong> Brasil a presença <strong>de</strong> “raciocínios pre<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s e<br />
33 AMARAL, R. Folha da Manhã. São Paulo, SP, 28, out., 1936.<br />
34 MILLIET, S. Raízes <strong>do</strong> Brasil. O Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> S. Paulo. São Paulo, SP, 18, Nov., 1936.<br />
35 HOLANDA, S.B. op. cit., p. 188.<br />
36 WEGNER, R. op. cit., p. 51.<br />
37 JAUSS, H. R. op. cit., p. 26.