Anais - Territórios do PolÃtico - vol. 1 - Universidade Estadual de ...
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Hitler? 31 Tem a mesma sensação Oscar Men<strong>de</strong>s, da Folha <strong>de</strong> Minas (Belo Horizonte), na<br />
202<br />
futuro <strong>de</strong> “Nossa Re<strong>vol</strong>ução”. 29 Eis aí, após o <strong>de</strong>svendamento das carências, o<br />
horizonte <strong>de</strong> expectativas que se apresenta na obra.<br />
Limeira Tejo, no jornal Diário, <strong>de</strong> Santos-SP, em 21 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1936 saúda<br />
o aparecimento <strong>de</strong> Raízes <strong>do</strong> Brasil como um “trabalho digno da época presente”. O<br />
pernambucano Limeira Tejo percebe a motivação subjacente ao ensaio buarquiano, ao<br />
afirmar: “a <strong>de</strong>mocracia na socieda<strong>de</strong> brasileira era uma exigência histórica em um país<br />
<strong>de</strong> formação tão heterogênea [...] já não nos envergonhamos <strong>de</strong> nossas raízes<br />
misturadas”. A escrita buarquiana (e daquela geração, como um to<strong>do</strong>), sua forma<br />
ensaística <strong>de</strong> interpretação <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> vem a romper com a pura cronologia <strong>de</strong> fatos<br />
históricos: “Durante muito tempo se acreditou no Brasil que a história fosse um ramo<br />
da apologética. O que <strong>de</strong>veria interessar aos historia<strong>do</strong>res era o fato em si [...], a pura<br />
celebração <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>zas e <strong>de</strong> heróis”. 30<br />
No Jornal <strong>do</strong> Brasil, Múcio Leão aguardava com anseio o lançamento da obra,<br />
afinal, “Sérgio já era consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> um autor excelente” e gozava da fama <strong>de</strong> ser o<br />
brasileiro “que mais ama os livros”. Contu<strong>do</strong>, o último capítulo, que contém a crítica<br />
<strong>do</strong> Integralismo, na opinião <strong>do</strong> resenhista parece mais um “apêndice”. Questiona:<br />
afinal, Sérgio Buarque <strong>de</strong> Holanda é um Republicano, liberal-<strong>de</strong>mocrata ou discípulo <strong>de</strong><br />
seção “A Alma <strong>do</strong>s Livros” <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1937. O livro <strong>de</strong> Sérgio Buarque <strong>de</strong><br />
Holanda é “um gran<strong>de</strong> provoca<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates”, mas incorre em “grave falha”: “não<br />
conclui [...], não resume numa síntese forte e clara o seu julgamento, nem organiza<br />
num corpo <strong>de</strong> <strong>do</strong>utrina capaz <strong>de</strong> levar o Brasil a uma renovação <strong>de</strong> valores”. 32<br />
A Folha da Manhã (SP), <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1936, na pena <strong>de</strong> Rubens <strong>do</strong><br />
Amaral, avalia que Sérgio Buarque “nos <strong>de</strong>u um estu<strong>do</strong> interessantíssimo sobre a<br />
influência da raça portuguesa na formação <strong>de</strong> nossa psicologia nacional”. Em seguida,<br />
contu<strong>do</strong>, assume o tom crítico: “pena que o Sr. Sérgio Buarque <strong>de</strong> Holanda, notável na<br />
29 É interessante, neste ponto, retomar a reflexão <strong>de</strong> Koselleck: “o mo<strong>de</strong>rno conceito <strong>de</strong> história extrai<br />
sua ambivalência da obrigação <strong>de</strong> ter que ser pensa<strong>do</strong> como um to<strong>do</strong> (ainda que por razões estéticas),<br />
mas que ao mesmo tempo jamais po<strong>de</strong> ser da<strong>do</strong> como termina<strong>do</strong>, pois o futuro permanece<br />
<strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong>, ainda que <strong>de</strong> forma conhecida”. In: KOSELLECK, R. Futuro Passa<strong>do</strong>: contribuição à<br />
semântica <strong>do</strong>s tempos históricos. Rio <strong>de</strong> Janeiro: PUC/Contraponto, 2006, p. 132.<br />
30 TEJO, L. Diário. Santos, SP, 21, nov., 1936.<br />
31 LEÃO, M. Registro Literário. Jornal <strong>do</strong> Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ, 7, Nov., 1936.<br />
32 MENDES, O. Alma <strong>do</strong>s Livros. Folha <strong>de</strong> Minas. Belo Horizonte, MG, 17, jan., 1937.