Anais - Territórios do PolÃtico - vol. 1 - Universidade Estadual de ...
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201<br />
Buarque <strong>de</strong> Holanda <strong>de</strong>smascaram no projeto da “brasilida<strong>de</strong> integral” o traço<br />
conserva<strong>do</strong>r <strong>de</strong> uma remo<strong>de</strong>lagem, fruto <strong>de</strong> “intelectuais neurastênicos”, inscrita na<br />
tradição brasileira <strong>de</strong> refreamento, anti<strong>de</strong>mocrático, <strong>de</strong> oposições políticas. 25<br />
Este contexto que <strong>de</strong>lineamos contém as experiências, expectativas e<br />
necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> constituição <strong>de</strong> senti<strong>do</strong>, motiva<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> uma reconstrução (crítica) <strong>do</strong><br />
passa<strong>do</strong>. 26<br />
IV<br />
O ensaio <strong>de</strong> 1936, tributário igualmente <strong>de</strong> sua estada na Alemanha e <strong>do</strong><br />
convívio com o historicismo e as ciências <strong>do</strong> espírito, buscou compreen<strong>de</strong>r os<br />
obstáculos historicamente antepostos à mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> brasileira (em sua<br />
temporalida<strong>de</strong> específica), especialmente as questões da <strong>de</strong>mocracia e da cidadania. A<br />
sobreposição da esfera privada e o patrimonialismo constituíam os entraves que<br />
caracterizavam a tensão entre tradição e mudança histórica.<br />
Do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> seu presente, Sérgio afirma que o Brasil daqueles anos<br />
estava viven<strong>do</strong> “entre <strong>do</strong>is mun<strong>do</strong>s: um <strong>de</strong>finitivamente morto e outro que luta por vir<br />
à luz”. 27 Esperan<strong>do</strong> pela novida<strong>de</strong>, pela Re<strong>vol</strong>ução representada pelo <strong>de</strong>clínio da<br />
or<strong>de</strong>m agrária e patriarcal,<br />
testemunhamos presentemente, e por certo continuaremos a<br />
testemunhar por largo tempo, as ressonâncias últimas <strong>do</strong> lento<br />
cataclismo, cujo senti<strong>do</strong> parece ser o <strong>do</strong> aniquilamento das<br />
raízes ibéricas <strong>de</strong> nossa cultura para a inauguração <strong>de</strong> um estilo<br />
novo, que crismamos talvez ilusoriamente <strong>de</strong> americano. 28<br />
Don<strong>de</strong> se <strong>de</strong>preen<strong>de</strong> que a reconstrução histórica fundamenta-se numa noção<br />
<strong>de</strong> temporalida<strong>de</strong> complexa, que articula presente e passa<strong>do</strong> com vistas ao <strong>de</strong>vir, ao<br />
25 Id., Ibid., p. 93.<br />
26 RÜSEN, J. op. cit., p.84.<br />
27 HOLANDA, S.B. Raízes <strong>do</strong> Brasil. 26ª. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 180.<br />
28 Id., Ibid., p. 172.