Anais - Territórios do PolÃtico - vol. 1 - Universidade Estadual de ...
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conceitos temporários <strong>de</strong> vida, valores culturais sempre relativos, em processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>vir,<br />
<strong>de</strong> mudança”. 8<br />
Segun<strong>do</strong> Dias, po<strong>de</strong>-se observar em toda sua obra um <strong>de</strong>staque, ou uma<br />
preocupação com a questão da mudança histórica, consi<strong>de</strong>rada inerente à vida social:<br />
“há um fulcro inspira<strong>do</strong>r comum a to<strong>do</strong>s os seus trabalhos, que é a reconstituição das<br />
tensões entre as tradições e a mudança histórica”. 9 No fun<strong>do</strong>, Raízes <strong>do</strong> Brasil trata-se<br />
<strong>de</strong> uma obra sobre a (não) mo<strong>de</strong>rnização brasileira ou sobre os obstáculos à<br />
mo<strong>de</strong>rnização e a incompatibilida<strong>de</strong> entre cordialida<strong>de</strong> e civilida<strong>de</strong>. 10<br />
Raízes <strong>do</strong> Brasil não resolve suas tensões internas. Não há um <strong>de</strong>sfecho<br />
programático como era comum à expectativa <strong>do</strong>s autores e leitores da época. Há, no<br />
máximo, um conclame para que se observe “o nosso ritmo espontâneo”, 11 isto é, a<br />
particularida<strong>de</strong> brasileira frente ao processo amplo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização. A temporalida<strong>de</strong><br />
se apresenta, portanto, uma chave interpretativa privilegiada.<br />
III<br />
Em relação ao contexto intelectual e político <strong>do</strong>s anos 1920-30, o ensaio<br />
representa “o olhar maduro <strong>do</strong> intelectual que encarna, ele próprio, a superação crítica<br />
<strong>do</strong> sistema em que se formou”. 12 O “sistema” em questão trata-se <strong>do</strong> movimento<br />
mo<strong>de</strong>rnista nas letras e nas artes brasileiras no início <strong>do</strong> século XX. O projeto <strong>de</strong><br />
“interpretação <strong>do</strong> Brasil” <strong>de</strong> Sérgio Buarque atravessaria, portanto, o movimento e<br />
culminaria na publicação <strong>de</strong> Raízes <strong>do</strong> Brasil, em 1936, como uma espécie <strong>de</strong> “acerto<br />
<strong>de</strong> contas” com os mo<strong>de</strong>rnistas.<br />
Em 1924, funda a revista Estética, em parceria com Pru<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Moraes Neto,<br />
com o objetivo <strong>de</strong> preencher o vazio causa<strong>do</strong> pelo expiro da Revista Klaxon (1922-23),<br />
da qual havia participa<strong>do</strong> como colabora<strong>do</strong>r eventual e representante no Rio <strong>de</strong><br />
8 DIAS, M.O.L.S. Sérgio Buarque <strong>de</strong> Holanda, historia<strong>do</strong>r. In: Sérgio Buarque <strong>de</strong> Holanda. São Paulo:<br />
Ática, 1985 (Gran<strong>de</strong>s Cientistas Sociais, 51), p. 16.<br />
9 Id., Ibid., p. 11.<br />
10 WEGNER, R. op. cit., p. 29.<br />
11 HOLANDA, S.B. Raízes <strong>do</strong> Brasil. 26ª. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 188.<br />
12 PRADO, A. A. Raízes <strong>do</strong> Brasil e o mo<strong>de</strong>rnismo. In: CÂNDIDO, A. Sérgio Buarque <strong>de</strong> Holanda e o Brasil.<br />
São Paulo: Ed. Fund. Perseu Abramo, 1998, 71-80.