Anais - Territórios do PolÃtico - vol. 1 - Universidade Estadual de ...
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convertida em império. Essa diferença, entre outros fatores, acabou por “dividir” o<br />
continente entre os <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes da monarquia portuguesa, inscritos no contexto <strong>do</strong><br />
processo <strong>de</strong> restauração em curso na Europa; e <strong>de</strong> outro, o restante <strong>do</strong>s países<br />
americanos, imbuí<strong>do</strong>s <strong>de</strong> fervores republicanos e liberais que os inspiravam em<br />
direção oposta à <strong>do</strong> Brasil 2 .<br />
Durante o Império a situação brasileira contrastava com a das ex-colônias<br />
hispânicas, que se fragmentaram após as lutas pela in<strong>de</strong>pendência e foram<br />
perpassadas por fortes conflitos entre po<strong>de</strong>res locais e centralistas. O processo <strong>de</strong><br />
configuração das repúblicas foi lento, complexo e marca<strong>do</strong> por conflitos internos, e as<br />
elites imperiais interpretaram essa dificulda<strong>de</strong> como expressão da anarquia e<br />
<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m que caracterizavam o regime republicano; o Império, por sua vez, se<br />
autoproclamava expressão da or<strong>de</strong>m e da unida<strong>de</strong>. Em contrapartida os vizinhos<br />
republicanos criticaram durante to<strong>do</strong> século XIX o regime imperial e escravocrata,<br />
afirmavam que as instituições brasileiras eram retrógradas e retratavam o Brasil como<br />
representante <strong>do</strong> “Antigo Regime” e da contra-re<strong>vol</strong>ução 3 .<br />
Na busca pela legitimação e consequente consolidação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> nacional<br />
brasileiro a afirmação da singularida<strong>de</strong> e “supremacia” <strong>do</strong> jovem país no continente foi<br />
intensamente veiculada. Neste senti<strong>do</strong>, é importante <strong>de</strong>stacar a atuação <strong>do</strong> Instituto<br />
Histórico e Geográfico Brasileiro 4 , forma<strong>do</strong> nos mol<strong>de</strong>s das aca<strong>de</strong>mias ilustradas <strong>do</strong><br />
século XVIII, mas com uma preocupação própria da primeira meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XIX, a<br />
saber, articular cientificida<strong>de</strong> à questão nacional 5 . A construção <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> brasileiro<br />
sob o signo da monarquia e seu processo <strong>de</strong> afirmação foi <strong>de</strong>sse mo<strong>do</strong>, responsável<br />
por um afastamento <strong>do</strong> Brasil em relação aos <strong>de</strong>mais países americanos. Afastamento<br />
este, perpetua<strong>do</strong> no âmbito <strong>do</strong> discurso e, consequentemente, <strong>do</strong> imaginário nacional,<br />
2 CORRÊA, Luiz Felipe <strong>de</strong> Seixas. O Brasil e os seus vizinhos: uma aproximação histórica. In: A visão <strong>do</strong><br />
outro: seminário Brasil – Argentina. Brasília: FUNAG, 2000. p. 37.<br />
3 CAPELATO, Maria Helena. O “gigante brasileiro” na América Latina: ser ou não ser latino-americano In<br />
MOTA, Carlos G. (org) Viagem Incompleta. A experiência brasileira (1500-2000) A Gran<strong>de</strong> Transação. São<br />
Paulo: Editora SENAC, 2000 p 285-316.<br />
4 Cf PRADO, Maria Lígia. O Brasil e a “distante América <strong>do</strong> Sul” In: Revista <strong>de</strong> História. São Paulo: USP n°<br />
145, 2001, p 127-150. A autora observou a difusão <strong>de</strong> conceitos negativos sobre as repúblicas hispanoamericanas<br />
no Brasil, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> a produção historiográfica vinculada ao Instituto Histórico e<br />
Geográfico Brasileiro. Segun<strong>do</strong> a autora, a repetição <strong>de</strong> tais argumentos em jornais, escolas, câmara e<br />
sena<strong>do</strong>, contribuíram para a formação <strong>de</strong> um imaginário – que acabou por forjar uma memória coletiva<br />
– sobre a outra América.<br />
5 Guimarães, 1988.