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Anais - Territórios do Político - vol. 1 - Universidade Estadual de ...

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156<br />

mo<strong>de</strong>lo legitima<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Centraliza<strong>do</strong> tão presente nos livros <strong>de</strong> História? 28<br />

Segun<strong>do</strong> Bignotto:<br />

Com Maquiavel tivemos o início, um potente realismo que<br />

<strong>de</strong>ixaria marcas profundas nos pensa<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s séculos<br />

seguintes. Mas, muito mais <strong>do</strong> que se transformar em uma<br />

unanimida<strong>de</strong>, como aquele que, segun<strong>do</strong> Jean Starobinski<br />

(1990), ergueu-se em torno da obra <strong>de</strong> Montesquieu (1989-<br />

1755), Maquiavel se converteu, nas palavras <strong>de</strong> Bene<strong>de</strong>to<br />

Croce (1866-1952), em um enigma. Des<strong>de</strong> sua morte, muitas<br />

gerações se lançaram na busca <strong>do</strong> significa<strong>do</strong> último <strong>de</strong> seus<br />

escritos, na tentativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>cifrar a relação que se tece entre<br />

suas diversas obras. Demônio a ser esconjura<strong>do</strong> segun<strong>do</strong><br />

alguns, republicano convicto e <strong>de</strong>fensor das liberda<strong>de</strong>s segun<strong>do</strong><br />

outros, patrono da reunificação da Itália para seus<br />

contemporâneos, os perfis se multiplicam 29 .<br />

Dentro <strong>do</strong> que foi aborda<strong>do</strong> até agora, po<strong>de</strong>mos sem dúvida, afirmar que o<br />

pensamento <strong>de</strong> Nicolau Maquiavel está intrinsecamente liga<strong>do</strong> as questões históricas<br />

<strong>do</strong> seu tempo e, muito mais ainda, liga<strong>do</strong> a necessida<strong>de</strong> histórica que é a <strong>de</strong> fortalecer<br />

o Esta<strong>do</strong>, buscan<strong>do</strong> garantir o bem <strong>do</strong>s seus súditos, como fica explícito em suas<br />

próprias palavras:<br />

Também <strong>de</strong>ve o príncipe mostrar-se amante das virtu<strong>de</strong>s e<br />

honrar os que se <strong>de</strong>stacam em qualquer arte. Deve, além disso,<br />

estimular os cidadãos a exercer suas ativida<strong>de</strong>s livremente, no<br />

comércio, na agricultura, e em qualquer outra área, <strong>de</strong> sorte<br />

que o agricultor não <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> enriquecer suas proprieda<strong>de</strong>s por<br />

me<strong>do</strong> <strong>de</strong> que lhe sejam arrebatadas nem <strong>de</strong>ixa o comerciante<br />

<strong>de</strong> fazer crescer por recear os impostos 30 .<br />

28 Não queren<strong>do</strong> alongar nossa discussão, mas o fato é que na maioria <strong>do</strong>s livros <strong>de</strong> história utiliza<strong>do</strong><br />

pelos colégios no Brasil tratam Maquiavel como um legitima<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> absolutista. Le<strong>do</strong> engano,<br />

Maquiavel <strong>de</strong>ixa claro sua preocupação com a liberda<strong>de</strong>, com a socieda<strong>de</strong> e principalmente com a paz.<br />

A propósito, em suas principais obras, não existe sequer uma referência direta ao fator absolutismo. O<br />

único fator que lhe po<strong>de</strong> pesar contra é justamente sua frieza em tratar assuntos como guerra, violência<br />

e o mo<strong>do</strong> como <strong>de</strong>ve o príncipe agir perante os percalços políticos. Não iremos citar aqui as obras em<br />

que ele <strong>de</strong>ssa forma é trata<strong>do</strong>, mas está aqui a dica para uma futura pesquisa (Nota <strong>do</strong> autor).<br />

29 BIGNOTTO, Newton. Nicolau Maquiavel (1469-1527) e a Nova Reflexão Política. In. MAINKA, Peter<br />

Johann (org.). A Caminho <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> Mo<strong>de</strong>rno: Concepções Clássicas da Filosofia Política no século XVI e<br />

o seu Contexto Histórico. Maringá: EDUEM, 2007 (p.49-69).<br />

30 MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Nova Cultural, 2000.

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