Anais - Territórios do PolÃtico - vol. 1 - Universidade Estadual de ...
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155<br />
ódio <strong>do</strong>s súditos que em outras ocasiões lhe causaria a ruína. Outrossim, <strong>de</strong>ve<br />
ele amar os homens como <strong>de</strong>sejam esses serem ama<strong>do</strong>s e ser temi<strong>do</strong>s por<br />
aqueles que <strong>de</strong>vem temê-lo, basean<strong>do</strong>-se naquilo que é seu e não <strong>do</strong>s outro 26 .<br />
Outro pensamento divergente entre Maquiavel e os <strong>de</strong>mais pensa<strong>do</strong>res é a<br />
questão <strong>do</strong> príncipe se apoiar no alcance da metas supremas <strong>de</strong> honra, glória e<br />
a fama. Ele concorda, mas acrescenta um fator que até esse momento havia<br />
fica<strong>do</strong> <strong>de</strong> fora <strong>do</strong>s <strong>de</strong>bates políticos, que é a necessida<strong>de</strong> e a forma como po<strong>de</strong><br />
ser manti<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> isso. Ele <strong>de</strong>ixa claro que sem a força militar, a força da<br />
intimidação, nada disso seria possível manter. Acreditar que a glória, a fama e a<br />
honra po<strong>de</strong>m ser mantidas apenas com a boa vonta<strong>de</strong>, consiste em uma<br />
tremenda ingenuida<strong>de</strong>.<br />
Outra questão en<strong>vol</strong>ve a moral cristã. Os pensa<strong>do</strong>res acreditavam que as<br />
virtu<strong>de</strong>s responsáveis por capacitar o príncipe a frente <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, em seus mais<br />
nobres fins, <strong>de</strong>veriam ser alcançadas por meio da moral cristã. Entre essas<br />
virtu<strong>de</strong>s estão as já citadas honra, glória e fama. Maquiavel acredita que tu<strong>do</strong><br />
isso é realmente importante, mas como o mesmo <strong>de</strong>ixa claro, não po<strong>de</strong>mos<br />
confundir preceitos religiosos com as necessida<strong>de</strong>s fundamentais para se<br />
manter um Esta<strong>do</strong>. Sem uma forma virtuosa <strong>de</strong> lidar com os malfazejos<br />
problemas políticos, alcançar essas virtu<strong>de</strong>s seria tarefa muito difícil. Ele <strong>de</strong>ixa<br />
claro que “nada promove tanto a estima <strong>de</strong> um príncipe como as gran<strong>de</strong>s<br />
empresas e os raros exemplos” 27 .<br />
De fato que a ironia é uma figura <strong>de</strong> linguagem sempre presente em “O<br />
Príncipe”, pois Maquiavel <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nha <strong>do</strong> posicionamento a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> por alguns escritores<br />
<strong>do</strong> perío<strong>do</strong>, obviamente, sem citá-lo, mas <strong>de</strong>ixa nas entrelinhas seu real objetivo. Mas,<br />
<strong>de</strong> fato, qual a lição que po<strong>de</strong>mos extrair <strong>de</strong>ssa tão famosa obra <strong>de</strong> Nicolau<br />
Maquiavel? Qual foi o verda<strong>de</strong>iro lega<strong>do</strong> e como o seu discurso político produziu um<br />
26 MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Nova Cultural, 2000.<br />
27 I<strong>de</strong>m.