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Anais - Territórios do Político - vol. 1 - Universidade Estadual de ...

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sempre na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um estima<strong>do</strong> ora<strong>do</strong>r sacro, isentan<strong>do</strong>-o <strong>de</strong> qualquer injustiça<br />

em sua conduta como eclesiástico. Ao contrário, teria apresenta<strong>do</strong> ótimas qualida<strong>de</strong>s<br />

numa carreira positiva 13 .<br />

Entretanto, a mencionada inserção <strong>de</strong> Januário nos mais varia<strong>do</strong>s setores da<br />

socieda<strong>de</strong> oitocentista provocou entre aqueles que tentaram traçar seus feitos, uma<br />

disputa memorialística acerca <strong>de</strong> sua trajetória. Para os representantes <strong>do</strong> clero,<br />

parece haver constrangimento em admitir que o cônego tenha tenta<strong>do</strong> contra a<br />

imagem <strong>de</strong> d. Pedro I pelas páginas <strong>de</strong> um jornal <strong>de</strong> aspirações republicanas. No<br />

sesquicentenário <strong>de</strong> sua morte, Monsenhor Guilherme Schubert lembra que<br />

“consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> figura polêmica [Januário], é justiça esclarecer que isso não se refere a<br />

ele como eclesiástico 14 .” E conclui:<br />

“Devo, porém, dizer que, se o cônego Januário é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong><br />

figura controvertida, não ocorre isso por procedimentos<br />

moralmente censuráveis, mas pelas polêmicas políticas,<br />

originadas por seus sentimentos patrióticos <strong>de</strong> amor ao Brasil”<br />

(1997, p. 194).<br />

O empenho em conduzir uma narração asséptica acerca da vida <strong>do</strong> cônego po<strong>de</strong> ser<br />

indicativo da gravida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas disputas políticas. Os escritos <strong>de</strong> Januário seriam<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s por José Bonifácio – então ministro <strong>do</strong> Reino e Exterior – imaturos e<br />

incendiários, <strong>de</strong>letérios em seu cerne aos i<strong>de</strong>ais da “boa or<strong>de</strong>m”. Persegui<strong>do</strong>, Januário<br />

é preso e confina<strong>do</strong> na Fortaleza <strong>de</strong> Santa Cruz, em Niterói. Gonçalves Le<strong>do</strong> não teria<br />

melhor sorte ao ter <strong>de</strong> se exilar em Buenos Aires. No mês seguinte, Januário seria<br />

“convida<strong>do</strong> a embarcar” para fora <strong>do</strong> império com <strong>de</strong>stino à comuna <strong>de</strong> Havre, na<br />

França 15 .<br />

O cônego amarguraria meses <strong>de</strong> exílio ao ser acusa<strong>do</strong> (ao que hoje se po<strong>de</strong>ria<br />

chamar <strong>de</strong> “crime <strong>de</strong> imprensa”) <strong>de</strong> difundir o republicanismo por meio das páginas <strong>do</strong><br />

Reverbero. Em linhas gerais, tratava-se <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ais liberais que previam a instauração <strong>de</strong><br />

um Po<strong>de</strong>r Legislativo mediante a representação popular, <strong>de</strong>fesas estas extremamente<br />

13<br />

Cf. SCHUBERT, Guilherme (Mons.). Cônego Januário da Cunha Barbosa. RIHGB, Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

a. 158, n. 394, p. jan./mar. 1997.<br />

14 I<strong>de</strong>m, p. 193<br />

15 Cf. LEITE, Renato Lopes. Republicanos e Libertários: pensa<strong>do</strong>res radicais no Rio <strong>de</strong> Janeiro (1822), p.<br />

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