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Anais - Territórios do Político - vol. 1 - Universidade Estadual de ...

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142<br />

Para entrarmos no campo das disputas políticas protagonizadas pelo cônego,<br />

mencionamos brevemente seus adversários nos diversos momentos <strong>de</strong> sua trajetória<br />

política, sobretu<strong>do</strong> nos seus <strong>de</strong>bates impressos. Um <strong>de</strong> seus adversários mais<br />

ferrenhos, o general e escritor José Inácio <strong>de</strong> Abreu e Lima (1794-1869), partícipe,<br />

juntamente com Simón Bolívar nas Guerras <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência travadas durante o<br />

século XIX na América espanhola. Contra ele, Januário escreveu a peça A rusga da Praia<br />

Gran<strong>de</strong>, ou O quixotismo <strong>do</strong> general das massas, em que parodiava o herói<br />

bolivariano, equiparan<strong>do</strong>-o suas ações <strong>de</strong>spropositadas aos <strong>do</strong> herói cervantino.<br />

Outro <strong>de</strong>safeto com quem Januário acumulou <strong>de</strong>savenças foi com o<br />

economista baiano José da Silva Lisboa, futuro Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cairu – consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> por<br />

Abreu e Lima como um <strong>do</strong>s <strong>de</strong>staca<strong>do</strong>s escritores da época. Lisboa afirmava que o<br />

título <strong>do</strong> periódico dirigi<strong>do</strong> pelo cônego, Reverbero... era <strong>de</strong> “péssimo agouro por<br />

excitar terríveis idéias associadas à Re<strong>vol</strong>ução Francesa e das hórridas práticas que<br />

<strong>de</strong>screvem seus historia<strong>do</strong>res” além <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar o reverberista “um <strong>do</strong>s missionários<br />

da propaganda incendiária galomania [que] está aludin<strong>do</strong> o vulgo com falsos <strong>do</strong>gmas<br />

<strong>do</strong> para<strong>do</strong>xista <strong>de</strong> Genebra (Apud LUSTOSA, 2000, p. 190).<br />

Aos “falsos <strong>do</strong>gmas”, Cairu se reportava ao i<strong>de</strong>ário presente no movimento<br />

re<strong>vol</strong>ucionário francês, mais especificamente à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> soberania popular como fonte<br />

<strong>do</strong> po<strong>de</strong>r político preconiza<strong>do</strong> nos escritos <strong>do</strong> “para<strong>do</strong>xista <strong>de</strong> Genebra” i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong><br />

como Jean-Jacques Rousseau, ao qual Januário ousou divulgar i<strong>de</strong>ias contratualistas <strong>do</strong><br />

filósofo nas páginas <strong>de</strong> seu primeiro periódico.<br />

O cônego Januário da Cunha Barbosa não raras vezes teve seu nome associa<strong>do</strong><br />

por uma parte da historiografia como membro <strong>de</strong> um rol <strong>de</strong> “homens ilustres <strong>do</strong><br />

Brasil” 12 , ten<strong>do</strong> sua figura ligada à imagem <strong>de</strong> um indivíduo notável e eminente,<br />

admira<strong>do</strong> pelos seus pares e <strong>de</strong>testa<strong>do</strong> pelos seus opositores. Um homem cujo<br />

intelecto <strong>de</strong>spertava as mais variadas reações por parte daqueles que o<br />

acompanhavam.<br />

Se, ao mesmo tempo em que sua figura é consi<strong>de</strong>rada controversa por estar<br />

diretamente en<strong>vol</strong>vi<strong>do</strong> às infindáveis polêmicas, <strong>de</strong>riva<strong>do</strong> <strong>de</strong> sua ingerência no<br />

intrinca<strong>do</strong> jogo político da década <strong>de</strong> 1820, a Igreja procura reconstituir sua trajetória<br />

12<br />

Cf. SISSON, Sebastien Auguste. Galeria <strong>de</strong> Brasileiros Ilustres. Sena<strong>do</strong> Fe<strong>de</strong>ral, Brasília, 1999. p.<br />

437-442.

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