Anais - Territórios do PolÃtico - vol. 1 - Universidade Estadual de ...
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da nação brasileira e, em um momento seguinte, como um <strong>do</strong>s i<strong>de</strong>aliza<strong>do</strong>res e<br />
construtores <strong>do</strong> país que se emancipara.<br />
É possível abordar uma trajetória pessoal <strong>de</strong> Januário da Cunha Barbosa sem<br />
que se atribua <strong>de</strong>masia<strong>do</strong> peso as suas escolhas individuais, tampouco leve apenas em<br />
consi<strong>de</strong>ração as contingências externas que ultrapassam a este indivíduo 11 . A<br />
inter<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>cisões tanto âmbito pessoal, quanto priva<strong>do</strong> e a<br />
interrelação <strong>de</strong>stas ao contexto em que se <strong>de</strong>ram, constitui nosso objeto <strong>de</strong> análise.<br />
Convém pontuarmos uma dificulda<strong>de</strong> que se interpôs <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da<br />
pesquisa. Quais as possibilida<strong>de</strong>s em <strong>de</strong>sen<strong>vol</strong>ver uma pesquisa que tenciona ir além<br />
<strong>do</strong> mero relato laudatório se a <strong>do</strong>cumentação da qual se dispunha até então acerca <strong>do</strong><br />
indivíduo a ser investiga<strong>do</strong> enveredava invariavelmente nessa direção? Parte <strong>de</strong>ssa<br />
resposta, ou a saída para este dilema fora encontrada no lamento melancólico <strong>de</strong><br />
Sisson:<br />
“O Cônego Januário da Cunha Barbosa teria colhi<strong>do</strong> melhores<br />
louros em sua afanosa vida, e veria melhor recompensa<strong>do</strong>s os<br />
seus eminentes serviços, se a ingratidão <strong>do</strong>s homens e as<br />
tormentas políticas tanto o não houvessem contraria<strong>do</strong>” (1999,<br />
p. 442).<br />
Antes <strong>de</strong> recompensá-lo nos seus “eminentes serviços”, nos propusemos a<br />
i<strong>de</strong>ntificar e contextualizar a “ingratidão <strong>do</strong>s homens” a qual o litógrafo francês se<br />
refere. Talvez <strong>de</strong>ste mo<strong>do</strong>, a figura <strong>do</strong> cônego não seja apenas lembrada como a <strong>de</strong><br />
uma personagem perseguida, a qual a História tenha consagra<strong>do</strong> um papel menor.<br />
Mais <strong>do</strong> que isso, as “tormentas políticas” a qual Januário encabeçou, incluem um rol<br />
<strong>de</strong> ações empreendidas por seus adversários, que reagiram – por vezes com muita<br />
vivi<strong>de</strong>z – aos posicionamentos <strong>do</strong> cônego no interior da corte Real. Tais<br />
posicionamentos <strong>de</strong>vem passar pelo crivo da crítica e <strong>de</strong> uma discussão para que seus<br />
interesses e objetivos sejam postos a lume.<br />
11 O sociólogo francês Pierre Bourdieu “ilusão biográfica”, que caracteriza-se pela crença <strong>de</strong> que “a vida<br />
constitui um to<strong>do</strong>, um conjunto coerente e orienta<strong>do</strong>, que po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve ser apreendi<strong>do</strong> como expressão<br />
unitária <strong>de</strong> uma ‘intenção’ subjetiva e objetiva, <strong>de</strong> um projeto. (...) Essa vida organizada como uma<br />
história transcorre, segun<strong>do</strong> uma or<strong>de</strong>m cronológica que também é uma or<strong>de</strong>m lógica...” (BOURDIEU,<br />
1996, p. 184)