Anais - Territórios do PolÃtico - vol. 1 - Universidade Estadual de ...
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lí<strong>de</strong>res cujos mo<strong>de</strong>los po<strong>de</strong>riam ser segui<strong>do</strong>s, mas este último per<strong>de</strong>u o encanto para<br />
gran<strong>de</strong> parcela <strong>do</strong>s negros <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à invasão da Etiópia pela Itália em 1935.<br />
Assim, é possível i<strong>de</strong>ntificar na i<strong>de</strong>ologia frentenegrina a valorização <strong>do</strong><br />
autoritarismo, <strong>do</strong> nacionalismo e da miscigenação, elementos que constituíam o<br />
pensamento social brasileiro na década <strong>de</strong> 1930, bem como o anticomunismo e o<br />
antiliberalismo. To<strong>do</strong>s esses estavam igualmente presentes na i<strong>de</strong>ologia da AIB.<br />
O autoritarismo da FNB também po<strong>de</strong> ser constata<strong>do</strong> na organização<br />
hierárquica e burocrática da instituição, bem como pela influência <strong>do</strong> seu primeiro<br />
presi<strong>de</strong>nte, Arlin<strong>do</strong> Veiga <strong>do</strong>s Santos, que também fazia parte <strong>do</strong> patrianovismo,<br />
movimento político <strong>de</strong> caráter autoritário funda<strong>do</strong> por ele em 1928, que tinha como<br />
objetivo restaurar a monarquia no Brasil. Nesse senti<strong>do</strong>, a Frente Negra apresentava,<br />
ao menos no início, forte influência <strong>do</strong> movimento patrianovista, e também <strong>do</strong><br />
catolicismo, que havia si<strong>do</strong> a religião oficial <strong>do</strong> Império no Brasil. 9 .<br />
Os elementos <strong>do</strong>utrinários e/ou i<strong>de</strong>ológicos da Frente Negra po<strong>de</strong>m ser<br />
verifica<strong>do</strong>s nos mecanismos cria<strong>do</strong>s para estabelecer uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> (negra e<br />
brasileira) entre os frentenegrinos. A sua interpretação sobre a história nacional, bem<br />
como seus símbolos e rituais <strong>de</strong>monstram esse intuito.<br />
A instituição priorizava a história <strong>do</strong> povo negro no Brasil, buscan<strong>do</strong> dar<br />
<strong>de</strong>staque ao passa<strong>do</strong> comum na terra brasileira, em <strong>de</strong>trimento da valorização <strong>do</strong><br />
passa<strong>do</strong> africano, o que condizia com a postura nacionalista da FNB. Os símbolos e<br />
rituais buscavam enaltecer a composição mestiça <strong>do</strong> povo brasileiro e a importância<br />
<strong>do</strong> negro para o país. A ban<strong>de</strong>ira, composta por quatro cores evi<strong>de</strong>nciava esse intuito<br />
com a cor branca representan<strong>do</strong> o português, o vermelho representan<strong>do</strong> o índio, a cor<br />
preta representan<strong>do</strong> o negro, e o ver<strong>de</strong> representan<strong>do</strong> o quilombo <strong>do</strong>s Palmares – a<br />
epopeia <strong>do</strong>s negros na Serra da Barriga. (OLIVEIRA, 2009, p. 41).<br />
A elegia ao negro também po<strong>de</strong> ser verificada no Canto da Gente Negra (o Hino<br />
da Frente Negra) e no Hino das crianças ou o Canto da criança frentenegrina.<br />
(OLIVEIRA, 2009, p. 129-130). Além disso, a FNB comemorava algumas datas<br />
consi<strong>de</strong>radas importantes para a gente negra nacional e para a história <strong>do</strong> país, como<br />
o aniversário <strong>de</strong> fundação da FNB (16 <strong>de</strong> setembro) e a Abolição da escravidão (13 <strong>de</strong><br />
9 Sobre Arlin<strong>do</strong> Veiga <strong>do</strong>s Santos e sua atuação no patrianovismo, ver Domingues (2006).