Anais - Territórios do PolÃtico - vol. 1 - Universidade Estadual de ...
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Sua <strong>do</strong>utrina refletia os dilemas e <strong>de</strong>bates da década <strong>de</strong> 1930, ou seja, os<br />
valores característicos da elite intelectual <strong>do</strong> perío<strong>do</strong>, que eram vincula<strong>do</strong>s às suas<br />
reivindicações em favor da população negra. Assim, a FNB valorizava o nacionalismo,<br />
além <strong>do</strong> autoritarismo, elementos significativos naquele perío<strong>do</strong>, relacionan<strong>do</strong>-os à<br />
importância da raça negra para a socieda<strong>de</strong> brasileira e à <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong>sta raça como<br />
representante <strong>do</strong> povo brasileiro, características pre<strong>do</strong>minantes na i<strong>de</strong>ologia<br />
frentenegrina.<br />
Assim, nacionalida<strong>de</strong> e raça estavam sempre presentes no nacionalismo da<br />
Frente Negra. A instituição buscava <strong>de</strong>monstrar que a raça negra fazia parte da nação<br />
brasileira, e mais: era a representante <strong>do</strong> povo brasileiro. Por isso, os negros <strong>de</strong>veriam<br />
ser contempla<strong>do</strong>s, participan<strong>do</strong> <strong>de</strong> maneira justa nos diversos setores da socieda<strong>de</strong><br />
nacional.<br />
Ao abordar a constituição da população <strong>do</strong> Brasil, a Frente Negra também<br />
consi<strong>de</strong>rava o povo brasileiro mestiço – o que estava <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as discussões<br />
<strong>de</strong>sen<strong>vol</strong>vidas pela intelectualida<strong>de</strong> nacional <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o final <strong>do</strong> século XIX –, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong><br />
a relevância <strong>do</strong> negro na história nacional – o que, por sua vez, concordava com a sua<br />
luta contra o preconceito racial e a favor da inserção social <strong>do</strong>s negros. Dessa forma,<br />
para a FNB, assim como para a Ação Integralista Brasileira, a miscigenação era<br />
entendida como parte da nacionalida<strong>de</strong> brasileira 8 .<br />
A organização apresentava uma visão negativa <strong>do</strong>s imigrantes, quase<br />
xenofóbica. Os seus a<strong>de</strong>ptos tendiam a consi<strong>de</strong>rar os imigrantes europeus como se<br />
eles não fossem verda<strong>de</strong>iros brasileiros e ainda discriminavam os verda<strong>de</strong>iros<br />
representantes <strong>do</strong> povo brasileiro, ou seja, os negros.<br />
Além disso, os imigrantes europeus eram vistos como aqueles que traziam ao<br />
corpo nacional os germes da <strong>de</strong>mocracia liberal e <strong>do</strong> comunismo, i<strong>de</strong>ologias<br />
estrangeiras rejeitadas pelos frentenegrinos (e também pela Ação Integralista<br />
Brasileira). Não obstante, a Frente Negra admirava Hitler e Mussolini como gran<strong>de</strong>s<br />
8 Sobre a relação entre as teorias raciais <strong>de</strong>sen<strong>vol</strong>vidas pelos intelectuais nacionais no início <strong>do</strong> século<br />
XX, especialmente a <strong>do</strong> branqueamento e o entendimento sobre a questão racial e a nação pela FNB ver<br />
Oliveira (2008, p.57-92). A autora também analisa como a valorização <strong>do</strong> mestiço por alguns intelectuais<br />
brasileiros, tais como Manoel Bomfim, Alberto Torres e Gilberto Freyre, refletiu no movimento negro<br />
brasileiro e, especificamente, na i<strong>de</strong>ologia da Frente Negra Brasileira. O que se aproxima da valorização<br />
<strong>do</strong> mestiço pela AIB.