Anais - Territórios do PolÃtico - vol. 1 - Universidade Estadual de ...
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“De um la<strong>do</strong>, nas práticas rituais que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a forma <strong>de</strong><br />
funcionamento das assembléias até as celebrações <strong>de</strong> um dia<br />
<strong>do</strong> ofício, normalmente a data <strong>de</strong> aniversário da associação.<br />
(...). Por outro la<strong>do</strong>, os elementos <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> nesse campo<br />
estão presentes em noções herdadas das socieda<strong>de</strong>s<br />
mutualistas <strong>do</strong> século XIX, relativas à dignida<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalho, à<br />
valorização <strong>do</strong> trabalho manual e, sobretu<strong>do</strong>, à classe, e que<br />
constituem mais <strong>do</strong> que a mera sobrevivência da tradições ou<br />
<strong>de</strong> um vocabulário arcaico”. (BATALHA, 1999, p. 47.)<br />
Importante observar que, na maioria <strong>do</strong>s trabalhos mais recentes, confirma-se<br />
cada vez mais tanto a tese <strong>de</strong> que as associações mutuais <strong>de</strong> cunho assistencial<br />
conviveram com sindicatos ou associações <strong>de</strong> resistência quanto a tese <strong>de</strong> que umas e<br />
outras, em <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s perío<strong>do</strong>s históricos assumiam funções que eram<br />
características das outras. Ou seja, <strong>de</strong> um la<strong>do</strong>, em <strong>de</strong>terminadas fases ou momentos<br />
associações mutuais assumiam claramente uma plataforma em que <strong>de</strong>fendiam<br />
melhores condições <strong>de</strong> trabalho, diminuição da carga horária, luta por melhores<br />
salários, enquanto <strong>de</strong> outro la<strong>do</strong>, associações <strong>de</strong> resistência a<strong>do</strong>tavam práticas<br />
assistenciais como auxílio <strong>de</strong> seus associa<strong>do</strong>s em caso <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego, <strong>do</strong>ença,<br />
invali<strong>de</strong>z ou outros casos congêneres. Parece-nos, como diria Weber, que esta<br />
realida<strong>de</strong> social comportava elementos flui<strong>do</strong>s que não permitem aos historia<strong>do</strong>res ou<br />
sociólogos trancafiá-la num único mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> ser vista ou abordada. Existia uma flui<strong>de</strong>z<br />
<strong>de</strong>ntro da socieda<strong>de</strong> brasileira <strong>de</strong> então que muitas vezes permitiam a acomodação <strong>de</strong><br />
grupos sociais inteiros a uma realida<strong>de</strong> que nem sempre lhes era a mais favorável, mas<br />
que, no entanto, era a possível da<strong>do</strong> o contexto histórico específico e também às<br />
próprias estruturas internas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> social brasileiro.<br />
Thompson, quan<strong>do</strong> trata da abordagem da temática <strong>do</strong>s costumes pelos<br />
historia<strong>do</strong>res na Inglaterra, observa que o costume enquanto objeto <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> da<br />
história estava a cargo <strong>de</strong> historia<strong>do</strong>res conserva<strong>do</strong>res e os processos inova<strong>do</strong>res<br />
estavam a cargo <strong>do</strong>s historia<strong>do</strong>res <strong>de</strong> esquerda. Contu<strong>do</strong>, as continuida<strong>de</strong>s que regiam<br />
às vezes a vida cotidiana muito mais que as rupturas eram <strong>de</strong>ixadas <strong>de</strong> la<strong>do</strong> pelos<br />
historia<strong>do</strong>res <strong>de</strong> esquerda. Tais costumes, no caso brasileiro, po<strong>de</strong>m muito bem<br />
esclarecer relações <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res tanto com seus patrões como com as<br />
autorida<strong>de</strong>s estatais que ainda não foram <strong>de</strong>vidamente realçadas pela escrita <strong>do</strong>