14.10.2014 Views

Anais - Territórios do Político - vol. 1 - Universidade Estadual de ...

Anais - Territórios do Político - vol. 1 - Universidade Estadual de ...

Anais - Territórios do Político - vol. 1 - Universidade Estadual de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

106<br />

relegan<strong>do</strong> o fenômeno a uma proto-história <strong>do</strong> sindicalismo brasileiro. Aliás, o adjetivo<br />

embrionário é a expressão utilizada por Francisco Foot Hardman e Victor Leonardi<br />

quan<strong>do</strong> tratam das primeiras associações e manifestações <strong>de</strong> classe entre os operários<br />

brasileiros. Contu<strong>do</strong>, é preciso fazer justiça e apontar para o fato <strong>de</strong> que estes autores<br />

atestam as associações mutualistas como organizações operárias, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong>, portanto<br />

<strong>de</strong> se afiliarem à corrente <strong>de</strong> interpretação da história <strong>do</strong> movimento operário como<br />

existente apenas a partir da Era Vargas 7 . A concepção <strong>de</strong> que as mutuais seriam uma<br />

proto-história <strong>do</strong> sindicalismo é amplamente divulgada pelas teses <strong>de</strong> José Albertino<br />

Rodrigues, produzidas na década <strong>de</strong> 1960 8 . Este autor propõe uma periodização <strong>do</strong><br />

movimento sindical que, segun<strong>do</strong> Tania Regina <strong>de</strong> Luca, foi a<strong>do</strong>tada por vários<br />

estudiosos 9 . Tal concepção engendrou um entendimento que não compreendia, como<br />

diz M. C. Paoli, a heterogeneida<strong>de</strong> da classe e <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> formação a que esta<br />

passou pelo vasto território brasileiro.<br />

Para J. A. Rodrigues, no perío<strong>do</strong> da escravatura as mutuais teriam coexisti<strong>do</strong><br />

com o trabalho escravo. Contu<strong>do</strong>, afirma ele, após a abolição <strong>do</strong> trabalho escravo em<br />

1888 o perío<strong>do</strong> das mutuais assinala o seu fim. Pois, este perío<strong>do</strong> não é rigorosamente<br />

sindical. O perío<strong>do</strong> sindical se iniciaria após o fim da escravidão e início da República.<br />

Depreen<strong>de</strong>-se daí uma concepção linear e a<strong>de</strong>pta da noção <strong>de</strong> progresso da história <strong>do</strong><br />

movimento operário brasileiro.<br />

A história <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res no Brasil sofreu a influência <strong>de</strong> um lugar social em<br />

que a historiografia ou, no caso brasileiro, o que viria a ser a historiografia <strong>do</strong><br />

movimento operário no país – as produções fabricadas por sociólogos. Tais pesquisas<br />

estavam assentadas em um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> interpretação que relegava tu<strong>do</strong><br />

o que era consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> como pré-político ao limbo <strong>do</strong>s trabalhos acadêmicos. Neste<br />

espaço entre o dito e o não-dito da historiografia, encontravam-se as associações <strong>de</strong><br />

socorros mútuos. Desprezadas que eram tanto pela produção acadêmica quanto pela<br />

produção militante. Como diz T. R. <strong>de</strong> Luca: “Analisan<strong>do</strong> mais <strong>de</strong> perto a questão foi<br />

possível perceber que o <strong>de</strong>sprezo pelo mutualismo subordinava-se menos à sua<br />

7 Cf. obra <strong>de</strong> referência na historiografia da classe operária no Brasil realizada por Francisco Foot<br />

Hardman e Victor Leonardi, História da indústria e <strong>do</strong> trabalho no Brasil: das origens aos anos vinte. São<br />

Paulo, Globa Ed., 1982, p. 118.<br />

8 Cf. José Albertino Rodrigues, Sindicato e <strong>de</strong>sen<strong>vol</strong>vimento no Brasil. São Paulo, Difel: 1968.<br />

9 Cf. Tania Regina <strong>de</strong> Luca, O sonho <strong>do</strong> futuro assegura<strong>do</strong>. São Paulo, Contexto, 1990, p. 7.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!