josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
usufruir <strong>de</strong> toda a soma <strong>de</strong> energias produzidas com seu trabalho. 196<br />
O <strong>de</strong>sperdício <strong>de</strong> energias, segundo Oiticica, po<strong>de</strong>ria dar-se <strong>de</strong> sete modos: o não<br />
aproveitamento (que estaria relacionado ao <strong>de</strong>sperdício das energias naturais), pela<br />
aplicação do trabalho em obras mal planejadas (gastando mais energia para refazer a<br />
obra), por improdutivida<strong>de</strong> do serviço mal organizado (incapacida<strong>de</strong> industrial e comercial<br />
do Estado), por emprego <strong>de</strong> braços em serviços inúteis (como a <strong>de</strong>fesa da proprieda<strong>de</strong> e a<br />
regularização da concorrência), por serviços <strong>de</strong>strutivos (guerras geradas pela<br />
concorrência <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s), por inativida<strong>de</strong> ou ócio (pois <strong>de</strong>vido à concorrência, o<br />
proprietário não coletiviza o uso <strong>de</strong> seus maquinários, os quais ficam parados em período<br />
que po<strong>de</strong>riam estar produzindo em outra região) e finalmente pelas crises comerciais (que<br />
seriam movidas pela concorrência entre os países) 197 .<br />
Po<strong>de</strong>mos notar então que, para Oiticica, o problema do capitalismo não se<br />
restringia à divisão do capital produzido <strong>de</strong>ntro da socieda<strong>de</strong>, mas também pela<br />
reformulação <strong>de</strong> todas as formas <strong>de</strong> produção, pois, amparado na proprieda<strong>de</strong> privada e<br />
na concorrência, o capitalismo acaba por retirar toda a soma possível <strong>de</strong> energias do<br />
trabalho efetuado, o que seria vital para existência digna da h<strong>um</strong>anida<strong>de</strong>. Sendo assim,<br />
José Oiticica afirma que o problema da questão social não é resolvido pela questão<br />
econômica, mas o contrário,<br />
Quem vê na questão social simples conflito <strong>de</strong> dinheiro nada assimilou <strong>de</strong>la.<br />
Não constitui negócio, é aspiração. Não é o ‗merca<strong>de</strong>jamento‘ <strong>de</strong> energia é<br />
o apuramento. A questão social é <strong>um</strong>a ânsia, ânsia <strong>de</strong> aperfeiçoamento da<br />
alma h<strong>um</strong>ana. Os trabalhadores não querem trabalhar menos, nem ganhar<br />
mais: querem ser mais homens: querem partilhar, não disputar como os<br />
lobos, os corvos. 198<br />
Nessa visão, é fundamental que se <strong>de</strong>strua o capitalismo para implantação do<br />
anarquismo, pois as bases <strong>de</strong> produção são diferentes. O problema do capitalismo para o<br />
<strong>anarquista</strong> não seria simplesmente o da distribuição <strong>de</strong> renda, mas também o da má<br />
organização da produção, que faz com que não exista equida<strong>de</strong> na socieda<strong>de</strong> vigente, na<br />
qual os trabalhadores <strong>de</strong>spen<strong>de</strong>m suas energias para a sustentação dos proprietários e,<br />
mais ainda, a organização capitalista não conseguiria extrair toda a soma <strong>de</strong> energias do<br />
196 OITICICA, José. ―O Motivo‖. Liberda<strong>de</strong>. Nov. 1918.<br />
197 OITICICA, José. A Doutrina <strong>anarquista</strong> ao alcance <strong>de</strong> todos. São Paulo, Econômica, 2° Ed,<br />
1983, p.36.<br />
198 OITICICA, José. ―A questão social (mais alto)‖. O Rebel<strong>de</strong>, mai. 1919.<br />
83