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josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...

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Meu i<strong>de</strong>al é combater o catolicismo, pois planto o combate ao <strong>de</strong>spotismo<br />

romano! Para o Sr. padre França é a mesma coisa. Eu, porém e toda gente<br />

imparcial distinguimos os dois aspectos. Catolicismo é <strong>um</strong>a religião,<br />

ensinada, praticada, organizada em igreja. Despotismo romano é política <strong>de</strong><br />

extrema concentração espiritual e administrativa do corpo do dirigente,<br />

nessa igreja. O mesmo indivíduo po<strong>de</strong> crer em todos os dogmas, praticar<br />

<strong>de</strong>votadamente o culto, c<strong>um</strong>prir fielmente todos os seus <strong>de</strong>veres, ser ótimo<br />

católico e reprovar a concentração excessiva da autorida<strong>de</strong> no papa e as<br />

arbitrarieda<strong>de</strong>s da Cúria romana. 195<br />

Po<strong>de</strong>mos observar que, a partir da polêmica criada com o padre França, Oiticica<br />

também constrói seu anarquismo e visa propagá-lo, explicando que suas idéias não são<br />

infundadas ou indignas. Ao explicar a diferença entre a religião e o <strong>de</strong>spotismo romano, ele<br />

revela sua luta contra qualquer autorida<strong>de</strong>, pois ela sempre suprimiria a vonta<strong>de</strong> do<br />

homem, ban<strong>de</strong>ira esta levantada pelo anarquismo.<br />

A igreja é então apresentada como <strong>um</strong> órgão que suprimiria a vonta<strong>de</strong> do homem,<br />

por ser guiada pelo <strong>de</strong>spotismo romano e também por auxiliar na dominação do Estado,<br />

mantendo, entre outros preceitos capitalistas, a preservação da proprieda<strong>de</strong> privada e<br />

ainda atuando <strong>de</strong>ntro da ação sindical, os <strong>anarquista</strong>s viam-na pois, como <strong>um</strong> gran<strong>de</strong><br />

inimigo a ser <strong>de</strong>rrubado.<br />

A socieda<strong>de</strong> baseada na preservação da proprieda<strong>de</strong> privada e no culto ao<br />

acúmulo <strong>de</strong> capital seria mais <strong>um</strong> gran<strong>de</strong> mal à preservação da paz e da liberda<strong>de</strong>,<br />

propagadas pelas idéias <strong>anarquista</strong>s. O capitalismo seria o gran<strong>de</strong> sugador das energias<br />

essenciais para a sobrevivência da h<strong>um</strong>anida<strong>de</strong>, portanto, seria também mais <strong>um</strong> inimigo<br />

da teoria. Chegamos então às críticas contra o capitalismo.<br />

Nosso personagem em <strong>um</strong>a das vezes que abordou o tema dos males do<br />

capitalismo, afirmou que a socieda<strong>de</strong> baseada em tal preceito estaria fadada à <strong>de</strong>struição,<br />

pois a máquina que sustenta a h<strong>um</strong>anida<strong>de</strong> (o capitalismo) é <strong>um</strong>a máquina imprestável,<br />

cujo produto representa <strong>um</strong> enorme <strong>de</strong>sperdício <strong>de</strong> energias. Assim sendo, não será<br />

possível que, no capitalismo, a h<strong>um</strong>anida<strong>de</strong> realize o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> paz e felicida<strong>de</strong> geral,<br />

pregado pelo anarquismo. Nesse sistema, estas conquistas estariam à disposição<br />

somente dos possuidores e seriam mantidas pelos trabalhadores, os quais não po<strong>de</strong>riam<br />

195 OITICICA, José. ―Ainda o padre França‖. Correio da Manhã. Nov.1926.<br />

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