josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Neste livro, segundo Oiticica, o padre França o chama <strong>de</strong> indigno por tentar usar as<br />
palavras para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r idéias que nem são suas e também por afirmar ser contra as leis<br />
romanas, isto é, contra o catolicismo. Buscando elucidar os leitores do que se trata,<br />
Oiticica transcreve as palavras do padre:<br />
Que indignida<strong>de</strong>! E <strong>de</strong>pois dizem que é princípio jesuítico: o fim justifica os<br />
meios! Aí está ele na mais <strong>de</strong>testável das suas formas. Fim i<strong>de</strong>al: combater<br />
o catolicismo (agitação contra o <strong>de</strong>spotismo romano). Para isso todo o meio<br />
é lícito 192<br />
No mesmo livro o padre adjetiva Oiticica como <strong>um</strong> ―simples professorzinho <strong>de</strong><br />
gramática incapaz <strong>de</strong> estudos menos reles‖, certamente almejando menosprezar a<br />
imagem do aqui biografado, tentando retirar sua autorida<strong>de</strong> intelectual e a proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
suas teorias, tornando-as assim incorretas ou insustentáveis por serem <strong>de</strong>fendidas por<br />
alguém que não tem conhecimento alg<strong>um</strong> a não ser dos que requerem sua profissão, e<br />
esses não o gabaritam para falar <strong>de</strong> outra coisa a não ser da ―reles gramática‖. Po<strong>de</strong>mos<br />
notar que o <strong>de</strong>bate político-i<strong>de</strong>ológico acaba por se transformar em <strong>um</strong> ataque à honra do<br />
opositor <strong>de</strong> idéias. E os <strong>de</strong>bates, além <strong>de</strong> buscarem <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r idéias, visam também a<br />
<strong>de</strong>fesa da honra dos envolvidos. Assim, ao falar sobre o uso da palavra ou ―a palavra como<br />
arma‖ nos <strong>de</strong>bates gerados no meio operário, Schmidt afirma que:<br />
Na socieda<strong>de</strong> do Antigo Regime, estudada por Ribeiro, o duelo era <strong>um</strong>a<br />
fonte ilimitada <strong>de</strong> honra para os nobres pois ―a morte pela arma é <strong>um</strong>a boa<br />
via para a imortalida<strong>de</strong>, algo pagã, da honra.‖ Em <strong>um</strong>a socieda<strong>de</strong><br />
―<strong>de</strong>sarmada‖ como a nossa, em que o monopólio da violência pertence ao<br />
Estado, os duelos po<strong>de</strong>m se transformar em polêmicas, e, ao invés do<br />
sangue, muita tinta é <strong>de</strong>rramada. Porem, o objeto da disputa continua<br />
sendo o mesmo: a honra. 193<br />
A palavra então se torna <strong>um</strong>a arma sempre pronta para ser sacada. 194<br />
Motivado por tais provocações, usando <strong>de</strong>ssa ―arma‖, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo sua honra e<br />
também suas idéias, José Oiticica tenta <strong>de</strong>monstrar que existe <strong>um</strong>a diferença entre ser<br />
contra Roma e ser contra o catolicismo, assim certamente almeja elucidar os leitores qual<br />
o campo <strong>de</strong> luta <strong>anarquista</strong> e o porquê <strong>de</strong>le ser contra a igreja. Escreve Oiticica,<br />
192 FRANÇA ―Relíquias <strong>de</strong> <strong>um</strong>a polêmica‖ APUD OITICICA, José. ―Ainda o padre França‖. Correio<br />
da Manhã. Nov.1926.<br />
193 SCHMIDT, Benito. ―A palavra como arma: <strong>um</strong>a polêmica na imprensa operária porto-alegrense<br />
em 1907‖,op. cit, p. 64.<br />
194 SCHMIDT, Benito. ―A palavra como arma: <strong>um</strong>a polêmica na imprensa operária porto-alegrense<br />
em 1907‖, op. cit, p.80.<br />
81