josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
energias mentais que, para atingir suas somas máximas, precisa que as energias físicas<br />
estejam em perfeito funcionamento. Ao se ren<strong>de</strong>r a <strong>um</strong> oficio motivado apenas pela sua<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dinheiro para conseguir viver, o homem se arrisca a qualquer emprego,<br />
não fazendo o que é melhor ou o que teria vocação, o que seria <strong>um</strong> <strong>de</strong>sperdício, pois não<br />
conseguiria absorver-lhe toda a soma <strong>de</strong> energias práticas. Submetendo-se aos valores da<br />
socieda<strong>de</strong> capitalista, tendo que seguir suas leis, mesmo que essas não o satisfaçam, o<br />
homem per<strong>de</strong> suas energias morais, pois não realiza <strong>um</strong> trabalho que condiga com sua<br />
vonta<strong>de</strong>, mas sim pela necessida<strong>de</strong>, e a necessida<strong>de</strong> faz com que as o homem perca o<br />
caráter. E, por fim, já perdidas todas estas energias, as sociais também não se realizam,<br />
pois todo o processo já foi corrompido. 164<br />
Res<strong>um</strong>idamente, seria essa a visão da socieda<strong>de</strong> do início do século XX <strong>de</strong>fendida<br />
por Oiticica. Formulada a partir <strong>de</strong> <strong>um</strong>a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> teorias e ciências, juntamente com<br />
suas vivências e a causa <strong>anarquista</strong>, ele nos revela o que pensa ser os fatores prejudiciais<br />
à socieda<strong>de</strong>. Consequentemente, vai construindo, reconstruindo ou adicionado novas<br />
idéias ao seu pensamento, mas acreditando ferrenhamente que a h<strong>um</strong>anida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve<br />
romper com os ―dogmas do capital‖ e construir <strong>um</strong>a nova socieda<strong>de</strong>, fundamentada no<br />
anarquismo-comunista.<br />
Tal crença <strong>de</strong> Oiticica é <strong>de</strong>monstrada em seus Sonetos, <strong>de</strong> 1919, obra composta<br />
por vários poemas escritos por ele entre os anos <strong>de</strong> 1911 e 1918. Dividida em duas partes,<br />
Natureza e Ação, é a segunda que aqui nos interessa mais. Sem datar seus poemas,<br />
parece-me que Oiticica os organiza em <strong>um</strong> sentido que vai levando a socieda<strong>de</strong> da<br />
doutrinação à ação e, consequentemente, à conquista do objetivo final, tema este que<br />
trataremos mais tar<strong>de</strong> (da doutrina à ação), por hora, observemos o poema A Anarquia,<br />
para percebermos o quão forte era a apresentação <strong>de</strong> sua crença.<br />
Para a anarquia vai a h<strong>um</strong>anida<strong>de</strong><br />
Que da anarquia a h<strong>um</strong>anida<strong>de</strong> vem!<br />
Vê-<strong>de</strong> como esse i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> acordo inva<strong>de</strong><br />
As classes todas pelo mundo além<br />
Que importa que a fração dos rios bra<strong>de</strong><br />
Vendo que a antiga lei não se mantém?<br />
164 Este é <strong>um</strong> res<strong>um</strong>o das discussões <strong>de</strong> Oiticica apresentadas em seus cinco artigos intitulados ―O<br />
<strong>de</strong>sperdício da energia feminina‖ que po<strong>de</strong>m ser encontrados nas cinco primeiras edições da revista<br />
A Vida, doo período <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1914 à março <strong>de</strong> 1915.<br />
71