josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
josé oiticica: itinerários de um militante anarquista - Universidade ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
suas reflexões. Sobre isto escreve Oiticica.<br />
Longe <strong>de</strong> querer voltar ao puro clássico (...) o que sustento é o fundo<br />
clássico da fórmula literária, seja qual for. As leis clássicas são as primitivas,<br />
as fundamentais, o vigamento grosso do edifício, seus alicerces pétreos.<br />
Todas as reformas, e a arquitetura o prova, são alargamento, modificações<br />
e linhas clássicas. 155<br />
Desta forma, ao se intitular <strong>anarquista</strong>, Oiticica utiliza-se <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte da sua<br />
formação intelectual para organizar seu pensamento. Ao somar aos questionamentos<br />
sobre a socieda<strong>de</strong>, que já trazia <strong>de</strong> tempos atrás, os problemas sociais <strong>de</strong>nunciados pelos<br />
<strong>anarquista</strong>s lidos, José Oiticica elabora a ―solução científica‖ que salvaria a h<strong>um</strong>anida<strong>de</strong>.<br />
Como já foi observado no Primeiro Capítulo, essa crença na solução científica como forma<br />
<strong>de</strong> explicação do mundo era bastante com<strong>um</strong> em meio aos intelectuais da época. 156<br />
Logo,<br />
para ele, o anarquismo também <strong>de</strong>veria ser explicado cientificamente, sobre isso, assim<br />
escreve:<br />
A solução verda<strong>de</strong>ira não po<strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r a interesses particulares; há <strong>de</strong> se<br />
aten<strong>de</strong>r somente ao interesse coletivo. Ora, só <strong>um</strong>a solução científica existe,<br />
é a solução <strong>anarquista</strong>, baseada nas leis das energias, última conquista das<br />
ciências positivas. 157<br />
Amparado nos problemas causados pela socieda<strong>de</strong> capitalista exploradora, Oiticica<br />
observa que, sendo a terra produtora <strong>de</strong> energia essencial para a manutenção da vida, sua<br />
privatização prejudicaria a obtenção da energia necessária para à conservação da energia<br />
do ser h<strong>um</strong>ano. Assim escreve,<br />
O problema h<strong>um</strong>ano consiste em obter da terra a maior soma <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong><br />
geral. Isso consegue-se, antes <strong>de</strong> tudo, pela ciência, porque só ela estuda<br />
as energias naturais, <strong>de</strong>scobre os meios <strong>de</strong> aproveitá-las, ou <strong>de</strong>sviá-las se<br />
são <strong>de</strong>sfavoráveis. 158<br />
A privatização da terra prejudicaria a conquista da chamada ―felicida<strong>de</strong> geral‖, que<br />
seria alcançada somente com a soma das energias necessárias para a existência social do<br />
homem: energias físicas (vigor e saú<strong>de</strong>), mentais (inteligência e cultura), morais (vonta<strong>de</strong> e<br />
155 OITICICA, José. APUD JUNIOR, Renato Luis Lauris, op. cit,p.14.<br />
156 SCHMIDT, Benito. ― O Deus do progresso: a difusão do cientificismo no movimento operário<br />
gaúcho da I República‖. Revista Brasileira <strong>de</strong> História. São Paulo: ANPUH/H<strong>um</strong>anitas Publicações,<br />
vol. 21, n° 41, 2001, p. 113-126.<br />
157 OITICICA, José. ―O Momento Social‖. Gil Blas, 16/ maio/1919<br />
158 OITICICA, José, op. cit p.8.<br />
69